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domingo, 27 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9105: (Ex)citações (160): Na convicção que a ideia possa germinar (António Matos)



1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem: 

Camaradas,

Na sequência do meu anterior texto, e perante um comentário do Manuel Maia, aqui deixo um desafio para consideração dos tabanqueiros. 



Na convicção que a ideia possa germinar 


Não me peçam para corroborar as palavras de Otelo Saraiva de Carvalho! 

Não me peçam para encarneirar com as palavras de Vasco Lourenço! 

Peçam-me, sim, para ser coerente! 

Realista! 

Homem do meu tempo! 

Sem pretensões mediáticas! 

Solidário! 

Amigo! 

Após o meu último post e ainda que na versão dum "encore", li e reli os amáveis comentários que agradeço e sobre os quais reflito. 

Chama-me uma particular atenção o do Manuel Maia. 

Acho-o extraordinário de pertinência e adiro incondicionalmente à escolha duma data fora de todo e qualquer contexto, para homenagearmos os nossos camaradas mortos na guerra do ultramar. 

Façamos algo que nos possa encher o coração e nos aproxime daqueles que tombaram ao nosso lado só porque aquela bala os escolheu e nos deixou prolongar esta nossa existência à qual merece ser dado um sentido humanista e de grande perenidade. 

Desconheço qualquer estatística que distribua geograficamente os camaradas desta tabanca afim de estabelecermos o local da 1ª concentração magna de quem assim o entender, mas estarei presente onde quer que seja para recordarmos todos aqueles com quem partilhámos parte das nossas vidas e de quem nem sempre tivemos tempo para nos despedirmos condignamente. 

Não misturemos as coisas; o Natal tem já o seu significado; a Páscoa também; os feriados alusivos a isto ou aquilo, reservam-se a isso mesmo. 

A homenagem aos nossos mortos é quando um homem quiser e não faltam sábados ao longo do ano para deles dedicarmos 1 a esta efeméride. Assim haja vontade! 

Nada como dar o 1º passo! Temos tempo para programar as nossas vidas mas alvitro já o dia 14 de Janeiro

Porquê? Simplesmente porque sim! 

Onde? Eu estou em Lisboa pelo que opto por Coimbra

Se isto tiver pernas para andar (depende apenas das adesões expressas), deixava já o desafio a um dos camaradas (Vasco da Gama não é da zona?) para apenas tratar duma cerimónia alusiva e propícia a uma recolhida saudade. Que me dizem? Vamos nisso? 

Aqui o blog será o repositório das adesões pelo que ficamos à espera, não de desculpas para não irmos mas sim de manifestações positivas desta nossa vontade! 

Bem hajam! 
António Matos 
Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790 
__________ 
Notas de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9092: (Ex)citações (158): Homenagem aos nossos mortos não tem data! É quando um homem quiser! (António Matos)


1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem:

Homenagem aos nossos mortos não tem data! É quando um homem quiser!

Camaradas,

Para lá duma forte comoção que me invadiu o coração em dia de greve geral a qual me permitiu dedicar o tempo "à limpeza" de muito lixo acumulado no computador, descubro inadvertidamente este texto nos meus arquivos que me sobressaltou pela saudade, pela dor e pela juventude passada...

Fiquei confuso sobre a oportunidade de uma re-publicação mas isso deixo ao critério dos editores e o que decidirem está bem decidido.

Dizia eu em 2008 :

Cá volto eu outra vez nestes primeiros contactos de Tabanca, recordando outras tabancas lá por terras de poucas saudades, onde deixei muita da pureza da minha meninice, alguns dos amigos que fiz desde os Arrifes em Ponta Delgada e que tinha jurado trazê-los de volta ao colo das suas Mães, aos abraços enternecedores dos Pais, aos beijos das namoradas...

Tal não se concretizou e hoje, ao ver os rostos daqueles que eram meninos, confrange-me o sofrimento incalculável de quem tenha recebido um telegrama a anunciar uma morte por actos de bravura em defesa da Pátria !!!!

Caramba, muitos dos nossos camaradas morreram tão simplesmente por serem os homens errados, no sítio errado à hora errada!

Muitos de nós não tinham tido sequer tempo de interiorizarem o quanto essa Pátria ( que hoje os esquece em favor de outros que seguem para missões de meia dúzia de meses e a troco de belas fortunas ), lhes pediu, de borla, para que fossem heróis na medida das suas forças!

Caramba, eu vi miúdos a chorar na caserna com saudades dos seus familiares !

Caramba, eu vi miúdos a baterem-se com uma heroicidade contagiante pela defesa do camarada em apuros que lhe estava ao lado!

Caramba, eu vi miúdos a fazerem frente a um contingente de guerrilheiros liderados pelo Nino Vieira!

Caramba, eu vi miúdos a caírem nas minas e a ficarem decepados!

Caramba, meus caros, eu vejo, todos vemos, o abandono a que esta Pátria nos relegou!

