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sábado, 25 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20900: Tabanca Grande (493): José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã, ex-alf mil inf, CCAÇ 2753, "Os Barões do K3" (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába, 1970/72): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 807


O alf mil inf José Carvalho, CCAÇ 2753, Os Barões do K3,  (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába,  1970/72)
 

O médico veterinário José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã; novo membro da Tabanca Grande com o nº 807. . Fotos (e legendas): © José Carvalho  (2029). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Pimentel de Carvalho, médico veterinário e novo membro da Tabanca Grande, que passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 807:

Data: 14/04, 18:40 (há 10 dias)

Assunto: Inscrição como membro da Tabanca Grande

Boa tarde Luís Graça,

Depois de há bastante tempo visitar regularmente o blogue, que considero ser uma obra notória e importante para a história recente de Portugal, por isso felicito os seus obreiros, neste período de confinamento, em que até consigo ter tempo…, concretizo a decisão de apresentar a minha inscrição para membro da Tabanca Grande.

Sou oriundo do concelho do Bombarral, vizinho da Lourinhã, em cujo concelho iniciei a minha actividade profissional, na industria avícola, quando a mesma começava a ser uma das principais actividades económicas da região.

Teremos até amigos comuns, um dos quais que recordo com saudade, o Álvaro Carvalho, condiscípulo no Liceu de Leiria, nos anos sessenta, ambos com o mesmo encarregado de educação local, e irmão do meu colega e amigo homónimo José Carvalho.

Nasci em 1948, no Bombarral, José Júlio Faria Pimentel de Carvalho, fui incorporado no Exército Português em Julho de 1969, na EPI Mafra, passei pelo BI 17, Angra do Heroísmo, onde se formou a CCaç  2753, "Barões do K3",  e chegámos à Guiné em Agosto de 1970. 

A companhia finalizou a comissão em Junho de 1972 e eu com a incumbência da comissão liquidatária, em inicio de Agosto.  

Fui Alf Mil Inf tendo passado, entre 1970 e 1972 por Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansabá.

Junto-me a mais dois ”Barões”, que são membros veteranos da Tabanca Grande, o grande Amigo Vítor Junqueira, com quem ultimamente tenho convivido nos almoços da Tabanca do Centro,  e o Francisco Godinho.

Profissionalmente desenvolvi a minha actividade de Médico Veterinário, predominantemente na área da avicultura e na industria farmacêutica (saúde animal).

Em ficheiro anexo envio as duas fotografias requeridas, uma de 1972, outra desta semana e proponho no futuro enviar outras da Guiné, que porventura os distintos editores, avaliarão do interesse ou não da sua publicação.

Termino felicitando e agradecendo o notável esforço de todos Tertulianos, que ao longo destes anos, têm contribuído para o enorme sucesso do blogue.

Um abraço do
José Pimentel de Carvalho


2. Comentário do editor LG:

Caro José Carvalho: os amigos dos meus amigos meus amigos são... Além disso, como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, o que esbate logo eventuais distâncias... Seguramente que já nos encontrámos por aqui, na Lourinhã, e, como soi dizer-se nestas circunstâncias, "a tua cara não me é estranha"... 

E começas logo por citar dois grandes amigos de infância, o Álvaro Carvalho, médico psiquiatra (Lourinhã,  1948 - Lisboa,  2018) (e meu colega de escola primária, um amigo de toda a vida: tem aqui, neste blogue, pelo menos 3 referências, textos meus de apreço, saudade e homenagem) e o José Andrade de Carvalho, seu mano, também médico veterinário como tu. Em suma, sempre fui amigo da família, incluindo a Hermínia.

Quanto ao Vitor Junqueira, há muito que nos honra com a sua presença na Tabanca Grande, organizou o nosso II Encontro Nacional, em Pombal, em 2007, Tem cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue e dele já publicámos algumas das nossas melhores histórias. Há uns anos a esta parte deixou de ser tão assíduo, o que é humanamente compreensível: andamos para aqui a blogar desde 2004...

O Francisco Godinho ainda há pouco tempo o encontrei na Casa do Alentejo. Também nos honra com a sua presença, contando com quase 3 dezenas de referências no nosso blogue.

Naturalmente, não precisas de cartas de recomendação: estás aqui de pleno direito, como ex-combatente no TO da Guiné,  e já te sentei no lugar n.º 807, à sombra do nosso secular, mágico, protetor e fraterno poilão... Como sabes, não havia tabanca sem poilões, e a nossa tem um muito grande, justamente para poder caber, sob a sua frondosa copa, todos os nossos camaradas... (e alguns amigos/as, que, não tendo sido militares, têm uma relação especial com a Guiné).

É caso, de  resto, para dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. E, no teu caso, não preciso de lembrar que a nossa Tabanca é Grande, justamente porque nela cabemos todos nós, com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos pode separar. E uma vez, que não há mais nenhum José Carvalho, ficas com o nome por que  foste batizado e és conhecido, e que passa, a partir de agora, a figurar na nossa lista alfabética, de A a Z, na coluna estática do lado esquerdo do blogue. (Se preferires, podes ficar como José Pimentel de Carvalho, como és conhecido profissionalmente.)

Sendo tu já um leitor de longa data do nosso blogue, sabes quais são as nossas regras editoriais e o nosso "modus faciendi": textos e fotos para publicação mandas, como fizeste agora, para um dos editores. Tratamos depois do resto.

És naturalmente bem vindo e seguramente recebido de braços abertos por todos/as. Não tenho, assim de cor, a certeza de ter algum bombarralense como grã-tabanqueiro... Conheço o Patuleia, mas ele foi combatente em Angola, embora tenha cá bons amigos e camaradas, como o António Marques, da  minha CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): estiveram muito juntos, no Hospital Militar Principal, em recuperação, em 1971/72.

Desculpa só agora responder-te: poderia desculpar-me com a situação atual criada pela pandemia de COBID-19 e  com  o "teletrabalho" (, que, de resto,  já existe há muito entre nós,  editores, em boa verdade desde o início do blogue, em 23/4/2004)... Mas não, precisava apenas de ter uma horinha para te dar bom andamento ao teu pedido e apresentar-te aos demais camaradas e amigos.

Vejo, por outro lado, que somos também da saúde pública, e portanto com mais afinidades, para além da Guiné e dos nossos comuns amigos da Lourinhã.  Estás apresentado, desejo-te boa saúde e longa vida, e aguardo as tuas próximas histórias.

A tua CCAÇ 2753 tem 27 referências no nosso blogue. Vão aumentar, seguramente, com a tua partilha de memórias (e afetos).
Luís Graça

PS - O nosso coeditor Carlos Vinhal é teu contemporâneo, esteve  em Mansabá,  entre abril de 1970 e março de 1972. Foi Fur Mil At Art, com a especialidade de minas e armadilhas da CART 2732.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20854: Efemérides (323): No dia 13 de Abril de 1970, a CART 2732 embarcou no Cais do Funchal, no navio Ana Mafalda, com destino à Guiné (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA)


Se dos fracos não reza a História, da História da CART 2732 e dos seus valorosos Combatentes, reza que hoje se completam 50 anos após o seu embarque no Cais do Funchal, no navio Ana Mafalda, com destino à Guiné, onde chegaram no dia 17 para cumprir uma esforçada comissão de serviço de 23 meses.

Companhia de quadrícula, esteve aquartelada em Mansabá durante 22 meses, onde deixou muitos amigos e saudades entre a população.

Cais do Funchal, 13 de Abril de 1970 - O Governador do Distrito, Coronel Braamcamp Sobral, e o Governador Militar da Madeira, Brigadeiro Luís Mário do Nascimento, passam revista à formatura da CART 2732.

Cais do Funchal, 13 de Abril de 1970 - Desfile da CART 2732, comandada pelo Alf Mil Manuel Casal, momentos antes do embarque. Como Porta-estandarte o então Segundo Sargento António Piedade Santos.


Foi este o efectivo da CART 2732 que embarcou no navio Ana Mafalda

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Notas:

São estes os que embora "não achando quem armas lhes resistisse" acabaram por sucumbir no cumprimento da sua missão, não voltando connosco:

a) - O Alf Mil Art MA José Armando Santos do Couto, faleceu em combate em 6 de Outubro de 1970
b) - Soldado José do Espírito Santo Barbosa, faleceu no HMP em 14 de Dezembro de 1971, vitima de ferimentos recebidos em combate no dia 2 de Dezembro.
c) - Soldado Manuel Vieira faleceu em combate no dia 2 de Dezembro de 1971.
d) - Soldado José Silvestre Nunes Vieira faleceu vítima de acidente de viação  em 17 de Maio de 1971.

