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sábado, 23 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21798: (Ex)citações (384): A evacuação do capitão paraquedista Valente dos Santos, no decurso da Op Grande Empresa (Manuel Peredo, ex-fur pqdt, CCP 122, 1972/74 / Moura Calheiros, ex-maj pqdt, 2º cdmt, BCP 12, 1972/74)

 
Guiné > Bissau > Bissalanca> BCP 12 (1972/74)

Foto (e legenda): © Manuel Peredo (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Dois comentários ao poste P21779 (*)


(i) Manuel Peredo 

[ ex-fur mil paraquedista, na foto acima é o primeiro do lado direito, armado de RPG-2, seguido do sagento Carmo Vicente e do Fernandes, caboverdiano, fur mil, todos do 4º Gr Comb da CCP 122 / BCP 12, Bissalanca, 1972/74; vive em França, ou vivia até há uns anos; tem 7 referências no nosso blogue: integra o nosso blogue desde 2008](**)


Tendo eu participado na "reconquista do Cantanhez” [Op Grande Empresa], queria fazer uma observação. Eu estava presente quando o capitão Valente dos Santos [,comandante do CCP 122,]foi ferido com uma bala que lhe atravessou um braço.

Ele estava incluído no quarto pelotão, que era o meu e nessa emboscada tivemos quatro feridos,ou talvez cinco: o capitão Valente dos Santos,o radiotelegrafista Ribeiro,o enfermeiro Azenha e o soldado Severino que transportei às minhas costas.

Todos foram evacuados ao mesmo tempo, incluindo o capitão Valente dos Santos que, vendo em que estava o seu braço, não podia continuar a operação.

Eu li o livro do major Moura Calheiros (um excelente livro) (***) e a passagem sobre a evacuação do capitão Valente dos Santos deixou-me surpreendido ao afirmar que o capitão recusou ser evacuado querendo continuar a operação, o que não corresponde à verdade.

Em Maio de 2012 estive com o major Moura Calheiros em Tancos no dia da Unidade, onde se juntam várias gerações de paraquedistas. Dei-lhe os meus parabéns pela obra, mas disse-lhe que não estava de acordo com ele quando diz que o capitão Valente dos Santos recusou-se a ser evacuado. Disse-lhe que eu estava presente e que o capitão foi evacuado quando os restantes feridos, mas ele disse-me que eu estava errado e que o que escreveu estava certo pois andava a sobrevoar a zona na Dornier.

Nesse dia da Unidade encontrei-me com vários elementos do meu pelotão [4º  da CCP 122] que fizeram parte dessa operação e todos estavam de acordo com a minha versão.

Depois de os feridos terem sido evacuados, veio outro pelotão da CCP 122 reforçar o meu grupo e voltámos ao local onde tínhamos sofrido a emboscada, sendo a minha secção a ir na frente do bigrupo. 

Encontrámos várias granadas e munições e quando nos preparávamos para sair daquela zono, fomos atacados novamente e o furriel Aníbal Martins foi ferido gravemente. Esteve alguns dias no Hospital Militar, vindo a falecer dos ferimentos. A morte dele deixou-me abalado, pois éramos amigos e no BCP 12 dormíamos no mesmo quarto.

Também participei na operação Muralha Quimérica, onde o meu pelotão encontrou uma grande quantidade de bandeiras do PAIGC e ainda hoje tenho uma.


Capa do livro de José Moura Calheiros, "A Última Missão" 
(Porto, Caminhos Romanos,
2ª edição, 2011). A 1ª edição de 2010.

 (ii) Moura Calheiros

[tem 22 referências no nosso blogue, coronel paraquedista reformado, gestor e escritor; das três comissões de serviço no ultramar, destaque para a da Guiné (1971-1973) como 2º Comandante e Oficial de Operações do BCP12, COP4 e COP5 e ainda como Comandante do COP3]

"Sou" o Major Moura Calheiros, referido pelo Amigo e camarada paraquedista Manuel Penedo, no seu comentário ao meu livro "A Última Missão ", cujo elogio agradeço. 

Mas apresento-me hoje, e aqui, com mais 48 anos — meio século!!! — de vida do que aqueles que então exibia nos tempos que ele recorda, os da "invasão" do Cantanhez, na Guiné...

Tudo aquilo que ele refere se passou numa clara e muito quente manhã, tipicamente guineense, no dia 12 de Dezembro de 1972. E foi relatado, no livro, em 2010; logo, 38 anos depois..., passível, pois, de algumas pequenas imprecisões por efeito da falta de memória e de relatórios escritos sem muito detalhe e precisão, pois que aquele período não permitiu tempo para "burocracias", cuja falta hoje se fazem sentir... e que lamentamos existirem..

Mão amiga fez chegar ao meu conhecimento o comentário do Amigo e camarada Paraquedista Manuel Penedo a uma imprecisão existente no livro de minha autoria atras referido. E existe na verdade uma imprecisão: contrariamente ao que eu lhe tinha afirmado em Tancos, num Dia da Unidade...

Só que agora pude recorrer ao Comandante da Companhia, então Cap Paraq Valente dos Santos, muito mais jovem que eu, logo, com melhor memória. Ele confirmou-me que eu lhe propus a sua evacuação e de todos os outros feridos, mas que ele se recusara a ser evacuado sem que tivesse atingido o quartel inimigo; e, diferentemente do que eu afirmo no livro, os restantes feridos não foram logo evacuados por decisão sua, pois que não eram graves, mas sim, conjuntamente com ele, logo após a ocupação do objectivo.

Em resumo: o Amigo Manuel Penedo tem toda a razão no que afirma no seu Post, mas penso que a inexatidão não é relevante, pois em pouco ou nada o momento da evacuação é importante na narrativa; excepto, claro está, para os feridos... E felizmente tudo correu bem com eles... E com tudo o resto nesse dia, com excepção do raio do desembarque em Cadique...

As minhas desculpas aos leitores do meu livro por esta minha — quanto a mim, ligeira — imprecisão; e também ao Amigo e camarada Manuel Penedo, com o meu pedido de desculpas pelas minhas afirmações em Tancos, no Dia da Unidade. Como compensação, vai daqui um forte abraço para ele.

