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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7796: Os nossos médicos (21): É falso que a CCAÇ 2796 tenha sido evacuada de Gadamael para Bissau, por recomendação médica (Morais da Silva, ex-Cap Art)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d> Aquartelamento, com o espaldão, em primeiro plano, o obus 14 (e não a peça de artilharia 11,4), cujo espladão está em construção. Ao fundo, a tabanca (reordenamento feito pelo exército).


Foto: Autor desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de:
 © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007). Direitos reservados (Editada por L.G.).


1. Mensagem do Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva, que foi comandante da CCAÇ 2796 (Bissau, Gadamael e Quinhamel, 1970/72):

 Data: 10 de Fevereiro de 2011 23:16
Assunto: P7756 - Desmentido
Caro Dr Luís Graça:

Desculpará que o volte a incomodar mas peço-lhe o favor de publicar o meu desmentido formal ao que está escrito no P7756 de 10 de Fevereiro de 2011  e que transcrevo:

 "( ...) Fiz também Guileje com o famosíssimo Cap Parracho que cumprimento também, e Gadamael com o Cap Silva, das Operações Especiais, a quem tive que passar a certidão de óbito por morte em combate, e que recordo com muita saudade (Gadamael era o pior buraco do sul; a companhia que então lá estava teve que ser evacuada para Bissau por minha recomendação)." (*)


Esta afirmação é de Amaral Bernardo, então médico pertencente à CCS/BCaç 2930, de Catió.

A informação de que a Companhia de Gadamael (CCaç 2796) foi evacuada para Bissau por sua recomendação é FALSA e IMPERDOÁVEL.

Este médico deve ter andado distraído durante 11 meses (desde 24 de Janeiro de 1971 quando faleceu em combate o Capitão Assunção Silva, comandante da CCaç 2796, até Dezembro de 1971 quando Amaral Bernardo diz ter sido rendido e seguido para Bissau).


Não sei se havia um ou dois médicos no sector do BCaç 2930 e por isso queira Deus que o autor da falsidade não seja o médico que em 8 de Maio de 1971, estando ocasionalmente em Cacine, se recusou a embarcar num sintex para socorrer 4 militares gravemente feridos em resultado de uma flagelação no fim do dia (que também provocou mais 2 mortos militares) e que, desde então, nunca mais permiti que pusesse os pés em Gadamael.

A CCaç 2796 não foi para Bissau,  como falsamente afirma Amaral Bernardo.

Permaneceu em Gadamael até Fevereiro de 1972 (esteve pois 14 meses em Gadamael e não foi evacuada para Bissau) sob o meu comando, que assumi em imediatamente após a morte de Assunção Silva e mantive, a meu pedido, até ao fim da comissão em Outubro de 1972.

Morais da Silva (coronel, ex-capitão comandante da CCaç 2796).

P.S. É com muita dor que, após 41 anos, sou obrigado a recordar e trazer à tona do meu íntimo uma das piores noites que tive em combate. Perdi soldados, desesperei com os feridos graves e dói-me ter que voltar a recordar a cobardia do médico que não foi capaz de cumprir a sua missão onde era absolutamente necessário.

Repito o que já deixei claro. Não sei se era Amaral Bernardo o médico que estava em Cacine em 8 de Maio de 1971.
 Os meus cumprimentos

António Carlos Morais da Silva 

Amadora
www.moraissilva.com

2. Comentário de L.G.:

Devido à delicadeza do assunto, e por estar em causa a honra e o bom nome de dois camaradas nossos, pedi de imediato ao Amaral Bernardo para confirmar ou desmentir o teor da mensagem do antigo comandante da CCAÇ 2796. As alegações do médico, que trabalha no Porto,  irão ser publicadas a seguir a este poste ou ainda hoje, até ao fim do dia.  

Só agora recebi o texto definitivo do Amaral Bernardo, bem como uma série de fotos do seu tempo de Guiné,  razão por que também só hoje se divulga o desmentido do Morais  da Silva que, recorde-se, foi , no CTIG, Instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael.

Como escreveu o Morais da Silva no nosso blogue, “avancei no fim de Janeiro de 1971 para o comando da CCaç 2796,  em Gadamael,  quando da morte em combate do seu comandante, meu camarada de curso e amigo Capitão de Infantaria Assunção Silva. Fiquei, a meu pedido, no comando desta companhia até ao final da comissão em Outubro de 72”  (Poste P6690).
_______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7756: (Ex)citações (129): Os nossos médicos Mário Bravo e Amaral Bernardo saúdam a entrada, na Tabanca Grande, do José Figueiral (... e o regresso à família de Bedanda)

Neste poste cita-se um outro mais antigio, onde vem a afirmação Amaral Bernardo agora contestada pelo M;orais Siilva:

9 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1471: O tenente miliciano capelão Mário Oliveira, Catió. BCAÇ 2930 (Amaral Bernardo)



(...) O Mário de Oliveira que está com o Mário Bravo não tem nada a ver com o Padre Mário de Oliveira da Lixa. É o capelão da CCS do BCAÇ 2930, sediada em Catió, sede do batalhão, a que ambos pertencemos: (i) embarque no Carvalho de Araujo, que ardeu no caminho; (ii) chegada a Bissau em 4 de Dezembro de 1970; (iii) e regresso em 14 de Outubro de 1972.

