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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18318: Humor de caserna (41): Em dia de namorados: a história do Pequenitaites e outros camaradas avantajados... Ou quando os homens (e as mulheres...) não se medem aos palmos... (Virgílio Teixeira / Luis Graça)

Virgílio Teixeira, São Domingos, 1969
1. Comentário do Virgílio Teixeira, ex-alf mil SMS, CCS/BART 1933 (Nova Lamego e  São Domingos, 1967/69), hoje economista reformado, a viver em Vila do Conde (*)

Estou farto de me rir, até as lágrimas me caem pela cara. Faço ideia esses Cabucanos, não foi no tempo em que lá estive, ainda fui a Cabuca até fins de Fevereiro de 1968. Depois voltei lá em Outubro de 1984, mas não encontrei nada, a não ser uma Tabuleta à beira dum lago, a alertar da mosca TséTsé, pode este nome parecer-se com outras conotações mas não é.

Eu andava para falar do assunto, mas agora aproveito, e espero que não seja nenhum desses que participaram no concurso. Eu tinha em Nova Lamego um Furriel Algarvio, que me veio parar de paraquedas ao meu estaminé de trabalho. Não sei de onde veio, mas tenho algumas fotos com ele que um dia vou publicar, pois fazem parte de um álbum de recordações. Pois ele um dia, estávamos a conversar e a beber qualquer coisa, lá no Club de Nova Lamego. Ele lamentava-se, ele tinha ainda menos do que a minha altura, usava bigode e tinha ares de quem andava na zona. E disse-me mais ou menos isto: Que não conseguia ter relações com nenhuma rapariga, pois, exactamente como aconteceu ao Pequinitates, elas fugiam, ele disse que tinha um instrumento que era uma aberração e tinha imensos complexos por causa disso. Nunca confirmei tal facto, pois não era médico nem psicanalista, nem tinha interesse em ver a sua ferramenta.

Li num livro, que aliás recomendo a todos, do autor Manuel Arouca que se chama ' Deixei o meu coração em África' que narra a história de um Pelotão Daimler que foi destacado para Guilege 'A terra da morte', como lhe chamava o autor do romance, mas com realidades que eu encaixava perfeitamente, por me parecerem reais, muitas delas, em especial no que tocava a beber muito. Tinha lá também um 'probe xoldado' lá do Sul do lado de lado Tejo, e que tinha esse problema, até tinha casado antes de ir para a Guiné e a mulher ficou tão traumatizada, que nunca mais o quis ver. 

Ela acabou por se enrolar com um ex-fuzileiro enquanto ele estava na Guiné, e a sorte dele foi também bem pior, acabou por se suicidar com o desgosto da mulher porque acabou por saber tudo. Não vou alimentar mais este assunto, mas vale a pena ler este livro porque é para rir a bandeiras despegadas, por cenas inimagináveis.

Um bom dia de namorados para todos,

Virgilio Teixeira


2. Comentário do nosso editor LG (*):
Luís Graça > Bambadinca, 1970


Meu caro Zé Ferreira, grande escritor do "pícaresco"...

O  teu poste ganhou o prémio do melhor "cegada" da 3ª Feira Gorda de Carnaval... Confesso que também eu não consegui conter o riso, ao ler (e imaginar) as "cenas" dos dois concursos... 

Como é Carnaval, ninguém leva a mal. O Carnaval é, de resto, desde tempos imemoriais, a transgressão, o desregramento, o excesso, o não-senso... E depois os nossos leitores não são propriamente "meninos de coro"...Tu tens o grande talento de saber pegar... no "material" com potencialidades humorísticas e construir com ele uma pequena grande história.

Só tu na nossa Tabanca Grande, mais o "alfero Cabral", têm o dom ou o sentido do burlesco (que há/havia nas situações de guerra como a nossa...). Por burlesco, entenda-se "aquilo que incita ao riso por ser ridículo"... 

Na realidade, a história do Pequenitaites só vem confirmar "a teoria de que os homens não se medem aos palmos", por um outro lado, e de que "ser o mais avantajado, pode nem sempre ser uma vantagem em termos evolucionários", por outro...

Não tenhamos pudor de contar coisas aparentemente tontas como estas ("Concurso da Mama Firme", "Concurso... de piças") ou outras ainda mais "estúpidas", que se faziam no CTIG, nas nossas casernas dos nossos "campos de concentração"(que eram, afinal, para todos os efeitos, os nossos aquartelamentos...). 