E, para terminar, saúdo os seguidores deste magnífico Blog, que em tempos idos eu visitava com muita frequência. Mas a idade não perdoa... (****)

_________


(**) Vd. poste de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

(***) Vd.postes de;

 17 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7805: Notas de leitura (204) A Última Missão, de José de Moura Calheiros (1) (Mário Beja Santos)

18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7815: Notas de leitura (205): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (2) (Mário Beja Santos)

27 de fevereiro de  2011 > Guiné 63/74 - P7872: Notas de leitura (210): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (3) (Mário Beja Santos)


2 de dezembro de  2010 > Guiné 63/74 - P7371: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (2): Excerto de Discurso do autor

3 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7375: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (3): Sítio promocional

(****) Último poste da série > 6  de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21741: (Ex)citações (383): Jaime Frederico Mariz Alves Martins, Major Graduado Infantaria, vítima mortal por derrube de aeronave em 6 de Abril de 1973, na Região de Sambuiá (António Carlos Morais Silva, Cor Art Ref)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20445: E as nossas palmas vão para... (21): Caretos de Podence, classificados pela UNESCO como "património imaterial da humanidade"


 Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > Pintura mural:  os caretos chocalando as "novas"...


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro >  Pintura mural


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > O careto e as "velhas"...


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > A Alice Carneiro, posando com um careto que enverga uma típica máscara de latão.



Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > Os famosos chocalhos com que os caretos chocalham as mulheres, novas e velhas.


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > O Francisco Baptista e a espoa. Também lá apareceram, atraídos pela notícia do blogue. Apresentei-o ao João Rebelo e ao Joaquim Pinto de Carvalho, também, camaradas da Guiné, que me acompanhavam nesta visita  (*)

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A notícia é do DN - Diário de Notícias / Agência Lusa, edição "on line", de ontem, às 16h51:

(...) "os Caretos de Podence foram, esta quinta-feira, declarados Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

A decisão foi anunciada na Assembleia Geral da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorre até sábado, em Bogotá, na Colômbia.

Os tradicionais mascarados do Entrudo Chocalheiro da aldeia do concelho transmontano de Macedo de Cavaleiros passam a estar integrados numa lista mundial onde Portugal já tem o Fado, o Cante Alentejano, a Dieta Mediterrânica, a Falcoaria e os chamados "Bonecos de Estremoz".

As "Festas de Inverno Carnaval de Podence" foram a única candidatura selecionada pelo Governo português para representar Portugal nesta que é a XIV reunião do Comité Internacional da UNESCO, o organismo das Nações Unidas para a Ciência, Cultura e Educação.

Os Caretos de Podence marcam a folia de Carnaval no Nordeste Transmontano com coloridos e farfalhudos fatos, máscaras de ferro ou lata, chocalhos à cintura e um pau para amparar as tropelias.

Em toda a região de Trás-os-Montes há Caretos, protagonistas das chamadas Festas de Inverno, que acontecem entre o Natal e o Carnaval. Os de Podence distinguem-se dos restantes pelo chocalho, daí o nome da festa ser "Entrudo Chocalheiro". É apontado como "o mais genuíno carnaval português", sem samba, ao ritmo da tradição.

As ruidosas manifestações dos Caretos atraem, durante quatro dias, à aldeia de Podence com cerca de 180 habitantes, milhares de curiosos portugueses e estrangeiros." (...)


2. Este ano fui conhecer Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros. E lá estavam, para animar  o "entrudo chocalheiro" (*), os famosos caretos que já conhecia de Lisboa, do Festival Internacional da Máscara Ibérica (**).

E até lá fui encontrar o meu amigo e camarada Francisco Baptista, mais a esposa, que é vizinho, natural de Brunhoso, Mogadouro, autor do livro "Brunhoso, era o tempo das segadas; na Guiné, o capim, ardia" (2019).

Ele, por certo, e eu, e tantos transmontanos e amigos de Trás-Os-Montes, juntamo-nos aqui, no blogue, para bater palmas ao sucesso desta candidatura portuguesa.  Os  Caretos de Podence vêm enriquecer a lista do nosso Património Imaterial da Humanidade onde já estão, entre  outras manifestações culturais como  o Fado, a Dieta Mediterrânica,  o Cante, a Falcoaria, os Bonecos de Estremoz, a Manufatura de Chocalhos,  a Olaria Negra de Bisalhães.

E associo-me à alegria das  gentes de Podence / Macedo de Cavaleiros (***), com este excerto de um poema meu, "A Vida é Um Entrudo Chocalheiro" (*).

(...) A máscara também está associada
à festa,  à terra, aos tambores,
à gaita de foles,  aos chocalhos,
ao pão, ao queijo de ovelha e de cabra,
aos enchidos, ao vinho...
Porque não há festa sem o pão
e o vinho, a música, a folia,
a transgressão,  a subversão dos papéis,
o entrudo, o carnaval,
o terreiro,
esse fantástico chão português
que foi e ainda é o teu chão,
de Trás-os-Montes ao Algarve,
e os caretos de Podence,  Grijó e Lazarim...
Sim, a vida é um entrudo chocalheiro,
a vida são dois dias,
e o carnaval são três.
... E eu quero lá estar!

Para saber mais sobre os Caretos de Podence, vd. aqui:



PS - Os filhos de Macedo de Cavaleiros  que morreram na guerra do ultramar / guerra colonial, foram 37, incluindo o José Luís Alves Rancão (1947-1970), natural de Podence: furriel mil paraquedista, CCP 122 / BCP 12, morreu  em combate, na Guiné, em 26/6/1970. Seguramente que também terá participado, no seu tempo, na "festa dos rapazes", e vestido o traje de "careto".
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de1 de março de  2019 > Guiné 61/74 - P19541: Agenda cultural (673): Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, 2-5 de março de 2019... Porque A Vida São Dois Dias, e o Carnaval São Três... E Portugal Não é Só Lisboa ... E Eu Vou Lá Estar!... (Luís Graça)

(**) Vd. postes de:

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15456: (In)citações (80): Quem se lembra deste fado, cantado pelos páras do BCP 12, em Cacine, em junho de 1973, na altura da batalha de Gadamael, com música dos "Amores de Estudante" ?... "Quero, quero ir para Lisboa, / Ai, ai, eu quero, / Nem que seja de canoa, /Eu quero ir / P'ra terra santa querida, / Dizer adeus a esta merda / P'ro resto da minha vida." (recolha de Abílio Magro)

1. Escreveu há tempos o Abílio Magro (ex-fur mil amanuense (CSJD/QG/CTIG, 1973/74), na sua série  "Um Amanuense em Terras de Kako Baldé" (*):


(,,,) Decorria o mês de junho de 1973. Eu ainda era muito "pira", não tinha completado ainda 3 meses de Guiné. Vinha do "ar condicionado" e encontrava-me em Cacine, no meio de grande confusão, tropas pára-quedistas, fuzileiros, Marcelino da Mata, etc.

Felizmente em Cacine não faltava nada. Não faltava cerveja morna, não faltava uma pedra de gelo, por cabeça, às refeições, não faltava o arroz de "rolhas" (arroz com muito colorau e meia dúzia de rodelas de salsicha), etc., eyc..

A CCAÇ 3520 era um companhia farta. Farta de ali estar, farta de comer arroz de "rolhas", farta de esperar pela rendição. Julgo que não cheguei a completar 4 semanas de "férias" naquela "estância balnear", mas foi o suficiente para imaginar uma estadia de 23 meses!

Tenho ideia de só ter comido arroz de "rolhas" durante aquele período. Posso estar enganado.
Comecei a dar mais valor ao "pessoal do mato". Antes 527 serviços de Sargento da Guarda!

O major Leal de Almeida lá continuava a fazer incursões por Gadamael e levava habitualmente consigo o outro Furriel. O major, além de me ter pedido, no início, para lhe dar um jeito no "estaminé", pouco mais me pediu para fazer. Apenas um ou outro "mail" para Bissau.

E eu..., andava por ali a ver as "bajudas"!... (...) Entretanto, eu ia jogando a "lerpa", bebendo umas "bejecas" mornas e convivendo com os sargentos paraquedistas (ah gente do "catano"!).

Recordo-me bem de um convívio noturno na "messe" de sargentos. Houve de tudo! Aguardente, fados, poesia, etc., tudo a roçar o "hard-core", claro! Gente espetacular, camaradagem excelente e com uma disciplina extraordinária, nomeadamente com o armamento.

Guardei na memória alguns versos de um fado cantado pelos "páras" com música do hino académico "Amores de Estudante" e que, salvo erro, rezavam assim:

Quero, quero ir para Lisboa,
Ai, ai, eu quero,
Nem que seja de canoa,
Eu quero ir
P'ra terra santa querida,
Dizer adeus a esta merda
P'ro resto da minha vida.

Pára-quedistas, homens nobres,

Tanto ricos como pobres,
Avançando pela mata (...)

(e de mais não me recordo)

  

[Guiné, algures, s/d.,foto do nosso  camarada Manuel Peredoex-fur  mil paraquedista, que é o primeiro do lado direito, armado de RPG-2, seguido do sagento Carmo Vicente e do Fernandes, caboverdiano, fur mil, todos do 4º Gr Comb da CCP 122 / BCP 12, Brá, Bissalanca, 1972/74; do Carmo Vicente, hoje srgt mor paraquedista ref , DFA, escritor, ler e ouvir aqui o seu testemunho, na primeira pessoa, à RTP1, eobre a sua participação no 25 de novembro de 1975, ]


Ficou-me também na retina a imagem do 1º Sargento pára-quedista [António Carmo] Vicente, evacuado para Cacine, vindo de Gadamael, com um tiro numa perna, a aguardar evacuação para Bissau e com quem tinha convivido alegremente naquela noite.

A minha "guerra" lá foi continuando com a "lerpa", "as bejecas" mornas, o convívio com os "páras" e a excelente qualidade das instalações, nomeadamente o "balneário" de arrojado design e equipamento de conceituadas marcas. (...)


2. Comentário do editor (**):

Alguém se lembra de ter ouvido (ou de ter lido) a letra (e a música) deste fado (parodiado), ao que parece criação de alguém do BCP 12, e mais provavelmente da CCP 122 que estava em Cacine, na altura em que o furriel amanuense Abílio Magro também lá esteve, em junho de 1967, apoiando o major Leal de Almeida,em plena guerra de Gadamael ?

Talvez o Manuel Peredo (que vive em França e é nosso grã-tabanqueiro) se lembre do resto da letra...  Ou o próprio Carmo Vicente ou o Delgadinho Rodrigues (hoje capitão pára reformado  e furriel em junho de 73). Ou outros camaradas paraquedistas do BCP 12 que honram, com a sua presença,  a nossa Tabanca Grande, depois de terem honrado a pátria, enquanto bravos combatentes, como é o caso o  Vitor Tavares (CCP 121),  o Manuel Rebocho (CCP 123) ou o António Dâmaso (CCP 122 e 123).

E outros há que, não sendo formalmente (ainda) nossos grã-tabanqueiros são por nós referidos e acarinhados: por exemplo, o Manuel Carneiro, da Tabanca de Candoz, e que pertenceu à CCP 121 (1972/74), ou o Avelar de Sousa (que foi cmdt da CCP 123, em 1970/71, não sendo portanto contemporâneo dos camaradas acima referidos, e que é hoje maj gen pára ref, frequentador da Tabanca da Linha).

Recorde-se aqui a letra e a múscia da canção coimbrã "Amores de Estudante", cujo refrão diz o seguinte:

(...) Quero, ficar sempre estudante,
P'ra eternizar
A ilusão de um instante.
E sendo assim,
O meu sonho de Amor
Será sempre rezado,
Baixinho dentro de mim. (...) 


A letra parodiada pelos páras faz parte integrante do nosso Cancioneiro, o Cancioneiro da Guiné, dizendo muito sobre o "estado de espírito" e o "moral" das NT no terrível período dos três G (Guileje, Gadamael, Guidaje), em maio/junho de 1973. Todos estavam fartos daquela  "merda" (sic), não se vendo qualquer luzinha no fim do túnel... O poder político, na altura,   usou e abusou da extraordinária capacidade de sofrimento, abnegação, coragem e patriotismo do soldado português. E não  esteve decididamente à altura da história!...
______________

Notas do editor:

(*) Vd poste de 20 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11125: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (5): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520 (2)

(**) Último poste da série > 30 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15424: (In)citações (79): Comer crocodilo que comeu homem, é canibalismo? Felupes de São Domingos dizem que 'crocobife' é bom... (Patrício Ribeiro, Bissau)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15442: Memória dos lugares (324): Galomaro e as tropas paraquedistas do BCP12 (Juvenal Amado, ex-1.º cabo condutor auto rodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)


Foto nº 1



Foto nº 2


Foto nº 3

Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74) > A presença,  regular, desde 1969, dos valorosos camaradas do BCP 12.


Fotos: © Juvenal Amado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legenda:  LG]


1. Fotos do álbum do Juvenal Amado (ex-1.º cabo condutor auto rodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)


Há, na Net,  um álbum de memórias do BCP 12. No nosso blogue, temos cerca de um centena de referências sobre o BCP 12 e alguns camaradas das respetivas companhias (CCP 121, 122 e 123) honram-nos com a sua presença na Tabanca Grande.

Na Net havia um página do BCP 12, com o historial da sua atividade operacional no TO da Guiné, que infelizmente desapareceu. Mas em tempos publicamos um extenso excerto, que está aqui disponível no poste P6953 (*).

Galomaro  também está bem representado no nosso blogue com cerca de 230 referências.   Faltam-nos no entanto infomação detalhada sobre a presença do BCP 12 em reforço do setor de Galomaro. (**)

No meu tempo (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71),
foi criado o COP 7,a  partir de Agosto de 1969, com sede em Bafatá. E os páras vieram reforçar este importante  setor que representava o flanco sul da zona leste (chão fula) e que passou a ficar mais vulnerável às infiltrações e ações ofensivas do PAIGC a partir da retirada, primeiro de Beli e depois de Madina do Boé e Cheche (em 6/2/1969).

Lembro-me que o mês de gosto de 1969 foi um mês de intensa atividade operacional, culminando com uma operação conjunta de forças do setor L1 (Bambadinca) (CCAÇ12, Pel Caç Nat 53 e CART 2339) e do COP 7 (estas representadas pela CCP 122 e por dois grupos de combate da CCP 123) (Op Nada Consta) (***).

As fotos do Juvenal Amado devem ser de 1972/73. E não trazem legendas.  No blogue temos oito referências ao COP 7. (LG)

PS - No final da guerra, Bafatá era sede do CAOP 2, formado pelos seguintes setores: L1 (Bambadinca), L2 (Bafatá), L3 (Nova Lamego), L4 (Piche), L5 (Gondomar) e L6 (Pirada)... mais 3 zonas de intervenção do Com-Chefe... Eram muitos milhares de homens em armas (mais de 7 mil, contando por alto), seguramente superior ao total de efetivos disponíveis do PAIGC, em todas as frentes e bases fronteiriças. O antecessor do COP 7 era o Comando de Agrupamento 2957 (1968/70), que teve à sua frente o cor inf Hélio Felgas, já falecido (maj gen ref) (LG).

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de setembro de 2010 >  Guiné 63/74 - P6953: Estórias avulsas (41): A captura do incaracterístico guerrilheiro Malan Mané, no decurso da Op Nada Consta (Salvador Nogueira)

(...)  BCP 12: actividade operacional no TO da Guiné:

(...) A actividade operacional do BCP 12 ao longo da sua permanência na Guiné foi intensa, conduzindo a resultados reveladores da sua aptidão para combate.

Nos primeiros anos os Pára-quedistas foram empregues fundamentalmente em operações independentes no âmbito da Força Aérea, a qual tinha meios próprios de reconhecimento, ataque ao solo e transporte das suas forças Pára-quedistas.

Os grupos de combate eram normalmente empregues em operações que exigiam grande mobilidade e rapidez de actuação. Quando um grupo de guerrilheiros era detectado ou actuava contra aquartelamentos das unidades do Exército, as forças Pára-quedistas eram colocadas no terreno, através de helicópteros, ou noutros casos, dada a geografia própria da Guiné, através de lanchas da Armada. As forças Pára-quedistas eram usadas por períodos de tempo limitado mas de grande empenhamento.

Para além de operações independentes no âmbito da FAP, os Páras participaram também em operações conjuntas com forças do Exército ou da Armada. Destas destaca-se a operação PARAFUZO, efectuada na ilha de Caiar em Março de 1967, com forças dos Destacamentos de Fuzileiros Especiais nº 4 e 7. Da acção resultou a captura de 20 elementos inimigos.

A partir de meados de 1968 e com o General António Spínola como novo Comandante-Chefe na Guiné, o modo de emprego dos Pára-quedistas foi alterado.

As Companhias [, 121, 122 e 123, ] do BCP passaram a integrar os então criados Comandos Operacionais (COP) com outras forças militares, sob o comando de um oficial superior. Muitas vezes oficiais Pára-quedistas desempenharam essas funções. As forças eram então empenhadas, durante largos períodos, conjuntamente com as Unidades de quadrícula do Exército. As companhias do BCP 12 foram assim muitas vezes atribuídas de reforço às unidades instaladas junto às fronteiras com o Senegal e a Guiné-Conakry.

Foram inúmeras as operações desencadeadas neste período: a operação JUPITER, com 4 períodos no corredor de Guileje, no âmbito do COP 2, a operação TITÃO com o COP 6, a operação AQUILES I, com o CAOP 1, a operação TALIÃO, com o COP 7, entre tantas outras, com bons resultados.

Merece particular destaque a operação JOVE, realizada em Novembro de 1969 com forças das CCP 121 e 122. No dia 18 de Novembro a CCP 122 capturou o Capitão Pedro Rodriguez Peralta, do Exército Cubano, comprovando a ingerência de forças militares estrangeiras na guerra na Guiné.
Apesar das CCP continuarem a ser atribuídas aos COP que se iam activando consoante as necessidades, o Comando do BCP esforçou-se por continuar a levar a cabo algumas operações independentes, actuando como força de intervenção em exploração de informações obtidas e seria neste tipo de operações que se obtiveram alguns dos melhores resultados do Batalhão.

Apesar dos esforços a situação na Guiné continua a degradar-se. A pressão que os guerrilheiros vinham exercendo sobre os aquartelamentos no Sul do território começou a dar resultados. Em Maio de 1973 os guerrilheiros desencadeiam fortes ataques a Guileje,  obrigando mesmo ao abandono do aquartelamento dos militares do Exército. Nas proximidades, Gadamael Porto fica em posição delicada com flagelações frequentes de armas pesadas. 


A 2 de Junho as CCP 122 e CCP 123 são enviadas para Gadamael, seguindo-se no dia 13 a CCP 121. O próprio comandante do BCP 12, Tenente-Coronel Araújo e Sá tinha assumido o comando das forças que com a guarnição do Exército constituiram o COP 5. A posição de Gadamael Porto é organizada defensivamente com abrigos, trincheiras e espaldões, simultaneamente são desencadeadas acções ofensivas sobre os guerrilheiros. A resistência e a determinação das Tropas Pára-quedistas acabaram por surtir efeito e o ímpeto inimigo foi quebrado - Gadamael Porto não caiu. 

A 7 de Julho as CCP 121 e 122 regressam a Bissau e a 17 é a vez da CCP 123, a operação DINOSSAURO PRETO tinha terminado. (...).

(**) Último poste da série > 25 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15411: Memória dos lugares (323): Biambe em 1969, fotos de José Maria Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCAÇ 2464

(***) Vd. poste de 7 de setembro de 2010 >  Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)

sexta-feira, 6 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14325: Efemérides (183): 5 de março de 1973, Guileje: a morte de um mártir/herói da guerra, o alf mil Vitor Lourenço, da CCAV 8350 (J. Casimiro Carvalho)


Foto nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3 

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1972 (?) > CCAV 8350 (1972/74) > Festa de anos do J. Casimiro Carvalho (?) (ao fundo)  > Fotos do grupo onde estava o malogrado alf mil Victor Lourenço (morto em 5 de março de 1973). São as únicas fotos que temos deste malogrado camarada (de perfil, assinalado com uma seta) e foram-nos enviadas ontem  pelo J. Casimiro Carvalho.

Fotos: © J. Casimiro Carvalho (2015). Todos os direitos reservados


1. Comentário, de ontem, do José Casimiro Carvalho [ ex-fur mil op esp, da CCAV 8350, “Piratas de Guileje”, (1972/74)], ao poste P14324 (*)

Sou (fui) um dos intervenientes desse triste e doloroso episódio na História da CCAV 8350.

Decidiram reabrir a estrada para o Mejo. Tinham que "capinar", por esse motivo havia que manter a segurança aos trabalhos (eu estava com o meu Grupo emboscado, ali, bem na ZA). De repente ouvi/senti, uma violenta explosão. Fui-me inteirar do sucedido. Deparei com o corpo do malogrado Alferes Lourenço estendido, sem metade da cara, e com as "tripas" expostas (já estou a chorar)...

Que aconteceu ????... obviamente, conjecturas, muitas, só ele poderia explicar o que se passou, o resto são isso mesmo, conjecturas.

No entanto depois de me inteirar "in loco" do sucedido, fiquei com dois ou três "filmes"...

Ao desarmadilhar/desactivar uma granada/armadilha, em que é necessário reintroduzir os dois pernos/cavilha, ao mesmo tempo que se segura a alavanca da granada, pode ter havido uma falha na pressão da mão e ter activado o percutor do fulminante.

«In dúbio», ele deve ter-se apercebido que "algo não estava bem", tinha duas opções, atirar a granada para longe dele, e ferir dezenas de militares e civis, ou naquele nano-segundo optar por segurar... sempre com a 2.ª hipótese, que era, não havia problema "estava tudo bem".

Morreu com esse glorioso alferes... a resposta. Eu penso que ele, ao afastar a granada da cara, estendendo o braço, sem largar a mesma, poderia ter ficado na dúvida do eminente perigo, ou não.

Para mim ele foi/é um Mártir/Herói da guerra. Provavelmente tentou minimizar "os danos colaterais", não pensando em si, e é essa imagem que guardo.

O que se seguiu é digno da "bolinha vermelha", já no Quartel, fui um dos voluntários para pegar no cadáver e transportá-lo/depositá-lo... na Capela. Éramos dois, eu peguei nos braços, outro camarada nas pernas, ao levantar o corpo, o mesmo dividiu-se em dois... Que dor, eu fiquei com a cabeça, os braços e o dorso, o outro camarada, com as pernas e a bacia.

Encostei-me na Capela a chorar e com convulsões, que ainda hoje, transporto comigo.

O meu respeito e a minha memória estão com o "Alferes Lourenço".

Quanto a ser o Último Alferes a morrer, não é verdade. O último foi o Alferes Branco, que o veio substituir, morreu numa patrulha que fez comigo (a primeira que fez), em Gadamael... (**)

Tenho tudo isso gravado na minha cabeça. Nunca me esquecerei dos meus Heróis.

José Carvalho
ex fur mil Op Esp
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14324: Efemérides (182): 5 de março de 1973, Guileje: a morte de um herói, o alf mil Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, da CCAV 8350, natural de Torre de Moncorvo (Hélder Sousa / Manuel Reis)

(**) Alf mil art Artur José de Sousa Branco. da CCAV 8350, morto em combate, em Gadamael, em 4/6/73. Era natural de Lisboa, e está sepultado no cemitério do Alto de São João.

Recorde-se que na tarde de 4 de junho de 1973, em Gadamael, o alf mil Branco sai com um reduzido grupo de combate (12 homens) para fazer um reconhecimento nas imediações do aquartelamento, na antiga pista, a cerca de 1 km do arame farpado. O grupo cai de imediato numa emboscada e só não foi totalmente aniquilado graças à pronta intervenção das tropas paraquedistas (CCP 122/BCP 12, acabada de chegar a Gadamael, na manhã de 3 de junho, sob o comando do cap paraquedista Terras Marques).

Um pelotão, sob o comando do alf paraquedista Francisco Santos, da CCP 122, vai em socorro do grupo do alf mil Branco e ainda consegue resgatar os corpos e os sobreviventes. "Os cadáveres tinham sido selvaticamente baleados, ainda estavam quentes  e os fatos empapados de sangue" (José Moura Calheiros - A última missão, 1.ª ed. Caminhos Romanos: Lisboa, 2010, pp. 527/528).

Além do alf mil Artur José de Sousa Branco, morreram nesta ação os seguintes camaradas, todos eles sold cav da CCAV 8350 (entre parênteses, o concelho da sua naturalidade):

António Mendonça Carvalho Serafim (Cartaxo);
Fernando Alberto Reis Anselmo (Macedo de Cavaleiros);
Joaquim Travessa Martins Faustino (Santarém);
José Inácio Neves (Alcobaça).
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sábado, 17 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14157: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (96): Não sei se era o senhor Comandante Pombo que estava aos comandos, sei que fiquei muito sensibilizado com esta boleia (António Dâmaso)

1. Mensagem do nosso camarada António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista Reformado, com data de 15 de Janeiro de 2015:


HOMENAGEM AO COMANDANTE POMBO

Li que havia três Antónios que voaram em Cessna.
Eu também sou António e voei em Cessna. Estava na 2.ª Comissão, pertencia à CCP 122, estava destacado em Teixeira Pinto, um dia à boa maneira da Tropa, sem me darem qualquer explicação, mandaram-me embarcar numa DO 27 com destino a Bissalanca, aí integrara-me por empréstimo numa Companhia menos de Páras que tinha sido mobilizada para Angola e foi parar à Guiné como reforço à zona Leste.

Esta companhia foi reforçada com sargentos e praças das CCP 121 e CCP 122 e passou a ser denominada CCP 123, no dia 11 de Julho embarcou em lancha com destino a Bafatá, com camas e colchões da FAP.

Em Bafatá, ficou alojada no Esquadrão FOX junto do aeroporto, no dia 12 fez um heli-assalto.
Era na 2.ª quinzena de Julho de 1969, não posso precisar o dia, se foi a 19 ou 30, depois de uma operação na zona, estava em Galomaro para tomar o transporte de regresso para Bafatá, ouvi uma conversa de um casal de comerciantes locais, que ia embarcar em Bafatá com destino a Bissau em viagem de negócios. Como tinha a família em Bissau, perguntei se me davam uma boleia, foi-me dito que tinham prazer na minha companhia, pedi ao Comandante de Companhia e este disse-me que me dava dois dias.
Saltei para a caixa de carga da Pick-up do casal, com destino a Bafatá onde nos esperava uma avioneta Cessna, embarcámos com destino a Bissalanca, aterramos já depois do por do sol com as luzes da pista acesas.

Não sei se era o senhor Comandante Pombo que estava aos comandos, sei que fiquei muito sensibilizado com esta boleia. O meu regresso a Bafatá, foi feito em Dakota onde o meu saudoso camarada MMA, Luís Maria Vitorino era tripulante, este faleceu nos Açores quando o Aviocar colidiu com a serra de Santa Bárbara, na Ilha Terceira em 05 de Julho de 1978.

Bafatá - Depois do meu regresso. Ao centro está o Vitorino a quem presto homenagem póstuma
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14152: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (95): Mais uma pequena história... Em honra do Cessna dos TAGP e do Comandante Pombo (Mário Migueis da Silva)

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13301: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (37): O ano em que tivemos mais camaradas da diáspora lusitana: EUA, França, Holanda e Luxemburgo


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande - Palace Hotel Monte Real - 14 de junho de 2014 - . O Júlio Costa Abreu e o seu filho Richard. Vivem em Amesterdão, Holanda. O Júlio é natural de Alenquer. Emigrou há mais de 40 anos. Está reformado da KLM. 


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real - 14 de junho de 2014 - O Mateus Oliveira e a Florinda (Boston / EUA)... O casal é natural da Lourinhã, ele do Casal Novo e ela do Toxofal. O Mateus foi paraquedista, durante 3 anos (CCP 122/BCP 12, BA 12, Bissalamca, 1972/74).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande - Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 - Mais dois companheiros da diáspora. À esquerda Manuel da Conceição Neves, emigrado em França, que se fez acompanhar de sua esposa Maria da Estrela, e à direita José Nunes Francisco, emigrado no Luxemburgo, que se fez acompanhar de sua esposa Deolinda, filha, genro e netos.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande - Palace Hotel Monte Real - 14 de junho de 2014 - Graça Nunes e Paulo Monteiro, filha e o genro do camarada José Nunes Francisco (Luxemburgo). Segundo percebi, o Francisco é natural de Vieira de Leiria, mas a filha vive na Batalha.

Fotos: © Luís Graça (2014) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande - Palace Hotel Monte Real - 14 de junho de 2014 - O Carlos Vinhal, da comissão organizadora, recebe os nossos novos amigos José Nunes Francisco e esposa (Luxemburgo), mais a filha, o genro e netos.

Foi o ano que tivemos mais camaradas oriundos da diáspora lusitana (EUA, Holanda, França e Luxemburgo).  (LG)

Foto: © Manuel Resende (2014) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Nota do editor.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11259: (Ex)citações (214): Ainda a Operação "Aquiles Primeiro" (Manuel Carvalho)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70), com data de 24 de Janeiro de 2013:

Caros Luís e Vinhal
Ainda relativamente à operação Aquiles Primeiro, como tenho algumas fotos dessa operação, vou enviar e dizer mais alguma coisa sobre o assunto.

Como já disse em comentário, no início de Fev/69 veio para Teixeira Pinto o CAOP sobre o Comando do Coronel Pára Alcino Ribeiro e os Majores Passos Ramos e Magalhães Osório e as seguintes forças:
- CCP 121 e 122,
- DFE 3 e 12
- 16ª CCmds

passando a depender operacionalmente do CAOP:
- CCaç 2366 
- CCaç 2444 
- CCaç 2446 
- Pel Caç Nat 58 e 59 
- Pel Mil 128 e 130

Todas estas forças começaram a actuar conjugadamente em todo o sector durante quase todo o mês de Fevereiro.

O IN do Churo e da Caboiana, de facto, no primeiro dia da operação teve algum sucesso, mas a partir daí sentiu-se acossado e passou a andar dividido em pequenos grupos e sempre em movimento.
Pela nossa parte, 2366, fizemos várias operações sem grandes resultados e felizmente também sem baixas a não ser no dia 21 de fevereiro em que encontramos um acampamento que destruimos tendo apanhado quatro armas entre elas um RPG2 e abatido os seus portadores.

O regresso ao quartel foi complicado porque fomos deparando com pequenos grupos que nos iam emboscando e nos obrigavam sempre a gastar munições, muitos de nós chegaram a Jolmete com meia dúzia de balas no carregador.

Podem ver nas fotografias da chegada que os nossos camaradas que ficaram no quartel estão na porta de armas à nossa espera, ora isto não era normal, mas como eles no quartel ouviam o tiroteio e os rebentamentos muito seguidos, e nós como vínhamos acelerados, não comunicávamos com o quartel e eles não sabiam o que fazer nem o que nos estava a acontecer.

Até já próximo do quartel comunicamos e daí esta recepção. Para os homens do Jol: Manel Resende, Augusto Silva e Firmino, de quem me estou a lembrar e sei que ao verem estas fotos vão ver gente que eles bem conheceram, os valentes milícias de Jolmete que e como quase sempre também na chegada vêem na frente.

As minhas homenagens a todos os camaradas que perderam a vida naquela maldita guerra.
Que descansem em paz.

Caros Luís e Vinhal estão à vontade para fazerem com este material o que muito bem entenderem.

Um forte abraço.
Manuel Carvalho

Chegada com a Milícia na frente

Nas duas fotos, a partir da esquerda: Manuel Carvalho; Dandi, Comandante da Milícia e o Martins

A partir da esquerda: Martins, Pereira, uma bajudinha e Manuel Carvalho já com uma garrafinha vazia na mão

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 21 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11129: (Ex)citações (213): Cameconde, hoje seria um lugar de absurdo, de pesadelo e de loucura... (Alexandre Margarido, ex-cap mil, CCAÇ 3520, Cacine e Cameconde, 1972/74)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11079: Álbum fotográfico do Delgadinho Rodrigues (cap pára ref, CCP123/BCP 12, Bissalanca, 1972/74): Gadamael, junho de 1973 (Manuel Peredo, ex-fur mil, CCP 122, 1972/74, hoje a viver em França)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 1



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 1-A


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 1-B


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 2


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 2-A


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 3


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Foto nº 3-A

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > Fotos do álbum do  Rodrigues Delgadinho, na altura fur mil pára, da CCP 123/BCP 12, força de elite que conseguiu travar a ofensiva do PAIGC contra aquele aquartelamento de fronteira. Gadamael faz parte dos três famosos G - Guidaje, Guileje, Gadamael...

Fotos: ©  Delgadinho Rodrigues / Manuel Peredo (2013). Todos os direitos reservados [Editadas por L.G.]


1. Mensagem, com data de 4 do corrente, enviada pelo nosso camarada Manuel Peredo (ex-Fur Mil Paraquedista (CCP 122 / BCP 12, Brá, Bissalanca, 1972/74) [, foto à esquerda: é o primeiro lado direito, armado de RPG-2, seguido do sagento Carmo Vicente e do Fernandes, caboverdiano, fur mil, todos do 4º Gr Comb da CCP 122]

Caro Luis Graça, aqui vão três fotos de Gadamael que me foram oferecidas pelo Delgadinho Rodrigues, capitão pára na reforma e furriel em Junho de 73. Sei que há elementos do blogue que já não suportam ouvir falar em Gadamael, mas esses certamente não estavam lá naqueles dias difíceis. (*)

Um abraço, Manuel Peredo [, foto atual à direita]

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Manel, sê bem aparecido. Julgo que ainda estás por França, não ? E,  se sim, tencionas voltar ? Espero bem que sim, afinal esta é a Pátria pela qual já verteste sangue, suor e lágrimas.

Obrigado, antes de mais pelas fotos, de Gadamael.  A preto e branco, e em dia de céu carregado, e com vestígios,  bem evidentes, dos ataques do PAIGC(que começaram em finais de maio de 1973), elas conseguem transmitir-nos  o dramatismo desses dias que lá vivestes, com os teus valorosos camaradas da CCP 122 e da CCP 123, até ao dia 10 de junho, em que foste ferido.

Agradece, por todos nós, ao Joaquim Manuel Delgadinho Rodrigues, o ter-te facultado estas fotos e, através de ti, tê-las feito chegar ao nosso blogue (que está aberto a todos os camaradas da Guiné, como sabes). Diz-lhe (, no caso de ele não ler esta mensagem, ) que a sua presença, na nossa Tabanca Grande, nos honraria muito, a todos, e seria também uma forma de homenagear os mortos e os feridos da batalha de Gadamael. Ele só precisa de nos mandar as duas fotos da praxe, e escrever meia dúzia de linhas sobre as férias que ele passou nesse paraíso tropical chamado Guiné... Podes (e queres) ser o padrinho dele ?

 Quanto a Gadamael, nunca será demais falar... E continuaremos a falar, de Gadamael,  "ad nauseam"... Temos já cerca de 200 referências a esse lugar, que ficará na história desta guerra e deste país pelo patriotismo, coragem, abnegação e camaradagem de homens como tu, o Carmo Vicente (CCP 122),  o Manuel Rebocho (CCP 123), o Victor Tavares (CCP 121), o J. Casimiro Carvalho (CCAV 8350) e tantos outros. Desejo-te boa saúde e longa vida. Vai aparecendo.

Parafraseando o Virgínio Briote, no seu poste sobre o livro do Carmo Vicente ("Gadamael"), "foi a Guerra que vivemos (é sempre assim em todas, em poucos minutos, horas ou dias, somos capazes do melhor e do pior")... Em 26 de junho de 1975, o nosso grã-tabanqueiro J. Casimiro  Carvalho podia escrever â mãe, com os dizeres , em caixa alta, "Now we have peace" [, Finalmente temos paz].




Foto: © José Casimiro Carvalho (2007) / BlogueLuís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

Excerto de uma das cartas enviadas de Gadamael. Na resenha biográfica do J. Casimiro Carvalho, não há grande precisão nas datas,   no que diz respeito ao período em que esteve em Gadamael. O BCP nº 12, a duas companhias (CCP 122 e CCP 123) é enviado para Gadamael a 2 de Junho, seguindo-se a 13 a CCP 121, do Victor Tavares. Regressa a Bissau a 7 de Julho (as CCP 122 e 123) e a 17 de Julho (a CCP 121). Os páras conseguirão travar a ofensiva do PAIGC a partir do momento em que se instalam em Gadamael. 

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(...) Já agora vou descrever um pouco por alto aquilo que ainda está gravado na minha memória. Quando nos disseram em Bissau que íamos para Gadamael, informaram-nos que a situação era muito grave e que não valia a pena irmos carregados, só o necessário para três ou quatro dias. Quando nos aproximávamos de Gadamael, recordo-me muito bem de ver muita tropa à beira do rio, com uma expressão de terror na cara.

Alguns dizem que desembarcámos em botes, mas eu quase afirmava que foi de LDM e era capaz de jurar que só a minha companhia, a [CCP] 122, é que desembarcou nesse dia e não me lembro de estarem lá duas companhias de páras ao mesmo tempo. Penso que a 123 nos foi render para a 122 poder descansar uns dias em Cacine.

Mal chegámos a Gadamael, dois pelotões foram logo para a mata, onde passaram a noite. Em Gadamael apenas se encontravam lá uns quinze ou vinte homens, o resto tinha fugido. Recordo-me que veio logo uma Berliet conduzida por um açoriano muito destemido para evacuar os mortos e feridos. Soube pelo blogue que o José Casimiro Carvalho também fazia parte dos que não fugiram. 

O meu pelotão, o quarto, fazia parte do bigrupo que passou a primeira noite no mato e, quando estávamos a regressar ao quartel, este foi fortemente bombardeado, originando a morte de alguns soldados do exército que tentaram fazer fogo com o obus 140, salvo erro. Estivemos à espera que os rebentamentos acabassem para poder entrar no quartel.

Um dia ou dois mais tarde morreram mais três soldados e um alferes miliciano, vítimas duma emboscada, muito próximo do quartel. Alguém devia ter um grande peso na consciência por ter mandado para o mato um grupo de apenas duas dezenas de militares, se tanto. Este ataque já foi contado pelo José Casimiro e pelo [Carmo] Vicente.

Aqui o Vicente deve estar enganado. Quem foi primeiro recuperar os corpos foi outro pelotão, o nosso pelotão foi enviado em reforço porque tínhamos acabado de chegar do mato. Encontrámo-nos a meio caminho e demos uma ajuda a transportar os corpos que estavam muito mal tratados : tinham o corpo queimado e ferimentos causados pelas balas. O alferes tinha um grande buraco na cara derivado a uma rajada e um soldado nem calças trazia vendo-se bem o efeito das chamas.

Quando chegámos ao quartel, os colegas dos militares mortos estavam no cais à espera e houve um pormenor que me deixou surpreendido e até chocado. Nenhum deles teve a coragem de nos ajudar a carregar os mortos para a Berliet. Os corpos eram postos no chão e o pessoal ia para as valas. Eu próprio os carreguei com a ajuda de colegas. 

Quando estávamos com este trabalho, o IN lançou novo ataque e eu só tive tempo de saltar do paredão do cais para me proteger. Foi a minha salvação pois uma granada caiu no local que tinha deixado. Escapei à uma morte certa por décimos de segundo.

Outro pormenor que me surpreendeu : quando íamos resgatar os corpos, um dos soldados que tinha fugido da emboscada dirigiu-se a mim, suplicando-me por,  tudo quanto me era sagrado, que tentasse recuperar uma medalha ou um fio que a mãe lhe tinha dado. Essa medalha ou fio devia estar no casaco que ele largou durante a fuga. Os ataques iam-se sucedendo e talvez mais espaçados e a tropa que tinha fugido ia regressando ao quartel talvez por se sentirem mais seguros com a nossa presença.

No dia dez de Junho (ninguém no mundo me convencerá que não foi neste dia ) sofremos então uma emboscada que deixou a 122 muito debilitada. Pela manhã fomos montar uma emboscada um pouco distante do quartel. Nada se passou de anormal a não ser uma tentativa do IN em abater um Fiat que voava bem lá no alto:  distinguia-se perfeitamente o fumo do míssil que tinha rebentado.

A meio da tarde, iniciámos o regresso ao quartel. Estava previsto o meu pelotão e mais um pernoitarem na mata, já muito próximo do quartel e estávamos já nesses preparativos, quando se deu a emboscada. Os dois pelotões que lá deviam pernoitar encontravam-se já na mata e os outros dois seguiam pelo caminho que dava acesso ao quartel. Os dois bigrupos encontravam-se em posição paralela,  o que podia ter custado muito caro. 

Claro que foi um erro de quem dirigiu a manobra. Os dois pelotões que iam para o quartel é que deviam ir na frente. Eu por acaso apercebi-me do erro e disse aos meus homens para não dar fogo. Aquilo nunca mais acabava. Quando os caças Fiat vieram em nosso auxílio ainda o combate não tinha acabado. Não havia árvores de grande porte para nos protegermos. O meu colega do lado esquerdo tentava proteger-se atrás dum arbusto que foi ceifado por uma granada logo por cima da cabeça. O que estava do meu lado direito foi levantado pelo sopro duma granada.  possivelmemte dum RPG 7. 

Acreditem que foi verdade,  pois vi com os meus próprios olhos. Há minutos na vida que duram uma eternidade. Resultado da brincadeira :17 feridos, todos causados por estilhaços,  fazendo eu parte desse grupo com um ferimento na cabeça.

Por absurdo que pareça eu fiquei bem disposto e até brinquei com os meus colegas. Quando estes me viram a sangrar da cabeça disseram-me : "Ó meu furriel já pode estar descansado, já acabou a comissão". Mal eles imaginavam que passados oito ou dez dias estava de novo junto deles. Claro que o ferimento não era grave e, derivado ao medo que os médicos tinham do comandante, eu próprio pedi para voltar à minha companhia. 

Quando voltei, já a 122 estava a descansar em Cacine e mal cheguei lá fui presenteado com um ataque de paludismo. Veio logo o capitão Terras Marques dizer-me que tinha que recuperar depressa pois precisava de mim para irmos fazer uma operação à fronteira da República da Guiné.

Voltando um pouco atrás. Fomos então evacuados para Cacine em dois botes que iam superlotados e de Cacine seguimos de helicóptero para Bissau. Quando eu estava no hospital a aguardar transporte para Bissalanca, chegou o homem do monóculo [, o gen Spínola,]  para ver como estavam os feridos. O médico que o acompanhava apontou para mim e disse-lhe que eu era um dos feridos. Dirigiu-se a mim e perguntou-me como se tinha passado. Quando lhe disse que foi no regresso, logo me perguntou se vínhamos pelo mesmo caminho. Pensei logo que estava ali uma armadilha e lá lhe enfiei o barrete. (...)