Lisboa > Sede nacional da Associação 25 de Abril (A25A) > 10 de Novembro de 2010 > Apresentação do romance Estranha Noiva de Guerra (1ª ed, 1995), agora em 2ª edição, na Âncora Editora (2010, 151 pp.). Neste vídeo, Beja Santos lê excertos do romance (pp. 93/94), obra que ele considera uma obra-prima da literatura da guerra colonial e que, inexplicavelmente, terá passado despercebida da crítica em 1995. Num gesto nobre de Armor Pires Mota, os direitos de autor desta edição revertem a favor dos Centros de Apoio à Inclusão Social, da Liga dos Combatentes. O preço de capa é 16 €.
'Estranha Noiva de Guerra' é a história de Bravo Elias, "um furriel que combate na Região do Morés. Com ele segue Júlio Perdiz, um morto em combate que não será abandonado em campo de batalha (...). É nisto que surge nesta terra de ninguém uma rapariga dizendo: 'Mim ajuda branco, mim vai ajuda branco'. Chama-se Mariama e promete levá-los até Mansabá (...). Aqueles dois seres humanos levam a padiola do Perdiz, seguem esgotdaos, correndo todos os riscos, atravessando bolanhas fétidas, sujeitos a todas as inclemências da natureza (...). A paixão entre Mariama e Elias desperta. Passa-se pela região de Lala Samba, os jagudis voltam a atacar o finado, arrancam-lhe os olhos, metade de uma orelha, o nariz. Aos tombos chegam a Cumbijã Sare, lavam o que resta do Perdiz. (...). A trama ganha novos contornos com a chegada de dois guerrilheiros (...) Segue-se um ataque a Mansabá, uma descrição como nunca encontrei na literatura da guerra colonial: o vigor da encenação, os sons, as imagens de sofrimento, as águas fores das correrias e dos rodopios. Duarnte o ataque os dois jovens guerrilherios do Morés matam Mariama. O apocalipse prossegue (...). (Do prefácio de Beja Santos, pp. 11/12).
Vídeo (3' 12''): © Luís Graça (2010).Alojado em You Tube > Nhabijoes
O Rotary Clube de Oliveira do Bairro prestou o ano passado, em 9 de Maio, uma justa homenagem ao escritor e jornalista Armor Pires Mota, que completou 50 anos de actividade literária. Do jornal Soberania do Povo, de 6 de Maio de 2009 (completado por outras fontes na Net), seleccionamos algumas notas biobliográficas deste nosso camarada:
(i) Armor Pires Mota nasceu a 4 de Setembro de 1939, em Águas Boas, Freguesia de Oiã, concelho de Oliveira do Bairro;
(ii) Estudou teologia, no Seminário de Aveiro, curso que abandonou em 1961;
(iii) Em 1960 editou o seu primeiro livro, Cidade Perdida;
(iv) Ainda no seminário, dirigiu a Revista Semente; publica igualmente poesias em jornais da região (Jornal da Bairrada, Correio do Vouga e Soberania do Povo);
(v) Foi alferes miliciano, na Guiné (CCAV 488, 1965/67), com actividdae operacional na Ilha do Como e na Região do Oio;
(vi) Durante a asua comissão foi publicando um diário de guerra no Jornal da Bairrada;
(vii) Essas crónicas foram depois, em 1965, editadas em livro, O Tarrafo;
(viii) Pouco tempo, a ex-PIDE proibiu o livro que tinha cruas descrições de guerra (napalm, bombardeamentos, combates, mutilações...);
(ix) Foi editor de Soberania do Povo em 1970 (num período de rejuvenescimento editorial, na época marcelista), saindo em 1973 e regressando em 1988;
(x) Publicou uma série de crónicas sobre as arbitrariedades dos Serviços Florestais, que deu origem ao livro O Préstimo a Caminho de Lisboa (1971);
(xi) Em 1974, tornou-se pequeno empresário, com a criação de um empresa na Palhaça (Alferpa); em 1980, com o mesmo sócio e o encarregado geral, fundou a Trougal;
(xii) Continuou sempre a escrever... Dos seus livros do Ciclo de Guerra, cite-se: Baga-Baga (poesia, Prémio Camilo Pessanha, em 1968), Guiné Sol e Sangue (1968, contos e narrativas), Tarrafo (crónicas vivas da guerra) (2ª ed., 1970), O tempo em que se mata, o mesmo em que se morre (1974, poesia), Cabo Donato Pastor de Raparigas (1991, contos), Estranha Noiva de Guerra (1ª ed., 1995; 2ª ed., 2010) e A Cubana que dançava flamenco (2008) (estes dois últimos romances);
(xiii) Foi chefe de redacção da revista Itinerário (Coimbra) e colaborou na Observador e na Panorama. Tem ainda colaboração no Jornal de Notícias, O Primeiro de Janeiro e outros.