Não, não faço parte de qualquer associação de apoio aos ex-combatentes; nunca me disponibilizei a engordar as filas de manifestantes que se propõem zelar pelos interesses de todos nós; nunca expus publicamente o meu desencanto com os sucessivos (des)governantes que têm passado pelos corredores dos Passos Perdidos numa atitude de vil desrespeito por esta geração que é a minha; mas agora, do alto da palhota da minha Tabanca, tento compreender o meu tempo e as novas gerações onde já pontuam os meus filhos, os meus netos, e os filhos e os netos dos meus camaradas de armas.

Os tempos deram uma grande cambalhota e os valores alteraram a sua ordem hierárquica.

Hoje pertencemos a uma geração que sendo sobrevivente a uma guerra, assiste à transformação do paradigma da vida.

Hoje há filhos a morrer antes dos pais pelas mais diversas razões: droga, uso indevido de armas, acidentes viários, gangsterismo, AVC's, stress, incertezas profissionais, etc., etc., etc.

Duvido que esta juventude tenha alguma simpatia pelo conhecimento desta aventura africana na qual os seus pais se envolveram.

Têm tanto com que se preocupar...

Enfim, em dia de todos os mortos, rendo-me à memória de todos aqueles que partiram dirigindo às respectivas famílias o meu sentido silêncio já que as palavras teimam em não sair pelo nó que se forma na garganta.

Voltarei mais tarde para me dedicar também às ocasiões que nos faziam rir.

E foram muitas...

Abraços,
António Matos
Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790
__________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

15 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9046: (Ex)citações (156): A recensão a Pami Na Dondo foi feita não ao livro mas à pessoa do autor (Mário Fitas)


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9017: O nosso blogue em números (13) : A propósito dos 3 milhões de visitas... Comentários de Virgínio Briote e Beja Santos



Guiné > Região do Cacheu > Bula > CCAÇ  2790 )1970/72) >  O António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas, aos comandos de um "blindado", uma GMC-guindaste, daquelas que gastavam, não 100 aos 100, mas 100 (litros) ao 10 (km)...


Legenda:  "Ainda que o cockpit não estivesse a 100%, é nos pneus que se notava o cuidado em manter o veículo preparado para os mais altos desafios fossem quais fossem as situações;  Slics à frente porque a estrada estava seca; com piso atrás para ter mais tracção; redondinhos mais atrás para o que desse e viesse" (A.M.)... 


Ele, António Matos,  conta como foi:


(...) Certo dia, estava eu sediado no destacamento de Augusto Barros, comandei a deslocação a Bula, em coluna motorizada, a bordo duma tão fabulosa quanto velha GMC que, julgo, gastava aí uns 100 litros aos 10 kms ! 


Conduzia-a um possante soldado (reconhecia-lhe a cara no meio duma multidão mas esqueço-lhe o nome) quando nos preparávamos para o regresso.  As últimas 2 horas tinham sido passadas à volta da equipa de mecânicos "comandada" pelo furriel Perdigão afim de se arranjarem os arames mais convenientes que suportassem a resolução dum problema técnico até ao dia seguinte.


Posta a trabalhar à semelhança dum verdadeiro fórmula 1, fomos de roda batida para a nossa "casinha" [, Bula,]. Os primeiros 4 ou 5 quilómetros eram em estrada alcatroada e só depois, na Placa, se infletia à esquerda para a picada.


Era noite. Atrás da GMC vinha um Unimog 411 onde se abrigava o capitão. (...) 


[O resto da história, e do seu desfecho insólito, que ilustra o famoso desenrascanço português, pode ser conhecido aqui].


Foto © António Matos (2008). Todos os direitos reservados


A. Mais dois comentários ao poste P9003 (*), a propósito do passado, presente e futuro do nosso blogue:


1. Virgínio Briote:


 De uma forma geral, aprecio muito positivamente os conteúdos do blogue. Não perco a entrada de nenhum camarada, especialmente se ele descreve as passagens mais significativas das suas memórias, as povoações por onde andou, pessoas e locais com quem se relacionava mais, acções em que participou, imagens, impressões daquela gente e daquela terra que tanto nos marcou.

Julgo que as razões deste interesse se devem a que a minha passagem pela Guiné não se limitou aos 24 meses. E não devo correr grandes riscos se afirmar que muitos de nós "esteve" lá dos 20 aos 30 ou mais anos das nossas vidas. E hoje, de vez em quando, quantos de nos ainda lá "vão"?



O trabalho que tem sido feito pelos editores não pode deixar de ser referido. Alimentar diariamente o blogue implica acrescentar horas de trabalho sem direito a outra remuneração que não seja o gosto em ver o seu trabalho reconhecido e estarem conscientes que estão a prestar um serviço público.

O que vejo no Luís Graça, no Carlos Vinhal e no Eduardo Magalhães é o interesse em dar voz aos camaradas que, de 1961 (um ou outro ainda antes) até Setembro/Outubro de 1974, cumpriram com a obrigação de que o Portugal de então os incumbiu. É este, para mim, o principal objectivo do blogue e é com estes olhos que o leio diariamente.


2. Beja Santos:

(...) O mais importante do nosso blogue é funcionar como uma encruzilhada de múltiplas proveniências, expectativas e estados de alma. É o seu lado deslumbrante, incontornável, funcionar como um albergue espanhol de toda a gente que se revê e procura entender os seus sentimentos naquela Guiné e na que agora existe. 