O Mário de Oliveira é meu afilhado de casamento!... O Mário Bravo foi-me render a Bedanda (onde estive 13 meses com o capitão Ayala Botto, que cumprimento).

Fiz também Guileje com o famosíssimo Cap Parracho que cumprimento também, e Gadamael com o Cap Silva, das Operações Especiais, a quem tive que passar a certidão de óbito por morte em combate, e que recordo com muita saudade (Gadamael era o pior buraco do sul; a companhia que então lá estava teve que ser evacuada para Bissau por minha recomendação). Só voltei a ver o Mário Bravo há dias, aqui no hospital onde trabalho e lhe dei um abraço e o endereço do blogue. (...)

Último poste desta série >  2 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6817: Os nossos médicos (20): O atentado contra o Cap Mil Med José Joaquim Magalhães de Oliveira, de que eu fui testemunha (Augusto Inácio Ferreira, 1º Cabo Op Cripto CCAV 2482, Fulacunda, 1969/70)

 Recorde-se igualmente que a CCAÇ 2796 foi mobilizada pelo RI 1, era independente, partiu para a Guiné em 31/10/1970 e regressou à Metrópole em 5/10/1972... Esteve em Bissau, Gadamael e Quinhamel. Comandantes: Cap Inf Fernando Assunção Silva (morto em combate); e Cap Art António Carlos Morais da Silva.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7656: Memória dos lugares (123): O Alf Mil Médico Mário Bravo em Bedanda, na CCAÇ 6 (Dezembro de 1971 / Março de 1972)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  S/d > Visita do General Spínola... À sua esquerda o Cap Cav Carlos Ayala Botto.



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72>  Visita do General Spínola (de costas)... À sua frente, à direita,  o Cap Cav Ayala Botto.




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72> Os Alferes Mil Borges, Mário Bravo e Figueiral [ ou Figueiras ?]...



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72> Mário Bravo e o seu pelotão de djubis, fazendo a continência...

Fotos: © Mário Bravo (2011). Direitos reservados


1. Mensagem do Mário Bravo, respondendo às minhas perguntas (*) sobre as suas andanças na Guiné, como Alf Mil Médico:

Luís Graça:

Cá vai a resposta às várias questões que me colocas e deste modo dar imagem do meu percurso na Guiné.

(i) Quando cheguei a Bissau, em 20 de Novembro de 1971, fiquei instalado no QG (Quartel General), durante cerca de quinze dias;

(ii) Durante esse tempo fiz estágio em veterinária (no mataoduro), em inspecção alimentar e outras actividades relacionadas com a profissão;

(iii) Embarquei,  num belo dia, num Cesna civil , para Catió e daí para Bedanda, onde fui substituir o Amaral Bernardo (colega do Porto) [que passou 11 meses em Bedanda];

(iv) Pela consulta que fiz a documentos e fotos dessa época, posso dizer que cheguei a Bedanda em Dezembro de 71;

(v) Fui recebido pelo Amaral Bernardo e, como ele diz em determinado momento, também tive o meu baptismo de fogo - um disparo do obus 14 (que estoiro !!);

(vi) Aí, Bedanda, iniciei a minha campanha de médico militar, num local onde as condições não eram as melhoras, mas que eram compensadas com uma entreajuda fora do que se pode imaginar;

(vii) Durante este período, deslocava-me de modo regular aos quarteis de Guileje, Gadamael Porto e também Cacine;

(viii) Lembro-me que em Fevereiro de 1972, fui deslocado para Catió, para substituir o colega que lá estava;

(ix) Fiz uma pesquisa na minha documentação pessoal e acho que, com as devidas reservas, terei estado em Bedanda até Março de 1972;

(x) Foi uma eternidade, atendendo às condições e ruído que de modo constante (ataques repetidos ), nos atormentavam;

(xi) Em resumo, foi um período de tempo curto, mas que me marcou de modo intenso, porque senti a proximidade das pessoas, num ambiente hostil e com todas as dificuldades inerentes.

Gostei de conhecer tanta gente boa. Para completar e tentar ao mesmo tempo chamar ex-militares de Bedanda, vou enviar umas fotos da minha colecção pessoal, pedindo desculpa pela qualidade menos conseguida, mas eram outros tempos do mundo fotográfico.