(xiv) Dedicou-se à também investigação histórica e à escrita de monografias (a que ele chama o Ciclo da Terra); escreveu livros de poesia e de vivências bairradinas; tem vários inéditos para publicar e figura em quatro antologias: Contos Portugueses do Ultramar, Corpo da Pátria , Vestiram-se os poetas de soldados e Escritas e Escritores da Bairrada;
(xv) Está também no Dicionário dos Escritores e Poetas Luso-Galaicos e no VI Volume do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, organizado pelo IPLB; o número de livros publicados, repartidos enter o Ciclod a Guerra e o Ciclo da Terra, ultrapassam já as 3 dezenas;
(xv) É sócio da Associação Portuguesa de Escritores e sócio-fundador da Associação de Jornalistas e Escritores da Bairrada (AJEB). A Câmara Municipal de Oliveira do Bairro atribuiu-lhe, em 2001, a Medalha de Mérito Cultural.
(xvi) É um homem simples e solidário, que ama e ajuda a sua terra e os seus conterrâneos: Foi fundador do Grupo Desportivo e da Associação de Melhoramentos de Águas Boas, exerceu cargos na Comissão de Melhoramentos e Centro Social de Oiã, fez parte da Comissão Fabriqueira de Oiã e da Comissão de Obras da Capela de Águas Boas.
O Beja Santos (à esquerda) prefaciou e apresentou a obra...
Aspecto da mesa, presidida pelo dono da casa, Ten Cor Ref Vasco Lourenço...
Lisboa > Rua da Misericórdia nº 95 > Sede nacional da Associação 25 de Abril (A25A) > 10 de Novembro de 2010 >18h30: Apresentação do romance de Armor Pires Mota, Estranha Noiva de Guerra, 2ª ed. (Âncora Editora, 2010, 151 pp.; Col Guerra Colonial. Preço de capa: c. 15 €. A primeira edição é de 1995, Editorial Notícias)
Na mesa, presidida por Vasco Lourenço, pode ver-se da esquerda para a direita: (i) Beja Santos (apresentador da obra, escritor, membro da nossa Tabanca Grande, em véspera de partir para a Guiné, em "romagem de saudade"); (ii) Armor Pires Mota, o autor, ex-Alf Mil da CCAV 488, Mansabá, ilha do Como, Bissorã e Jumbembem, 1963/65 (*); (iii) Vasco Lourenço, presidente da A25A; (iv) Baptista Lopes, o editor (Âncora); e (v) Serafim Lobato, antigo fuzileiro, jornalista e agora responsável pela Colecção Guerra Colonial, da Âncora Editora .
Assistiram à sessão mais de 4 dezenas de pessoas, quase todos eles antigos combatentes, mas também amigos e familiares do Amor Pires Mota, "gente da Bairrada" que vive em Lisboa... Reconheci, entre outros, o Manuel Barão Cunha, coronel na reforma, DFA, escritor, autor de Tempo Africano (4ª ed., 2010); José Talhadas, antigo fuzileiro, autor de Memórias de um Guerreiro Colonial; os membros do nosso blogue Humberto Reis, José Martins, Belarmino Sardinha, Belmiro Tavares e Carlos Silva (além de eu próprio e o Beja Santos)...
Tive o prazer de conhecer pessoalmente o autor de Tarrafo, Armor Pires Mota, a quem voltei a endereçar o meu convite para integrar a Tabanca Grande, bem como o Serafim Lobato, com quem já em tempos havia trocado e-mails, e de quem já publicámos um ou dois postes.
(Continua)
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Nota de L.G.:
(*) CCAV 488: Mobilizada pelo RC 3, partiu para a Guíné em 17/7/1963 e regressou a 12/8/1965. Esteve em Bissau, Ilha do Como, Jumbembém e Bissau. Comandantes: Cap Cav Fernando Manuel Lopes Ferreira; Cap Cav Manuel Correia Arrabaça; Ten Cav Lourenço de Carvalho Fernandes Tomás. Pertencia ao BCAV 490 ( (Bissau, Ilha do Como e Farim, 1963/65), comandado pelo Ten Cor Cav Fernando José Pereira Marques Cavaleiro. Restantes companhias: CCAV 487 (Bissau, Ilha do Como, Farim, Bissau); CCAV 489 (Bissau, Mansabá, Ilha do Como, Cuntima, Bissau).