Não se pode, em rigor, introduzir secções ou direcções onde o bloguista se possa vir a sentir enfiado numa determinada medida que não funciona para os outros. Qual o problema da diversidade, dos que querem testemunhar, comunicar, desabafar ou repontar? Não há problema, não percebo essa preocupação com a letargia, os textos avolumam-se, vêm de todas as sensibilidades, assim terá de continuar a ser. 

Recordo-te que há anos atrás sugeri [, ao Luís, a criação de] uma comissão acompanhadora de projectos: publicações, apoio solidário, conferências, atracção dos camaradas guineenses, etc. Teríamos aí, estou em crer, a possibilidade de gerar novas dinâmicas para alastrar a influência do blogue, que não pára de crescer. 

O blogue é simultaneamente um lugar e um não-lugar: aqui contamos com a intimidade, a identidade, afectos; por aqui passamos como por um aeroporto ou uma auto-estrada. 

Se fosse a ti [, Luís,] , sentia-me feliz por ter urdido esta malha social e o contágio que propagou.  Só vejo utilidade que te rodeies de uma máquina de ideias com dois sentidos: potenciar o valor do nosso património (em depoimentos, em textos, em imagens, em possíveis publicações) e animar iniciativas e projectos onde a filantropia e o debate/convívio adquiram outras formas, estreitando a nossa camaradagem.  (...)

_______________

Nota do editor:

 7 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9007: O nosso blogue em números (11): A propósito ds 3 milhões de visitas... Comentários de F. Palma, H. Sousa, F. Costa e T. Mendonça

6 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9003: O nosso blogue em números (10): Atingidos os 9 mil postes, a caminho dos 3 milhões de visitas... Tempo de balanço(s)...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8494: As mulheres que, afinal, foram à guerra (18): As madrinhas de guerra e a Cecília Supico Pinto, precursora do Facebook (António Matos)

1. Comentário do António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790 (Bula, 1970/72), a um poste do meu blogue pessoal, Luís Graça > Blogpoesia (*):

[O António, ex-IMB, grande amante do karting, camarada que eu muito estimo,  é membro da nossa Tabanca Grande, e além disso amigo inscrito na nossa página no Facebook; o seu pai ainda foi meu colega de trabalho, na Direcção Geral dos Impostos; e ele, António Matos, tal como o meu velho, em Cabo Verde, 1941/43, também foi confidente e escriturário de camaradas analfabetos, neste  no TO da Guiné, 1970/72]:


Caramba, Luís, tocaste num ponto que me foi sempre enigmaticamente madastro,  sabendo-se da sua relação umbilical com o Movimento Nacional Feminino e que, numa linguagem moderna e com todos os perigos inerentes a tal extrapolação, me soava a acompanhantes (não necessariamente de luxo), ainda que desses relacionamentos tivessem surgido, inclusivamente, muitos, felizes e duradouros casamentos !


Acho que as ilusões que eram criadas na generalidade dos nossos soldados funcionavam muito mais como a namorada ausente que muitas vezes também,  elas próprias,  se envolviam num relacionamento nem sempre ingénuo.

Tal como muitos de nós, também eu acompanhei "aquele" soldado analfabeto que me elegeu como confidente das suas frustrações, dos seus anseios, das suas necessidades morais e fisiológicas,  lendo e escrevendo os seus desabafos para mães, pais, namoradas, madrinhas de guerra e sei lá para quem mais ....


Sei do que falo, portanto !

Aqui entra o elemento que consubstanciava estes diálogos com compasso de espera entre pergunta e resposta - o aerograma - que teve em Cecília Supico Pinto uma das precursoras do actual Facebook ...


As analogias funcionais serão imperceptíveis mas uma coisa era evidente:  a possibilidade de se dizer tudo aquilo que o pudor não permitia dizer cara-a-cara !!!

O tema que levantas é aliciante e concordo com quem diz que maravilhosa estória seria descoberta se se dessem a conhecer esses 300 milhões de aerogramas escritos naqueles anos ....

Obrigado,  Luís !


Beijos às madrinhas que ainda hoje existam !!

Abraços a todos e hoje em especial aos afilhados de guerra !!! (**)


António

30 Junho, 2011
___________________


Notas do editor:

(*) Setembro 10, 2008 > Blogantologia(s) II - (71): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra


Criada uma ligação ao mural da nossa página do Facebook, e que mereceu, além do comentário do António Matos,  mais dois (com data de ontem), quer em relação ao meu poema quer em relação ao meu próprio comentário: Ter-se-ão escrito mais de 300 milhões de aerogramas durante a guerra colonial...



João Pereira da Costa

Luis Graça,  é diabólico esse número. Que livro ou livros dariam as passagens dos seus conteúdos. Sei lá. Todos os tipos de sentimentos e segredos. Fiquemos por aqui.


Por casualidade entabulei amizade com um oficial do exército brasileiro q...ue dá aulas numa unidade, em que fez um trabalho (estudo) para saber as razões porque raparigas brasileiras se correspondiam como madrinhas de guerra com militares portugueses na guerra colonial.


