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domingo, 3 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24614: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (3): Bolama, lugar de passagem


Foto nº 1 > Guiné > Bolama > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Abril de 73 > Piscina, da esquerda para a direita; Soutelinho, Costa, Cruz, Paraty e  Gica.

Foto nº 2 > Guiné > Bolama > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Abril de 73 > Da esquerda para a direita: Oliveira, Victor, Gatões (†),  Victor Domingues, Peixoto (†), Cruz, Reis (†),  Costa (†), Carvalho. (Legenda: † já não estão entre nós)


Foto nº 3 > Guiné > Bolama > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Abril de 73 > Piscina, o fur mil Cruz


António Alves da Cruz, ex-fur mil, 
1ª C/BCAÇ 45113/72 (Buba, 1973/74)

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz. Estamos a seguir a ordem cronológica da comissão de serviço na Guiné. Partida do BCaç 4513/72:  Embarque em 16Mar73; desembarque em 22Mar73 .

Após realização da IAO, de 26Mar73 a 22Abr73, no CIM, em Bolama, seguiu, em 27 Abr73, o BCAÇ 4513/72, para o sector de Aldeia Formosa, com as suas subunidades, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BCaç 3852.

A 1ª Comp, após o treino operacional no subsector de Buba com a CCaç 3398, sob orientação do BCaç 3852, passou a reforçar a actividade daquela subunidade no esforço realizado de contrapenetração no referido subsector e depois integrada no seu batalhão, na função de intervenção que lhe foi atribuída, tendo-se instalado, a partir de 17Mai73, em Mampatá. ___________

Nota do editor:

Último poste da série > 30 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24600: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (2): O percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge...

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24581: Facebook...ando (33): António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1.ª CCaç / BCAÇ 4513 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set 1974); vive em Almada


Foto nº 1 > O fur mil António Alves da Cruz, a bordo do T/T Uíge, a caminmho da Guiné. Foi fur mil at inf, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513/72, Aldeia Formosa, Nhala e Buba (1973/74)


Foto nº 2 > O N/M Uíge. O pessoal do BCÇ 4513 embarcou  a 16 de março de 1973 no Uíge. A CCAÇ fez a IAO em Bolama, esteve em Buba e temporariamente em Mampatá, tendo regressado por volta de setembro de 1974.


Foro nº 3 > Almada, Cacilhas, Margueira, Estaleiro da Lisnave, 1970, doca nº 13, 


Foto nº 3 > Guiné > Bolama > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Da esquerda para a direita:  Oliveira, Victor, Gatões (†),  Victor Domingues, Peixoto (†), Cruz, Reis (†),  Costa (†), Carvalho. (Legenda: † já não estão entre nós)


Foto nº 4 > Guiné > Buba (?) > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) > Aspeto parcial de uma formatura


Foto nº 4 > Guiné > Buba (?)  > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (1973/74) >  Em operações


Foto nº 5 > Infografia: os 50 anos do BCAÇ 4513 (1973/74) 


Foto nº 6 > O fur mil António Alves da Cruz,  fotografado no final da comissão, presume-se
  
Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O António Alves da Cruz tem página no Facebook (188 amigos, 15 em comum). Integra também a nossa lista de amigos do Facebook da Tabanca Grande Luís Graça. Ficamos a saber, através da sua página,  que:

Trabalha na empresa Volkswagen Autoeuropa

Trabalhou na empresa Lisnave

Andou na escola Emidio Navarro

Vive em Almada

De Lisboa

Foi fur mil 1.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set1974).


2. Mensagem do editor LG:

António, fazes falta no blogue, como já escrevi no nosso Facebook (Tabanca Grande Luís Graça)... És bem vindo... Tens histórias e fotos para partilhar... És um dos últimos soldados do Império...

Fiz um pequeno apanhado das tuas fotos do Facebook, para uma primeira apresentação da tua pessoa. 

Para ingressares na nossa tertúlia (só fazes parte do Facebook, não do blogue), só preciso de uma foto atual,  tua.. e duas linhas de apresentação (sou o fulano tal, assim, assim...). Como vês, já sabemos algumas coisas a teu respeito. Mas tens, por certo, muitas mais memórias a partilhar dos últimos tempos da guerra  e dos primeiros meses do processo de negociação da independência e da transferência de soberania (março de 1973 / setembro de 1974).

Manda os teus materiais (texto e fotos) por email, é mais fácil: luis.graca.prof@gmail.com

Temos oitenta referências ao teu batalhão, o BCAÇ 4513 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba). 

O primeiro militar da 1ª companhia a integrar o blogue foi o teu camarada Manuel Oliveira.  

Da 2ª companhia, já cá temos o António Murta, ex-alf mil inf Minas e Armadilhas (que tem mais de 90 referências, sendo autor da notável série "Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513"); e ainda o José Carlos Gabriel (ex-1.º Cabo Cripto): ambos estiveram en Nhala, 1973/74.

Há um terceiro camarada, o Fernando Silva da Costa, ex-fur mil trms da CCS/BCAÇ 4513 (imfelizmente já falecido).

Se conheces o nosso blogue, como presumo (já tentaste inscrever-te),  podes ler aqui as nossas regras de organização e funcionamento .  Todos os contactos têm de ser através de um dos emails dos editores. Podes usar o meu, ou o do Carlos Vinhal, os editores de serviço 24 horas por dia... 

Tenho muito gosto em fazer-te sentar à sombra do nosso polão... Temos 879 amigos e camaradas da Guiné, inscritos (infelizmente mais de 15% já morreu, mas continuamos a honrar a sua memória).
 
Aguardo notícias tuas. Um alfabravo, Luís Graça, em nome de toda a Tabanca Grande.
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segunda-feira, 31 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24523: Notas de leitura (1602): "Aldeia Mágica", por Alexandre Faria; Poética Edições, 2019, ilustrações de Ricardo Braz (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
Generosidade não falta a quem escreve esta obra, é entranhado o seu profundo afeto por Bolama, dela mantém gratas recordações e até colabora com a ONG Pró-Bolama. É generoso e didático, para quem se embrenha nesta viagem e nesta utopia teremos súmulas históricas: Cascais, a presença portuguesa em Marrocos, a Mauritânia, a Gâmbia, o Senegal, a Guiné antes da presença portuguesa e depois, os reinos e a cultura Bijagó, as lutas pela independência, dirão que é uma cultura de almanaque, mas para quem pela primeira vez percorre estes itinerários, vai encontrando algumas chaves explicativas e melhor se acompanha um autor devotado a uma causa, é bem patente o seu estado de rendição às gentes e à natureza. E não se ensaia a falar na verdade desse miserando tráfico de drogas que põe a Guiné-Bissau como um Estado internacionalmente desrespeitado, com uma classe política corrupta e insensível à ânsia de desenvolvimento humano que todo o povo reclama.

Um abraço do
Mário



Homenagem a Bolama, uma elegia utópica e a maldita cocaína

Mário Beja Santos

Aldeia Mágica, por Alexandre Faria, Poética Edições, 2019, ilustrações de Ricardo Braz, é um romance de afetos, prenhe de informação sobre diferentes lugares, desde Cascais a lugares guineenses e ao seu passado. O seu autor, que é advogado e presidente do Estoril Praia, de há muito tem uma relação enamorada com Bolama, decidiu brindar essa ternura acumulada com um romance, uma utopia e a denúncia da maldição que persegue a Guiné-Bissau, imiscuída numa rota de drogas, que é um segredo de polichinelo.

Teresa e Daniel constituíam um casal muito feliz, bem posicionado na vida, vivem em Cascais, onde o autor foi autarca durante 20 anos e aproveita a circunstância para dela nos falar e dar uma súmula histórica. Daniel é surpreendido pela notícia da gravidez de Teresa e num instante a devastação de um acidente rodoviário põe termo a esse quadro de harmonia, houvera um violento embate, o condutor responsável desaparecera, a vida de Daniel é um túnel de pesadelo. Bem instalado na sua profissão de consultor, negoceia a sua saída, colocou a casa à venda.

E começa uma viagem sem rumo, procura alívio descobrindo novos horizontes. Segue de Faro para Sevilha, depois de se despedir dos sogros, adquiriu bilhete para Tanger, nova abordagem histórica do relacionamento de Portugal com Marrocos, sente-se atraído pelo deserto, como se tivesse sentido um chamamento espiritual, encaminha-se para o Sara, entra na Mauritânia, lançou-se na autoestrada que o irá conduzir a Nouakchott, abre-se a porta para o Senegal, mas antes teremos mais informação sobre a História da Mauritânia. Atravessou o Parte Natural Diawling perto da fronteira do Senegal e daqui segue para Dacar. Num caminho encontra um cão, será o seu companheiro a partir de agora, chama-lhe Dacar, passa pela Gâmbia e como sempre faz com uma nova localidade dá-nos um resumo dessa antiga colónia britânica. E entra na Guiné-Bissau a partir de São Domingos. E viaja até Bissau.

Instala-se no Hotel Azalai 24 de Setembro, no dia seguinte ruma para Mansoa, sente-se atraído pelo Parque Natural das Lagoas de Cufada, janta em Fulacunda, na mesa ao lado dois pescadores conversam e criticam a atividade devastadora do estaleiro da cooperação japonesa. Metem conversa com Daniel e sugerem-lhe a ida a Bolama. Alexandre Faria tudo descreve com simplicidade, não esconde o fascínio que aquela natureza lhe provoca: “O caminho de Fulacunda até ao final da zona continental empolgou-o pela beleza que exibia, vendo com frequência as entradas de água que se aproximavam da estrada, que permanecia envolta na vegetação autóctone e selvagem, vibrante, parecendo surpreendida pela passagem de uma viatura por ali. Por vezes, a lama adensava-se e a força-motriz do carro era posta à prova”.

Tem agora a ilha em frente, avança, sente-se intrigado com aqueles edifícios com vários séculos de história, degradados há muito, entrega a um certo Emílio a encomenda que lhe fora dada por um daqueles marinheiros com quem conversara, segue-se uma descrição de Bolama, com um claro elogio aos seus recursos naturais e estrondosa beleza. Começa a explorar a ilha, quer compreendê-la, entender os motivos pelo fascínio que ela exerce sobre ele. E começa a nascer a utopia, a organização de uma aldeia feita de cooperação e de entendimento, de justa repartição dos recursos e dos proventos, vão sendo ouvidos anciãos, atraídos os jovens com capacidade organizativa, Daniel vai a Bissau e temos novo aporte histórico, por razões desconhecidas atribui a Bissau o papel de capital em 1836 e 1915, o que é rigorosamente uma falsidade, mas romance é romance, segue-se uma descrição do passado da Guiné do século XII em diante, regressa a Bolama com os jovens João e Vasco definem a localização dos principais edifícios da aldeia para a qual já existe população aderente entusiasta.

Encurtando razões, como quando nos encaminhamos para o melhor dos mundos possíveis, naquele lugar mágico chega um grupo de colombianos, no entretanto o leitor recebeu lauta informação sobre os reinos e a cultura Bijagó. A ameaça desenha-se no horizonte, os colombianos fazem uma proposta, bem sinistra: exigem silêncio total sobre o comércio de drogas que passa ali ao lado e darão apoios como contrapartida, os dinheiros de Daniel caminham para a extinção. Há decisões horríveis para tomar nessa aldeia onde já se alcançou a harmonia social, as crianças vão à escola e os pescadores e agricultores vivem as doçuras de uma economia comunalista. Um comerciante libanês, Saad, que presta ajuda à construção da Aldeia Mágica, pede a Daniel que leve Mateus, uma antiga criança-guerreiro, muito traumatizada.

E Alexandre Faria detalha o negócio da droga:
“A Guiné-Bissau funcionava como uma espécie de entreposto entre a América do Sul e a Europa. As dispersas ilhas dos Bijagós, muitas delas desabitadas, aliadas à falta de meios da polícia marítima guineense, criavam a tempestade perfeita. Pelas informações que circulavam pela capital, cada grama de cocaína podia render cerca de 20€ a um jovem guineense, metade do valor que eventualmente ganhava num mês inteiro de trabalho. Este montante podia aumentar se fosse derretida para a versão cristalizada de crack, mas a principal intenção residia no trampolim da América do Sul para o mundo. Chegada por via aérea até à Guiné-Bissau, cada pequeno avião clandestino transportava cerca de 500 a 600 quilos de droga por carga que pousavam onde podiam. Existindo alguns relatos sobre a presença de elementos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC, os quilos de droga eram posteriormente dissimulados nas arcas frigoríficas e transportados para a capital, prontos para a viagem intercontinental”.

Daniel e os anciãos e os jovens colaboradores vivem este trágico dilema. Quando parecem prontos para capitular, Daniel janta com Pablo, o interlocutor colombiano, é aí que ele sabe quem foi o responsável pela morte de Teresa, e num ímpeto executa o cobarde condutor que fugiu às suas responsabilidades. Vai seguir-se a defesa da aldeia, os colombianos não irão deixar de responder. O autor dá-nos uma resposta bem imaginativa para a resistência guineense, aquela gente desarmada que enfrenta com engenho e arte os bem equipados colombianos, haverá refregas, os traficantes serão forçados a recuar temporariamente, o autor aproveita a circunstância para nos dar uns parágrafos sobre a história da luta armada para justificar certamente a resiliência daqueles velhos que passaram tantos anos a combater de um lado e do outro, aquela resistência a um autêntico exercício de guerrilha que lembra o passado que precedeu a independência da Guiné-Bissau.

Há bastante lucidez nesta gente da Aldeia Mágica, leva consigo um protocolo que todos respeitam, a Carta da Aldeia, os painéis solares e os depósitos de água mais pequenos, tudo é transportado num êxodo, vão-se esconder junto a Buba. Daniel pertence imparavelmente a este projeto, acompanha com satisfação estes guineenses ansiosos de paz e de harmonia e que acreditam piamente na utopia da Aldeia Mágica.

Romance de ternura, como se vê, e onde não se esconde como a Guiné tem todos os requisitos de um Estado-pária, mas onde ainda é possível sonhar que as crianças viverão num futuro melhor.

Monumento dedicado aos pilotos italianos falecidos num desastre aéreo em Bolama, em janeiro de 1931, uma bela fotografia de Francisco Nogueira que deu a capa do livro Bijagós: Património Arquitetónico, Edições Tinta-da-China, 2016
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JULHO DE 2023 > AGuiné 61/74 - P24512: Notas de leitura (1601): "Palavras e Silêncios – Memórias Femininas da Presença Militar no Ultramar", por Ana Maria Taveira, Maria Armanda Taveira e Maria de Fátima Pina; Âncora Editora, 2020 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24488: Historiografia da presença portuguesa em África (377): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
O rei da festa deste texto é o jornalista-cronista que acompanhou Craveiro Lopes em maio de 1955 à Guiné, é a matéria do primeiro volume que aqui se trata, o segundo volume prende-se com a continuação da viagem para Cabo Verde. Inusitadamente, o jornalista Rodrigues Matias sai do registo encomiástico, deixa Craveiro Lopes no altar e saúda a natureza, o feitiço africano entrou-lhe nas veias, como aqui se procura exemplificar. E mesmo quando tem que engalanar o ilustre visitante, a sua prosa parece assombrada, estes dias que já leva na Guiné trouxeram feitiço, ora vejam como termina um verdadeiro vendaval de dança Nalu na receção de Catió: "Um Sol de fogo chameja sobre o terreiro. Os nativos bailam, suando como esponjas espremidas. A três metros de alto, as caraças de trapo e madeira pintada esfuminham-se num turbilhão de poeira e, de cinco em cinco segundos, um rugido de dezenas de milhares de vozes grita vivas a Craveiro Lopes e a Portugal." De Catió, Craveiro Lopes irá a Cufar, regressando a Catió para pernoitar.

Um abraço do
Mário



O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (3)

Mário Beja Santos

Salazar não viajava, mas pôs os seus presidentes da República a visitar parcelas do império. Eleito em 1951, o general, a sua mulher, o ministro do Ultramar e a sua mulher, partem do aeroporto da Portela em 2 de maio de 1955, pelas 7h30 e aterram em Bissalanca pelas 15h locais. É Governador da Guiné Diogo de Melo e Alvim. O jornalista de serviço tece laudas à comitiva e ao séquito político que se vai despedir do presidente da República para esta viagem que não será curta. Fizeram-se obras em Bissalanca para haver uma pista capaz de receber uma aeronave daquele tamanho. Craveiro Lopes visitou demoradamente Bissau, percorreu a desditosa Bolama, atravessa o canal e de São João parte para Fulacunda. Continuamos a acompanhar o relato do jornalista Rodrigues Matias, verificará agora o leitor que ele nos aparece manifestamente inspirado. A ilustre comitiva partiu para São João, tinha então população predominantemente Biafada, temos agora um estirão de 42 km até Fulacunda. Diz-nos que a região é a das mais ricas de caça e, toda a Guiné, abundam aqui os búfalos, as gazelas, as cabras de mato e até os leopardos.

A prosa do narrador esmalta-se:
“A clareira por onde rolam os automóveis, remendada a vermelhões de baga-baga, foi machadada no corpo denso da floresta hidrófila, que ao Sul do Geba avança desde o mar, ladeando lalas e pântanos, através do Forreá, até ao limite das paragens montanhosas do Boé.
Vê-se neve na Guiné. Parece, mas não é. O grande poilão que se ergue no meio da neve, abre, a 40 metros de altura, a sua copa imensa sobre a vegetação que o circunda. E da mancha verde-escura da sua ramaria cerrada sacudida pela brisa, desprendem-se e caem flocos brancos de sumaúma chiada, que cobrem tudo por debaixo, vestindo a terra de brancores de neve…
Ébrios ainda da luz da manhã, que acende fulgurações tremeluzentes, na orvalheira do capim, esvoaçam, às sacudidelas bandos de rolas esmeraldinas, um solitário noitibó rabilongo, a freirinha, e a face laranja, habitantes das clareiras abertas.”


Após esta exuberância inusitada, Craveiro Lopes desembarca e recebe cumprimentos do administrador de Fulacunda, os cipaios apresentam armas, descreve Fulacunda, este nome quer dizer lugar de Fulas, é a região da Guiné mais rica de espécies florestais, estranhamente não tem serrações. Veladamente, tece uma crítica: “Fulacunda ficou sempre um produto de reforma administrativa, com autoridade, mas sem alma que a faça crescer. Deram-lhe, em 1946, um campo de aterragem, um quartel para cipaios e uma fonte pública em lugar aprazível, decorada com um painel de azulejos. Traçaram-lhe, à ilharga, na mesma altura, uma espantosa reserva de caça. No entanto, Fulacunda continua como a descrevemos.” E ficamos a saber que a estrada de Fulacunda vai até Catió. Craveiro Lopes procede à condecoração de quatro régulos, o régulo de Fulacunda ofertou duas pequenas onças, destinadas ao Jardim Zoológico de Lisboa.

Seguiu-se o habitual desfile dos povos da região, apresentando-se em grande maioria os Biafadas de Fulacunda, de São João e do Cubisseco, os Fulas de Buba, os Balantas de Tite e os representantes de grupos menos numerosos. A viagem agora continua rumo a Catió, mas o autor aproveita para fazer uma descrição detalhadíssima dos Biafadas, com base no trabalho do administrador Octávio C. Gomes Barbosa, intitulado “Breve Notícia dos Carateres Étnicos dos Indígenas da Tribo Biafada” publicado no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, N.º 2, 1946.

Já chegámos a Catió, é sede de circunscrição. E vamos aprender com o relato do nosso jornalista. Catió nasceu da teimosia de um comerciante, de nome Abel Gil de Matos, mas a história de Catió vem de mais longe, vem do século XIX e da China. O que se segue já mereceu escritos do nosso saudoso António Estácio e do investigador Philip Havik. Vamos aos factos. Dois chineses, acusados de crime de homicídio e jogo clandestino, depois de condenados vieram para aqui desterrados. E o autor esclarece que a Guiné continuava então a ser uma verdadeira terra de degredo, bom local para desterro de assassinos. Pois bem, os dois chineses dedicaram-se à pesca, adquiriram embarcações e ganharam intimidade com os nativos, tendo-lhes pedido informações de terras que pudessem cultivar. Terão assim obtido a revelação de que no continente, subindo um grande rio até a umas terras mal conhecidas se encontravam enormes extensões de boa terra inundada, onde era abundante a produção do arrozal. Começava assim a sua aventura, cultivaram e foram bem-sucedidos. Depois, correu fama entre os Balantas de algures, no Tombali, a terra era milagrosa e produzia ouro sobre a forma de arroz.

Bissau e Bolama pasmaram com a qualidade do arroz do Tombali, cabo-verdianos e europeus pediram concessões de terrenos. Instalou-se um posto administrativo em Sugá, mas um comerciante discordou do local e assim nasceu Catió, hoje povoado de primeira, tem estação radiotelegráfica, delegação de saúde, capela e escola missionária, bem como recinto de jogos. Ponto curioso é haver povoados na circunscrição com nomes de inconfundível sabor chinês, como é o caso de Com-Hane.

Baseando-se no relato do ex-governador Carvalho Viegas, de sua obra Guiné Portuguesa, o jornalista faz-nos uma descrição do povo Nalu, dado o facto da circunscrição de Catió ser o chão característico dos Nalus. O jornalista já pôs de parte os seus enleios de prosador esmerado, agora o que pesa é o estilo noticiário. “Ao desembarcar do automóvel presidencial no topo da artéria, uma espécie de loucura coletiva se apossou daquelas dezenas de milhares de pessoas, que irromperam em vivas e palmas.” Craveiro Lopes entregou o seu retrato encaixilhado aos quatro régulos da região.

Estamos perante um jornalista que gosta da etnologia e da etnografia, a descrição que se segue é a observação das danças Nalus, é uma escrita empolgada:
“Os marinheiros tinham assentado no terreno as suas marimbas, em bataria, e percutiam-nas elevadamente, conduzindo os pés dos bailarinos em paralelo á dança das baquetas saltitantes. Lembravam executantes de ‘mssau’ zavala, acompanhando a contracanto a narração de pecados de amor que atraíssem sobre a tabanca as iras das divindades.
E dois bailarinos de exceção, os campós, metidos em saiões de monstros encimados de caraças horrendas varriam o terreno em fúrias de rodopio estonteante. Uma das caraças, vagamente sugerindo cabeça de cavalo, com cabeças amarelas de tachas luzindo ao Sol e riscos de zarcão circundando os olhos por sobre uma bocarra de alvaiade e lama, erguiam-se a mais de 3 metros, gesticulando hieróglifos macabros de ameaça, de espanto, de ataque e de fuga, de raiva e de medo.
Era a grande máscara da dança Nalu, aterrorizando os espíritos maus que vagueiam pelos matos do Tombali, para que o pavor os confunda e os afaste do trilho dos passos do Homem Grande, em cuja honra pipilavam as marimbas da tribo e dançava em festa o povo das suas tabancas.
Depois, entrou em cena a formação dos grandes tambores Nalus, presos à cintura de mais bailarinos, cuja fila executa marcações de reta, de círculo, de arco e de triângulo. As macetas batem na pele de todos os bombos ao mesmo tempo, ao ritmo lento de um comando que ninguém sabe de onde vem, e que faz a todos os dançarinos avançar a perna direita, fletir o joelho esquerdo, executar um golpe de rins, jogar a cabeça para trás, avançar ou recuar um passo. Conjuntamente, corpos e tambores executam a pancada uníssona, coletiva, lenta como o desespero. Depois, a fila faz repentinamente meia-volta e gira em sentido oposto. O ritmo das macetas acelera. Os tambores agitam-se, a golpes de rins mais frequentes.
E o cavalão-caraça, montado sob o bailarino estrela que obedece às marimbas, entra de novo em cena, faz vénias aos tambores e manda-os a anunciar aos longes, por bolanhas e matagais, que o Homem Grande chegou à terra dos Nalus e traz consigo a paz e a alegria e a fertilidade dos arrozais de Catió.”


E digam-me lá se este jornalista não estava verdadeiramente inspirado, a gravar as suas emoções para uma literatura luso-guineense.

Os dois volumes respeitantes à viagem de Craveiro Lopes à Guiné e Cabo Verde, Agência Geral do Ultramar, 1956
General Craveiro Lopes
Diário da Manhã de 11 de maio, general Craveiro Lopes junto da estátua de Nuno Tristão, imagem do Museu da Presidência, com a devida vénia
Placa evocativa da visita de Craveiro Lopes durante a construção da ponte sob o Corubal, maio de 1955, imagem de Albano Costa, com a devida vénia
1.ª página do Diário Popular de 7 de maio de 1955
De Bolama para São João
De São João para Fulacunda

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24472: Historiografia da presença portuguesa em África (376): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24484: Notas de leitura (1598): "Memórias Duma Vivência em Ambiente de Guerra", por José Inácio Sobrinho; Edição de Autor, 2019 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Março de 2022:

Queridos amigos,
O José Inácio Sobrinho partiu no final de 1955 para Macau e até 1975 andou por Cabinda, Bedanda, Bolama e depois teve duas comissões em Angola, no Leste e no Norte. A caminho dos 90 anos, abraçado anda à causa ambiental, como aqui se refere, deixa-nos um punhado de memórias, passou dezasseis meses em Bedanda, não teve dificuldade em perceber que cabo-verdiano não ligava muito bem com guineense, via-se à légua a exploração na compra dos balaios de arroz e guarda silêncio sobre as suas operações. Bem interessante é o que nos diz de Macau e de especificidade de Cabinda. Bom seria se tivéssemos o José Inácio Sobrinho na nossa tabanca, é um papa-léguas que deve ter malhado das boas no Sul da Guiné.

Um abraço do
Mário



Memórias de José Inácio Sobrinho, militar que andou por Macau, Cabinda, Bedanda, Bolama e Angola, é agora um octogenário ambientalista

Mário Beja Santos

É uma edição de autor, com data de 2019, José Inácio Sobrinho começa assim: “Vim ao mundo no dia 14 de dezembro de 1933, na aldeia do Casal da Areia, freguesia de Salir de Matos, concelho de Caldas da Rainha. Aos cinco anos de idade fui para a escola, de onde saí aos nove, para ajudar os meus pais com nas tarefas do campo. Como quase todos os jovens saudáveis do meu tempo, aos vinte anos fui para a tropa. Aí, desejoso de conhecer outras paragens, aceitei um convite para prestar serviço militar em Macau”. Embarca em finais de 1955 a bordo do Quanza, rumo ao Mediterrâneo, o Coronel Nasser fazia finca-pé para nacionalizar o Canal do Suez, numa atmosfera quase de guerra atravessaram o canal, depois o Mar Vermelho, depois Goa, aportam em Mormugão, depois Singapura, chegam a Macau no início de fevereiro. Era monitor nas alas regimentais, os seus instruendos vinham de Moçambique: Landins, Macuas e Macondes; esteve dezoito meses na ilha de Coloane, foi depois transferido para a Fortaleza do Monte, em Macau, matriculou-se no Liceu Infante D. Henrique, concluiu em 1961 o curso geral dos liceus. Faz o seguinte comentário: “A impressão que trouxe sobre os chineses é de que são um povo trabalhador, pacífico e pragmático. Cada um zela pelos seus interesses, faz a sua vidinha, deixa os outros em paz e não vive à custa do alheio. As numerosas comunidades chinesas espalhadas pelo mundo dão disto um testemunho. Têm, no entanto, quanto a mim, um pequeno senão: viciam-se no jogo muito facilmente”.

Na viagem de regresso já se pressentia a invasão indiana, visita o Vale dos Reis no Egito, vem a bordo do navio Índia. A 13 de julho de 1962, oito meses depois de ter regressado de Macau, embarca com destino a Cabinda, colocado no BCaç 248, não resiste em contar ao leitor o Tratado de Simulambuco, a importância que ele tem para os cabindas, ainda hoje, não se cansa de exaltar as belezas da Floresta do Maiombe. Regressa a Lisboa no dia de Natal de 1963, casa e passado pouco tempo é enviado para a Guiné, para Bedanda, onde passou seis meses, não esqueceu as casas comerciais, as trocas em que a moeda era o balaio de arroz. “As casas comerciais recebiam o arroz e em troca forneciam panos e outros bens de primeira necessidade. De vez em quando vinha uma ordem para destruirmos as tabancas daqueles que estavam autorizados a fazer comércio connosco. E de vez em quando, estupidamente, lá iam uns quantos para o galheiro”.

Tece a seguinte observação: “Encontramos numa povoação panfletos em que ele [Amílcar Cabral] recomendava aos seus guerrilheiros que se capturassem algum soldado português não o maltratassem, referindo que também os soldados portugueses eram vítimas da política colonial portuguesa, o que demonstrava ser credor de alguma humanidade. Só quem desconhecia em absoluto a realidade da Guiné é que poderia acreditar que seria possível o estabelecimento de um Estado que englobasse a Guiné e Cabo Verde, visto a animosidade patente que os guineenses nutriam para com os cabo-verdianos, por estes já ocuparem, desde há muito tempo, grande parte dos postos na Administração local e não só. Era como se trocassem um colonizador por outro”.

Permaneceu dezasseis meses em Bedanda, foi transferido para Bolama, e ficou-se por aqui quanto a comentários guineenses. Regressa a Portugal em agosto de 1967, um ano e pouco depois foi de novo mobilizado para a Angola, fazendo parte do BCaç 2878, foram-lhe atribuídas funções que lhe permitiam o acesso a documentação sobre a evolução da guerrilha no Leste de Angola, e deixa cair a seguinte observação: “Se tentarmos fazer uma comparação com a situação que se vivia naquela zona (Huambo) com a da Guiné, era como compararmos o paraíso ao inferno”. Descreve a vida quotidiana no Luso (hoje Huambo), dá conta da importância da linha de caminho de ferro de Benguela e dá-nos um quadro dos movimentos de libertação angolanos em atividade; fará nova comissão no norte de Angola de 1973 a 1975, encontra um Portugal diferente, era 1.º Sargento e foi nomeado para frequentar o curso de promoção oficial, na Escola Central de Sargentos, ali também se viviam as tensões do PREC.
José Inácio Sobrinho na atualidade, imagem retirada do Jornal Gazeta das Caldas, com a devida vénia

É um octogenário sem parança. Agora está ligado à causa ambiental, veja-se a informação que encontrei na internet:

Chamo-me José Inácio Sobrinho, resido em Salir de Matos, concelho de Caldas da Rainha. Tenho a bonita idade de 86 anos, sou militar na situação de reforma e tenho como hobby a pintura.
Fui nado e criado no campo, em contacto com a natureza, o que, desde muito cedo, me despertou o interesse pelo conhecimento da fauna e flora. Já com idade avançada, tive contacto com o amieiro do Patalugo, espécie que desconhecia, por este ser um exemplar único na zona. Soube então da existência de testemunhos orais, passados através de sucessivas gerações, que aquele amieiro tinha ali sido plantado pelos Frades de Alcobaça, ao tempo em que aquelas terras lhes pertenciam. Dei, então, conhecimento destes factos ao Instituto de Conservação da Natureza que classificou esta árvore como sendo de interesse público.

Amieiro

Amieiro do Patalugo

O “Amieiro do Patalugo” é uma árvore centenária classificado como “árvore de utilidade publica a nível nacional”, situada no Patalugo, na freguesia de Salir de Matos. Tem um porte de 16 metros de altura e um diâmetro médio de copa de cerca de 15 metros. No início, o “Amieiro do Patalugo” era único e não dava rebentos, possivelmente pelo seu isolamento a outras árvores da mesma espécie, verificando-se que as suas sementes eram estéreis. Entusiasta com esta árvore, adquiri dois novos e jovens amieiros, e plantei-os junto do grande “Amieiro do Patalugo”. Desde então, as sementes deixaram de ser estéreis, e todos os anos crescem novos amieiros espontâneos.

Tive o primeiro contacto com a Associação Pato em princípios da década de 1990, quando denunciei o extermínio da rola comum e perdiz vermelha, na região, levado a cabo por caçadores.

No 30.º aniversário da Associação PATO, a 21 de outubro de 2018, tive o privilégio de participar nas suas comemorações e de ser convidado a levar um pequeno rebento do “Amieiro do Patalugo”, para ser plantado no Paul de Tornada, como ato simbólico por sócios e amigos que se juntaram neste dia tão especial!

Depois dessa data, com muito gosto, doei um conjunto de quadros da minha autoria, que ilustram a avifauna natural da nossa região. Estes quadros, expostos no Centro Ecológico e Educativo do Paul de Tornada (CEEPT), permitem ser utilizados como ferramenta de educação ambiental. Mantenho uma proximidade com os representantes da Associação PATO, mantendo-me participativo nas diferentes ações de voluntariado propostas pela Associação, como as plantações de árvores e remoção de espécies invasoras.

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24476: Notas de leitura (1597): Histórias dos “Boinas Negras”, por Jorge Martins Barbosa; Fronteira do Caos Editores, 2018 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24472: Historiografia da presença portuguesa em África (376): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
Há momentos nesta viagem presidencial em que se pressente, que mesmo discretamente na retaguarda, é o ministro do Ultramar que regozija com o legado deixado em cerca de 3 anos de governação. Onde quer que chegue a comitiva presidencial, Sarmento Rodrigues é recebido com a maior cordialidade, tanto pelos agentes coloniais, empresários, administrativos, como pelas autoridades gentílicas e o povo que desassombradamente o saúda. O que se passou em Bissau é flagrante, está tudo marcado pela gestão de Sarmento Rodrigues, dos equipamentos de saúde à educação, às infraestruturas desportivas, às melhorias da ponte do cais de Pidjiquiti. A viagem a Bolama de certo modo deixa o jornalista consternado, fala nas populações em delírio, mas não esconde a dor e a melancolia que aquela cidade ao abandono provoca, houve manifesta incapacidade de gerir com equilíbrio a transferência da capital, Sarmento Rodrigues ainda tentou um acordo com os potentados económicos para estes se manterem firmes naquela região agrícola tão exuberante, mas os negócios foram-se transferindo para Bissau, inexoravelmente Bolama caiu no esquecimento, o que assombra quando o seu património era tão interessante.

Um abraço do
Mário



O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (2)

Mário Beja Santos

Salazar não viajava, mas pôs os seus presidentes da República a visitar parcelas do império. Eleito em 1951, o general, a sua mulher, o ministro do Ultramar e a sua mulher, partem do aeroporto da Portela em 2 de maio de 1955, pelas 7h30 e aterram em Bissalanca pelas 15h locais. É governador da Guiné Diogo de Melo e Alvim. O jornalista de serviço tece laudas à comitiva e ao séquito político que se vai despedir do presidente da República para esta viagem que não será curta. Fizeram-se obras em Bissalanca para haver uma pista capaz de receber uma aeronave daquele tamanho.

Já estamos a 5 de maio, Craveiro Lopes começa o dia visitando o Dispensário do Mal de Hansen, percorreu três exposições que o jornalista (presume-se Rodrigues Matias, ele aparece como coordenador dos dois volumes a que aqui se faz referência do diário da viagem) classifica a primeira como consoladora, a segunda como banal (à primeira vista) e a terceira macabra. O ilustre visitante recebe uma lembrança, um bordado com as palavras “Seja bem-vindo”, trabalhado a linhas encarnadas sobre linho branco. Das três mulheres doentes que haviam bordado aquele pano, uma não tinha dedos nem mãos. O jornalista foi ao seu encontro e dá-nos um quadro comovente. Enquanto Craveiro Lopes se mantém no Dispensário, o jornalista visita a Cumura, povoação do posto de Prábis, escolhida em tempos pelo comandante Sarmento Rodrigues para local de isolamento dos leprosos contagiosos. E diz-nos o jornalista que ali vivem, num mundo reduzido em pouco, mais de duas centenas de infelizes de ambos os sexos.

Bor, onde Craveiro Lopes se dirigiu após a visita ao Dispensário, é um desconhecido éden da ilha de Bissau, a 6 km da cidade. Ali foi criado um Reformatório de Menores e Asilo de Infância Desvalida, a cargo das Missões Católicas. A designação foi mudada para Asilo de Infância Desvalida de Bor. O ilustre visitante distribui a cada criança um pacote de rebuçados. Craveiro Lopes foi inesperadamente visitar o posto de Prábis. No caminho passou sob um maravilhoso túnel de cajueiros, e diz-nos o jornalista que se tratava de um pormenor que iria ter ocasião de apreciar largamente pelo interior: milhões de cajueiros plantados ao longo de todas as estradas da Guiné.

Findo o programa da manhã, vamos ao da tarde. Craveiro Lopes comparece ao grande festival militar, escolar e desportivo no Estádio de Bissau. Ao centro do campo de futebol formavam a tropa, a mocidade portuguesa, uma companhia de caçadores indígenas, 60 filiados do Centro de Milícias; atrás deste contingente, estão centenas de alunos das escolas oficiais e missionárias, 200 atletas dos clubes desportivos e uma coluna de tropa de segunda linha. Depois do desfile, realizou-se a final de um torneio de futebol entre o Sport Lisboa e Bissau (o Benfica local) e o Clube Futebol Os Balantas (o Belenenses local), ganhou o primeiro. Seguidamente, foram agraciados clubes desportivos e 17 chefes indígenas do concelho de Bissau. Craveiro Lopes sai do estádio em apoteose.

É nesta circunstância que o jornalista aproveita para descrever o concelho de Bissau lembrando que da sua população de 30 mil habitantes, há 22 mil da etnia Papel e 5 mil da etnia Balanta. A 6 de maio, a ilustre comitiva parte para Bolama no aviso Bartolomeu Dias, sem, porém, o jornalista nos ter descrito ao pormenor a nova ponte do cais do Pidjiquiti. Ele trata Bolama como a capital que foi, a visita presidencial é um tanto apresentada como uma romagem de saudade, um misto de peregrinação e desagravo. Faz-se a história da ocupação da primeira capital da Guiné e subitamente surge-nos uma referência a Silva Gouveia, o homem que criou um potentado económico na Guiné: “Silva Gouveia, que chegara à Guiné tão moço como pobre, dedicava-se à pesca; depois abrira padaria e casa de comidas para as praças da guarnição, na rua Marquês d’Ávila; em seguida, arranjara-se a construir edifícios de pedra e cal e requerera licença para lançar um muro-cais em frente da sua maior instalação. Era o colosso a desferir o voo para o grande triunfo que o esperava.”

Há laivos de melancolia nas descrições que se seguem. Bissau, em crise de crescimento repentino, comprava, para cobrir mais casas, as telhas que os proprietários bolamenses arrancavam das suas moradias abandonadas. Mas o jornalista está ali para pintar a cena em cores triunfais, temos a população em massa a acompanhar a viagem de Craveiro Lopes até aos Paços do Concelho, este o edifício da mais elevada categoria arquitetónica. Seguem-se os discursos do presidente da autarquia e do representante do comércio local – todos sonham com o revigoramento de Bolama. No final da sessão, foi lida a portaria que concede escudo de armas e bandeira própria à cidade de Bolama, Craveiro Lopes entregou nas mãos do presidente de autarquia a bandeira já com brasão, entre os calorosos aplausos de toda a assistência.

Segue-se um curioso desfile regional de gentes congregadas no largo Teixeira Pinto, não vai faltar dança frenética. Depois ficamos a saber que no concelho de Bolama não predominam em número os Bijagós, mas sim os Mancanhas. Por entre os dançarinos, um velho exótico passeava despreocupadamente um crocodilo pela arreata de um cordel de juta, o bicho arrastado pela trela dava sinais evidentes de um aborrecimento quase mortal.

Depois do almoço, um trepidante programa de visitas: ao quarte da Companhia Indígena de Engenhos; ao Hospital Regional de Bolama; à Missão Católica e à Igreja de S. José. E vem um encómio do jornalista: “Deixou esta visita ao sr. general Craveiro Lopes a impressão de que a cidade de Bolama se não resigna à condição de vencida pelo facto de ter deixado de ser a capital.”

Segue-se a visita à propriedade Gã Moriá, da firma Silva Gouveia, Craveiro Lopes é recebido pelo administrador D. Diogo de Melo. A Câmara de Bolama ofereceu um Porto de Honra no salão de festas da sede dos Bombeiros Voluntários, a que estiveram presentes todas as autoridades e “a melhor sociedade de Bolama”. À noite, da varanda do Palácio, Craveiro Lopes assistiu às danças Bijagós. O jornalista esmera-se a descrever tais danças, diz que é quase um teatro, logo na intenção do bailado, o bailarino, ajudado pelo corpo de baile que o acompanha, descreve as fases do seu envolvimento com a mulher pretendida, vê-se que esteve atento e que sentiu a densidade daquele processo cultural e artístico.

A 7 de maio, a ilustre comitiva reembarca de regresso às terras do continente. Antes, o jornalista refere que se avista o plano de água em que desciam as grandes aeronaves das primeiras travessias, pista maravilhosa de 6 km de comprimento e 1,8 de largura, no braço de mar chamado Gã Pessoa. Fala-se do desastre aéreo que vitimou os aviadores italianos. Estamos agora a caminho de Fulacunda.


Os dois volumes respeitantes à viagem de Craveiro Lopes à Guiné e Cabo Verde, Agência Geral do Ultramar, 1956
Retrato oficial de Craveiro Lopes no Museu da Presidência, pintura de Eduardo Malta
Dispensário do Mal de Hansen, Guiné Portuguesa
Imagem de uma reportagem da RTP na Guiné no tempo do governador Peixoto Correia
Paços do Concelho de Bolama, já em adiantado estado de ruína
Igreja de S. José, Bolama
Uma das mais admiráveis fotografias de Bolama, publicada no livro "Bijagós: Património Arquitetónico", pelos arquitectos Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade e o fotógrafo Francisco Nogueira; Edições Tinta-da-China, 2016

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24452: Historiografia da presença portuguesa em África (375): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24458: Notas de leitura (1595): "Mariazinha em África, o bestseller de Fernanda de Castro com ilustrações de Ofélia Marques (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Março de 2021:

Queridos amigos,
O romance infantil de Fernanda de Castro que tem por fundo a Guiné revelou-se um verdadeiro bestseller, dez edições. A autora estava atenta ao politicamente correto e foi introduzindo modificações, designadamente na década de 1960. Há estudos sobre estas representações e no texto indica-se um deles, que me parece bastante elucidativo. Os desenhos de Ofélia Marques são um valor acrescentado nestas edições de 1940 e 1947, a artista modernista possuía um dom para o desenho gráfico e pelas imagens que aqui se publicam avulta imediatamente a segurança do traço, o talento com que se encontra equilíbrio na ocupação do espaço, a candura das figuras, o sábio uso da profundidade e da proximidade, veja-se Mariazinha com o óculo a avistar o navio, Mariazinha de carabina ao ombro, com o seu estojo de Kodak, caminhando para a embarcação e entre ela e o barco o sol nascente; o modo como ela comunica com Vicente e a espetacular imagem do regresso a Portugal, Vicente, todo lampeiro, extravagantemente vestido a cumprimentar os irmãos de Mariazinha; e há uma imagem de perfeição, quando o príncipe Mamadu, acompanhado pelo seu séquito a vem pedir em casamento, nada falta, desde o formigar deste séquito do jardim da casa até à surpresa de Mariazinha dada em perfil. Uma história que encantou crianças favorecida por uma admirável artista modernista imbatível na modelização da ternura infantil.

Um abraço do
Mário



Mariazinha em África, o bestseller de Fernanda de Castro com ilustrações de Ofélia Marques (2)

Mário Beja Santos

Em termos de literatura infantil de caráter colonial, não houve obra que competisse com as já dez edições que conheceu "Mariazinha em África", obra de Fernanda de Castro. A primeira edição foi de 1925, teve desenhos de Sarah Afonso, a edição de 1940 e a seguinte, de 1947, teve desenhos de Ofélia Marques. Fernanda de Castro nunca escondeu que este livro era marcadamente autobiográfico, em pequena acompanhou a mãe e foi para Bolama, onde o pai dirigia a capitania. Há algo de catártico nesta história de ternura, a sua mãe morrerá inopinadamente na capital da colónia, Fernanda de Castro dedicar-lhe-á versos de uma grande beleza.

São, pois, memórias as que Fernanda de Castro transpõe para o romance infantil: a viagem de barco, a chegada a Bissau e a transferência para Bolama, o dormir protegida por um mosquiteiro, o pai apresenta-lhe a criadagem: o criado de mesa e acompanhante do irmão, Afonsinho, o criado dá pelo nome de Lanhano; Adolfo, que é como os crocodilos, tem dentes a mais; Undôko, o jardineiro, Mamadi, filho de régulo, está lá em casa para aprender português e o cozinheiro Vicente. Mariazinha assiste a festas, passeia-se no rio, vê um tornado, faz amizade com a filha do governador, Ana Maria, têm um passeio acidentado, a viatura empana, regressam numa espécie de maca com troncos entrelaçados e feixes de palha, suportada por dois nativos; há mesmo uma caçada e o deslumbramento dos indígenas quando veem aquela menina de cabelo de cor de palha.

Mariazinha adora animais e lá vai conseguindo juntá-los numa espécie de jardim zoológico, não faltam macacos nem aves. No seu aniversário o pai oferece-lhe uma casa para os macacos. Surge uma garça-real que tem uma perna partida e depois de curada de vez em quando regressa para visitar a Mariazinha. Naquela ilha de Bolama há sempre surpresas, uma vez chega um gramofone, outras vezes entra um chimpanzé bebé no Jardim Zoológico, o dia de aniversário decorre com imensas alegrias para a criança. E chega uma canhoneira, o cozinheiro Vicente prepara galinha, cabrito e pudim para os convivas, Mariazinha prepara uma jarra de flores, é uma receção admirável, os marinheiros elogiam o caril delicioso, o cabrito assado, os doces.

Organiza-se um passeio a Buba, lá vai Mariazinha com a sua mala, o seu Kodak e a sua carabina, avistam-se crocodilos e na chegada a Buba há uma receção triunfal, mete dança e batuque, bem curiosa é a descrição que Fernanda de Castro faz do protocolo:
“Depois dos cumprimentos, a caravana pôs-se em marcha. À sua frente, ia o governador, o capitão do porto, o comandante da canhoneira e o régulo de Buba; em seguida, as senhoras, as meninas, os oficiais e o ajudante do governador; depois, os músicos, as crianças e as bajudas, que são as raparigas solteiras; e, finalmente, a multidão dos Fulas – pretos claros, de bonitas feições, amigos dos brancos e, por isso, talvez, muito simpáticos”. Também há batuque de bajudas, e não deixa de ser curiosa a apresentação que delas faz a autora: “As bajudas, raparigas solteiras, em geral com menos de 15 anos, envolvidas em panos coloridos da cintura até meio da perna, com o peito e os ombros cobertos apenas por colares de contas e de sementes, dançam graciosamente, agitando as pulseiras de prata e as anilhas de cobre dos pulsos e dos tornozelos”. O governador manda distribuir presentes.

No dia seguinte, faz-se uma apresentação ao governador, aparecem cavaleiros, emissários de régulos amigos que vêm cumprimentar o governador, aparecem cavalos ricamente ajaezados com arreios de couro lavrado, os cavaleiros trazem camisas de seda e obrigam os cavalos a executar uma espécie de dança. As meninas não deixam de observar que os cavalos têm as barrigas em sangue, espicaçadas pelas esporas de prata, e protestam contra esta selvajaria. Aparece o príncipe Mamadu, o herdeiro do régulo de Buba, alto, esbelto, com feições corretas, vem ricamente vestido, parece que este príncipe está perdido de amores pela Mariazinha. A menina vai aprendendo os usos e costumes da colónia. Por exemplo, a propósito dos Bijagós: “Mariazinha já ouvira o pai dizer que não havia nada mais difícil do que obrigar os Bijagós a receber dinheiro em notas. Como só se alimentam de arroz, de azeite de palma e de peixe seco, como os raros panos que usam são tecidos pelas mulheres, como são elas também que fazem aquelas esquisitas saias de palha, os Bijagós não querem dinheiro em papel, querem dinheiro em cobre e em prata para com ele fazerem colares, pulseiras e amuletos”.

Surge o príncipe Mamadu que traz lindos presentes, penas de avestruz, colibris, pulseiras de prata, chinelinhas de pele de gazela. Faz um discurso na sua própria língua, é Vicente quem traduz, diz que quer casar com a menina. Escreve Fernanda de Castro: “Então o capitão do porto compreendeu! Na Guiné, as raparigas casam muito novas e os casamentos são ajustados entre o noivo e o pai da noiva, muitos anos antes de se realizarem… Mamadu, que era príncipe e além disso muito rico e bem parecido, não pensou um só instante que o pai da Mariazinha rejeitasse a sua tentadora proposta. Por isso, caiu das nuvens quando o capitão do porto avançou para ele, furioso”. E corre o príncipe a pontapé e a sua comitiva.

Surge uma doença misteriosa, nunca chegaremos a perceber se é febre amarela, mas febre é e já há muita gente doente. O pai de Mariazinha decide que a sua família deve voltar, a despedida é de grande emoção, Vicente, o cozinheiro, insiste que quer vir com os patrões para Portugal, vai viajar de chapéu de coco e grande flor de lapela.

O regresso é uma viagem tormentosa, o navio vem sobrelotado, Ana Maria também regressa, passam por Cabo Verde, aportam no Mindelo, as meninas ficam impressionadas com a falta de árvores de flores e frutas, a mãe explica-lhes que ali se vivem secas intermináveis. Vicente diz que a comida é boa, mas precisa de arroz. E assim se chega a Lisboa, o vapor atraca no Cais da Rocha do Conde d’Óbidos, os manos ficam surpreendidos com o Vicente, que traja sobrecasaca e calça branca, gravata amarela e flor ao peito, sorridente e de botas de verniz, dá pulos de contente, Ana Maria despede-se de Mariazinha e assim termina esta história que tem a Guiné por fundo:
“Duas horas depois, já na velha casa da Outra Banda, enquanto as pessoas crescidas conversavam, enquanto as criadas punham na mesa pratos e travessas de arroz-doce e leite creme, os meninos recomeçavam, sob a amoreira da quinta, as suas eternas, as suas alegres brincadeiras de sempre. E sobre as suas cabeças desocupadas, leves como ventoinhas, brilhava de novo o sol, o lindo sol de Portugal!”.

Para o leitor mais interessado no estudo das representações coloniais desta obra, recomenda-se o trabalho de Margarida Isabel Melo Beirão intitulado Mariazinha em África, de Fernanda de Castro – Representações coloniais, tese de Mestrado do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, 2018: https://ria.ua.pt/bitstream/10773/25216/1/Documento.pdf.


Na antiga Calçada dos Caetanos, hoje Rua João Pereira da Rosa, muito perto do edifício da Liga dos Combatentes, que foi a habitação da escritora Ana de Castro Osório, perfila-se um prédio onde viveram Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, José Gomes Ferreira, Fernanda de Castro e António Ferro, Ofélia Marques e Bernardo Marques. Lá em baixo é a Rua do Século e lá em cima o Conservatório Naiconal e a Igreja dos Inglezinhos. Felizmente que todo este património arquitetónico está classificado.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24448: Notas de leitura (1594): "Mariazinha em África, o bestseller de Fernanda de Castro com ilustrações de Ofélia Marques (1) (Mário Beja Santos)