Mostrar mensagens com a etiqueta CCAÇ 2700. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta CCAÇ 2700. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3772: Cancioneiro de Dulombi / Galomaro (2): Tecnil, Tecnil / Eu passei lá muitas noites / Certamente mais de mil (Luís Dias)


Rui Felício, ex- Alf Mil, CCAÇ 2405 (Galomaro e Dulombi, 1968/70) (foto à esquerda): Procura-se vivo ou morto... Anda a monte com os primeiros decalíssabos que deram origem ao famoso Cancioneiro de Dulombi... Dão-se alvíssaras. L.G.


1. Mensagem do Luís Dias, respondendo a um pedido meu ( "Tens mais letras do 'cancioneiro de Dulombi' ? E da Tecnil ? Há mais recolhas de versos ?"):


Os versos que colocaste não são do Cancioneiro do Dulombi (*), nem da Tecnil, fazem parte dos 'poemas' que eu escrevi durante a comissão. Mas não tem qualquer importância.

Do Cancioneiro do Dulombi, só me lembro de um refrão, que era cantado com uma música popular.

Dulombi te deixarei,
Dulombi te deixarei,
e o dia está bem perto,
As tuas bajudas giras
Vamos deixá-las aos piras,
Que nós vamos de regresso.



Da TECNIL (**) havia também este refrão:

TECNIL, TECNIL,
Eu passei lá muitas noites,
Certamente mais de mil,
TECNIL, TECNIL.
Quando aparecem macacos,
Vira jardim infantil.


Quando fazemos o convívio anual, os nossos ex-praças lá cantam estas modinhas. Eles é que têm as letras.

Um abraço

Luís Dias

2. Comentário de L.G.:

Luís:

O seu a seu dono... Vou corrigir... E fazer mais um poste sobre o Cancioneiro de Dulombi... Os versos são teus, mas o que importa é que os teus camaradas se apropriaram deles e cantaram-nos (e continuam a cantá-los nos vossos convívios)...Em Dulombi e em muitos outros sítios da Guiné, havia poetas, como tu, que nos ajudaram a não perder a alma e a manter a cabeça em cima do pescoço e o pescoço em cima dos ombros...

De resto há uma tradição poética, iniciada pelos Baixinhos de Dulombi, a malta da CCAÇ 2405, de 1968/70. Num dos postes, o ex- Alf Mil Rui Felício escreveu isto (***):

"Tinhamos acabado de receber no Dulombi a Companhia de atónitos periquitos que, durante uma semana, iam ficar em sobreposição connosco.

"Acolhemo-los com o aquele ar superior de guerreiros invencíveis, calejados pelos combates, a pele tisnada dos sóis tropicais, e além das costumadas praxes, meio inofensivas, que exercemos sobre eles, dedicámos-lhes, com a proverbial simpatia característica dos Baixinhos do Dulombi, um hino de recepção ao periquito que ainda hoje cantamos em todos os almoços anuais de comemoração que realizamos.

"Fui eu o autor da letra (perdoem-me o orgulho ) que, em versos decassilábicos, procurava transmitir aos novatos o que era o dia a dia que os esperava nos confins do mato onde iriam passar dois anos.

"O Alf Mil Rijo sacou dos seus dotes musicais até aí ocultos e plagiou uma música que se adaptasse à versalhada que em momento de suprema inspiração eu tinha produzido. É ele que hoje guarda religiosamente essa letra que eu, embora seu autor, não sou já capaz de reproduzir na íntegra" (...).

Pois é, meu caro Luís Dias, ainda não consegui sacar ao teu avô Rui Felício essa famigerada letra. Em 5 de Setembro de 2006, mandei-lhe um pedido que ele deve ter arquivado... O actual dono das letras parece ser o ex-Alf Mil Jorge Rijo, que anda incontactável, depois de se reformar dos seguros. Vou-lhes, daqui, solenemente, implorar, a ambos (e aos outros dois Baixinhos de Dulombi, que eu conheço, o Paulo Raposo e Victor David, que não nos esqueçam, a mim, a ti, a todos nós, de modo a slavarmos e enriquecermos o Cancioneiro de Dulombi / Galomaro...

Rui, Jorge, Luís, camaradas !... Seria uma pena que os últimos épicos da Pátria, os derradeiros Camões, que fomos nós, os últimos poetas do Império, deixem perder, por negligência, incúria, esquecimento, cansaço ou qualquer outra razão - por muito válida que possa ser ou parecer -, os últimos versos que escrevemos, a pena numa mão e a espada na outra, nos campos de batalha da Guiné...

Obrigado. Abraço. Luís
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 20 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3763: Cancioneiro de Dulombi / Galomaro (1): Adeus, Guiné / É o fim do castigo, / Terminou a comissão... (Luís Dias)

(**`) TECNIL, empresa de engenharia e construção de estradas... Estava por toda a Guiné (ou quase), no tempo do Spínola e depois... da independência. O nosso camarada e amigo António Rosinha trabalhou nela como topógrafo, nos anos 70/80, se não me engano.

(***)5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço

Vd. ainda:

Blogue CCAÇ 2700 > Dulombi, 1970/72, de Fernando Barata

Blogue Histórias da Guiné 71/74 > CCAÇ 3491, Dulombi, de Luís Dias

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3138: Em busca de... (35): Camaradas da 1.ª COMP/BCAÇ 4815 (Fernando Barata)

1. No dia 17 de Agosto de 2008, recebemos esta mensagem do nosso camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72),

Assunto: Encontro simultâneo de todas as Companhias que passaram por Dulombi

Caro Luís

Um ex-Furriel da Companhia que nos foi render, em Dulombi, acedeu ao Blog da minha Companhia e como reside perto de Coimbra mostrou interesse em conhecer-me.

Encontro marcado para a Esplanada do Dolce Vitta e entre dois fininhos houve lugar para trocar vivências e também para me colocar um desafio ATERRADOR:

- Vamos lá organizar um Encontro simultâneo das Companhias que estiveram sediadas em Dulombi.

E é por esta razão que estou a pedir a tua ajuda no sentido conseguirmos um elo de ligação com qualquer elemento da 1.ª Companhia do BCAÇ 4815.

Pedia-te pois, que fizesses o favor de colocar um Post na Tabanca Grande de molde a conseguirmos localizar alguém da Companhia em questão a fim de tentarmos dar asas a este sonho.

Grato.
Aceita um abraço do
Fernando Barata

2. No dia 17 de Agosto foi enviada a seguinte mensagem à tertúlia

Caros Camaradas
Aqui está uma empresa verdadeiramente gigantesca.
Quem pode ajudar o nosso companheiro de tertúlia Fernando Barata?
Aqui deixo o seu apelo e o meu agradecimento pela ajuda que lhe puder ser prestada.
É fácil, é só conhecer alguém da 1.ª Companhia do BCAÇ 4815 e dizer ao Fernando Barata (fmbarata@gmail.com).

Um abraço e continuação de boas férias se for caso disso.
Carlos Vinhal

3. Agora um apelo a todos os nossos leitores. Quem conhecer alguém que tenha pertencido a 1.ª Companhia do BCAÇ 4815, faça o favor de dar notícia ao nosso camarada ou a nós (luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com).

Vai ser bonito se eles conseguirem juntar a malta toda que passou por Dulombi.

sábado, 9 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3124: O Nosso Livro de Visitas (23): Vasco Joaquim, 1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912 (Juvenal Amado/Carlos Vinhal)

1. Mensagem de Juvenal Amado com data de 1 de Agosto de 2008:

Caros camaradas Carlos Luis Virgilio e restante Tabanca.
Recebi este e-mail deste camarada que me deixou muito feliz, como é de prever.

Ele pede-me contactos de malta do BCAÇ 2912, eu penso que nada melhor que o blogue para os encontrar.

Um abraço para todos
Juvenal Amado


2. Mensagem de Vasco Joaquim de 31 Julho de 2008, dirigida a Juvenal Amado e reenviada por este nosso camarada ao Blogue:

Caro amigo Amado,
Permite que te trate por tú, pois fomos companheiros de armas, ou antes... tive o privilégio de ser substituído por alguém que preencheu uma vaga no mato, para que eu regressase à Metrópole. Pois bem, certamente que contactámos naquele espaço de tempo em que a CCS do 3872 rendeu a CCS do 2912 sita em Galomaro, já lá vão 36 anos.

Eu era na altura o 1.º Cabo Escriturário, Vasco de Jesus Joaquim com o NM 08190469, fazendo parte do BCAÇ 2912, formado em Abrantes (RI2), IAO em Santa Margarida e embarcado para a Guiné em 24 de Abril de 1970, no célebre "iate" CARVALHO ARAÚJO.

Ao analisar a tua corrida pelos locais que percorreste pelas terras da Guiné, dos quais a maioria conheço, agradeço o facto de me teres recordado através das fotos os locais por onde passei, tantas e tantas horas de solidão e saudade (pois na altura já era casado).
Reconheci o Restaurante Morte Lenta, os abrigos, a metralhadora destruída que infelizmente estava ao meu cuidado (embora fosse Amanuense), o morteiro 81 onde também tive instrução, o "Estádio", onde tantas caneladas apanhei, pois jogava pelos Sapadores.
A Cantina, onde tantas "81 e 60" emborcava... enfim o local que me servia de trabalho, pois era eu que fazia a Ordem de Serviço do Batalhão. Bons tempos.

Tristezas? Algumas.
Mortos em emboscada nas Duas Fontes (1) às 3 da madrugada, o Mecânico Auto Laranjina, o Sapador Barreto, o homem do rádio, Oliveira, e mais dois camaradas adidos, o Bolinhas e o Monteiro, bem como o meu amigo Milícia, Iderissa Candé.


Enfim... recordações que só são avaliadas por aqueles que palmilharam por aqueles locais.

Quanto aos castigos, eu também tive alguns (56 reforços à "benfica") e não sei quantas patrulhas nocturnas - e tudo por faltar às formaturas da refeição - e o capitão que era alentejano - que não me gramava, aplicava-me logo o "código ", só que quanto aos "reforços" fazia alguns porque o camarada Escriturário que fazia a Escala retirava alguns, pois dormiamos no mesmo abrigo.

Gostei de ver a foto do Filipe com a lavadeira, que também "era a minha", suponho que era fula ou balanta e que se chamava Binta?... não tenho a certeza... mas que me levava 50 pesos por mês lembro-me muito bem.

Quanto ao "Regala", conheci-o bem. Até lhe dediquei uns versos numa prosa que fiz do qual me recordo este:

Junto da nossa unidade
O Regala bem regalado
Pois não tem piedade
De tão caro vender ao soldado

A foto do Filipe com Esofe está boa. Gostei. Eu também tenho com ele, pois ele era funcionário do Regala e servia no bar/restaurante que eles tinham lá em baixo ao fundo.

Pois meu amigo, daqui a uns tempitos já cá não anda ninguém, daqueles que deram o coiro em terras desconhecidas para nós, mas que tivemos orgulho em cumprir a nossa missão.

Eu pelo meu lado, já estou reformado, traballhei na CP, como Chefe de Estação durante 32 anos, findos os quais me reformei aos 55 anos (já lá vão quase 5). Resido em Ovar onde trabalhei imensos anos, embora a minha naturalidade seja perto de Lamego.

Pronto meu amigo e camarada, obrigado por teres despertado em mim um pouco daquilo que eu já julgava ter esquecido, mas que num instante recordei com saudade, ao ponto de dizer aos meus filhos já casados:

-Olha por aqui andei eu.

Bem hajas e obrigado.
Um grande abraço e manda notícias.
PS. Se souberes de algum endereço da CCS do BCAÇ 2912, agradeço.



3. Mensagem enviada ao Vasco Joaquim em 8 de Agosto de 2008, com conhecimento a Juvenal Amado:

Caro Vasco Joaquim
O nosso camarada Juvenal Amado, elemento activo do nosso Blogue para o qual ficas desde já convidado a aderir, reenviou-nos a tua mensagem.

Sobre a CCS do BCAÇ 2912, à qual pertencias, não temos nada, mas temos alguns tertulianos das outras Companhias do teu Batalhão. Por exemplo o Fernando Barata da 2700, Tony Tavares e Manuel Melo da 2701.

No nosso Blogue podes encontrar muito sobre o teu Batalhão, basta escreveres na janela de pesquisa bcaç 2912 e aparecerá muita coisa para leres.

Entretanto fui à Página do nosso camarada Jorge Santos e no seu Ponto de Encontro encontrei camaradas teus a pedir contactos. São eles:

da CCAÇ 2699 - Adelino Fernandes (*)
da 2700 - Timóteo (*)
da 2701 - Manuel Melo, Tony Tavares e Lourenço (*)

Ficamos à espera de notícias tuas sobre os contactos que possas vir a concretizar.

Um abraço do camarada
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

(*) - Retirados, na edição, os números de telefone e endereços
_____________

Notas de CV:

(1) - Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2529: PAIGC: Emboscada a forças do BCAÇ 2912, na estrada Galomaro-Bangacia (Duas Fontes), em 1 de Outubro de 1970 (Luís Graça)

(2) - Vd. postes sobre BCAÇ 2912 de:

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1494: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Alf Mil Fernando Barata, CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912

22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1795: Convívios (12): 16.º Encontro da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007 (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P1796: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (5): A(s) alegria(s) do(s) reencontro(s)

12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2743: Convívios (50): Convívio da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912, em Fátima, no dia 26 de Abril de 2008 (Fernando Barata)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2743: Convívios (50): Convívio da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912, em Fátima, no dia 26 de Abril de 2008 (Fernando Barata)

Guiné > Subsector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Mortos da companhia > Memorial executado pelo Furriel Timóteo > Vítimas mortais: António Jacinto da Conceição Carrasqueira (10/8/70, mina a/c); António Guimarães (18/2/71 / mina a/c); José Augusto Dias de Sousa (18/2/71; mina a/c); José Guedes Monteiro (1/10/71; combate); Rogério António Soares (1/10/71; combate); Luís Vasco Fernandes (5/10/71; mina a/c); Adriano Francisco (8/3/72, doença).

Antes Quebrar que Torcer, lema da CCAÇ 2700



1. Hoje, 10 de Abril, recebemos uma mensagem do nosso camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912, dando notícia do encontro, deste ano, da sua Companhia.

Carlos
Agradecia-te a divulgação, no Blogue, do 17.º Encontro da minha Companhia.
Abraço
Fernando Barata

2. Programa do 17.º Encontro da CCAÇ 2700

Fátima
26 de Abril de 2008 (Sábado)

10h30 – Início da concentração junto à porta principal da nova Basílica (Igreja da Santíssima Trindade).

11h00 – Missa na Capelinha das Aparições (facultativo).

12h40 – Partida com destino ao Restaurante D. Nuno, situado em Boleiros, a 6km de Fátima, na estrada para Minde.

13h00 – Almoço

Confirmações até ao dia 16 de Abril de 2008 para:

Timóteo Santos— Canada do Sarilho, 17 / 9700-192 Angra do Heroísmo
Telefone 295 213 923 – Telemóvel 962 497 110
e-mail: timoteomemoria@gmail.com

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2263: Álbum das Glórias (34): Fotografias do Américo Estanqueiro na Fundação Mário Soares (Virgínio Briote / Fernando Barata)


Lisboa > Fundação Mário Soares > Folheto da Exposição Fotográfica do Américo Estanqueiro, uma obra que retrata em imagens o que a CCAÇ 2700 passou pelas terras de Dulombi/Galomaro, entre 1970 e 1972.

1. Comentário do co-editor vb:
Esteve lá muita gente, alguns muito conhecidos, outros nem tanto (1): o major Tomé, o historiador Fernando Rosas, o Dias da Cunha, ex-presidente do Sporting Club de Portugal, o Helder de Jesus (o homem das transmissões do QG, que no início dos anos 70 ouvia tudo o que podia, fossem relatos nossos ou do PAIGC), o Teco e o Guedes, ambos da CCAÇ 726 (a que ergueu o aquartelamento de Guileje), donos de um espólio de imagens ainda por mostrar ao público e alguns camaradas da CCAÇ 2700, que comentavam com pormenor uma ou outra foto com o Américo Estanqueiro.

co-editor: vb
___________

2. Uma pequena amostra da Exposição > Texto do Fernando Barata


Batiam as 12 horas quando largámos da Gare Marítima de Alcântara no Carvalho Araújo
Às 21h30 de de 30 de Abril 1970 fundeámos ao largo de Bissau. A 1 de Maio iniciou-se o transbordo através do navio Rita Maria.


A 10 de Agosto 1970, próximo do Jifim, uma viatura acciona uma mina A/C, a qual provocou a morte, já no Hospital de Bissau, do 1.º Cabo António Carrasqueira e a morte imediata de 4 milícias (urnas destinavam-se aos milícias).
Ainda hoje me recordo, ao aproximarmo-nos do quartel, ser questionado pelo condutor que conduzia a viatura que transportava os corpos, se deveríamos entrar no quartel, tal era o estado em que os milícias se encontravam.


O descanso do guerreiro numa das 44 operações realizadas ao longo daqueles quase 2 anos de actividade, com nomes de código que iriam desde "Menina Rabina" até "Cidade Maravilhosa".
Fernando Barata

Fotos: Arménio Estanqueiro (2007). Direitos reservados (com a devida vénia...)
__________

Nota de vb:

(1) como oportunamente ontem, duas horas depois ou nem tanto, o Luís Graça retratou no

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares

Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O Américo Estanqueiro, ex-Fur Mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) autografando o catálogo da sua exposição para o antigo camarada de armas Joaquim Alves, ex-Fur Mil Enf.

Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O fotógrafo Américo Estanqueiro, à esquerda, conversando com o Gomes, ex-Fur Mil Mecânico Auto, da CCS do BCAÇ 2912, sediada em Galomaro (1970/72).

Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Camaradas do Américo Estanqueiro da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) : da esquerda para a direita: o Manuel Maria Brunheta (ex-Sold Trms), o Joaquim Alves (ex-Fur Mil Enf), Carlos Gomes (ex-Cap QP, hoje coronel na reforma), o Manuel Ravasco (ex-Alf Mil) e o Gomes (este, já acima referido, ex-Fur Mil Mec Auto da CCS do BCAÇ 2912).
 
Muito falado, por todos estes camaradas e pelo próprio Américo Estanqueiro, foi o nosso amigo Fernando Barata, ex-Alf Mil da companhia (Vive em Coimbra, não tendo podido estar presente neste acontecimento que foi gratificante para todos).

Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O nosso co-editor Virgínio Briote em conversa com o Mário Tomé (mais conhecido como o major Tomé, hoje coronel na reforma, e que teve duas comissões na Guiné, a última das quais como capitão, comandante da CCAV 2712 (Olossato e Nhacra, 1970/72), unidade a que pertenceu o nosso querido amigo e camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil). Eu não conhecia o Mário Tomé, pessoalmente. Tive oportunidade de lhe falar do Paulo e do nosso blogue, sobre o qual mostrou muito interesse e prometeu ir visitar.

Por detrás do Virgínio, vê-lhe a sua simpatiquíssima esposa, que é professora de português na Escola Secundária Passos Manuel e que o acompanha sempre nestas actividades... tertulianas. Por isto e por tudo, ela merecia uma foto como devia ser... Mas desta vez o fotógrafo falhou... I'm sorry, lady...


Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > A nossa amiga Diana Andringa, jornalista e co-realizador do filme As Duas Faces da Guerra (2007), que é, além disso, esposa do Dr. Alfredo Caldeira, responsável, entre outras funções, pelos arquivos da FMS... (A propósito, em conversa com ele, mostrou-se aberto à possibilidade de se realizar outras exposições a partir do espólio fotográfico de alguns membros da nossa tertúlia: falei-lhe em especial do álbum - que considero notável - do Idálio Reis sobre Gandembel / Balana, Abril de 1968/Janeiro de 1969)...