Estou à espera que me envie um livro sobre a unidade, contudo não sei se falará sobre o assunto que coloquei.


Só de pensar o que acontecera a alguns deles quando recebidos atendendo ao seu conteúdo... Que temática maravilhosa. Seria um desafio. Haverá voluntários? (...)

José Manuel Corceiro > Parabéns e obrigado Luís Graça, pelo lindo poema que escreveste… É um hino de louvor e agradecimento às nossas queridas Mães, pelos dias de dor vividos sem dormir, em sofrimento angustiante, causado pela ansiedade e a incerteza que dominava impiedosamente o seu pensamento amargurado. Continuamente a mesma dúvida, se voltariam um dia a ter a oportunidade de ver e abraçar os seus meninos? (...)

 
(**) Último poste da série > 22 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8460: As mulheres que, afinal, foram à guerra (17): Público, Cinecartaz: Críticas dos leitores

domingo, 17 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8118: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (4) : Não é o filho pródigo de volta a uma casa que tem como sua! (António Matos)


1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos, em 15 de Abril, a seguinte mensagem:
Um pequeno texto em tom de olá a todos!
Não! Não é o filho pródigo de volta a uma casa que tem como sua;
que ajudou a construir enquanto teve tijolos disponíveis;
que refez uma ou outra parede que se inclinava perigosamente desacautelando a integridade intelectual bem mais do que a física;
que se ausentou para outras paragens;
que tentou novas abordagens que a expectativa espicaçava;
que se emociona num crescendo à medida que o tempo passa e lhe vêm à memória cenas duma vida ultrajada;
não! não! não!
Não é um filho pródigo quem aqui vos vem visitar por um mero sentimentalismo bacoco a pedir meças às exaltadas consciências de outros pródigos mais ou menos bacocos também...
Em 10 de Novembro de 1971, comemorei o meu 23º aniversário.
Em vez dum bolo tive um prato de arroz com arroz;
Em vez de velas, iluminava aquela noite um petromax;
Em vez do frio invernoso a que estava habituado nos Novembros, tive uma noite quentíssima...
Em vez de palmas e alfarreás, tive um tiroteio!

Passaram-se 40 anos e sou localizado por um ex-furriel do Esquadrão das Panhards de Bula que me socorreu em Augusto Barros naquela longínqua noite...

Os bons demónios que há em nós também dormem e também se agitam quando sobressaltados...

Comoveu-me o Leonel Olhero pela gentileza do seu contacto via facebook naquele dia de 2010...

Daí a ser convidado para o almoço de confraternização das suas gentes, foi um ápice!

Estive lá (Coimbra) e foi muito bom reconhecer outros camaradas como o ex-alferes Barbosa (O Bigodes) e o ex-capitão Ruben.

O ambiente e o espírito foi-me familiar, razão pela qual considerei um verdadeiro clik para vir aqui postar este testemunho em prol das amizades feitas naqueles tempos e que perduram, pesem embora as 4 dezenas de anos de silêncios que as tecnologias, finalmente, desfizeram.

Abraços,
Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790
__________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:
16 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8113: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (3): Que rica é a nossa Tabanca (Albino Silva)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7268: Nome de código Chaminé (António Matos)


1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos, em 11 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:

Nome de código Chaminé

A operação foi preparada discretamente…

Ao fim da tarde reuni os meus mais exímios soldados e pedi-lhes que se preparassem para a acção.

Objectivo, estratégia e progressão, seriam desvendados em cima da hora para evitar fugas de informação e as consequentes interferências.

Ao cair da noite, fiz o ponto de situação e dei os últimos retoques no atavio daqueles homens.

Homens e algumas mulheres pois naquele dia havia mulheres grandes da tabanca que se mostraram absolutamente determinantes no sucesso da investida na sua qualidade de apoio psicológico uma vez que mantinham relações de parentesco com eles.

No total éramos 11 a formar o grupo de assalto que levaria a cabo o golpe de mão.

O resto do pessoal foi dispensado ainda que só o viessem a saber no dia seguinte estranhando, contudo, a ausência de alguns dos camaradas com quem costumavam disputar longas sessões de lerpa.

Debruçados sobre o mapa da zona, indiquei-lhes o ponto onde perpetraríamos o assalto.

Elegi quem tomaria o comando caso um azar me pusesse KO.

Verificámos as munições e partimos.

Numa 1ª fase avançámos rapidamente até se detectar o primeiro obstáculo.

Tomámos posições defensivas e eu avancei para uma observação pormenorizada.

Era uma mina, porra!

Não estava enterrada mas estava armada o que fazia supor ter sido assim colocada para nos distraírem de eventuais outras armadilhas.

Era de forma cilíndrica com o percutor bem à vista e o detonador pronto a estoirar.

O material explosivo não era sólido o que dificultava o manuseamento.

Calculei os riscos e optei por desmontá-la para que um rebentamento provocado não viesse a denunciar a nossa aproximação.

Parecia não estar armadilhada e não tinha cordão de tropeçar.

Inspeccionei-a pela esquerda, depois pela direita.

