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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12360: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (3): Diário de bordo - Manhã azul e Deus ao leme

ÚLTIMAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 3 

DIÁRIO DE BORDO 

Manhã azul e Deus ao leme

Por Armor Pires Mota (ex-Alf Mil da CCAV 488/BCAV 490, e Bissau e Jumbembem, 1963/65)

Manhã azul

18 Julho/63

Nunca abrira assim meus olhos tão arregalados para o que me rodeava, o mar ondulando. Ali era um mundo diferente, revoltado em ondas que, ferozes, se batiam até se desfazerem em espuma. Mas, para quê ter medo, se também o homem traz dentro do peito um mar de sargaços e destroços, estrelas e conchas, fundos e naufrágios, e que quer fugir dos litorais estreitos para, liberto, ir mais longe? O homem é um mar.

Menino de palmo e meio, marinheiro pobre do mar em poças de águas podres pelos caminhos ou no tanque da fonte, habituei-me cedo às rotas para mundos desconhecidos, aos naufrágios dos meus barcos, feitos de jornais esquecidos sobre a mesa. E, quando partia contente do regaço de minha mãe, ela me abençoava, a mim e aos meus barcos, com o seu olhar meigamente doce, com a sua esperança. Pelo menos, hoje não tenho medo do mar, porque ele nasceu comigo e me encheu a alma de peixes e limos, também de noites de espanto, e é assim que anda comigo de onda em onda. O mar não é maior do que a minha alma.

Nunca abrira assim meus olhos carregados de azul. A manhã que me veio, já o sol ia alto, não me trouxe andorinhas para pousarem nos ombros doridos do dia-a-dia e das horas soltas e vazias, nem pássaros para o sol da minha janela que ficou fechada aos campos verdes, aos caminhos do pó, ao grito vermelho das papoilas.

Corri o barco todo de ponta a ponta e fiquei a conhecer-lhe os cantos. Do convés admirei sempre o mesmo jogo branco das ondas em malmequeres de espuma e, mais ao largo, a seara imensa do mar, toda lavrada de azul. E subi ao mastro como velho marinheiro em busca de algumas estrelas. E nunca meus olhos ficaram tão cheios de água e azul, foram tão longe e se pegaram tanto ao céu…

(Jornal da Bairrada, 5 Setembro 1964)

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Deus ao leme

Niassa, 21 Julho, 1963

Um enorme tubarão, listrado de verde-escuro, ora levanta o nariz, mostrando a dentuça terrível que não perdoa à presa, ora pinoteia a cauda, quando mergulha.
Seriam irmãos destes que nos abririam a goela, se Deus não pusesse a mão no leme, quando o cargueiro alemão, se ia a atravessar na rota do Niassa.

A noite de ontem era de breu e murada de um denso nevoeiro, tão cerrado que as luzes só a uma insignificante distância se deram a conhecer, conseguindo romper a escuridão medonha. Eram quatro horas da manhã e tudo dormia, uns a pensarem em cobras enroladas às palmeiras, outros a sonharem com macacos, saltando de ramo em ramo, de árvore em árvore, como os mais espertos bichos da terra, até fazendo-nos manguitos. Àquelas horas, seria o fim do mundo para nós, agarrados a alguma tábua de salvação ou de coletes de salvação enfiados nos ombros, ou os nossos restos mortais boiando naquele cemitério azul, agora da cor do nosso sangue. Está visto, a vida é um momento e num segundo se perde como gota de água na sede escaldante de um deserto ou se reganha com muita coragem ou muita sorte.

São três horas da tarde.
Sentados num monte de cordas grossas, jogam às cartas alguns soldados para esmoerem o tempo ou ainda a refeição e talvez, de saudade, falem de raparigas, das gajas boas, do cargueiro alemão e do desastre eminente.
- Se eu voltar, a Dores não me escapa. É uma boneca. Os seus olhos perderam-me – dizia um enquanto olhava, cheio de esperança a sorrir nos lábios, o crucifixo de ouro que trazia ao pescoço e ela lho havia dado na despedida.

- Sabes lá o dia de amanhã, a vida dá tanta volta.

Uma aragem quente, já há ares de África por ali, leva palavra, puxa palavra e põe gotas de água em tudo e quase nos abre a boca toda, porque sufoca, dançando com farrapos de nuvens um pouco por cima dos mastros. Dizem-nos que a Guiné está perto. Alguns põem-se a espiolhar o horizonte. De facto, era verdade. Quando o sol se escondeu, adormeceu tranquilamente por detrás de uma selva de palmeiras e outras árvores de grande porte. Lá longe, por detrás de uma ilha verde.

(Jornal da Bairrada, 19 Setembro 1964)

[Efectivamente, um percalço grave ia acontecendo na viagem no alto mar. Uma noite, o Niassa esteve na contingência de ser abalroado por um cargueiro alemão cujas luzes não conseguiam rasgar o muro do nevoeiro. Gerou-se algum pânico. Alguns chegaram a preparar os salva-vidas, as barcaças, para saltar para a água, mas, no último instante,os comandantes conseguiram evitar o embate que seria fatal para muitas centenas de jovens, entregues aos bichos do mar. A grande maioria, felizmente, só soube da notícia a meia voz no outro dia, neste caso, boa. Iam a dormir pesadamente].

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12351: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (2): Diário de bordo - Ó mar salgado!

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12351: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (2): Diário de bordo - Ó mar salgado!

ÚLTIMAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 2

DIÁRIO DE BORDO

Ó mar salgado!

Por Armor Pires Mota (ex-Alf Mil da CCAV 488/BCAV 490, Bissau e Jumbembem, 1963/65)

17 de Julho de 1963


A escada ou o portaló que eu subira devagar, há pouco, como se sentisse vertigens ou medo das distâncias que o mar me iria dar em breve, já não tinha os pés em terra e eu também não.

No terraço um mar de gente agitada, convulsiva, emocionada.
Encostado a uma grade branca, debruçado de olhos perdidos no olhar de todos que acenavam lenços, também acenei.

Ali era em todos o mesmo sangue a correr, o mesmo coração a vibrar de mágoa, os mesmos braços, a mesma Pátria. Os dois metros de água, entre o barco e o cais, quando a sirene roncou gritos tristes, como todo o adeus, em mim já eram lonjuras intermináveis, outras terras, nova aventura.

Ia partir. Mas cais de partir serão sempre cais de chegar? Pensei comigo. Olhei mais uma vez e deixando tombar os olhos no rio Tejo e dentro de mim, desci ao camarote, fui arrumar as malas.

Deitei-me. Vi selva e capim, olhos ferozes de terroristas, poças de sangue.
Os boatos sobre a Guiné eram de amedrontar, os piores, que alguns, malevolamente, lançaram ao vento.

Era assim um pesadelo aquela tarde de gaivotas, que, esvoaçando rente aos mastros do Niassa, desejavam uma boa viagem. Parecia impossível tal sonho e subi ao convés.

Navio Misto Niassa
Com a devida vénia a Navios Mercantes Portugueses

Lisboa, pequena, apagando-se quase na retina, fugia toda para trás. O céu também. E foi aí que recitei apenas para mim Fernando Pessoa, para mim e para o mar, onde acabara de entrar o navio:

Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal. 
Por te cruzarmos quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar, 
Para que fosses nosso, ó mar!