___________

Nota de L.G.:

Últino poste desta série > 21 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7651: Memória dos lugares (122): Os Adidos (Belmiro Tavares)


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7632: As nossas melhores fotos (1): O obus 14, Bedanda, 1971 (Amaral Bernardo) e 1972 (Vasco Santos)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1972  > O Obus 14...(*) Embora parecida, esta foto não é igual à que já tínhamos publicado aqui antes e que de resto figura na coluna do lado esquerdo do nosso blogue, na série "Fotos famosas"... Alguém sabe qual era o Pelotão de Artilharia que estava em Bedanda, nesta altura ?

Foto: © Vasco Santos (2011). Todos os direitos reservados.




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > A famosa e feliz foto do ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007: a saída do obus 14, de noite. 


"Foi tirada com a máquina rente ao chão. Bedanda tinha três. Uma arma demolidora. Um supositório de 50 quilos lançado a 14 km de distância... Era um pavor quando disparavam os três ao mesmo tempo... Era costume pregar sustos aos periquitos... Eu também tive honras de obus, quando lá cheguei... Guileje não tinha nenhum obus, mas sim três peças de artilharia 11.4. A peça era esteticamente mais elegante do que o obus" - disse-me o Amaral Bernardo, no dia em que o conheci pessoalmente, no Porto, no seu gabinete no Hospital Geral de Santo António, que é a sua segunda casa, e onde é (ou era, em 2007) o director do ensino pré-graduado da licenciatura de medicina do ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar/HGSA Ciclo Clínico (ou seja, responsável por mais de meio milhar de alunos, um batalhão)... 


Foto: © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados.
_______________


Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 17 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7629: Memória dos lugares (121): Bedanda, do tempo da malta da CCAÇ 6 - 1972/73 (Vasco Santos)

sábado, 12 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6582: O discurso de António Barreto no dia 10 de Junho de 2010 (2) (Amaro Samúdio / Felismina Costa)

1. Mensagem de Amaro Munhoz Samúdio, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 3477, com data de 10 de Junho de 2010:

Caro Luís
Claro que irei transmitir algumas Histórias.
Já falei com o Abilio Delgado para escrever para o Blogue.

Como conseguiram, no último encontro, convencê-lo a organizar, em 2011, na Ericeira o próximo, vou insistir com ele.

Hoje vou ao 10 de Junho porque não quero passar o dia e esquecer algumas coisas que com o passar do tempo naturalmente a memória se não for avivada esquece.

Como permanentemente faço, irei transmitir ao 1.º Ministro e Ministro da Defesa a minha opinião sobre os Antigos Combatentes neste 10 de Junho.

Envio-te já,em anexo, as linhas gerais que à pressa escrevi.

Um Abraço
A.Samúdio


10 DE JUNHO DIA DE PORTUGAL DE CAMÕES DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS E DOS ANTIGOS COMBATENTES

Hoje, dia 10 de Junho falou-se, finalmente em comemorações Oficiais, de Antigos Combatentes.

E quem falou, O Presidente da República? Não.

O Primeiro Ministro? Não.

Foi o Senhor António Barreto, Presidente das Comemorações do dia de Portugal.

Não quero que seja entendido que se é criticado quando se fala ou quando não se diz nada.

O Senhor António Barreto transmitiu, hoje dia 10 de Junho, correctamente que “... o Estado não tem tratado bem os seus Antigos Combatentes…” e que, “...“ o Estado cumpre mal perante tudo aquilo que lhes exigiu… “.

Admito que não sejam problemas de consciência , como antigo governante, dizer aquilo que uma geração de juventude sofreu, sofre e sofrerá.

Os anos que estiveram, sim os anos, no ultramar representam para os Antigos Combatentes, não só o que lá sofreram, enquanto miúdos, mas a revolta por os responsáveis deste País não reconhecerem que aqueles tempos os marcaram para toda a vida.

Se o sofrimento se transmitisse em lei cada ano foi uma vida.

Marcaram-nos, mas também esposas, filhos, mães, país, familiares, marcaram uma geração passada e uma vindoura.

Os Antigos Combatentes agradecem as palavras os monumentos etc., mas precisam de actos que tenham reflexo nos dias de vida que ainda lhes restam e ter a paz possível , não conseguem entender, pelo menos eu, só em relação à reforma, que um regime fascista os tivesse mandado para a guerra e que um regime democrático lhes aumente, em declaração de guerra, a idade de reforma para os 65 anos.

Amaro Munhoz Samúdio
Guiné 1971/1973

**********

2. Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa com data de 12 de Junho de 2010:

Boa-noite, amigo Carlos Vinhal
Quero agradecer-lhe a visibilidade dada ao meu poema, (Viva Portugal) e dizer-lhe que fui assistir às vossas comemorações do dia de Portugal.