Felizmente a temperatura fria da noite jogava a nosso favor.

Hoje recordo que os homens (não tanto as mulheres) se entusiasmaram demasiado e aproximaram-se para além dos limites de segurança para verem os pormenores.

Uuaauuuu! esta já estava!

Recolhidas as peças, continuámos em direcção ao nosso objectivo.

Felizmente que tudo estava muito bem planeado pois pelo caminho ainda tive que desactivar mais 4 engenhos semelhantes e mesmo assim, às 4 da manhã estávamos emboscados em semi-círculo frente a umas sentinelas que não se aperceberam da nossa aproximação.

Havia agora que as eliminar e para isso munimo-nos de facas e numa deslocação de verdadeiro bailado em pontas, surpreendemo-las sem grande alarido.

Num excesso de zelo que se justificava, a cada inimigo a quem espetávamos a faca, confirmávamos o seu aniquilamento com um género de forquilha com que lhe perfurávamos as entranhas.

Recuperadas todas as armas e munições que estavam naquele acampamento, apressámo-nos no regresso evitando qualquer reacção de algum grupelho que por ali andasse.

Chegámos ao quartel e reunimos para de imediato se fazer o relatório da operação.

As minas tinham inscrições em português!

Fabricadas num depósito de armamento ofensivo no Alentejo!

Estavam numeradas.

O explosivo, líquido e escuro, desaparecera, deixando-nos sem qualquer hipótese de o estudar.

Tivemos sorte pois deve ter-se vertido sem contudo provocar qualquer acidente.

Não era corrosivo o que afectaria o soldado que o trazia no burnal caso lhe chegasse à pele.

Tinha o nome de código Chaminé.

Passámos ao segundo ponto do relatório.

O inimigo era muito numeroso mas apanhado de surpresa como foi, soube-nos a pouco.

As facas, esmeradamente afiadas, cortavam as fatias do lombo do porco com batatas e castanhas de maneira exímia.

Não ficou nenhuma para contar como foi!

O bacalhau bem tentou fugir mas não conseguiu!

Finalmente, o inimigo dos inimigos apareceu disfarçado de leite creme, de toucinho do céu, de tiramisu, mas teve a mesma sorte: completamente dizimado!

Demos por terminado o relatório e todos o assinaram.

Uma última formatura e cada um seguiu para a sua caserna para um merecido descanso.

Pessoalmente dormi como um justo mas acordei cedo com uma dor de cabeça dos diabos.

Estávamos a 10 de Novembro de 2010, 39 anos depois de um outro incidente em Augusto Barros com direito a Panhards e tudo.

Recordações dum guerreiro que diz daquela longínqua guerra o que Moisés não disse do toucinho!

António Matos

__________

Nota de M.R.:

Vd. último poste deste autor em:

8 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7243: (Ex)citações (106): Netos ou peluches, tudo por uma boa saúde mental! (António Matos)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7257: Parabéns a você (169): António Garcia de Matos, baboso tris...avô, mas hoje criança...(Miguel Pessoa / Editores)




O António Matos,  ex-Alf Mil At Inf, Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2790 (Bula, 1970/72) é hoje uma criancinha, tão adorável como os seus netos: mesmo que ele não ligue muito (ou diga que não liga, como nós, do Clube dos SEXA, dizemos que não ligamos) a festas de aniversário, a gente está aqui, o tabancal em peso, com o Miguel Pessoa, nosso cartoonista, à frente, para lhe desejar todas as coisas boas da vida a que um camarada da Guiné (e um orgulhoso tris...avô: leia-se, avô de três netos) tem direito... 

Pelo poste do ano passado (donde consta um belo texto autobiográfico...), ficamos a saber que o António soma hoje mais um aos 61 que tinha ontem...

Parabéns, António! ... E fica sabendo que temos tido saudades tuas!... Ficámos contentes por constatat que, embora arredado por uns tempos das nossas lides bloguísticas,  continua(va)s vivo e sempre a pronto a "desarmadilhar" as pequenas m... que nos impedem, às vezes, de sermos felizes ou mais felizes em grupo... (LG)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7243: (Ex)citações (106): Netos ou peluches, tudo por uma boa saúde mental! (António Matos)