Fechei a alma. Os versos verteram-me lágrimas no coração, na pele arrepios fundos e longos.
O mar era já tão grande como a saudade. O céu era azul. E eu esperava-o sempre assim.

(Jornal da Bairrada, 5 Setembro 1964)

(Continua)
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 25 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12341: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (1): Diário de bordo - A primeira grande desilusão

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12341: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (1): Diário de bordo - A primeira grande desilusão

1. Mensagem do nosso camarada Armor Pires Mota (ex-Alf Mil da CCAV 488/BCAV 490, Bissau e Jumbembem, 1963/65), com data de 3 de Janeiro de 2013:

Meu querido Amigo Carlos Vinhal:
Conforme prometido, aqui lhe envio algum material para o Blogue do Luís Graça e do amigo.
Agora que ando a escrever as minhas memórias e as guerra fazem parte da minha história, da história de toda uma geração, fui encontrar material que, saindo no Jornal da Bairrada, não sei por que raio não saiu no TARRAFO.
Entre as memórias de guerra, além de outras, penso que estas poderão ter algum interesse para os amigos. Há no entanto, duas ou três que foram escritas recentemente e as integro neste naipe e outras que não, para não me tornar maçador.
Se alguma não couber dentro do v/espírito editorial, estão perfeitamente à vontade. No cesto do lixo também se guardam coisas.
Como prometi vou enviar um conto de Natal, que acho muito engraçado e carregado de sonho e poesia. 
Um abraço para o Luís Graça.
A edição fac-similada do TARRAFO esgotou.
Para o amigo um abraço de camaradagem e gratidão por tanto.
Armor Pires Mota


ÚLTIMAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1

DIÁRIO DE BORDO

1 - A primeira grande desilusão

No da 2 de Julho de 1963 todo o pessoal foi para casa gozar de licença (férias), dentro das normas de mobilização, com o conhecimento de que iria desempenhar a sua missão em Moçambique. No dia 14, apresentava-se pronto a embarcar com destino a Lisboa, mas sofria uma grande desilusão. O destino já não era Moçambique, mas a Guiné. “Essa alteração provocou uma certa perturbação no espírito pessoal, até porque já tinham sido feitas as declarações de pensões, as quais, à ultima hora, tiveram que ser substituídas e reduzidas para cerca de metade. No entanto, ningém deixou de comparecer ao embarque”, segundo consta da história bem sucinta do Batalhão 490. Isto é, ninguém fugia, ninguém desertava.

Das cerimónias de despedida constou uma missa campal na enorme praça, na manhã do dia 16, seguido de desfile, ouvindo-se, aqui e ali, à nossa passagem, uma ou outra voz surda contra a guerra. Nesse mesmo dia, o Batalhão deslocou-se, em formatura, para a estação de caminho de ferro da cidade, seguindo em comboio especial para Lisboa e daí para a gare de Alcântara. Antes do embarque, à torreira do sol, era uma hora da tarde, houve uma formartura de todas as unidades que iam embarcar: o Batalhão 490, os comandos e o CCS dos Batalhões de Caçadores 512 e 513, além de três companhias de artilharia. Era muita gente, cerca de 1500 homens, muita “carne para canhão”, ouvia-se.

Tudo em ordem, mas houve uma falha, lamentada pelo comandante de Batalhão, Fernando Cavaleiro. Era costume a Unidade Mobilizadora, neste caso o RC3, oferecer um guião, mas nada disso acontecera. Ou levou sumiço.

Embarcámos na Estação Marítima de Alcântara, no dia 17 de Agosto de 1963, entre lenços brancos, desfraldados pelos que subiam o portaló ou se estendiam já pela coberta e os familiares e amigos, que, tão nervosos como nós, entre soluços abafados e algumas lágrimas fundas, como as águas do rio Tejo e sentidas como um espinho, formigavam ao longo do cais no mais doloroso adeus a alguém que desse modo partia. Eu não tive ninguém a acenar-me. Tinha toda uma mole enorme, onde sobressaía o preto, a cor do luto em nossa terras. O destino não era para o melhor dos mundos, era para uma terra desconhecida, de mais a mais, onde as armas vomitavam fogo e os corpos jorravam sangue. Momentos antes do grito estridente do barco, onde se juntaram todos os nossos gritos macerados de silêncio, subiu a bordo o Ministro do Exército a fim de fazer uma alocução sobre a missão que nos coubera longe do chão natal. Não é garantido que todos o tenham ouvido, tomados pelos pensamentos mais desecontrados. Palavras que rolaram na espuma das ondas.

No domingo a seguir, era a festa em honra de Santa Margarida, padroeira da minha terra Ainda mal havíamos digerido a tremenda desilusão, não só por causa da farda branca, mas por mudarmos, à última hora, de destino. Na verdade, a Guiné era mais perigosa e a guerrilha andava a fazer fogo e sangue.

Comigo não levei muita coisa, além das roupas civis e fardas, talvez medos, muitos medos. Mentia se dissesse que ia de peito feito perante tantos perigos. Também uma flor de esperança e nela deitados os olhos da Lili que me oferecera um terço em prata dentro de uma concha, que guardo, religiosamente ainda hoje, no pechiché do nosso quarto. Se rezei por ele, não foram muitas as vezes. Adquiri outro de madeira, mais resistente e menos valioso, para trazer comigo nos bolsos da farda. Era a fé no meu Deus, a esperança em todos os meus santos e anjos do céu. Há muito que se acha escurecido do azebre. Ainda um dia destes, o hei-de mandar limpar. Na carteira, além de algumas notas, mais no seu interior, levava uma pagela, dobrada em duas partes, contendo uma oração. Foi oferta de um casal de vendedores do norte, de bordados, que ia pernoitar a Sangalhos, na Pensão de Ernesto Alves Pinto. Sabendo do meu destino, a mulher aconselhou-me a que lesse ou rezasse, que dava sorte. Pois claro que li, não todos os dias, mas alguns. Se dava sorte, era o que eu queria para mim, para os meus soldados e para todos. E sorte tivemos na última noite dormida sobre o bramir do mar largo.

Embarque de militares na Estação Marítima de Alcântara
Foto: © Américo Estorninho (2010). Direitos reservados

Como passámos o tempo a bordo? Foi um tempo penoso, sobretudo para os soldados que ocupavam os porões. Era um espaço bafiento e quentíssimo Os oficiais, mais à superfície, dormiam ou pasmavam-se nos beliches. O melhor tempo era o que se passava na coberta. Umas vezes, em instrução de armamento. Imagine-se, como íamos tão mal apetrechados. Só ali conhecemos a espingarda com que iríamos combater o IN, a eterna G3, automática. Arma que ninguém tinha visto no quartel. Não existia um único exemplar. Íamos agora conhecê-la nas suas partes e no seu funcionamento. Também pouco conhecíamos do terreno e das gentes que íamos encontrar e, em muitas situações, combater. Assim, recebemos também conhecimentos gerais sobre a pouco pacífica Guiné, guerras antigas, clima, raças, usos e costumes. Na parte recreativa, para animar um pouco o pessoal, este teve ensejo de ver vários filmes. Era um modo de atenuar o nojo que originava vómitos.Também ensaiávamos o Hino do Batalhão, música e letra do 2º comandante, major Alexandre António Bahia Rodrigues dos Santos, que regressava à Metrópole em 23 de Janeiro de 1964. Tratava-se de uma marcha militar e intitulava-se “Sempre em Frente”, que ainda é lembrado e cantado nos encontros anuais. Não sei se consegui nesta viagem ler algum livro aos peixes.

(Continua)

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2. Comentário do editor

Por que iniciamos hoje a publicação da série "Últimas Memórias da Guiné", de autoria do distinto repórter de guerra e nosso tertuliano Armor Pires Mota (ex-Alf Mil da CCAV 488/BCAV 490), memórias estas que como o próprio afirma, tendo sido publicadas, em devido tempo, no Jornal da Bairrada, não foram incluídas no seu livro "Tarrafo" [foto da capa à direita], cabe aqui um agradecimento ao autor pela deferência com que trata o nosso Blogue ao enviar-nos este material para publicação, que inclusive contém memórias escritas recentemente, logo inéditas.

Por que felizmente o texto é extenso, será dividido e publicado em vários postes que se desenvolverão temporalmente entre 2 de Julho de 1963, o de hoje com o título: A primeira grande desilusão, até 14 de Agosto de 1965, coincidente com a retirada da 488 de Jumbembem.

CV
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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10311: (Ex)citações (193): Telefono regulamente ao Armor Pires Mota e a outros camaradas do BCAV 490 (1963/65)... mas somos cada vez menos (Jaime Segura)

1. Mensagem do Jaime Segura, nosso leitor (e camarada da CCAV 488/BCAV 490, 1963/65), com data de 27 do corrente, a propósito do poste P10302:

Viva, boa tarde.

O Armor Mota continua a ser um velho amigo, que vive na Oiã, e com quem eu troco mails e telefonemas assíduos, e vemo-nos de vez em quando. Também convivo regularmente com o ex-alferes Fernando Correia, da minha companhia, e que vive em V.N.Gaia.

Convivo telefonicamente e por mail, com diversos elementos do BCAV 490, a maioria do Alentejo. Também falo por telefone regularmente com o ex-alferes Rui Ferreira, que vive no Algarve. Enfim, não há mês nenhum que eu não telefone para uma série de ex-combatentes do BCAV 490. Se calhar a idade avança e... a saudade aumenta! E cada vez somos menos!...

Também convivo regularmente com ex~furriel Manuel Coelho, que embora não pertencendo ao BCAV, esteve na Guiné na mesma altura que eu, e pertencia ao Batalhão do ten-cor. Hélio Felgas.

Vou digitalizar as fotos pedidas e enviá-las, muito em breve.

Entretanto, aqui fica um abraço,

Jaime Segura

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10259: (Ex)citações (192): Ainda as afirmações do senhor René Pélissier àcerca do nosso blogue (António Melo)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10302: O Nosso Livro de Visitas (146) ): Jaime Segura, ex-alf mil cav, CCAV 488 / BCAV 490 (Mansaba Bissorã, Ilha do Como, Jumbembem, Bissau, 1963/65)

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Jaime Vieira:


De: Jaime Vieira [ jaime.form@gmail.com ]

Data: 24 de Agosto de 2012 21:14

Assunto: Apresentação


Boa noite, só hoje tive conhecimento deste espaço, para convívio com antigos camaradas de armas da Guiné.

O meu nome é Jaime Segura, fui alferes do 3º grupo de combate da companhia de cavalaria 488, BCAV 490 ( 1963/1965). A minha companhia foi inicialmente uma companhia de intervenção, e estivemos em Mansabá, Bissorã, e mais tarde na célebre campanha da Ilha do Como (Janeiro a Março de 1964). Depois, a companhia passou à quadrícula e permaneceu em Jumbembem. Entretanto, eu fui nomeado ajudante-de-campo do Governador e Comandante-chefe General Arnaldo Schulz, tendo prestado serviço no Palácio do Governo, em Bissau.


Todos os anos fazemos um almoço de confraternização do pessoal do BCAV 490, no último sábado do mês de Maio, nos mais variados pontos do país, sobretudo no centro e sul, de onde é originária a maioria dos elementos do Batalhão.

Tive conhecimento, há relativamente pouco tempo, de um pequeno restaurante, em Matosinhos (cidade contígua ao Porto) onde se encontram antigos combatentes do Ultramar, com especial incidência da Guiné.

Fico a aguardar notícias vossas, e  até sempre,

Jaime Segura

2. Comentário do editor:

Obrigado, Jaime, pela visita e pela tua apresentação. E sê bem aparecido. Temos vários camaradas que pertenceram, ao teu batalhão, a começar pelo nosso co-editor, "jubilado", Virgínio Briote (que foi alf mil daq CCAV 489). Tens aqui cerca de três dezenas de referências ao teu BCAV 490. E cerca de uma dezena à tua CCAV 488 (a que pertenceu também o escritor Armor Pires Mota, a que também já foi dirigido o meu convite para integrar o nosso blogue mas que declinou amavelmente o convite). 

Se quiseres enriquecer este espaço de partilha de memórias (e de afetos) dos antigos camaradas de armas que fizeram a guerra colonial na Guiné (1961/74), podes começar por fazer um pedido formal de entrada na nossa Tabanca Grande, cujo número de membros registados é já de 573. Chamamos-lhe, por graça, os grã-tabanqueiros. 

Existimos, como blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné) desde abril de 2004.  E estamos prestes a atingir os 4 milhões de visitas. Teríamos muito gosto e honra em acrescentar o teu nome à nossa lista (ver coluna do lado esquerdo). Para esse efeito, e se aceitares as nossas regras de convívio, basta enviar-nos duas fotos (digitalizadas), uma do teu tempo de alferes e outra actual. Se morares na região do Porto, podes também frequentar os convívios semanais da Tabanca Pequena, com sede em Matosinhos.  Estamos também no Facebook como Tabanca Grande

Um Alfa Bravo do Luís Graça.

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Nota do editor:

domingo, 29 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 – P9416: In Memoriam (107): Está de luto a CCAV 488 do BCAV 490, pelo falecimento de Augusto Pimenta Henriques Simões (Fur Mil)



1.   No passado dia 27 do corrente mês, recebemos do nosso Camarada João Henriques Simões (que prestou a sua comissão militar em Moçambique e supomos ser irmão do falecido), uma mensagem informando do falecimento do nosso Camarada António Augusto Pimenta Henriques Simões, que foi Fur Mil Cav da CCAV 488 / BCAV 490 (1963 e 1965).


“Informo que faleceu em New Hampshire (USA) no dia 6 de Janeiro de 2012, António Augusto Pimenta Henriques Simões, ex-Furriel Miliciano de Cavalaria da CCAV 488 do BCAV 490 que serviu na Guiné entre 1963 e 1965. 



Foi condecorado com a Cruz de Guerra por actos de bravura em S. Nicolau - Como, na Operação Tridente (ver na OE o louvor). 

Saudações cavaleiras 
João Manuel Pimenta Henriques Simões 
Alf Mil Cav – PM (CPM 8240/RMM/1972-1974 "OS MARADOS" - custódia das Cargas Críticas entre a Beira e Cabora Bassa). 

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados. 
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 




quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8859: Notas de leitura (283): Tarrafo, de Armor Pires Mota: censura e autocensura, em tempo de guerra. Cotejando as edições de 1965 e 1970 (Parte II) (Luís Graça)




 Excerto de Tarrafo, de Armor Pires Mota (1ª edição, Aveiro,  1965), p. 127. Este título foi substituído por "É com ferro estrangeiro", na 2ª edição (Braga, 1970), p. 192.