Estive lá, e sinto-me honrada com a dignidade dada, tanto às comemorações, como ao espaço e momumento eregido, aos que na defesa da Pátria, deram tudo:

Juventude, sonhos, anseios, sangue... e vida!...
Foi com emoção que olhei as lápides, que ostentam os nomes desses jovens arrancados à sua vida breve, e que deixaram por certo, muitas famílias, infinitamente tristes e saudosas.

Junto ao lugar donde partiram no passado as caravelas que, se bem pensarmos, originaram o grande pesadelo, que foram os anos de 61/74 da nossa era, são lembrados os que aí pereceram!

Dir-se-ia, que o mar devolveu, quem se atraveu.
É a História, que temos que escrever!
A história, que estamos a escrever!
Mas, ninguém foi mais audaz!
Descobrimos mundos!
Levamos religião, língua, costumes, cultura, civilização, contudo...não somos perfeitos.
E, alguém o será?

Um abraço de gratidão da amiga certa
Felismina Costa
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 10 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6574: O discurso de António Barreto no dia 10 de Junho de 2010 (1) (Inácio Silva / Joaquim Mexia Alves)

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1836: Caso Picão: quando a justiça não chega, nem sequer tarde (Luís Martins Silva / Amaral Bernardo)


Cópia do ofício do Chefe de Gabinete do Secretário da Defesa Nacional e dos Antigos Combatentes, com data de 17 de Fevereiro de 2005, acusando a recepção da exposição do Luís Martins Silva sobre o triste caso do Picão (entretanto falecido há duas semanas) (1).

Espero, como escrevi há dias, que isto possa desencadear uma série de efeitos em cadeia, ao darmos um murro na burocracia (sem rosto), no cinismo (triunfante) e na indiferença (criminosa). Há tempos comentámos aqui um caso semelhante, o de um camarada que morreu, como um cão, na sua barraca, na Nazaré, e que tinha por alcunha o Zé da Desordem... Para ele, o Jorge Cabral escreveu um pungente Poema de Natal (2).

Mensagem do Luís Martins Silva, que nos chega através do nosso amigo e camarada Amaral Bernardo , ex-Alf Mil Médico da CCS / BCAÇ 2930 (Catió, 197o/72):

Assunto - Caso Picão


Caro Doutor:

Escreve-lhe o Silva, ex-furriel da CCS do BCAÇ 2930, que enviou a mensagem sobre o caso do Picão, para conhecimento do pessoal que foi ao nosso Encontro.

De facto até ao momento não consegui que a viúva me enviasse quaisquer documentos em sua posse, sobre o processo do falecido Picão. Apenas me disse, um destes dias, que falou para o Centro de Saúde Militar, em Benfica, com alguém (penso que com o sargento Pinho), que foi muito simpatico, etc., etc., mas que não adiantou nada sobre o assunto.

E, tanto quanto sei, quando despoletei o assunto em 2005, junto do gabinete do então Ministro da Defesa, Paulo Portas, do qual recebi uma carta, que junto lhe envio em anexo, tudo indica que o Picão teria a pensão deferida desde há 3 anos. Desconheço, porém, o motivo para não lhe pagarem nada, apenas sei pela viúva, que o processo (pelos vistos já deferido) teria transitado para o Centro de Saúde Militar, onde se encontra retido.

Por agora não sei dizer mais nada, continuo à espera da resposta da viúva, que me parece ser tambem uma pessoa muito doente e com algum desiquilíbrio. Logo que tenha informações lhas enviarei.

Com os melhores cumprimentos

Luís Silva


PS - Em anexo junto lhe envio cópia da carta que, em 2005, me foi enviada pelo chefe de gabinete do Ministro da Defesa, Paulo Portas.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1823: Camaradas que já nos deixaram (2): O Picão, da CCS do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), que morreu há dias na miséria (Amaral Bernardo)

(2) Vd. post de 3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1398: Poema de Natal: Só agora, camarada, te mataram (Jorge Cabral)

Natal

Só agora, Camarada, te mataram
Abandonado e só no teu Abrigo.
Finalmente, os pesadelos cessaram.
Não tens mais Inimigo!
A Paz foi sempre Guerra,
Porque jamais esqueceste,
Nem nunca regressaste à tua terra,
Pois foi ainda lá, que tu morreste.
Que te matou, Irmão?
Uma mina? Um tiro? Uma granada?
Ou foi a Solidão,
Que transformou a vida em emboscada?

Nunca te conheci, oh! Meu Amigo,
Apenas li a notícia no Jornal,
Mas hoje estarás comigo,
Na ceia de Natal.

Lisboa, 25/12/06

Jorge Cabral

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1823: Camaradas que já nos deixaram (2): O Picão, da CCS do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), que morreu há dias na miséria (Amaral Bernardo)

Lourinhã > Praia Vale de Pombas (1) > 2005 > "Um homem e a a sua cruz"... O Picão faleceu no hospital de Leiria no dia 28 de Maio último, de madrugada, tendo o funeral sido em S. Martinho do Porto no dia 29 às 16 horas. Gravemenete ferido num ataque a Catió, com foguetões 122 mm, no 14 de Abril de 1970, nunca mais pôde trabalhar. Não tinha Segurança Social, pelo que o funeral foi às custas da sua pobre família e dos seus amigos... Mais um estória triste e revoltante.

Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados.


1. Mensagem do Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico da CCS / BCAÇ 2930(Catió, 197o/72) (2):

Luís,

Sábado passado, dia 2, o BCAÇ 2930, a que pertenço, realizou mais um encontro anual. O Rocha Pais, que foi enfermeiro do batalhão, pediu-me ajuda com o documento que te mando.

Podemos fazer alguma coisa? O camarada recém falecido ficou gravemente ferido numa brutal ataque com foguetões 122 a Catió em 14 de Abril de 19971. Ficou cheio de estilhaços... e parece que morreu com uma complicação pulmonar, provocada por um deles. Morreu na miséria (foi preciso arranjar dinheiro para o funeral) e deixa a viúva com a quantia que o documento refere. Haverá um processo oficial, perdido algures em qualquer repartição das Forças Armadas, a pedir o apoio a que ele tinha direito.

Se não se conseguir nada a nível oficial, tentarei sensibilizar uma TV qualquer.´É triste, mas terá que ser assim... embora não faça o meu género.

Abraço

Amaral Bernardo.

P.S. - Podes dar a publicidade que entenderes


2. Mensagem enviada pelo Luís Martins Silva , com data de 31 de Maio de 2007, para o Rocha Pais:


Pais:

Lamento ter de informar que não podemos comparecer ao Encontro. A minha sogra ficou internada no hospital de Beja, em observações, pelo que não sabemos o desfecho do assunto. Se puderes ainda avisar que são menos 2, melhor, se tivermos que pagar diz alguma coisa.

Mandou-me hoje uma mensagem a Dª Susete, viúva do Picão. Pede para darmos um abraço a cada um dos nossos companheiros, pois o Picão dizia sempre que gostava de abraçar cada um.

Sei que vais estar só, de nós os três que tivemos no funeral, mas se tiveres hipóteses, fala no assunto e se vires que há condições pede o apoio dos nossos companheiros.

Por mim a única coisa que posso fazer é escrever a seguinte mensagem que depois, se vires que há hipoteses, podes ler para os nossos camaradas.

Amigos ecompanheiros.

Por motivos relacionados com a doença súbita de um familiar, não me é possível estar este ano, presente no nosso convívio. No entanto, não quero deixar de vos saudar a todos e às vossas famílias, desejando que , apesar das contrariedades da vida, consigamos sobreviver mais alguns anos para nos continuarmos a encontrar.

Um dos que nunca esteve connosco nos Encontros, mas que nós lembrávamos bem, era o José Júlio Abreu Picão.

Nunca mais vai estar connosco, apenas em pensamento. Faleceu no hospital de Leiria no dia 28, de madrugada, tendo o funeral sido em S. Martinho do Porto no dia 29 às 16 horas. Estivemos eu, o Pais e o Lisboa. No momento do corpo descer à terra, com a autorização da família e por concordância do Pais e do Lisboa, teci algumas considerações sobre o nosso amigo que nos deixou. Realcei o facto de o Picão ter esperado 37 anos por uma pensão, dado que, tendo sido ferido como sabeis, no 14 de Abril de 1970, nunca mais pôde trabalhar . Não tinha segurança social, pelo que o funeral foi às custas da família (esposa) e dos amigos. Trata-se, como pudémos comprovar, duma familia bastante pobre e carenciada (viviam com a reforma da actual viuva, de 230 euros mensais), ele, a esposa e uma neta que criou desde o nascimento e agora com 13 anos.

Por isso, daqui faço um apelo à nossa generosidade para com aquela senhora, que está a passar por maus momentos, não só espirituais, como materiais. Se assim o entenderem, podem entregar os vossos donativos ao Pais, que lhos fará chegar. Se entenderem fazê-lo directamente, o Pais tem consigo a morada da viúva.

Pedia-me hoje por mensagem, a viúva, que no nosso Encontro eu desse um abraço a cada um de vós, em nome do Picão, pois em vida manifestou esse desejo. Faço-o através desta mensagem. Que Deus nos dê coragem para aguentarmos com mais este embate e outros mais que virão a caminho.

Tal como disse no funeral do Picão, repito-o agora:
ADEUS AMIGO, ATÉ SEMPRE.

Luís Martins Silva
ex-furriel miliciano mecânico auto.


Pais:

li igualmente as mensagens que reencaminhas-te do alferes Santos. Se ele estiver no Encontro dá-lhe um abraço bem forte.

E tu, que és um homem de coragem, ve se consegues sair desse imbróglio.

Recebe um abraço para ti e Rosalina do

Luís e Elsa

3. Comentário do editor do blogue:

Estou fora de Lisboa, com dificuldades de ligação à Net (Eu ladrão me confesso: isto de contar com o ovo no cú da galinha, que é como quem diz, com o sinal da rede sem fios... do vizinho!)...

O Amaral Bernardo telefonou-me há dias a contar este triste caso, acima descrito. Só agora consigo pô-lo no blogue. Não podemos ficar indiferentes a situações como estas que, mais uma vez, nos chocam, envergonham e entristecem.

O nosso blogue abre o seu espaço às sugestões e comentários de todos os camaradas, em geral, e dos camaradas do BCAÇ 2930, em particular. Como demonstrar a nossa solidariedade para com o Picão e a sua família ?

Antes de mais, trata-se de dar um murro na burocracia, no cinismo e na indiferença. Há tempos comentámos aqui um caso semelhante, o de um camarada que morrreu, como um cão, na sua barraca, na Nazaré (3). L.G.

_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. Luía Graça > Blogue Fora-Nada... E Vão Dois > Post de 9 de Novembro de 2005 Blogantologia(s) II - (15): O amor em Agosto

(...) Nem vale.
Nem pombas.
Nem praia.
Na Praia do Vale de Pombas,
À maré cheia, à praia-mar,
Há apenas um fio de água doce
Que mantém os cordões umbilicais
Do infinitamente pequeno da vida
Ligados ao infinitamente grande
Dos corpos celestiais.

Vale de Pombas:
Aqui caiu uma chuva de meteoritos.
Um dia hei-de lá levar-te.
(...)

(2) Vd. post de 2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1489: Tertúlia: Formalizo o meu pedido de entrada (Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico, Catió, BCAÇ 2930)

(3) Vd. post de 3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1398: Poema de Natal: Só agora, camarada, te mataram (Jorge Cabral)

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1489: Tabanca Grande (5): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico, Catió, BCAÇ 2930

Guiné > Região e Tobali > Catió > CCS do BCAÇ 2930 (1970/72) > O Alf Mil Médico Amaral Bernardo.



Porto > 2007 > Amaral Bernardo, Professor Catedrático Convidado no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar; responsável do Departamento de Ensino Pré Graduado do HGSA - Hospital Geral de Santo António, Porto.

Fotos: © Amaral Bernardo (2007). Direitos reservados.

Luís:

Com este e-mail e estas fotografias formalizo a minha entrada para a família da guerra da Guiné que faz deste Blogue (propositadamente com maiúscula) o seu ponto de encontro para partilha de vivências que, de outro modo, teriam que continuar a ser ruminadas e recalcadas na solidão da nossa angústia - as boas e as péssimas.

Foi pela mão do Paulo Salgado, meu amigo, que diariamente, quase desde o princípio, aqui venho - com atenção e muita emoção, como já disse. E desde o princípio me senti sempre em família.

Aceito, pois, o teu convite e prometo cumprir as regras e partilhar... mesmo as minhas críticas frontais e abertas (se as houver).

Neste momento não posso fugir ao lugar comum de te felicitar por esta iniciativa cujos resultados estão à vista. Mesmo quande se discorda ocasinalmente.

Cumprimento também todos os que já fazem parte desta família.

Abraço

Amaral Bernardo

(CCS / BCAÇ 2930, Catió, 197o/72)

2. Comentário de L.G.:

Reiterando o que já te disse, em privado, estás triplamente em casa, neste nosso blogue: és um camarada da Guiné e um homem da saúde, além de professor, formador de médicos e outros profissionais de saúde. São três características que temos em comum: se lhe juntarmos o facto de termos um amigo em comum que se chama Paulo Salgado, já são quatro. Se te disser que tenho uma costela nortenha pela via do casamento (a minha mulher é do Marco de Canaveses e tenho numerosa e fantástica família no Porto), então já são demasiadas coincidências... Mas tu estás, por mérito próprio, nesta grande família que são os amigos e camaradas da Guiné... Ficamos honrados com o teu pedido (formal) de adesão à tertúlia. Já reparaste que é gente do melhor, amiga do seu amigo, camarada do seu camarada... Terás de arranjar algum tempo para nos contares as tuas estórias de médico no martirizado sul da Guiné... LG

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1474: O capelão Mário Oliveira, de Catió, que ia a Bedanda (Mário Bravo)

29 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1471: O tenente miliciano capelão Mário Oliveira, Catió. BCAÇ 2930 (Amaral Bernardo)

12 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1363: Questões politicamente (in)correctas (13): Combatentes e desertores não cabem no mesmo saco (Amaral Bernardo)

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1471: O tenente miliciano capelão Mário Oliveira, Catió. BCAÇ 2930 (Amaral Bernardo)



Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 6 > Regresso do Cap Ayala Botto, de férias: é o primeiro, sentado à direita; o Alf Mil Médico Amaral Bernardo está de de pé junto ao Seco, em traje tradicional.