Aproveitei para tirar à Diana uma chapa para a nossa fotogaleria dos amigos e camaradas da Guiné... Há tempos havia-a convidado para fazer parte da nossa Tabanca Grande. Hoje obtive a sua anuência, o que muito me/nos honra... Mas, para ela, também é um prazer passar a ser considerada, de pleno direito, uma "bloguista", leia-se, membro do nosso blogue... A propósito do seu filme, deu-me promessas de boas notícias (que eu ainda não estou autorizado a divulgar)...

Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Inauguração da exposição fotográfica do nosso camarada António Estanqueiro > Tendo como pano de fundo, a fotografia-ícone da exposição (a partida, aos trambolhões, do pessoal da CCAÇ 2700, de Bissau até ao Xime, em LDG), vemos no lado esquerdo o nosso amigo e camarada de tertúlia Helder de Sousa e, à direita, o Mário Tomé...

Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Na inauguração da exposição fotográfica do Américo Estanqueiro estavam muitas caras conhecidas da nossa vida social e política, a começar pelo ex-Presidente da República Mário Soares, o sempre activo e afável presidente da FMS... Mas também muitas caras femininas, simpáticas... Para além de amigas e familiares do Estanqueiro, registe-se aqui a presença da esposa do Prof Doutor Fernando Rosas, a Raquel Bagulho - que é minha / nossa amiga de longa data (à sua direita, a Maria Alice, minha mulher)... Ao fundo, vêm-se fotos da exposição.

Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > De novo o Virgínio Briote e o Mário Tomé... (que o Briote terá conhecido ainda como tenente, na Guiné)...

Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o Virgínio Briote com o Teco e o Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726, sob o comando do Nuno Rubim... Voltarama agora a colaborar juntos no projecto Guileje... Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726) ... O Teco, que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes (que depois foi camarada do Briote nos comandos), é especialista em dioramas... O Nuno Rubim tem neles dois grandes amigos e colaboradores.


Comentário de L.G.:

O Américo agradeceu-nos muito o destaque que demos a este evento no nosso blogue. É homem afável e simples. Gostei de o conhecer, embora tivesse sido escasso o tempo de conversa, por razões óbvias.
Ele mora em Queluz. É natural do concelho de Alvaiázere, distrito de Leiria. Nasceu em 1947.

Embarcou para a Guiné no N/M Carvalho Araújo em 24 de Abril de 1970. Ao longo da sua vida militar fez fotografia com objectivos comerciais. Logo no barco, montou um laboratório. E em Dulombi comprou - supremo luxo! - um gerador.
 
O Estanqueiro foi o fotógrafo da companhia. Ainda hoje continua a trabalhar em fotografia, depois de uma vida algo atribulada que o levou inclusive à emigração na Venezuela. Durante o serviço militar, acumulou mais de 6 mil negativos que, infelizmente, foram destruídos.

A sua exposição ficará aberta ao público até ao final do ano. O catálogo com textos de Mário Soares, de Alfredo Caldeira e de José Pessoa, além das fotografias do Américo Estanqueiro, custa 10 €.

Do texto do José Pessoa - A Viagem - destaco o último parágrafo:
Afinal, a viagem só termina quando se arrumam as bagagens e as memórias.


Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
____________

Guiné 63/74 - P2258: Agenda Cultural (2): Exposição de fotografias do Américo Estanqueiro, na Fundação Mário Soares, até ao fim do ano

1. Através do Dr. Alfredo Caldeira, recebemos um convite para a inauguração da exposição fotográfica do Américo Estanqueiro e pedido de divulgação da mesma, o que já fizemos através da rede de correio electrónico da nossa tertúlia (cerca de 200 endereços) e através do nosso blogue (que tem uma média semanal de páginas visitadas da ordem das 10 mil) (1):


Caro Luís Graça:

Junto envio o convite para a exposição "Memória da Guerra Colonial - Fotografias de Américo Estanqueiro/CCAÇ 2700", solicitando também a sua divulgação.

Muito obrigado
Alfredo Caldeira.


2. O convite, em formato pdf, diz o seguinte:

O Presidente da Fundação Mário Soares tem a honra de convidar V. Excia. para a inauguração da exposição MEMÓRIA DA GUERRA COLONIAL - FOTOGRAFIAS DE AMÉRICO ESTANQUEIRO - CCAÇ 2700.

12 de Novembro de 2007, 18.30 horas. Sala de Exposições da Fundação Mário Soares, Rua de São Bento, nº 160, Lisboa.

R.S.F.F.
Telef. 213964179/85
Email: fms@fmsoares.pt
Será oferecido um beberete.



3. Comentário do editor L.G.

Não conheço pessoalmente o Américo Estanqueiro mas o Fernando Barata é membro da nossa tertúlia, tendo sido ele o primeiro a falar-nos do Estanqueiro e da sua exposição.

Encontramo-nos mais logo e espero que haja mais membros da nossa Tabanca Grande no evento, para além de mim e do Virgínio Briote. Nomeadamente os da área da Grande Lisboa. O convite é extensivo a toda a nossa tertúlia.

Desejo bom sucesso para mais esta iniciativa cultural da FMS. As minhas calorosas saudações à FMS e aos seus colaboradores, em meu nome e em nome dos muitos camaradas e amigos da Guiné que desde 25 de Abril de 2005 têm generosa e entusiasticamente alimentado o nosso blogue.
Para que a memória da guerra colonial / luta de libertação não se perca irremediavelmente, com o desaparecimento físico de uma geração de combatentes, que foi a nossa e que foi a última do Império...
____________________

Nota dos editores:

(1) Vd. post de 9 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2253: CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72): Exposição fotográfica de Américo Estanqueiro, na Fundação Mário Soares (Fernando Barata)

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2253: Agenda Cultural (1): Exposição fotográfica de Américo Estanqueiro, na Fundação Mário Soares (Fernando Barata)

Guiné > Rio Geba > 1970 > Soldados, G3, malas, tudo a monte, como era de uso. A viagem da CCAÇ 2700 de Bissau para o Xime, ao longo do rio Geba, pelas 6 da manhã do dia 5 de Maio de 1970. A LDG é a célebre Montante que participou na Operação Mar Verde, invasão de Conacri, a 22 de Novembro de 1970, sob o comando de Alpoim Galvão). Depois seguir-se-ia a viagem, por terra, em camiões, militares e civis, rumo a Dulombi.

Esta foto é um bom aperitivo para a exposição de 12 Novembro. Está de parabéns o Américo Estanqueiro.

Legenda do Fernando Barata.


1. Mensagem de Fernando Barata (ex-Alf Mil da CCAÇ 2700, Dulombi, 1970/72) a alertar-nos para o acontecimento.

Caríssimos Luís, Vinhal e Briote:

Imaginam o que me vai na alma. No próximo dia 12 de Novembro, pelas 18h30, é inaugurada na Sala de Exposições da Fundação Mário Soares , à Rua de S. Bento, 170, em Lisboa, uma exposição fotográfica sob o título Memórias da Guerra Colonial: CCAÇ 2700, da autoria de Américo Estanqueiro (ex-furriel da nossa Companhia).

Atendendo à proximidade da data pedia-vos a divulgação do evento o mais rápido possível. A ti, Luís, bem como ao Briote, como estão em Lisboa, "exijo" a vossa presença.

Aquele abraço do
Fernando Barata.


2. Comentário adicional do F.B.:

Só agora nos foi comunicado que a Exposição decorrerá até 31 de Dezembro de 2007. Por favor adiciona este elemento à divulgação (fornecido pelo Dr. Caldeira, marido da Diana Andringa).

As fotos incidem fundamentalmente sobre a ambiência dulombiana e em particular retratam momentos e homens da CCAÇ 2700 (1).



A Exposição é do Américo Estanqueiro, ex-furriel da nossa Companhia, pertencente ao 4.º Pelotão

(1). Era de tal maneira amante da fotografia que comprou um gerador a expensas suas para poder revelar os negativos. Só a meio da comissão nós fomos bafejados com um gerador que trabalhava entre as 7 da noite e as 5 da manhã.

Como deves imaginar, os que viviam no abrigo dele eram uns senhores. Por não termos energia eléctrica, recordo-me que os frigoríficos trabalhavam a petróleo o que cientificamente era para mim um mistério.

Obrigado pela vosso envolvimento na divulgação do evento.
F. Barata


3. Do catálogo da exposição:

Ao evocar aqui a memória da guerra colonial – a memória concreta que esta exposição apresenta – estamos a “revisitar” esses tempos e, segundo espero, a retirar as lições de tais acontecimentos e dos sofrimentos que a guerra provocou em todos nós. Mas também a olhar para o futuro de amizade e cooperação que hoje nos aproxima tanto desses povos irmãos, agora independentes. Daí, também, os esforços que a Fundação Mário Soares tem desenvolvido na preservação e divulgação da Memória histórica de Portugal e dos países da CPLP, com a certeza de que o que nos une é um instrumento essencial do progresso dos nossos países.


4. Comentário co-editor vb:

Lá nos encontraremos, Caro Fernando.

A CCAÇ 2700 está de parabéns. Pela sensibilidade do Américo Estanqueiro em caçar os estados de alma dos nossos soldados e pela tua habilidade e memória em as ilustrar.
__________

Nota de vb:

(1) Vd. posts de:

22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1796: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (5): A(s) alegria(s) do(s) reencontro(s)

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1796: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (5): A(s) alegria(s) do(s) reencontro(s)


Guiné > Subsector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Mortos da companhia > Memorial executado pelo Furriel Timóteo > Vítimas mortais: António Jacinto da Conceição Carrasqueira (10/8/70, mina a/c); António Guimarães (18/2/71 / mina a/c); José Augusto Dias de Sousa (18/2/71; mina a/c); José Guedes Monteiro (1/10/71; combate); Rogério António Soares (1/10/71; combate); Luís Vasco Fernandes (5/10/71; mina a/c); Adriano Francisco (8/3/72, doença).





Fotos: Fernando Barata (2007). Direitos reservados.

V (e última) parte do resumo da história da CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72), unidade que pertenceu ao BCAÇ 2912, e foi render a CCAÇ 2405 do BCAÇ 2852 (1968/70). O autor do texto é o ex-Alf Mil Fernando Barata, da CCAÇ 2700 (1).









Louvores


José Augusto Dias de Sousa (título póstumo)
Alfredo Lopes Ribeiro
Teodoro da Cruz Abreu
Francisco Teixeira Pinto
Arnaldo Seabra da Costa
Carlos Medeiros Barbosa
João dos Santos Henriques Veras
Luís Manuel Telha
Carlos Alberto Maurício Gomes (pelo Cmdt Batalhão)
Manuel Maria Cardoso Maricato
Ricardo Pereira Lemos
Manuel Pedrosa Costa
Alberto Jorge Seixas Pereira
José Maria Prata
José Rocha Carvalho
José Joaquim Queirós Fernandes
Vítor Manuel Rodrigues
Carlos Teixeira Santos
Fernando Costa Ramos
Alfredo Azevedo
Manuel Fernando C. Almeida
Vítor António Gonçalves
Augusto Pereira Rosa
José Silva dos Santos
Albino Almeida da Piedade
Bernardino Rodrigues Pereira
Luís Santos Silva
José Augusto de Sousa
Miguel Carvalho Teixeira
Manuel Fernando R. Brito
Domingos Magalhães Lemos
António Vasco Lopes Alves
Ramiro de Jesus Oliveira


Posfácio

Terminada esta dura campanha da nossa vida (1), igualmente dura e não menos importante fase haveríamos agora que enfrentar.

Para alguns era o retomar dos estudos então interrompidos, para outros o retomar duma profissão deixada a meio possivelmente na altura que se começava a potenciar o que o mestre havia ensinado, para outros, o iniciar de uma caminhada, pintalgada agora, aqui e além por outras minas e armadilhas.

Era o tempo para saborear avidamente junto dos familiares, amigos e conhecidos momentos mágicos de confraternização, de comemoração e até de alguma cumplicidade com os colegas mais chegados.

Foi também tempo para alguns tentarem a sua sorte noutras paragens, principalmente França e Alemanha, países que desde a década de 60 se tinham aberto à imigração.
Os anos foram passando e não imaginam a tristeza que eu ia sentindo, sempre que ao folhear quer A Bola quer o Jornal de Notícias, ia tomando conhecimento de mais um almoço/convívio da companhia x ou do batalhão y, sempre na expectativa que mais dia menos dia lá apareceria publicitado o almoço da 2700.

E não é que (quem espera sempre alcança) por meados de Maio de 1991, me aparece na caixa do correio uma convocatória para o 1.º almoço da Companhia.

Graças a dois Homens que – nunca será de mais realçar – foram os obreiros deste “saboroso mecanismo socializante” e que dão pelo nome de José Marinho e Fernando Ramos, como todos sabem. Sei que posteriormente têm sido ajudados por alguns camaradas (recordo-me do Quintas, do Ferreira, do Cunha, do Silva Soares), mas perdoem-me, sem eles o milagre não teria acontecido.

A 20 de Julho de 1991, apesar das dificuldades em divulgar o evento, pelo desconhecimento da morada de bastante camaradas, lá estava o Campo da Feira, em Barcelos, emoldurado com aproximadamente 60 ex-elementos da Companhia, a maior parte acompanhada pela respectiva cara-metade e alguns mesmo com os herdeiros.

Foram momentos inolvidáveis aqueles que se sentiram e que se prolongaram no restaurante, agora com o estômago já reconfortado, mas sinceramente isso foi o acessório.

A partir daqui e de forma ininterrupta todos os anos nos temos encontrado nos mais diversos locais.



Pelo seu significado não quero deixar de realçar o 7.º Encontro que se realizou no Regimento de Infantaria de Abrantes, quartel onde a nossa Companhia foi formada, tendo sido descerrada uma placa alusiva ao acontecimento e celebrada missa pelo capelão da Unidade. No ano seguinte foi escolhido o Regimento de Infantaria de Vila Real, pela razão de ter sido aqui que a maior parte das praças que formavam a Companhia ter feito a sua recruta.
É digno de registo, tanto em Abrantes como Vila Real, a forma exemplar como fomos recebidos pelas respectivas chefias.
Esperamos que estes convívios mantenham a sua periodicidade. Não tenho dúvida que enquanto, pelo menos o Marinho e Ramos forem vivos, eles realizar-se-ão (2).
___________
Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas

(2) O próximo encontro, o 16º, será a 10 de Junho de 2007, em Braga: vd. post de 30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1795: Convívios (12): 16.º Encontro da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007 (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P1795: Convívios (12): 16.º Encontro da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007 (Fernando Barata)


Guiné > Zona Leste > Galomaro > BCAÇ 2912 > CCAÇ 2700 > Dulombi (1970/72) > Estandarte do batalhão e emblema da companhia.


Mensagem enviada pelo nosso camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil, CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72) (1)


16.º Encontro da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), Braga, 10 de Junho de 2007


10H30 - Concentração no Parque do Estádio 1.º de Maio, em Braga

11H30 - Missa na Igreja Paroquial de Trandeiras

12H30 - Romagem à campa de José Dias Ferreira, no Cemitério de S. Paio de Arcos

13H00 - Almoço no Restaurante Palace Club - Quinta das Rosas - Priscos - Braga


Confirmações para: 962497110 ou timoteomemoria@gmail.com

Um abraço do
Fernando Barata


___________


Nota de L.G.:


(1) Vd. posts de:








quarta-feira, 11 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas



Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Um dia alguém irá estudar o nosso humor de caserna, aqui tão bem tipificado por esta e outras deliciosas historietas do Fernando Barata... Legenda da foto: "Aspecto parcial da Enfermaria, vendo-se um militar (pela nuca parece ser o Alferes Barros) entregue aos cuidados das mãos milagrosas de um fisioterapeuta estagiária, natural de Paiai Numba e que, na altura, estava a recibo verde"...É claro que não havia enfermaria nenhuma em Dulombi, e muito menos fisioterapeutas com mãos de fada, oriundas de Paiai Numba (que ficava a sul de Padada, vd. carta da Padada, e que era zona de guerra).

Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Um pote de fumos

Fotos: Fernando Barata (2007). Direitos reservados.

IV parte do resumo da história da CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72), unidade que pertenceu ao BCAÇ 2912, e foi render a CCAÇ 2405 do BCAÇ 2852 (1968/70). O autor do texto é o ex-Alf Mil Fernando Barata, da CCAÇ 2700 (1).


3 - HISTORIETAS

Delírios etílicos


3.1. Numa altura em que o nosso Capitão tinha ido a Bissau e porque o Alferes Correia se encontrava de férias na Metrópole, eu assumi a chefia da Companhia.

Durante a noite aparece-me no abrigo uma alta patente, muito esbaforida, alertando-me para o facto de estar eminente o ataque dos turras ao nosso aquartelamento, pois tinha visto no ar um Boro Naice (*) que seguramente funcionaria como sinal para um ataque concertado.

Rapidamente contacto os sentinelas que, para meu espanto, referem não terem visto nada, o que foi corroborado por outros soldados que se encontravam acordados. Depois mais calmo e perante o bafo do visionário, conclui que o tintol deveria ter LSD. Só me apeteceu dar-lhe uma pantufada.


Uma boleia de jipe até Galomaro



3.2. Volta e meia, aparecia no nosso aquartelamento um fotocine que projectava um filme para distracção das tropas. Terminada a sua função e como não estivesse prevista qualquer coluna que o recambiasse, o indivíduo já começava a desesperar. Até que o Alferes Correia (estava na altura a comandar a Companhia) me propôs que levasse o dito a Galomaro no jeep do Comando.

Perante o fascínio de dar uma volta a sério, lá me meti a caminho acompanhado pelo Meirim com a sua G3 e pelo Mesquinhata com o seu morteiro. Hoje arrepio-me ao pensar no perigo em que me constitui e os constitui (embora fossem voluntariamente) só pelo prazer de ter um volante nas mãos.

O jipe que andava sozinho


3.3. O jeep do Comando tinha a deficiência (uns diriam característica) que se traduzia no facto de quando se virava totalmente o volante para a direita a direcção ficava presa.

Um dia, aproveitando tal característica, pus o dito jeep a descrever círculos no campo de futebol, sem que alguém o conduzisse. Fui chamar o Semba para que este me explicasse este fenómeno paranormal. Após alguns segundos de verificação, saltou para o jeep impulsionado como que por uma mola, endireita o volante e grita:
-Alfero, era demónio não, era volante preso.

Um médico mais doido que o doido do soldado


3.4. Um soldado a partir de determinada altura desequilibrou, tornando-se extremamente agressivo chegando mesmo a apontar a arma a alguns colegas.

Perante este quadro, o médico do Batalhão, Dr. Vítor Veloso (2**) , passa--lhe uma credencial para que se apresente nos Serviços de Psiquiatria do Hospital Militar.

Qual não é o meu espanto quando passados 4/5 dias, o doentinho já se encontrava em Galomaro, vindo de Bissau e pronto a seguir para Dulombi. Assim que me vê, remata:
- Oh meu Alferes, o médico que me atendeu era mais doido que eu.
- Porquê? - retorqui.
- Então não quer lá saber que me perguntou o que me apetecia fazer naquele momento. Disse-lhe que me apetecia deitar a secretária dele pela janela fora e o que me espantou é que ele se levantou para me ajudar o fazê-lo, pegando logo num dos bordos da mesa. Nunca mais lá ponho os pés.

Na realidade foi uma terapia espectacular, o moço nunca mais deu problemas.

Um mecânico (improvisado) de helis



3.5. Como devem estar recordados, éramos frequentemente visitados por helis, quer para nos trazer frescos, quer para transportar algumas individualidades que nos visitavam. Certo dia, um desses helis estava com dificuldade em pegar. Perante este facto e como o Rosa, que era mecânico, estava a presenciar a situação, o nosso Capitão disse-lhe, a brincar, para ir buscar a mala da ferramenta. Aquele tomou a ordem a sério e lá foi buscar a mala, sem que antes não dissesse:
- Meu Capitão, mas olhe que eu de helicópteros não percebo nada.

Claro, quando o Rosa chegou com a mala já o héli ia ao nível de Duas Fontes. Ficou-me na memória o respeito por uma ordem dada.

O ronco do Pelotão de Milícias


3. 6. Naquela fase final em que já não queríamos correr riscos, incumbiu o nosso Capitão o Pelotão de Milícias de fazer um patrulhamento ao Vendu Qualquer-Coisam [ havia várias localidades começadas por Vendu, a sudoeste de Dulombi: por exemplo, Vendu Cachitol, Vendu Coima, Vendu Bambadela...].

Passados alguns minutos de terem saído, ouvimos um tiroteio imenso. Logo aquele espalhafato nos pareceu mise-en-scène.

Quando chegou o Pelotão ao aquartelamento, depois de algum aperto, o Comandante acabou por confessar que não havia turra nenhum e que era só para fazer ronco e para puderem justificar uma quantidade de munições que tinham em falta.



É só fumaça!



3.7 . Certo dia, fumo intenso é detectado a sair do paiol. Perante o eminente rebentamento de todo o arsenal que lá se encontrava armazenado, rapidamente o quartel é abandonado por todos nós para além do arame farpado, não fosse presentear-nos algum estilhaço ou mesmo o sopro que iria gerar.

Como passados bons minutos a deflagração não acontecesse, o Alferes Ravasco, perdoem-me mas não encontro neste momento expressão mais apropriada, teve tomates e a serenidade necessária para enfrentar a situação. Que acontecera? Um pote de fumos ao cair no chão - que se encontrava alagado - entra em reacção química com a água, gerando o espectáculo que acabo de referir.

Chegámos a pensar que seria um acto de sabotagem do inimigo. Pena é que o Almirante Pinheiro de Azevedo, na altura ainda não tivesse pronunciado a célebre frase O povo é sereno, isto é só fumaça. Na realidade vinha mesmo a propósito.


O dialecto de Cabeçudos


3.8. Em determinada altura, um indígena pretendia reclamar ou peticionar algo junto do nosso Comandante. Como aquele tivesse certa dificuldade em se fazer compreender, alguém sugeriu que se fosse chamar o Carneiro Azevedo para servir de intérprete.

Estiveram seguramente cinco minutos numa troca de jametus, tá na mala e sapodidis, arregalando, o Mamadu, cada vez mais, os olhos na tentativa de entender o que o Azevedo lhe dizia. Até que passados os tais cinco minutos, o fula chega à brilhante conclusão que aquele arrevesado do Azevedo não seria dialecto fula, mas sim dialecto de Cabeçudos (terra natal do Azevedo).


O padeiro de Trancoso


3.9. Mal chegados a Dulombi logo se abeirou de mim o Cândido Nunes disponibilizando o seu know-how em matéria de panificação para exercer a função de padeiro da Companhia. Argumentou que em Trancoso era a profissão que exercia. Falei com o nosso Capitão, sendo o Nunes admitido de imediato, mesmo sem prestar provas, na função que ele dizia conhecer tão bem.

Ao longo da comissão desempenhou a sua tarefa cabalmente e com o benefício de ser dispensado da actividade operacional a qual encerrava alguns riscos e grande esforço físico, como todos sabem.

No final da comissão, já em Bissau, diz-me:
- Meu Alferes, de padaria eu só conhecia o local por lá ter entrado nas poucas vezes que a minha mãe me mandava comprar pão.

Sorri e dei-lhe os parabéns pela sua astúcia.


Eu, pecador, me confesso: A tentação das ostras do Pelicano


3.10. E para acabar. Adivinhem qual era o Alferes que já tinha carta de condução civil e foi tirar a militar só para ter motivo para passar pelo menos mais uma semanita em Bissau? É que aquelas ostras no Pelicano mereciam qualquer estratagema.

_________

Notas de F.B.:

(*) Queria-se referir a um Very-Light

(**) Hoje, Presidente do Conselho de Administração do do IPO/Porto - Instituto Português de Oncologia, Porto.
___________


Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

quinta-feira, 15 de março de 2007

Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Aspecto do Edifício do Comando após o tornado de 25 de Abril de 1971.



Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Seis minas A/P detectadas na região de Padada e recuperadas pelas NT.



Fotos: Fernando Barata (2007). Direitos reservados. Fotos alojadas no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.



III parte do resumo da história da CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72), unidade que pertenceu ao BCAÇ 2912, e foi render a CCAÇ 2405 do BCAÇ 2852 (1968/70). O autor do texto é o ex-Alf Mil Fernando Barata, da CCAÇ 2700 (1).


2.4 – Incidentes

A 14 de Dezembro [dce 1970] são detectadas 6 minas antipessoal (A/P) em Padada,enquanto decorria a Operação Diamante Indiano.

Em Fevereiro de 1971, é detectada e neutralizada uma mina A/C, em Padada e accionada uma mina A/P, sem consequências pessoais, já que foi accionada por uma viatura. Foram, também, encontradas 50 munições de PPSH [costureirinha].

A 18 de Fevereiro, a 300 metros do aquartelamento, foi accionada por uma viatura uma mina A/C da qual resultaram 2 mortos, António Vasconcelos Guimarães e José Augusto Dias de Sousa e 3 feridos.

A 25 de Abril, pelas 17 horas, forma-se violento tornado, que na sua plenitude arranca a cobertura de zinco do pavilhão que servia de Secretaria, Quarto dos Oficiais e Quarto dos Sargentos bem como da Caserna. Debaixo desta pesada estrutura ficam o Furriel Moniz e dois soldados, tendo um destes sofrido uma fractura exposta da perna.


Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Aspecto da caserna após o tornado de 25 de Abril de 1971.

Na noite de 1 de Outubro, quando 2 secções da CCS executavam um patrulhamento nas Duas Fontes, foram emboscadas por um grupo inimigo estimado em 50 homens, causando 5 mortos às nossas tropas. Dois destes, pertenciam à nossa Companhia e estavam destacados no Batalhão [, sedeado em Galomaro]. Eram o Rogério António Soares e o José Guedes Monteiro.

A 5 de Outubro, quando uma coluna se deslocava para Galomaro, uma das viaturas accionou uma mina A/C, causando 1 morto, Luís Vasco Fernandes e 3 feridos.

Não posso precisar no tempo, mas houve um incidente que muito me marcou pela sua brutalidade. Certa noite vem ter ao quarto dos Oficiais um sentinela dizendo que tinha ouvido rebentar uma armadilha provavelmente accionada por qualquer animal, pois ouvia gemidos. Mal o sol raiou uma secção deslocou-se ao local da deflagração dando então com dois gilas (2) feridos, um ligeiramente, mas o segundo com graves ferimentos numa perna. Perante tal cenário interroguei-me como foi possível ter ficado toda a noite a esvair-se em sangue não tendo sucumbido.

Levados para a Enfermaria, aí lhes foram prestados os socorros possíveis, sendo de imediato evacuados para Bissau num helicóptero. Embora um dos nossos milícias, que os interrogava em determinado dialecto, me asseverasse que "eram turras de verdade", eu naquele olhar, para além do sofrimento óbvio, vi também uma certa candura, de não comprometimento. Estaria a ser ingénuo? Na realidade, não faria muito sentido utilizar uma zona de conflito como corredor de passagem. Numa entrevista dada por Pedro Pires ao Jornalista do Diário de Notícias (12/9/2000, pag. 7), aquele referia que a informação que obtinham era "mandada por .... ou pelos célebres djilas, os comerciantes que iam e vinham".

Estaríamos mais ou menos a meio da nossa comissão de serviço, quando vejo chegar ao aquartelamento os dois pelotões que horas antes tinham saído para uma operação que deveria durar 2 dias como quase todas as outras. Logo adivinhei que algo de grave se estaria passar. O grupo de combate tinha sido atacado por enxame de abelhas que deixaram alguns dos militares em estado lastimoso (recordo o estado em que chegou o nosso Capitão!), tendo mesmo dois ou três desmaiado.


2.5 – Flagelações

Sofremos algumas flagelações (nove) ao aquartelamento com uma duração muito curta, nunca excedendo os dois minutos e executadas a longa distância sempre com armas ligeiras (costureirinhas) e ao cair da noite, o que permitia aos grupos debandar, a coberto da escuridão, na expectativa de que não seriam perseguidos.

No dia seguinta à nossa chegada a Dulombi (*), estávamos a sofrer a primeira flagelação (6 de Maio), mantendo-se uma certa pressão durante os primeiros 6 meses de permanência no território. Inexplicavelmente, ou talvez não, estivemos praticamente um ano sem ser flagelados (de Setembro de 70 a Agosto de 71). Contudo foi durante este período que accionámos 1 mina A/C (18 de Fevereiro).
Se nos primeiros tempos houve um certo receio, por de início desconhecermos qual a amplitude que a flagelação iria ter, com o tempo fomo-nos habituando e praticamente já ninguém corria para os abrigos quando se ouvia a costureirinha lá ao longe. Só o Russo saltava para o morteiro de longo alcance, garantindo peremptoriamente que alguma das ameixas com que tinha presenteado o inimigo, teria alcançado o seu objectivo.


Datas das flagelações

1970 > 6 de Maio - 28 de Junho - 3 de Julho - 11 de Julho - 20 de Agosto - 23 de Setembro
1971 > 3 de Agosto - 15 de Outubro - 15 de Novembro



2.6 - Contacto com a população

A população civil de Dulombi rondaria os 250 habitantes. Era abúlica por natureza, na linha da filosofia fatalista característica do povo fula. A agricultura era a sua única actividade produtiva e limitada, de forma incipiente, ao cultivo de mancarra, milho e arroz, produtos que não chegavam para satisfazer as suas necessidades.

