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quarta-feira, 5 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19859: Tabanca Grande (481): Abel Rei, ex-1º cabo, CART 1661 (Fá, Enxalé, Bissá, Porto Gole, 1967/68)... Autor do livro "Entre o paraíso e o inferno: de Fá a Bissá, memórias da Guiné., 1967/68"... Passa finalmente a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 792


Foto nº 1 > Guiné > Região do Oio > Bissá  > CART 1661 (1967/68) > Imagem, desolada,  do destacamento de Bissá, no tempo em que lá esteve o Abel Rei, com o 3º Gr Comb...


Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Bissá >  > CART 1661 (1967/68) > Imagem do destacamento de Bissá, no tempo em que lá esteve o Abel Rei, com o o 3º Gr Comb...


Foto nº 3

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CART 1661 (1967/68)  >  Foto tirada em Porto Gole, com o Abel Rei a escrever algumas linhas do seu diário, mais tarde (em 2003) transformado em livro.


Foto nº 4

Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968  > O 1º Cabo Abel Rei, da CART 1661 (Fá, Enxalé, BissáPorto Gole, 1967/68), de férias, na capital da província. “Vim juntamente com o ‘Conjunto João Paulo’, que fez nesse mesmo dia uma actuação musical em Porto Gole, partindo de seguida numa lancha, pelo Rio Geba, para cá”… Ficou hospedado na Pensão Chantre.


Foto nº 5

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CART 1661 (1967/68) > Monumento ,onde se pode ler: "Para ti, soldado, o testemunho do teu esforço"... No final do ano de 1967, o comando da CART 1661 mudou-se para Porto Gole, passando o Enxalé a ser apenas um simples destacamento, depois na primeira daquelas localidades se terem construído as necessárias instalações para o pessoal, bem como o depósito de material. Foi também construído uma pista de aterragem para aeronaves tipo DO 27.

Fotos (e legendas): © Abel Rei (2002). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional  da Tabanca Grande > 20 de Junho de 2009 > O Abel Rei e a esposa, Maria Elisete, residentes no concelho da Marinha Grande...  O Abel terá conseguido vender, no nosso convívio, mais de três dezenas do seu livro (preço: 10 balas, menos de 100 pp.).

O Abel pertencia, no ano de 2007, à Direcção do Núcleo da Marinha Grande da Liga dos Combatentes (telefone: 244 551 140), exercendo o cargo de Tesoureiro, que teve de abandonar por motivos de saúde.

O livro, na altura,  podia ser encomendado directamente ao Abel Rei, que morava no Beco da R. dos Poços, 1, Lameira da Embra, 2430-126 Marinha Grande / Telem 938 195 700/ Email: abel_rei@hotmail.com (, este endereço já não está atualizado).

Fotos« (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


São Pedro de Moel > 2010 > Convívio da CART 1661 e Pel Caç Nat 54 > O ex-cap mil, o arquiteto e urbanista  Luís Vassalo Rosa  (1935-2018), ao centro; à esquerda o Abel Rei; e à direita, um alferes da CART 1661, não identificado.

Foto (e legenda): © José António Viegas (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Almeirim > 10 de maio de 2014 >  XXIII Encontro  do pessoal da CCAÇ 1439,  Pel Caç Nat 52, Pel Caç Nat 54, e Pel Mort 1028, que passaram pelo Enxalé (1965/67).  O Abel Rei é o primero da primeira fila, do lado direito. Alguns camaradas nossos conhecidos (e membros ds Tabanca Grande): Henrique Matos (Pel Caç Nat 52), José António Viegas (Pel Caç Nat 54), Júlio Pereira (CÇAÇ 1439). O "Mafra" é a alcunha do Manuel Calhanda Leitão, também já convidado para integrar a Tabanca Grande: foi o organizador do último encontro do pessoal, este ano, em 18 de maio de 2019, na Ericeira... Em 2010, houve um encontro histórico, deste pessoal, o 19º Encontro, onde estiveram presentes, entre outros, o Henrique Matos, o Mário Beja Santos, o Jorge Rosales,o João Crisóstomo, o madeirense António Freitas (um dos quatro alferes da CCAÇ 1439),  o João Neto Vaz, o Luís Cunha, e outros.

Foto (e legenda): © Henrique Matos  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Abel de Jesus Carreira Rei,  ex-1º cabo, CART 1661 (1967/68), ou simplesmente Abel Rei, tem 15 referências no blogue, é amigo da página do Facebook da Tabanca Grande, é autor de um livro de memórias sobre a sua passagem na Guiné, já participou num dos nossos encontros nacionais,  o IV, em Ortigosa, Monte Real, Leiria, em 2009... mas, por lapso, ainda não consta da lista alfabética dos membros da Tabanca Grande.

Na altura, em 2009, foi apresentado, na Ortigosa, como "um dos nossos últimos piras (...), membro da Tabanca Grande". (*)

É mais do que justo reparar, agora,  esse imperdoável lapso. Ele passa a sentar-se, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 792.(**)

Ainda recentemente o nosso colaborador permanente, Mário Beja Santos,  volta a fazer a recensão do livro do Abel de Jesus Carreira Rei, "Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968".( Prefácio do Ten Gen Júlio Faria de Oliveira): Edição de autor. 2002. 171 pp. (Execução gráfica: Tipografia Lousanense, Lousã. 2002). (***)


(...) "É mais do que merecido o reconhecimento a este diário de Abel Rei, escrito com tanta sinceridade, envolto em tanta ternura, um registo também da vida de uma unidade que palmilhou o Xime, Amedalai, Denbataco, foi ao Buruntoni e ao Poidom, espalhou-se pelo Enxalé, Missirá e Porto Gole. (...) Temos que ter orgulho neste diário, é o espelho de um homem de fé que vai regressar sereno à sua vida civil, sem traumas nem azedumes. Recomendo vivamente a sua leitura. (...).

Do lamentável lapso temos que pedir desculpas ao nosso camarada Abel Rei e aos  restantes membros da Tabanca Grande.

Já em tempos aqui o dissemos: o Abel Rei  teve, entre outros,  o mérito de pôr no mapa da guerra da Guiné o nome de Bissá, sobre o qual poucos de nós sabiam alguma coisa.   Foi em Bissá que o valente Abna Na Onça, capitão de 2ª linha, balanta, enocntrou a morte...

Um camarada nosso que conheceu bem a região de Porto Gole, Bissá e Enxalé, o Henrique Matos, 1º comandante do Pel Caç Nat 52 (1966/68), também já aqui veio reconhecer que a manutenção de Bissá fora um erro, possivelmente pelo elevado custo, em vidas humanas, que terá acarretado, e pelas dificuldades de reabastecimento da sua guarnição.

2.  Algumas notas biográficas sobre o Abel Rei (que é o único representante da CART 1661, na nossa Tabanca Grande):

O Abel Rei nasceu em 30 de março de 1945, na freguesia de Maceira, concelho de Leiria. O pai era operário vidreiro. A família mudou-se para o concelho da Marinha Grande. O Abel começou a trabalhar bem cedo numa mercearia local, mal acabada a escola primária, aos dez anos. Aos quinze era serralheiro civil.

Mobilizado para a Guiné, serviu na CART 1661, que passou por Fá Mandinga, Enxalé, Bissá e Porto Gole. Partiu em 1 de Fevereiro de 1967 e regressou em 19 de Novembro de 1968.

A companhia teve três comandantes: Cap Mil Art Luís Vassalo [Namorado]  Rosa [1935-2018), Alf Mil Art Fernando António de Sá e Cap Art Manuel Jorge Dias de Sousa Figueiredo.

Depois da tropa, o Abel voltou a estudar, tendo completado o Curso Geral de Mecânica da Escola Industrial.

Citando o prefácio ao seu livro, "Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968,  da autoria .do ten gen ref Júlio Faria de Oliveira, presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes, “ainda bem que o antigo combatente Abel Rei escreveu esta história verdadeira, a qual, em minha opinião, é extremamente interessante e duvido que aquela, que ele gostaria de ter escrito, fosse ainda melhor” (p. 17).