1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos, em 8 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:
Guiné, netos ou peluches, tudo por uma boa saúde mental!
Afinal o problema da política no blogue quase se tornou um caso político!
Como se sabe, um caso político pode ser provocado e não faltariam exemplos para o demonstrar, mas para evitar tentativas veladas numa altura em que se começa a falar de campanhas eleitorais que terão lugar daqui a um valente par de meses, fico-me por aqui para não ferir susceptibilidades.
Já uma última reflexão sobre o uso do facebook merece atenção.
Hoje mesmo, a Comissão Europeia decidiu elaborar um conjunto normativo tendo em vista a protecção de dados dos cidadãos ao abrigo dos direitos e liberdades dos mesmos, uma vez que há sérias dúvidas sobre o bom uso e preservação das nossas intimidades.
É bom que todos o saibam que, uma vez inscritos como aderentes ao facebook, jamais os dados disponibilizados serão apagados!
Isto far-vos-à repensar o que já se escreveu sobre o assunto?
Na tentativa de, mais uma vez, prevenir antes de remediar, levanto o assunto para que aqueles que eventualmente estejam menos conscientes das implicações destas modernidades possam decidir em consciência.
Posto isto, e porque o que interessa é falar da Guiné e quem diz da Guiné diz dos netos, é com o chapéu de trisavô que tomo a palavra.
À semelhança de outros velhos babados que voltaram aos tempos de meninice jogando a bola em plena sala de estar com os biblôts a escaqueirarem-se,
os vizinhos de baixo a baterem com o toco da vassoura no tecto a pedir silêncio,
ou montando um estafermo dum cavalinho que relincha cada vez que se lhe apertam as orelhas e nunca mais se cala,
até à hora do banho onde o pantanal final pede meças aos dias em que se dá banho ao cão,
passando pela espectacular cagada que o puto fez na exacta altura em que se preparava para sair de manhã para a escolinha e ficou imundo e mal cheiroso até ao pescoço a necessitar de novo banho,
à semelhança deles, dizia, também eu lhes vou dando primazia em detrimento do blogue!
A verdade é que, não fossem estes faits-divers que fazem parte integrante da minha vivência e esbarraria sistematicamente em recordações duma força intimista potentíssima, é certo, mas destruidora dum salutar bem estar quotidiano que não se justificaria - a guerra do ultramar.
Tenho-a como uma experiência de mais valia não transacionável e que guardo com um carinho muito particular, mas está devidamente guardada numa gaveta do armário psicológico devidamente arquivada por datas, por assuntos, por amigos e camaradas, por antecedências, por consequências, por sonhos, por desgostos, enfim, por uma panóplia de separadores de fácil consulta mas em nenhum lado existe lugar para "pendentes"!
Para tanto colabora a exacta medida de importância que dou à importância que as coisas têm.
Os blogues e as redes sociais, entretêm-nos tanto mais quanto mais participativos nos tornemos e nesse sentido dou-lhes atenção.
Cada um com o seu conjunto de interesses, assim vai seleccionando opiniões, palpites, más-línguas, amizades virtuais, compondo parte do ramalhete que o forma enquanto cidadão vivo e activo.
E estarmos abertos a novas ideias só nos engrandece e enriquece.
É, pois, em jeito de homenagem que abraço o Branquinho e todos aqueles que lhe pegaram igualmente na genialidade do conselho para tratarmos dos netos (ou nos peluches se não tiverem netos ) colocando este post como testemunha.
Bem hajam!
António Matos
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

7 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7236: (Ex)citações (105): Netos, ká tem (Miguel Pessoa)

sábado, 6 de novembro de 2010

Guiné 63/74 – P7231: Controvérsias (109): As novas tecnologias ao serviço do blogue. A política ao serviço das nossas ideias. (António Matos)

1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos, em 4 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,


As novas tecnologias ao serviço do blogue;
A política ao serviço das nossas ideias

Sendo eu utilizador assíduo do facebook, não poderia deixar de me regozijar com a adesão que os mentores deste blogue fizeram a esta rede social por lhe reconhecer virtualidades irrefutáveis a par, evidentemente, de toda uma panóplia de possíveis abusos a acautelar.
Supondo que nem toda a população de ex-combatentes possa estar suficientemente alertada com as diversas normas que lhe são inerentes, permitam-me as reticências sobre as indiscrições a que se sujeitam e que deverão ser minimamente abordadas.
Em termos pessoais gostava de saber se um poste colocado no blogue por via de um e-mail dirigido aos editores tem entrada directa no facebook ou não.
Isto é, acho que o facebook deve ser "alimentado" por vontade expressa do "escritor" e não automaticamente.
Dito isto, e querendo (desejando) que os meus postes se mantenham no blogue sem darem entrada no facebook (exposição é planetária o que poderá inibir a escrita) vou incidir agora num dos credos do Luís Graça & Camaradas da Guiné que, não sabendo onde, recordo ter lido ser este blogue avesso a problemas de ordem política, religiosa e outras.
A única destas temáticas à qual achava conveniente alargar o âmbito é a política.
Não que eu tenha qualquer intervenção pessoal ou institucional fora de ambientes de pura tertúlia mas porque o conceito em si mesmo se alterou e hoje tudo, repito, tudo o que fazemos nas nossas vidas é político!
Nesse sentido é impossível falar da nossa guerra sem alusões directas ou indirectas à política;
É impossível opinar sobre a retirada de Guileje e abstrairmo-nos de motivações políticas;
Falar de Spínola é falar de política;
Falar de Manuel Alegre é política;
E falar de Amílcar Cabral, não o é?
Como explicar a invasão da Guiné Conacry sem contexto político?
E a droga que grassa hoje no território daquele país está separada da política?
A visita de Sá Viana Rebelo (ministro do exército e da defesa) a Bula no exacto dia em que eu estava de oficial de dia e aguentei a estucha, não é política no seu melhor?
A psico spinolista foi só política!
Se o tema merecer a vossa concordância, não advogo agora passarmos a discutir o orçamento do estado, obviamente, mas a contextualização dos acontecimentos por nós relatados poderão e deverão ser aprimorados com os nossos pontos de vista políticos, que acham?
Em bom rigor isso já se faz hoje mas quis trazer o assunto à colação para que fique oficialmente aceite. Ou não.
António Matos
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Nota de MR:
Vd. poste anterior desta série em:

5 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7229: Controvérsias (108): O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (2) (Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER do BCAÇ 4612/74)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Guiné 63/74 – P7190: Controvérsias (106): Venho aqui para vos dizer que estou vivo! (António Matos)


1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos, em 29 de Outubro de 2010, a seguinte mensagem:
Camaradas,
Este é um curto intervalo na minha ausência e anexo este pequeno texto de "Olá, tudo bem?".
Venho aqui para vos dizer que estou vivo!
Não, não me venho apresentar batendo os calcanhares pois esses, coitados, têm-se aguentado é certo, mas precisam de carinhos e até os deixo arrastar de vez em quando pela calçada para não os forçar na colaboração que prestam aos dedos na acção de levantarem os sapatos...
Também não me porei em sentido, de peito feito, com a gravata entre o 2º e o 3º botão da camisa uma vez que já estou um tanto pitosga para depois pegar na agulha e na linha e voltar a pregá-los por terem disparado como balas perante tão ilustre assembleia de barrigudos...
Não cortarei as barbas por estas não estarem de acordo com os regulamentos em vigor...
Não usarei a boina uma vez que a troquei pelo palhinhas...
Não falarei da África, daquela África que foi minha durante 2 anos, onde deixei muito do que de melhor tinha, em prol da libertação do que quer que fosse porque hoje me entristece verificar que se transformou num ponto negro (passe o pleonasmo) da convivência multi-étnica, que não me entusiasma, que me fartou com o espectro da morte, da droga, da degradação generalizada...
Sim, venho aqui para vos dizer que estou vivo!
Venho aqui para mandar um abraço a todos aqueles que ao longo de uns anos me habituei a reflectir sobre as suas reflexões, concordando ou discordando dos respectivos pontos de vista!
Vim aqui para folhear um pouco o blogue e ver que os primeiros postes são, calcule-se!!, sobre Gadamael!
Vim aqui para me certificar que continuam a haver problemas mal resolvidos, quiçá traumas pós-traumáticos que se confundem muitas vezes com protagonismos exacerbados!
Vim aqui e descobri mais um belo naco de prosa na sua capacidade narrativa do Luís Faria!
Vim aqui para me certificar que vocês estão todos muito mais novos do que há um ano atrás o que prova que o sossego que vos possa ter dado foi frutuoso!
Talvez volte por estes lados mais amiudadas vezes mas reconheço que neste momento tenho as minhas atenções mais concentradas na vida nacional quando este ano quintuplicou o número de pessoas a recorrer aos bancos alimentares!
Talvez volte por estes lados mais amiudadas vezes pois o número de entradas ultrapassou os 2 milhões que,  sendo menos do que o nosso défice, já é uma meta bonita!
Por tudo isto, aqui vos deixo um abraço na expectativa de ser postado tão rapidamente quanto possível.
Oxalá.

António Matos
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em:

17 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7139: Controvérsias (105): Sensatez e rigor no nosso blogue (Mário Gualter Rodrigues Pinto)

sábado, 24 de abril de 2010

Guiné 63/74 – P6232: Estórias avulsas (32): A minha experiência claustrofóbica (António Matos, Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790)


1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem:

Camaradas,

Aqui fica uma pequena contribuição para o blogue:

Uma experiência claustrofóbica

Um “post” da autoria do Vasco da Gama onde descreve com primoroso realismo a tragédia dos 3 cadetes que morrem na lagoa de Mafra foi, em última análise, o leit motiv para me despertar para um outro acontecimento passado comigo que ainda hoje me provoca pesadelos ao recordá-lo.
A manhã corria sorrateira, ao ritmo da instrução militar na aldeia dos macacos...
Os meus antecedentes de ginasta na altura, permitiam-me desfrutar do prazer daqueles exercícios que executava com grande à vontade se bem que haviam dois que chocavam violentamente com a minha estrutura psicológica e que se relacionavam com as alturas (galho, slide e muro) e com a claustrofobia (túnel).
Aquilo era superior às minhas forças e sempre me neguei peremptoriamente a esboçar qualquer tentativa para os abordar.
Com um esforço absolutamente irreal, consegui um dia aventurar-me, perante a insistência do alferes, a caminhar sobre o tal muro.
Estrategicamente coloquei-me com apenas mais um camarada atrás de mim a fazer aquela travessia...
Para quem não conhecer o referido muro posso adiantar que a parte superior era arredondada (o que não permitia assentar direito os pés) e ia adquirindo altura em relação ao chão até chegar a uns bons 3, 4 metros.
Não foram precisos muitos passos para estacar e petrificar com a incapacidade absoluta de dar mais um passo que fosse.
Aliás, a visão do precipício era demolidora e a sensação do desequilíbrio e a queda iminente apavoravam-me.
Ao contar isto hoje provo que sobrevivi mas o trauma manteve-se para o resto da vida ainda que lute acerrimamente para vencer situações do género.
Não foi esta, porém, a estória que aqui quis vir contar.
Nesse mesmo dia, esperava-me pôr à prova uma nova experiência - o túnel.
Quem o fez recordará que dentro dele, só deitados cabíamos e o equipamento (bornal, arma e restante cangalhada) impossibilitava qualquer tentativa de fazer algo diferente de rastejar.
Eu sabia por relatos anteriores que aquele túnel tinha a configuração de um "Y" e que uma das pontas não tinha saída.
10 metros percorridos e a escuridão era total.
A minha 1ª reacção foi negar-me a entrar naquele verdadeiro sarcófago mas condescendi a fazer a experiência na certeza que mal os pés entrassem, eu sairia em alta velocidade e em pré estado de histeria claustrofóbica.
Deixei que todo o pelotão entrasse e eu fui o último.
Psicologicamente fiquei bem pois nada me barraria a saída em caso de necessidade.
Porém, 3 metros percorridos e eis que chega mais um cadete atrasado que tapa a minha hipótese de fuga.
Num esforço titânico, tentei acalmar-me e progredi mais uns 2 ou 3 metros.
Já sem ver nem a entrada nem a saída, toda a gente parou e chega uma mensagem do topo da fila a ser passada de boca em boca que dizia: esta merda não tem saída!, é preciso recuar!
(devo confessar que enquanto escrevo estas linhas o meu ritmo cardíaco já acelerou!!!)
Nessa altura pensei que morreria atacado de alguma apoplexia por via do pavor que se me instalou.
De imediato idealizei o que seria se eu fosse o tipo da frente e esbarrasse numa parede com 30 gajos atrás de mim e ater que esperar que todos eles reagissem no recuo...
Mas tinha que reagir e a maneira mais expedita que arranjei foi gritar para o tipo que estava atrás de mim: "meu caralho, ou sais imediatamente ou dou-te um tiro!"
Acto contínuo, não percebo como, a fila começou a andar novamente e uns segundos depois comecei a ver a luz ao fundo do túnel donde saí que nem uma toupeira espavorida, calculo que lívido, mas vivo!
Foto: © Abílio Rodrigues (2009). Direitos reservados

Talvez tenha sido um bom tirocínio para a posterior vida de "mineiro" que desenvolvi na minha comissão e onde foram treinados até à exaustão… os nervos .
Sei lá...

Abraços,
António Matos
Alf Mil Minas Arm da CCAÇ 2790
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Nota de M.R.:Vd. último poste desta série em:
10 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6139: Estórias avulsas (83): Emboscada em Lamel (Fernando C. G. Araújo, ex-Fur Mil OpEsp / RANGER da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4512)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5447: Controvérsias (59): Deixem que cada um tenha a liberdade de criar a sua versão... (António Matos)

1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem:

Deixem que cada um tenha a liberdade de criar a sua versão sem que isso seja motivo de confrontação!

Jorge Luís Borges dizia: “Chega-se a ser grande por aquilo que se lê e não por aquilo que se escreve", porém, e parafraseando alguém que escreveu no blogue, corroboro a confrangedora nulidade de muitos comentários nele publicados que não ajudam em nada a esta tão humilde posição pessoal de esforço de engrandecimento lendo as opiniões proferidas.

São, na sua maioria, eivadas de protagonismos exacerbados que nos toldam a visão e nos põem de pé atrás à cata dos proveitos que possam estar escondidos em tão díspares apreciações publicadas à saciedade.

Ciclicamente, a questão "Guileje" renasce das cinzas com os sobreviventes de tudo quanto aquilo possa ter sido, a reclamarem de sua justiça.

Esgotados os argumentos de que Coutinho e Lima foi um covarde ou um herói, retoma-se a lenga-lenga que, a meu ver, massacra psicologicamente quem lá esteve e enfada quem já leu dezenas de vezes a mesma coisa.

Conclusões, obviamente, nenhuma, o que me parece lógico na medida em que cada um viveu a situação dum ponto de vista, quer emocional quer geográfico diferente e isso dá diferentes percepções.

Calculo que todos e cada um dos intervenientes neste blogue terão já feito na sua cabeça o filme dos acontecimentos.
À sua medida, claro.

Com a sua verdade, com certeza.

Estarão certos? Estarão errados?

Já se percebeu que permanecerão as duas teorias, e daí?

Deixem que cada um tenha a liberdade de criar a sua versão sem que isso seja motivo de confrontação!

Ou alguém consegue ser eloquente suficiente que "venda" um discurso que se "compre"? Se sim, já o deveria ter feito!

Entretanto já existe uma segunda polémica: a FAP e a sua acção / inacção em (onde havia de ser?) Guileje!

Parece terem-se tornado hábito (pouco saudável, diga-se) as conversas de escárnio e mal dizer mas estas, (algumas) já são desabridamente insultuosas o que, de acordo com os credos do blogue já deviam ter sido pura e simplesmente eliminadas!

Liminarmente!

Vou continuar a ler querendo crer que Borges tinha razão.

António Matos
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em: