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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15302: (Ex)citações (297): Quem disse que "100 pesos era manga de patacão" no nosso tempo? Em 1960, mil escudos (da metrópole) valiam hoje 428 euros; e em 1974, 161 euros, ou seja, uma desvalorização de c. 266 %... Recorde-se por outro lado que 100 pesos só valiam 90 escudos...


Guiné > Nota de 50 escudos (pesos), frente e verso. Banco emissor: BNU - Banco Nacional Ultramarino. No câmbio e no comércio, em relação ao escudo da metrópole, emitido pelo Banco de Portugal, havia uma quebra de 10%... Ou seja: 100 pesos (escudos do BNU) só valiam 90 escudos (do Banco de Portugal)... Recorde-se que o BNU foi criado em 1864 como Banco Emissor para as ex-colónias portuguesas (, tendo também exercido funções de banco de fomento e comercial no país e no estrangeiro; vd,. aqui a sua história).

Foto: © Sousa de Castro (2005). Todos os direitos reservados.



1. E se fosse hoje, em euros ? Quanto ganhávamos ? Quanto gastávamos ?  (*) Fui encontrar um conversor de escudos para euros, que nos permite fazer conversões desde o ano de 1960... Está disponível na página Pordata - Base Dados Portugal Contemporâneo:

"A funcionalidade permite converter um determinado montante (em euros ou em escudos) de um ano em preços de 2014, utilizando o deflator do Índice de Preços no Consumidor (IPC) 'base 2012'. Trata-se de transformar os valores a preços correntes (ou nominais, com inflação) de um determinado ano em valores a preços constantes (reais, sem inflação) de 2014."

Em matéria de comes & bebes, por exemplo, podemos ver quanto custaria hoje, em euros, os alguns dos artigos que consumíamos na Guiné por volta de 1969/70 (**):

(i) um quilo de camarões tigres ou lagostins, do rio Geba Estreito, comidos na tasca do  Zé Maria, em Bambadinca  custava 50 pesos ou escudos da Guiné, o quilo, cozidinhos)= 14,79 € (em 1969);

(ii) uma arrafa de whisky novo (J. Walker Juanito Camiñante de 5 anos, rótulo vermelho, JB): 48,50 pesos = 14,35 € (em 1969);

(iii) uísques mais caros: 12 anos, J. Walker rótulo preto, Dimple, Antiquary: 98,50 [=29,14 €]:  15 anos, Monkhs, Old Parr: 103,50 [=30,52 €] (estou a confiar na memória do Humberto Reis, acho que eram mais caros, os uísques velhos] (, em 1969);

(iv) um bife com batatas fritas e ovo a cavalo na Transmontana, em Bafatá, custava 25 pesos, vinho ou cerveja aparte = 7,40 € (em 1969);

(v) uma vaca raquítica, em Sonaco, comprava-se (quando fui gerente de messe, em 1970) 950 pesos = 269,36 €;

(vi) nas tabancas, fulas, por onde passávamos e onde ficávamos uma semana ou mais, de cada vez, em reforço do sistema de autodefesa, era costume comprar, mesmo a custo, galinhas e frangos, a sete pesos e meio por bico [= 2,22 €]:

(vii) um parto de ostras em Bissau, numa esplanada á beira rio,  em meados de 1970, custava 20 pesos [= 5,67 €];

(viii) um relógio da prestigiada marca suiça Longines, na loja libanesa Taufik Saad, Lda, em Bissau, custou ao Valdenar Queiroz, em 16/12/1970, 2950 pesos [=836,45 €].

(ix) coisas miúdas do dia a dia: um maço de SG Filtro 2,5 pesos [=0,74 €];  um uísque, no bar da messe, eram 2,50 pesos sem água de sifão [= 0,74 €]  e com água eram 3,00 pesos [= 0,89]; era mais barato que a cervejola...

(x) quanto à lerpa, ou ramim, uma noite boa, ou má, poderia dar (valor médio) 200 a 300 pesos para a lerpa e 50 a 100 para o ramim (, garantia um jogador como o Humberto Reis);

(xi) uma queca, dependia: 50, 100, 150 pesos... "Quando em Bissau, no Pilão, frequentei várias vezes a Fátima, que não era caboverdiana mas sim fula, e dava-lhe 50 pesos de cada vez" (, confessa o nosso camarada A.Marques Lopes, que é de 1967/68)...

2. O Sousa de Castro, por seu turno, diz-nos que "no meu tempo (1972/74) não era muito diferente: os preços que se praticavam eram mais ou menos os mesmos"... 

Quanto ao que o exército nos pagava... "Puxando um pouco pela memória, eu como 1º cabo radiotelegrafista ganhava 1.500$00, sendo 1.200$00 por ser 1º cabo e mais 300$00, de prémio de especialidade." [, tudo somado, 1500§00 em 1973  =305,10 €].

Segundo a mesma fonte, o Sousa de Castro, "a dita queca, se a memória não me trai, creio que era assim: para os soldados cinquenta pesos; para os cabos sessenta pesos; a partir daqui não me lembro quanto pagavam os mais graduados... Quanto às cabo-verdianas, a coisa era de facto mais cara, em final de comissão paguei cento e cinquenta ou duzentos pesos, isto em Fevereiro de 1974" [mais ou menos 24 ou 32 euros]...

"Por lavar a roupa, como cabo pagava 60 pesos [, em 1973]", informa o Sousa de Castro.[=12,20 ]

Em 1969, recordo-me que os soldados da CCAÇ 12 (que eram praças de 2ª classe, oriundos do recrutamento local), recebiam de pré 600 pesos/mês [=177, 51 €], além de mais uma diária de 24$50  [=7,25€] por  serem desarranchados. 600 pesos deviam dar para comprar duas sacas de arroz de 100 kg cada...

3. E um capitão miliciano, comandante de companhia, quanto é que recebia ao fim do mês? (Sabemos que um parte dos nossos vencimentos era depositado na metrópole)...

Temos as memórias (e os papéis) do Jorge Picado:

 (...) "Apontamento que resistiu ao tempo, referente ao mês de junho [de 1970]: Total abonos:13900$00; total descontos; 8967$00; a receber 4932$00. Nos abonos estão incluidos 4000$00, relativos aos abonos de família (já tinha os 4 filhos), de março, abril, maio e junho. [de 1970]". (...)

(...) "Vencimentos a receber em agosto em virtude do aumento: março-julho [1970]: 10500$00;
 Fev 1326$00; total 11826$00; descontos Cx Geral Aposentações; 710$00; Imposto de selo -12$00; a receber (líquido): 11104$00 [=3148,45€]...

4. E a viagem de férias à metrópole, na nossa querida TAP ?  

O António Tavares pagou, em meados de 1971,  à Agência Correia, em Bissau, um total de 6 430$80 [ = 1643,21 €]  pela viagem "Bissau- Lisboa.- Porto -Lisboa -Bissau "... Diz que pagou em três prestações "a importância total, que não ganhava, como explico: 4.430$80 em 03-08-71; 500$00 em 22-09-71 e finalmente 1.500$00 em 21-10-1971"... Na cópia do bilhete (que ele juntou, no poste  P15216] consta uma taxa de 110$80.... O pagamento foi em pesos. "O Escudo era trocado com uma agiotagem de 10%."...

É difícil fazer comparações com os preços dos bens e serviços que se pagavam nessa época, na metrópole, para não falar dos salários médios nos diferentes ramos de atividade...  No blogue A Nossa Quinta de Candoz tenho um pequeno apontamento sobre a estrutura e a evolução dos salários, num ramo muito específicio, a "construção civil de ramadas", nas décadas de 1950 e 1960, no Douro Litoral...

Numa pequena empresa que podia empregar em média meia dúzia de homens, pagos ao dia, o patrão, o "ramadeiro", podia ganhar no máximo 50 escudos (=21,41 €), o oficial mais qualificado 30 escudos (=12,84 €) e os serventes 20 escudos (=8,56 €). Fizemos esta conversão para os valores nominais de 1960.. Uma década depois (em 1970), com a inflação, estes valores (a preços constantes de 2014) seriam 14,18 €, 8,51 € e 5,67 €, respetivamente...

Vinte escudos (!) era quanto um assalariado agrícola, jornaleiro, não qualificado, podia ganhar no norte do país, durante os anos 50/60... Claro que os salários na agricultura vão começar a subir com a rarefação da mão de obra rural, devido ao êxodo do interior (industrialização e urbanização, emigração, guerra colonial)...

Enfim, e para acabar por hoje, lembro-me que em 1972, cá na metrópole, um carrinho Fiat 127 custava 62 contos [= 14.256,05  €], o que era muita massa...(1972 foi antes da grande crise de 1973, em que os salários levaram uma machadada de 25%!)...

 Mais massa ainda eram 200 contos, que dava para comprar um apartamento no final da década de 1960 (, arredondando, cerca e 60 mil euros, hoje): alguém me contou que foi quanto pagou uma avozinha,  a um oficial general médico,  para livrar o querido netinho da obrigação de ir defender a Pátria, "lá longe onde o sol castiga(va) mais"... Éramos todos iguais, todos os portugueses (menos as portuguesas...), mas havia uns mais iguais do que outros!... (Sempre foi assim, e sempre será assim, dizem os mais cínicos ou os mais realistas...).

Mas podemos fazer um apelo à memória dos nossos leitores; quanto custava, na época da guerra colonial, cá na metrópole, uma bica ("cimbalino" no Porto), o jornal "A  Bola", um maço de cigarros SG, um bilhete de cinema, uma imperial ou um fino, um uísque marado numa "boite" da  Reboleira,   o aluguer de um quarto em Lisboa ou Coimbra, um quilo de bacalhau e por aí fora  ?... E quanto é que a malta ganhava, em média, nas fábricas e nos escritórios, antes de ir conhecer os "resorts" turísticos, as rias, os rios, as matas e as bolanhas da Guiné ?...  LG














Fonte: Cortesia de Pordata - Base Dados Portugal Contemporâneo... O conversor é interativo... Brinquem um bocadinho com ele,,, e façam as vossas comparações entre o hoje e o antigamente... 

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Notas do editor:



12 de setembro de  2011 > Guiné 63/74 - P8767: O que se comprava em Bissau com o patacão da guerra? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" (3) (Augusto Silva Santos / Hélder Sousa / Juvenal Amado / Luís Borrega / Luís Dias / Rui Santos)

15 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8780: O que se comprava em Bissau com o patacão da guerra ? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa ou eram "proibitivos" (4) (Joaquim Peixoto / Beja Santos)

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15216: O nosso querido mês de férias (18): Viagem Bissau-Lisboa-Porto-Lisboa-Bissau paga a prestações porque o patacão não transbordava das algibeiras (António Tavares)

1. Ainda a propósito das nossa férias, recebemos esta mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 4 de Outubro de 2015:

Camarigos,

Ao ler o P15178, do tema “O nosso querido mês de férias”, recordo:

- Em 03Agosto1971 paguei, na Agência Correia, Bissau, CTIGuiné, o total de 6 430$80 pela viagem: BISSAU - LISBOA - PORTO - LISBOA - BISSAU.
- Voei na TAP e tive direito a um Saco de Pernoita, que ainda possuo.
- Viajei na modalidade: VIAJE AGORA PAGUE DEPOIS.
- Em três prestações paguei a importância total, que não ganhava, como explico: 4.430$80 em 03-08-71; 500$00 em 22-09-71 e finalmente 1.500$00 em 21-10-1971.

Se repararem na cópia do bilhete consta uma taxa de 110$80. O ZÉ pagante teve sempre Taxas e Selos à perna. O pagamento foi em Pesos.
- O Escudo era trocado com uma agiotagem de 10%.
- A viagem foi no dia 04 de Agosto de 1971 e regressei no dia 07 de Setembro de 1971.


Os camaradas mais atentos verificarão que acabei de pagar a totalidade das prestações depois da minha chegada de regresso ao CTIGuiné. Porque o “patacão” não transbordava das algibeiras tinha de aproveitar todas as facilidades de pagamento autorizadas.

Com um abraço,
António Tavares
Foz do Douro,
Domingo 04 de Outubro de 2015
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 Nota do editor

 Último poste da série de 7 de Outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15211: O nosso querido mês de férias (17): Vim a casa uma vez, em agosto de 1965, na TAP, num Super Constellation, como simples passageiro... e estava longe de imaginar que cinco anos depois estaria aos comandos de um Caravelle, como piloto da mesma, saudosa, companhia... (João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)

terça-feira, 12 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14604: Convívios (680): XXII Encontro do pessoal da CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72), dia 6 de Junho de 2015, em Mira de Aire (António Tavares)

1. O nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), em mensagem do dia 7 de Maio, pede-nos a divulgação do próximo Convívio da sua Unidade, a levar a efeito no próximo dia 6 de Junho de 2015, em Mira de Aire.



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Nota do editor

Último poste da série de 11 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14599: Convívios (679): XVIII Encontro do pessoal do Hospital Militar 241 de Bissau, dia 7 de Junho de 2015, em Leiria

domingo, 7 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13985: A propósito de paludismo... Foram estes alguns dos comprimidos tomados por milhares de jovens combatentes nos idos anos da Guerra Colonial (António Tavares)

1. Ainda a propósito do tema paludismo, recebemos esta mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 20 de Novembro de 2014:

Camarigos,
É costume dizer-se que “esta imagem fala por si ou que vale por mil”.
Estas têm um valor simbólico. Foram estes alguns dos comprimidos tomados por milhares de jovens nos idos anos da Guerra Colonial, no CTIGuiné de 1963 a 1974.

No meu caso em 1970/72. Na disponibilidade, o “Quinino” durante uns tempos acompanhou-me na matança do paludismo.

Das minhas lembranças começo com a imagem do CERTIFICADO INTERNACIONAL DE VACINAÇÃO OU DE REVACINAÇÃO CONTRA A FEBRE- AMARELA: 


Uma caderneta que todo o militar teve no dia da vacinação. É de notar que a vacina era dada quase no fim da recruta talvez por hipotéticas reacções negativas do organismo dos militares. Recruta dispendiosa para a Fazenda Pública e a necessidade, maior ou menor, consoante a época do ano, do “despacho” dos Homens para a guerra. Assim, uma recruta não podia ser perdida nem repetida. Seria tempo perdido para os militares. Os governantes da época pensavam nos “Prós e Contras”.

Aos meus camaradas (tratamento entre militares) do 2.º Turno/69 do Curso de Sargentos Milicianos, de Abril a Julho, no CISMI, em Tavira, recordo que a nossa “dose cavalar” foi tomada em 23 de Junho de 1969.
As dores que suportamos com a injecção, tomada na parada do quartel em fila indiana a aguardar cada um a sua vez, valeram a pena sobretudo aos Combatentes do Ultramar.

Os comprimidos:

LM de cor branca, sem invólucro, com 10 mm de diâmetro:

Havia comprimidos LM com outros diâmetros.
O célebre comprimido receitado para todas as doenças.


"Daraprim" - Trade Mark - "B.W. & CO."

O Daraprim (nome comercial da pirimetamina) é usado no combate de infecções por protozoários. É comumente usado no tratamento e prevenção da malária.


LM – Pirimetamina 25 mg

A pirimetamina está descrita em posts da Tabanca Grande.


Fanasil 0,5 g – Roche

Sulfonamida usada no tratamento de infecções da pele e na Lepra.
As sulfonamidas são um grupo de antibióticos sintéticos usados no tratamento de doenças infecciosas devidas a micro-organismos.

Seria interessante que algum camarada versado no tema completasse ou corrigisse estas linhas baseadas na memória e pesquisas que fiz num Prontuário Médico.

(Texto escrito de acordo com a antiga ortografia)

Abraço António Tavares
Foz do Douro, 20 de Novembro de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13807: A propósito de paludismo... Ou melhor, do sezonismo, que era o termo que tradicionalmente se usava entre nós, na metrópole, até finais dos anos 60 (Parte II) (Luís Graça)... Relembrando aqui o papel do Instituto de Malariologia e do prof Francisco Cambournac (1903-1994), um português do mundo, que foi diretor da OMS - África, entre 1954 e 1964

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13807: A propósito de paludismo... Ou melhor, do sezonismo, que era o termo que tradicionalmente se usava entre nós, na metrópole, até finais dos anos 60 (Parte II) (Luís Graça)... Relembrando aqui o papel do Instituto de Malariologia e do prof Francisco Cambournac (1903-1994), um português do mundo, que foi diretor da OMS - África, entre 1954 e 1964










Reprodução de um precioso folheto da DGS - Direção Geral de Saúide, do ínício dos anos 70, guardado pelo nosso camarada António Tavares [ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912,Galomaro, 1970/72]... 


Repare-se no averbamento, na capa, do nº do processo individual (155/4/72) do António Tavares,  na subdelegação de saúde de Gondomar, nos Serviços de Higiene Rural e Defesa Anti-Sezonática (sic), criados em 1938...

Em março de 1972, o Tavares regressou da Guiné e em abril terá tido uma crise aguda de paludismo, o que o levou a consultar aqueles serviços de saúde (*). Vou mandar uma cópia para o Museu da Saúde do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, que são meus vizinhos e amigos.

Um outro pormenor interessante é a correspondência em língua francesa, a vermelho, das expressões "Defesa anti-sezonática" ("Servives antipaludiques", serviços antipalúdicos) e "Assistência aos Imigrantes" ("Vigilance antiparasitaire",  vigilância antiparasitária). (LG).

Fotos ©: António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Regiões onde se produz arroz, em particular na  bacia hidrográfica do Sado e do Tejo, como o vale do Sado (Alcácer do Sal), no Alentejo, ou o Vale do Sorraio (Corucbe), já no Ribatejo,  sempre foram muito palúdicas, e como tal pouco propícias  à fixação de populações. Daí o recurso à mão de obra escrava, africana, que se adaptava melhor melhor às águas estagnadas, à dureza das condições  do trabalho nos campos de arroz, e que sobretudo resistia melhor às picadas da Anapholes e às temíveis sezões.