Em geral, são notas diárias, de um, dois ou três parágrafos, que o Abel Rei foi redigindo num caderninho que sempre o acompanhava. A primeira tem a data de 1/2/67 (partida do T/T Uíge, do cais da Rocha Conde de Óbidos) e a última data de 19/11/68 (regresso à Metrópole, também no mesmo navio).

Ao todo, são 178 registos diários, em pouco mais de 21 meses de comissão, mais de metade das quais (53,4%) correspondem aos quatro primeiros meses (de fevereiro a maio de 1967). De junho até ao final do ano, escreveu apenas, em média, 4 vezes por mês… No segundo ano (jan-nov 1968), o ritmo da escrita, certamente por cansaço, saturação ou quebra de disciplina, baixou ainda mais: um pouco mais de 3 registos por mês, embora mais extensos, ocupando 4 dezenas de páginas (de 126 a 166).

O Abel Rei tem página no Facebook.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de julho de  2009 > Guiné 63/74 - P4648: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (19): Os nossos escritores (Luís Graça)

12 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4815: Notas de leitura (14): As memórias do inferno de Abel Rei (Parte I) (Luís Graça)

14 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4820: Notas de leitura (15): As memórias do inferno de Abel Rei (Parte II) (Luís Graça)

24 de agosto de 2009 > Guiné 1963/74 - P4858: Notas de leitura (16): Memórias do inferno de Abel Rei (Parte III) (Luís Graça)


12 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5983: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (22): As voltas que o mundo dá, graças a um blogue que congrega uma diáspora de combatentes (Beja Santos)

30 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14547: Convívios (671): CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá e Portogole, 1965/67) + Pel Caç Nat 52 e 54... Caldas da Raínha, dia 9 de maio de 2015... Inscrições até este fim de semana... (Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé / Henrique Matos, ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 52, 1966/68)

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19853: Notas de leitura (1183): "Entre o Paraíso e o Inferno (De Fá a Bissá)", por Abel de Jesus Carreira Rei; edição de autor, 2002 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
É mais do que merecido o reconhecimento a este diário de Abel Rei, escrito com tanta sinceridade, envolto em tanta ternura, um registo também da vida de uma unidade que palmilhou o Xime, Amedalai, Denbataco, foi ao Buruntoni e ao Poidom, espalhou-se pelo Enxalé, Missirá e Porto Gole.
A um tempo em que os comandos tomaram a decisão de tirar a sede da Companhia do Enxalé para Porto Gole, perdeu-se a ligação a Missirá, em meu entender um erro crasso, as forças hostis eram as mesmas, de Madina, Belel, a região de Sara-Sarauol, são registos serenos os que o Abel Rei nos deixa, é um homem em conformidade com os seus princípios e valores, chega a refletir sobre as consequências do álcool depois de uma borracheira e lembra como esse mesmo álcool devastou a sua vida familiar.
Temos que ter orgulho neste diário, é o espelho de um homem de fé que vai regressar sereno à sua vida civil, sem traumas nem azedumes. Recomendo vivamente a sua leitura.

Um abraço do
Mário


Faça-se justiça a um belo documento, o diário do camarada Abel Rei

Beja Santos

Aprende-se muito com a releitura de certas obras, no caso vertente do diário da Guiné “Entre o Paraíso e o Inferno (de Fá a Bissá)”, por Abel de Jesus Carreira Rei, confessa-se ter havido uma certa ligeireza na primeira apreciação. É um documento de valor excecional, pela sua simplicidade, pelas páginas tocantes que nos lega falando do correio, das patrulhas, das amizades, dos encontros festivos com gente patrícia ou aparentada, pela genuinidade das apresentações, regista as suas devoções, o que o confunde e deslumbra quando a natureza explode em uníssono, veja-se o que ele escreve em 24 de abril de 1968, um amanhecer em Porto Gole:
“Com sons de todas as distâncias, ouvem-se os mais variados cantares das aves. São cinco horas e vinte minutos da madrugada (do dia, é o melhor termo neste momento!). Há dez minutos que o dia começou a nascer: primeiro lento, sem pressa, como se preferisse não sair da escuridão, depois como a volúpia de um prazer, rápido, com a aclamação de toda a natureza à sua volta. Avista-se entre as árvores espesso nevoeiro, o mesmo que torna húmidas e frias, estas manhãs tropicais – confundindo a mata com o rio, que neste momento apresenta uma crista de areia no meio, a quatro ou cinco quilómetros de mim. Também à minha volta, vejo agora nitidamente os mosquitos, que durante estas duas horas de reforço, tomaram o pequeno-almoço do meu sangue.
Poucos minutos mais volvidos, e já está o dia nascido. O homem encarregado do motor-gerador, já o fez parar. Os abutres vieram até aos limites do rancho ‘fazer limpeza’, enquanto os porcos lá continuam a sua tarefa de demolir tudo com o focinho. Os galináceos limparam do chão os grãos de ‘bianda’ mais próximos; e os cães correm de um lado para o outro (sou obrigado, de vez em quando, a interromper-me, a sacudir os mosquitos da minha pele).
Primeiro poucas, e agora em mais quantidade, as mulheres nativas correm para a fonte – um poço que se encontra rodeado de uma pequena horta, tendo algumas árvores em volta: mangueiros; laranjeiras; e cajueiros – de onde levam água clara, com que se saciarão durante o dia. (Os indígenas, não utilizam filtros como nós para limpar a água; metem-na em bilhas de barro, e ela depois assenta). Com as bilhas cheias, elas já regressam. Na tabanca já se ouve, em ritmo cadenciado, o pilão a martelar na ‘bianda’.
Começa a soprar uma ligeira aragem.
O padeiro já começou a sua tarefa, e o cozinheiro também já remexe os caldeirões. E eu termino… Arma às costas, e deixo o meu posto de sentinela!”.

Em Bissá, andará a cavar, fica cheio de bolhas nas mãos, ele que diz no seu currículo que se iniciou a trabalhar com dez anos ao balcão de uma mercearia no centro da então vila da Marinha Grande, e aos quinze anos já exercia a profissão de serralheiro civil. É uma edição de autor de dezembro de 2002, estou aqui a fazer a confissão de que é obra de valor, um diário autêntico, daqueles que começam a pontuar dia após dia e depois esmorecem, há semanas e meses em branco. Embarca no navio Uíge, faz parte da CART 1661, um dos seus comandantes foi um arquiteto de fama, já falecido, Luís Vassalo Rosa, de Bissau segue para Fá, espera ansiosamente notícias da família, descobre o mundo tropical, a África desconhecida, diz singelamente que acaba de apreciar uma grande plantação de bananeiras, era a primeira vez. Não há perda de tempo, vai-se até ao Xime, descreve-se a tabanca, encontra-se gente de terras próximas. Do Xime vai-se até Enxalé, daqui viaja até Mato de Cão que ele designa por local bastante propício a emboscadas do inimigo, terão ido montar segurança a embarcações militares ou civis. Do Enxalé segue para Porto Gole, dá-se por feliz quando regressa a Fá, é sol de pouca dura, regressa-se ao Xime, encontrou conhecidos dos Pousos de Leiria e de Burinhosa em Alcobaça, é uma operação ao Poidom, estreia-se nos tiros, volta para Fá e regressa ao Xime para uma operação ao Burontoni, capturou-se armamento, deu apoio ao seu colega Saraiva, dos Moinhos de Carvide, que vinha completamente abatido. O cansaço começa a pesar, surgem alguns problemas de saúde, segue novamente para Porto Gole, operações, atribuem funções de vagomestre, em abril de 1967 regista um dia trágico, morreram sete africanos para as bandas de Bissá. “Eu confesso: apesar de estar cá há pouco tempo, vieram-me as lágrimas aos olhos. Tinha morrido um capitão de 2.ª linha, mais seis homens nativos, todos pertencentes à Polícia Administrativa e todos eles com as famílias em Porto Gole. Morria o Capitão Abna Na Onça, corajoso e respeitado pelos negros e brancos”.