Continuação do poste P8830 (*):

1. Do livro de crónicas sobre a guerra colonial na Guiné,  Tarrafo, da autoria de Armor Pires Mota, há duas edições: a primeira, de 1965, logo de imediato posta fora do mercado, pela polícia política de então; e uma “2ª edição, autorizada” (sic), de 1970.

Possuímos, da 1ª edição, um exemplar fotocopiado, provável cópia de um exemplar autografado, pertencente à Biblioteca do Seminário de Aveiro (de que o autor foi aluno) . Tem, além disso, diversas páginas com o carimbo “Confidencial” , além de cerca de um centena de parágrafos e frases sublinhados, possivelmente com ordem de eliminação ou sugestão de correção.  

Segundo o próprio autor, são marcas da PIDE, como ele próprio escreveu ao Beja Santos:

" (...) Finalmente, fiz seguir os livros, entre os quais o Tarrafo. Esgotado que está, envio-lho fotocopiado, um dos exemplares 'vistos' pela PIDE. É o único que tenho e que me veio às mãos quase por milagre. APM"

Possuímos, por outro lado, na biblioteca da Tabanca Grande,  um exemplar da 2ª edição (1970). Cotejando as duas versões, verifica-se que o autor eliminou todas as referências ao nosso armamento e equipamento, por razões supostamente  de “segurança militar",  impostas pelos "censores" (por exemplo, caça-bombardeiro T-6, espingarda automática G-3, rádio transmissor AN/PRC 10)… 

O mesmo se passa com alguns topónimos e datas, referentes à atividade operacional da CCAV 488, a que pertencia o Alf Mil Cav Pires Mota… E muitos dos parágrafos e frases assinalados com marcas dos "censores", no exemplar da 1ª edição, foram eliminados ou, no mínimo, revistos na versão de 1970 (publicada pela Pax Editora, de Braga).

Na I parte deste nosso texto de "notas de leitura" (*), vimos, a título de amostragem, e num primeiro resumo, que os censores em tempo de guerra fazem questão de esconder, escamotear ou ignorar, por exemplo, certas situações sociais de miséria que eventualmente poderão ser exploradas pela propaganda inimiga, tanto no plano interno como a nível internacional (por ex., as crianças de Bissau, a prostituição no Pilão, a fome de mulheres, crianças e velhos no mato)…

Estupidamente ou não, os censores querem por outro lado suavizar a própria violência da guerra (e o realismo dos combates), incluindo o comportamento dos combatentes debaixo de fogo… Sem que se saiba exatamente o que vai nas suas cabeças, preocupam-se aparentemente com o moral da retaguarda, procurando de algum modo subestimar ou sub-valorizar a força do inimigo...Aconteceu historicamente em todas as épocas e em quase todas as sociedades...

Referências à atividade operacional e a agressividade do IN, são eliminadas ou suavizadas na 2ª edição deste "livro de crónicas". Por exemplo, títulos como aquele que se reproduz acima ("Cem casas de mato", p. 127, 1ª edição) são inadmissíveis aos olhos dos "censores"... E na edição de 1970, o autor é obrigado encontrar um título mais neutro: "É com ferro estrangeiro" (referência à origem do material de guerra apreendido pelas NT, de diversa proveniência: 1 metralhadora Bren BK1, 1 pistola metralhadora Thompson, 2 carabinas Mosin Nagan)...

O autor relata, neste episódio, o assalto a (e a destruição de) um acampamento IN, em Fambantã, no setor de Farim (se não me engano), a 6 de Março de 1965. As fotos da pág. 129, mostrando a destruição do acampamento, foram retiradas. Também se explora, por outro lado,  os pontos fracos do IN, mas isso não levanta obviamente qualquer objeção por parte dos "censores", bem pelo contrário (mesmo mantendo a menção às tais cem casas de mato): 

(...)"Tão grande acampamento [, cem casas de mato,]  causou-se admiração, de certo modo, porque de facto, eles não se moviam muito há uns meses para cá. Apenas nos roubaram algumas vacas que andavam na pastagem e tentaram atacar o quartel à bazookada, mas falharam os intentos, porque caíram numa emboscada montada pelos fulas, Além disso, estão com os azeites: uns querem como chefe de zona Mamadú Indjai [, mandinga, que será gravemente ferido na Op Anda Cá, no Sector L1, Bambadinca, em Agosto de 1969]; outros não. Que deem com a cabeça nas árvores, que se esfolem e se matem. Trará vantagens. Outra causa, que os leva a não se mexer muito, é a fome. Só têm uma refeição por dia, às 9.30. Depois cada um que se oriente com as raízes e frutos selvagens" (edição de 1965, pp. 128 e 130).

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Tarrafo (2ª edição, 1970): o dia a dia da guerra de contra-guerrilha, no T0 da Guiné, entre Junho de 1963 e Junho de 1965, contado pela primeira vez na primeira pessoa do singular, por um comandante operacional, alferes miliciano, da CCAV 488, natural de Oliveira do Bairro, região da Bairrada,  onde nasceu em 1939. Reprodução das palavras do autor na contracapa. Tarrafo (1ª edição, 1965) é já a promessa do grande escritor que depois se veio a revelar Armor Pires Mota.
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Veja-se também, na 1ª edição, o parágrafo, a páginas 21/22, sobre o que se passava em Mansabá, em Outubro de 1963, com a guerra do gato e do rato: os “bandidos” punham abatises na picada, durante a noite, as NT removiam as árvores cortadas durante o dia…

(…) “ Depois, as coisas continuaram na mesma com poucas variantes. Eles punham de novo, noite dentro, as árvores que nós tirávamos até ao meio dia e derrubavam ainda mais. O estendal começou a tornar-se verde e seco. E assim andámos a fazer este jogo, até que resolvemos nós derrubar todas as árvores à beira do caminho. Mas nem assim nos deixaram em paz muito tempo, fazendo rebentar debaixo das viaturas dois fornilhos e, emboscados, carregaram” (…) . 

A referência aos "fornilhos" também desaparece subtilmente na edição de 1970 (pp. 38-43). Em boa verdade, os "fornilhos" sempre foram,  no TO da Guiné, talvez até mais do que as minas, o tipo de engenhos explosivos que mais terror nos causavam...

A descrição de ferimentos nas NT, o sofrimento dos feridos,  e a imediata prestação de socorros, pelos enfermeiros, também eram situações a eliminar ou a suavizar… (p. 22). 

Por outro lado, nessa época, ainda a G3 tinha coronha de madeira e os nossos camaradas usavam capacete (p. 24).

São anos de brasa, esses, em que mudou profundamente a geodemografia da Guiné, posta a ferro e fogo: aldeias inteiras foram destruídas, Mombocó, Cai, Flora,. etc.; populações inteiras são deslocadas...  E em que não se perdoava, de um lado e do outro,  a traição ou não colaboração (pp. 32/33). A história do “agente duplo” Malan (, antigo guerrilheiro, feito prisioneiro, depois reabilitado e posto ao serviço das NT como guia) fica a meio caminho, ou seja, fica  por contar o seu desfecho, na 2ª edição (1970)…

(…) Malan enganou. Ninguém sabia até esse dia que ele era engajador. Levava bajudas às casa de mato para noites de orgia. Nem ninguém sabia que ele era informador também do outro lado e tinha um rádio escondido numa mala.
- Mim bandido… Tropa amigo. Perdão!
Mas ninguém lhe perdoou.” (p. 33).


2. Notável, entretanto, é a descrição da travessia da bolanha, a caminho de Flora, em Novembro de 1963 (pp. 35-36). O autor vai buscar memórias da sua infância, os sargaços da Ria de Aveiro, mas também as suas leituras de guerra, a Indochina, o “Amanhecer no Pântano” (p.36), do “grande [Jean] Lartéguy”, acrescenta ele, na 2ª edição (p. 62).

Outra referência literária é o Platero, da obra homónima (Platero y yo, 1927) do poeta  espanhol Juan Ramón Jiménez (1881-1958),  no episódio “Um burro com sorte, Bissorã, 24 de Novembro de 1963” (p. 37/38).  Platero é a alcunha do burro, aprisionado em Fajonquito…

(…) “Gosto do meu Platero e, ao cair da tarde, de armas a tiracolo, vou dar-lhe de beber ao rio.
- Arre, bandido! Goss, goss… (p. 38)…

3. A terminar esta 2ª parte das minhas "notas de leitura" do Tarrafo, escritas em plenas férias de verão, convirá fazer o seguinte aviso:  não há aqui, da minha  parte, nenhuma crítica subjacente ao autor no subtítulo: "censura e autocensura em tempo de guerra"... Sou um simples leitor, apaixonado, complacente, atento, crítico, curioso...

Não escrevi crónicas de guerra nos jornais da época, como Armor Pires Mota... Podia tê-lo feito, embora me faltasse a motivação. E também não o fiz pela simples razão de levar a sério a existência e a omnipresença da censura, no meu país...  Escrevi cartas a amigos, a partir do TO da Guiné, que nunca cheguei a pôr na caixa do correio... Queria entregá-las pessoalmente, na altura das férias... Acabei por nunca o fazer... Também nunca escrevi aerogramas, porque achava que eram ou podiam ser facilmente censurados... E as relativamente poucas cartas, tranquilizadoras,  que mandava para a família, com fotos minhas, nunca falavam da guerra... Eu também fiz autocensura. L.G.



 Tarrafo, 1ª edição,. 1965. Indice da obra, pp. 157-158. Comparando com a edição de1970, há títulos que foram retirados ou substituídos. Outros foram acrescentados (em 197'0)


(Continua)

Lourinhã, Agosto de 2011

[ Texto redigido em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico: L.G.]

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Notas do editor:

(**) Último poste da série > 3 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8850: Notas de leitura (282): Do Cacine ao Cumbijã, 67 Guiné 69, de Guilherme da Costa Ganança (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8830: Notas de leitura (278): Tarrafo, de Armor Pires Mota: censura e autocensura, em tempo de guerra. Cotejando as edições de 1965 e 1970 (Parte I) (Luís Graça)


1. Não sei se é caso único, mas tem contornos algo insólitos: em 1965, o nosso camarada Armor Pires Mota, alferes miliciano, recém-regressado da Guiné [, foto à esquerda], publica em livro um conjunto de crónicas ou de excertos do seu diário de guerra, incluindo um relato relativamente circunstanciado da famosa Operação Tridente (ou batalha do Como, como lhe chamava o PAIGC), operação essa que decorreu entre 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964, na ilha do Como… 

Diga-se, de passagem, que aquela foi a maior e a mais longa operação,  realizada pelas nossas tropas no TO da Guiné, no decurso da guerra (1963/74),  mobilizando cerca de 1200 efetivos, dos três ramos das  Forças Armadas. Já tivemos, de resto,  o privilégio de aqui  publicar, na I Série do nosso blogue, o depoimento, em primeira mão, de um dos mais experimentados combatentes  dessa longa e penosa batalha, o então Fur Mil Comando Mário Dias (Brá, 1963/66) (*).


O livro chama-se Tarrafo, é editado (ou melhor impresso) pela Gráfica Aveirense, Aveiro, em Outubro de 1965. (Em rigor, trata-se de um edição de autor). Está dividido em três partes e tem 158 páginas. A primeira parte vai da página 11 (Bissau, 25 de Junho de 1963, cinco meses depois do início da guerra) até à página 43 (Bissorã,  12 de Dezembro de 1963).

Nesse espaço de tempo, o autor (e a subunidade a que pertencia, a CCAV 488), esteve na região do Oio, passou por Mansodé (onde teve o seu batismo de fogo, em 11 de Agosto de 1963), Mansabá (Outubro/Novembro) e depois Bissorã (Novembro / Dezembro de 1963). 

A segunda parte (pp. 47-85) reporta-se à sua participação na Op Tridente (Como, de 15 de Janeiro a 15 de Março de 1964). O Alf Mil Cav Mota e o seu grupo de combate fazia parte da CCVA 488, indo integrado no Agrupamento B,  juntamente com o 8º Dest de Fuzileiros Especiais (que era comandado pelo então 1º Ten Alpoím Calvão).Na terceira e última parte (pp.89-154), Armor Pires Mota relata a sua experiência operacional (e humana) no norte da Guiné, na região de Farim, entre Maio de 1964 e Junho de 1965. Neste período de tempo, passou por Bafatá, Sitató,  Lamel, Jumbembem, Farincó Mandinga, Canjambari, Fambantã, Cuntima, Sulucó… A última crónica é de Jumbembem, 11 de Junho de 1965 (pp. 153/154).


Ao que sabemos, estas crónicas tinham sido publicadas previamente, por episódio, cronologicamente, no Jornal da Bairrada de que o Armor Pires  Mota virá mais tarde a ser chefe de redação… Como classificar este livro ? Em que  género literário encaixá-lo ? Não é romance, não é ficção, não é jornalismo... Está próximo de coletânea de contos,  de short stories... Ou, se quiserem, da literatura memorialística...



Onde está, entretanto,  o caso ou o insólito do caso a que me referi no início deste poste ? É que o livro foi imediatamente retirado do mercado, por iniciativa direta da polícia política de então ou, possivelmente, alertada por algum censor mais sensível ao efeito “dissolvente” (como então se dizia…) e “desmoralizante” que a leitura do livro poderia ter nos mais incautos e jovens leitores portugueses (bem como nos seus pais, preocupados pela mobilização crescente dos seus filhos para os longínquos teatros de operações de África: Angola, Guiné e Moçambique),  face à realidade nua e crua da guerra da Guiné, tal como era descrita, pela primeira vez, na primeira pessoa do singular, e para mais com o inegável talento de um jovem e promissor escritor, nascido e criado na região da Bairrada…


Dedicatória a um amigo açoriano (?), com autógrafo... Tarrafo, 2ª edição, 1970... Livro comprado há alguns anos,  em segunda mão, numa feira dos usados...


Não estaria em causa, na época, o inquestionável patriotismo do autor nem sequer a sua fé inabalável na justa causa portuguesa, em terras da Guiné, cobiçadas por potências estrangeira que financiavam e instrumentalizavam os “turras” ou "bandidos" do PAIGC… 

Aliás, o livro  começa por ser dedicado “ao rude, mas heróico soldado português, sempre pronto  para todos os sacrifícios”, bem como ao tenente coronel FernandoCavaleiro, que comandou as forças terrestres na Op Tridente e que é descrito nestes termos: "audacioso, de pulsos de ferro, de têmpera mais vale quebrar que torcer ". Era, de resto, o comandante do BCAV 490, a que pertencia a subunidade do Armor Pires  Mota (CCAV 488). 