Foi o sentido do burlesco que, de certo modo, nos ajudou a salvar a nossa sanidade mental no TO da Guiné...

O problema é que poucos de nós têm o talento do Zé Ferreira de saber contar estas históricas pícaras sem cair... no ridículo, no mau gosto ou no "hard core"! (**)
______________

Notas do editor:


(**) Último poste da série > 21 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16864: Humor de caserna (40): Granadas, loiras e inofensivas, apreendidas no Aeroporto de Lisboa (José da Câmara, ex-Fur Mil)
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Guiné 61/74 - P18316: Manuscrito(s) (Luís Graça) (138): a vida são dois dias e o carnaval são três


Foto e texto: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [. Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


CARNAVAL

por Álvaro Campos / Fernando Pessoa

A vida é uma tremenda bebedeira.
Eu nunca tiro dela outra impressão.
Passo nas ruas, tenho a sensação
De um carnaval cheio de cor e poeira...

A cada hora tenho a dolorosa
Sensação, agradável todavia,
De ir aos encontrões atrás da alegria
D'uma plebe farsante e copiosa...

Cada momento é um carnaval imenso
Em que ando misturado sem querer.
Se penso nisto maça-me viver
E eu, que amo a intensidade, acho isto intenso.

De mais... Balbúrdia que entra pela cabeça
Dentro a quem quer parar um só momento
Em ver onde é que tem o pensamento
Antes que o ser e a lucidez lhe esqueça...

[...] Julgo-me bêbado, sinto-me confuso,
Cambaleio nas minhas sensações,
Sinto uma súbita falta de corrimões
No pleno dia da cidade (...)

Uma pândega esta existência toda...
Que embrulhada se mete por mim dentro
E sempre em mim desloca o crente centro
Do meu psiquismo, que anda sempre à roda...

E contudo eu estou como ninguém
De amoroso acordo com isto tudo...
Não encontro em mim, quando me estudo,
Diferença entre mim e isto que tem

Esta balbúrdia de carnaval tolo,
Esta mistura de europeu e zulu,
Este batuque tremendo e chulo
E elegantemente em desconsolo...


[...]

Excertos “Carnaval” in: Álvaro de Campos - Livro de Versos . (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, pp. 81/82.




A vida é um entrudo chocalheiro

por Luís Graça

A vida é um teatro,
A vida é um anfiteatro grego antigo,
A vida é um jogo de máscaras,
A vida é ora tragédia, ora drama, ora comédia,
A vida é representação e transgressão...
... Mas nunca digas que a vida é uma merda!

Representas múltiplos papéis no teu palco, 
enquanto a vida flui, do nascer ao morrer. 
Papéis que tu escolhes, uns,
e outros que te impõem. 
Quem é o encenador ?
Quem escreve o guião ?
Quem te faz a máscara, a tira e a põe?
E o chocalho, para não te perderes no teu mundo imaginário ?
Às vezes és ator, canastrão,  
e vaidoso dono da ribalta e do proscénio e do cenário,
outras, mero e reles figurante.

Representas diversos papéis, bem ou mal mascarado,
ora emboscador, ora emboscado,
ora presa, ora predador,
ora herói, ora vilão,
ora sedutor, ora apanhado,
ou simples gato e rato.
Muitas máscaras chegaram-te até aos dias de hoje:
 a "toga" do senhor juiz, "cego, surdo e mudo", 
que decide da tua vida e da tua morte; 
o "capuz" do carrasco, que te enforca; 
o "traje académico", na universidade, 
separando o sabichão do mestre do pobre aprendiz; 
o "camuflado", 
"farda" militar, que te impõe a unidade de comando-controlo 
e a hierarquia entre os combatentes,
na tropa e na guerra;
os "paramentos" do celebrante da missa cristã, o sacerdote, 
as "vestes" do feiticeiro, 
ambos fazendo a ponte entre dois mundos 
que, só por magia, ou pela fé, se tocam, 
a terra e o céu, 
o sagrado e o profano; 
ou ainda a "bata branca" do médico ou da enfermeira, 
que não é apenas uma peça de vestuário de trabalho,
ou o "título" que te eleva até ao trono ou ao altar,
mostrando a tua cabeça alguns centímetros acima da multidão.