O que é feito destes africanos ? Misturaram-se na população, sendo o fenótipo africano ainda hoje visível nas populações sobretudo da Ribeira do Sado. Atente-se na letra  de uma canção, do cancioneiro popular de Alcácer do Sal, que é também uma homenagem, inesperada, às... bajudas da Guiné que por cá ficaram na leva dos escravos...

(...) Ribeira do Sado,
Ó Sado, Sadeta.
Meus olhos não viram
Tanta gente preta.

Quem quiser ver moças
Da cor do carvão
Vá dar um passeio
Até São Romão. (..:)


Serve este preâmbulo para se falar do paludismo (ou , melhor, sezonismo) (*), endémico em Portugal, até tarde (para lá de meados do séc. XX) e fazer aqui uma homenagem à saúde pública e a um homem que foi o primeiro diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (, morreu em 1994, mas não o cheguei a conhecer pessoalmente). E, além disso, diretor da OMS- África (1954-1964)... Quem já tinha ouvido falar dele ? É um português ilustre que merece ser aqui recordado, sobretudo pelo seu contributo para a erradicação da malária em Portugal e em África.

2. O Instituto de Malariologia e o papel pioneiro do prof Francisco Cambournac (Sintra, Rio de Mouro, 26/12/1903 - Lisboa, 8/6/1994)

Eis um bre ve resumo do seu currículo profissional:

(i) Médico epidemiologista e tropicalista, Francisco José Carrasqueiro Cambournac (1903-1994) destacou-se sobretudo no campo da malariologia, área em que deu um grande contributo à medicina portuguesa e á saúde pública; formou-se em medicina em 1929;

(ii) foi membro-fundador e diretor do Instituto de Malariologia de Águas de Moura (1939-1954), sito do concelho de Palmela;

(iii) esteve nas colónias portugueses nos anos 40 em várias missões médicas; foi também  director da OMS África  (Organização Mundial da Saúde para a região africana),  durante dez anos, entre 1954 e 1964;

(iv) recebeu, em 1978, o Prémio Léon Bernard (, prémio esse que foi criada, em 1937, pela antiga Sociedade das Nações Unidas para premiar trabalhos no domínio da Saúde Pública); em reconhecimento pela sua vida e obra dedicada à medicina tropical, com mais de 170 ensaios sobre epidemiologia, parasitologia, entomologia, saúde pública, nutrição, saúde educacional, malária, doença do sono, febre amarela, entre outras áreas;

(v) começou, em 1931,  a sua carreira no campo da medicina tropical, em geral, e da mariologia, em particular,  médico auxiliar da Estação Experimental de Combate ao Sezonismo de Benavente; posteriormente daria seguimento aos seus trabalhos na Estação Anti-sezonática de Alcácer do Sal;

(vi) Em 1933, como director do laboratório instalado na Estação de Benavente, Cambournac participou no Inquérito para determinação das zonas de endemia sezonática, suas características e estabelecimento de um plano de combate que a Direcção-Geral da Saúde (DGS)  em colaboração com a Fundação Rockefeller realizou em todo o continente português;

(vii)  e convidado a  ingressar na Fundação como dirtor de campo de uma unidade de investigação sobre sezonismo que se previa criar em Portugal, tendo a partir de Março de 1934 iniciado os seus estudos na «Estação para o Estudo do Sezonismo», acabada de fundar pela Fundação Rockeller   em Águas de Moura;

(viii) em 1937, é responsável pela fiscalização sanitária das obras a cargo da Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola; a  sua actividade fica ligada sobretudo à defesa e profilaxia anti-malárica;

(ix) integra, ainda em 1937,  a comissão responsável pela elaboração das bases para a nova Lei sobre a cultura do arroz, onde colaborou no estudo de todas as regiões orizícolas de Portugal numa perspectiva higiénico-sanitário e agrícola;

(x) presentou as bases para a organização dos Serviços Anti-Sezonáticos (posteriormente criados sob a direcção de Fausto Landeiro) e pronuncia-se sobre o diploma que regulava a cultura do arroz sob o aspecto higiénico-sanitário;

(xi) em 1938 representa Portugal no III Congresso de Medicina Tropical e Malária, que teve lugar em Amesterdão;

(xii) ainda em 1938,  a Fundação Rockefeller (, a conhecida ONG norte-americana, criada em 193 pelo magnata do petróleo John Rockefeller),  em colaboração com a DGS,  constroi em Águas de Moura o Instituto de Malariologia, para substituição da Estação para o Estudo do Sezonismo; a nova institituição dedicada à investigação e ao ensino da malariologia, é dirigida por Roll Hill, tendo Cambournac como  diretor adjunto;

(xiii) em dezembro de 1939, é nomeado diretor do Instituto de Malariologia, pela Fundação e por despacho do Ministro do Interior (que tutelava a área da saúde), alcançando assim um lugar de prestígio no âmbito da investigação e do ensino da malariologia.

(xiv) é no novo Instituto que se realizam numerosos estudos sobre a distribuição dos Anopheles (, os mosquitos vectores da malária, ) e da endemia sezonática em todo o país, bem como estudos sobre a epidemiologia da malária, os quais contribuíram para a erradicação da malária em Portugal;

(xv) é sobretudo a a partir do trabalho de Francisco Cambournac publicado em 1942, sobre a epidemiologia no sezonismo em Portugal, que se desenhou o plano da campanha anti-malárica que levou à erradicação da doença;

(xvi) o seu  nome está  igualmente ligado à erradicação do paludismo em Cabo Verde; (também, ia comn frequência à Guiné-Bissau, segundo o testemunho de Francisco George que com ele privou);

(xvii) ainda no campo das doenças infecciosas, Cambournac efectuou estudos sobre a epidemiologia da febre amarela, da oncocercose, da cólera, e de uma maneira geral das grandes endemias tropicais (de que é exemplo a criação e direção da Missão de Prospecção de Endemias em Angola, posteriormente transformada em Instituto de Investigação Médica);