Gosta de Porto Gole mas trabalha que se farta. Quando tem saudades, vai para a beira-rio, apreciar a paisagem, ver as mulheres a apanhar uma espécie de caranguejos no lodo. E em maio começa o pequeno inferno de Bissá, um outro local inóspito, entre Mansoa e Porto Gole, destacamento de pouca dura, Spínola pôr-lhe-á termo. Falta água, as colunas de reabastecimento são um suplício, volta por um tempo a Porto Gole, as funções de vagomestre são de imensa responsabilidade. E regressa a Bissá em setembro, o quartel está numa lástima, as flagelações sucedem-se, a tensão é permanente. Nesse mesmo mês de setembro rebenta uma mina anticarro, em consequência quatro mortos e treze feridos graves. Estabelece boas amizades com a gente do Pelotão de Caçadores Nativos n.º 54. O correio é cada vez mais espaçado, sente-se fisicamente em baixo, volta a Porto Gole e ao Enxalé, visita Bafatá, não lhe descobriu interesse. O ano passou e em fevereiro de 1968 passa férias em Bissau, regista um ataque de foguetões à Base Aérea de Bissalanca, volta a Porto Gole em março, anota que as coisas correm mal em Bissá, há cada vez mais emboscadas. Gosta de confirmar dados consultando a história da CART 1661. Spínola visita Porto Gole no início de junho, as coisas estão cada vez pior em Bissá. Em novembro, a sua Companhia é rendida, são colocados no quartel dos Adidos em Bissau, viaja novamente no Uíge para Lisboa. Impossível não registar o que ele escreve quando se despede de nós a bordo do navio Uíge na manhã de 20 de novembro de 1968:
“A minha missão não foi das mais árduas; outros houve que sofreram muito mais. Para esses, irá decerto o carinho de todos quantos nos rodearam através das escassas notícias referidas além-mar. Nada paga tão imensa alegria, de podermos regressar ao lar, e esquecermos tantas e tantas horas que passámos sem dormir, atentos ao inimigo, e depois de o termos aguentado, acarinharmos os nossos camaradas feridos ou chorarmos os mortos. A estes últimos: os heróis desconhecidos desta guerra, aqueles que mais ninguém recordará, a não ser os pais, irmãos, esposas e filhos, a estes, a minha modesta homenagem que se resume a desejar-lhes Eterno Descanso. Irmãos de meses difíceis desta tropa, a minha lembrança por vocês perdurará em mim eternamente, pois eu podia ter sido um de vós!”.

Julgo ter reposto justiça pondo no pódio este magnífico diário do camarada Abel Rei.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19844: Notas de leitura (1182): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (8) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18725: In Memoriam (315): Arquitecto e Urbanista Luís Vassalo Rosa (1935-2018), ex-Cap Mil. CMDT da CART 1661 (Guiné, 1967)

IN MEMORIAM

LUÍS VASSALO ROSA, ARQUITECTO E URBANISTA, EX-CAP MIL, CMDT DA CART 1661 (GUINÉ, 1967)

São Pedro de Moel > 2010 > Convívio da CART 1661 e Pel Caç Nat 54 > O ex-Cap Mil Luís Vassalo Rosa


Notícia inserta no DN online de hoje, aqui reproduzida com a devida vénia:

Tinha 83 anos. A morte do urbanista Luís Vassalo Rosa, na quinta-feira, foi comunicada pela Associação Portuguesa de Urbanistas. O atual provedor da Arquitetura, função que desempenhava desde 2011, e Grande Oficial da Ordem de Mérito, foi o responsável pelo Plano de Urbanização, coordenação e gestão urbanística da zona de intervenção da Expo'98, a que se juntariam nomes como o do arquiteto Manuel Salgado.

Em 1975 recebeu o Prémio Valmor, enquanto coautor da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, assinada por Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira. Foi seu também o Primeiro Prémio nos Concursos para a Nova Sé Catedral de Bragança, Novos Tribunais de Monsanto e Recuperação do Palácio do Alvito de Lisboa.

Luís Vassalo Rosa foi assessor do Secretário de Estado da Habitação e vogal da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa após o 25 de abril.

Formado na Escola de Belas-Artes de Lisboa, o arquiteto fez ainda especialização em Planeamento Urbanístico na Universidade de Sussex e estágios em Espanha, França, Inglaterra, República Federal Alemã e Estados Unidos da América, lê-se no site da Ordem dos Arquitetos.

Numa recente entrevista à Rádio Renascença, por ocasião dos 20 anos da EXPO'98, Vassalo Rosa mostrou o seu desagrado pelo nome Parque das Nações, a área urbana cuja coordenação do plano urbanístico assinou: "O tema eram os oceanos, razão pela qual eu acho que devia ser Bairro dos Oceanos ou então deixassem lá estar Expo 98. Nunca Parque das Nações, que é um desastre."

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Em 12 de Agosto de 2017, no Poste 17666[1], escrevia Mário Beja Santos:

Luís Vassalo Rosa é nome proeminente da arquitetura portuguesa da segunda metade do século XX, tem trabalho reconhecido por colegas de ofício e amigos como Fernando Peres, Armando Lucena, Maurício de Vasconcelos, Raul Chorão Ramalho, Nuno Teotónio Pereira, Manuel Tainha, entre outros. 
Começou a carreira profissional em Pangim, Goa, será capitão de artilharia na Guiné, em 1966, virá evacuado depois de contrair tuberculose. 
A sua obra mais importante será a Sé de Bragança, Catedral de Nossa Senhora Rainha. A Câmara Municipal de Almada dedicou-lhe na Casa da Cerca, entre finais de 2007 e Março de 2008 uma exposição a pretexto de ter recebido o Prémio Municipal de Arquitetura Cidade de Almada, a exposição permitia ao visitante acompanhar o percurso desde o seu primeiro projeto, o Jardim-Escola João de Deus, em Torres Novas, de 1957, até ao estudo para a cidade desportiva de Sines, em 2007. 

Pelo caminho, as suas diversificadas intervenções no plano de urbanização de Chelas, no plano integrado de Almada - Monte da Caparica, no estudo preliminar para a recuperação e valorização conjunta do Castelo de Almourol e da Igreja de Nossa Senhora do Loreto em Vila Nova da Barquinha, o Palácio da Justiça de Setúbal, a recuperação do Palácio do Alvito, Plano Diretor Municipal de Salvaterra de Magos, Marina de Portimão, e muito mais.

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À família enlutada, a tertúlia deste Blogue apresenta as mais sentidas condolências.

CV
Co-editor
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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 12 de Agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17666: (In)citações (110): À procura de… Luís Vassalo Rosa, arquiteto e comandante da CART 1661 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 2 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18593: In Memoriam (314): Luís Encarnação (1948-2018), ex-Fur Mil Cav, MA, CCAV 2748 (Canquelifá, 1970/72). O funeral é hoje, em Barcarena, às 15 horas. Entra, a título póstumo, para a Tabanca Grande, sob o n.º 773

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17740: Em busca de... (279): Arq. Luís Vassalo Rosa, ex-Cap Mil, CMDT da CART 1661 (Henrique Matos e João Crisóstomo)



1. Mensagem de Henrique Matos, (ex-Alf Mil, 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52 Enxalé, 1966/68), com data de 10 de Agosto de 2017, dirigida ao Mário Beja Santos a propósito do Poste de 12 de Agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17666: (In)citações (110): À procura de… Luís Vassalo Rosa, arquiteto e comandante da CART 1661 (Mário Beja Santos):

Meu caro Beja Santos,
Aqui vai a resposta ao teu pedido.

Estive pouco tempo com o Cap. Mil. Vassalo Rosa no Enxalé porque fui transferido para o Comando Chefe em Bissau. Penso que o [João]  Crisóstomo nem o conheceu. Tenho 3 fotografias que anexo, tiradas no campo de jogos do mesmo Enxalé durante uma evacuação mas por azar o Capitão em todas está de costas.

Talvez por eu ser o mais velho naquela tropa, descarregou comigo as suas mágoas. Casado e com filhos, arquitecto de profissão, sentia-se completamente desamparado. O Cap Mil Rosa era o oposto do Cap Mil Pires da antecessora CCaç 1439; este era um homem destemido no mato.

Com as alterações do Spinola,  a companhia [, a CART 1661,] mudou a base para Porto Gole, onde terminou a comissão. Não sei se ainda lá está o memorial da companhia. (anexo)

Vi-o em Lisboa de passagem em 1968, acho que tinha um carro Triumph verde Nunca fui aos encontros da CArt 1661 porque são sempre no Norte. Penso que este ano foi em Chaves, vê lá o esticão que era para mim.

O Abel Rei publicou um livrinho interessante com as peripécias desta companhia. (anexo)

Abraço,
Henrique





"Entre o Paraíso e o Inferno - (De Fá a Bissá) - Memórias da Guiné 1967/1968", de Abel de Jesus Carreira Rei

Porto Gole - Memorial que assinala a passagem ali da CART 1661
Foto: © Abel Rei (2002). Direitos reservados

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2. Sobre o mesmo assunto, mensagem de João Crisóstomo (ex-Alf Mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67):

Caro Beja,
Por mim não te posso adiantar nada sobre o Capitão Luís Vassalo Rosa. Talvez o Henrique Matos possa ajudar mais do que eu.
Estive algum tempo (duas vezes, um ou dois nesse de cada vez, “destacado" em Porto Gole (foi nos meus tempos lá, sob a minha orientação, que se fez com a ajuda do Cap/Régulo Amena na Onça a “descapinagem" e , assim mesmo muito por alto, a primeira “limpeza" do terreno para a futura pista de aterragem que só foi utilizada depois de eu já estar em Portugal); mas depois voltei a Enxalé meses antes do regresso a Portugal.
E a verdade é que depois de ter chegado a Portugal por muitos anos deixei de ter contactos com ninguém sobre assuntos da tropa e da Guiné. Estava a organizar a minha vida em Inglaterra, França, etc e o que eu queria era mesmo esquecer... nem quando me contactavam (vários anos seguidos) para me convidarem para eu receber uma medalha (Cruz de Guerra de 4.ª classe) eu respondia que não podia ir (a não ser que essa medalha fosse dada a todos os que faziam parte do grupo que eu comandava nesse momento; desses, na minha opinião, alguns mais do que eu mereciam essa medalha; e se assim fosse eu faria um esforço para ir a Portugal para a receber com eles. Mas a minha sugestão nunca mereceu uma resposta sequer e a medalha acabou por ficar por lá em qualquer gaveta…
Nem sabia sequer que havia encontros da CC1439 (como eles não tinham o meu endereço eu não recebia o convite; não sei se era enviado para a casa dos meus pais, que já velhinhos não teriam lembrança de me reenviarem esse correio!
O meu reatar com os meus colegas da CC 1439 deve-se a simples acaso: uma das minhas irmãs fez uma excursão qualquer na qual o Arantes também ia e ao falar com ele, que ia sentado ao lado dela, vieram a falar da Guiné… ; tempos depois o Capitão Pires falecia e o Arantes telefonou para Nova Iorque; mas eu não estava e vi a mensagem que me foi deixada escrita num pedaço de papel; mas só bastantes anos mais tarde tive oportunidade de ir a Portugal e reatar (em momentos de tremenda emoção que não esqueço) com alguns dos meus colegas da Guiné!; na altura ainda ninguém sabia do paradeiro do Zagalo nem do Lopes que viríamos a encontrar mais tarde.
Nem sei do nome do capitão que nos substituiu, nem da companhia… nada… estou a ficar velho...

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3. Nota do editor:

Sobre o Cap Mil Luís Vassalo Rosa, vd. também o Poste de 1 de Setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17720: (De) Caras (97): Luís Vassalo Rosa e Sousa Dias Figueiredo, ex-comandante da CART 1661 (Fá, Enxalé, Porto Gole, 1967/68), juntos pela primeira vez, 2010, em São Pedro de Moel (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de agosto de 7 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17739: Em busca de... (278): informação sobre uma senhora cabo-verdiana, Maria da Graça de Pina Monteiro, nascida em 1900, e que teve 3 filhas: (i) Ana Gracia Malaval, nascida em 1918, em Bafatá, de uma união com o sr. Edmond Malaval; e (ii) Judite e Linda Vieira, em Bissau, de uma outra união com um sr. português ou cabo-verdiano, de apelido Vieira (Ludmila A. Ferreira)

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17720: (De) Caras (94): Luís Vassalo Rosa e Sousa Dias Figueiredo, ex-comandante da CART 1661 (Fá, Enxalé, Porto Gole, 1967/68), juntos pela primeira vez, 2010, em São Pedro de Moel (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68)


Foto nº 1 > São Pedro de Moel > 2010> Convívio da CART 1661 e Pel Caç Nat 54 > O ex- cap mil Luís Vassalo Rosa, hoje arquiteto e urbanista (*)


Foto nº 2 >   São Pedro de Moel > 2010 > Convívio da CART 1661 e Pel Caç Nat 54 > O capitão Rosa ao centro; à esquerda o Abel Rei; e à direita, um alferes da CART 1661, de que não me lembro o nome


Foto nº 3 > São Pedro de Moel > 2010 > Convívio da CART 1661 e Pel Caç Nat 54 > O corte do bolo...


Foto nº 4 > São Pedro de Moel > 2010 > Convívio da CART 1661 e Pel Caç Nat 54 > O ex-capitão Luís Vassalo Rosa e o ex-capitão Dias Sousa Figueiredo, que  substituiu o primeiro no comando da companhia,

Fotos (e legendas): © José António Viegas (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de 28  de agosto último, enviada pelo José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54 (Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68), em resposta ao pedido formulado no poste P17693 (*):


Caro Mário (*)

Capa do livro do Abel Rei ,
edição de autor, 2002 (***)
Quando o Capitão [Luís Vassalo]  Rosa chegou ao Enxalé,  já me encontrava com o meu Pel Caç Nat 54 em Porto Gole. Pouco contacto tive com ele,  se não estou em erro ainda fiz uma operação e fomos a Bissá com ele e  a sua CART 1661.

Depois disso soube que adoeceu e foi substituído pelo o Capitão [Sousa Dias] Figueiredo.

Voltámos a encontrar-nos em 2010, num almoço da companhia e do Pel Caç Nat 54 em S. Pedro de Moel, em que se conseguiu juntar os dois capitães que nunca se tinham encontrado.

Ai vão algumas fotos do encontro [, reproduzidas acima].

 O Abel Rei que até já publicou um livro  ("Entre o paraíso e o inferno: de fá a Bissá")  será a pessoa indicada para falar do Cap Rosa

(***) Refereência completa:  Abel de Jesus Carreira Rei – "Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968". Prefácio do Ten Gen Júlio Faria de Oliveira. Edição de autor. 2002. 171 pp. (Execução gráfica: Tipografia Lousanense, Lousã. 2002)

domingo, 27 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17704: (De)Caras (91): Abna Na Onça, cap 2ª linha, comandante de uma companhia de polícia administrativa, regedor do posto do Enxalé, prémio "Governador da Guiné" (1966), morto em combate em Bissá, em 14/4/1967, agraciado a título póstumo com a Cruz de Guerra de 1ª Classe (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68)


Foto nº 1 A


Foto nº 1


Foto nº 2

Guiné > Região do Oio > Porto Gole ou Enxalé > c. abril de 1967 > Abna Na Onça dias antes de ser morto em Bissá (em 14/4/1967) (foto nº 1) mais uma das suas esposas e filho (foto nº 2).

Fotos (e legendas): © José António Viegas (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de 23 do corrente, enviada pelo José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54 (Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68), em resposta ao pedido formulado no poste P17693 (*):

 Caro João Crisóstomo

Ai vai uma foto do capitão de 2ª linha Abna na Onça, tirada poucos dias antes de ele morrer em Bissá, esse homem valente com quem o meu Pel Caç Nat 54 saiu várias vezes,  com ele e a sua polícia administrativa .

Na primeira  levada para se implantar o aquartelamento em Bissá, foi o Capitão Abna na Onça com os seus homens mais um pelotão da Cart 1661, ao 2º. ou 3º. dia,  já não me recordo,  foram atacados em força com canhão sem recuo e morteiro 82 , tendo o cap Abna na Onça sido atingido com estilhaço de granada de canhão sem recuo no peito, enquanto teve forças comandou os seus homens até ao fim. Houve dificuldade de comunicações e só quando chegaram mensageiros de Bissá se soube da tragédia.

Foram depois retirados os mortos e os feridos para Porto Gole a aguardar por ordem,  o que foram 2 dias terriveis com o cheiro, tendo eu gasto pacotes de detergente para tentar amainar o cheiro. Ao segundo dia vieram ordens para enterrar os policias administrativos, o que o fiz junto ao monumento e o cap Abna na Onça viria uma LDP buscá-lo.

Vim a saber depois pelo cabo manobra dessa lancha que a viagem de Porto Gole a Bissau,  foi horrível com o cheiro, tendo os marinheiros vomitado todo o caminho.

A segunda foto é uma das mulheres dele com o filho.

Foi substituído no comando da Policia Administrativa pelo seu irmão Sagna Na Onça.

Um abraço

Zé Viegas

PS - O malogrado cap Abna Na Onça, morto em combate, em Bissá (e não Biná...), em 14 de abril de  1967, capitão de 2.ª linha, comandante de uma Companhia de Polícia Administrativa e regedor do posto de Enxalé, foi agraciado a título póstumo com a Cruz de Guerra de 1ª Classe, conforme .publicado na OE24/IIIª/67. Tinha sido "Prémio Governador da Guiné", e visitado a metrópole em 1966. (**)

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quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17693: (De) Caras (89): Abna Na Onça, balanta, capitão de 2ª linha, morto em Bissá, em 15/4/1967... Fotos precisam-se... Foi conhecido do Jorge Rosales, João Crisóstimo, Abel Rei e Henrique Matos


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > c. 1965/66 > O alf mil da CCAÇ 1439, João Crsóstomo, ao fundo, na ponta da mesa; em primeiro, de costas, o Abna Na Onça, capitão de 2ª linha.

Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem, com data de ontem, do João Crisostomo (ex-alf mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67, que vive hoje em Nova Iorque) , em complemento do poste P17686 (*)

Caro Luis Graca,

Admiro-me que ninguém tenha ainda enviado fotos do Abna Na Onça. Quando voltar a Nova Iorque vou procurar, pois -- se não as perdi -- sei que tenho alguma coisa: tenho mesmo uma foto com ele (só nós os dois) em que eu pareço quase um anão ao lado dele. 

Entretanto envio-te uma que encontrei aqui no meu “arquivo” do meu computador em que ele aparece. Se a memória me não engana esta foto foi tirada quando eu fui a Porto Gole pela 1ª vez mas ainda não era para ficar . Só sei que o chefe de posto resolveu convidar-me para almoçar . acredito que estava apenas de visita (talvez para reabastecer quem lá estava),  pois vejo dois sargentos que,  se me não engano,  não pertenciam à nossa CCAÇ 1439. 

Na foto,  vê-se na cabeça da mesa Abna Na Onça de costas, mas ainda dá para o identificar sem qualquer dúvida; depois, pela direita, o chefe de posto (cabo-verdiano) e a esposa dele; a seguir um sargento cujo nome não lembro mais; eu estou na cabeça da mesa oposta ao Abna na Onca; a seguir um outro sargento cujo nome me não lembro ( oxalá isto não seja princípio de Alzeimar, mas a verdade é que estou a esquecer tudo e só me lembro de metade dos nomes…); a seguir está um furriel que me lembro de chamar “Tony” e sei havia algo de especial a respeito dele ( conhecimentos dele com pessoas célebres, penso eu); e a seguir ao lado dele o filho do chefe do posto. 

Quanto a outras memórias de Porto Gole… quem não tem memórias dos lugares por onde passou???… No meu caso, embora começam a ficar já “enevoadas”: além de Porto Gole, não me faltam memórias de Enxalé, Xime, Bambadinca, Missirá…. e outros . 

 Acredito que qualquer um de nós tem material para escrever um livro de recordações se se puser com vontade de as partilhar . E creio que muitos outros, cingindo-se apenas a factos sem qualquer precisão de "florear" , têm até muito mais a contar do que eu. É neste espírito de confiança que eu leio o que outros escrevem, quando escrevem no teu/nosso blogue. Se há alguém que quer escrever para “fazer literatura”, então eu espero bem que escrevam um romance ou o que quiserem, mas não o façam no teu/nosso blogue. Esse é para mim como um arquivo de memórias que merece todo o respeito (embora compreenda que há muita gente que como eu já se lembre só metade das coisas e, sem querer, comece mesmo a baralhar coisas). 

As brancas são  "próprias da idade" e há que respeitar, mesmo que haja incongruências e confusões. Por minha parte de coração agradeço que quando virem que estou dizer coisas “erradas" me corrijam imediatamente ; que isso só vai ajudar (a mim e a todos os que leem) a história como se passou .
Um abraço a toda a malta que ler isto.

João Crisóstomo


2. Comentário do editor:

Obrigado, João, é uma foto preciosa. De facto, como te disse, não tenho nenhuma foto do lendário Abna Na Onça. Pelo menos que me lembre... em todos estes 13 anos e meio de blogue...

Sobre o Abna Na Onça, temos uma versão do Jorge Rosales, que é de 1964/66 (**):

(...) Diz-me que era muito amigo do mítico Capitão de 2ª linha, o Abna Na Onça, chefe espiritual, poderoso, da comunidade balanta da região, a quem o PAIGC havia cometido o erro fatal de “matar duas mulheres e roubar centenas de cabeças de gado”. O seu prestígio, a sua influência e e o seu carisma eram tão grandes que ele sabia tudo o que se passava numa vasta região que ia de Mansoa a Bambadinca (nomeadamente, importantes informações militares, como a passagem de homens e armas do PAIGC).

Jovem (teria hoje 72/73 anos se fosse vivo), era um homem imponente, nos seus 120 kg. Schultz tinha-lhe oferecido um relógio de ouro e uma G3 como reconhecimento pelos seus brilhantes serviços … Mais tarde, será morto, em Bissá, em 15/4/67, com seis dos seus polícias administrativos, todos eles residentes em Porto Gole… Nesse dia o destacamento é abandonado pelas NT: “ um dia trágico para quem estava no inferno de Bissá, como escreveu o Abel Rei no seu diário( Entre o paraíso e o inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné, 1967/68, editado em 2002, pp. 68/70) (**)…


O Henrique Matos também o conheceu:

(...) Capitão de 2ª linha Abna Na Onça (...) era régulo de Porto Gole (não do Enxalé) e comandava a Polícia Administrativa, um grupo de pouco mais de 20 elementos que tinha uma farda esverdeada e estava armada com Mauser. Era um homem muito respeitado, não me esqueço que os soldados do [Pel Caç Nat ] 52 o tratavam por pai. Morreu em Bissá (ele e muitos outros), um chão balanta dominado pelo IN, onde alguém se lembrou de montar um destacamento sem o mínimo de condições (...).

Esperemos que apareçam mais fotos de (e depoimento sobre) o  Abna Na Onça (****).

PS - Pesquisando melhor, com tempo e vagar (que é coisa que não se tem quando se está de férias...), econtrei mais referências do Jorge Rosales  ao "homem grande" Abna Na Onça, incluindo uma foto de dele (!)n (*****). É  talvezx o poste mais completo sobre este guineense, que esteve do lado das NT e morreu em circunstâncias trágicas, em Bissá, ao tempo da CART 1661, conforme nos relatou aqui o Abel Rei (******).

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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 9 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça


sábado, 12 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17666: (In)citações (110): À procura de… Luís Vassalo Rosa, arquiteto e comandante da CART 1661 (Mário Beja Santos)

Cap Art Luís Vassalo Rosa, CMDT da CART 1661


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Agosto de 2017:

Queridos amigos,
Agora começa o trabalho para quem conheceu e ou conviveu com o Capitão de Artilharia Luís Vassalo Rosa, que tinha à sua responsabilidade Porto Gole, Enxalé, Bissá e Missirá.
Olhando este dispositivo, eu que apanhei outro (Missirá ficou na dependência do batalhão de Bambadinca, talvez logisticamente acertado mas inadaptado à quadrícula, as bases do PAIGC eram as mesmas para Missirá e Enxalé, mas o assunto para aqui não é relevante) fico a refletir como havia mais bom-senso no dispositivo no terreno, face às caraterísticas do inimigo. Têm aqui constado referências largas sobre a CART 1661, presumo que o Capitão Vassalo Rosa não teve longa permanência, chegou em 1967, ano em que é recambiado com tuberculose para Lisboa.
Há fotografias? Há documentação? Que memória ficou dos seus camaradas de então?
Quem sabe, sabe.

Um abraço do
Mário


À procura de… 
Luís Vassalo Rosa, arquiteto e comandante da CART 1661

Beja Santos

Luís Vassalo Rosa é nome proeminente da arquitetura portuguesa da segunda metade do século XX, tem trabalho reconhecido por colegas de ofício e amigos como Fernando Peres, Armando Lucena, Maurício de Vasconcelos, Raul Chorão Ramalho, Nuno Teotónio Pereira, Manuel Tainha, entre outros. Começou a carreira profissional em Pangim, Goa, será capitão de artilharia na Guiné, em 1966, virá evacuado depois de contrair tuberculose. A sua obra mais importante será a Sé de Bragança, Catedral de Nossa Senhora Rainha. A Câmara Municipal de Almada dedicou-lhe na Casa da Cerca, entre finais de 2007 e Março de 2008 uma exposição a pretexto de ter recebido o Prémio Municipal de Arquitetura Cidade de Almada, a exposição permitia ao visitante acompanhar o percurso desde o seu primeiro projeto, o Jardim-Escola João de Deus, em Torres Novas, de 1957, até ao estudo para a cidade desportiva de Sines, em 2007. Pelo caminho, as suas diversificadas intervenções no plano de urbanização de Chelas, no plano integrado de Almada - Monte da Caparica, no estudo preliminar para a recuperação e valorização conjunta do Castelo de Almourol e da Igreja de Nossa Senhora do Loreto em Vila Nova da Barquinha, o Palácio da Justiça de Setúbal, a recuperação do Palácio do Alvito, Plano Diretor Municipal de Salvaterra de Magos, Marina de Portimão, e muito mais.



É exatamente na leitura deste vastíssimo currículo que se encontram referências mínimas à sua passagem pela Guiné. Diz-se que embarca no Uíge em 1967 com a CART 1661, sendo-lhe atribuído o setor Missirá, Enxalé, Porto Gole e Bissá, foi posteriormente evacuado para o Hospital Militar de Bissau e transferido para o Hospital Militar de Lisboa. Aparecem duas fotografias do comandante da CART 1661, e nada mais.


Penso que seria interessante investigar-se o percurso do arquiteto Vassalo Rosa em Porto Gole, Enxalé, Bissá e Missirá. Ocorreu-me que pessoas como o João Crisóstomo, o Abel Rei, o Henrique Matos Francisco, entre tantos outros, podiam ajudar a localizar e a mostrar mesmo imagens do construtor da Sé de Bragança por aquelas paragens da Guiné. Estive em Missirá, no ano seguinte, não obtive qualquer referência à sua pessoa.
Vamos a ver até onde poderá ir a procura à volta do comandante da CART 1661.
Todas as ajudas serão muitíssimos úteis para que o seu retrato guineense fique o mais nítido possível.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17514: (In)citações (109): Portugal a arder - destruição, desolação e morte (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15218: Memória dos lugares (321): Porto Gole, fevereiro de 1967: visita do Gen Arnaldo Schulz (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)


Foto nº 1 - Porto Gole, fevereiro de 1967; o Gen Arnaldo Schulz e um Ten-Coronel que não identifico


Foto nº 2 - Porto Gole, fevereiro de 1967: o Brigadeiro Reimão Nogueira e o régulo Sá Na Onça [, irmão do valoroso capitão de 2ª linha, Abna Na Onça, morto em Bissá];   de costas,  o Gen Arnaldo Schulz


Foto nº 3 - Porto Gole, fevereiro de 1967: o Gen Arnaldo Schulz, o Tenente Médico da CART 1661 (à direita)  e o Alferes Carlos Marchã,  Comandante do Pel Caç Nat 54 (à esquerda).


Foto nº 4 - Porto Gole, fevereiro de 1967:  a despedida: o Gen Arnaldo Schulz ao lado do piloto; em primeiro plano, à esquerda, um cabo especialista da FAP e , eu, à direita, com  as minhas botas alentejanas e o camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966. 

Fotos (e legendas) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem de ontem,  de José António Viegas algarvio, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole e  Ilha das Galinhas, 1966/68):

 Caro Luis,  aí te envio algumas fotos de gente da Guiné nos anos de 1967.

Depois de ter passado por Mansabá, Enchalé e Missirá, assentei arrais em Porto Gole em fevereiro de 1967. 

Aí te envio algumas fotos da visita do General Arnaldo Schulz e do Brigadeiro Reimão Nogueira ao destacamento, onde se encontrava o Pelotão de Caçadores Nativos 54 e parte da CART 1661.

Vou tentar descobrir no baú mais memórias de Porto Gole.

Um abraço,
José António Viegas [, foto atual à esquerda]
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15170: Memória dos lugares (320): Academia Militar, Palácio da Bemposta, Lisboa, visita no âmbito do Festival Todos 2015 (Parte II)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12441: O nosso livro de visitas (172): Pedido de informação de Djarga Seidi, guineense da diáspora, com esclarecimento prestado pelo nosso colaborador José Martins


Guiné > Zona leste > Setembro de 1968 > Foto nº 99/199 do álbum do João  > "Os meus camaradas, alferes de cavalaria" [ possivelmente da CCAV 1662, sendo o jipe com o canhão s/r também possivelmente do Pel Can s/r 1200] (*). O nosso camarada João Martins terá conhecido em Piche o tal "alferes Canhão" que o nosso leitor Djarga Seidi anda à procura.

Foto (e legenda): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Foto editada  por L.G.)


1. Mensagem do nosso leitor Djarga Seidi, guineense da diáspora:

De: seidi djarga 
Data: 8 de Dezembro de 2013 às 20:25
Assunto: felicitação


Exmo. Senhor Luis Graça,

Na minha qualidade de Guineense que vive atualmente em Portugal já há poucos anos, aproveito esta oportunidade para vos felicitar pelo blog sobre histórias e atualidades da Guiné-Bissau, que penso ser um bom contributo para se conhecer uma boa parte da história do nosso pais assim como atividades que levam acabo em prol das populações.

Com muito gosto que desejaria encontrar com o Senhor.

Peço,  caso seja possivel, ajudar localisar dois amigos meus,  ex-Oficiais do Exército Colonial,  entre os anos de 1968 a 1972:

 - Comodoro da Marinha, que esteve na Marinha da Guerra em Bissau, com Gabinete de trabalho na antiga Amura, entre 1970-1973;

 - Alferes que esteve em Piche, que se chamava Alferes Canhão, sendo Comandante do Canhão que transportava num jeep, entre 1967-1970.

Gratos pelo atenção,

Djarga Seidi


[Tem página pessoal no Facebook; pelas fotos que disponibiliza, verifica-se que deveria ser muito criança na época a que se refere o seu pedido: deverá ter hoje 40 e tal anos... ]

2. Comentário, de 9 do corrente, do nosso colaborador José Martins a quem pedi a recolha de informação adicional para podermos responder ao nosso leitor Seidi:

Viva, Luís

Vamos tentar dar resposta às questões apresentadas:

Comodoro - Como sabes,  a patente de Comodoro equivalia, no caso do exército,  a Brigadeiro. Seria, então, um oficial já com alguma idade, necessariamente acima dos 50 anos. Se juntarmos a este número os 40 nos já passados, será pessoa, caso ainda esteja entre nós, para ostentar a idade de 90 anos, pelo que presumo que a familia o terá em bom recato para não ser incomodado.
Quanto à possibilidade de se saber quem é/era, temos que ter em consideração que o Rama da Marinha é o que mais protege os seus membros, para mais tratando-se de um oficial general, em serviço no Comando Chefe.

Alferes Canhão - É muito provavel que tenha sido o comandante de um pelotão de canhões sem recuo. O nome de Canhão ou é uma coincidência ou então "herdou" o nome da arma que manejava: um canhão sem recuo montado em jipe, para mais facil deslocação. 

Apesar da pesquisa para se saber quem é/era e depois localizá-lo será mais fácil, desde que exista no AHM [Arquivo Histórico Militar] a história da unidade que, em termos logisticos, operacionais e administrativos, dependia do batalhão instalado no comando do sector. Em anexo segue listagem das unidades que passaram por Piche, no periodo entre 1961 e 1974 [excerto]. A indicação PU (pequena unidade) quer indicar que a unidade não estava completa.

 Espero ter dado resposta às questões mencionadas.(**)

Abraço, do Zé Martins.



Listagem das unidades que passaram por Piche, no periodo entre 1967 e 1971, incluindo o Pel Canões s/r 1200 (jul 67/ mai 69) e o Pel Canhões s/r 2126 (jun 69/ mar 71).

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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 10 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9879: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte IV : Em Piche, com um Pel Art com 3 peças de 11.4

quinta-feira, 18 de março de 2010

Guiné 63/74: P6013: Camaradas na diáspora (1): João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), militante de causas nobres, a viver em Nova Iorque



Coruche > 19º Encontro Nacional da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missitá, 1965/67)> O Mário Beja Santos, ao centro, tendo  à sua direita, o Henrique Matos (o 1º Comandante do Pel Caç Nat 52), o João Crisóstomo e na ponta o Jorge Rosales (Pel Caç Nat 54); à sua esquerda, estão dois camaradas que Freitas e o Sousa (segundo informação do João)


Coruche > 19º Encontro da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole  e Missirá) > O Mário mais o Henrique, ambos do Pel Caç Nat 52, e outros dois camaradas que não identificamos (As fotos vieram sem legendas: talvez o João  Vaz Neto e o Cunha)


1.  Há dias recebemos (e já publicámos) uma mensagem,  de 8 do corrente, subscrita pelo Mário Beja Santos, na sequência do 19º encontro da CCAÇ 1439 (1965/67), a que compareceram também outros membros da nossa Tabanca Grande, como o Henrique Matos (Pel Caç Nat 52) e o Jorge Rosales (Pel Caç Nat 54) (*).

Escreveu o Mário:

"(...) Foi graças ao blogue que cheguei à fala com o Henrique Matos Francisco, 1º Comandante do Pel Caç Nat 52. Em Missirá, naqueles idos de Agosto de 1968, os soldados falavam-me de Luís Zagalo Matos, um dos seus heróis, era o seu irã. Escrevi-lhe, pedi-lhe fotografias para as fazer chegar aos soldados de Missirá, mas também aos Soncó e aos Mané.

"Com a publicação dos livros, vieram outros contactos. Por exemplo, o João Crisóstomo, alferes da CCaç 1439, estavam no Enxalé quando aqui chegou o Pel Caç Nat 52" (...)

Mas quem é afinal este camarada João Crisóstomo, já anteriormente evocado pelo Mário ? (**)

"O João Crisóstomo vive em Nova Iorque, o nosso país tem com ele uma dívida incomensurável (os principais jornais dos EUA, as grandes cadeias de televisão, apoiaram-no na defesa do povo de Timor e na preservação do património de Foz Coa, por exemplo), há uns tempos pediu-me notícias do Zagalo, acabámos por ir os dois visitá-lo na Casa do Artista, onde ele vive muito debilitado, depois de um tremendo AVC" (...).

"O almoço[, em Coruche, ] foi um turbilhão de surpresas [, a começar pelo João Crisóstomo]. Fiquei ao lado do Jorge Rosales, foi ele quem em Bolama preparou os soldados do Pel Caç Nat 52. Fiquei em frente do João Neto Vaz, um dos furriéis do Pel Caç Nat 52 que,  ao fim de 20 meses de comissão,  apanhou uma senhora porrada e foi despachado para Catacunda [, CART 1690], na região de Geba (Bafatá), onde foi capturado e metido numa prisão em Conacri, de onde foi libertado em finais de 1970, como é de todos sabido.(***)

"Conheci também o Cunha que,  no dia em que pretendia ir a Bafatá tratar dos papéis para o casório, foi ferido gravemente num joelho, durante uma emboscada entre Xime e Amedalai.

"A companhia dos madeirenses [, a CCAÇ 1439,] entrara na minha vida pelos relatos dos soldados, era um dos meus temas preferidos quando andava de noite pelos postos de sentinela, conversava com eles, enquanto olhávamos para o interior da mata, iluminada a petromax. Esta companhia ficou no Enxalé até Abril de 1967, seguir-se-á a CART [, e não  CCaç, ] 1661 [, a que pertenceu o nosso camarada Abel Rei, autor do livro Entre o paraíso e o inferno: de Fá a Bissá, Memória da Guiné, 1967/68." (...)




Guiné > Zona Leste > Enxalé > CCAÇ 1439 > Set de 1966 > Foto 1 > Na messe: 1 - Cap Mil Pires, Cmdt da Companhia [CCAÇ 1439]; 2 - Alf Mil Sousa; 3 - Alf Mil Zagalo; 4 - Médico do Batalhão; 5 - Eu [, Alf Mil Henrique Matos, Cmdt Pel cAÇ nAT 52];  6 - Alf Mil Marchand, Cmdt do Pel Caç Nat 54; 7 - Fur Mil Antunes, falecido em combate; 8 e 9 - Fur Mil Monteiro e Altino, do meu Pelotão.

Foto: Fur Mil Viegas, do Pel Caç Nat 54. Cortesia  e legenda do Henrique Matos





Foto 2 > Na enfermaria > Copos com pessoal da Companhia: de camuflado o Alf Mil Crisóstomo, ao lado estou eu de cigarro nos dedos (para variar); por trás do Crisóstomo, está o Alf Mil Freitas.

Foto: Leiria, Condutor da CCAÇ 1439. Cortesia e legenda do Henrique Matos


2. Comentário de L.G.:

O João Crisóstomo é um português das Arábias....Um dos muitos camaradas nossos que, depois do regresso da guerra, fez-se à vida, e quis conhecer o mundo largo e farto...Que na casa materna, a nossa Pátria, não cabiam todos...ou só cabiam alguns.  A história, invulgar, deste nosso camarada, vim a descobri-la na Net... Confirma-se que é um militante de causas nobres (Gravuras Rupestres de Foz Coa, Memória de Aristides Sousa Mendes, autodeterminação de Timor Leste e do Sahara Ocidental).

É o primeiro a inaugurar esta série dos Camaradas na diáspora (que, de resto, já são bastantes, na nossa Tabanca Grande).

O João ainda não faz parte, formalmente, da nossa Tabanca Grande, aguardando-se a sua resposta ao convite que lhe foi endereçado pelo Carlos Vinhal.

Peço à jornalista Maria João Veloso, autora da prosa (em português e inglês),  que me deixe, com a devida vénia, citar alguns (largos) excertos... A artista e o retratado bem o merecem (Os nossos leitores farão depois o favor de ler o texto na íntegra e comentá-lo):

Up Magazine > Português no Mundo > João Crisóstomo - Nova  Iorque > 22/12/2009  [ Texto: Maria João Veloso; Foto: Marisa Cardoso, editada com a devida vénia]

(...) Chamam-lhe o mordomo activista. A viver em Nova Iorque há 34 anos, João Crisóstomo gasta os tempos livres a lutar por causas em que acredita. Os finais felizes para as gravuras de Foz Côa e da autodeterminação do povo de Timor-leste, contaram com a sua ajuda. Um par de causas apenas, entre tantas outras que tem abraçado.


(...) João Crisóstomo cresceu numa família com grande tradição católica. Muitos dos seus parentes seguiram a vocação religiosa e dedicaram a vida ao sacerdócio. Ele próprio, na juventude, frequentou um seminário de franciscanos, mas acabou por seguir outro rumo. Deste percurso, ficou a vontade de ajudar o semelhante: “Não sou um católico fervoroso, mas a base da minha vida é seguir a palavra de Cristo”, admite. Pode dizer-se que, nas últimas décadas, o português radicado em Nova Iorque se tem dedicado a causas quase sempre relacionadas com Portugal ou os portugueses.


Se hoje em Foz Côa existe o maior museu paleolítico ao ar livre do mundo, João Crisóstomo tem a sua quota-parte de responsabilidade, através da campanha internacional que lançou, em 1995, apelando a que não afogassem este santuário de arte rupestre. “O caso, para mim que vivo no estrangeiro, foi uma surpresa. Não fazia a mínima ideia da existência de Foz Côa e, quando li o artigo no New York Times, achei que nos EUA podia dar alguma ajuda.”


O emigrante publicou então uma carta aberta ao editor do periódico nova-iorquino que explicava o que se estava a passar em Portugal. Mandou também uma outra carta, a Boutros Ghali, então secretário-geral da ONU, onde mostrava a sua preocupação com o facto das obras da barragem de Vila Nova de Foz Côa obrigarem à submersão das figuras. O Times, a BBC, o Le Monde e o Liberation, deram-lhe um grande apoio. Da mesma forma, chegaram a Portugal epístolas suas para jornais como o Público, o Expresso, ou o Diário de Notícias. (...)

O percurso do activista português é no mínimo sui generis. Saiu de Portugal para a Europa para aprofundar os conhecimentos em línguas, tencionando depois regressar e tornar-se profissional de turismo. Mas a vida reservava-lhe várias surpresas. Andou por Inglaterra, França e Alemanha, sempre a trabalhar na área da hotelaria, tirando em simultâneo cursos de inglês e francês. Na década de 1970 rumou ao Brasil, onde começou por trabalhar na recepção de um hotel, aproveitando para tirar um curso de hotelaria na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 

A convite de um professor, foi até aos EUA, onde aproveitou para estudar na universidade de Cornell. Quando se preparava para voltar ao Brasil, soube que havia uma senhora a precisar de um mordomo. Jacqueline Kennedy Onassis. “Foi uma experiência extraordinária. Ela era uma senhora em todos os sentidos. Carinhosa, diplomata, muito inteligente, tinha todos os predicados para ser uma primeira-dama.”

Terá sido um bom exemplo, nos anos em que trabalhou para ela, vê-la ajudar prisioneiros, com iniciativas de vária ordem, entre as quais mandar livros para as prisões, ou não hesitar em sair para a rua com cartazes contra a demolição do Grand Central Terminal, a emblemática estação de comboios nova-iorquina. “Inconscientemente fui influenciado pela sua determinação. Nos movimentos que entretanto lancei ela não teve influência directa, mas o John John Kennedy (o filho) sim”.

A actividade como mordomo, e depois como maître de um banco, pô-lo em contacto com personalidades de relevo americanas, da esfera da alta finança e da política, o que tem facilitado a sua actividade como defensor de causas. 

A seguir a Foz Côa, João Crisóstomo lutou pela independência de Timor-leste. Quando lhe pediram para abraçar a causa do país do sol nascente, conheceu Anne Treseder, advogada norte-americana bastante informada sobre o assunto. Os conselhos que lhe deu levaram-no, por outro lado, à descoberta do cônsul português Aristides de Sousa Mendes que, a partir de Bordéus, salvou milhares de judeus dos campos de concentração durante a segunda Guerra Mundial.

“Para ajudar Timor-Leste, impunha-se conseguir o apoio da imprensa. Ora, esta é bastante controlada pela comunidade judaica. Se quer o apoio deles, fale-lhes de Aristides de Sousa Mendes, disse-me a advogada”. O cônsul português em Bordéus tornou-se assim uma porta, e “uma causa apaixonante para mim”. 

O LAMETA – Movimento Luso-americano para a Autodeterminação de Timor-leste –, da qual é presidente, deu seguimento a várias iniciativas de pressão junto das autoridades norte-americanas, como uma petição ao presidente Bill Clinton: “Quando lhe mandei o abaixo-assinado, fazia notar que estavam ali assinaturas conscientes, por exemplo de líderes portugueses e membros prestigiados da comunidade internacional, como Patrick Kennedy (filho de Ted Kennedy).” A contribuição foi decisiva para que a Indonésia mudasse a política em relação a Timor e aceitasse a realização de um referendo, passo em direcção à autodeterminação do povo timorense.

Entretanto, ao conhecer a história de Sousa Mendes, João Crisóstomo começou paralelamente um outro movimento para que se fizesse justiça ao nome do diplomata português que, com um simples carimbo no passaporte, salvou cerca 30 mil vidas, entre as quais as de 10 mil judeus. 

Na exposição Visas For Life, em Junho de 2003, no Museu da Herança Judaica de Nova Iorque, destaca-se Sousa Mendes, embora o mordomo português tenha lembrado ao curador da mostra, a relevância de outros diplomatas portugueses e brasileiros, nomeadamente Luís Martins de Sousa Dantas, Sampaio Garrido, Teixeira Branquinho e Guimarães Rosa, cuja acção diplomática permitiu salvar também milhares de judeus do holocausto.

A acção mais extraordinária desta causa, contundo, aconteceu a 17 de Junho de 2004. Por iniciativa de Crisóstomo – para assinalar o dia em que Sousa Mendes iniciou a concessão de vistos (em 1944) – organizou-se, com o apoio da Fundação Raoul Wallenberg e de vários cardeais, uma missa de Acção de Graças em 22 países, lembrando não apenas o cônsul português, mas também o sueco Wallenberg e o suíço Carl Lutz considerados por Israel como “justos entre as nações”. Em Abril do ano seguinte, aquando dos 50 anos sobre a sua morte, o nosso entrevistado conseguiu também que o “Schindler português” voltasse a ser homenageado no Museu de Herança Judaica.

João Crisóstomo conta-nos que a luta do momento se prende com a independência do Sara Ocidental
: “Dizem que consigo tudo o que quero, mas só trabalhando com muito afinco”. Até hoje, tendo como quartel-general a sua casa, e como “arma” um fax, o mordomo activista tem conseguido mover montanhas.

Maria João Veloso

[ Selecção / revisão / fixação de texto / links:  L.G.]
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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

 10 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5969: Convívios (112): 19º Encontro da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67)

12 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5983: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (22): As voltas que o mundo dá, graças a um blogue que congrega uma diáspora de combatentes (Beja Santos)

  (**) Vd. poste de 2 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5392: Em busca de... (104): Luís Zagallo (ex-Alf Mil, CCAÇ 1439) - Um pedido de ajuda do João Crisóstomo (EUA) que me encheu de lágrimas (Beja Santos)

Sobre o Luís Zagalo, há uma curta nota na Wikipédia que diz o seguinte: Luís Zagalo [n. 1940, em Lisboa,] é um actor português com uma carreira no teatro, na televisão e no cinema. Em 1993 participou na telenovela "A Banqueira do Povo", em 2001 em "Olhos de Água", em 2003 em "Morangos com Açúcar" e em 2006 em "Floribella". Também fez parte do elenco das peças de teatro cómicas: "Pijama para 6" e "Uma cama para 7". (....)

 Foi também encenador, com conforme cartaz que aqui se reproduz, e onde se vê o Luís a contracenar com o Tozé Martinho. Esteve em cena, por exemplo, no Bombarral, em 31-01-2009 - Comédia “O Meu Menino” - TZM Produções:

"Encenação: Luís Zagalo. Interpretação: Tózé Martinho, Luís Zagalo, Fernanda Sargedas, Inês Simôes, Florbela Meneses, Rita Simões, Daniel Garcia e Gonçalo Bettencourt. Autores: Franz Arnold e Ernest Bach"...  Cartaz reproduzido, com a devida vénia, do sítio da Câmara Municipal do Bombarral, que tem como único propósito homenagear um camarada nosso, atingido pelo infortúnio da doença. O Luís vive hoje no lar na Casa do Artista,

(***) Vd. poste de 13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida (26)? A situação político-militar na Guiné. A. Marques Lopes.
 
(...) 10 de Abril [de 1968]– Cerca da meia-noite, ataque do PAIGC ao quartel de Cantacunda, causando um morto e fazendo 11 prisioneiros. Os outros, nove, foram obrigados a abandonar o destacamento. O ataque foi conduzido pelo comandante Braima Bangura (fuzilado em 12 de Julho de 1986, juntamente com Paulo Correia e outros, por ordem de Nino Vieira, sob acusação de tentativa de golpe de Estado em 17 de Outubro de 1985) e teve a conivência do régulo Braima Candé e da população. (...)