Das máscaras do terror do passado 

às máscaras de hoje 
que te ajudam a exorcizar o medo de viver e morrer, 
ou a virar o medo do avesso, 
como diria o poeta Miguel Torga,
o medo que é inerente à condição humana, 
a do "homem sapiens sapiens",
no terror do tsunami,
no absurdo da guerra,
no estertor da morte...

Mas a máscara também está associada à festa, à terra,
aos tambores, à gaita de foles, aos chocalhos, 
ao pão, ao queijo de ovelha e de cabra, 
aos enchidos, ao vinho... 
Porque não há festa sem o pão 
e o vinho e a música,
a  transgressão, 
o entrudo,
o carnaval,
o terreiro,
esse fantástico chão que foi e ainda é o teu chão,
de Trás-os-Montes ao Algarve,
e os caretos de Podence, Grijó e Lazarim..,
Sim, a vida é um entrudo chocalheiro,
a vida são dois dias,
e o carnaval são três...

__________________

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15758: Efemérides (215): Canquelifá, 9 de fevereiro de 1970: o burro, as carraceiras e o tiro ao alvo com uma Mannlicker... Ou quando um burro valia mais do que um Unimog... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)


Foto n.º 1
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) Canquelifá > 1970 > Uns dias antes, da chegada do 3.º pelotão da CART 11, Canquelifá tinha sofrido um violento ataque... Um outro grupo de combate da CART 11, que foi rendido pelo 3.º,  "aguentou os cavalos"... quando as tropas do Amílcar Cabral fizeram uma tentativa de assalto, junto ao arame farpado (*)... Na foto, o Valdemar Queiroz parece estar junto à carcaça de uma aeronave (?)...


Foto n.º 2 
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Canquelifá > 1970 > O Valdemar Queiroz, inspecionando os estragos nas instalações civis e militares...


Foto n.º 3
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) Canquelifá > 1970 >  "Com armas, bagagens, mulheres e crianças, o 3.º Pelotão da CART 11, "Os Lacraus", chega a Canquelifá!,,,


Foto n.º 4 
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Canquelifá > 1970 > Furriéis (à esquerda, o Valdemar Queiroz)..."Conversas... entre Lisboa e Porto"... O mesmo é dizer: o ócio é a mãe de todos os vícios ou tentações...


Foto nº 5
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Canquelifá > 1970 >  Festas do fim do Ramadão (c.  O Cap Pinto é o terceiro, na primeira fila, a contar da direita para a esquerda... E o Valdemar Queiroz é o quinto depois da "mulher grande com criança ao colo"...


Foto nº 6 
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) Canquelifá > 1970 > Festas do fim do Ramadão > Lutas (fulas), corpo a corpo... Repare-se no risco, dividindo os dois campos...

Fotos: © Valdemar Queiroz (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Texto enviado na segunda feira de Carnaval, pelo  Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Data: 9 de fevereiro de 2016 às 03:10

Assunto: Quando um burro vale mais que um Unimog

9 de Fevereiro de 1970 [, segunda feira de Carnaval]

Faz agora 46 anos.

Com armas, bagagens, mulheres e crianças, o 3.º Pelotão da CART 11, "Os Lacraus", chegou a Canquelifá (*). Lá no alto. O nosso Capitão Pinto também foi connosco.

'BEM-VINDOS ÀS TERMAS DE CANQUELIFÁ', dizia o cartaz à entrada da tabanca.

Tinha sido violentamente atacada dias antes, com a destruição de instalações militares e civis e com tentativa de assalto pelo arame farpado, com um nosso Pelotão da CART 11, "Os Lacraus", que já lá estava, a aguentar o assalto no cavalo de frisa da entrada, sendo o nosso 1.º Cabo Paiva ferido no peito com o sopro dum rebentamento.

As coisas acalmaram com a nossa presença, ou se calhar não, mas nunca mais houve ataques naqueles tempos em que estivemos em Canquelifá.

Coincidiu com o mês de Ramadão. Houve festa em Canquelifá, rezas e batucadas. E foi, por essa altura, que apareceu um burro, com umas aves carraceiras de bico vermelho na sua barriga.

Estávamos uns quantos furriéis milicianos,  num "descanso do guerreiro", se calhar a falar do Porto e de Lisboa, quando um de nós se lembrou de...
– Quem é capaz de acertar naquele 'carraceiro' na barriga do burro?

E foram buscar uma Mannlicher [, calibre 5,6, ]. (**) O primeiro tiro abateu o 'carraceiro' da barriga do burro e o segundo também, depois, quando apareceu outro pássaro de bico vermelho, voltamos a atirar ao bicho, voltou outro e outro tiro se atirou e parece que alguém começou a falhar tiros e acabamos por aí.

Passados dois dias, apareceu um homem-grande no Comando a queixar-se da morte dum burro que a tropa esburacou na barriga e que servia para transportar tudo e mais alguma coisa.

Fomos todos chamados à pedra e para resolvermos o assunto com o homem-grande. 
– Então quanto é que o homem quer pelo burro?  – perguntamos nós com a intenção de pagar o dano causado.
– Sei lá – respondeu Capitão – , mas parece que o burro vale mais que um Unimog.

Já não me lembro quanto valeu um tiro ao 'carraceiro', mas a brincadeira ficou cara.(***)

Valdemar Queiroz



"Caminho de Bafatá", pintura (fresco?)  de Augusto Trigo (n. 1938) (pormenor)... Havia "burros" na Guiné, no nosso tempo, nomeadamente na zona leste.... Referimo-nos ao "Equus africanus asinus" e não ao "burro humano" ("Homo sapiens sapiens")...

Em exposição no hall de um banco, em Bissau, o BCAO. Com a devida vénia ao pintor, casapiano, (que vive atualmente em Portugal), ao Rui Fernandes (autor da foto) e à AD - Acção para o Desenvolvimento (que detém os direitos da imagem no seu sítio Guiné-Bissau). Ver também aqui na página do Didinho.org uma nota biográfica.
 _______________

(**) 23 de janeiro de  2010 > Guiné 63/74 – P5690: Armamento (2): Pistolas, Pistolas-Metralhadoras, Espingardas, Espingardas Automáticas e Metralhadoras Ligeiras (Luís Dias)

(...) No final do século XIX, princípio do século XX, Portugal adquire a espingarda Mannlicher, de origem austríaca, no calibre 6,5 mm, por ser mais rápida no carregamento (recurso a lâmina de recarregamento), que a anterior [, a Kropatschek, espingarda de repetição, ]  que virá a transformar em 1946, na Fábrica de Braço de Prata, para o calibre 5,6 mm e serão usadas para instrução de tiro. (...)

(***) Último poste da série > 13 de fevereiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15741: Efemérides (214): Dia 8 de Novembro de 1967, data do falecimento do primeiro militar da CART 1742, numa acção de reconhecimento na Tabanca de Ganguiró (Abel Santos, ex-Soldado At Art)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15729: Manuscrito(s) (Luís Graça) (76): A vida são dois dias e o Carnaval são três (Provérbio popular)


Dez teses 

(mal cheirosas 
e muito pouco carnavalescas) 
sobre a ciência e a merda

por Luís Graça






O 1º cabo Carlos Alberto Alves Galvão,
do 3º Gr Comb / CCAÇ 12, amparado por
dois camaradas da sua secção.
Foto de Arlindo Roda (2010)

Em memória dos meus camaradas
que há 46 anos fizeram, comigo,
a Op Boga Destemida,
em que apanhámos
uma violenta emboscada
em Gundagué Beafada,
subsetor do Xime:
CCAÇ 12, CART 2520
e Pel Caç Nat 63...

Era segunda feira de carnaval,
e íamos mascarados,
que um homem,
quando nasce,
não vem de camuflado e G3. 

Era merda,
o que trazíamos no corpo e na alma.
quando chegámos ao Xime,
33 horas depois (*)



1
Onde estão os cientistas,
grávidos da sua ciência,
a proclamar na televisão
urbi et orbi,
a última palavra,
ex cathedra,
sobre esta merda ?

Não sei quem pergunta,
sei que é uma pergunta de investigação.



2
Comenta o último Nobel da Ciência:
É a liberdade da ciência 

e a ciência da liberdade,
que são postas em causa,
com tão insolente pergunta de merda.


Felizmente que esta merda não é objeto de ciência,
e ainda não há, por enquanto,
e, se calhar, graças a Deus,
uma ciência da merda.


3
Diz o guarda-mor da ética da ciência:
tal como a justiça,
a ciência é cega, surda e muda,
face ao estado
a que chegou esta merda.