Digno de registo na área social terá sido a construção de moradias para cada uma das famílias indígenas, inserida na política de reordenamento da população idealizada por Spínola, a construção duma mesquita e dum posto escolar e respectivo apoio didáctico através de professor recrutado entre um dos elementos da Companhia (o Márinho), assistência sanitária dada pelos nossos enfermeiros e pelo médico do Batalhão, sempre que este se deslocava ao aquartelamento, bem como apoio alimentar através da distribuição regular de arroz pela população.

Sempre que uma coluna militar se deslocava, quer a Galomaro quer a Bafatá, havia o cuidado de proporcionar à população alguns lugares nas viaturas para que pudessem visitar os seus familiares que se encontravam nestas localidades, para fazerem as suas compras (embora o seu poder de compra fosse quase nulo), ou mesmo para darem a simples passeata. Só quando se sabia, à partida, que as viaturas no regresso viriam superlotadas com toda a espécie de géneros, aí essa benesse era banida mas explicada a razão.

Podemos considerar que os militares, após terem terminado os trabalhos de construção do aldeamento, passaram a ser a única entidade empregadora da população feminina, que prestava o serviço de lavagem de roupa.

Tudo isto contribuiu para que entre população e tropa se tivesse construído um ambiente de familiaridade sem incidentes de qualquer espécie.

2.7 - Análise da actividade

É digna de registo a forma sacrificada como todos vivemos, no início da campanha, em abrigos subterrâneos e por vezes alagados na companhia de alguns répteis, sem quaisquer condições de vida. Mesmo assim, conseguiu a nossa Companhia entregar-se de forma denoda à construção do aldeamento para a população ao mesmo tempo que decorria a construção do nosso aquartelamento e sem descurar a actividade operacional. Relembro que a equipa de pedreiros e carpinteiros que ajudaram a levantar tanto o nosso quartel como o aldeamento, foram recrutados entre os operacionais de cada um dos pelotões, do que resultou um emagrecimento em efectivos para a actividade operacional.

Na época das chuvas as estradas eram de difícil transitabilidade o que dificultava os nossos movimentos logísticos.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Troço de ligação Dulombi/Galomaro na época das chuvas.


Durante os primeiros 6 meses (até 10 de Novembro 1971), o 4.º Pelotão esteve a reforçar o subsector de Galomaro e durante algum tempo, e de forma rotativa entre pelotões, assegurámos a protecção à aldeia de Cansamba [, entre Galomaro, a noroeste, e Dulomni, a sudeste]. Por tudo isto, o nosso Comandante de Batalhão salientou no seu relatório final "a maneira estóica" como suportámos as adversidades, quer através das frequentes flagelações, quer com o rebentamento das 3 minas a/c que nos causaram 5 mortos, "o que de modo algum quebrou a sua determinação de cumprir a Missão que lhe fora imposta, não afectando o seu moral nem a sua capacidade de resistência e de valor combativo".

Também por parte da Repartição de Operações do Comando Chefe das Forças Armadas a apreciação da nossa actividade operacional nos é favorável, sendo por várias vezes referida pelo Tenente-Coronel Mário Firmino Miguel (**), a "boa e bem orientada actividade geral", salientando a amplitude de algumas operações realizadas "com efectivos perfeitamente ajustados à missão e à região" onde se desenvolveram.

Mas como nem tudo são rosas, também no período entre 12 e 19 de Dezembro de 1971, notaram "precária actividade nocturna". É que o Natal aproximava-se, e nestas alturas o instinto de defesa fica mais apurado. Ou então: "ausência de emboscadas sobre os eixos de aproximação IN". Pergunto, alguém saberia quais eram os eixos de aproximação IN? Entre 15 e 22 de Novembro de 1970, "não foi efectuada qualquer acção de reconhecimento ao Rio Corubal" (3). Para quê, se nós já o conhecíamos tão bem?!

A 7 de Abril de 1971, fez o General Spínola uma visita de inspecção ao nosso aquartelamento. O mesmo discordou da forma como estava construído o torreão de defesa que "não estava de acordo com o torreão-tipo aprovado para todo o território"!. No seu relatório, em relação a Cancolim, referia: "notei um mau ambiente humano talvez derivado da pouca dedicação do Comandante da Companhia" ... "parece ser uma pessoa doente". A que tipo de doença se estaria a referir o General Spínola?

A 23 de Janeiro de 1972 chega a Dulombi a CCAÇ 3491 para nos render. Pouco mais de uma semana passada, a 1 de Fevereiro decorre a Operação Varina Alegre compartilhada por um pelotão da 2700 e outro da nóvel Companhia. Embora fosse uma operação para que os periquitos se ambientassem ao cheiro do capim, recordo as preocupações que dela advieram.

No regresso alguns militares atearam fogo ao capim, resultando uma queimada de tais proporções, que gerou a desorientação entre alguns dos novos elementos. Depois de muitos esforços de reunião, não se consegue detectar um dos alferes, adivinhando-se que o mesmo tivesse morrido carbonizado. Imagine-se o alívio que todos sentimos quando pelo alvorecer do dia seguinte ele, exausto, nos aparece junto ao arame farpado. Foi uma dupla sorte: o ter aparecido e não ter accionado nenhuma das armadilhas colocadas à volta do quartel.

A 10 de Março [e 1972] termina a responsabilidade da nossa Companhia no subsector de Dulombi. Dia 11 de Março a Companhia parte com destino ao Cumeré para aí aguardar transporte aéreo para a Metrópole, o que vem a acontecer a 22 de Março.


Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Chegada da CCAÇ 3491, os periquitos.

__________

Notas de F.B.:

(*) Não podemos dizer que o inimigo não estivesse bem informado das nossas movimentações.


(**) Chegou a Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, e mesmo a Ministro da Defesa.

_____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:
4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1494: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Alf Mil Fernando Barata, CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912

22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente
(2) Gilas (pronuncia-se dgilas): vendedores ambulantes, em geral da etnia futafula, que pecorriam a Guiné, e falavam bem o francês, dadas as ligações aos dois países vizinhos: o Senegal e a Guiné-Conacri.

(3) Sobre o Rio Corubal, a sul e a sudeste de Dulombi: vd. cartas de Contabane e de Padada.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente


Guiné > Subsector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > O Zé Luís, o básico, com as suas macacadas.






Guiné > Subsector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Furriéis Rico e Pedroso, e Alferes Correia

Guiné > Subsector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Sargento Teixeira, Furriéis Fonseca, Pires, Timóteo, Gonçalves, Rico, Soares e Costa e Alferes Correia

Fotos: Fernando Barata (2007). Direitos reservados.
II parte do resumo da história da CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72), unidade que pertenceu ao BCAÇ 2912, e foi render a CCAÇ 2405 do BCAÇ 2852 (1968/70). O autor do texto é o ex-Alf Mil Fernando Barata, da CCAÇ 2700 (1):

2 - A NOSSA COMPANHIA

2.1 – Organização

A Companhia de Caçadores 2700 teve como unidade mobilizadora o Regimento de Infantaria n.º 2, aquartelado na cidade de Abrantes e estava enquadrada no Batalhão de Caçadores 2912, do qual faziam também parte a CCAÇ 2699, comandada pelo Capitão Miliciano João Fernando Rosa Caetano, responsável pelo sub-sector de Cancolim, a CCAÇ 2701, comandada pelo Capitão Carlos Trindade Clemente, responsável pelo sub-sector do Saltinho (2), bem como a Companhia de Comando e Serviços (CCS), comandada pelo Capitão Joaquim Rafael Ramos dos Santos e que se encontrava adstrita ao Comando do Batalhão, sediado em Galomaro.

Foi para nós extremamente frustrante que da Instrução de Especialidade, que decorreu entre Dezembro de 1969 e Janeiro de 1970, em Abrantes, só 24 praças tivessem transitado para a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO). Para além do afeiçoamento que se tinha criado, havia que começar quase tudo de novo, com a agravante de muitas das novas praças estarem rudimentarmente preparadas, tornando-se necessário adaptá-las ao ritmo que anteriormente tínhamos imprimido. Só com um grande esforço e a total entrega de oficiais, sargentos e praças se conseguiu atingir o nível que a todos desse confiança para a execução de tarefa que se avizinhava, onde o valor supremo (a vida) passaria a estar em jogo todos os dias.

No essencial, durante o IAO, que decorreu entre 23 de Janeiro e 28 de Fevereiro de 1970, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Santa Margarida, local onde se deu a organização do Batalhão, foram treinadas situações de: patrulhamento, reacções a emboscadas, emboscadas, golpes de mão, batidas de zona, cercos e treino de tiro, na tentativa de preparar os militares o melhor possível para uma realidade de guerra que se lhes iria deparar.

A 16 de Abril teve lugar a festa de despedida do Batalhão. Após uma semana de licença, penosa para alguns de nós (no meu caso pessoal não tive coragem de me despedir de meus pais), pelas 3 da manhã de 24 de Abril partimos de Santa Margarida utilizando como meio de transporte o combóio, tendo desembarcado no Cais de Alcântara 3 horas e meia depois.

Batiam as 12 horas quando largamos da Gare Marítima de Alcântara no navio Carvalho Araújo com destino à Guiné.

Às 21 e 30 de 30 de Abril o navio fundeou ao largo de Bissau, iniciando-se pela manhã do primeiro de Maio o desembarque através do Rita Maria. Pernoitámos no Depósito de Adidos em Brá. Após umas noites mal dormidas, pelas 6 horas do dia 5 de Maio embarcámos na LDG (Lancha de Desembarque Grande) Montante até ao Xime de onde partimos em viaturas auto, quer militares, quer civis (recordam-se do Sr. Regala?), rumo a Dulombi.


2.2 – Efectivos

Embarcamos para a Guiné sem que o quadro de efectivos que competia à nossa Companhia estivesse totalmente preenchido. É nesta perspectiva que em Junho vimos chegar o 1.º Sargento Helder Panóias, elemento que se viria a demonstrar extremamente importante pela forma dedicada, eficiente, competente e prestimosa como desempenhou a sua missão, assim como os soldados David Coelho Jorge e José Luís Martins Monteiro.

Todos se lembrarão deste último, o Zé Luís, o básico. Foi o verdadeiro bobo da corte, onde ele estivesse não havia má disposição. Nunca me esquecerei de uma história que ele nos contou. Certo dia teve a desdita de, ao atravessar uma rua em Almada, ser atropelado por um automóvel. Ficou em tal estado que no hospital deram-no como morto sendo transferido para a morgue. Entretanto, um técnico alemão que estava a dar assistência ao Cristo-Rei, em Almada, estatela-se, e este sim falece realmente. Quando o funcionário da morgue coloca o alemão ao lado do Zé Luís, este mexe-se. Foi a sua salvação, e a nossa, pois sem ele a comissão tinha sido muito mais monótona.

Em Agosto é altura para recebermos o soldado Fernando António Cunha Lopes.Em Dezembro, chega o Furriel João F. Costa, bem como o Furriel Enfermeiro Joaquim de Jesus Alves, em substituição do Furriel Helder da Silva Coelho que havia entretanto baixado ao Hospital Militar de Doenças Infecto Contagiosas (HMDIC).

Em Fevereiro de 1971, a Companhia recebe os soldados Manuel Fernando Cardoso de Almeida e Luís Gonçalves Alves. Chega também o Alferes Helder Balsa que vem fazer um estágio para a Formação de Comandantes de Companhia. Por esta altura, o Exército começava a ter séria dificuldades para, dentro das suas fileiras, mobilizar capitães do Quadro que comandassem as sucessivas companhias de que necessitava, quer para render aqueles que estavam em fim de comissão, quer para ampliar a sua acção em novas frentes de batalha nos três teatros de operações, tendo sido utilizado o estratagema de graduar Alferes Milicianos, que se haviam distinguido no Curso de Oficiais Milicianos, em Capitães.

Em Março demos as boas-vindas ao 1.º Cabo Casimiro dos Santos Canelhas, passando a pertencer à Companhia, a partir de Maio, o soldado José da Silva Guerra, vindo da CCS do Batalhão, ao mesmo tempo que o soldado José da Costa Marinho faz o sentido inverso, no que é acompanhado, em Agosto, pelo soldado Serafim Martins Marques Carneiro.

Em Setembro é recompletado o quadro com a chegada do soldado José Luís da Silva Navalha. Igual situação se passa, em Novembro, com a chegada dos soldados Carlos Alberto de Oliveira Rodrigues e José da S. Alves. Por outro lado, o Furriel João Costa é transferido para a CCAÇ 14 do BART 3844, experimentando sentido inverso o 1.º Cabo António Fernando da Silva, vindo da CCAÇ 3327.


2.3 – Operações

A primeira operação executada pela Companhia teve lugar a 22 de Março de 1970 e tinha como nome de código Ducado Interno. Nela participaram o 1.º e 3.º Pelotão. Recordo que foi uma operação envolta em grande expectativa, não só por ser a primeira, como pelo facto de existir uma grande probalidade de haver contacto directo com o inimigo, já que este poderia estar acampado no Jifim. Esta probabilidade era cimentada no facto de os elementos da Companhia que nós acabávamos de render, na parte final da comissão, numa atitude de certa forma compreensível, se defenderem, não pretendendo correr riscos de serem emboscados tivessem aligeirado a sua prestação operacional. Tal abrandamento permite que o inimigo se instale no território ao pressentir que não há acção por parte das nossas forças.
Esta operação (e todas as outras) tinha como finalidade “detectar vestígios da passagem ou presença do inimigo, capturando-o ou destruindo-o se este se revelar” como nos é relatado nalguns documentos insertos no maço obtido no Arquivo Histórico Militar. A título de curiosidade refiro que esta operação teve o seguinte itinerário: Vendu Columbai, Rio Nhassi, Rio Tangeoul, Rio Lagui, Manguel, Rio Bissi, Paiai Numba, Rio Nhagama, Rio Sinhaudi, Rio Cantoro e Vendu Cantoro.
Em 10 de Agosto, a fim de patrulhar a região do Jifim, realiza-se a operação Ligeiros Quadros. Próximo daquele local é accionada uma mina a/c, resultando a morte do 1.º Cabo António Carrasqueira e 4 milícias. Foi o primeiro momento negro vivido pela nossa Companhia e particularmente pelo 2.º Pelotão, do qual o Carrasqueira fazia parte, militar muito estimado por todos os camaradas.

No total, realizámos 44 operações todas com nomes de código que iam desde Menina Rabina até Cidade Maravilhosa. Será que o autor destes nomes ao inventá-los se estaria a inspirar na Spaguetti em relação à primeira, ou no Jifim, em relação à segunda? Sim, que nestas alturas nem nos lembramos que existe uma cidade maravilhosa, de nome Rio de Janeiro.

A intensa actividade que a nossa Companhia exerceu quer através de operações quer através de patrulhamentos, duma forma equilibrada e procurando cobrir toda a quadrícula que lhe estava distribuída, terá certamente contribuído para que o inimigo não se instalasse na nossa zona.

Em todas as operações realizadas nunca tivemos contacto directo com o inimigo.
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'
(2) Companhia a que pertenceu o membro da nossa tertúlia, Martins Julião, ex-Alf Mil. Sobre esta unidade, que esteve aquartelada no Saltinho, vd. post de 13 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1424: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (6): amigos do peito da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

Guiné > Subsector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Cratera provocada pelo rebentamento de uma mina. A viatura que se encontra no buraco não é a que sofreu o acidente.

Em 10 de Agosto de 1970, a fim de patrulhar a região do Jifim [vd. cara de Padada], realiza-se a operação Ligeiros Quadros. Próximo daquele local é accionada uma mina a/c, resultando a morte do 1.º Cabo António Carrasqueira e 4 milícias. Foi o primeiro momento negro vivido pela nossa Companhia e particularmente pelo 2.º Pelotão, do qual o Carrasqueira fazia parte, militar muito estimado por todos os camaradas (FB).
Guiné > Zona Leste > Subsector de Galomaro > Vista aérea de Dulombi

Fotos: Fernando Barata (2007). Direitos reservados.


Damos início à publicação de um resumo da história da CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72), unidade que pertenceu ao BCAÇ 2912, e foi render a CCAÇ 2405 do BCAÇ 2852 (1968/70), a que pertenceram os baixinhos de Dulombi, os nossos tertulianos Paulo Raposo, Jorge Rijo, Victor David e Rui Felício, os quatro alferes milicianos (1). O autor do texto é o Fernando Barata, ex-Alf Mil da CCAÇ 2700, e que nos faz, ele próprio a sua apresentação (2):

Fernando Barata nasceu a 10 de Dezembro de 1948, em Canas de Senhorim (Canas a Concelho!!!). Pai de 2 filhas, reside em Coimbra, cidade onde se radicou pouco tempo após o regresso do Ultramar. É licenciado em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e trabalha no Gabinete de Relações Externas e Iniciativas Transfronteiriças da Comissão de Coordenação da Região Centro.


Dedicatória

A António Vasconcelos Guimarães.
A José Augusto Dias de Sousa.
A José Guedes Monteiro.
A Luís Vasco Fernandes.
A Rogério António Soares.
E, especialmente, a António Jacinto da Conceição Carrasqueira [, morto em 10 de Agostro de 1970, na região de Jifim]. Onde quer que estejas, sem que vais gostar de ler este pequeno trabalho


Agradecimentos


Este opúsculo pretende, tão somente, relatar alguns dos principais factos vividos no seio da Companhia de Caçadores n.º 2700, entre 1970 e 1972, na então província ultramarina da Guiné e particularmente naquele pequeno rincão que dava pelo nome de Dulombi.

Procurarei fazer uma descrição dos acontecimentos focada na minha experiência pessoal e tendo como apoio os documentos que se encontram depositados no Arquivo Histórico Militar, na pasta referente ao Batalhão de Caçadores n.º 2912.

Quero agradecer ao nosso companheiro de armas, hoje Major Carlos Correia, por todos os esforços desenvolvidos e pelas portas que conseguiu abrir para que esses maços de informação (o Herman diria resmas) me chegassem à mão num espaço de tempo tão curto (desde que ele se interessou pelo assunto, porque até aí, um meu primeiro requerimento já andava esquecido por alguma secretária). Para ti Correia, o meu sincero obrigado.

Queria também agradecer àquele que para nós será sempre, e com todo o respeito, o nosso Capitão, Senhor Tenente-Coronel Carlos Alberto Maurício Gomes, porque para além do que institucionalmente lhe competia - ser Comandante da Companhia - foi, para uns autêntico pai, para outros confidente, para todos um amigo. De minha parte, um sentido bem-haja.


1 - A NOSSA GUINÉ

1.1 - Breve historial

Os portugueses atingiram a costa da Guiné em 1466, com a chegada de Nuno Tristão à foz do Rio Geba, dedicando-se desde logo ao comércio, especialmente ao tráfico de escravos. Durante muito tempo a nossa presença só se fez sentir no litoral e um pouco para interior ao longo dos rios navegáveis, através dos comerciantes brancos que tiveram a particularidade de serem os pioneiros na penetração europeia nas terras da Guiné.

Só em 1630, com a criação da Capitania do Cacheu, passou a haver uma autoridade administrativa constituída. Esta autoridade tinha por missão não só dirimir desentendimentos entre dirigentes e comerciantes, como repelir ataques de outras nações.

No século XIX, as nossas tropas viram-se envolvidas em diversas campanhas para submeter quer primeiro os Papéis, quer, já no final do século, Manjacos, Balantas e Mandingas.

