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quinta-feira, 7 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1822: Estórias do Gabu (5): Nunca chames indígena a ninguém (Tino Neves)

Região Autónoma da Madeira > Ribeira Brava > Sítio da Encumeada (a 1000 m de altitude > Maio de 2007... Está por conhecer a pesada factura humana e social da guerra colonial que a Madeira e os madeirenses também pagaram...

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados


1. Texto do Tino Neves , ex-1º Cabo Escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71.

Vou contar uma pequena estória, que me veio à memória recentemente (1).

A estória passou-se comigo e um soldado da Ilha da Madeira. Digo já que não tenho nada contra os Madeirenses, apesar de ainda nunca ter ido à Madeira. Tenho, de resto tenções de lá ir um destes dias, pois tenho lá camaradas da minha companhia.

Um determinado dia no ano de 1971, já no Aquartelamento novo de Nova Lamego (Gabu), chegou uma coluna de víveres, de um aquartelamento da zona, já não me recordo de onde). Estando eu na Sala do Soldado (cantina), a comer uma sandes de chouriço e a beber um cerveja, chega um soldado dessa coluna, muito falador. Se não fosse a pronúncia, diria que seria do Algarve (já que os algarvios têm fama de faladores).

Como sou descendente de algarvios, e apesar de ter nascido na Cova da Piedade (Almada), fui baptizado no Algarve (Luz de Tavira). Fiquei por isso curioso em saber de onde ele seria, pois nesse tempo não sabia distinguir um madeirense de um açoriano. Na minha companhia tinha dois camaradas da Madeira, e não falavam assim, daí eu resolver interpelá-lo com a seguinte pergunta:
- Donde é que tu és indígena?

E tive como resposta rápida:
- Vou-te matar! - e nisto sacou de um grande punhal (daqueles à Rambo, com serrilha) e deitou-me uns olhos, que eu fiquei sem pinga de sangue, a olhar para o facalhão.

Se não fossem os camaradas presentes a segurarem-no, ele, julgo eu, que o fazia, mas depois de ser desarmado, eu caí em mim e percebi a razão da sua reacção. Ele deve ter pensado que eu estava a insultá-lo, a chamar-lhe… indígena. Ele deve ter percebido a pergunta deste modo:
- Donde é que tu és, indígena ? – Procurei, por isso, pôr água na fervura, reformulando a pergunta:
- Eu sou indígena de Lisboa, Almada… E tu?

Aí ele acalmou e compreendeu o que queria dizer:
-Ahhhh, eu sou da Madeira!

Depois pediu-me desculpa pela sua reacção, porque não compreendera bem o que eu queria dizer. Eu respondi-lhe que quem tinha de pedir desculpa era eu, porque eu tinha o mau hábito de usar o termo Indígena em vez de Natural. E logo a seguir pedi ao barman mais duas cervejas, que pagava eu.

Moral da estória: nunca deves perguntar a ninguém donde é que é… indígena, principalmente, a quem estiver armado até aos dentes, com facalhão à Rambo e G3 a tiracolo.

Um abraço

Tino Neves

Almada

__________

Nota de L.G.

(1) Vd. post anterior > 20 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1769: Estórias do Gabu (4): O Capitão Comando João Bacar Jaló pondo em sentido um major de operações (Tino Neves)

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1758: Convívios (7) : BCAÇ 2893 (Nova Lamego 1969/71), Figueira da Foz, 26 de Maio de 2007 (Tino Neves)



Mensagem enviada pelo camarada Constantino Neves, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCaç 2893 ( Nova Lamego, 1969/71).



BCAÇ 2893 > CCS/CCAÇ 2617/CCAÇ 2618/CCAÇ 2619 + Pel Mort 2105/Pel Re Daimler




5.º Encontro/Convívio > Figueira da Foz, 26 de Maio de 2007


Quinta de Castros
Serra de Castros - Maiorca
Figueira da Foz



MENU

Entradas > Enchidos grelhados; Salgadinhos

Bufê > Sapateira recheada; Gambas cozidas; Polvo (salada); Ovas; Salmão em espelho; Saladas frias; Bacalhau espiritual; Lombo recheado; Batata assada; Arroz árabe; Sopa de alho francês

Mesas de Doce e de Fruta

BAR ABERTO

Bolo de Aniversário e Espumante

PREÇO: 32,00 € (Crianças até aos 4 anos não pagam, dos 5 aos 10 pagam 16,00€ ).

CONFIRMAÇÃO: Até ao dia 12 de Maio de 2007

PONTO DE ENCONTRO


Concentração em frente à Câmara Municipal da Figueira da Foz, até às 11,30 horas.

NOTA: Agradecia que me confirmassem logo após a recepção desta carta a intenção de estarem presentes, a fim de calcular atempadamente,quantos de vós estareis presentes.


Para os camaradas que ainda não disponibilizaram uma foto, tipo passe ou outra, agradecia que o fizessem, pois é de grande utilidade, para melhor os reconhecer, quando só o nome não chega.
Escrevam no verso o nome, posto e Companhia. Agradecido.

CONTACTO:

Constantino Neves
Telefone: 21 017 32 26
Telemóvel: 93 437 03 52
Endereço de correio electrónico > constantino.neves@gmail.com


Laranjeiro, 23 de Abril de 2007

sábado, 21 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1683: Estórias do Gabu (3): Um capitão, amigo do seu escriturário (Tino Neves)

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAÇ 2893 (1969/71) > Quartel Novo > 1971 > O 1º Cabo Escriturário Constantino Neves nas valas...

Foto: © Tino Neves (2006). Direitos reservados.


1. Texto do nosso camarada Tino Neves (1) a quem agradeço o envio periódico destas pequenas estórias ou croniquetas (2) que nos ajudam a reconstituir ou reconstruir o quotidiano das nossas vidas de caserna, no tempo da guerra da Guiné, há trinta e quarenta anos atrás:


Camarada Luís:

Vou contar um pequena estória passada comigo. Uma noite, estava eu na Vila de Nova Lamego, com a intenção de ir ao cinema. O Aquartelamento do Batalhão, o Quartel Novo, ficava a 1 Km da Vila. Chega junto de mim um jipe, conduzido pelo Soldado Condutor Loupas, pedindo para que o ajudasse a passar a palavra a todos os camaradas, que se juntassem todos junto da porta do cinema, que logo viria uma Berliet buscá-los a todos, porque tínhamos recebido uma mensagem de que vinha em nossa direcção um grupo de turras para nos atacar.

Assim foi. Após todos terem sido transportados para o quartel, o meu Comandante da CCS, o Sr. Capitão Miliciano Herlânder Loureiro Rodrigues, mandou todos irem-se equipar e armar, em seguida formar na parada, que ele os iria distribuir pelas valas e postos ao redor do quartel.
Estando quase todos distribuídos e faltando ainda eu, perguntei:
-Meu Capitão, então, aonde fico eu?
-Tu ficas aqui, porque os turras vêm daquele lado!
-OK, obrigado! - Agradeci.

Enquanto esperamos a chegada dos turras, tínhamos o hábito de, nas valas, estendermos umas tábuas por cima e deitarmo-nos sobre elas, com mostra a foto junto. Estávamos bastante descontraídos a ouvir o som da selva e vozes e palmas de bajudas a cantarolar, ali perto.

Pela minha parte, eu estava com muita atenção - como era hábito, diga-se de passagem, já que não brincava em serviço (quando estava de reforço), nem deixava que fumassem junto a mim e às claras (se o quisessem fumar, teriam que o fazer como eu, abaixar-se dentro da vala e cobrir o cigarro com o quico, para anular o clarão.

A um determinado momento, notei que as bajudas tinham deixado de cantar e que se podia ouvir... o som da selva, em silêncio, para além do ladrar de um cão. De imediato, alertei para esse pormenor o Furriel Miliciano Batista, que se encontrava a meu lado, respondendo-me ele logo de seguida:
- Tens razão, todos para baixo.

Dito isso, passa por cima de nós um roquete (que foi o sinal dos guerrilheiros para o início do ataque), e logo de seguida várias rajadas de balas tracejantes a rasparem a nossa posição, mas logo um soldado condutor que tinha ao seu dispor uma metralhadora Dryse (leia-se Draise), começou logo a disparar e nós, ao ver a sua coragem, de imediato também começámos a disparar as nossas G3. Em poucos segundos estávamos todos tão empolgados, só faltava saltar da vala e ir atrás deles.

Eles não esperavam a nossa reacção tão rápida e comtão grande potencial, pois perto de nós estava uma antiaérea de 4 canos, não me recordo o calibre, mas era um espectáculo de balas tracejantes, 4 canos a disparar ao mesmo tempo!

Acabado o ataque, ficámos todos parados e em silêncio, aguardando possível novo ataque, quando eu novamente reparo nuns vultos a passarem a correr à nossa frente, mas do lado de fora do arame farpado. Alertei novamente o Furriel Batista que de imediato grita:
- Lá vão eles outra vez! - e fizemos fogo e do outro lado ouvimos gritar. Entusiasmados, gritávamos:
-Tomem, seus cabrões...

Nisto aparece o nosso 2º Comandante aos gritos, para que nós não disparássemos, porque era tropa nossa que ia ao encalço dos turras. De imediato o Furriel Batista saltou da vala, todo irritado, quase à beira de um ataque de nervos, gritando:
- Não sabiam avisar, vocês, os profissionais!... Deixarem-nos disparar e atingir os nossos camaradas, que nós bem os ouvimos gritar!...

Graças a Deus que não acertámos em ninguém, eles gritavam a dizer para não dispararmos, que eram eles, tropa amiga.

Enfim, esta estória mostra duas vertentes: (i) a do Capitão, amigo do seu Cabo Escriturário, que escolheu aquele local, julgando que seria o melhor, quando o não foi, porque foi precisamente ali que se iniciou o ataque em grande potencial.; e (ii) e a do Comando, que teve uma grande falha ao não comunicar, via telefone de campanha que todos os postos tinham, para que não disparássemos porque iam sair grupos de combate no seu encalço.

Transcrevo o descrito em Ordem de Serviço:


GRUPO IN, ESTIMADO EM 100 ELEMENTOS, FLAGELOU NOVA LAMEGO DE OESTE (PISTAS E QUARTEL NOVO), COM RPGS 2 E 7 E ARMAS LIGEIRAS DURANTE 10 MINUTOS. AS NT REAGIRAM PELO FOGO E MANOBRA DE INTERCEPÇÃO, TENDO O IN RETIRADO PRECIPITADAMENTE. AS NT SOFRERAM 8 FERIDOS (4 GRAVES) E A POPULAÇÃO CIVIL 4 FERIDOS (1H-3M).

Dia 03/ABR/1971 (2)

Um AbraçoTino Neves
1º Cabo Escriturário
CCS/BCAÇ 2893
Nova Lamego (Gabú)
1969/71
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1146: Constantino Neves, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCAÇ 2893 (Lamego, 1969/71).

(2) Vd. último post do Tino Neves > 5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1647: Estórias do Gabu (2): A Spinolândia (Tino Neves)

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1647: Estórias do Gabu (2): A Spinolândia (Tino Neves)

Texto enviado pelo nosso camarada Tino (Constantino) Neves, ex- 1º. Cabo Escriturário da CCS do BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71) (1).

Camarada Luís

Vou contar uma pequena estória do nosso General Spínola. Das poucas visitas programadas que fez, houve uma,não programada, muito especial.
Um determinado dia, pousou na pista de Nova Lamego, uma DO, e quando o único soldado, que estava de guarda à pista, se apercebeu de quem se tratava, já o General Spínola e o seu guarda costas, um Capitão Paraquedista, estavam junto dele. Apalermado, correu logo para o telefone.
O General Spínola perguntou então ao soldado:
- O que é que vais fazer?
- Vou telefonar ao nosso Comandante, a dizer que o Sr. está aqui!
- Não, não vais ligar, não quero falar com ele, vim aqui falar contigo.
- Comigo???
- Sim, contigo!!!

Spínola falou com o soldado durante 30 minutos, e logo a DO levantou voo.
O soldado então depois disso, ligou então a dizer ao Comandante do Batalhão, o Sr. Tenente Coronel Fernando Carneiro de Magalhães, que tinha acabado de falar com o Sr. General Spínola durante 30 minutos.
O Comandante Magalhães, admirado, pergunta:
- Então e não me avisaste?
- O nosso General não deixou, disse que só queria falar comigo!
- Contigo???
- Sim, comigo!
- Então o que era que ele queria?
- Saber se eu gostava de estar aqui, se comia bem… assim essas coisas.

Conclusão, o General Spínola, da última vez, que tinha visitado Nova Lamego, em visita programada, tinha departado com um quartel que estava um primor, só faltava estar todo embandeirado com pequenas bandeiras de várias cores, e os militares a dançarem o Vira, o Fandango ou qualquer outra dança tradicional portuguesa, para mostrar que estávamos todos alegres e contentes, e satisfeitos por termos nascido.

E o nosso General sabia disso, quando as visitas são programadas. E nós também, tanto que nós dizíamos que não estávamos na Guiné, mas sim na... Spinolândia.

Um Abraço
Tino Neves
1º Cabo Escriturário
CCS/BCaç. 2893
Nova Lamego (Gabú)
1969/71
__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1146: Constantino Neves, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCAÇ 2893 (Lamego, 1969/71).

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1551: Petiscos de caserna (1): Gato e Iguana com Molho de Chabéu (Tino Neves)

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAÇ 2893 (1969/71) > O Tino Neves (1) num restaurante local. A ementa: Frango assado com batatas fritas com molho de Chabéu. Ir à cidade (Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Bissorã, Bissau, Catió...) comer um bifinho com batatas fritas fazia parte do imaginário dos militares portugueses - e em muitos casos era um luxo de quem estava no mato... (LG)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > 1969 > No Zé Maria, comendo lagostins do Rio Geba... A dolce vita dos milicianos da CCAÇ 12, entre duas operações: na ocasião, o Alf Mil Cav Rodrigues (natural de Lisboa, já falecido) e os furriéis milicianos Tony Levezinho e Humberto Reis, nossos queridos tertulianos. A chapa foi batida - salvo erro - por mim, membro assíduo desta tertúlia gastronómica. O pobre do Zé Maria (2), que era tuga, tinha fama de ser turra (por vender vacas, panos, mosquiteiros, bianda, etc., ao PAIGC, com a uma base no noroeste do Cuor, Madina/Bele...). Ele fazia-se pagar caro os lagostins (gigantes), "pescados no Geba em zona de grande risco"... Se bem me recordo, eram pagos a 50 pessos o quilo, o dobro de um bife com batatas fritas na Transmontana, em Bafatá (Um soldado africano, da CCAÇ 12, tinha direito a cerca de 24 ou 25 pesos por dia, por ser desarranchado, além do pré - que eram 600 pesos por mês) (Sobre preços no tempo da guerra, há diversos posts) (3). (LG).


Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.

Texto enviado pelo nosso camarada Tino Neves > Constantino Neves, ex- 1º. Cabo Escriturário da CCS do BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71) (1).


Camarada e Amigo Luís Graça

Mais uma pequena história em homenagem ao esplêndido e saboroso molho feito da raiz da palmeira, o Chabéu (ou Xabéu ? estará bem escrito ?) (4).

Alguém matou um gato com uma pedra, julgo que sem intenção de o matar, mas o facto é que a pedrada foi certeira e o gato morreu. Diante esse facto, houve logo quem dissesse que rico coelho à caçador que isso vai dar. Dito isso, houve logo alguém que se aprontasse para fazer o cozinhado, o 1º Cabo Libório, da CCAÇ 2619, pertencente ao nosso Batalhão.

Eu tive a honra e o prazer de ter sido um dos convidados para essa maravilhosa refeição, apesar de me terem dado a conhecer o que iria comer, eu aceitei de bom agrado pois sou um grande apreciador de coelho. Não me arrependi, pois foi de comer e chorar por mais. A ementa não foi à caçadora, mas sim uma criação própria do Cabo Libório, com batatas e mais alguns ingredientes e o respectivo molho de Chabéu. Uma delícia!

Passados algums meses, alguém foi ao mato fazer uma caçada, talvez ao javali, o certo é que trouxeram para o quartel um animal do qual nem sabiam o que era. Foi pendurado numa trave de madeira, para que todos o vissem, media da ponta do rabo ao focinho talvez dois metros, era maior do que um homem... Era uma iguana!.

E mais uma vez, alguém depois de mexer e apalpar o bicho, disse:
- Isto é tenrinho, deve dar uns bons bifes!

Dito e feito, foram logo chamar o 1º Cabo Libório, o tal da receita do coelho à caçadora, que, apesar de a especialidade dele ser Mecânico Auto, tinha jeito para a culinária.

Mais uma vez tive o prazer de ser convidado. A ementa foi, como não podia deixar de ser, Bife com batatas fritas com molho de Chabéu. Mais uma vez, uma delícia!

Conclusão: Como os Mestres Cozinheiros dizem, o segredo da culinária está nos condimentos (5).

Tino Neves

PS - Tivemos muita sorte, tanto na altura do Gato como da Iguana, de haver batatas no depósito de géneros, e as boas relações que tínhamos com o Cabo encarregue do depósito (também foi um dos poucos convidados para os petiscos de caserna).

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1146: Constantino Neves, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCAÇ 2893 (Lamego, 1969/71).

(2) Vd. post de 18 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1534: Estórias cabralianas (19): O Zé Maria, o Filho, Madina/Belel e um tal Alferes Fanfarrão (Jorge Cabral)

(3) Vd. posts de:

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1286: Estórias de Bissau (4): A economia de guerra (Carlos Vinhal)

1 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXII: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (2) (Luís Graça / Humberto Reis)

28 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXIX: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (1) (Luís Graça / Humberto Reis / A. Marques Lopes / Luís Carvalhido / Jorge Santos)

(4) Termo usado na Giuiné-Bissau: chabéu (do crioulo, tche bém) > (i) fruto do dendezeiro (palmeira que dá o dendê ou coconote); (ii) iguaria à base de peixe pou carne preparada com esse fruto (Dicionário Houaiss da Língua Portugesa, Tomo III, Lisboa, Círculo de Leitores, 2003)

(5) Sobre outros pesticos tipicamente guineenses, vd. posts de:

11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

22 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P897: Pitéus da gastronomia local (Hugo Moura Ferreira)

7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P854: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)

28 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVIII: A tertúlia do Porto (Albano Costa)

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1349: Quartel Novo de Nova Lamego: paredes finas e chapa de zinco (Tino Neves)


Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Gabu (antiga Nova Lamega) > Fevereiro de 2005 > O José Couto entre dois militares das Forças Armadas, no centro da parada do antigo quartel das NT, junto ao monumento de homenagem a Amílcar Cabral (que, por sua vez, é uma canibalização do memorial aos mortos do BCAÇ 2893, que esteve ali sediado entre 1969/71).


Foto: © José Couto / Tino Neves (2006). Foto gentilmente cedida por José Couto (ex-furriel miliciano de transmissões, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71), camarada do nosso tertuliano Tino Neves.



Guiné > Zona Leste > Nova Lamego > 1971 > Placa memorial erguida aos mortos do BCAÇ 2893: "Glória aos mortos"... O resto é ilegível... Depois da independência, a mesma pedra - virada do avesso - passou a conter uma inscrição de homenagem a Amílcar Lopes Cabral, o fundador da nacionalidade, o líder histórico do PAIGC, assassinado em Conacri pelo seu guarda-costas em 1973.


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAÇ 2893 (1969/71) > Cerimónia de Inauguração do Quartel Novo em 31 de Janeiro de 1971 (1)

Fotos: © Tino Neves (2006). Direitos reservados.



Estas eram as valas que do quartel Novo...


Este era um posto de Metralhadora Breda...

Este é o mesmo posto, mas com coberto anti-chuva...


Fotos e texto: © Tino Neves (2006) (1). Direitos reservados.


Todos nós, estivessemos de serviço (o chamado reforço) ou não, antes de irmos para as casernas, passavamos algumas horas, até por volta da meia noite, ou mais, pelos postos ou simplesmente nas valas, porque não nos sentíamos seguros nas casernas antes dessa hora.
A razão era simples: as ditas casernas eram feitas de simples blocos de areia e não sei que mais, o que sei é que não era cimento, porque se esfregassemos um dedo por algum tempo nos ditos tijolos, o dedo atravessava-os, portanto um simples tiro de pistola o atravessaria. E o tecto era de chapa de zinco. Não havia abrigos.

Passo a contar uma estória passada no Posto da Breda que se vê nas fotos (e que por acaso era o posto onde eu normalmente fazia o meu Reforço).
Era numa noite de muita chuva e trovoada, estando eu de serviço no posto da Breda, em companhia do camarada 1º. Cabo Escriturário Campino Ruivinho, e estando muito frio, compartilhámos a mesma manta para nos agasalharmos enquanto víamos impávidos a chuva e os relâmpagos.
De súbito um relâmpago atinge o fio das telecomunicações que estavam suspensos no ar, até ao nosso telefone de campanha, mesmo ao nosso lado. Limitámo-nos a ver o clarão de luz a correr esse mesmo fio até nós, e estoirar o aparelho!... O susto foi tão grande que, quando nos apercebemos, estávamos ambos abraçados um ao outro.

Conclusão: Fizemos figura de parvos. Se fosse um ataque, apesar de ambos sermos Escriturários, agiríamos em conformidade, mas neste caso, manda o instinto.

Sem mais termino agora com um abraço.

domingo, 12 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1272: Álbum de fotografias do José Couto (CCS/BCAÇ 2893) (2): Com saudades de Cacheu para o Joaquim Ascensão

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Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > 14 de Fevereiro de 2005 > Imagens da cidade de Cacheu e do forte quinhentista, recentemente restaurado e reabilitado. O forte, na margem sul do rio Cacheu, no século XVI, dava protecção a uma das mais importantes feitorias no Noroeste da Guiné.. . Álbum fotográfico do José Couto (ex-furriel milicano de transmissões, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego) (1).

Fotos: © José Couto / Tino Neves (2006). Direitos reservados. Fotos alojadas no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


Mensagem, com data de 27 de Outubro de 2006, enviada por Joaquim Ascensão:
 
Fui furriel miliciano nº 07539370. Estive na Guiné desde 22 de Setembro de 1971 até 15 de Dezembro de 1973. Para além do tempo dispendido no IAO, estive sempre em Cacheu, cerca de 25 meses.

Que saudades tenho dessa terra! Tantas boas e más recordações tenho de Cacheu.
A minha companhia participou na segurança à construção da estrada para Teixeira Pinto até à região de Capô. Como diria Camões, foi construida para além da força humana.

Quem me pode falar de Cacheu? Há condições para que se possa visitar? Não abro a caixa de recordações já lá vão muitos anos. Vou tentar enviar algumas fotografias.

Um abraço
Joaquim Ascenção


2. Comentário de L.G.: 

Olha, amigo e camarada, tens aqui umas fotos do José Couto para matar saudades de Cacheu, a região da Guiné mais antiga, em termos de conhecimento e experiência dos portugueses. Nunca andei por lá. Mas os nossos avoengos conheciam-na há mais de 500 anos. Sobre a questão que pões - a segurança -, espero que te mandem algumas dicas, aqueles de nós que por lá andaramn mais recentemente ou que que têm informações mais actualizadas do que eu. Diz-nos qual era a tua unidade e, já agora, fala-nos das tuas recordações, boas e más, de Cacheu. 
Um abraço.
________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 7 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1254: Álbum de fotografias do José Couto (CCS/BCAÇ 2893) (1): Quinhamel

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1146: Tabanca Grande (2): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71)


O Tino Neves: hoje e em 1969.

Fotos: Tino Neves (2006)

Mensagem do Constantino Neves ou Tino Neves, com data de 28 de Agosto de 2006 (1):

Luís Graça:

Há 4 anos atrás, após o meu novo estatuto de aposentado iniciei-me nas pesquisas de informações de tudo o que se relacionava com a Guiné, assim como o contacto dos meus Camaradas de Armas (CCS/BCAÇ 2893).

Como já havia uns tempos que não fazia dessas pesquisas, voltei novamente e, por acaso, entrei no seu Blogue e gostei muito, pois nunca tinha entrado em nenhum Blogue, pelo facto de não ter muito o costume e o dom de escrever.

Gostei muito e gostaria também de dar o meu contributo, contando(ou tentando contar) algumas histórias passadas e vividas por mim em terras da Guiné.

Passo a apresentar-me: Fui 1º Cabo Escriturário da CCS do Batalhão de Caçadores nº 2893, estacionado na Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego (Gabu), desde o dia 22 de Novembro de 1969 a 4 de Setembro de 1971.

Há 4 anos a esta parte tenho organizado os Encontros/Convívios ao nível do nosso Batalhão (que inclui a CCS e as CCÇ 2617, 2618 e 2619), além do Pelotão de Morteiros nº 2105 e o Pelotão de Reconhecimento Daimler nº 2144, a ele agregados.

O próximo Encontro será para o ano que vem, em data e local ainda a designar (o de 2006 já foi em 22 Maio).

Junto envio imagem do Estandarte do BCAÇ 2893, as minhas fotos e os meus dados para contacto:

Nome > Constantino Neves
Local de residência: Laranjeiro / Almada
Telefone > 21 017 32 26
Telemóvel > 93 437 03 52
E-mail > mailto:cfneves@netcabo.pt

Cumprimentos do Camarada de Armas

Constantino Neves

PS - Estou preparando algumas histórias, passadas e vividas por mim em terras da Guiné (1).

_________

Nota de L. G.:

(1) Vd. post anterior.

Guiné 63/74 - P1145: Na fonte... com o Inimigo (ou a água quando nasce é para todos) (Tino Neves, CCS do BCAÇ 2893, Nova Lamego)





Guiné > Zona Leste > Nova Lamego > 1970 > Nascente de água onde se abasteciam as NT, a população local e... os guerrilheiros do PAIGG. O autor desta estória é o da direita, a beber água pela cafeteira. O outro é o soldado condutor Rafael, ambos da CCS do BCAÇ 2893, Nova Lamehgo, 1969/71.

Fotos: Tino Neves (2006)



Texto enviado, em 28 de Agosto de 2006, pelo Tino Neves (ex -1º Cabo Escriturário da CCS, BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71).


Camarada e amigo Luís Graça:


Junto envio uma pequena história passada comigo em 1970. Já estou a escrever outra, que enviarei em breve! Não sou grande artista na escrita, mas espero que esteja compreensível.

Cumprimentos

Constantino Neves

CCS/BCAÇ 2893

Nova Lamego (1969 - 1971)

Comentário de L.G.: Um dia de sorte, ó Tino! Uma boa estória para contar aos netos. Fez-me lembrar a guerra do Raul Solnado. Manda mais, que tens talento. Desculpa só agora ter sido publicada. L.G.


Título: Nascente de água

Distanciada a cerca de 3 a 4 km da Vila de Nova Lamego, existe uma fonte de água fresquinha, com alguma qualidade de pureza, se assim se possa dizer, pois era possível beber directamente da Nascente, e por esse facto tínhamos por costume ir lá abastecermo-nos de garrafões (daqueles de vinho branco, dentro de um cesto de verga com asas), para as nossas casernas e também para os nossos Comandantes.

Eu, como sendo o Escriturário privativo do Capitão Rodrigues, Comandante da CCS do Batalhão de Caçadores 2893, e o Sold Cond Rafael, ficámos incumbidos de quando faltasse água aos nossos Comandantes, iríamos de jipe, com o máximo de garrafões possíveis, abastecermo-nos.

Houve então um dia em que o Rafael, por volta das 6 da tarde, me aparece, já eu na caserna, para que preparasse depressa os garrafões para irmos à nascente. Eu estranhei e ainda lhe respondi:
-É pá, já é muito tarde, daqui a pouco está escuro!- E ele respondeu-me que era num instantinho e só enchíamos os que tivéssemos tempo, para regressar ainda com claridade.

Pois, acedi então a ir porque também estava a necessitar de água nos meus garrafões. Quando lá chegámos, a nascente estava muito concorrida, cerca de uma dúzia de guineenses, a beber e a lavar-se no lago formado pela nascente. Estranhei estar lá tanta gente, mas depressa esqueci esse pormenor, pois eles se tornaram tão simpáticos:
- Eh… pessoal Tubaco, corpo de bó, está jametum?!
- Jarame nane! - respondemos nós, e ajudaram–nos a encher os garrafões, pelo o que nós lhes agradecemos, oferecendo-lhes tabaco. E depois lá regressámos com toda a tranquilidade ao aquartelamento, que ficava no centro da Vila.

Por volta das 23 horas fomos flagelados por tiros de morteiro e armas ligeiras, não havendo quaisquer danos ou baixas, mas no dia seguinte, tivemos conhecimento do local dos lançamentos das granadas de morteiro: sim, era precisamente junto da nascente...

Conclusão obvia, os guerrilheiros do PAIGC não quiseram comprometer a operação deles, capturando-nos, apesar de não terem qualquer dificuldade em fazê-lo, pois estávamos ambos desarmados (nem um canivete!).

Narrador:

Constantino Neves,
1º. Cabo Escriturário
da CCS do BCAÇ 2893
(Nova Lamego, 1969/71)