Há ainda a registar o falecimento por doença, em 16 de Maio de 1971, do Soldado Artur Malcata de Matos, integrado na CART 2732 já na Guiné.

A estes 5 saudosos camaradas de armas, neste dia, a nossa homenagem.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20851: Efemérides (322): O meu domingo de Páscoa de 1968 (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG)

quarta-feira, 6 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19555: In Memoriam (341): Falecimento, no passado dia 3 de Março, do 1.º Sargento João da Costa Rita da CART 2732 (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA)

Acabou de chegar ao meu conhecimento, via José da Câmara, também este um amigo e camarada de armas dos Açores, combatente na Guiné, a triste notícia do falecimento, no passado dia 3, do "nosso" Primeiro Rita, com quem partilhei imensas horas enquanto estive "impedido" na Secretaria da Companhia e mesmo como Furriel Miliciano.

Apesar de mais velho, e pertencente ao "Quadro Permanente das FA", era um camarada que tudo fazia para nos integrar, respeitando-nos e fazendo-se respeitar. São inúmeros os episódios em que demonstrou estar sempre do lado dos milicianos. 
A sua experiência foi muito importante principalmente para os Furriéis especialistas da Companhia, ajudando-os na parte burocrática, muito mais complexa, por vezes, que a operacional.
Se bem se lembram, a CART 2732 esteve muitas vezes sem Comandante, sendo nestes intervalos os nossos alferes milicianos a assumir o seu comando. Nestas alturas sempre tiveram da parte do 1.º Rita a melhor colaboração e lealdade.

Mansabá, dia de aniversário do Cap Mil Jorge Picado. O 1.º Rita é o primeiro à direita
Foto: Jorge Picado


Com a devida vénia ao jornal Correio dos Açores

Mantive desde sempre contacto com o Chefe Rita, como lhe chamávamos, tendo-o visitado, inclusive, quando em 2006 estive nos Açores. Ainda falei com ele neste Natal de 2018, nada me levando a acreditar que era a última vez que o ouvia dizer: - Então senhor Carlos?

Tinha um sentido de humor apurado. Entre muitas "tiradas", retenho algumas como por exemplo ele ser o único branco nos Açores (era natural da ilha do Faial mas vivia na Terceira), e falar da árvore do macarrão, existente unicamente naquelas ilhas, em contraponto aos imensos arrozais da Guiné. Quando desaparecia algum papel na secretaria, dizia sempre que alguma vaca o tinha comido. Tendo prestado serviço na então Índia Portuguesa, onde foi prisioneiro de guerra, dizia-nos que lá as vacas andavam por tudo quanto era sítio e que ninguém as podia maltratar. Comiam tudo que apanhavam, tal era a fome, incluindo papel.

Ponta Delgada, 21JUL2006. Eu e o 1.º Rita

À sua esposa, filhos, netos e demais familiares, quero deixar, em meu nome pessoal e dos elementos da CART 2732, principalmente dos que mais de perto lidaram com ele, as mais sentidas condolências.

Foi um bom Homem. 
Que descanse em Paz

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19517: In Memoriam (340): Até sempre, 'comandante' Jorge Rosales (1939-2019)

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19256: Blogoterapia (290): Um combate algures na Guiné (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

Guiné >Cacheu > CCAÇ 3 > Cacheu > Barro (1968) > Os "jagudis" montando uma emboscada 
Foto: © A. Marques Lopes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1690


1. Em mensagem do dia 3 de Dezembro de 2018, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos este relato de um combate algures na Guiné, ocorrido sob o seu comando, ou não. Verdade para nós antigos combatentes, ficção para os mais novos que tiveram a sorte de crescer sem a ameaça de terem de participar na guerra.