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > A saída do obus 14, de noite.
Fotos: © Amaral Bernardo (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Amaral Bernardo (José Maria Ferreira do Amaral Bernardo, Professor Catedrático Convidado no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Responsável do Departamento de Ensino Pré Graduado do HGSA - Hospital Geral de Santo António, Porto; ex-alf mil médico, BCAÇ 2930, Catió, 197o/72) (1)


Luís:

Só um esclareciment: O Mário de Oliveira que está com o Mario Bravo (2) não tem nada a ver com o Padre Mário de Oliveira da Lixa. É o capelão da CCS do BCAÇ 2930, sediada em Catió, sede do batalhão, a que ambos pertencemos:

(i) embarque no Carvalho de Araujo, que ardeu no caminho,

(ii) chegada a Bissau em 4 de Dezembro de 1970;

(iii) e regresso em 14 de Outubro de 1972.


O Mário de Oliveira é meu afilhado de casamento! (3).
O Mario Bravo foi-me render a Bedanda (onde estive 13 meses com o capitão Ayala Botto, que cumprimento). Fiz também Guileje com o famosíssimo Cap Parracho que cumprimento também, e Gadamael com o Cap Silva, das Operações Especiais, a quem tive que passar a certidão de óbito por morte em combate, e que recordo com muita saudade (Gadamael era o pior buraco do sul; a companhia que então lá estava teve que ser evacuada para Bissau por minha recomendação).

Só voltei a ver o Mário Bravo há dias, aqui no hospital onde trabalho e lhe dei um abraço e o endereço do blogue.

Vou parar aqui...

Abraço

Amaral Bernardo


P.S. - Os obuses de Guileje são 11.4 e os famosíssimos de Bedanda 14: eram 3. Inconfundíveis (4)

2. Comentário de L.G.: O Prof Amaral Bernardo telefonou-me hoje de manhã, a dizer-me que me ia mandar este mail e estas duas fotos. Aproveitei para o convidar, formalmente, a fazer parte do nosso blogue. Sei que é um velho amigo do Paulo Salgado e um apaixonado pela Guiné e pelo seu povo. Há mais de uma década que faz cooperação na área da saúde. Não precisaria de nenhum destes pergaminhos para ser cooptado para a nossa tertúlia. Bastava o facto de ter sido nosso camarada de armas e ter passado por sítios míticos do sul da Guiné, aqui constantemente evocados. O Amaral Bernardo está em casa, entre amigos e camaradas.
Quanto ao esclarecimento sobre a identidade do tenente miliciano capelão Mário Oliveira, fica tudo esclarecido. Eu tinha ontem enviado um mail, à nossa tertúlia, em tom de brincadeira, nestes termos:
Amigos & camaradas: Vejam se descobrem este sósia do verdadeiro Padre Mário de Oliveira, nosso querido tertuliano... Espero que o Mário Bravo, que é ortopedista, não tenha trocado os pés pelas mãos...
Naturalmente que, tal como as Marias, há mais Mários na terra. O Mário Oliveira, que em tempos foi sacerdote e capelão militar, em Catió, no BCAÇ 2930, será também bem vindo, se se quiser juntar a nós... com a benção do padrinho.
Com três médicos (Vitor Junqueira, Mário Bravo e Amaral Bernardo) e dois capelões militares (os Mário Oliveira), já não haveria guerra que nos metesse medo... (LG)
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 12 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1363: Questões politicamente (in)correctas (13): Combatentes e desertores não cabem no mesmo saco (Amaral Bernardo)

(2) Vd. post de 28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1469: Bedanda, manga de saudade ou uma dupla sinistra, o padre e o médico (Mário Bravo, CCAÇ 6)

(3) Também recebi mais dois emails, confirmando a identidade do ex-capelão:

Carlos Ayala Botto: Caro amigo, se não estou em erro, a foto que me enviou é do capelão do Batalhão de Catió, cujo nome não me recordo. Um abraço. Carlos Ayala Botto

Rui Santos: É mesmo o Tenente Miliciano Capelão Mário Oliveira, do BCAÇ 2930, Catió, 1970-1972. Pelos vistos, dois capelães com o mesmo nome! Rui Santos.

