Mostrar mensagens com a etiqueta António Tavares. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta António Tavares. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 8 de maio de 2017

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Guiné 63/74 - P17290: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (30): Tavira, CISMI, onde há 48 anos frequentei o 1.º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos (António Tavares)

Quartel da Atalaia
Foto: © Beja Santos. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 22 de Abril de 2017:

Camarigos,
Passados 48 anos da minha entrada no CISMI – Tavira para frequentar o 1.º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos – 2.º Turno de 1969, recordo:

Parti do Porto, com outro recruta, em automóvel, pelas 07H00 do dia 20 de Abril de 1969 com chegada a Tavira, às 19H30, depois de paragens em Leiria, Lisboa e Setúbal.

Entrei pela porta de armas do CISMI no dia 21 de Abril de 1969. Era uma Segunda-feira que ficou gravada em cada um dos jovens recrutas, quer pelos bons ou maus motivos, estes talvez a pesar mais nos pratos da balança.

Em 23 de Abril fizemos os testes psicotécnicos. Escolhi as especialidades de Contabilidade e Pagadoria; Amanuense e Intendência.

Em 25 de Abril assumiu as funções de Director do CISMI o Exmo. Tenente Coronel de Infantaria, António Mendes Baptista em substituição do Exmo. Senhor Tenente Coronel de Infantaria José Alves Pereira que foi transferido para a Repartição de Recrutamento do Ministério do Exército.
O Major de Infantaria José Bernardo Cruz de Aragão Teixeira era o Segundo Comandante do CISMI.
Nesse dia festejamos os anos do MACB, um camarada de Queluz, ferrenho sportinguista, que era estimado por todos. Na sua companhia muitas vezes viajei de comboio pelo Algarve. Ele foi mobilizado para Moçambique. Infelizmente faleceu em 2015.

Em 6 e 7 de Maio, Sua Excelência o General Emílio Mendes Moura dos Santos, ilustre Director da Arma de Infantaria, visitou o CISMI acompanhado do Exmo. Senhor Coronel Marafusta Marreiros.

Em 9 de Maio visitou o CISMI Sua Excelência o General Fernando Louro de Sousa, ilustre Comandante da 3.ª Região Militar. Sua Excelência viajou acompanhado do Exmo. Tenente Coronel do CEM Amândio Travassos de Almeida Nogueira, Chefe Interino da Região Militar com sede em Évora.
É de notar o tratamento dado aos Oficiais Superiores e Generais. O instruendo era um número. O meu era o 58.

Na preparação de uma destas visitas, fui um dos faxinas à caserna da 1.ª Companhia, cujo trabalho era limpar os mictórios. Com palha-de-aço e a água a correr entre as minhas mãos tentava eliminar o verdete existente na porcelana do urinol. Quanto mais limpava mais riscos ficavam a ver-se.
Era fiscalizado por um Cabo Miliciano, natural da Guiné. Homem muito educado porém naquele dia estava muito exigente por causa da visita do Senhor General às instalações.

Em 25 de Maio (Domingo), fui com outros camaradas até Portimão; Praia da Rocha; Torralta e Alvor. Na praia da Rocha destacavam-se os hotéis: Algarve; Aquazul e Jupiter. Na Torralta existiam cinco prédios, cada um com onze andares e o Hotel Alvor Praia, em Alvor. Aqui os esgotos corriam a céu aberto em direcção ao mar.

Estávamos em 1969 e tudo era novidade para um jovem que anteriormente tinha viajado somente até Évora.

De 2 a 4 de Junho fomos para a carreira de tiro que ficava a 5 ou 6 quilómetros de Tavira, na margem esquerda do Rio Gilão. Fizemos fogo com a G3; Manelica; FBP e Walther. Lançámos granadas.

Em 15 de Junho, Tavira recebeu o III Grande Prémio Casal em ciclismo. As equipas do FC Porto; SL Benfica; Sporting CP; Ginásio de Tavira; Coelima e Ambar disputaram o troféu.

Em 16 de Junho (2.ª feira) houve a feira de gado e diversos na Atalaia.
A Atalaia era um vasto campo, em terra batida, fora do quartel, onde era ministrada a instrução militar teórica e física. Depois das feiras tínhamos de limpar as caganitas do gado caprino e ovino para fazer a respectiva instrução militar de preferência à sombra da cadeia e das igrejas existentes no local.

Na noite desse dia fizemos emboscadas, patrulhas e fogo com a Mauser, utilizando bala simulada, na margem direita do Rio Gilão, até às 23H00.

 Tavira - Rio Gilão
 Foto: © Mário Beja Santos. Todos os direitos reservados

Em 17 de Junho realizou-se um jogo de voleibol entre o CISMI e o CICA 5, de Lagos. O CICA 5 venceu o jogo por 2 a 0.

Em 23 de Junho tomamos a vacina conhecida como “dose de cavalo”.
Na parada do quartel fizemos o último teste escrito.

De 25 a 28 de Junho fomos para o campo - Exercício Rosa Silvestre - sob o comando do Capitão Frederico Pires; Tenente Fonseca; Alferes Jacinto; José Diogo e Mateus e o Aspirante Mendonça.

Em 1 de Julho oferecemos um jantar, na Casa dos Frangos, Tavira, ao comandante do nosso pelotão Alferes José Diogo e seus adjuntos.

Em 2 de Julho recebi o pré de 1$50 (não é erro!) referente ao período de 21 de Abril a 6 de Julho de 1969.

Em 4 de Julho houve festa no CISMI. Dia de Juramento de Bandeira do 1.º Ciclo do CSM do 2.º Turno de 1969.
Nesse dia terminava a passagem de centenas de jovens militares por Tavira.
Tavira, cidade que é bom recordar!

Abraço
António Tavares
Foz do Douro, Sexta-feira 21 de Abril de 2017
____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13361: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (30); Mafra, a EPI, 1967: "Aquele Convento de Mafra era sem dúvida uma fábrica de oficiais"...(Paulo Raposo, ex-alf mil inf, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, Mansoa e Dulombi, 1968/70)

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P17008: Efemérides (243): Acontecimentos no mês de Janeiro, entre 1963 e 1974, na Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)



1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 30 de Janeiro de 2017:

Camarigos,
Neste Janeiro de 2017, recordemos

OS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DE OUTROS JANEIROS, no Comando Territorial Independente da Guiné:

Em Janeiro de 1960 Amílcar Cabral abandona definitivamente Lisboa para encabeçar a luta de libertação nacional da Guiné.

1963.01.09 - Inauguração, no Centro Nacional de Transmissões, em Lisboa, da ligação pela rádio e teleimpressor com os Serviços Militares da Guiné.

1963.01.23 - Início da luta armada na Guiné, com um ataque ao quartel de Tite, no Sul da Guiné, pelo PAIGC.

1964.01.05 - Ataque do PAIGC a Mansabá, no Morés, com implantação de minas na estrada Mansabá-Mansoa, uma das quais foi accionada por uma autometralhadora Fox.

1964.01.14 - Início da Operação Tridente na ilha de Como, no Sul da Guiné, que se prolonga por mais de dois meses. Nesta operação, que durou 71 dias, Portugal mobilizou cerca de 1200 homens, do Exército, Marinha e Força Aérea.

1964.01.28 - O PAIGC implanta minas na estrada Mansabá-Bissorã e na estrada Bissorã-Olossato.

1965.01.01 - Primeira emissão de uma Emissora de Rádio do PAIGC. O PAIGC dispunha da Rádio Libertação, que era a emissora do partido e, a nível internacional, dispunha do apoio da Rádio Conacri, Rádio Pequim, Rádio Praga, Rádio Gana e Rádio Cairo, que emitiam várias horas em português.

1966.01.03 - Amílcar Cabral teve diversos encontros com Fidel Castro em Havana. Foi a partir desta data que se iniciou a ajuda cubana ao PAIGC, fornecendo assessoria militar e ajuda médica.

1966.01.04 - Criação do Serviço Postal Militar, através do Decreto-Lei n.º 46 826, constituído por um número com quatro algarismos. O oito (- - - 8) era o último número atribuído ao CTI da Guiné.

1966.01.22 - Ataque de guerrilheiros do PAIGC a Fulacunda, Sul de Bissau, apoiado com morteiros 82 mm e foguetes de 122 mm, causando 13 feridos.

1968.01.03 - A PIDE referia nos seus relatórios desinteligências graves entre Amílcar Cabral e Malam Sanhá, Mamadu Djassi e Oto, que se tinham recolhido a Conacri. A acusação que faziam a Cabral era a do favorecimento aos cabo-verdianos.

1968.01.10 - Ataque simultâneo do PAIGC à Lancha de Fiscalização Grande (LDG) Hydra e ao quartel de Cacine no rio Cacheu.

1968.01.11 - Emboscada a uma coluna portuguesa na estrada Guileje-Gadamael-Porto causando um morto e oito feridos à força portuguesa.

1968.01.24 - Ataque do PAIGC a aviões T-6 e Fiat G-91 com metralhadora antiaérea na região de Cafal Balanta – Cantanhez-Sul.

1968.01.31 - Ataque do PAIGC ao quartel de Buba, no Sul, provocando sete feridos e grandes destruições. O ataque foi acompanhado pelo capitão cubano Peralta. Este seria capturado em 16.11.1969  no corredor de Guileje por forças Paraquedistas, durante a operação Jove.

1969.01.21 - Operação Grande Colheita na zona de Bigene, nos “corredores” Talicó e Sambuiá.

1970.01.05 - Reunião entre o PAIGC e o Governo do Senegal para resolver a crise existente em Casamança.

1971.01.01 - O PAIGC entrega um cabo e três soldados desertores do Exército Português ao Crescente Vermelho da Argélia. O PAIGC encaminhava habitualmente os prisioneiros portugueses para Argel através do Crescente Vermelho.

1972.01.13 - Forças portuguesas capturaram duas rampas de foguetões do PAIGC, na região de Aldeia Formosa.

1972.01.24 - Golpe de mão de guerrilheiros do PAIGC, comandados por Queba Sambu, a Catió, fazendo prisioneiros dois militares portugueses.

1972.01.27 - Convite formal do PAIGC ao Conselho de Segurança da ONU para enviar uma delegação às “áreas libertadas da Guiné”.

1973.01.08 - Amílcar Cabral anunciou que o Estado da Guiné-Bissau seria proclamado em 1973. Esta promessa foi feita no final da mensagem de Ano Novo lida por Amílcar Cabral na rádio de Libertação, a emissora do PAIGC.

1973.01.20 - Assassínio de Amílcar Cabral, em Conacri.

1973.01.27 - Mensagem de exortação dos dirigentes do PAIGC aos combatentes, na sequência da morte de Amílcar Cabral, assinada por Aristides Pereira, Luís Cabral, Chico Mendes, Victor Saúde Maria, Silvino da Luz e Paulo Correia.

1973.01.28 – Continuação da reocupação do Cantanhez.

1974.01.01 - Fim da Operação Galáxia Vermelha no Cantanhez, a primeira grande operação do comando de Bettencourt Rodrigues.

1974.01.03 - Flagelação do PAIGC a Canquelifá com mais de 100 foguetões de 122mm e 50 granadas de morteiro durante mais de 10 horas.

1974.01.06 - Ataque do PAIGC a Canquelifá com 50 foguetões de 122mm durante três horas e a Buruntuma durante 50 minutos com 30 foguetões de 122 mm.

1974.01.07 - Emboscada do PAIGC na estrada Bajocunda-Copá.

1974.01.07 - Operação Minotauro, na zona de Canquelifá, tendo uma força do recrutamento local interceptado um grupo do PAIGC com 50 elementos, causando-lhe 22 mortos confirmados.

1974.01.07 - Disparos de mísseis Strela contra dois aviões Fiat G-91 em Bedanda.

1974.01.08 – O PAIGC destruiu com cargas explosivas o pontão na estrada Pirada-Bajocunda sobre o rio Mael Jaube.

1974.01.09 – O PAIGC atacou com RPG e armas automáticas quatro helicópteros e um heli-canhão em operações na região de Canquelifá.

1974.01.20 - Ataques do PAIGC a várias guarnições militares no Sul da Guiné para celebrar o 1.º aniversário da morte de Amílcar Cabral.

1974.01.21 - Primeira acção do PAIGC na cidade de Bissau, com lançamento de engenhos explosivos contra autocarros da Força Aérea.

1974.01.26 – Assinatura de um contrato para fornecimento a Portugal de mísseis Antiaéreos Crotale, destinados à defesa antiaérea dos pontos sensíveis na Guiné.

1974.01.28 – O PAIGC lança dois engenhos explosivos num café de Bissau frequentado por militares portugueses.

1974.01.31 - Novo ataque do PAIGC a Canquelifá, próximo da fronteira do Senegal com 50 foguetões de 122mm durante duas horas. Um avião militar português Fiat G-91 foi abatido com um míssil Strela a sul de Canquelifá. O piloto ejectou-se e foi recuperado na povoação de Dunane no dia seguinte.

Fonte:  Os Anos da Guerra Colonial, 1961-1975, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes (Quidnovi II, Matosinhos, 2010, 832 pp.).

Abraço
António Tavares
Foz do Douro, Domingo 29 de Janeiro de 2017
____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16938: Efemérides (242): Homenagem a Vitor Manuel Parreira Caetano (Mário Pinto, ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16802: Inquérito 'on line' (94): Inofensivas batotas (António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912)

Quartel de Galomaro


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 4 de Dezembro de 2016:

Inofensivas batotas

Camarigos,

Estávamos em finais de Fevereiro de 1972, quase no final da comissão. Atrás deste tronco, sito a uns metros depois da pista dos hélis, do quartel de Galomaro, estacionei, embosquei e comandei um grupo de camaradas. BATOTA...

Tinha de me embrenhar uns bons metros além deste local que militarmente não era muito aconselhável. O tronco estava bem posicionado porquanto de lá via o quartel, ouvia o barulho do gerador e até as vozes dos meus camaradas mais noctívagos. Barulhos inofensivos para quem por vezes ouvia gritos de dor e ruídos do fogo IN.

Não foi o caso daquela noite. O quartel tão perto e ninguém via do quartel. Havia um inconveniente: ficava perto do local onde os guinéus enterravam os mortos. Eu sabia.

O cheiro da Metrópole estava mais próximo de cada um de nós e a vontade de aventuras era menor. Alguns dos meus camaradas, que conheciam bem o local, protestaram mas por ali ficámos durante seis horas, das 20H00 às 02H00.


Galomaro

Foto: © Carlos Filipe



A “VALENTIA” e a “CORAGEM” do início da comissão, em Maio/70, estavam muito gastas.
Foi o meu último serviço, fora do quartel, em postos avançados.
(…)

Essas patrulhas eram a pé,
Feitas com poucos homens e muita pressa,
Abordávamos o chefe da tabanca
E dávamos dois dedos de conversa.

Enquanto éramos “periquitos”,
Cumprir a rigor procurávamos,
À medida que íamos ficando cansados
O percurso traçado encurtávamos.

O encurtar foi tanto,
Esquema usado por toda a gente,
Até havia quem saísse do quartel
E entrasse na tabanca quase em frente.

Era preciso fazer passar o tempo,
Como se tudo fosse cumprido,
E aproximar do quartel
Pelo lado contrário ao que tínhamos saído.

(do livro – Guineíadas, de 2003)


Na secretaria dos Reabastecimentos do BCaç 2912:

- Alterávamos os mapas de SITMUNIÇÕES; SITARMAS; SITVIATURAS…

- Eram acrescentados alguns quilómetros às distâncias percorridas pelas viaturas civis utilizadas nas colunas de reabastecimentos, isto é, um percurso real de 40 Kms era pago por 50 Kms.
O COMCHEFEGUINÉ, em Bissau, aprovava ou não as distâncias utilizando os mapas Cartográficos do Exército.

Inofensivas BATOTAS,  realizadas em 1970/72, em que procuravam não prejudicaros civis ou os militares do batalhão.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16800: Inquérito 'on line' (93): "Batota no mato" .. ou no blogue ?... Esperávamos 100 respostas, obtivemos apenas 45... Resultados: as três formas mais frequentes de batota: (i) emboscar-se perto do quartel (37%); (ii) começar a “cortar-se", com o fim da comissão à vista (37%); e (iii) “acampar” na orla da mata, ainda longe do objetivo (24%)... Só não fazíamos batota era com o Natal no mato...

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16376: Memória dos lugares (342): Galomaro e as suas lavadeiras (António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912)

Quartel de Galomaro em construção, em Maio de 1970


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 3 de Agosto de 2016:


A BELA E O SENÃO

Camarigos,

A minha lavadeira de nome Mariana era alta, esbelta, de cor negra clara e de etnia Fula.
Tratava razoavelmente da roupa a troco de 80 pesos (escrevia-se: 80$00) mensais.
Os preços do serviço de lavagem eram diferentes para cada uma das classes de militares.
A Mariana era casada com um Djila que viajava muito à Gâmbia para contrabandear vários artigos vendáveis nos dois países. Diziam que recebia na sua morança tropas quando o seu homem estava ausente. Não sei se era verdade ou não. Comigo tratou somente da roupa. Com pouco mais de 21 anos com certeza vontade não me faltasse de outros serviços.

A minha primeira lavadeira que tive era anciã e andava sempre a mascar coca que trazia numa bolsa pendurada à cintura da vestimenta. Parece-me que estou a vê-la a mascar e depois a cuspir a coca. Era mais cuidadosa com o tratamento dado à roupa. A idade aparente já pesava bastante na sua frágil estrutura física, especialmente na pele enrugada da cara.

Ao fim da tarde era uma romaria de lavadeiras junto ao arame farpado para entregar ou receber a roupa. O chamamento de cada um dos militares por vezes transformava-se num coro desafinado mas engraçado. Quando chamavam pelo nome “TAVARÁS” muito se riam. Nunca descobri qual o motivo de tanto riso.
Os Oficiais tinham o privilégio de receberem as lavadeiras dentro do quartel de Galomaro.

Por razões óbvias não publico fotografias das duas mulheres que trataram da minha roupa durante os 23 meses que permaneci nas matas do Leste do CTIGuiné. História que fez parte da vida de um jovem deslocado numa terra tão longínqua e diferente em usos e costumes da sua terra Natal.

Recordar é Viver!

Tabuleta de recepção aos “piriquitos” do BCaç 3872 colocada (em 1972) na estrada principal de Galomaro. O 1.º Edifício à direita tinha sido uma caserna da CCaç 2405. Em 1970 era a casa do Chefe de Posto. A habitação e o Café - Restaurante do comerciante Francisco Regalla ficava uns metros aquém desta habitação.


Mulheres Fula a lavar roupa numa bolanha de Galomaro, em 15 de Julho de 1970. Nesse dia o BCaç 2912 já conhecia o chão guinéu há 76 dias.

Fotografia de Lavadeiras no seu trabalho quotidiano, em Galomaro.


Visita a uma Morança da Tabanca de Galomaro, em Outubro de 1970.

Abraço,
António Tavares
Foz do Douro, Quarta-feira 03 de Agosto de 2016
____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16360: Memória dos lugares (341): UDIB, Bissau, II Jogos Florais, Programa, 28 de junho de 1974 (Augusto Mota)

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P16017: Efemérides (221): Tempos passados ou como recuar a 24 de Abril de 1970, data de embarque do BCAÇ 2912 com destino à Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil)

1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 24 de Abril de 2016


TEMPOS PASSADOS

Camarigos,
Na famosa fotografia "The Steerage", de Alfred Stieglitz (1907), vemos os abastados em cima e em baixo os outros.
Ao ver esta imagem imediatamente recuei a 24 de Abril de 1970, data de embarque, no navio T/T Carvalho Araújo, do BCaç 2912 rumo ao Comando Territorial Independente da Guiné. Viagem em que o militar se sentiu passageiro de classes.

The Steerage de Alfred Stieglitz (1907)

Passados 46 anos recordo as primeiras horas daquele dia ímpar.
O dia do começo das aventuras coloniais vivido por centenas de jovens com pouco mais de 21 anos.
O Batalhão partiu de Santa Margarida em comboio. Cerca das seis e trinta chega ao cais marítimo de Alcântara. O comboio entra no Porto de Lisboa e de imediato avistamos o navio que nos transportou até ao cais de Pindjiguiti. O navio, visto do cais, era enorme mas de certeza mais pequeno do que outros que já tinha visto.

 Lisboa - "Carvalho Araújo"

Depois de retiradas as bagagens individuais do comboio transportamo-las para o navio.
Tudo arrumado viemos tomar o pequeno-almoço no cais onde até uma cozinha de campanha nos aguardava para conforto do estômago.
Realizadas as cerimónias oficiais de despedida, no cais marítimo de Alcântara, regressamos ao navio.

Cozinha de Campanha no Cais

Começaram a aumentar os lancinantes gritos e choros dos familiares que tinham ido dizer adeus aos jovens combatentes. Infelizmente para alguns foi o último ADEUS.
Ao meio dia certo o CARVALHO ARAÚJO zarpou e poucas milhas percorridas entrou no Oceano Atlântico, que sulcou durante seis dias. Um Oceano Atlântico diferente daquele que conhecia.

24 de Abril de 1970 - Embarque do BCAÇ 2912

Sala de Jantar do "Carvalho Araújo"

 Camarote de 1.ª Classe do "Carvalho Araújo"

As personagens ao longo dos tempos foram diferentes.

Durante a Guerra Colonial (1961 – 1974) víamos os tropas nesta situação de classes. Antes da data da fotografia, The Steerage, em piores condições os escravos.

Em tempos passados não há melhor protagonista deste marear do que cada um dos combatentes enquanto navegantes. E cada caso era um caso.

Abraço António Tavares
Foz do Douro, Domingo 24 de Abril de 2016
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P16008: Efemérides (220): Cerimónia de comemoração do Dia do Combatente e VII Aniversário do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, dia 30 de Abril, em Matosinhos e Leça do Balio (Carlos Vinhal)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15647: Efemérides (208): Lembrando José Botelho de CARVALHO ARAÚJO que faleceu a 14 de Outubro de 1918 a bordo do Caça-Minas NRP Augusto de Castilho afundado pelo submarino alemão U-139 (António Tavares)

Monumento a CARVALHO ARAÚJO em Vila Real
Com a devida vénia a minube


Combate entre o Navio Patrulha "Augusto Castilho" e o submarino alemão U-139 em 1918 durante a I Guerra Mundial.
Aguarela de Artur Guimarães
Museu Marítimo de Ílhavo.


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 10 de Janeiro de 2016

Camarigos,
Ao ver esta excelente aguarela de Artur Guimarães recordei José Botelho de CARVALHO ARAÚJO que faleceu a 14 de Outubro de 1918 a bordo do Caça-Minas NRP Augusto de Castilho afundado pelo submarino alemão U-139 quando escoltava o vapor São Miguel.

O Comandante CARVALHO ARAÚJO interpôs o seu navio entre o submarino e o vapor São Miguel, no mar dos Açores, salvando os 206 passageiros que seguiam a bordo deste.
Estávamos na 1.ª Guerra Mundial iniciada a 28 de Julho de 1914 e terminada em 11 de Novembro de 1918.
A morte do Comandante CARVALHO ARAÚJO ocorreu 27 dias antes do fim da I Grande Guerra.
A Marinha Portuguesa de Guerra e a Mercante glorificou-o perpetuando o seu nome em diversas embarcações.


Características oficiais do Navio T/T CARVALHO ARAÚJO, que o BCAÇ 2912 conheceu em 24 de Abril de 1970:

Tipo... Navio misto de 2 hélices
Construtor... Cantiere Navale Trestino
Local construção... Monfalcone - Itália
Ano de construção... 1929
Ano de abate... 1973
Registo... Capitania do Porto de Lisboa, em 21 de Abril de 1930, com o número 420 F
Sinal de código... C S B U
Comprimento fora a fora... 112,82 m
Boca máxima... 15,30 m
Calado à proa... 6,69 m
Calado à popa... 6,99 m
Arqueação bruta ... 4.559,55 Toneladas
Arqueação Líquida... 2.694,45 Toneladas
Capacidade... 4.292 m3
Porte bruto ... 4.724 Toneladas.
Aparelho propulsor... Duas máquinas de triplice expansão, de 3 cilindros cada, construídas em 1929 por John G. Kincaid & Ca Lda. em Greenock - Escócia.
Quatro caldeiras, com 3 fornalhas cada, para a pressão de 14,7 K/cm2.
Potência... 4.430 CV
Velocidade máxima ... 14,0 nós
Velocidade normal ... 12,0 nós
Passageiros... Alojamentos para 10 em classe de luxo, 68 em primeira classe, 78 em segunda, 98 em terceira e 100 em cobertas, no total de 354 passageiros.
Tripulantes... 98
Armador... Empresa Insulana de Navegação - Lisboa

Com certeza que os milhares de militares que navegaram nele desde 1963 discordam dos números dos passageiros acima. Sentiram na prática o excesso de lotação.


O “EXCELENTE E VALOROSO” Batalhão de Caçadores 2912 desembarcou no cais de Pindjiguiti, Bissau, em 01 de Maio de 1970, com cerca de 500 militares.

O primeiro dia da guerra vivida em Galomaro, Cancolim, Dulombi e Saltinho, matas do Leste do TO do Comando Territorial Independente da Guiné.

António Tavares
Foz do Douro, Domingo 10 de Janeiro de 2016
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15541: Efemérides (207): Ataque ao Cachil na Consoada de 1965 (João Sacôto, ex-Alf Mil da CCaç 617/BCAÇ 619)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15459: O Relógio de Ponto e as Rondas nocturnas (António Tavares, ex-Fur Mil do BCAÇ 2912)

1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 23 de Novembro de 2015 lembrando o famoso relógio de ponto que controlou a vida a tanta gente:


Relógio de Ponto

Camarigos,
 "Em 20 de Novembro de 1888 William Bundy, joalheiro nova-iorquino, inventa o 1.º Relógio de ponto”, quando li esta efeméride recordei o relógio de ponto que conheci quer na tropa quer na vida civil.

Numa Unidade Militar do Norte, onde estive, cada ronda ao quartel demorava uma hora certa. Os Cabos Milicianos faziam a ronda com um relógio de ponto parecido com o da imagem.
A chuva, o frio e o nevoeiro eram o nosso inimigo nas noites de um impiedoso Inverno de 1969. O ano de um terramoto em Portugal Continental.
Certa noite encontrei uma sentinela a dormir dentro de uma guarita. Tirei-lhe a G3 e passados uns momentos acordei-o. Atrapalhado pela falta da arma esqueceu-se da contra senha.
Naquele tempo a senha e a contra senha eram importantes mas a falta da arma é que era o problema. Depois de verificar que o Homem estava bem acordado disse-lhe onde estava a arma.

Também encontrei um soldado com uma “menina” no local de vigilância à sua responsabilidade. Naquela noite a “menina” dormiu sob um tecto. Havia tantas “meninas” à volta do quartel para ganhar uns Escudos.

Nunca participei qualquer ocorrência. Qualquer delas era grave especialmente num quartel onde tinham furtado uma pistola. Em Agosto de 1971 encontrei um Alferes Miliciano, num voo da TAP, Bissau – Lisboa, e o caso da arma de imediato foi conversa.

Na manhã seguinte o Oficial de Dia verificava o registo do relógio e caso houvesse anomalias de imediato havia inquéritos oficiais. Geralmente eram ultrapassados pelas artimanhas aprendidas pelos utilizadores do relógio.

 Foto: domínio público a circular na NET

Quando o relógio de ponto avariava era “noite santa” no quartel. Eu não saía do quarto.

Nas matas do leste do CTIGuiné as rondas, dentro do quartel de Galomaro, sem relógio de ponto, por vezes, tinham por companheira uma lanterna nas noites escuras como breu. Um dos inimigos especialmente para os militares continentais.

Uma História e não Estória que um relógio, utilizado, num quartel, recorda.

Na vida civil o relógio de ponto era um dos nossos pensamentos durante a vida activa de trabalho.

Abraço
António Tavares
Foz do Douro, Domingo 22 de Novembro de 2015
____________

sábado, 7 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15338: Inquérito 'on line' (16): Para 42% dos respondentes (num total de 69), "100 pesos" era de facto dinheiro, era bastante patacão... Segundo a Companhia Seguros Douro, que oferecia na época um "seguro militar", cobrindo o risco de morte ou de incapacidade (total ou parcial) em teatro de guerra, cem contos (pouco mais de 28 mil euros, hoje) era quanto podia valer a vida de um herói!

1. Inquérito de opinião que decorreu na semana que findou: 

"NO MEU TEMPO, CEM PESOS ERA MANGA DE PATACÃO"


1/2. Era muito  (n=3) ou bastante dinheiro (n=26) > 29 (42,0%)


3. Era assim-assim, nem muito nem pouco  > 19 (27,6%)


4/5. Era pouco (n=12) ou muito pouco dinheiro  (n=5) > 17  (24,6%)


6. Não sei / não tenho opinião  >  4 (5,8%)

Votos apurados: 69 (100,0%)

Votação fechada: 5/11/2015. 14h30

2. Comentário do editor:

Segundo o nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), havia no mercado um seguro militar, dos Seguros Douro, que cobria o risco de morte e invalidez nos TO da Guiné, Angola e Moçambique. O capital seguro era de cem contos (100 mil escudos), o que daria hoje qualquer coisa como pouco mais de 28 mil euros (, usando o conversor de escudos para euros, disponibilizado pelo portal Pordata - Base de Dados Portugal Contemporâneo).

Houve quem pagasse 200 contos para livrar um filho ou um neto da "subida honra" de servir a Pátria no ultramar... Em face disto, convenhamos que 100 pesos, para a generalidade dos nossos militares (os de 1ª e os de 2ª classe),  eram bastante patacão!... (**)
____________

Notas do editor:

(*) 4 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15328: Inquérito 'on line' (15): quatro em cada dez respondentes acha que uma nota de 100 pesos era muito ou bastante patacão... Votação termina 5ª feira, dia 5, às 14h30

Guiné 63/74 - P15337: Os nossos seres, saberes e lazeres (126): Seguro Militar Especial, quem sabia da existência deste Seguro de Vida para Combatentes? (António Tavares)

1. Em mensagem do dia 23 de Outubro de 2015, o nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), fala-nos de algo que a maioria de nós desconheceria, a existência de um seguro de vida para combatentes. 
Cabe aqui informar que o nosso camarada Tavares foi funcionário da agência de Matosinhos de uma grande Companhia de Seguros, na qual curiosamente tive seguro de automóvel durante dezenas de anos. Muitas das vezes que precisei de tratar de assuntos relacionados com o seguro, fui atendido pelo Tavares. Curiosidades.


SEGURO MILITAR - ESPECIAL 

Camarigos,
Quem se lembra deste tipo de seguro?


E porquê um Seguro Militar Especial?
Com certeza por ser indicado aos Oficiais e Sargentos mobilizados para o Ultramar. Era comercializado pela Companhia de Seguros Douro.


O seguro militar, com pequenas diferenças, também era comercializado por outras seguradoras. Comercialmente era um produto não rentável e de pouca adesão quer pelo preço quer pelo desconhecimento de eventuais subscritores.

Penso que o efeito psicológico da palavra MORTE, para um militar que ia combater numa das três frentes da Guerra Colonial, teria sido o principal motivo do fracasso deste seguro na indústria seguradora.

Recordo que a sede da Companhia de Seguros Douro era no Largo de São Domingos, no Porto, no edifício que foi construído para sede da Ordem de São Domingos no séc. XIII. O edifício em 1832, durante o Cerco do Porto, foi quase totalmente destruído por um incêndio.

O Banco de Lisboa (actual Banco de Portugal) adquiriu-o, reconstruiu-o e instalou uma filial, até que o Banco de Portugal decidiu adquirir os terrenos que hoje ocupa na Praça da Liberdade.



A construção do actual edifício teve início em 1917 e concluída em 1934, ano da inauguração.

O edifício DOURO esteve durante décadas abandonado. O seu nome deriva do facto de ter sido, entre 1934 e 1989, sede da Companhia de Seguros Douro. Posteriormente foi recuperado pela Câmara Municipal do Porto. Actualmente no edifício está instalado o Palácio das Artes – Fábrica de Talentos.


Com um abraço,
António Tavares Foz do Douro,
Quarta-feira 23 de Outubro de 2015


2. Comentário do editor:

Utilizando o conversor de escudos para euros, disponibilizado pelo portal Pordata - Base de Dados Portugal Contemporâneo, um jovem de 22 anos, mobilizado para o ultramar, pagaria em 1970 de prémio de seguro, no acto do embarque, a importância de 3.795$00 (o equivalente hoje a 1.076,04 €), a que acrescia no primeiro ano a sobretaxa de 1.000$00 (283,54 €)...  Cem contos (100 mil escudos = 28.354,16 €) era quanto valia a vida de um homem!... Não faço ideia de qual era o capital seguro, em média, nessa época, no ramo vida...

Talvez o Tavares se lembre ainda desses valores, já que trabalhou em seguros... E, já agora, e por mera curiosidade, gostava de saber se ele, Tavares, chegou a subscrever este seguro militar que, provavelmente, era único, na época... Ou haveria mais Companhias de seguro a oferecer este tipo de seguro aos militares que partiam para a guerra de África, cobrindo o risco de morte e de invalidez (total ou parcial)? E o militar que fosse mobilizado para a Guiné, estava sujeito a algum agravamento do prémio? (LG)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15331: Os nossos seres, saberes e lazeres (125): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira, ex-Fur Mil da CCAV 8353 (2)

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15329: (Ex)citações (299): A tripla vacinação que tínhamos de fazer, antes de embarcar para o CTIG: febre-amarela, cólera e varíola (António M. Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)













Cópias dos certificados internacionais de vacinação contra a febre-amarela, cólera e varíola, emitidos pela Direção do Serviço de Saúde do Ministério do Exército. 


Fotos: © Sousa de Castro (2015). Todos os direitos reservados. (Edição: LG]




1. Mensagem, de 1 do corrente, do [António M. ] Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), na sequência do poste P15307 (*):


Caros amigos,

Não foi só a vacinação contra a febre-amarela (*), foi também contra a varíola e a cólera, conforme se pode constatar no meu certificado de vacinas internacional, passada na Província da Guiné.

Este certificado foi pedido por mim, creio que em Bissau antes de vir embora,  no sentido de poder emigrar. 

Para além disso, tenho os três certificados individuais aquando da vacinação obrigatória antes de embarcar, passado pela Direcção do Serviço de Saúde do Ministério do Exército. (**)

Ao dispor,

A. Castro




2. Comentário do editor:

Segundo o Portal da Saúde  [, Consulta da Saúde do Viajante],  "o Regulamento Sanitário Internacional em vigor estipula que a única vacina que poderá ser exigida aos viajantes na travessia das fronteiras é a vacina contra a febre amarela. Nesse sentido, todos os Centros de Vacinação Internacional devem administrar a vacina contra a febre amarela a todos os utentes que a eles se dirijam, desde que portadores de prescrição médica."

Há, no entanto,  alguns países não autorizam a entrada no seu território sem o comprovativo de vacinação contra outras doenças. "É o que acontece com a vacina contra a doença meningocócica, imposta pela Arábia Saudita aos peregrinos que se dirigem a Meca. A Arábia Saudita exige ainda, como outros países, a vacina contra a poliomielite, a quem é proveniente de um dos quatro países onde o vírus é endémico (Afeganistão, Nigéria, Paquistão e Índia)."

Na época da guerra colonial, havia ainda o risco de cólera e varíola em territórios como a Guiné. O último caso de varíola ocorreu em 1977, na Somália. Foi uma das mais devastadoras doenças infetocontagiosas que os seres humanos conheceram, Foi considerada erradicad pela OMS em 1980. A cólera é uma doença endémica, havendo de tempos a tempos surtos epidémicos em países onde a saúde pública ainda é defiociente (como é o caso da Guiné-Bissau, Angola ou Brasil). A doença é de notificação obrigatória mas a vacinação já não o é, de acordo com o  Regulamento Sanitário Interncional (RSI).

A vacina contra a cólera é recomendada pela OMS para aplicação em viajantes com destino às áreas onde ocorrem casos de cólera, e possa haver contacto com doentes,  mas não é disponibilizada pelo  nosso Programa Nacional Vacinaçãom, não garantindo de resto imunidade duradoura. As únicas vacinas obrigatórias em Portyfgal, hoje em dia, é a do tétano e difteria. Em, setembro de 1971 houve surto de cólera na área metropolitana de Lisboa. Em 1969, o pessoal militar era apenas vacinado contra a febre-amarela, a crer no depoimento do nosso camarada António Tavares.

O atual Regulamento Sanitário Interncional (RSI) está em vigor nos 193 Estados membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 15 de Junho de 2007. É um acordo internacional juridicamente vinculativo. Tem por objectivo a prevenção e o combate às ameaças de saúde pública mundial. (Ver versão em português do RSI, disponível no sítio do INSA).




"Uma caderneta que todo o militar teve no dia da vacinação [contra a febre-amarela]. É de notar que a vacina era dada quase no fim da recruta talvez por hipotéticas reacções negativas do organismo dos militares. Recruta dispendiosa para a Fazenda Pública e a necessidade, maior ou menor, consoante a época do ano, do 'despacho' dos Homens para a guerra. Assim, uma recruta não podia ser perdida nem repetida. Seria tempo perdido para os militares. Os governantes da época pensavam nos 'Prós e Contras' "... Repare-se que o certificado é emitido, em 1969, pela Escola Nacional de Saúde Pública de de Medicina Tropical, criada em 1966.

Foto (e legenda) : © António Tavares  (2014). Todos os direitos reservados. (Edição: LG]

_______________



(...) Cumpridos os procedimentos administrativos que antecederam o embarque para o CTIG, como seja a vacinação obrigatória efectuada no Hospital do Ultramar, sito na Junqueira, Freguesia de Alcântara [Lisboa], uma unidade de saúde que, a par do Instituto de Medicina Tropical [IMT], funcionavam na dependência do Ministério da Marinha e Ultramar e que se destinavam a dar assistência médica aos funcionários civis e militares em trânsito, de e para o Ultramar Português, incluindo os casos com doenças tropicais e infecciosas. (,,,) 

(...) Concluído o processo de vacinação sem efeitos secundários e expirados os dias de férias atribuídos no processo de mobilização, eis que é chegado o dia «D» – o da despedida – e, concomitantemente, o da partida aprazada para 23 de Março de 1972, uma 5.ª feira. (...)


(**) Último poste da série > 3 de novembro de 2015 >  Guiné 63/74 - P15319: (Ex)citações (298): Um peso era manga de patacão... para a bajuda de Mansoa (César Dias, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, 1969/71)