É também dedicado aos seus "pais e irmãos" bem como à "minha madrinha de guerra que sempre teve uma palavra de conforto para cada angústia,  uma frase de humor para cada dia de tédio e uma rosa para cada ferida"... 

O insólito, para mim,  está no aparecimento, cinco anos depois, de uma 2ª edição do livro, revista, (não se trata de simples reimpressão...), com a indicação explícita de se tratar da “2ª edição, autorizada” (sic).  Não se percebe de quem vem a autorização: a Direção dos Serviços de Censura, a PIDE/DGS, o Exército ?...

A editora é, desta vez, a Pax Editora, de Braga, ligada à Igreja Católica.  O autor, antigo seminarista, mantinha-se próximo dos meios católicos da época, e tudo indica, alinhado política e ideologicamente com o regime de então. Na apresentação do livro, João Bigote Chorão, crítico literário e ensaísta, escreveu:

(...) " No sofrimento e no sangue nasceu-nos um escritor, Armor Pires Mota,  cronista de uma aventura e poeta de uma epopeia onde o nosso destino se joga - e onde todos nos podemos perder ou salvar". (...) 

O livro já aqui teve, no nosso blogue, uma primeira recensão, da autoria  do Beja Santos (**), que não poupa elogios ao autor e à obra, "primeiríssimo relato literário da guerra da Guiné":

(...) "Tarrafo surpreende, 45 anos depois: pela sinceridade, pelo registo inocente, pela dureza da aprendizagem. E chegamos a Janeiro de 1964, o autor vai viver a batalha do Como, legou-nos páginas densas, emocionantes, estranhamente esquecidas" (...) (**).

Armor Pires Mota foi, de facto,  durante muito tempo esquecido e injustiçado, figurando hoje entre os nossos escritores da guerra colonial, de primeiríssima água (se considerarmos a sua obra decisiva, o romance Estranha Noiva de Guerra, de 1995).

E no entanto o seu nome não consta sequer da pioneira antologia,  editada pelo Círculo de Leitores,  em 1988,  sob a direção literária de João de Melo: Os anos da guerra...  [, vd. foto da capa, à direita]. O escritor açoriano e ele próprio ex-combatente, em Angola, considerava na época o Armor Pires Mota como um mero cronista 'patriótico'.

Eis a referência bibliográfica, relativa a Tarrafo, que consta do catálogo da Biblioteca Nacional de Portugal,  obtida através da pesquisa na Porbase, onde o autor tem o número invejável de 28 registos (entre títulos de poesia, ficção, crónica e investigação historiográfica):


Tarrafo / Armor Pires Mota


AUTOR(ES): 
Mota, Armor Pires, 1939-
PUBLICAÇÃO: 
[S.l. : s.n.] 1965 ( Aveiro: -- Gráfica Aveirense)
DESCR. FÍSICA: 
158, 1 p. : il. ; 21 cm



Tarrafo / Armor Pires Mota


AUTOR(ES): 
Mota, Armor Pires, 1939-
EDIÇÃO: 
2ª edição autorizada
PUBLICAÇÃO: 
Braga : Editora Pax 1970
DESCR. FÍSICA: 
244, 18 p. : il. ; 21 cm
NOTAS: 
Tiragem 3000 ex.




2. Da primeira edição (esgotada) possuímos um exemplar fotocopiado, gentilmente oferecido pelo seu autor ao nosso camarada Beja Santos, e que faz parte atualmente do espólio da biblioteca (em construção…) da Tabanca Grande (, alimentada com os livros  que são objeto de recensões publicadas no nosso blogue).



O documento que possuímos tem a particularidade de ser fotocópia de um exemplar autografado, pertencente à Biblioteca do Seminário de Aveiro. Tem, além disso, diversas páginas com o carimbo “Confidencial” e, ainda mais interessante, inúmeros parágrafos e frases  sublinhados,  possivelmente com ordem de eliminação ou sugestão de correção. Não sabemos se são do próprio autor ou dos seus “censores"...

Por exemplo,  na 2ª edição, o autor eliminou todas as referências ao nosso armamento e equipamento, por razões que só podem ser entendidas como sendo de "segurança militar"  (por exemplo, caça-bombardeiro T-6, espingarda automática G-3, rádio transmissor AN/PRC 10)… O mesmo se passa com alguns topónimos e datas (não se percebe porquê, já que outros ficaram…).


A edição de 1970 tem o mesmo título (Tarrafo) mas mais páginas (244 pp.).  É ilustrada com 22 fotografias, a preto e branco,  legendadas, mas algumas das quais não têm nada a ver com a época (1963/65) em que o autor esteve na Guiné. 

É o caso, por exemplo, da foto nº 17, que tem a seguinte legenda: “17. Homens de outros países no auxílio ao terrorismo internacional. O capitão cubano Juan Jimenez Peralta”. [ Possivelmente tirada no Hospital de Santa Maria, Lisboa, 1970]. 

O mesmo se passa possivelmente com fotos de armamento pesado, de origem soviética ou checa, apreendido ao PAIGC em data posterior a 1965 (por ex., foto nº 8).


O livro de 1970 mantém sensivelmente a mesma estrutura (3 partes, a saber:  1. No coração do Oio; 2. Sul; 3. Norte. Há, no entanto, novos episódios, nas partes 1 e 3).

3. Pergunta-se: A que é que os “censores” eram/são mais sensíveis, em tempo de guerra ?

Como é sabido, no Estado Novo,  os livros não eram sujeitos a censura prévia  (contrariamente à  imprensa escrita e ao teatro) mas podiam ser apreendidos depois de publicados,  tarefa essa que incumbia à PIDE (mais tarde DGS), com  mandados de busca às livrarias, tipografias e bibliotecas.


 Os censores, da Direcção de Serviços de Censura (por sua vez dependentes do Serviço Nacional de Informação) eram, conhecidos (e temidos) pelo famigerado "lápis azul”, com que cortavam textos (dos jornais ao teatro de revista), muitas vez cega e arbitrariamente… Alguns censores eram militares, e a sua formação muito heterogénea. 

Quanto aos critérios da censura, não eram de modo algum uniformes. Havia, contudo,  censores mais permissivos do que outros, conforme as regiões do país.  É bem possível que o Armor Pires Mota, pelo contrário,  tenha apanhado um censor de Coimbra para quem o tema da guerra era tabu…(Eu, que fui jornalista da imprensa regional, nessa época, sei do que falo).


Também é verdade que o tema da guerra estava ao rubro, em 1965, na sequência da atribuição, pela  Sociedade Portuguesa de Escritores, do  Grande Prémio de Novelística  ao escritor Luandino Vieira, pelo seu livro Luuanda. Recorde-se que Luandino Vieira (nascido em Vila Nova de Ourém, em 1935, radicado com os pais em Angola desde os três anos e militante do MPLA) cumpria, então, uma pena de 14 anos de prisão, no  Tarrafal,  sob a acusação de terrorismo.





Excerto de Tarrafo, 1ª edição, 1965, p. 15 

Na sequência da decisão do júri que atribuiu o Prémio, a referida Sociedade Portuguesa de Escritores foi extinta, por despacho do Ministério da Educação, e a sua sede assaltada e vandalizada, em 21 de Maio de 1965. Membros do júri  - entre eles o respeitável João Gaspar Simões (1903-1987) - foram detidos e interrogados pela PIDE. A notícia, além disso, foi proibida em todos os jornais.  

Não sei se há mais livros, sobre a guerra colonial,  anteriores ao 25 de Abril de 1974,  que tenham sido objeto de censura e/ou de apreensão. O caso do Tarrafo parece-nos paradigmático.  Mas, no final, ficamos sem poder responder cabalmente à pergunta: a que é que os “censores” eram/são mais sensíveis em tempo de guerra ?



A título de amostragem, e num primeiro resumo, pode-se dizer que os censores (ou o censor...) querem esconder, escamotear ou ignorar, por exemplo,  a situação das crianças de Bissau bem como a prostituição ou a miséria em que os guineenses vivem em Bissau ou no mato, tal como era descrita de relance pelo autor, um jovem de sólida formação cristã e de indesmentível portuguesismo, chegado à Guiné em Junho de 1963… 

Querem por outro lado suavizar a própria violência da guerra (e o realismo dos combates), incluindo o comportamento dos nossos soldados debaixo de fogo… Preocupam-se com a "moral" da retaguarda, procurando de algum modo subestimar ou subvalorizar a força do inimigo... Como em toda a parte do mundo e em todas as épocas, o censor (político, militar, literário...)  sofre, antes de mais, de um problema de dissonância cognitiva…

Topónimos e datas eliminados na 2ª edição (1970)

Citem-se alguns exemplos (retirados da 1ª edição, 1965), reportados a três episódios ou crónicas:

- Ruas sem poesia (p. 22): Eliminada a referência a “Bissau, 25 de Junho de 1963”.

- Batismo de fogo (p. 30): Cai a menção a “Mansodé, 11 de Agosto de 1963”

- Sobrevivência (p. 90): O episódio deixa de ser localizado e datado (“Como, 16 de Janeiro de 1964”).

Vejamos ainda  algumas descrições (da edição de 1965, que desaparecem na edição de 1970):

“Nas ruas, tristes, como elas, brincam torrentes de crianças, semi-nuas, em altos berros: correm, saltam, olham-me curiosas. Alegres como pássaros livres, sem saber se lhes falta pão ou justiça” (p. 12).

“No Copilão, a noite, como de costume, vai ser de orgia intensa e frenética. Estranha conceção de moral. Por vezes, o dinheiro  - preço baixo de carne emprestada aos homens brancos ou de cor  que julgam apagar tristezas e desgostos, chafurdando no prazer – reverte em favor da família. As filhas chegam a entregá-lo aos pais” (p. 13).

Veja-se,  por exemplo, este diálogo entre o narrador (o alferes) e o Teodomiro (soldado), no dia do batismo de fogo, mês e meio depois da sua chegada ao TO da Guiné (p. 15): 

(…) – Descansa que não mataste nenhum inocente. Quem vive em casa de mato tem o rótulo… Não sejas idiota! Um soldado não deve ter um coração de pedra. Mas também não deve ser um medricas.
- Eu sei. Mas matar custa-nos sempre. (…)

Na segunda edição o diálogo foi reformulado e a última frase (... matar custa-nos sempre) desapareceu…

O comportamento debaixo de fogo também está na mira dos censores, obrigando o autor a reformular o parágrafo:

“Olhei. O Américo, que gritara, tinha desaparecido para trás. E cada qual teve a sua reação natural. Uns meteram a cabeça no chão e ficaram quietos como um coelho, Outros, de arma na cara, faziam pontaria. E não faltou até quem estivesse a ver milhares de bandidos, imaginariamente” (p. 15)…

No total, contei mais de uma centenas de parágrafos ou frases “censurados” (que interpreto como cortes ou sugestões de reformulação), marcados a lápis (com um ou outro, raro, comentário, ilegível na fotocópia): 

Parte 1  (pp. 1-43) – 23 “marcas”
Parte 2 (pp. 47-89) -  32 “marcas”
Parte 3 (pp. 89-154) – 50 “marcas”

(Continua)


[ Texto redigido em conformidade com o Novo Acordo Ortográfico... Com um abraço de apreço e camaradagem ao Armor Pires Mota, a quem convidei, em tempos, pessoalmente,  para integrar a nossa Tabanca Grande... Convite que ele agradeceu amavelmente, mas ao qual nunca chegou a dar resposta...  Lourinhã, Agosto de 2011. L.G.]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:
 15 Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias) 

16 Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias) 

17 Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)


(**) Vd. postes de:
 

22 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5687: Notas de leitura (56): Armor Pires Mota (1): Tarrafo e Baga-baga, duas surpresas de um combatente repórter (Beja Santos)
 

23 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5692: Notas de leitura (57): Armor Pires Mota (2): Tarrafo, o primeiríssimo relato literário da Guerra da Guiné (Beja Santos)
 

(***) Último poste da série:

26 de Setembro de 2011 >
Guiné 63/74 - P8822: Notas de leitura (277): Golpes de Mão's, Memórias de Guerra, por José Eduardo Reis de Oliveira (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7262: Estranha Noiva de Guerra, romance de Armor Pires Mota (1): Apresentação em Lisboa, 10/11/2010, na A25A (Parte I)


Lisboa > Sede nacional da Associação 25 de Abril (A25A) > 10 de Novembro de 2010 >  Apresentação do romance Estranha Noiva de Guerra (1ª ed, 1995), agora em 2ª edição, na Âncora Editora (2010, 151 pp.). Neste vídeo, Beja Santos lê excertos do romance (pp. 93/94), obra que ele considera uma obra-prima da literatura da guerra colonial e que,  inexplicavelmente, terá passado despercebida da crítica em 1995.  Num gesto nobre de Armor Pires Mota, os  direitos de autor desta edição revertem a favor dos Centros de Apoio à Inclusão Social, da Liga dos Combatentes. O preço de capa é 16 €.

'Estranha Noiva de Guerra' é a história de Bravo Elias, "um furriel que combate na Região do Morés.  Com ele segue Júlio Perdiz, um morto em combate que não será abandonado em campo de batalha (...). É nisto que surge nesta terra de ninguém uma rapariga dizendo: 'Mim ajuda branco, mim vai ajuda branco'. Chama-se Mariama e promete levá-los até Mansabá (...). Aqueles dois seres humanos levam a padiola do Perdiz, seguem esgotdaos, correndo todos os riscos, atravessando bolanhas fétidas, sujeitos a todas as inclemências da natureza (...).  A paixão entre Mariama e Elias desperta. Passa-se  pela região de Lala Samba, os jagudis voltam a atacar o finado, arrancam-lhe  os olhos, metade de uma orelha, o nariz. Aos tombos chegam a Cumbijã Sare, lavam o que resta do Perdiz. (...). A trama ganha novos contornos com a chegada de dois guerrilheiros (...) Segue-se um ataque a Mansabá, uma descrição como nunca encontrei na literatura da guerra colonial: o vigor da encenação, os sons, as imagens de sofrimento, as águas fores das correrias e dos rodopios. Duarnte o ataque os dois jovens guerrilherios do Morés matam Mariama. O apocalipse prossegue (...).  (Do prefácio de Beja Santos, pp. 11/12).


Vídeo (3' 12''): © Luís Graça (2010).Alojado em You Tube > Nhabijoes



O Rotary Clube de Oliveira do Bairro prestou o ano passado, em 9 de Maio, uma justa  homenagem ao escritor e jornalista Armor Pires Mota, que completou 50 anos de actividade literária.  Do jornal Soberania do Povo, de 6 de Maio de 2009 (completado por outras fontes na Net), seleccionamos algumas notas biobliográficas deste nosso camarada:


(i) Armor Pires Mota nasceu a 4 de Setembro de 1939, em Águas Boas, Freguesia de Oiã, concelho de Oliveira do Bairro;

(ii)  Estudou teologia, no Seminário de Aveiro, curso que abandonou em 1961;

(iii) Em 1960 editou o seu primeiro livro, Cidade Perdida;  

(iv) Ainda no seminário, dirigiu a Revista Semente;  publica igualmente poesias em jornais da região  (Jornal da Bairrada, Correio do Vouga e Soberania do Povo);



(v) Foi alferes miliciano, na Guiné (CCAV 488, 1965/67), com actividdae operacional na Ilha do Como e na  Região do Oio;

(vi) Durante a asua comissão foi publicando um diário de guerra no Jornal da Bairrada;

(vii) Essas crónicas foram depois, em 1965,  editadas em livro,  O Tarrafo;

(viii) Pouco tempo, a ex-PIDE proibiu o livro que tinha cruas descrições de guerra (napalm, bombardeamentos, combates, mutilações...);

(ix) Foi editor de Soberania do Povo em 1970 (num período de rejuvenescimento editorial, na época marcelista), saindo em 1973 e regressando em 1988;

(x) Publicou uma série de crónicas sobre as arbitrariedades dos Serviços Florestais, que deu origem ao livro O Préstimo a Caminho de Lisboa (1971);

(xi) Em 1974, tornou-se pequeno empresário, com a criação de um  empresa na Palhaça (Alferpa); em 1980, com o mesmo sócio e o encarregado geral, fundou a Trougal;

(xii) Continuou sempre a escrever... Dos seus livros do Ciclo de Guerra, cite-se:  Baga-Baga (poesia, Prémio Camilo Pessanha, em 1968), Guiné Sol e Sangue (1968, contos e narrativas), Tarrafo (crónicas vivas da guerra) (2ª ed., 1970),  O tempo em que se mata, o mesmo em que se morre (1974, poesia),  Cabo Donato Pastor de Raparigas (1991, contos), Estranha Noiva de Guerra (1ª ed., 1995;  2ª ed., 2010) e A Cubana que dançava flamenco (2008) (estes dois últimos romances);

(xiii) Foi chefe de redacção da revista Itinerário (Coimbra) e colaborou na Observador e na Panorama. Tem ainda colaboração no Jornal de Notícias, O Primeiro de Janeiro e outros.

(xiv) Dedicou-se à também investigação histórica e à escrita de monografias (a que ele chama o Ciclo da Terra); escreveu livros de poesia e de vivências bairradinas; tem vários inéditos para publicar e figura em quatro antologias: Contos Portugueses do Ultramar, Corpo da Pátria , Vestiram-se os poetas de soldadosEscritas e Escritores da Bairrada;

(xv) Está também no Dicionário dos Escritores e Poetas Luso-Galaicos e no VI Volume do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, organizado pelo IPLB; o número de livros publicados,  repartidos enter o Ciclod a Guerra e o Ciclo da Terra, ultrapassam já as 3 dezenas;

(xv) É sócio da Associação Portuguesa de Escritores e sócio-fundador da Associação de Jornalistas e Escritores da Bairrada (AJEB). A Câmara Municipal de Oliveira do Bairro atribuiu-lhe, em 2001, a Medalha de Mérito Cultural.

(xvi) É um homem simples e solidário, que ama e ajuda a sua terra e os seus conterrâneos: Foi fundador do Grupo Desportivo e da Associação de Melhoramentos de Águas Boas, exerceu cargos na Comissão de Melhoramentos e Centro Social de Oiã, fez parte da Comissão Fabriqueira de Oiã e da Comissão de Obras da Capela de Águas Boas.




O Beja Santos (à esquerda) prefaciou e apresentou a obra...


Aspecto da mesa, presidida pelo dono da casa, Ten Cor Ref Vasco Lourenço...

Lisboa > Rua da Misericórdia nº 95 > Sede nacional da Associação 25 de Abril (A25A)  > 10 de Novembro de 2010 >18h30: Apresentação do romance de Armor Pires Mota, Estranha Noiva de Guerra, 2ª ed. (Âncora Editora, 2010, 151 pp.; Col  Guerra Colonial. Preço de capa: c. 15 €. A primeira edição é de 1995, Editorial Notícias)

Na mesa, presidida por Vasco Lourenço, pode ver-se da esquerda para a direita: (i) Beja Santos (apresentador da obra,  escritor, membro da nossa Tabanca Grande, em véspera de partir para a Guiné,  em "romagem de saudade"); (ii) Armor Pires Mota, o autor, ex-Alf Mil da CCAV 488, Mansabá, ilha do Como, Bissorã e Jumbembem, 1963/65 (*); (iii) Vasco Lourenço, presidente da A25A; (iv) Baptista Lopes, o editor (Âncora); e (v) Serafim Lobato, antigo fuzileiro, jornalista e agora responsável pela Colecção Guerra Colonial, da Âncora Editora .

Assistiram à sessão mais de 4 dezenas de pessoas, quase todos eles antigos combatentes, mas também amigos e familiares do Amor Pires Mota, "gente da Bairrada" que vive em Lisboa... Reconheci, entre outros, o Manuel Barão Cunha, coronel na reforma, DFA, escritor, autor de Tempo Africano (4ª ed., 2010); José Talhadas, antigo fuzileiro, autor de Memórias de um Guerreiro Colonial; os membros do nosso blogue Humberto Reis, José Martins, Belarmino Sardinha, Belmiro Tavares e Carlos Silva (além de eu próprio e o Beja Santos)...

Tive o prazer de conhecer pessoalmente o autor de Tarrafo, Armor Pires Mota, a quem voltei a endereçar o meu convite para integrar a Tabanca Grande, bem como o Serafim Lobato, com quem já em tempos havia trocado e-mails, e de quem já publicámos um ou dois postes.

(Continua)

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Nota de L.G.:

(*)  CCAV 488: Mobilizada pelo RC 3, partiu para a Guíné em 17/7/1963 e regressou a 12/8/1965. Esteve em Bissau, Ilha do Como, Jumbembém e Bissau. Comandantes: Cap Cav Fernando Manuel Lopes Ferreira; Cap Cav Manuel Correia Arrabaça; Ten Cav Lourenço de Carvalho Fernandes Tomás. Pertencia ao BCAV 490 ( (Bissau, Ilha do Como e Farim, 1963/65), comandado pelo Ten Cor Cav  Fernando José Pereira Marques Cavaleiro. Restantes companhias:  CCAV 487 (Bissau, Ilha do Como, Farim, Bissau); CCAV 489 (Bissau, Mansabá, Ilha do Como, Cuntima, Bissau).