UM COMBATE ALGURES NA GUINÉ

Francisco Baptista

O pelotão seguia pela estrada de terra batida, como já acontecera tantas vezes, para ir fazer segurança a uma coluna de reabastecimento. Nos últimos dias era frequente verem pegadas estranhas, possivelmente de guerrilheiros que atravessavam a estrada. Enfim teriam reactivado um carreiro na zona da companhia, que podia trazer complicações. Faziam sentir a sua existência em ataques frequentes de armas pesadas ao quartel mas nunca tinha havido um confronto directo, com armas ligeiras no mato, entre uns e outros.

O alferes seguia à frente dos militares brancos e à frente dele seguiam quatro soldados milícias africanos. De repente dá-se conta que o soldado milícia da frente recua e lança um olhar aterrorizado para trás. De imediato dispara uma rajada de G3 para a mata em frente e os soldados seguem-lhe o exemplo. Da mata respondem as costureirinhas e outras armas e durante alguns minutos o silêncio da floresta é substituído pela barulheira infernal da batalha. Atrás do alferes está um cabo armado com o lança-granadas aflito porque não consegue fazer fogo com a arma. Está aflito e medroso porque não consegue reagir para se defender e defender o grupo e manifesta isso repetidamente ao comandante que só lhe diz que se resguarde e que tenha calma. Com receio de que as munições se esgotassem, pela rapidez com que os homens disparavam manda moderar a intensidade do fogo e nesse entretanto olha para o lado e vê o soldado milícia mais próximo com o rosto pousado sobre a terra. Sem ter tempo para se condoer, a hora era de acção, somente pensou, este já "lerpou", sem pensar sequer se aquela bala lhe poderia ser destinada. O soldado africano da frente, o que tinha dado o alarme, de cara assustada, morreu também. Sente uma adrenalina furiosa que o empurra para a vingança, para um ajuste de contas com o inimigo pela perda desses dois homens.

Os mortos do nosso grupo, seja qual for a sua origem, cor ou religião deixam-nos a alma marcada com cicatrizes negras que jamais desaparecem.

O tiroteio terminou, a calma voltou à mata e à bolanha próxima, os macacos-cães calam-se e as árvores da floresta choram silenciosamente a perda das vidas de dois filhos da Guiné. Entre os combatentes do outro lado não soubemos se houve perdas Acabou por não se saber se os guerrilheiros se preparavam para aguardar a coluna e atacá-la, pôr minas na estrada, emboscar o pelotão ou simplesmente iam passar, hipótese mais plausível.

Porque a nossa missão ainda não terminara, fazer segurança à coluna auto, que vinha a caminho e porque a perseguição ao inimigo podia acarretar outros perigos e mortes, o alferes procura refrear o seu instinto guerreiro que não conhecia e o surpreende.

Foi neste troço de estrada retratado na foto, um pouco mais à frente ou um pouco mais atrás, que aconteceu este combate entre o meu pelotão e os guerrilheiros do PAIGC. Ficava situado na estrada entre Buba e Nhala, a poucos quilómetros de Buba, antes da Bolanha dos Passarinhos.

Foto: © Francisco Baptista

Contra os desmentidos do Estado Novo e posteriormente dalguma opinião pública, que a quis negar, porque não quis compreender o abandono desses territórios, a guerra existiu, com muitos feridos e mortos, na Guiné com muito barulho de armas ligeiras, pesadas com bombas potentes da artilharia dum lado e do outro e bombas de avião.

Nos dias seguintes o capitão diz ao alferes para nomear alguns militares do pelotão para serem louvados. Todos os homens reagiram com coragem e disciplina a essa situação de combate imprevista. O alferes que o antecedeu e que morreu num acidente ao pisar uma mina anti-pessoal , alguns meses depois de estarem na Guiné, sendo um jovem de acção e motivado para o combate, tanto em Portugal como na Guiné, tinha-lhes dado uma formação agressiva e guerreira.
Todos mereceriam um louvor mas como só alguns o podiam obter resolve nomear seis que ao longo dos meses, sob o seu comando lhe pareceram os melhores. Não indica o cabo cujo lança granadas se encravou que se irá queixar disso quando ele já nada pode fazer. Um louvor dar-lhe-ia muito jeito, já que pensava ir para a GNR ou para a PSP depois da tropa. Mais uma mágoa menor que não esquece, a juntar às outras.