(xviii) é nomeado, por convite, como primeiro consultor da OMS para o continente africano, tendo sido responsável pela primeira conferência que a OMS realizou em África, em 1950;

(xix) nessa qualidade, prepara o primeiro relatório da OMS sobre o paludismo no continente africano (" Le Paludisme en Afrique Equatoriale") [, versão em inglês, disponível aqui];

(xx) em 1946, representa Portugal na Conferência Internacional de Saúde realizada em Nova Iorque pela Organização das Nações Unidas (ONU);

(xxi) é o o primeiro português a participar numa reunião da ONU e tem um papel ativo na criação da OMS (1948);

(xxii) a partir de 1954, e durante 10 anos, exerceu o cargo de diretor regional da OMS para África;

(xxiii) em 1942, iniciou funções no Instituto de Medicina Tropical, como professor auxiliar da cadeira Higiene, Climatologia e Geografia Médica; passa a ser professor titular da cadeira em 1944;

(xxiv) em 1964, é nomeado director do Instituto de Medicina Tropical;

(xxv) presidiu à comissão responsável pela organização da Escola Nacional de Saúde Pública e de Medicina Tropical, que dirigiu entre 1967 e 1972.


Fonte: Adapt com a devida vénia de INSA > Quem somos > Francisco Cambournac


Francisco Cambournac (1903-1994)
3. Ver aqui o testemunho do Francisco George (n. 1947, atual diretor.geral de saúde,  ele próprio funcionário da OMS, entre 1980 e 1991, tendo estado na Guiné em 1986 em representação da OMS), sobre este médico português que conseguiu ser, por mérito próprio,  diretor da OMS - África, numa época (1954-1964) de grande hostilidade para com Portugal e a sua "política ultramarina":

(...) Infelizmente, Francisco Cambournac não era muito conhecido em Portugal. Fenómeno quase incompreensível quando comparado com a notoriedade que outros colegas seus adquiriram na mesma época. Um dia, a título de justificação, sua Filha, Graça Cambournac, explicou-me que Salazar não gostava dele porque os princípios que guiaram a sua acção como Director em África eram distantes da política colonial do regime. Aliás, a segunda vez que Cambournac foi eleito para director regional da OMS (sublinho eleito pelos países africanos) recebeu os votos dos novos Estados que recentemente tinham conquistado a independência. (..,)

(...) "Uma outra altura, ao jantar, também em Bissau, Cambournac contou-me que a seguir à II Grande Guerra, logo depois da Organização Mundial da Saúde ter sido criada em 1948, foi incumbido de preparar um relatório para propor uma capital Africana para acolher a instalação da sede regional da OMS. Descrevia com detalhe e com visível orgulho esta sua missão. No final das visitas efectuadas, apontou Brazzaville, no antigo Congo Francês, porque concluiu que era a cidade com padrão de vida mais humanista onde não existiam sinais chocantes de apartheid, ao contrário, por exemplo, de outras grandes cidades anglófonas como Nairobi. O seu relatório foi decisivo na opção de Brazzaville. A Sede foi, então, instalada no alto de uma colina nos arredores da cidade, no Haut de Joué. As antigas casas que tinham sido projectadas para residência dos engenheiros da barragem que ali os franceses construíram, foram adequadamente adaptadas e aproveitadas. Ainda bem que assim aconteceu, não só pelas boas infra-estruturas, mas, sobretudo, pela vista panorâmica deslumbrante sobre os rápidos do imenso rio Congo".(...)

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Nota do editor:

(*) Vd. I Parte do psote > 27 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 . P13804: A propósito de paludismo... Ou melhor, do sezonismo, que era o termo que tradicionalmente se usava entre nós, na metrópole, até finais dos anos 60 (Parte I) (Luís Graça)

Vd. também Mónica Saavedra, « Malária, mosquitos e ruralidade no Portugal do século XX », Etnográfica [Online], vol. 17 (1) | 2013, posto online no dia 13 Março 2013, consultado no dia 27 Outubro 2014. URL : http://etnografica.revues.org/2545 ; DOI : 10.4000/etnografica.2545

(...) Este artigo centra-se nas memórias de antigos trabalhadores rurais sobre “ter malária”. Parte-se das descrições da experiência física da doença e sua relação com as práticas quotidianas, particularmente as relacionadas com o trabalho, para uma análise sobre multiplicidade e complexidade das definições da malária. Pretende-se realçar a dimensão sociopolítica desta doença, subjacente às memórias recolhidas, bem como o caráter circunstancial, adaptável e pragmático das práticas envolvidas.(...)

(...) Este artigo é parte de uma tese de doutoramento (Saavedra 2010).

(...) O termo “sezões” era, até ao desaparecimento da malária em Portugal, na segunda metade do século XX, a designação popular para esta doença.

(...) A designação “antissezonáticos”, oficialmente atribuída aos serviços dedicados ao tratamento e controlo da malária, resultou da palavra “sezonismo”, adotada por Ricardo Jorge, cerca de 1903, como a melhor para nomear a malária (IGSS 1903) (...)

domingo, 26 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13803: A propósito de paludismo... Quando dispensava de saídas difíceis e quando até atacava na metrópole (Abel Santos / António Tavares)


1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 24 de Outubro de 2014:

Amigo e camarada Carlos,
Envio-te esta pequena resenha sobre o paludismo que atacou alguns camaradas nossos no teatro operacional da Guiné, no qual também fui um dos afectados (apesar de ser consumidor da Pirimetamina), mas que até foi meu aliado nessa altura.

No longínquo ano de 1967 mês de Dezembro, estando a CART 1742, da qual eu fazia parte, posicionada em Nova Lamego no chamado quartel de baixo, no dia 14 do mês de natal de 1967 sou confrontado com uma mudança brusca de temperatura após o almoço dando baixa à enfermaria, local onde o Furriel Enfermeiro Lopes (técnico de farmácia na vida civil na cidade do Porto) me aplicou de imediato a (mezinha) injecção da ordem. Ao fim de três dias tudo tinha passado e fui dado como operacional.

Mas, como disse atrás, o paludismo foi meu aliado, já que no dia 17 o comandante da Companhia, Capitão Cohen, manda formar a tropa e escolhe metade do grupo de combate a dedo, onde o primeiro a ser escolhido fui eu, para irmos a Sinchã Jobel, na mata do Oio, conjuntamente com a CART 1690 e o Pel Mil 110, executar uma batida na região, com o fim de desalojar o IN que possuía base nesse local. Como ia dizendo, o paludismo interferiu a meu favor, manifestando a minha incapacidade através da voz do Furriel Enfermeiro Lopes.
- O Abel está com o paludismo, meu capitão
- Então que vá para a caserna. - E eu fui, pudera.

O segundo caso de paludismo aconteceu após a minha chegada a casa na primeira semana, mas tudo foi resolvido rapidamente, já que eu era portador de um contacto telefónico dos serviços de doenças tropicais e infecto-contagiosas, que na altura (1969) estava instalado em Ermesinde (Porto), que acorreram imediatamente após o telefonema, e assim ao fim de uma semana estava novamente operacional.

Espero com este relato ter contribuído para a temática sobre o paludismo.

Sem mais, um grande abraço a toda tertúlia.
Abel Santos.

Nova Lamego, Natal de 1967. Na foto, em primeiro plano: Abel Santos, Oliveira e Aníbal. De pé, atrás: O Fur Mil Enf Lopes distribuindo os célebres comprimidos preventivos do paludismo.

Foto ©: Abel Santos

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2. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 25 de Outubro de 2014:

Camarigos,
Já escrevi que estive mal com o paludismo quer no CTIGuiné quer no Porto, em Agosto de 1971.
Sim, até na minha terra fui vítima do paludismo.
Terminei a comissão em 23 de Março de 1972. Em Abril de 1972 fui a uma consulta médica de especialidade na Direcção Geral de Saúde. Cumpri sempre a prescrição médica e respectivos exames auxiliares. Procedimento que me conduziu à erradicação da doença.
O meu Processo nos Serviços de Higiene Rural e Defesa Anti-Sezonática, situada em Gondomar, tinha o número 155/4/72.
Porquê em Gondomar? Talvez por ser à época uma zona rural.



Depois de ter lido no blogue bons textos sobre o tema e também com a finalidade de não me repetir é a imagem acima e o seu conteúdo que merece atenção.
(Texto escrito de acordo com a antiga ortografia)

Um abraço do
António Tavares
Foz do Douro,
Sábado 25 de Outubro de 2014
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 Nota do editor

Último poste sobre a temática do paludismo >  25 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13799: A propósito de paludismo... e da arte de bem guerrear (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13775: Inquérito online: Resultados preliminares (n=133): um em cada dois teve o paludismo... Mas só um um terço tomava sempre ou quase sempre a Pirimetamina, comprimido oral, de 25 mg, do Laboratório Militar (LM), como profilaxia... 40% tomava o medicamento e mesmo assim teve o paludismo

Foto; Cortesia de António Tavares (2014)
A.  Resultados preliminares da nossa "sondagem", em linha (n=133),  quando faltam dois dias para encerrar a votação (*):

SONDAGEM:  NO TO DA GUINÉ TIVE O PALUDISMO E TOMAVA O MEDICAMENTO... (Resposta múltipla. Vd. blogue, no canto superior esquerdo)


1. Não me lembro se tive paludismo  > 3 (2%)


2. Não me lembro do medicamento para o paludismo  > 7 (5%) (**)


3. Sim, tive paludismo  > 64 (48%)


4. Não, nunca tive paludismo  > 26 (19%)


5. Não,  nunca tomava o medicamento    > 2 (1%)


6. Sim, tomava sempre (ou quase sempre)  > 45 (33%)


7. Sim, tomava, mas só às vezes  > 26 (19%)


8. Tomava o medicamento e tive o paludismo  > 53 (39%)


9. Tomava o medicamento e nunca tive o paludismo  > 19 (14%)


10. Nunca tomei o medicamento nem nunca tive paludismo  > 9 (6%)


Votos apurados: 133 (até às 6h00 de hoje). Dias que restam para votar: 2




Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande  > 20 de Junho de 2009 >

Nada nos faltou, neste dia, nem o calor da Guiné (em sentido físico e figurado) nem o cheiro (inesquecível) do repelente anti-mosquito, da marca Lion Brand... Não sei quem trouxe a amostra, mas vi várias nas mãos do António Graça de Abreu e do José Casimiro Carvalho... Neste pequeno vídeo ouve-se várias vozes (Luís Graça, Joaquim Mexia Alves e sobretudo Álvaro Basto que conta aqui uma pequena história com um Lion Brand que pegou fogo aos lençóis da cama...).

Vídeo (1' 02''): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados

Mosquito Anopheles gambiae.
Foto: cortesia da Wikipedia

Como prevenção e proteção contra o temível Plasmodium Falciparum (o mais perigoso dos quatro parasitas da malária, e que era  e é endémico na Guiné-Bissau, transmitido pelo mosquito anopheles, foto à direita), usávamos várias medidas quer individuais quer coletivas, como o uso correto de vestuário (sobretudo à noite: roupas largas, calça  e camisa compridas, "à boa maneira colonial"), protetores e repelentes (ainda não havia ou não estavam vulgarizados os aerossois, pelo que usávamos pomadas LM, no mato, horrorosas, mal cheirosas...), rede mosquiteira na cama, portas e janelas fechadas ou protegidas com rede (não havia ar condicionado fora de Bissau!), fumigações, desinfeções, remoção e tratamento do lixo, etc., para além da quimioprofilaxia...

Como se sabe,  apenas as fémeas dos mosquitos se alimentam de sangue... E picam (picavam)  essencialmente durante a noite, e logo nas zonas do corpo mais frequentemente  expostas (face, orelhas, pescoço, braços e pés)... Alguns de nós, não sei porquê, atraíam mais mosquitos (fêmeas) do que outros... Havia  a crença que o álcool (gin tónico, uísque, etc.) era um "bom repelente"... Pobre fígado!... (LG)

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Notas do editor.

(*) Vd. poste anterior: 18 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13753: Sondagem: Quem não apanhou o paludismo, que ponha o dedo no ar ?!...

(**) Sobre a Pirimetamina (substância ativa), ver aqui a informação do INFARMED [, folheto aprovado em 13/1/2104]. Segundo alguns camaradas (e nomeadamente o dr Rui Vieira Coelho,  médico), o comprimido, do Laboratório Militar (LM), era tomado duas vezes por semana (às 5ªs e domingos, em Galomaro, em 1972/74), em doses de 25 mg, como quimioprofilaxia do paludismo. (***). Não sabemos durante quantas semanas, mas presume-se que era durante a toda comissão. O medicamento (preventivo) não era (nem é) 100% eficaz.

Sobre a doença, sintomas e tratamento, vd aqui o Manual Merck [Biblioteca médica "on line". Edição de saúde para a família]

(***) Vd,. poste de 16 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...


(...) Na Guiné pedia aos operacionais para não se esquecerem de tomar um anti-palúdico do Laboratório Militar, de nome Pirimetamina, ás quintas e domingo, para evitar as crises palúdicas, que por vezes tomavam características graves como o Paludismo Cerebral.

Por vezes sentia-me a pregar aos peixes como Santo António, pois o pessoal achava que se tomassem os comprimidos teriam alterações negativas no seu desempenho sexual. (...)

Nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate. (...) 

sábado, 18 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13753: Inquérito online: Quem não apanhou o paludismo, que ponha o dedo no ar?!...

Foto: António Tavares (20014)
1. Não me lembro se tive paludismo  > 0 (0%)


2. Não me lembro do medicamento para o paludismo  > 1 (2%)


3. Sim, tive paludismo  > 24 (48%)


4. Não, nunca tive paludismo  > 10 (20%)


5. Não, nunca tomava o medicamento  > 0 (0%)


6. Sim, tomava sempre (ou quase sempre)  > 17 (34%)


7. Sim, tomava, mas só às vezes  > 8 (16%)


8. Tomava o medicamento e tive o paludismo  > 20 (40%)


9. Tomava o medicamento e nunca tive o paludismo  > 12 (24%)


10. Nunca tomei o medicamento nem nunca tive paludismo  > 2 (4%)

Votos apurados: 49
Dias que restam para votar: 5


[Imagem, acima à direita: uma relíquia farmacêutica: o célebre medicamento contra o paludismo, Pirimetamina, 25 mg,, LM (iniciais de Laboratório Militar)... Havia duas tomas por semana, às quintas e domingo, segundo o nosso camarada médico, Rui Vieira Coelho... A imagem é do António Tavares, ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72]

Foto: © António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]



O parasita Plasmodium,  ao atravessar o citoplasma de  uma célula epitelial
da fêmea do mosquito, na forma com que penetra no corpo do ser humano
e de outros vertebrados. Foto e legenda: Wikipédia (com a devida vénia)
A. Camaradas: eis os primeiros resultados (n=49), às 14h de hoje, da sondagem que está a deccorrer no nosso blogue.

É importante que respondam, dentro dos próximos  5 dias, E podem dar duas ou mais respostas, desde que sejam coerentes. Por exemplo: 

3. Sim, tive o paludismo; 
6. Sim, tomava sempre (ou quase sempre) [o medicamento]
8. Tomava o medicamento e tive o paludismo.

A "pastilha" (comprimido oral) antipalúdica, o "Primetamina", 25 mg,  da marca LM,  tomava-se se ás refeições 2 vezes por semana (em geral, às 5ªas feiras e aos domingos). Era um profilático. Não havia (nem há ainda hoje) vacina contra o paludismo, a doença que mais mata no mundo. E ainda por cima, os mais pobres nos países mais pobres (como a Guiné-Bissau),

Queremos saber quem apanhou o paludismo e tomava (ou não) a célebre "pastilha" que até a Maria Tura dizia que tirava a tusa ao pessoal: a "Primetamina"...

Camarada: a sondagem começa com a afirmação (que não é falsa nem verdadeira): " NO TO DA GUINÉ TIVE O PALUDISMO E TOMAVA O MEDICAMENTO"... 

Podes (e deves)  dar mais do que uma resposta, sincera e coerente... Obrigado, em nome dos editores, pela tua participação. Podes mandar textos e fotos sobre este tópico... LG


PS - Segundo o nosso camarada médico,do Porto, Rui Vieira Coelho, "nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate" (...) (*)

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Nota do editor:

(*) Vd, poste de 16 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13745: Os nossos médicos (81): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (13): A população militar metropolitana estava vacinada com a célebre "Cavalar", administrada na recruta, contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide, paratíficas A e B, cólera e febre amarela... Estava bem protegido!


Uma relíquia farmacêutica: o célebre medicamento contra o paludismo, Pirimetamina, 25 mg,, LM (iniciais de Laboratório Militar)... Havia duas tomas por semana, às quintas e domingo, segundo o nosso camarada médico, Rui Vieira Coelho... A imagem é do António Tavares (ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72),


Foto: © António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]


1. Lancei ontem o seguinte desafio ao Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto à direita, em 1973, no mítico Rio Corubal, no Saltinho]

Rui: Vou fazer-te um desafio, descrever a farmácia militar de Galomaro (que devia ser igual à de Bambadinca e de tantas outras)... Quais eram os medicamentos essenciais de que tu dispunhas para acudir a uma doença aguda ou uma emergência médica... Por outro lado, havia a ação médica junto da população, os comprimidos LM, etc.

Um outro poste que te vou pedir é sobre as doenças do pessoal, do paludismo às afeções cutâneas... Um alfbravo. Luis


2. Resposta, imediata, passadas umas horas:


Data: 16 de Outubro de 2014 às 20:10

Assunto: Doenças no TO Da Guiné

 Caro Luis

Em resposta ao teu repto, aqui vai o referente às doenças mais frequentes com que o pessoal de Saúde era confrontado na Guiné.

Como Médico Militar, estava sediado em Galomaro,  na CCS do Batalhão,  e era também sub-delegado de saúde da zona de Galomaro Cossé. Tinha a cargo a saúde de cerca de 360 militares metropolitanos,  Companhia Comando e Serviços e Companhias Operacionais do Dulombi e de Cancolim;  e de Milícias Africanos que eram cerca de 400 distribuídos por 10 pelotões a 40 homens, sediados em aldeias reconstruídas, previamente atacadas pelo PAIGC e para as quais eram destinados à sua segurança.

E a acrescentar a tudo isto uma população civil que rondava, na área que me foi distribuída, cerca de 18.000 pessoas.

Tinha também a meu cargo a Missão de Sono, onde só tínhamos um doente internado com essa doença e o restante pessoal internado eram doentes tuberculosos e doentes com lepra, a fazerem tuberculostáticos (estreptomicina) e sulfonas,  respectivamente. Ambas as doenças se deviam a infestação por Mycobacterium Tuberculosis e por Mycobacterium Leprae.

A população militar metropolitana na Guiné estava vacinada com a célebre "Cavalar" que era administrada na recruta, e que era contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide,  paratíficas A e B, cólera, sem esquecer a febre amarela. O pessoal estava bem imunizado dado o carácter obrigatório para todo o Militar.

Raramente se via uma intoxicação alimentar, ou uma gastroenterite no pessoal militar metropolitano, pois também estava a meu cargo todos os dias a inspecção de alimentos. Á mínima suspeita de alimentos deteriorados ou com suspeita de infestação, mandava logo proceder a sua rejeição e queima imediata.

Comum à população metropolitana e à local o paludismo era com toda a certeza a doença que nos dava maior preocupação .

Os Guineenses não faziam qualquer tipo de prevenção anti-malária, os militares da metrópole tinham medicamentos para a fazer, mas evitavam pelas mais diversas razões, aparecendo crises agudas de paludismo.

Na região leste da Guiné,  o mais terrível era o plasmodium Falciparum, que originava uma hemólise (destruição de glóbulos vermelhos) por vezes enorme com  deposição de ferro no cérebro originando o tão falado paludismo cerebral. Também os outros dois Plasmodium existiam quer o Vivax quer o Ovale. O paludismo era recidivante e condicionava o aparecimento das chamadas febres terçãs e quartãs

Enviado do meu iPad

(Continua)
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Nota do editor:

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13433: Memória dos lugares (272): Espectáculos em Galomaro no tempo do BCAÇ 2912 (1970/72) (António Tavares)

1. Em mensagem do dia 16 de Julho de 2014, o nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), enviou-nos esta memória de Galomaro:

Espectáculos em Galomaro – 1970/72

A maioria dos cerca de 150 jovens que formavam a CCS/BCAÇ 2912 eram muito alegres. As suas comicidades contagiavam o mais sisudo dos camaradas. O contentamento destes jovens, por vezes, fazia esquecer o teatro de operações do CTIGuiné. Seria possível? Em Galomaro (COSSÉ) não faltaram as mais diversas festas cujos actores eram prata da casa.

Tínhamos um palhaço profissional, dono de um circo, que era muito estimado pelos guinéus. Fazia parte do grupo teatral da CCS que actuava em Galomaro e no Cinema de Bafatá, sempre com casa cheia de civis e militares.

Piadas da época nunca era problema quer para ele quer para os outros comediantes. OS MANGAS DO COSSÉ (CCS/BCaç 2912) onde actuassem tinham sucesso.

No futebol de cinco também eram bons. Nos torneios de Bafatá ficavam sempre classificados nos dois primeiros lugares.

O pessoal do COSSÉ, quer OS GALOS, nossos velhinhos, da CCS/BCaç 2851, quer OS MANGAS, eram populares e estimados pelas gentes de Bafatá.
Os GALOS eram famosos no futebol.

Volta e meia recebíamos a visita de um furriel miliciano do Destacamento de Fotografia e Cinema dos Serviços de Transmissões do Exército que acarretava os instrumentos necessários para a exibição de um ou dois filmes no quartel de Galomaro.
O civil Manuel Joaquim com a sua célebre camioneta e apetrechos para projecção cinematográfica também visitava a população de Galomaro e as tropas. Estas vestiam-se à civil para pagar o preço mais barato do bilhete de entrada no recinto de exibição do filme. Os militares pagavam segundo as classes.

Algumas imagens:

Com 59 dias no CTIGuiné ainda havia folia para recordar as marchas dos Santos Populares.

No pelado de Galomaro algumas das “vedetas” em jogo treino

“OS MANGAS DO COSSÉ” em palco.

Na imagem vemos, da esquerda para a direita: Isabel, Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia que, em 31/03/1971, visitaram Galomaro. O CMDT do batalhão agradece a visita.

No palco improvisado vemos o Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia em actuação.

Na parada do quartel a maioria da plateia da CCAÇ 2699 e da CCS do BCAÇ 2912 está a viver e a gostar do espectáculo de quarta-feira 31 de Março de 1971. Espectáculo que ajudava a manter o moral das tropas.

Em 1971 a Páscoa Cristã foi no dia 11 de Abril desde logo este espectáculo esteve incluído nessa festa. No verso das medalhas recebidas fica-nos, nestas fotos, a recordação, que é o mais relevante, de alguns dos camaradas feridos e mortos em combate de Maio de 1970 a Março de 1972.
Espectáculos associados a “UMA GUINÉ MELHOR”, a PSICO do COMCHEFE do Comando Territorial Independente da Guiné, nos anos de 1963 a 1974.

(Escrito de acordo com a antiga ortografia)

António Tavares
Foz do Douro, quarta-feira 16 de Julho de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13431: Memória dos lugares (271): Candamã, 19-9-69... Subsetor de Mansambo, setor L1 (Bambadinca): por lá passaram a CART 2339, a CCAÇ 2404, a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, etc.