4
Acrescenta o fisiopatologista do trabalho da ciência:
se o cientista tivesse
os cinco sentidos apurados,
talvez ele desse um bom perdigueiro de caça,
e talvez esta merda,
tal como a mostarda,
lhe chegasse ao nariz,
mas não chega.


Nasceu sem nariz,
ou já não tem nariz,
ou, se o tem, não o usa,
tendo perdido o faro.


5
Escreve, off record,  o sociólogo da ciência:
não lhe convem,
ao cientista,
sobretudo ao pobre bolseiro
do Fundo para Ciência e Tecnologia (FCT),
debruçar-se sobre a merda do mundo
e o mundo da merda.

E, depois, em boa verdade, 
o que fazer, afinal,
com tanta merda ?

Não lhe convém
cheirá-la (à dita merda),
recolhê-la,
tratá-la,
manipulá-la,
testá-la,
fazer-lhe a prova química e organoléptica,
empacotá-la,
e, por sim, disseminá-la,
sob a forma de conhecimento,
liofilizado,
pronto a servir.


6
Reporta a  jovem repórter da TVI:
mas esta merda cheira mal,
muito mal,
mesmo muito mal,
esta merda fede, 

senhores telespectadores,
mesmo aqui atrás de mim,
e é repelente,
à vista desarmada,
para o comum mortal
que se recusa a falar em direto à TVI.

As pessoas têm medo da merda,
mas ainda mais de falar, para as câmaras,
sobre o estado da merda
a que isto chegou.


7
Manda dizer a secretária
do senhor ministro da Ciência e a Tecnologia (MCT);
por favor,
não incomodem quem trabalha
em prol da humanidade;

e muito menos nosso Gabinete da Ciência Viva (GCV);
da merda, meus senhores,  

tratam os SMAS,
os moderníssimos serviços municipalizados
de águas e saneamento,
que tanto orgulham o país.

Em último caso,
se a tripa rebentar,
liguem para o 112
ou chamem a ASAE
ou mudem a fralda.


8
Que diria o grego Arquimedes ?
Eureka, achei!

Mesmo atolado na merda até ao pescoço,
o cientista não dá conta
da grande merda,
da merda a que isto chegou.


No seu microscópico,
só vê a micromerda,
as micromerdas
que podem estragar a terça feira de Carnaval.


9
E o povo, alarve,
o que diria o povo,
se o povo tivesse opinião qualificada ?

Se a merda valesse ouro,
até os cientistas teriam nascido sem cu.
Vão bardamerda,
que a vida são dois dias
e o Carnaval são três!


10
E, por fim, o último cientista,
a quem foi retirada a idoneidade científica
por querer estudar a merda
a que isto chegou,
e se ter mascarado de cientista da merda,
no carnaval de Torres Vedras
que, dizem, é o mais português 
e o mais antigo 
de Portugal.

Cientistas de todo o mundo, 
juntem a vossa à nossa merda! (**)


______________

Notas do editor:

(*) 9 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8071: A minha CCAÇ 12 (16): O 1º Cabo Galvão, ferido duas vezes em 9 de Fevereiro de 1970, segunda feira de Carnaval...Uma violenta emboscada em L em Gundagué Beafada, Xime (Op Boga Destemida)

(...) A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 6 grupos de combate: Destacamento A, constituído por 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A); Destacamento B, formado por forças da CART 2520 (unidade de quadrícula do Xime), reforçadas com o Pel Caç Nat 63, aquartelada em Fá Mandinga (sob o comando do Alf Mil Art Jorge Cabral). (...)

(**) Último poste da série > 28 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15682: Manuscrito(s) (Luís Graça) (75): sabedoria alentejana: viver até aos cem anos... p'ra quê ?

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15718: Efemérides (212): O Carnaval de 1970 (Jorge Picado, ex-Cap Mil)

1. Em mensagem de ontem, dia 6 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72) fala-nos do Carnaval de 1970, sem dúvida um dos mais tristes da sua vida.


CARNAVAL DE 1970 

Como o tempo passa…
Foi há 46 anos… mas tenho ainda bem presente essa época carnavalesca da minha vida…
Não por qualquer acto festivo e alegre próprio de folias, brincadeiras, diversões ou outras actividades burlescas usuais do entrudo. Antes pelo contrário. Por ser Carnaval, o que me pregaram foi, no mínimo, uma “partida de mau gosto”… e só podia advir da Instituição Militar, pois já não era a primeira vez que o faziam.