Após a II Guerra Mundial o continente africano entra em convulsão. Na legítima ânsia de independência, diversas colónias, tanto francesas como inglesas, entram numa fase de autodeterminação, contagiando também as nossas colónias (Salazar chamava-lhes províncias ultramarinas). A efervescência nacionalista vivida pelos vizinhos da Guiné-Conakry, que viria a alcançar a sua independência em 1958, seguida pelo Senegal no ano seguinte, tem um efeito contagiante. É neste ambiente que nasce, em 1956, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), tendo como ideólogo o engenheiro agrónomo Amílcar Cabral, movimento que procura desenvolver a consciencialização do povo guinéu, incitando-o a resistir ao regime colonial de molde a obter a autodeterminação. Em 1961, começam a ser desencadeadas acções de terrorismo, tais como: roubos de gado e de colheitas, incêndios, ameaças e alguma violência.

O ano de 1963 marca o início das operações militares. A 21 de Janeiro, os guerrilheiros do PAIGC atacam o posto militar de Tite e fazem as primeiras emboscadas na região de Bedanda. Em Março, os navios Mirandela e Arouca são tomados, passando a dar apoio logístico aos guerrilheiros, a partir da Guiné Conakry.

A luta estende-se ao Leste com o desencadear de ataques na região de Xime, ao mesmo tempo que se começam a utilizar fornilhos e minas anticarro (a/c), o que torna ainda mais difícil a penosa tarefa das nossas tropas.

Esta luta, pela parte de Portugal, era justificada pelo sagrado princípio da defesa do território nacional, que se estendia do Minho a Timor. Pela parte dos movimentos de libertação, a guerra era justa e justificável pelo princípio da autodeterminação, com a força que lhe consignava a Carta das Nações Unidas, através do reconhecimento por parte dos países signatários, do direito dos povos disporem de si próprios.

Nestas perspectivas, a guerra colonial era considerada como subversiva por parte das autoridades portuguesas, de libertação por parte dos movimentos africanos e por último, maldita por parte daqueles (incluo-me) que todos os dias tinham que dar o corpo ao manifesto.

Dois anos antes da chegada da nossa Companhia à Guiné, assume funções de Governador da Província e cumulativamente de Comandante Chefe, o General António de Spínola, homem que pela sua personalidade e capacidade viria a ter um papel fundamental no desenrolar da guerra na Guiné. Apesar de militar, introduz uma componente política na sua actuação, quer junto das populações, quer através de negociações com Amílcar Cabral. Interpretando a célebre máxima de Mao Tsé-Tung que o guerrilheiro se deveria sentir entre a população como o peixe na água, havia, pois, que tirar a água ao peixe, isto é, dever-se-ia evitar que a população apoiasse a guerrilha. A solução encontrada foi procurar reunir as populações em aldeamentos que facilitassem o seu controlo obstaculizando o apoio e a cobertura às acções da guerrilha. Estes aldeamentos localizavam-se quase sempre junto a uma unidade militar, as habitações eram dispostas em quadrícula e dispunham de algum apoio social: escola, posto sanitário e poço.

No aspecto militar procurou modificar a situação que se vivia, caracterizada pela simples reacção às acções do PAIGC, onde apenas se pretendia a manutenção das posições no terreno. Como a iniciativa pertencia ao PAIGC, as nossas tropas sofriam ataques constantes que provocavam grande desgaste e desmoralização. Também aqui o jargão utilizado no futebol: quem joga à defesa quase sempre perde, se afigurava pertinente. É este status quo que Spínola pretende modificar com um novo conceito operacional: a ofensiva em detrimento da praxis anterior.

Em 25 de Julho de 1968, emite a Directiva 20/68. Com esta ficaria traçada a sorte de cada um de nós pois entre várias medidas estipula: "... e ocupar Galomaro com efectivo de valor que permita exercer uma acção dinâmica".

E é um facto que até finais de 1972, as forças portuguesas mantiveram a situação sob controlo, apesar de haver algumas zonas interiores dominadas pelo PAIGC, tais como os bastiões do Morés e Cantanhez.

Em 1973, com o aparecimento dos mísseis antiaéreos Strella, a Força Aérea reduziu significativamente o apoio dado às forças terrestres. A partir daqui a situação complica-se. Cria-se nas nossas tropas o desconforto por saberem que não poderiam contar com os Fiats ou com os heli-canhões para sua protecção. Atendendo à exiguidade do território a aviação estacionada em Bissau podia atingir qualquer ponto extremo do território em 10 minutos. Esta cobertura que se traduzia em segurança para as nossas tropas estava a terminar pelos sérios riscos que corriam os pilotos e pelo valor de cada avião abatido.


1.2 – Clima e vegetação

A Guiné possui um clima quente e húmido, próprio das regiões tropicais (encontra-se situada entre o Equador e o Trópico de Câncer), com duas estações: a das chuvas, que começa em meados de Maio estendendo-se até meados de Novembro, e a estação seca no restante período do ano.

A estação das chuvas é caracterizada pela alta humidade atmosférica, precipitações abundantes, variando a temperatura média à sombra entre os 26 e os 28 graus. É nesta altura que surgem os tornados, ventos que chegam a atingir os 100 kms/hora. Na estação seca as temperaturas médias rondam os 24 graus, sendo os meses de Dezembro e Janeiro os mais amenos do ano rondando temperaturas na ordem dos 15 graus.

Embora o clima da Guiné seja considerado insalubre pelas elevadas temperaturas e pela densa humidade, a região onde se situava a nossa Companhia tinha um clima mais ameno propício à adaptação do europeu.

Quanto à vegetação apresenta o território três diferentes zonas. A zona litoral é uma larga planície aluvial onde abundam palmares e mangais(*), com uma agricultura assente no milho, mandioca, arroz (preponderante na alimentação dos guineenses), amendoim (**), bananeira, laranjeira, cajueiro, ananás, mangueira e culturas hortícolas intensivas.

Na zona interior, donde sobressaem os planaltos de Bafatá e Gabu, domina a savana de arbustos e árvores isoladas. O solo é rochoso e exposto à acção dos agentes erosivos, naturalmente desfavorável à agricultura. E, por último, uma zona de transição que liga as duas zonas referidas, coberta de floresta densa, principalmente no sul e onde a presença humana é escassa. Aqui a agricultura perde importância, sendo a principal riqueza desta região as madeiras.

1.3 – População

Existia uma diversidade étnica entre os seus habitantes. Para além dos brancos, mestiços, cabo-verdianos e libaneses, da população autóctone destaco os seguintes grupos étnicos: Balantas, Fulas, Futas-Fulas, Manjacos, Mandingas, Papéis, Beafadas, Brames, Bijagós, Felupes, Baiotes, Nalus e Sossos.

Farei uma breve descrição das tribos que habitavam a nossa zona: os Fulas e os Futas-Fulas. Os Fulas subdividiam-se em Fulas-Forros e Fulas-Pretos.

Os Forros foram os primeiros a chegar ao território subjugando os Mandingas a quem passaram a designar de Fulas-Pretos. São hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado. Apesar de alguma influência do Islamismo, são essencialmente fetichistas. Dedicam-se ao cultivo do arroz e à pesca (por vezes, através do envenenamento das águas). São bastante indolentes, pouco trabalhadores e viciados na cola.

Os Futas-Fulas habitavam a região do Boé. Com o abandono desta região por parte do Exército português acompanharam a debandada das nossas tropas . Têm boa compleição física, são argutos e inteligentes. Dedicam-se à agricultura, criação de gado e comércio ambulante. Alimentam-se de arroz, fundo (semelhante a alpista) e frutos. Não comem carne de porco nem bebem vinho, por o Islamismo não o permitir. Consideram-se superiores aos restantes fulas. Praticam a poligamia sendo bons pais e bons maridos, não permitindo que as mulheres pratiquem trabalhos violentos.

Entre as tribos mencionadas existem mais de vinte dialectos diferentes. O crioulo, que é uma mistura de palavras portuguesas e palavras dos dialectos locais, foi introduzido pelos colonos e permite que os nativos se entendam entre si.
_______

Notas de F.B.:

(*) Formação vegetal características das regiões costeiras intertropicais, constituída por florestas impenetráveis que cobrem as margens dos cursos de água. É a chamada floresta galeria.

(**) Nestas paragens conhecido como mancarra. Lembras-te, Ravasco, daquelas saborosas Luas-Cheias? Sim, se as tias na Linha desfrutavam antes do jantar, do seu Pôr-de-Sol, com os mais variados cocktails, porque não nós, também, na Linha (de combate), não poderíamos saborear um punhado de mancarra sabiamente torrada pela Binta, acompanhada por uma bazuca 'temperaturizad' pelo Matos ou pelo Vila Franca, àquela hora da noite.

(***) Foi precisamente a Companhia que nós fomos render [ CCAÇ 2405], que abandonou Madina do Boé. Aliás devem-se recordar que fomos encontrar militares extremamente desmoralizados. Na retirada, quando atravessavam o Corubal, uma Companhia que se encontrava do lado de cá, a dar-lhes protecção, começou a disparar morteirada, o que gerou o pânico (pensavam que era um ataque do inimigo), tendo perecido 40 militares afogados. O Diário de Notícias editou uma cassete vídeo “Madina do Boé - A retirada (Série Guerra Colonial),
(continua)

_____

Notas de L.G.:

(1) Sobre a CCAÇ 2405 (que esteve em Manosa, Galomaro e Dulombi], e os baixinhos de Dulombi, vd. os seguintes posts, entre outros:

Estórias de Dulombi, por Rui Felício:

8 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1352: Estórias de Dulombi (7): Perigos vários, a divisa dos Baixinhos de Dulombi (Rui Felício)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1217: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (6): Sinchã Lomá, o Spínola e o alferes que não era parvo de todo

18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1085: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (5): O improvisado fato de banho do Alferes Parrot na piscina do QG

5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço

19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua

14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili

9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIX: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (1): O nosso vagomestre Cabral

Vd. também post de 31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1006: Estórias de Mansoa (1): 'Alfero, água num stá bom' (Rui Felício, CCAÇ 2405)

O meu testemunho, de Paulo Raposo:
10 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1060: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (19): regresso a Lisboa e à vida civil (fim)

19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)

7 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1029: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (17): Dulombi

(2) Vd. post de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1494: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Alf Mil Fernando Barata, CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912