(4) O nosso especialista em artilharia, o coronel na reforma, Nuno Rubim, diz que o 11.4 é uma peça (de artilharia) e o 14 é que é o obus... Eu confesso que não consigo distingui-los... Sobre a artilharia em Bedanda e Guileje, vd. posts anteriores:

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1443: Contributo para a história da construção do aquartelamento de Guileje (José Barros Rocha, CART 2410, Os Dráculas, 1969/70)

15 de Janeiro de 2007 >Guiné 6/74 - P1434: Artilharia em Guileje: a peça 11.4 e o obus 14 (Nuno Rubim)

6 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1407: Tertúlia: apresenta-se o Coronel de Cavalaria Carlos Ayala Botto, ajudante de campo do General Spínola

8 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1159: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (2): Bedanda, ontem (CCAÇ 6, 1970) e hoje

6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1155: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (1): Bedanda, CCAÇ 6, 1970: O Obus 14 contra o foguete Katiusha

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1363: Questões politicamente (in)correctas (13): Combatentes e desertores não cabem no mesmo saco (Amaral Bernardo)

1. Mensagem enviada pelo nosso camarada Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico do BCAÇ 2930, com data de 15 de Novembro de 2006:

Luís Graça (permita-me que o trate assim):

Sou ex-Alf Mil Médico na Guiné, Dezembro de 1970/Outubro de 1972, Catió, Cacine, Guileje, Gadamael, Bedanda (11 meses), Tite e Jabadá, Bolama (20 dias para descacimbar).

Sigo com atenção ... e emoção, diariamente, este bolgue.

Hoje de manhã ao abrir o correio, foi o choque e a dúvida. A minha pergunta é: neste blogue os desertores (o termo é vosso) são considerados ex-combatentes por quem esteve na guerra? Este não é um local de ex-combatentes ? (1)

Respeito todas as opções e todas as pessoas. Mas penso que os grupos são distintos e não têm lugar no mesmo saco. Penso ainda que não deveria ser um lugar de branqueamento de posturas. Perdoe, mas é a minha opinão. E vale só isso.

Um abraço
amaral bernardo

P.S. - Claro que o Medeiros Ferreira não tem culpa nenhuma disto. Fez uma opção que eu respeito, repito.

2. Comentário do editor do blogue:

Meu caro Professor Doutor Amaral Bernardo: Não tenho o prazer de o conhecer pessoalmente, mas já descobri que temos várias coisas em comum, nomeadamente, o facto de sermos professores universitários, estarmos ligados à saúde e termos sido combatentes na Guiné, sensivelmente na mesma altura, você, entre 1970/72, e eu entre 1969/71...

O nome do Medeiros Ferreira apareceu no nosso blogue, evocado pelo Raul Albino, seu camarada da CCAÇ 2402. O Raul seguiu para a Guiné, o Medeiros Ferreira desertou na véspera do embarque (2)... O termo não é do Raul Albino, foi usado por mim em nota de pé de página... Objectiva e legalmente, a figura é a do desertor, sem qualquer juízo político, ideológico, moral ou ético.

O Raul Albino, que por razões de preparação logística seguiu em primeiro lugar para a Guiné duas ou três semanas antes, constatou apenas que à chegada da CCAÇ 2402 a Bissau, havia duas baixas de vulto no quadro de oficiais (sic): o Beja Santos e o Medeiros Ferreira (que hoje são, ambos, figuras públicas, sendo o primeiro membro da nossa tertúlia e colaborador activo do nosso blogue, tal como o Raul Albino).

Não há, por parte do Raul Albino ou do editor do blogue, nada que indicie ou sugira a condenação ou a glorificação da figura do desertor... Este blogue é de amigos e camaradas da Guiné... As regras de inclusão e de exclusão não estão definidas de uma vez por todas... Estamos abertos, por exemplo, a acolher, na nossa tertúlia, os homens e as mulheres que nos combateram, até 1974, sob a bandeira do PAIGC... Sem dúvida, que este é um blogue sobretudo dos ex-combatentes da guerra da Guiné, mas interessam-nos também os pontos de vista, as experiências, os testemunhos, de todos aqueles que directa ou indirectamente trilharam os caminhos da guerra e da paz...

Eu sei que a palavra desertor ainda hoje tem uma certa carga emocional para muitos de nós que fomos mobilizados para o ultramar... Eu sei que esta pode ser mais uma questão fracturante no nosso blogue, mas não devemos ter medo de a evocar e de a discutir...

Dito isto, registo, sem mais comentários, a opinião do Amaral Bernardo e aproveito o ensejo para o convidar a participar, mais regular e activamente, no nosso blogue. Espero, no minímo, que continue a seguir-nos diariamente, com a mesma atenção e emoção com que o tem feito até aqui.

Saudações do L.G.
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Notas de L.G.:

(1) José Maria Ferreira do Amaral Bernardo é Professor Catedrático Convidado no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Responsável do Departamento de Ensino Pré Graduado do HGSA - Hospital Geral de Santo António, Porto.

(2) Vd. post de 15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira