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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21492: (In)citações (172): Crónica da Guerra da Guiné, segundo um seu Veterano - Parte I (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)

1. Em mensagem do dia 27 de Outubro de 2020, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), enviou-nos um texto a que deu o título: "Crónica da Guerra da Guiné, segundo um seu Veterano", do qual publicamos hoje a I Parte. 


Crónica da Guerra da Guiné, segundo um seu Veterano - Parte I 

Manuel Luís Lomba

O blogue Luís Graça &Camaradas da Guiné constituiu-se o maior e o depositário mais fiel da história da Guerra da Guiné e os milhares de posts e de comentários a sua maior biblioteca e fonte. 

A chamada à colação pelo Jorge Araújo e pelo Luís Graça, no P21421, do livro “Guerra da Guiné: a Batalha de Cufar Nalú”, metáfora aplicada às sucessivas operações contra essa mata, redacção, revisão e edição da minha autoria (inclusive os erros ortográficos, gramaticais e outros), na evocação dos enfermeiros condecorados, incitou-me a evocar esse nosso passado. 

 A “Operação Tridente”, acontecida há quase 60 anos, foi a primeira grande manobra da Guerra da Guiné, o BCav 490 os seus actores principais, as ilhas do Como, Caiar e Catunco o seu palco, foram 72 dias de combates na mata e em campo aberto; a segunda grande manobra foram as Operações “Campo”, Alicate I e II”, a CCav 703 os seus actores principais, o eu palco foi Cufar, a sua malta escavou abrigos em todo o perímetro da sua desmantelada fábrica de descasque de arroz e viveu 63 dias como toupeiras, mais sob a terra que sobre a terra. 

 A “Operação Tridente”, entre Janeiro e Março de 1964, foi a “guerra da restauração” da soberania portuguesa sobre aquelas três ilhas, então a “República Independente do Como” proclamada por Nino Vieira, abandonadas em 1962 pelo fazendeiro Manuel Pinho Brandão, originário de Arouca (constava que passara a fornecedor do PAIGC); as operações “ Campo”, “Alicate I, II,´” e “Razia”, entre Dezembro de 1964 e Maio de 1965, foram a “guerra da restauração” da soberania portuguesa sobre a “área libertada” de Cufar, começada com a ocupação da tabanca e das ruínas da fábrica de descasque de arroz, abandonada pelo fazendeiro Álvaro Boaventura Camacho, madeirense originário de Cabo Verde (patrão e o “passador” para Conacry do então alfaiate e futebolista Bobo Quetá), continuada com a expugnação da base da mata de Cufar Nalu, comandada por Manuel Saturnino Costa, ora aumentada e reforçada com a força retirada do Como, consolidada em 15 de Junho pelas CCaç 763, 764 e 728 (Operação Satan?). 

Ilha do Como (Jan1964) - «Operação Tridente». Desembarque das forças do BCAV 490.
Foto do camarada Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 498 (1963/1965) - P12386, com a devida vénia.

Chãos de balantas e nalus, gente laboriosa e guerreira, essas ilhas e a região continental de Catió eram terras úberes da produção de arroz e óleo de palma, a alimentação base dos guineenses, o “Celeiro da Guiné” e o garante da magra ração de combate dos seus combatentes da libertação, antes de o “espírito filantrópico” do governo do reino da Suécia lha ter melhorado. 

Amílcar Cabral tinha engravidado a Guiné Portuguesa com o sémen da “libertação”, nos mais de 10 anos da diacronia dessa luta armada, outras grandes manobras aconteceram, refiro apenas a “Operação Mar Verde” a Conacry e a escalada da “crise dos 3 G´s”, e o seu aborto terá falhado, mercê da miopia política, militar e diplomática do governo de Lisboa. 

Não se podia fazer nas bolanhas e matas da Guiné o que só poderia ser feito em S. Bento e no Terreiro do Paço, em Lisboa. 

De escalada em escalada a matarmo-nos e a estropiarmo-nos uns outros, a aniquilação mútua não aconteceu, mercê de uma deriva das FA Portuguesas, gerada, nascida e nutrida pela tradicional insatisfação corporativa da classe dos capitães, sob o “manto diáfano” do acrónimo MFA, que, para não a abandonar a Guiné nem como derrotados nem como vitoriosos, passou a aliado do PAIGC, tendo cometido dois pecados originais: primeiro, criou a situação de inferioridade, depois, avançou para as negociações, querendo resolver em Bissau o que só deveria ser resolvido em Lisboa. A política ultramarina foi, mas as FA Portuguesas não saíram derrotadas pelo PAIGC; portugueses houve que se derrotaram a si mesmos… 

Mas as maiores manobras da Guerra do Ultramar são activo do MFA: as aceleradas retracções dos dispositivos, retiradas militares para a Metrópole e a “ponte aérea” da materialização da “Descolonização exemplar” de Angola e Moçambique, que evacuou centenas de milhares de gente multirracial, a força criadora da sua riqueza estruturante, muitos com a roupa do corpo como único bem - os Retornados, para a insurreição/revolução ou os Devolvidos, para os outros. E, por ter degenerado em PREC e endossado a sua guerra ultramarina a outrem (Cuba, etc), o MFA não fez uma “Descolonização exemplar” e protagonizou a maior deslocalização mundial de gente, desde a II Guerra Mundial, só ultrapassada mais de 40 anos depois, pelos fenómenos dos refugiados, vítimas dos “prec´s” degenerescentes da Venezuela e da “Primavera árabe”. 

A par da sua revelação como estratega de alto nível, a partir de 1963, Amílcar Cabral (ora alçado a segundo maior líder mundial de todos os tempos, por um grupo de historiadores (?) a soldo da BBC), revelou também um talentoso criador de fake news militares, a base de sustentação do seu markting de que o PAIGC “libertara” e exercia a soberania em 2/3 da Guiné Portuguesa. Vontade e saber muito, mas verdade pouca… 

Passados 4 meses sobre o fim da “Operação Tridente”, o nosso BCav 705 chegou a Bissau estivado no cargueiro “Benguela”, concebido e equipado para o transporte de gado, e não no paquete “Índia”, erro piedoso da CECA. Entre meados de 1964 e meados de 1965, penamos em duras, demoradas e penosas “operações de intervenção”, por terra, água e ar, nas matas do norte, do sul da Guiné e colhemos duas evidências: a dinâmica doutrinal ou subversão cabralista irradiava por esses quadrantes, mas sem o domínio das suas dimensões territorial e social. A tropa andava (e nomadizava) em todo o lado e era a ela que generalidade das populações recorria. PAIGC significava sofrimento e problemas, a tropa significava segurança e soluções. 

Por que os revolucionários desse jaez são avessos ao sufrágio universal e livre? Porque o Povo não vota em organizações violentas! 

Os 2/3 de “áreas libertadas” não passavam de atoada propagandística. Tal dimensão corresponderia à totalidade das suas massas de água e florestais, isentas da colonização, condomínios da bicharada aquática e terrestre, a sua densidade humana era muito baixa, em crescimento com a instalação de bases revolucionárias e pelo êxodo das populações rurais (a relação da densidade populacional na Guiné seria de 15hab/km2). Teria fiabilidade, muito relativa, se se referisse às áreas colonizadas e habitadas, onde um ou dois dos seus guerrilheiros/sapadores infiltrados iam acrescentando valor de “libertação”, sabotando acessibilidades, equipamentos sociais, aterrorizando as tabancas com chefes hostis e indecisos, flagelando patrulhas e escoltas militares - actividades revolucionárias suficientes para condicionar autoridades, mobilizar meios militares, exponenciais em regra, confinar e condicionar a normalidade da vida a toda a gente. 

Província da Guiné. © Infogravura Luís Graça & Camaradas da Guiné

A partir da “Operação Tridente”, as FA portuguesas passaram a garante da soberania em toda a Guiné, desassossegando os revolucionários por todo o lado, por terra, água e ar, embargando-lhes a conquista e fixação em qualquer tabanca tradicional, sempre vencedoras - menos por combates, umas vezes pela desistência a meio do jogo, outras pela sua falta de comparência. A Guerra da Guiné foi paradoxal. As FA portuguesas nunca derrotadas, mas nunca vencedoras; o PAIGC sempre derrotado, mas nunca vencido. E o vencedor foi o derrotado!... 

A relação do PAIGC com a verdade tornara-se tão impudica que até descuidava o encobrimento das suas grandes mentiras. A sua publicitação do cerimonial da Declaração da Independência ao mundo foi quase fiel: a inospitalidade do local, a hospedagem dos convidados internacionais não com 5 estrelas, mas com todas constelações da abobada celeste, a visibilidade da temeridade e improvisação do evento, ao ar livre, num outeiro periférico à tabanca de Lugajole (a Montanha de Cabral era expressão de caserna e situa-se na Guiné-Conacry), no pico da pluviosidade da estação das chuvas, – a “manobra” para embargar as manobras da tropa, por terra e ar. Mais tarde, o embaixador soviético escreveu que apresentara as suas credenciais ao Presidente Luís Cabral, não sabe onde, num “palácio presidencial” que era uma cabana, a estrutura de troncos de cibes, as ramagens das suas copas a fazer de telhado e paredes… 

O PAIGC agendara a Declaração da Independência para 24 de Setembro de 1973, mês da efeméride do nascimento de Amílcar Cabral, da sua fundação, o Dia Internacional da Paz, e, também, do fim da II Guerra Mundial. A sua logística estava montada na zona de Cubucaré, bem conhecida dos bastidores da ONU, onde, ente 1 e 8 de Abril de 1972, a sua “Quarta Comissão” se hospedara e dependurara a sua bandeira no galho duma árvore, para conceber o relatório probatório de que o PAIGC exercia todas as funções estatais e administrativas na Guiné-Bissau, com base no qual a ONU pronunciou Portugal de seu ocupante ilegal, com 500 anos de efeito retroactivo. Mas, na antevéspera a Força Aérea de Biassalanca foi destruir-lhe a festa…

Assim, os 2/3 de “área libertada” não era apenas retórica, era sofisma de justiça, instrumental à manobra da ONU. “Se possuis, assim possuirás”, jurisprudência do Tratado de Utreque, subscrita por Portugal, em 1713, da Conferência de Berlim, subscrita por Portugal, em 1886, da Sociedade das Nações, subscrita por Portugal, em 1919, em St. Germain-en-Laye, da Carta da ONU, subscrita por Portugal, em 1955. 

Redigido em Conacry e avalizado pela OUA (Organização da Unidade Africana), foi com base nesse relatório que a ONU expendeu a jurisprudência de que, considerando que havia uma dúzia de anos que o PAIGC era o Estado da Gguiné-Bissau, considerando que o domínio português estava de facto limitado a uma estreita faixa litoral da ilha de Bissau, do Geba a Safim (à margem esquerda do canal Impernal), a soberania de Portugal era considerada prescrita, de Facto e de Direito. E Cabral tornou-se um assíduo queixoso à ONU, queixas que nunca domiciliou nos ora mais de 2/3 de “áreas libertadas”, mas em Conacry, de que o Estado exercido a partir de Bissau e presente nos quatro cantos da Guiné, as milícias armadas de autodefesa e os militares portugueses da sua guarnição, porque “iam até o Estado fosse”, eram agressores, ocupantes estrangeiros da Guiné e ameaça à paz mundial (maestria do líder bissau-guineense e nódoa à “terceiro-mundista”, caída no melhor pano do que é a Comunidade das Nações). 

À data da Declaração de Independência, o PAIGC fizera zero de equipamentos sociais e mais não destruíra porque não conseguira, nesses 2/3 de “áreas libertadas”, ao passo que as FA portuguesas faziam guerra, mas também tinham expandido e requalificado a sua rede de estradas, construído cerca de 16 000 casas, 160 escolas, 40 postos médico-sanitários, 56 fontanários, 3 mesquitas e feito 145 furos de água potável… 

Na verdade, as ilhas do Como, Caiar e Catunco, dada a sua condição estratégica de encostadas à Guiné-Conacry, a adesão massiva das suas populações e por necessárias, como celeiro da alimentação dos seus combatentes, terão sido as únicas “áreas libertadas” pelo PAIGC, de curta duração, entre finais de 1962 e princípios de 1964, também porque, naquele tempo, a representação regional da autoridade do Estado sediado em Bissau residia em Catió e o administrador dessa circunscrição militava clandestinamente no PAIGC. 

Tendo provocado o abandono pelos colonos, Amílcar Cabral fez da ilha do Como a mãe de todas as bases no interior sul (a de Koundara, a sua primeira, e as em instalação em Cadigné, Boké e Sansalé situavam-se no estrangeiro), dotou as três ilhas com o efectivo de 400 combatentes, muitos recrutados no seu adversário político MLG (que iniciara a Guerra da Guiné, em Susana e Varela), equipado de armamento ligeiro e pesado de Infantaria, reforçou-os com cooperantes especialistas estrangeiros, protegeu o “espaço aéreo” com metralhadoras antiaéreas Goryunov 7,62 e Degtyarev 12,7, os aviões de pistão e a jacto vindos da Base de Bissalanca passaram a ser atingidos e afugentados, e, no relativo à problemática das acessibilidades marítimas, estava confiante da sua protecção – Sekou Touré acabara de decretar unilateralmente a dilatação das águas internacionais do seu país em 130 léguas. 

Reforçou o comando de Nino Vieira, um dos seus primeiros 12 “discípulos” e o seu mais importante comandante de campo, que tirocinara guerra revolucionária na China e armamento na União Soviética. O governo de Lisboa mandava os seus capitães tirocinar guerra contra-revolucionária em França, tendo por mestres os perdedores no Vietname e na Argélia; Amílcar Cabral mandava os seus básicos tirocinar guerra revolucionária na China, tendo por mestres os vencedores Mao Tse-Tung e generalíssimo Vô Neguyen Giap. 

Resultado: o PAIGC concebeu e executou uma guerra total, a partir das matas e dos campos sobre as povoações rurais e urbanas – e ganhou; as FA portuguesas conceberam uma guerra contra-revolucionária de orgânica convencional, a partir dos povoados sobre campos e matas – e não ganharam. 

A braços com a crise de Angola, o governo de Lisboa deu uma ajuda por omissão, não levantou ondas no relativo à dilatação unilateral das águas, o problema era o PAIGC não a Guiné-Conacry; confiante na utopia do ministro Franco Nogueira da negociação de um tratado de paz e cooperação com a Guiné-Conacry, Salazar deu luz verde à “Operação Tridente”, mas proibiu a violação das suas fronteiras e o exercício do “direito de perseguição”. 

O líder da Guiné-Conacry nem se dignou responder. A “Operação Tridente” afundou nessas águas uma embarcação que transportava militares do exército regular guinéu (seria o União, para o PAIGC e Mirandela, para o seu dono, a Sociedade Ultramarina?) e Sekou Touré absteve-se de se meter com a Armada portuguesa. Saberia que, na batalha do Como, a derrota do PAIGC vinha pelo mar. 

Considerando que essas três ilhas somam pouco mais de 300 Km2 de superfície, a sua efémera “área libertada” estava muito longe dos 2/3, apenas significava 1 % da superfície territorial da Guiné. A verdade que o “polígrafo” da história poderá apurar: a limitação da soberania portuguesa a Bissau e Safim foi uma descarada mentira do PAIGC (a encomenda da ONU?). 

Excerto de uma infografia, relativa à Operação Tridente. Reproduzida com a devida vénia. In: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso: Os Anos da Guerra Colonial, Volumne 5: 1964 - Três teatros de operações. Lisboa Quidnovi. 2009. 17.

Derrota para o cabo de guerra Nino Vieira, o revolucionário Amílcar Cabral fez do fim da “República Independente do Como” um sucesso, a fazer jus às lições que, em 1960, recebera de Mao e do genial generalíssimo Giap (tinha derrotado o poderoso exército francês estava à beira de derrotar a poderosíssima América). Como não podia realizar o I Congresso na Cassacá da ilha do Como - “Operação Tridente” estava no auge -, mas salvou a face: realizou-o em Cassacá, na plataforma continental, entre 15 e 18 de Fevereiro, e ordenou a Nino Vieira a retirada e o acantonamento do remanescente dos 400 combatentes e famílias do Como para as bases das matas do Cantanhez e de Cufar Nalu.

Nino Vieira saiu com os seus companheiros para o Cantanhez, mas deixou no Como meia dúzia de guerrilheiros m/f, como chama residual da sua “libertação”, comandados pelo desenvolto e cabeludo jovem de 20 anos, Pansau Na Isna de nome, e pela amadurecida mulher balanta de “pistola na liga”, Sona Camará de nome, ambos heróis nacionais bissau-guineenses póstumos, que, cumprindo o “flagela e foge”, muito desassossegaram e desgastaram a malta da CCaç 557, subunidade que ficou na quadrícula em Cachile, comandada pelo Capitão João Ares (apelido do deus da guerra da mitologia grega).

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21485: (In)citações (171): Frei Henrique Pinto Rema, OFM, hoje com 94 anos, Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique (2018), autor da "História das Missões Católicas na Guiné" (1982) (João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, Nova Iorque)

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21165: Notas de leitura (1293): “BC 513 - História do Batalhão”, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000 (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Desta edição de autor, com uma tiragem de 300 exemplares, e havendo tanto esquecimento de que a região Sul conheceu a subversão em força a partir do segundo semestre de 1962, conta-se uma saga que muitos desconhecem, é a história de um batalhão que permaneceu no Sul a desbravar terreno, a fundar quartéis, como os de Guileje e Mejo, a confrontar-se com forças bem posicionadas no terreno, deram luta, foram à luta, intimidaram, e tudo isto se passou numa altura em que a guerra evoluía do abatis e da possibilidade de deslocar pelotões de reconhecimento FOX e Daimler até à chegada de armamento mais sofisticado, como os canhões sem recuo e a colocação de minas anticarro por todos os itinerários.
Documento indispensável para o estudo da guerra da Guiné numa região onde tudo nos foi acontecendo desfavoravelmente, sobretudo em 1973, muitas daquelas posições foram sendo abandonadas pela lógica da concentração de recursos, a partir de Spínola.

Um abraço do
Mário


BCAÇ n.º 513, a divisa era “Ceder Nunca” (3)

Beja Santos

BC n.º 513: uma unidade militar destinada a Moçambique, desviada à última hora para a Guiné. Primeiro constituída por uma CCS a que se juntaram Companhias de Artilharia, e depois outros, como Pelotões FOX e Daimler, de artilharia, de morteiros, e algo mais. Coube-lhes o Sul, um Sul ao Deus dará, estamos em 1963, é tudo difícil em Aldeia Formosa e nos seus amplos arredores, há regiões ricas em arroz cobiçadas pelo PAIGC, em Incassol, na região de Forriá, em Campeane, na orla de Cacine, por exemplo. Lê-se esta História do Batalhão BC 513, de Artur Lagoela, edição de autor, 2000, e fica-se com muitíssimo respeito pela sua atividade operacional: reocupação do Chão Fula e captação da população civil, já ocorreu a desarticulação daquela região Sul, com subversão, com instalação de corredores, com assaltos armados às casas comerciais, uma região totalmente controlada (Ganturé, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Campeane) abastecedora do Cantanhez. Ocupa-se Gadamael, cria-se da raiz Guileje, abrem-se itinerários, alguns em condições verdadeiramente épicas, como Cacine – Cameconde. Mas não só, montam-se emboscadas, uma delas dará brado, ocorreu na estrada Aldeia Formosa – Fulacunda no cruzamento de Buba, em Junho de 1964, afugentou-se a força inimiga e capturou-se muito material.

Instalados em condições precárias, conhecedores do modo como o PAIGC opera com agressividade, usando fornilhos e diferentes minas, procura-se intersetar transporte de material, patrulha-se Guileje – Gadamael, reconstroem-se pontões, reocupa-se Mejo, patrulha-se as estradas Mejo – Salancaur e Mejo – Bedanda. Fazendo o ponto da situação de ataques e flagelações entre Novembro de 1963 e Maio de 1965, desde a mais fustigada posição (Cameconde) até aquelas que esse momento tiveram a vida mais aliviada (como Guileje, Mejo, Gadamael-Porto, Cacoca e Colibuia) houve 53 de que resultaram 4 mortos e 15 feridos na tropa e 2 mortos e 10 feridos na população. São tempos irrepetíveis, em Maio de 1964 reage-se em Sangonhá a um ataque potentíssimo, a força atacante retira deixando material. Será assim em Cumbijã, aí viveram-se horas angustiantes. Escreveu-se no relatório: “Cercando a povoação de Cumbijã havia ainda vários grupos IN com metralhadoras e pistolas distribuídos por cerca de 10 grupos colocados na mata cerrada. O IN espalhava-se em leque desde Sul até Oeste. Cerca das 3h20 o ataque diminuíra intensidade até às 4h20. A esta hora recomeçou de novo, com maior intensidade com grandes gritos do IN dizendo: ‘É hoje que entramos, Cumbijã é nossa’. O inimigo proferiu ainda injúrias e asneiras sem fim ditas em português corretíssimo".

É um historial de flagelações, emboscadas sem descanso até ao fim da comissão, na região Sul: Guileje conhece a sua primeira grande prova de fogo de 29 para 30 de Novembro de 1964, o PAIGC ataca em Nhala, em Canturé, tem muita população aderente, como se escreve no relatório: “A população Beafada da região de Antuane desde cedo se ligou ao PAIGC e os Balantas que cultivam arroz nas bolanhas do rio Cumbijã seguiram-lhe os passos. Assim se estabeleceu e foi consolidando um grande conjunto de acampamentos na região de Antuane, apoiado logisticamente nas ricas tabancas existentes ao longo do rio Cumbijã. Tornou-se sempre muito difícil às nossas tropas atingir essas regiões, não só pelas grandes distâncias a percorrer como pela facilidade em impedir os movimentos, bloqueando o ponto de passagem obrigatória de Galo Bobola. Enquanto foi possível circular livremente as viaturas, confiou-se às unidades de reconhecimento da Cavalaria o patrulhamento destas áreas. Depois do aparecimento de minas em larga escala as tropas passaram a andar a pé. De igual forma a região Injassame – Incassol, foi ficando fora de controlo das nossas tropas por os acessos serem muito limitados e facilmente controláveis e a distância a percorrer foi sempre para cima dos 40 quilómetros, ida e volta”.

O histórico enfatiza a operação “Gira” que tinha por missão atacar as bases inimigas na região de Bantaela Silá – Bulel Samba – Dalael Balanta, seriam seguramente poderosas por requereram três colunas, decorreu entre 13 e 15 de Fevereiro de 1965. Temos meios aéreos alvejados, desde helicóptero a T6. No seu relatório o Comandante do BC 513, o Tenente-Coronel Luís Gonçalves Carneiro louva-se no notável comportamento de todos os Comandantes de Companhia, pela abnegação, sacrifício, serenidade e destemor exemplares de todos os militares. Com o BC 513 colaborou o Grupo de Comandos “Fantasmas”, numa operação deslocaram-se de Nhala para Incassol, percorreram a região de Canconté e Bojol Balanta, destruíram casas de mato e grandes depósitos de arroz.

Exerceram a ação psicossocial por intermédio das subunidades do Batalhão, com destaque para o setor de Buba, procurando dar confiança aos Fulas do Forriá, conquistar a confiança dos Nalus de Cacine e das populações dos regulados de Guileje e Gadamael, deu-se assistência a cidadãos da República da Guiné que passaram a procurar regularmente os postos de socorros de Cacoca e Sangonhá. Escreve-se no relatório que foram recuperados cerca de 580 indivíduos até Maio de 1965, estavam refugiados na República da Guiné.

Os últimos meses deste Batalhão foram passados na região de Nhacra, entre Maio e Agosto de 1965. Agradece a colaboração de muitos: às Companhias do BCAV n.º 705, na região de Buba, ao apoio dos paraquedistas em Guileje, aos comandos “Fantasmas” em Buba e Cacine. E assim termina o relatório: “Mas o BC 513 não poderia anunciar todos os êxitos que constam da sua história sem o extraordinário e valoroso auxílio que lhe foi prestado pela Força Aérea. Também as Forças Navais prestaram uma valiosa colaboração, tanto em ações de combate como nos reabastecimentos. A sua presença constante na fiscalização dos rios foi importante para se manterem as possibilidades de acesso a todas as Companhias do Batalhão, cuja ligação por terra foi durante muito tempo impossível”.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21144: Notas de leitura (1292): “BC 513 - História do Batalhão”, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000 (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20299: Efemérides (313): Na Guerra da Guiné, há 55 anos: A emboscada comandada por Osvaldo Vieira à escolta sob o meu comando, na estrada Mansabá-Farim, ao cair da tarde daquele 1.º de Novembro de 1964

1. Em mensagem de ontem, 31 de Outubro de 2019, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) enviou-nos um texto lembrando uma emboscada lavada a cabo no 1.º de Novembro de 1964, a uma coluna auto na estrada Mansabá-Farim, comandada por Osvaldo Vieira.


Na Guerra da Guiné, há 55 anos: 
A emboscada comandada por Osvaldo Vieira à escolta sob o meu comando, na estrada Mansabá-Farim, ao cair da tarde daquele 1.º de Novembro de 1964

A malta do 2.º Curso de 1963 do CISMI – Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, – merecerá o registo da história de excelente colheita.
Começámos em Agosto, saímos Sargentos tirocinados em Dezembro, mas, por “criatividade” dos nossos chefes militares, com o posto de Cabos Milicianos – para fazermos o serviço de Sargento ao custo do soldo de Praça.

Em 4 meses de recruta/especialidade, a “Academia Militar de Tavira” superiorizou 1200 instruendos a Hitler – ele saiu da tropa com o posto de Cabo “chico”.

A minha classificação final foi de 12,26 valores – só não tive notação negativa nos “trabalhos de estrada” – e, 0,2 de valor terão feito de mim o mais infortunado furriel da CCav 703, na Guerra da Guiné: não tive grupo de combate certo, fui obrigado a substituir todos os furriéis operacionais e 2 dos 4 alferes e acabei a comissão como comandante de 2 Grupos de Milícias. O Manuel Simas, que já nos deixou, era o segundo classificado, com 12,24 valores, e, na nossa interacção, se não foi a minha sorte grande foi a sua terminação – era mais capaz que eu.

A primeira substituição foi a do vagomestre, Furriel Aurélio Cunha, que dias após o desembarque baixou ao Hospital Militar 241.
O Aurélio Cunha será um prestigiado repórter, chegou a redactor principal do “Jornal de Notícias” e é autor do notável livro “Um Repórter Inconveniente”, está vivo e recomenda-se; o Manuel Simas será um escultor brilhante nos Estados Unidos, acabou professor no Ensino Secundário em Ponta Delgada e deixou-nos há 2 anos.

E foi no desempenho de vagomestre que eu e mais 11 nos vimos confrontados pelo carismático comandante Osvaldo Vieira e a sua malta, naquela emboscada, – a primeira sofrida pela CCav 703. Até então, apenas havíamos operado cercos, assaltos, etc.
O Comando-Chefe desencadeara a “Operação Confiança”, na sua pretensão de “limpar“ o Oio, à CCav 703 coube a missão do desimpedimento da estrada Mansabá-Farim, que o MLG e não o PAIGC havia pejado de abatises, desde 1962, o primeiro movimento armado independentista da Guiné, com o assalto e a vandalização de Susana, Varela, etc a seu crédito.

Montámos barracas cónicas chamadas “tendas coloniais” num descampado, arredores de Bironque, de dia uns faziam de militares-madeireiros, outros faziam patrulhas operacionais e de reconhecimento por água, em duas noites “embrulhamos” morteiradas de 82 – a sua segunda ou a terceira ocorrência na Guiné.
Levámos apenas atrelado-tanque de 10 000 litros de água, mas em Bironque não havia esse precioso líquido (viemos a saber que Teixeira Pinto se havia queixado do mesmo), não tivemos uma côdea de pão, passámos do rancho quente a rações de combate, as moscas passaram a enxamear o amontoado de marmitas não lavadas e, quando já tínhamos menos dum cantil per capita, o pequeno heli Alouette II das evacuações sanitárias, poisou com o Brigadeiro Sá Carneiro (tio do futuro fundador do PPD). O nosso enérgico Capitão Fernando Lacerda não era dado a tibiezas fizera subir o tom nas reclamações da falta do reabastecimento de água e o Comandante Militar, em vez de nos mandar gerricanes de água mandou-nos a sua presença – mas para admoestar e ameaçar o capitão com uma “porrada”. Mas deixou-nos um ensinamento: - Em tempo de guerra, as marmitas lavam-se com terra…

Nada tive a ver com a “Ordem de Operações” ou o estacionamento em Bironque, mas a sua falta de água sobrara para mim. A Guerra da Guiné também foi assim.
O nosso capitão disponibilizou-me o camião Mercedes, o seu condutor Domingos Pardal e uma esquadra, reforçada com os três elementos da cozinha, deu-me liberdade para acrescentar até 4 voluntários de folga (os outros operacionais tinham uma missão operacional), arregimentei apenas 3 voluntários, formei uma escolta de 12 fiz a lenga da praxe e lá fomos à água ao BArt 645, sediado em Mansabá. Eh, malta! Estou a sentir arrepios, à medida que vou recordando e evocando o acontecido, evidência que temos uma espécie de “disco rígido” que grava para a vida as nossas emoções fortes – o medo, no caso.

Troço da estrada Mansabá-Farim, com o Bironque sensivelmente a meio do caminho
Infogravura Luís Graça & Camaradas da Guiné

O Domingos Pardal dobrou o para-brisas, pusemos os óculos à aviador, tapamos as fuças com os lenços verdes, avançamos para Mansabá, a grande velocidade, levantado e deixando nuvens de pó, recebeu-nos um capitão “águia negra”, murmurou que só um maluco mandaria tão pequena escolta e disse-me, indicando 2 obuses 8.8 apontados para os lados de Bironque: - Vocês acabaram de passar no meio “deles”! A malta “águia negra” foi muito hospitaleira, emprestaram-nos toalhas para o banho, atestaram-nos o atrelado-tanque, abonaram-nos “vianda”, eu aviei meio casqueiro, uma lata de conserva de perdiz das Conservas Brandão e uma “bejeca” gelada.

O comandante de Mansabá mandou um pelotão escoltar-nos até meio do caminho, o seu Unimog avariou em plena mata, gastamos tempo a arranjar maneira de o ultrapassar, a noite tropical é rápida a chegar, o seu alferes disse-nos que o seu comandante permitia que regressássemos a Mansabá – mas a malta de Bironque desesperaria mais um dia sem água!
Como não era uma ordem, levantei os queixos e o olhar aos nossos, não houve reacção negativa, afivelei a máscara de sujeito decidido, saltei para o camião, lembrei-me e repeti a bravata do Henrique Galvão, no caso do Santa Maria: - Prá frente é que é o caminho!

Cerca de um quilómetro depois, desabou uma trovoada de rajadas e de rebentamento de granadas, todos voamos para o chão a ripostar, as balas faiscavam no taipal metálico e chicoteavam-me aos ouvidos, os sacos de areia em parapeito vertiam-na, um soldado dizia que estava cego, e, afortunadamente, as granadas rebentavam do outro lado da estrada. Dada a densidade da mata, os atiradores e granadeiros atacantes estavam-nos muito próximos, mas o outro lado era-nos seguro e campo da explosão das granadas deles.

O condutor Domingos Pardal continuou em 1.ª velocidade, deitara-se e orientava a condução pela porta aberta do seu lado, acelerava com uma mão e guiava com a outra, fiz-lhe o sinal convencional para arrancar e ao cabo da esquadra meu adjunto (lamento não me lembrar do nome) para retirarem a rastejar pela valeta, os atacantes encarniçaram o fogo sobre o camião e eu e mais 3 ficámos uns momentos na retaguarda, a dar segurança. Nesse momento e manobra localizámos os seus ninhos de tiro, os 4 despejamos 2 carregadores cada sobre eles, 160 balas, ouviram-se gritos e ruídos, deduzi que retiravam e também retiramos, a rastejar pela valeta.
 E já o Pardal vinha de marcha atrás com a malta, de regresso à “zona de morte”, porque ficáramos para trás. Rapaziada valente! Ao nosso encontro veio uma coluna de auxílio, comandada pelo capitão. Foram cerca de 10 minutos, que nos pareceram uma eternidade!

Moral da estória: O camião Mercedes, novinho em folha, tinha 17 impactos de bala na cabine, o taipal do lado do ataque estava todo cravado, os sacos de areia do seu peitoril estavam desfeitos, a primeira rajada atirara areia aos olhos daquele soldado, que recuperou, - mas o atrelado-tanque estava intacto!

Troço da estrada Mansabá-Farim em Fevereiro de 1971, pouco tempo após terminado seu asfaltamento. Ainda persiste o pó branco com que era coberto o alcatrão acabado de aplicar.

Foto e legenda: Carlos Vinhal

Sou recorrente nesta narrativa como preito de memória à malta que já partiu e de homenagem à malta ainda subsistente do BCav 705, do BCav 490, do BArt 645, da BCaç 507, do “Capitão do Quadrado”, com quem interagimos no norte da Guiné – no Oio e Morés.

E também não esqueço o Osvaldo Vieira, morto em desgraça, em Janeiro de 1974 e os bissau-guineenses que nos afrontaram de armas na mão, tão convencidos quanto nós, “por uma Guiné Melhor”.
Mereciam melhor sorte!
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20248: Efemérides (312): Mina anticarro em Canturé, regulado do Cuor, 16 de Outubro de 1969 (Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52)

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19943: (Ex)citações (353): Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 1 de Julho de 2019, com uma achega à circunstância da morte de Guerra Mendes:

Citação: (1963-1973), "Jaime Silva (Guerra Mendes)", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43473 (2019-4), com a devida vénia.


Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC

Os ventos semeados pela História transformaram a Guiné em filial do inferno, os combatentes (dos dois campos) em seus diabos, mas as suas tempestades sobraram para o Povo bissau-guineense… 

A carta de Nino Vieira à sua hierarquia contém a evidência que levou o Jorge Araújo, no seu labor, a comunicar que o Comandante Guerra Mendes morreu em 14 de Fevereiro de 1965, na região de Buba/Antuane, no decurso da “Operação Gira”, manobrada pela CCav 702, o Pel Rec Fox 888, o Pel Mort 979 e a CCS do BCaç 513.

Naquele tempo e durante um ano, o BCav 705, aquartelado no Forte da Amura, esteve de reserva às ordens do Comando-Chefe, que investiu a valente malta da sua CCav 702 nessa operação, enquanto investia a sua CCav 703 a nomadizar em Cufar e, durante 65 dias, dormimos no chão, alimentámo-nos de rações de combate e andámos aos tiros com o Saturnino Costa, o Nino Vieira e a sua malta.

Se a memória não me engana (já lá vão mais de 50 anos!), em 10 e 11 de Abril desse ano, nós, a CCav 703 andámos de intervenção naquela região, na “Operação Faena”, em interacção com os Comandos "Os Fantasmas", o Destacamento de Fuzileiros 7, a CCaç 594, o Pel Rec Fox 888 e o Grupo de Milícia do João Bacar, com o apoio duma parelha de aviões de combate T6.

Nesta operação passámos 48 horas, “non stop” ou H24, como diz a malta da Força Aérea, num inferno de tiros e rebentamentos com os endiabrados Nino Vieira, Quebo Mané e a sua malta.

O Pelotão de Reconhecimento Fox 888 operava com a auto-metralhadora Fox “Simone” (de Oliveira) e com o granadeiro Whait e, em conversa com a sua malta, tenho a ideia que tinham abatido o Guerra Mendes (filho) e, duas horas depois, o Guerra Mendes (pai), que tentou vingar a morte do filho com uma granada em cada mão. Ou foi nessa operação ou na anterior.

Bobo Quetá diz que ele(s) eram de Bissau e como ele e o Nino Vieira não cultivavam o rigor pela verdade dos factos, perfilho a versão daquela malta, fã da “Simone”…
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Notas do editor

Vd. poste de 25 de Junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19917: (D)o outro lado combate (50): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - Parte I (Jorge Araújo)

Último poste da série de2 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19736: (Ex)citações (352): In illo tempore, o Alferes José Cravidão, no CISMI de Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18623: (Ex)citações (336): Guerra da Guiné: Paixão e Morte em Madina do Boé (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 6 de Maio de 2018, trazendo-nos uma reflexão sobre a Paixão e Morte em Madina do Boé:


Guerra da Guiné: Paixão e Morte em Madina do Boé

Este escrito é motivado pelo P18585, um testemunho da Guerra da Guiné na primeira pessoa do T-General Pilav José Nico, que aqui invoco como resposta a uns “ historiadores e cientistas sociais”, que se têm feito notar pela pretensão de rescrever a nossa História, à revelia do seu curso e carácter - qual “produto tóxico”, susceptível de adulterar Os Lusíadas em “Os Expansíades”. 


Meus caros: 
Primeiro a gesta dos Descobrimentos e depois a saga da Expansão!

De onde vem esse vento? Compare-se a memória descritiva do cubano Óscar Oramas, embaixador e comissário de Fidel Castro junto do PAIGC, com a do então Capitão José Aparício, comandante da CCaç 1790, contidas nesse post e referidas aos mesmos factos acontecimentais e à tropa nomadizada em Madina do Boé.

A região do Boé foi também um dos “amores” da malta operacional do BCav 705, transferido de emergência para o Leste, em Maio de 1965, e calhou à CCav 704 assentar arraiais em Madina e Béli, comandada pelo então Capitão Fernando Ataíde.
Nove meses após essas operações, em Fevereiro de 1966, ia em trânsito de Bissau para Buruntuma no DO do correio, ao levantar voo em Béli o seu lado esquerdo foi cravejada de balas, os vinte e tal impactos sofridos inutilizaram-lhe o rádio, quase arrancaram o ombro e o braço ao seu furriel piloto, este começou a exclamar “maldição! maldição!”, seguiu-se-lhe o desmaio, comigo, ileso mas na maior das aflições, a tentar fazer um torniquete à abundância da hemorragia, a esbofeteá-lo para o manter consciente; e lá sobrevoamos a linha da fronteira e aterrámos em Buruntuma, quase por gravidade, as nossas fardas de caqui muito ensanguentados – a dele pela gravidade das suas feridas e a minha pelo sangue delas.

Três meses depois, a nossa CCav 704 foi rendida pela CCaç 1416, comandada pelo Capitão Mil.º Jorge Monteiro (que será condecorado com a Medalha de Prata de Valor Militar com Palma), com formação agronómica como Amílcar Cabral, o vencedor de Domingos Ramos, ex-furriel mil.º do Exército Português, um dos mais altos quadros do PAIGC, a desempenhar-se como comandante da Frente Leste, abatido no primeiro momento em que desencadeava um poderoso ataque a Madina do Boé, enquadrado por militares do exército regular cubano, já então responsáveis pelos 4 mortos e muitos feridos graves daquela Companhia.

(Fidel Castro foi o único líder mundial a investir militares do seu exército regular em solo português ultramarino, com a missão de matar soldados portugueses. Sem trazer à colação a sua directa prestação no desastre da descolonização de Angola, merece repúdio o facto de, recentemente, S. Ex.ª o PR e Supremo Comandante das nossas FA´s Marcelo Rebelo de Sousa ter movido mundos e fundos, para lhe ir apertar a mão e o reverenciar…).
 
Quem não se sente não é boa gente.

É sabido que a estratégia de correr a tiro a Europa da África começou a ser preconizada pelos americanos e impulsionada por Lenine, a partir de 1916, que foi o armamentismo e o expansionismo ideológico da União Soviética a patrociná-la, mas que Amílcar Cabral optara por tirocinar a estratégia e táctica para a sua Guerra da Guiné na Academia Militar de Pequim, terá bebido do próprio Mao-Tsé-Tung as lições para transformar a Guiné no “calcanhar de Aquiles” do Ultramar português e bebido do generalíssimo vietnamita Giap a escolha de Madina do Boé, para palco dos eventos decisivos à fundação da Nacionalidade bissau-guineense.

Considerado eufemisticamente como o “Algarve da Guiné”, no entanto sem mar mas com chuvas diluvianas, o Boé (Madina, Beli e Lugajole) tornara-se uma “paixão” na Guerra da Guiné, comum aos seus senhores, o General António de Spínola e o Secretário-geral Amílcar Cabral. Mas enquanto este operara na região (mas além fronteira), com pompa e circunstância e nas barbas da guarnição militar portuguesa, que não usou o direito à perseguição, por razões políticas, a transformação da guerrilha nas FARP, uma espécie de exército convencional, estacionava a sua “roulotte” numa das suas colinas – a colina Cabral – passava lá temporadas, premonitória das suas intenções de Comandante supremo, o Comandante supremo de Bissau operará a sua primeira desistência, com a operação da retirada da guarnição de soberania de Madina do Boé, saldada com 46 mortos dos seus militares, no confronto com o general natural – o rio Corubal.
Retirada da maior transcendência e significado político, porque concedeu ao PAIGC o único território “libertado” de facto, para palco da formalidade da proclamação unilateral da independência da Guiné; e como conquistou Madina do Boé e Béli sem o cerco nem o assalto das suas FARP, o PAIGC transferirá tal manobra para Guidaje, Guileje e Gadamael, abortada sobre Buruntuma.

O alto comandante Osvaldo Vieira, inspector das FARP, também ex-furriel miliciano do Exército Português, delfim e herdeiro político e testamental de Amílcar Cabral, primo direito de Nino Vieira, este a mais alta patente da luta militar do PAIGC, no rescaldo do golpe do assassínio de Amílcar Cabral, viu-se desterrado e acabará os seus dias em Madina do Boé, diz-se que fuzilado nas vésperas da crise dos três G´s (Guidaje, Guileje e Gadamael) à ordem dos seus pares do Conselho Superior de Luta, maioritariamente cabo-verdianos.

O General Spínola tirocinou a guerra na Frente Russa, sob a égide do General Paulus e do exército nazi, e Amílcar Cabral tirocinou-a na Academia Militar de Pequim, privando com Mao e com Giap; a diferenciação abissal entre o pensamento e planeamento militar de ambos na Guerra da Guiné decorrerá dessa contingência?
Amílcar Cabral esforçava-se para chegar a toda a Guiné; ao trocar o vencer pelo aguentar o General Spínola contrariou o mundo darwiniano: o mais fraco sobreviveu ao mais forte.
O abandono da soberania em Madina do Boé pelo General Spínola e a retirada de Guileje pelo Major Coutinho e Lima, serão efeito da mesma causa, não obstante escrutináveis como decisões ao arrepio da disciplina e da lógica militar.


Invoquemos a História: 

Nas guerras Fernandinas, o adiantado-mor da Galiza, General Pêro Rodriguez Sarmiento, montou cerco ao castelo de Monção, na fronteira, com o fim de o fazer capitular pela fome. No seu desespero de causa, a alcaideza Deu-la-deu Martins mandou cozer a fornada do último cereal, atirou os pães aos sitiantes, também dele necessitados, a exclamar: 
- “Tomai perros famintos! E mais vos darei, se o pedires!”. E ele viu-se forçado a levantar o cerco.

Em 1949, “Berlim ocidental” estava para a Europa livre, como Madina do Boé estaria para a “libertação” da Guiné. Os Aliados fizeram abortar o cerco montado pelo Exército Vermelho com uma ponte aérea, que durante um ano os abasteceu de tudo, sem descurar as flores de decoração, gosto tão cultivado pelas mulheres berlinenses.
Em 1999, no decurso do 50.º aniversário desse acontecimento, no aeroporto berlinense de Schonefield, colhi um poster de um avião DC 4 Skymaster, cheguei à fala com um dos seus veteranos pilotos, que me concedeu um autógrafo.


Circunstâncias especiais exigem homens especiais. E de Portugueses sempre os houve.

O post do T.-General José Nico evidencia que, em 1968-69, não obstante a sua mais evoluída estratégia e tácticas, o PAIGC estava a ser empurrado para as cordas da derrota – o momento psicológico desperdiçado para a resolução da Guerra da Guiné, sem vitórias nem derrotas e, sobretudo, sem o abandono. António Salazar, que era estadista, cai, derrotado pela cadeira do forte do Estoril e a cátedra da Universidade negara a clarividência a Marcelo Caetano, que era jurista. O ónus da criação das condições à eclosão da guerra ultramarina e de não lhe pôr termo em tempo útil recai sobre um e sobre o outro.

O PAIGC rearmou-se e ganhou fôlego, enquanto a cristalização da estratégia e tácticas militares criava anticorpos na comunidade castrense e a estagnação do governo de Lisboa faziam engordar as oposições, interna e externas, à guerra ultramarina.
Amílcar Cabral passara a frequentar Moscovo em vez de Pequim e, para reforçar a sua expansão ideológica, numa demonstração que as aviações não ganham as guerras, mas que as decidem, a União Soviética prometeu-lhe a construção de um aeródromo-base militar no Boé dotado de MIG´s, no contexto da sua estratégia, que esbarrará na oposição de Sekou Touré, por lição do assalto a Conacri, sob o argumento que se PAIGC detinha dois terços do território da sua Guiné, teria muito espaço para essa base.
Se os generalíssimos Mao e Giap foram boas companhias, Sekou Touré foi uma má companhia de Amílcar Cabral, eventual portadora da sua desgraça pessoal; o facto de a Guiné-Bissau ter virado em destroço da descolonização será o preço a pagar pelo seu erro de ter preferido, para a sua empresa da libertação, o déspota e sanguinário guinéu ao senegalês Leopold Shengor, culto, democrata e humanista. Amílcar Cabral vivia em contacto tanto com as evidências anti-humanas do colonialismo de Portugal como com as do “socialismo real”, imposto e vigorante na China, Cuba, União Soviética, Europa do Leste, Guiné-Conacri, etc.
Poderá ser entendido como futilidade, mas a história e a evolução da Guiné-Bissau seriam certamente diferentes.

Esse post também evidencia a visão míope da Guerra da Guiné, por parte da liderança do governo de Lisboa.
Por investigação publicada pelo tabanqueiro José Matos, sabemos que o Secretário de Estado da Aeronáutica da altura relatou e instou o governo a dotar as FA de aviões e da panóplia de misseis e antimísseis, já objecto de estudo especializado, compatíveis com o arsenal da parceria da União Soviética com o PAIGC, que tardará 5 anos a fazê-lo, apenas em 1974, “já Inês estava morta”. E não foi por falta de oferta nem de dinheiro - que tudo é capaz de comprar -, como se viu, pela disponibilidade da França, Alemanha, África do Sul e Israel. Não estávamos endividados, o Banco de Portugal possuía quase 1000 toneladas de reservas de ouro, e constituíra uma reserva de 12 meses de divisas de cobertura às importações, garantidas pelo suor e o patriotismo dos portugueses na diáspora.

Pela falta de capacidade, de raio de acção e de letalidade da aviação de Bissalanca, o êxito da acção sobre Conacri resultou parcial e, em 1973, a mesma aviação que impediu ao PAIGC a formalidade da declaração unilateral da independência em Guileje, não tinha capacidade para a impedir no Boé.
Por ironia em que o destino é fértil, será a ameaça desses MIG´s nos céus de Bissau, invisíveis porque não existiam, a precipitar o golpe militar do 25A74…

Que os mortos combatentes dos dois campos da Guerra da Guiné descansem em paz, que os sobrevivos estejam descansados e com a melhor saúde e que o encontro de Monte Real tenha alimentado o corpo e robustecido a alma da sua malta grisalha.
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18488: (Ex)citações (335): a crítica "agridoce" de Mário Beja Santos ao meu livro "Guiné-Bolama, história e memórias" (Fernando Tabanez Ribeiro)

domingo, 18 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18430: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (52): Evocação da minha guerra no Leste da Guiné, para uso da jovem luso-francesa Adelise Azevedo, pela sua dedicação à memória da saga de combatente do seu avô, José Alves Pereira, da CCaç 727 (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 17 de Março de 2018, evocando a sua estada no Leste da Guiné no tempo da CCAÇ 727 do avô da nossa pequena amiga Adelise Azevedo:


Evocação da minha guerra no Leste da Guiné, para uso da jovem luso-francesa Adelise Azevedo, pela sua dedicação à memória da saga de combatente do seu avô, José Alves Pereira, da CCaç 727

A guerra independentista transformara a atractiva, acolhedora e então Guiné Portuguesa numa filial do inferno, Salazar e Amílcar Cabral os seus diabos…

Fui (e continuo a ser) camarada militar do teu avô: partilhámos das mesmas atribulações da guerra, no leste dessa ex-colónia do Império Português.

A Companhia de Caçadores 727 a que pertenceu o teu avô foi para o sector de Nova Lamego (actual Gabú) em princípios de 1964 e o meu batalhão (Batalhão de Cavalaria 705) foi em Maio do mesmo 1964. Amílcar tinha desencadeado a luta na Frente Leste, uma região de savana, e o PAIGC, reforçado com pára-quedistas da base de Kandica, do exército regular da Guiné-Conacri, a 1,5 km da fronteira de Buruntuma, manobrava à maneira de exército e com muito à-vontade, praticamente só importunados pela Força Aérea.

A minha Companhia de Cavalaria 703 foi largada em Nova Lamego, numa ponte aérea de 2 aviões Dakota, em missão de “intervenção às ordens do Comando-Chefe”, já a CCaç 727 e o teu avô penavam, em quase isolamento, por Canquelifá, Piche e Camajabá; depois de termos cumprido conjuntamente a missão de conter e refrear o ímpeto do PAIGC, a minha CCav 703 e eu fomos penar para Camajabá e Buruntuma.

A nossa primeira operação conjunta foi assim: a CCaç 727 mandou um pelotão (cerca de 30 elementos) em 2 Unimogs a Nova Lamego; fizera constar uma missão de reabastecimento, mas era um ardil, o PAIGC caiu nele e investiu toda essa força numa grande emboscada no itinerário Piche-Canquelifá, convencido que o aniquilaria, no seu regresso.


 Itinerário Piche-Canquelifá - © Infogravura Luís Graça & Camaradas da Guiné

Naquela noite reuniu-se-nos em Nova Lamego um grupo de combate do Batalhão de Cavalaria de Bafatá, creio que era o “Sete de Espadas”, dotado de uma autometralhadora Fox e um granadeiro White, formou-se uma força de combate de cerca de 150 amadurecidos operacionais e um comboio de viaturas, que foi escoltar o regresso dessa malta a Canquelifá, com a autometralhadora a encabeçar a coluna e o granadeiro a fechar-lhe a retaguarda.

Um bazuqueiro do PAIGC surgiu no eixo da via, disparou frontal à Fox, matou o seu condutor, quase lhe invertendo o sentido da marcha, foi logo cortado a meio pelo apontador da sua metralhadora 12.7, que continuou a varrer a zona, seguiu-se meia-hora de inferno de rajadas, explosões de granadas de mão e de RPG, visando o blindado e o camião que se seguia; mas o comandante da emboscada não se havia apercebido da dimensão da coluna (creio que seria o nosso ex-camarada Domingos Ramos, herói nacional da Guiné-Bissau) e a tropa infligiu-lhe uma implacável derrota, por uma rápida manobra de contra-emboscada.

O rebentamento das granadas dos bazuqueiros da tropa fazia saltar boinas vermelhas acima do capim, que pertenceriam aos pára-quedistas da Guiné-Conacri; a gritaria dos dois lados foi medonha; a manobra da exploração do sucesso foi diferida; e a Força Aérea encarregou-se de “acompanhar” a sua retirada de vivos, mortos e feridos, até além fronteira. Dizia-se que, a partir desse confronto, o presidente da Guiné-Conacri proibiu os seus militares de voltar a pisar a linha de fronteira.

A ressaca estava terminada e na valeta encontrou-se um atónito guerrilheiro, a tentar desencravar a sua Kalash, que se identificou como ex-soldado e filho de um régulo de Farim e como guerrilheiro por coerção; deu um bom faxina da messe dos Oficiais e a tropa promoveu-o a primeiro-cabo.

O pelotão e os 2 Unimogs regressaram a Canquelifá e a tropa da escolta regressou a Nova Lamego, com um morto e alguns feridos.

Esta narrativa é uma síntese do contado pelos camaradas intervenientes, porque não participei nessa operação: eu e a minha secção fomos destacados a fazer segurança à famigerada jangada do Ché-Ché.



Guiné > Região do Boé > Rio Corubal > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 > A famigerada jangada que servia para transporte de tropas e material, numa  das últimas travessias, aquando da retirada de Madina do Boé. 

A foto, histórica, é do comandante da Op Mabecos Bravios, o então cor inf Hélio [Augusto Esteves ] Felgas (1920-2008). Reproduzida com a devida vénia de Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, n.º 5,  abril-junho 1969, pág. 15 (publicação editada pelo Instituto Camões; o n.º 5, temático, foi dedicado ao "25 de Abril, revolução dos cravos).

 
Entre Maio de 1965 e Maio de 1966, desenvolvemos grande actividade operacional em conjunto, pela região de Canquelifá, Madina do Boé, Buruntuma e ao longo do rio Piai, na fronteira Senegal/Guiné-Conacri, o corredor por onde o PAIGC infiltrava guerreiros e os reabastecimentos para as frentes leste e norte; numa delas, que não nos correu muito bem, tivemos o reforço do Grupo de Comandos “Os Diabólicos”, comandados pelo camarada Virgínio Briote, co-editor do nosso blogue.


Guiné > Brá > Setembro de 1965 > Grupo Comandos Diabólicos, completo, em frente à camarata do Grupo. Ao centro, na 1.ª fila, o 6.º a contar da esquerda, o comandante do grupo, alf mil Virgínio Briote. Na ponta direita, de pé, o srgt mil Mário Valente. Na 2.ª fila, de fé, na extrema direita, o 1.º cabo Marcelino da Mata.

Na altura, nos nossos meios constava as quadrículas de Canquelifá e de Buruntuma, na área de comando de Domingos Ramos, como as mais violentadas e desassossegadas do dispositivo militar da Guiné, em paralelo com as de Guileje e Bedanda, na área de comando de Nino Vieira.

Rendo homenagem à malta da CCaç 727: mocidade fixe, hospitaleira, generosa e soldados de comprovada valentia; em dever, recordo que as nossas escoltas, no regresso de reabastecimentos a Nova Lamego, Bafatá ou Bambadinca faziam sempre alto em Piche: esperavam-nos uma cerveja fresca, um pão quente de excelente qualidade e palavras de incentivo, antes de nos fazermos, com o coração em altas palpitações, ao troço dessa “estrada do Vietname”, até Buruntuma, que era uma sementeira de minas anticarro e antipessoal.

Mas a CCaç 727 era também desafortunada, comparativamente à CCav 703; dizia-se que “por cada tiro cada morto ou ferido”. Nos dois anos que levamos de permanente actividade operacional, teve 18 mortos enquanto a nossa apenas 1 – e estava adido (em Cufar). Influência dos seus comandantes e das suas idiossincrasias?

Na altura conheci o comandante da CCaç 727, então capitão de Infantaria Evónio de Vasconcelos, alma de poeta e oficial de tratamento lhano, já falecido, que virá a ser um influente “capitão”, nos sucessos do 25 de Abril e de 25 de Novembro.

O Comandante da CCav 703 era o então Capitão de Cavalaria Fernando Lacerda, oficial de vocação, personalidade sólida, tinha feito uma comissão na Índia, fez essa e outra na Guiné, foi Comandante da PSP de Moçambique e comandou a segurança à construção da barragem de Cabora-Bassa, despediu-se cedo do activo, mas não se despojou do espírito da Cavalaria; está vivo e recomenda-se.

Quando comandei o destacamento de Camajabá, em Abril/Maio de 1966, interagi com o alferes que comandava o destacamento da CCaç 727, na Ponte Caium, um lisboeta muito prestável, cujo nome não me recordo.

Talvez tenha sido monitor do malogrado alferes da 727, António Angelino Teixeira  Xavier, na 1.ª recruta de 1964, em Janeiro e Fevereiro, no RI 13, Vila Real.

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PS - Se a Adelize (ou a mãe, Isabel Pereirea) me comunicar o endereço postal, terei o gosto de lhe enviar, pelo correio,  o livro sobre a guerra da Guiné, da minha autoria, como oferta. [Imagem da capa, à direita]
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18422: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (51): O nosso camarada Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) propõe-se ajudar a jovem luso-francesa Adelise Azevedo, de 14 anos, com materiais para o seu trabalho de EPI sobre "La guerilla en Guinée (1963/74)"... E quem mais pode dar uma mãozinha?

domingo, 9 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16582: Agenda cultural (505): Apresentação do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", da autoria de Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, dia 13 de Outubro de 2016, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto, Praça da Batalha.


Em mensagem datada de 4 de Outubro de 2016, o nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, dá-nos notícia da apresentação de mais um livro, integrada na 148.ª Tertúlia do 16.º Ciclo de Tertúlias Fim do Império, a levar a efeito na próxima quarta-feira, dia 13 de Outubro, na Messe Militar do Porto. Desta feita o livro é já nosso conhecido, trata-se de "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", da autoria do nosso camarada Manuel Luís Lomba.




16.º CICLO DE TERTÚLIAS FIM DO IMPÉRIO

148.ª TERTÚLIA

PORTO, 13 DE OUTUBRO, 5.ª FEIRA, ÀS 15 HORAS

MESSE MILITAR DO PORTO



"Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", da autoria de Manuel Luís Lomba, ex-Furriel Miliciano da CCAV 703 / BCAV 705, Guiné 1964/66, residente em Barcelos. 

Edição: Terras de Faria.
terrafaria@iol.pt 
Número de páginas: 340
Impresso em 2012
Telef: 253 851 242 e 934 774 330
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16567: Agenda cultural (498): Lançamento do 1.º Volume de "Memórias Boas da Minha Guerra", da autoria do nosso camarada José Ferreira da Silva, dia 14 de Outubro de 2016, pelas 16h30, no Salão Nobre do Mosteiro da Serra do Pilar, na Rua Rodrigues de Freitas, Vila Nova de Gaia, com apresentação do Dr. Alberto Branquinho

Guiné 63/74 - P16580: In Memoriam (265): Manuel Francisco Moniz de Simas, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 / BCav 705 (Guiné, 1964/66) (Manuel Luís Lomba / Carlos Cordeiro)

Estacionamento de Cufar. Patrulhamento encabeçado pelo Furriel Simas
Foto: Manuel Luís Lomba


IN MEMORIAN 

Manuel Francisco Moniz de Simas, 
Bravo Furriel Miliciano da CCav 703/BCav 705, 
1964-66, (Bissau, Cufar, Buruntuma) 

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) [foto à direita], com data de 8 de Outubro de 2016, dando notícia do falecimento de mais um camarada, desta feita, o ex-Fur Mil Manuel Francisco Moniz Simas.

Deixou-nos – faleceu ontem no hospital de Ponta Delgada. 

Apenas pela formalidade da antiguidade, o Simas foi meu “2.º Comandante” das milícias que formamos e instruímos em Buruntuma. Depois, o Comandante da Companhia incumbiu-o de formar e comandar o seu próprio grupo de “comandos” que, pela audácia das suas manobras, dentro e fora da fronteira, provocará o aborto a alguns ataques a Buruntuma. 

Soldado português de primeira água, o Simas era uma alma de artista, com um elevado sentido de humor, um amigo solidário e de lealdade a toda a prova. 

Desmobilizado, fez-se à vida na América, notabilizando-se como escultor em marfim e osso de baleia, acabando a sua vida activa como professor na Escola Secundária de Ponta Delgada.

Descansa em paz, Simas. 
Sentidos pêsames à sua companheira e demais família. 
Manuel Luís Lomba

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Manuel Francisco Moniz Simas
Fonte: Com a devida vénia ao Facebook dos Antigos Combatentes Açorianos


2. Post de Carlos Cordeiro no Facebook dos Antigos Combatentes Açorianos:

Camaradas e amigos.
Acabo de saber do falecimento do amigo e camarada d'Armas Manuel Moniz Simas, membro do nosso grupo ACA.

Natural de Ponta Garça (S. Miguel, Açores), foi aluno da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada.
Era professor aposentado da Escola Secundária Antero de Quental.
Integrava a direcção do núcleo de Ponta Delgada da Liga dos Combatentes.

Não tenho informação relativamente à sua comissão no Ultramar.
Que a sua alma repouse em paz.
Sentidos pêsames à família do nosso camarada e amigo.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16480: In Memoriam (264): Furriel Hugo Abreu e Soldado Dylan Araújo da Silva, que perderam a vida, aos 20 anos de idade, no contexto do 127.º Curso de Comandos, com votos de condolências às suas Famílias e pelo rápido restabelecimento dos que ainda estão internados (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil, CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15810: (Ex)citações (304): Duas Actas e a mesma evidência: Não foram os soldados a falhar na Guerra da Guiné!... (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703)

1. Em mensagem de 28 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705,  Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), afirma, após leitura da Ata da reunião do CEMGFA, Costa Gomes, com os comandos do CTIG, Bissau, em 8/6/1973, que não foram os soldados portugueses que falharam na Guerra da Guiné.


Duas Actas e a mesma evidência: 
Não foram os soldados a falhar na Guerra da Guiné!...



Coutinho e Lima (P15777) Oficial Superior do Exército, veterano de três comissões na Guiné e principal actor da famigerada “Retirada de Guileje” e José Matos (P15731), jovem civil, formado em Astronomia e investigador independente, enriqueceram o acervo histórico deste blogue com as duas actas das duas reuniões de Comandos, no Comando-Chefe das FA da Guiné, no Forte da Amura, que antecederam o colapso da Guiné, documentos eloquentes, de prova de que a sua “descolonização exemplar” não passa de publicidade enganosa: a Guiné não foi descolonizada; foi abandonada…

As guerras são normalmente dirigidas por um “alto comando”, que vai e permanece nos TO, como se desempenharam D. Afonso Henriques, D. Nuno Álvares Pereira, Hitler, Churchill, Marshall, De Gaulle, Giap, etc.

A guerra grande da grande África Portuguesa foi desde o início dirigida formalmente por uma “alta instância” em Lisboa, e finar-se-á sob a alta responsabilidade do Almirante Américo Tomas, marinheiro notabilizado na I e II Guerras Mundiais, seu Comandante Supremo, o Professor Marcelo Caetano, Chefe do Governo de Portugal pluricontinental e o General Costa Gomes, o seu mais alto chefe profissional, no desempenho de Primeiro Soldado de Portugal.

Os actores dos actos da Acta de 18 de Maio de 1973, foram: General António de Spínola, CCFA´s da Guiné; Brigadeiro Leitão Marques, CCAdjunto; Ten-Cor. Baptista Beirão, Chefe da REP/INFO; Ten-Cor. do CEM Pinto de Almeida, Chefe REP/OP e o Brigadeiro Luís Banasol, Comandante do CTIG – que passamos a referenciar pelas respectivas siglas.

Os actores da reunião de 8 de Junho de 1973 são os mesmos, mais o General Costa Gomes, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Portuguesas (CEMGFA) e os Comandantes da Defesa Marítima e do Comando da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde.

A reunião de 18 de Maio aconteceu já as FARP do PAIGC tinham fechado o cerco a Guidage, após 10 dias de renhidos combates, tendo conseguido concretizar o corte das suas acessibilidades; a reunião de 8 de Junho aconteceu com o PAIGC a lamber as feridas da sua derrota militar em Guidaje, retirado para o Senegal pela calada da noite, no rescaldo da retirada de Guileje, Nino Vieira tinha tinha entrado no seu aquartelamento, a bordo do seu tanquezinho e bebido whisky “para uso exclusivo das FA Portuguesas” e já a batalha de Gadamael perdia vigor, a tender para fim idêntico ao de Guidaje – o PAIG a retirar, para onde podia lamber as feridas.

Na 1.ª reunião, circunscrita ao Exército, o CCh explanou: A nossa guerra da contra-subversão e da defesa das populações atingiu um patamar que impõe o reequacionamento do trinómio missão-inimigo-meios.

O CCAdj. informou que o IN preparava condições para a destruição e conquista das guarnições de Guidaje, Buruntuma, Guileje e Gadamael. Como maior receio focou a manobra psicológica da captura massiva de prisioneiros. Testemunhara os seus efeitos devastadores na retaguarda, que levaram os americanos a abandonar o Vietname.

O Chefe da REP/INFO do CCh acrescentou 6 guarnições-objectivo à referenciada manobra do IN, prevendo a intervenção dos seus carros de combate na zona Sul.

O Chefe da REP/OP do CCh expressou-se com objectividade, racionalmente e sem pessimismo, considerando que a maior fragilidade para o futuro da guerra residia na não reocupação do Boé.

O comandante do CTIG reiterou que o seu exército não tinha condições de reocupar o Boé, mas que, com mais algum apoio, nomeadamente da Marinha, poderia apoiar as guarnições objectivo da destruição pelo IN. E o CCh concluiu a expressar a sua preocupação política e diplomática: confrontavam-se com a manobra do IN pela ocupação com fins exclusivamente políticos e promocionais. Não alteraria o dispositivo de superfície e deu 48 horas para os Comandantes-Adjuntos apresentarem a estimativa dos meios necessários, que pediria às “instâncias superiores”.

A 2.ª reunião foi presidida pelo CEMGFA que começou por se mostrar preocupado com os efeitos desmoralizadores da retirada de Guileje, das baixas nas batalhas nos 3 G´s e a elogiar a actuação enérgica do CCh, por obviado em Gadamael o acontecido em Guileje.

O Chefe da REP/OP computou a força do IN em 9000 a 10 000 combatentes, evocou a superioridade do seu armamento, o apoio das FA dos países vizinhos e afirmou a incapacidade para enfrentar a força aérea do IN, estando-lhe referenciados 8 MIG 17 e 6 MIG 19.

O CCAdj. advogou a manobra militar global em profundidade, de acção retardadora organizada, susceptível de permitir uma solução política ao conflito – manobra materializada no retraimento do dispositivo ao longo da fronteira, livrando as suas guarnições da cobiça da sua desactivação.

O Comandante do CTIG corroborou o redimensionamento do dispositivo de superfície, pela economia de forças e realçou a extrema gravidade do previsível ataque aéreo a Bissau, dado que os órgãos vitais da retaguarda e da prossecução da guerra não tinham defesa.

O Comandante da Defesa Marítima corroborou a manobra referida ao dispositivo, manifestando algum receio pelo agravamento das ameaças vindas do mar.

O Comandante da Zona Aérea garantiu que os Strela apenas condicionaram a acção da FA mas que esta perderá a superioridade aérea se o IN estiver dotado de força aérea tão actualizada. Está a favor da remodelação do dispositivo, pela concentração.

Conclusão:
Sintetizada, ante a dimensão e profundidade do tema, muita documentação certamente por desclassificar, um desafio aos investigadores isentos da contaminação ideológica, um repto especial à Fundação Mário Soares (diz-se que respira com dinheiros públicos), para que sobreponha a informação na posse do nosso ex-inimigo, contornando a desculpa de que anda perdida, às suas continuadas ninharias.

Aquela guerra de “contra-subversão e defesa das populações” só podia ser domada, desorganizada e enfraquecida pelo Exército, se toda a sua cadeia de comando enformasse de hierarquias competentes e motivadas – a exemplo do PAIGC. Marinha e Força Aérea não ganham guerras – ajudam a ganhá-las. E que ajuda, sobre a terra e sobre o mar! Em contraposição, o pobre do PAIGC não tinha nem Marinha nem Aviação - e não perdeu…

Em dois momentos, os comandos do Exército evidenciam a mistura da preocupação com o pavor de “contra os canhões, marchar! marchar!” sustentados em notícias, não escrutinadas, a exorbitar o potencial do IN (plausivelmente da autoria do próprio…), que a realidade não se cansará de desmistificar.

- O objectivo a aniquilar era Buruntuma, sobre a linha de fronteira (vivi um ano aí, aboletado na casinha da Guarda Fiscal) e não os três G´s, que distavam alguns quilómetros dessa linha. O insuspeito e nosso grande tabanqueiro António Martins Matos escreveu, neste blogue, que a malta de Bissalanca ousara voar sobre o ninho do PAIGC em Koundara e espatifara-lhes a concentração com umas “bilhas”. O fogoso comandante do Leste, Bobo Quetá, só realizará essa missão, já depois do Acordo de cessar-fogo, ao escorraçar facilmente a maioria da guarnição de Buruntuma...

O Comandante do CTIG receava o ataque aéreo do IN a Bissau, aos órgãos vitais da retaguarda da guerra, apoiava o redimensionamento do dispositivo de superfície e descartou liminarmente a reocupação do Boé, de tão trágica memória. Abramos parêntesis de justiça histórica e ad homine ao Ten-Cor. Pinto de Almeida pela sua serena análise da situação global, sem alarmismos, e pela sua visão estratégica pela reocupação do Boé, como o calcanhar de Aquiles da situação, ante a fase que a guerra estava a atingir, confirmado pela declaração unilateral da independência, seis meses depois; e ao General António de Spínola, pela justeza das suas análises, condescendendo com a sua inversão posterior, consentânea com as fragilidades da idade e o insuperável desgaste físico e mental acumulado, dos 5 anos naquela vida.

- A avaliação do efectivo do IN, em 9000 a 10 000 combatentes acusa um “coeficiente de cagaço” na ordem do triplo, enquanto o aparelho combatente, político, diplomático e “funcionalismo público” do PAIGC nunca atingiu os 4000, no seu conjunto. Em 1973, o efectivo português cifrava-se em 32 035 militares, sendo 25 610 metropolitanos, 6425 naturais (in Guerra em África do Major-General Sérgio Bacelar) e chegava aos 45 000, se lhe acrescentarmos as forças militarizadas - milícias, polícias e em autodefesa.

- Para lançar os ataques aos três G´s, o PAIGC teve de reunir meios e reduzir em 70% a sua actividade bélica no restante território.

- O PAIGC disporia apenas de 2 carros blindados, do género de “chaimite” mais avantajada, um no Sul, utilizado por Nino Vieira e outro no Norte, para utilização de Luís Cabral. O do Sul serviu para Nino Vieira ir beber o seu copo a Guileje e o do Norte será o que mais tarde participou na manobra de cerco e tentativa de golpe-de-mão ao destacamento de Copá, em apoio à retirada dos seus feridos, que os seus 29 defensores rechaçaram, após a deserção dos elementos nativos, neutralizando-o a tiro de morteiro de 60, saga contada neste blogue pelo camarada António Rodrigues.

- Apesar das baixas sofridas no contexto dos 3 G´s, o seu nível atingido em 1973 foi igual ao de 1969, o ano de ouro da Spinolândia…

- A mesma estatística indica que a sua esmagadora maioria foi causada não pelos morteiros 120, os obuses 150, os Katiuskas, etc, mas pela infantaria e sapadores, em emboscadas e minas…

- O Comandante da Defesa Marítima concorda com a manobra referida ao dispositivo militar, sem alarmismo, manifestando algum receio das ameaças vindas do mar. A União Soviética havia dotado o PAIGC de 6 vedetas, rápidas e com autonomia marítima, mas Alpoim Calvão e a sua malta haviam esconjurado a sua perigosidade, afundando-as na Operação Mar Verde.

- O comandante da Zona Aérea diz que a FAP ultrapassara a ameaça dos Strela, as suas aeronaves “rastejariam” sobre a terra e sobre a água sempre que necessário, mas avisa que essa superioridade aérea será perdida, se tão actualizados MiG´s comparecessem a dar-lhes batalha.

Segundo Nino Vieira, Amílcar Cabral havia permanecido muitos dias em Moscovo, conseguido os Strela em desespero de causa, para finais de 1972, convencendo o general russo com a invocação:
- “A nossa luta tem sede e morrerá de sede, se não nos ajudarem; salvem-nos, dêem-nos água, essa água!”...

O PAIGC terá gasto 88 misseis, no contexto da crise dos 3G´s, para obter o proveito de abater 6 aeronaves e nenhum helicóptero, desperdício que o responsável da cooperação russa reportou a Moscovo, com a recomendação do corte de fornecimento.

- A força aérea do PAIGC era tão actualizada, que até foi invisível…

- O CEMGFA fechou a reunião: 

“A Guiné não teria reforços, além dos da lista anexa … A missão continuará a ser cumprida; o dispositivo de superfície reconvertido e adaptado à situação; a imperiosidade de impedir o isolamento de qualquer guarnição, não concedendo ao IN qualquer facilidade de destruição; economizar meios, em favor da dinamização das guarnições, do melhoramento da eficácia no apoio logístico; manter a iniciativa e liberdade de acção.

- E reportará aos pares da “alta instância”, em Lisboa: “A Guiné é defensável”.

Spínola desistirá da luta, em Agosto, não obstante pai nutrício do MFA (o seu embrião foi spinolista, mas perderá rapidamente Spínola), que a oficialidade marxista e comodista criará e engordará, iniciando o seu esplendor em 26 de Abril, no mesmo Forte da Amura, limbo dessas duas reuniões…

Manuel Luís Lomba
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Notas do editor

- Itálicos da responsabilidade do editor

Último poste da série de 6 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15452: (Ex)citações (303): Eu e o marinheiro a bordo de um avião da TAP, a caminho de Lisboa... Um conto do vigário: o 'negócio chorudo' das fotografias do deserto do Sara... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15274: Inquérito "on line" (12): A Guerra da Guiné e os seus comandantes que, de derrota em derrota, propiciaram a vitória final ao PAIGC… (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705,  Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de hoje, 20 de Outubro de 2015:

Viva, Carlos!
Correspondo ao "inquérito" com um texto algo extenso, sem ser exaustivo, referido aos nossos patrões da Guerra da Guiné.

Abraço,
Manuel Luís Lomba


A Guerra da Guiné e os seus comandantes que, de derrota em derrota, propiciaram a vitória final ao PAIGC… 


Comandante Melo e Alvim, Governador entre 1954-56:

A PIDE só se instalou na Guiné a partir de 1958 e Amílcar Cabral, director dos Serviços Agrícolas e Florestais do seu governo, escudou-se no carácter aberto e tolerante desse oficial da Armada para semear os ventos da subversão, aliciando elites, pequena burguesia dos centros urbanos e chefes de tabanca Balantas e Nalús, com a sua boa nova da libertação da suserania de Portugal, enquanto percorria os chãos daquelas tribos, por conta do Estado, na roulotte dos seus Serviços, ao abrigo do Recenseamento Agrícola desse território, elevado a Província Ultramarina Portuguesa, desde 1951.

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Comandante Peixoto Correia, Governador entre 1959-62: 

Entretanto, Amílcar Cabral aderira ao PAI, Partido Comunista da Guiné, fundado por Rafael Barbosa, alcandorara-se ao cargo de secretário-geral e reciclou-o no PAIGC. Em 1960, frequentou a União Soviética com passaporte português, em demanda de apoio e da lavagem ao cérebro, a seguir viajou para a China com Nino Vieira e mais 29 aderentes por si seleccionados, para tirocinar na Academia Militar de Pequim, na qual o próprio também se terá sujeitado a formação acelerada nas tácticas da guerra de guerrilhas (a complementar a formação militar clássica, recebida na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, onde terá atingido a patente de alferes miliciano) e começou a remeter as reivindicações políticas do PAIGC a Salazar.
Naquele ano, a guarnição militar da Guiné tinha o efectivo de 1850 elementos, metropolitanos e locais, na proporcionalidade de 80% e de 20%, respectivamente, que se manterá até ao seu abandono, em 1974.
Emigrou para Conacri, em 1961, contratado pelo governo de Sekou Touré como conselheiro técnico do ministério da Economia Rural e, com recurso à conta bancária da mulher Maria Helena, metropolitana e de família abastada, mandou incendiar a Guiné Portuguesa, em extensão e profundidade, com o corte dos fios da rede telefónica, sabotagem de viadutos, abatizes nas estradas, no norte e no sul, visando a paralisia económica e o isolamento de vilas e tabancas, e duas embarcações de cabotagem foram capturadas, uma à Casa Gouveia e outra à Sociedade Comercial Ultramarina.

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Comandante Vasco Rodrigues, Governador entre 1962-64, e 
Brigadeiro Louro de Sousa, Comandante Militar: 

Em Junho/Julho de 1962, o PAIGC de Conacri, em coligação operacional com o MLG de Ziguinchor, lançaram ataques terroristas a Susana e a Varela, mobilizando centenas de manjacos maioritariamente senegaleses, comandados por Pierre Mendy, de Casamança, ex-sargento do exército francês na guerra da Argélia, enquadrados por 10 instrutores ex-FNLA daquele país. O efectivo da guarnição militar havia crescido para 5070 elementos.
O PAIGC deu início oficial à sua guerra na Guiné em Janeiro de 1963, com o ataque ao aquartelamento de Tite, seguido de outros, no sul, cento e norte, conforme dispositivo táctico e de manobra belicoso, concebido e implementado pelo próprio Amílcar Cabral, em oposição ao dispositivo militar da autoria do ministro da Defesa General Santos Costa e implementado pelo Secretário de Estado do Exército, o então Ten-Coronel Francisco da Costa Gomes. O grupo atacante a Tite procedera de Koundara, na República da Guiné, a sua primeira base recuada, a 150 km de distância do objectivo, para salvar as aparências, enquanto Nino Vieira e Manuel Saturnino Costa regressados do seu tirocínio de Pequim, arvorados em comandantes, à testa de 300 guerrilheiros bem armados e melhor adestrados, apoiados pelo exército regular da República da Guiné, proclamavam as três ilhas como a República Independente do Como, para a primeira sede de governo revolucionário e da primeira assembleia popular - símbolos da Guiné libertada da suserania de Portugal, para financiadores e ONU verem.
Paulo Costa Santos, Comandante da Defesa Marítima, em Bissau, superou a hesitação do Governador e o cepticismo do Comandante Militar, referido à perícia militar portuguesa para enfrentar essa guerra, como o impulsionador da famigerada “Operação Tridente”, levada a cabo nos princípios de 1964, na qual foram investidos 1150 homens dos três ramos das FA, incluindo um grupo de Comandos vindo de Angola, contra as ilhas do Como, Caiar e Catunco. Não obstante a renhida resistência terrestre e antiaérea oposta pelo PAIGC, ao fim de 70 dias, as três ilhas regressaram à plena soberania de Portugal e uma Companhia de Caçadores ficou a nomadizar na ilha do Como. O PAIGC viu-se inibido de instalar o seu primeiro governo na tabanca do Cachile e de organizar a sua assembleia popular constituinte na tabanca de Cassacá, ali ao lado, enquanto os seus insofridos defensores sobrevivos se retiravam para a República da Guiné ou iam continuar a sua guerra para as matas continentais do Cantanhez e de Cufar.
A vigência de mais de um ano dessa República Independente do Como, pela mão militar dos nacionalistas, teve consequências, entre outras, a de Salazar demitir o Governador e o Comandante Militar, criar o posto de Comandante-Chefe, fundido com o de Governador e dilatar-lhe o mandato para 4 anos.
Em 1963, o efectivo do PAIGC seria de 800 elementos, a maioria transitada do bando do MLG que fizera terrorismo nas aludidas povoações balneares do noroeste, enquanto o efectivo da Guiné era de 9650 elementos e atingirá 15194, em 1964. A componente propagandística do PAIGC aproveitou o evento e a sua prolongada resistência para cantar a vitória da batalha do Como, sem que alguma vez os seus chefes militares que a protagonizaram, nomeadamente Nino Vieira, a houvesse reclamado.
Não obstante tantas provas de facto, documentais e ainda vivas, nomeadamente a malta da Operação Tridente agregada à nossa Tabanca Grande, não raro surgem escribas nacionais perseverantes na aculturação do nosso atávico complexo de inferioridade, dando-nos como os derrotados da Operação Tridente, às mãos dessa efémera e mitológica República Independente do Como.

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Brigadeiro Arnaldo Schulz, Governador e Comandante-Chefe, entre 1964-68 e
Brigadeiro Sá Carneiro, Comandante Militar da Guiné:

Na Abrilada de 1961, Arnaldo Schulz, então Ministro do Interior, fora simultaneamente fiel a Salazar e leal aos conspiradores seus pares que, em 1964, o transferiu de Comandante do Norte de Angola para o mais elevado posto na Guiné. Chegámos e ficámos um ano de reserva às suas ordens, e rebentou connosco, em plena época das chuvas, em operações de “cerco, assalto, destruição e limpeza” em objectivos no Oio, Morés, Fulacunda, Cafine, Cacine, Cantanhez, Catió, Cufar, etc. Até Amílcar Cabral se queixava da guerra ofensiva e sem quartel por ele desancada. Iniciou o dispositivo do fecho das fronteiras, designadamente ao longo dos 350 km da fronteira da República da Guiné, instalando forças em Buruntuma, Beli, Madina do Boé, Gandembel, Balana, Guileje, Gadamael, Ganturé, Sangonhá, Cacoca e Cameconde. Com mais de 2 anos de atraso – demasiado tarde. O PAIGC já havia incendiado perto de dois terços da Guiné.
Revelava-se oficial da velha guarda, discreto, que nunca vi de camuflado. Lembro-me de se sentar a meu lado, informalmente, no banco de lona corrido do Dakota, naquele voo madrugador para Nova Lamego, em meados de Maio de 1965, quando fomos dar luta à abertura da frente Leste pelo PAIGC, retirados apressadamente da “Operação Razia”, à mata de Cufar Nalu. Dirigiu-se a pé para o aquartelamento e eu e a minha Secção fomos logo despachados para Cheche, com a missão de montar segurança à fatídica jangada da cambança do rio Corubal.
Proibia terminantemente a perseguição além-fronteiras, direito de que nem sempre abdicamos, inibição que, associada à sua falta de guarnições, favorecia o crescimento exponencial e a perícia guerreira do PAIGC. Era o tempo do devaneio romântico do chefe da nossa diplomacia Franco Nogueira, pela negociação de tratados de não-agressão com os vizinhos. A lógica dos nossos supremos chefes políticos e militares não objectivaria a aniquilação do PAIGC, mas um “policiamento” musculado, susceptível do seu desgaste conduzir à sua desistência. Desperdício dos esforços e sacrifícios dos seus soldados.
Os triunfos dos tácticos após as batalhas são grandes e fáceis as suas análises posteriores. Mas a eloquência dos números do crescimento da guarnição militar da Guiné constitui elemento de prova da escalada da guerra imposta pelo PAIGC e dos nossos ingloriosos sacrifícios, como soldados.

Efectivos:
Ano de 1964 - 15.194
Ano de 1965 - 17.252
Ano de 1966 - 20.801
Ano de 1967 - 21.650
Ano de 1968 - 22.835

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Gen. António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe, entre 1969-73: 

Revelou-se o actor militar mais carismático e exuberante da Guerra do Ultramar. Começou pelo trabalho de casa, com a repatriação dos oficiais profissionais, incompetentes ou acomodados, cultivou a omnipresença no terreno, junto dos combatentes, ganhou jus à adulação de “Homem Grande”, de amigo e protector das populações e criou poderosos anticorpos na corporação castrense. Na linguagem de caserna, a Guiné passou a designar-se como a “Spinolândia”.
Desmantelou a protecção fronteiriça iniciada pelo antecessor, na tentativa de a compensar, potenciando o tal “policiamento” musculado no interior, politicamente correcto, empenhando tropas especiais, recorrente na cobrança do esforço e sacrifício dos soldados e aproximou o PAIGC às cordas da desistência, recorreu não sistematicamente à perseguição além-fronteiras, sendo a mais notável a Operação Mar Verde, sobre Conacri, em finais de 1970, cujo fracasso parcial poderá ser imputa à tibieza da decisão de não ter investido a aviação nessa empresa.
O seu desempenho, a partir do ano de 1972 inclusive, merecerá a acuidade de investigadores e analistas, em ordem à verdade histórica.
Após a sua preterição por Marcelo Caetano, como candidato a Presidente da República nas eleições desse ano, que um núcleo dos seus “rapazes”, fiéis e dedicados oficiais da nova geração - os “spinolistas” -, incentivavam, terá baixado a espada, conluiado com a criação do MFA, subestimado o seu potencial de desagregação das Forças Armadas, e se retirado na expectativa íntima de se poder transformar no De Gaulle da nossa circunstância. Sairá da cena, sem honra nem glória.
A minha admiração, pela sua dimensão de chefe militar, esmoreceu a partir do momento em que este blogue me deu a conhecer a sua comparência em Gadamael em crise, na manhã de 1 de Junho de 1973, e a sua rápida retirada no seu helicóptero, ao rebentar uma violenta flagelação desencadeada pela artilharia pesada do PAIGC. Um Comandante-Chefe e a sua circunstância, a braços com o abandono de Guileje e com a guarnição de Gadamael em debandada em pânico no exterior do aquartelamento, deixaria outro retrato na História, se tivesse aguentado firme, ao comando e a animar a malta, ao lado do Cabo Raposo, do Furriel Carvalho, do Capitão Comando Ferreira da Silva e do punhado de militares de Gadamael, que nunca claudicaram.

Eloquência dos números do crescimento da guarnição militar, como prova de facto da escalada da guerra da iniciativa do PAIGC, em contraste com o sucesso do aludido “policiamento”: 

Efectivos:
Em 1969 - 26.851
Em 1970 - 26.775
Em 1971 - 29.210
Em 1972 - 29.957
Em 1973 - 32.035

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Gen. Bettencourt Rodrigues, Governador e Comandante-Chefe, entre 1973-74: 

Oficial distinto, foi para a Guiné com aura de haver resolvido a guerra de Angola, juntamente com Passos Ramos, Soares Carneiro e mais alguns oficiais. Deslocou-se e calcorreou a “capital” de Madina do Boé, decidido a reformular o dispositivo militar, colocando as posições fronteiriças fora do alcance dos morteiros de 120 do PAIGC – contra o potencial de fogo do IN, abrigar, abrigar!
Em 27 de Abril de 1974, à revelia da autoridade e da cadeia de comando reposta em Lisboa pelo MFA da Metrópole/Junta de Salvação Nacional, o MFA de Bissau desencadeou o seu próprio golpe, prendendo o Comandante-Chefe e desnatando a guarnição das suas principais chefias. Foi o “golpe de Bissau”, no contexto do PREC, de tão má memória.

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Ten-Coronel Mateus da Silva, Comandante-Chefe, entre 27 de Abril a 7 de Maio de 1974:

Oficial de Transmissões, alcandorado pelo MFA da Guiné. Sem História.

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Brigadeiro Carlos Fabião, Alto-Comissário e Comandante-Chefe, entre 6 de Maio e 11 de Outubro de 1974:

Desembarcou em Bissalanca, imbuído da missão de conduzir a Guiné a uma descolonização civilizada, encontrou a situação totalmente minada pelo esquerdismo do seu MFA, mas não teve outro remédio senão alinhar pelo seu diapasão, capitular perante o PAIGC e desempenhar-se como um presidente de comissão liquidatária.
O abandono da Guiné, a forma como as tropas locais foram desarmadas e abandonadas à sua sorte constituem medonha indignidade, uma nódoa na História, a crédito do MFA.
Em 1974, o efectivo de tropas locais era de 6425 elementos, bem preparados, superiorizando o efectivo do PAIGC. Se colocadas num tabuleiro de negociação, tender-se-ia ao compromisso, na expectativa de contribuírem para prevenir que o PAIGC pudesse transformar a Guiné-Bissau num Estado falhado.
Efectivos e a eloquência dos seus números, referidos a 1974: 32.035 referem-se a 1973; os desse serão difíceis de quantificar, dado que, por impulso da componente marxista e comodista do MFA de Bissau, os militares portugueses e os combatentes guineenses passaram a misturar-se…
O camarigo José Martins apresentou números referidos aos operacionais. Os números agora apresentados respeitam os efectivos brutos, colhidos do livro A Guerra em África, da autoria do Major-General Sérgio Bacelar, pags. 137 e 138.

À guisa de conclusão: Se é verdade que a vitória final do PAIGC foi alcançada de derrota em derrota, iniciadas em Tite e consolidadas no Como, temos de reconhecer e render homenagem à capacidade de sacrifício e à valentia da malta do PAIGC, seus comandantes e soldados.

Manuel Luís Lomba
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15272: Inquérito "on line" (11): Sobre o tema Com-Chefes da Guiné, encontrei algumas lembranças e fotos do General Spínola (Ernestino Caniço)