É uma estória de guerra real ou fictícia porque os ex-combatentes só falam destas memórias em dias de convívio com outros camaradas ou em dias cinzentos com algum desconhecido ou um barman e podem descrevê-las com realismo ou fantasiar porque a sociedade civil nunca lhes deu muito crédito, como se fossem caçadores ou pescadores mentirosos.

Terá acontecido na área do batalhão ou da outra companhia independente onde estive ou algum camarada ma contou.

São factos que aconteciam por toda essa terra de água e florestas, martirizada pela guerra, de que ninguém se orgulhava e dos quais os protagonistas têm dificuldade em falar.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19145: Blogoterapia (289): Aquele toque a finados é uma coisa que me arrepia... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

sábado, 7 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18821: Convívios (866): Encontro do pessoal da CART 2732, levado a efeito no passado dia 17 de Junho de 2018, em Minde, Fátima (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA)

Foto de família dos participantes no Convívio, de 2018, do pessoal da CART 2732 e seus familiares

CONVÍVIO DO PESSOAL DA CART 2732

DIA 17 DE JUNHO DE 2018

MINDE (FÁTIMA)

Um belo recanto da Quinta D. Nuno onde decorreu o Convívio

Os madrugadores: Ex-Alf Mil Casal; ex-Alf Mil Bento: Coronel Art Carlos Abreu (ex-Cap Art, CMDT do COP 6); ex-Soldado Condutor Azevedo; ex-Fur Mil Mec Auto Dias e ex-Soldado Condutor Dores.

Localizado mesmo a tempo de poder participar pela primeira vez em convívios da CART 2732, o nosso inesquecível Furriel Enfermeiro Marques

Já mais próximo da hora de almoço estão nas fotos: o Ex-Fur Mil CMD Mendonça e família; o ex-Fur Mil Ismael Santos e esposa; o ex-Cap Mil Jorge Picado e o ex-Alf Mil Francisco Baptista

E eis que chega o nosso operador de Transmissões, João Malhão, com a notícia de que a Operação não podia ser abortada. O almoço estava por minutos.

Os laços de amizade também se estendem aos familiares. Aqui a Isabel, esposa do Ornelas, com o ex-Alf Mil Manuel Casal, visivelmente regozijados pelo reencontro.

Três ex-furriéis da CART 2732: Carneiro, Lourenço e Mendonça

Mesmo na sombra são bonitas as nossas bajudas

ex-Furriéis Carneiro e Dias, ex-Soldados Condutores Dores e Azevedo

Na foto, o ex-Cap Mil Jorge Picado e o ex-Alf Mil Francisco Baptista

Ornelas, ex-1.º Cabo Atirador, que foi também um excelente "maqueiro", com o seu mestre, ex-Fur Mil Enf.º Luís Marques

O ex-1.º Cabo Aux Enf.º Reis Pedro, um dos organizadores do Convívio, falando com a esposa do ex-Fur Mil Carneiro que aparece na foto momentaneamente distraído

Uns sorrisos bonitos das companheiras do Vinhal, Ornelas e Inácio, respectivamente. De lado, a esposa do Casal

O ex-Cap Mil Jorge Picado abraça os seus ex-Alferes, Bento e Casal. Ao lado o ex-Alf Mil Baptista que veio posteriormente para a Companhia

O ex-Fur Mil CMD Mendonça, que passou pouco tempo na CART 2732, por ser ferido em combate e ter sido evacuado, fala com o ex-Fur Mil Fonseca, quem sabe se disso mesmo.

Mesa da Presidência: ex-Fur Mil Enf.º Luís Marques, ex-1.º Cabo Aux Enf.º Reis Pedro, ex-Soldado TRMS João Malhão e ex-Alf Mil Manuel Casal
 
Mesa da Presidência: o senhor General Artur Neves Pina Monteiro, de camisa às riscas verticais, até há pouco tempo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, que se fez acompanhar de sua esposa, também na foto, deu-nos a honra de presidir ao Convívio da CART 2732. Aqui a conversar com o senhor Coronel Calos Abreu.


A mesa das nossas esposas

Nesta mesa: os ex-furriéis milicianos, Vinhal, Carneiro, Ismael Santos, Mendonça e Fonseca...

... o ex-Fur Mil Mec Auto Dias e o ex-1.º Cabo At Art Ornelas...

... os ex-furriéis milicianos Fonseca e Lourenço, e os ex-Soldados Condutores Dores e Azevedo

Nesta foto, onde lamentavelmente faltam o João Malhão e o Reis Pedro, ocupados a fazer contas no restaurante, e o Marques, em parte incerta, estão: fila superior: Carneiro, Azevedo, Ezequiel Filipe e Bento; fila do meio: General Pina Monteiro, Dias, Ismael Santos, Francisco Baptista, Manuel Casal, Coronel Carlos Abreu, Jorge Picado e Mendonça; fila de baixo: Ornelas, Dores, Inácio Silva, Lourenço, Matos, Fonseca e Vinhal

Aqui estão as nossas meninas, muitas delas já namoradas ou esposas no tempo da guerra

Aqui fica, para memória futura, o devido destaque a estes dois camaradas que pensaram e levaram a efeito este Convívio. Caríssimos Pedro e Malhão, os nossos agradecimentos.

Quem sabe se lembrando os 50 anos do nosso embarque com destino à Guiné, que ocorre em 13 de Abril de 2020, nos voltemos a encontrar, desta vez no Funchal, de onde partimos em 1970 para a nossa aventura.

Fotos e legendas: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18802: Convívios (865): XXXIII encontro anual da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) - Seia, 9 de junho de 2018 (Jorge Araújo)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18294: Brunhoso há 50 anos (13): Viagens de comboio ao Porto (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

Estação de Mogadouro
Com a devida vénia a Caminhos de Ferro Vale da Fumaça


1. Em mensagem do dia 31 de Janeiro de 2018, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos mais um texto sobre Brunhoso, desta vez lembrando as viagens de comboio até ao Porto nos anos 60 e 70.


Brunhoso há 50 anos

13 - Viagens de comboio ao Porto

Vamo-nos entretendo com histórias, como os meninos que já fomos há muitos anos, e gostamos delas com muitos feitios gostos e temperos: suaves, doces, avinagradas, românticas, de viagens, eróticas, guerreiras, dramáticas, trágicas, apimentadas ou humorísticas.

Esta é uma estória que pretende falar das grandes viagens de comboio que eu e os meus conterrâneos fazíamos desde Brunhoso, essa aldeia perdida entre as dobras da paisagem transmontana do nordeste, até ao Porto, seguindo o percurso dos rios Sabor e Douro, sobretudo nas décadas de 60 e 70, quando para além dos emigrantes as pessoas se começavam a deslocar mais para estudar nos seminários ou colégios distantes, para cumprir o serviço militar, outros por alguma diversão, outros por negócios, outros porque tinham conseguido trabalho na cidade grande.

Da aldeia à estação de caminhos de ferro de Mogadouro que ficava num descampado, eram catorze quilómetros, que tinham que ser feitos num carro de praça. Lá apanhávamos um comboio pequeno e antigo, puxado por uma locomotiva a vapor, com carruagens em madeira, incluindo os assentos, lento nas curvas, nas descidas e nas subidas. Mais tarde automotoras um pouco mais rápidas, mais cómodas, mas mais pequenas, substituíram o velho comboio. Da estação de Mogadouro até ao Pocinho a viagem na linha do Sabor fazia-se por encostas e montes a alguma distância do rio e longe da sua vista. O rio só se tornava visível já depois de Moncorvo, na foz, quando alargava o leito ao encontrar-se com as águas do Douro e o comboio ia estabilizando a sua marcha ao atravessar a ponte perto da estação do Pocinho. Depois a confusão e a pressa habitual para mudar as malas de cartão, os sacos de batatas e de hortaliças, as galinhas, os presuntos, salpicões, linguiças, os garrafões de vinho e outros bens que muitos levavam para si próprios ou para os filhos e parentes, para o comboio maior da linha do Douro que nos levaria até à estação de S. Bento no centro do Porto.

O comboio da linha do Douro somente era maior porque a falta de comodidade era a mesma, do comboio da linha do Sabor, quente ou frio conforme as estações do ano, muito frio no Inverno, muito quente no Verão. Nas estações da CP seguintes, entrariam mais passageiros igualmente carregados de bagagens e sobretudo no tempo das festas do Natal, da Páscoa, no principio e fim das férias, esses comboios ficavam a abarrotar, sendo muitos deles obrigados a fazer toda a viagem de pé.

Linha do Sabor
Com a devida vénia a Os Caminhos de Ferro

O comboio segue pelo vale do Douro, bem próximo do percurso do rio, no meio dessa paisagem sublime, que para nós habituados a viver no meio da natureza eram caminhos da vida, bem difíceis de andar e trabalhar como os dos nossos montes e vales, que percorríamos sem lhes exaltar a beleza. Somente ao entrar em terrenos do distrito do Porto, no concelho de Marco de Canaveses, o comboio abandona as margens do rio.

Linha do Douro
Com a devida vénia a Viajar Entre Viagens

No Tua recebia muitos passageiras da linha com o mesmo nome e na Régua recebia também muitos passageiros da linha do Corgo.

Linha do Tua
Com a devida vénia a Pensar Ansiães

A Régua era a maior cidade da linha do Douro e tinha a maior estação de comboios de Trás-Os-Montes, terra com muito movimento, capital do Vinho Fino, como os velhos lavradores do Douro designavam o vinho que produziam nos socalcos das suas encostas e que os comerciantes do Porto e os ingleses baptizaram impropriamente de Vinho do Porto. Entre a Régua e o Porto existiam ainda algumas estações de caminhos de ferro com bastante movimento e o grande nó ferroviário de Ermesinde, onde as linhas do Douro e do Minho confluem para seguir a mesma rota até ao Porto que se aproxima. A Estação de S. Bento no terminus da viagem onde os viajantes depois de saírem dos comboios são recebidos com fidalguia no grande salão nobre da cidade, imponente com o seu tecto alto e trabalhado, as janelas grandes e artísticas e as paredes enormes decoradas com azulejos, que reproduzem belos quadros históricos da Cidade e da Nação. A Estação de S. Bento ergue-se em beleza e grandiosidade como símbolo da hospitalidade, dos comerciantes, dos artistas e dos burgueses da cidade do Porto, a todos os viajantes nacionais ou estrangeiros.

Estação da Régua

Todos os transmontanos das terras grandes e mais pequenas sentiam uma grande atracção pela cidade do Porto, onde gostavam vir pela sua grandeza, pela sua beleza, pelos seus limites fluviais e marítimos, pelo contacto com outras gentes, pela variedade de produtos comerciais disponíveis para a lavoura e outros actividades. Também pelo prazer de se sentirem a viver e a fazer parte duma grande comunidade de homens e mulheres e experimentarem essa envolvência, no meio da azáfama e do movimento que se sentia nas suas praças, ruas e avenidas, como algo novo e raro.

Estação de S. Bento
Com a devida vénia a Ruralea

Próximo da estação de S. Bento, situada bem no centro da cidade, para comer havia bons restaurantes que alguns entre eles frequentavam: a Regaleira, a Abadia, o Onix, a Flor dos Congregados, o Girassol, o Leal, o Palmeira, a Viúva, o Romão e outros. Para conviver e beber um copo com os amigos havia os cafés Imperial, O Guarany, o Embaixador e a cervejaria Sá Reis.

Para outro tipo de vivências que alguns gostavam de experimentar havia outros cafés, bares, casas de "passe" nas ruas Cimo de Vila, Banharia, dos Caldeireiros, Escura, Bonjardim, etc.

Na Rua do Almada havia a boite e casa de fados Candeia muito frequentada por soldados, marinheiros, rufias, estudantes, doutores, comerciantes e burgueses. Ao tempo era a casa de diversão nocturna mais importante da cidade.

O comércio, tal como hoje, espalhava-se por estas ruas já referidas e outras tais como Rua de Santa Catarina, Sá da Bandeira, Santo António, Rua do Bonjardim, Rua de Cedofeita e muitas outras.

Nesses anos era frequente encontrar na Sá Reis ou no Imperial, o Dr. António, um advogado bom bebedor de cerveja, simpático e conversador, grande proprietário de Mogadouro, com casas também no Porto, que gostava de esperar a chegada dos comboios de Mogadouro, para falar com os conterrâneos.

Nos anos próximos do 25 de Abril, antes e depois, recordo-me que havia muitos estudantes e alguns, poucos funcionários bancários e públicos, de Brunhoso no Porto, que se juntavam inicialmente no café Bissau, na rua de Cedofeita, mais tarde no café Encontro na rua do Rosário.

No bar do Hotel Paris, na rua da Fábrica, sobretudo à noite e também por vezes à tarde, nos fins de semana, juntavam-se muitos transmontanos, alguns de passagem e lá hospedados e muitos outros a viver na cidade, Eram transmontanos sobretudo do Nordeste: Bragança, Miranda, Mogadouro, Moncorvo, Vila Flor. Havia alguns, poucos, beirões, minhotos e galegos. O Hotel era propriedade de três galegos. O Constante o mais novo e mais simpático, por vezes atendia no bar, sendo o homem do bar mais habitual o Mota, um minhoto sempre bem disposto de Cabeceiras de Basto, que também tinha uma pequena quota na sociedade. Tomava-se café, bebiam-se algumas cervejas, discutiam-se as últimas novidades politicas e futebolísticas, jogava-se a sueca e por vezes comiam-se alguns petiscos que o Mota cozinhava.

Recordo-me das viagens de regresso a casa como sendo mais agradáveis, comboios mais livres com menos gente e menos confusão de bagagens. Mas feitas geralmente mais tarde no dia, no Verão o vale do Douro era um inferno e pelas janelas abertas entravam golfadas de ar quente.

Na estação de Valongo havia mulheres a vender regueifa, na estação da Pala vendiam pequenas bilhas de barro com água duma fonte fresca e na estação da Régua vendiam os rebuçados da Régua. Essas mulheres com os seus pregões e os seus produtos davam mais colorido e animação à viagem.

Praça da Liberdade - Porto - Homenagem a D. Pedro IV e aos Mártires da Liberdade, entre os quais o ilustre matosinhense António Bernardo de Brito e Cunha (1782-1829), condenados à forca pelo regime Miguelista e enforcados nesta mesma Praça em 7 de Maio de 1829 (CV)
Com a devida vénia a selvagemtexas

Nos dias e meses após a Revolução de Abril de 1974, os moradores do Porto tinham por hábito juntarem-se em grupos na Praça da Liberdade, de volta da estátua de D. Pedro IV a falarem, uns talvez a tentar compreender a politica e os acontecimentos políticos que corriam a muita velocidade, outros a procurar doutrinar os menos informados. Eu que não tenho muito gosto nem jeito para falar em público, um dia resolvi entrar numa discussão com outro cidadão e logo alguns fizeram uma roda como era habitual. A discussão mais ou menos política já decorria há algum tempo quando ao deitar um olhar pela assistência vejo o meu pai e o meu tio Aragão, que teriam desembarcado há pouco na Estação de S. Bento, muito atentos e interessados. Quando acabei, e os fui cumprimentar, embora ciente que as minhas ideias politicas eram diferentes das deles, não me fizeram criticas desfavoráveis. Pela atenção deles fiquei convencido que o principal motivo que os tinha trazido ao Porto tinha sido tentar compreender a situação política. Ao encontrarem logo o filho e sobrinho a arengar na praça pública, terão pensado que tinham ali um politico e futuro deputado para os defender no futuro. Para possível desilusão deles, esta minha intervenção pública terá sido talvez a última, e a minha carreira política acabou aí.

Brunhoso era afinal ali ao lado, tão perto do Porto, somente a seis ou sete horas de comboio, que os homens, apesar da pouca comodidade, faziam com mais prazer do que ir à azeitona ou fazer a sementeira

A linha do Sabor já foi abandonada há mais de trinta anos. A linha do Douro acaba no Pocinho, tendo sido abandonado o troço até Barca de Alva na fronteira com Espanha. Políticas, ao tempo indiscutíveis, segundo os governantes que tomaram essas medidas.

Sem o som do comboio a subir a serra e do apito que o anunciava, o Nordeste Transmontano foi ficando mais abandonado e silencioso. Faz-me lembrar a beleza triste do olhar duma pauliteira jovem que ficou tal como uma moura encantada (que também lá as houve) por terras de Mogadouro e Miranda.

Comboios do Sabor e do Douro que ainda me transportam ao passado, e trazem tantas recordações!
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17097: Brunhoso há 50 anos (12): As casas e as gentes (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)