Embarquei para a Guiné no dia 9 de Fevereiro de 1970, segunda-feira de Carnaval. Assim, no domingo, dia 8, efectuado o almoço de despedida, antecipado, já que naquele tempo a viagem de automóvel para Lisboa era bem demorada e, os que me iam levar, teriam de regressar nesse mesmo dia a esta santa terrinha ilhavense.

Habitava então uma casa arrendada na Rua de Camões, bem perto da dos meus Pais e numa área onde decorreram os melhores anos da minha infância e parte da juventude.
Presentes, todos os familiares mais chegados, fazendo os adultos os possíveis por “camuflar” o triste momento do significado deste acto que nos reunia em volta da mesa, já que os meus filhos e sobrinho, pensava eu, que dada a pouca idade, de tal não se apercebessem.

Embarque rápido, para evitar cenas mais patéticas, acompanhado por meu sogro e no assento traseiro ladeado por dois dos meus filhos, Jorge e João, assim seguimos rumo a sul, pela EN2, via Vagos-Figueira da Foz, até apanharmos a EN1 em Leiria.
Caminho tão conhecido por tantas vezes percorrido, mas com outra disposição, nas minhas frequentes idas e vindas para Lisboa. Só que neste dia sabia que ia… mas… e o regresso?

Percurso tão longo, em que os silêncios eram maiores do que as poucas frases que pretendiam ser animadoras, mas sem efeito visível. Eu já não era o mesmo de há meio ano atrás. Desde que tinha interiorizado que a partir do CPC, não poderia evitar um qualquer lugar numa das Colónias em guerra, pratiquei, digamos, uma auto-terapia de mentalização, tipo “narcoterapia” que “descondiciona” a pessoa, diminuindo-lhe a ansiedade e fazendo-a andar “meio adormecida”. Enfim, tipo “anda no mundo por ver andar os outros”.

Por isso naquela viagem, já quase não dava por nada. Só senti um leve despertar, quando ao desembarcar nos Restauradores, onde pernoitei numa Pensão que existia quase junto do cinema Eden, vi o meu filho Jorge atirar-se para o assento do carro meio a chorar. Ficou em mim gravada essa imagem e a ideia de que afinal, ele com os seus pouco mais de seis anos apercebia-se da minha futura ausência. Mas, posso ainda garantir, que mesmo isso pouco me afectou, pois já “andava nas nuvens”, como depois sempre pela Guiné andei.

Embarquei portanto na segunda-feira de Carnaval, com bom tempo e a “partida de mau gosto”, sentia então mais funda, quando o N/M Alfredo da Silva sai a barra e… ruma a Norte, quando o destino era o Sul!
Aí sim, tive um momento de lucidez e senti uma grande revolta interior. O navio não seguia como TT, mas em viagem normal que eu bem conhecia. Lisboa-Leixões-Mindelo-Praia-Bissau e volta.

Privaram-me de menos dois dias de companhia com a família, já que poderia embarcar na terça-feira durante a tarde em Leixões. E quão importantes eram, naquele tempo de incertezas, todos os momentos passados junto de quem amávamos. Só quem viveu esse período das nossas vidas sabe dar valor a esses pormenores, que afinal eram bem grandes.

Escusado será dizer, que nessa terça-feira, durante aquelas horas que passamos em Leixões, apenas deambulei pelo cais e proximidades, não telefonando sequer para casa, para não agravar mais a saudade.

E assim foi o meu Carnaval de há 46 anos.
Viagem por terra para Lisboa, cruzeiro marítimo para Leixões, passeio pelo cais nesse porto sem vislumbrar qualquer mascarado, mas fantasiado de Capitão do Exército com um grande melão.

Abraços para todos os Tabanqueiros do
JPicado
 
Em primeiro plano, à direita, o Cais Sul da Doca 1 do Porto de Leixões, local habitual para atracação dos navios da Sociedade Geral a que pertencia o "Alfredo da Silva". A foto não representa a época.

Foto: Fonte Internete, com a devida vénia ao eu autor
Legenda: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15714: Efemérides (211): "Desastre na Guiné", título de caixa alta, da 2ª edição do "Diário de Lisboa", de 8/2/1969

domingo, 22 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14399: Brunhoso há 50 anos (3): Festejos do Entrudo (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

Brunhoso - Com a devida vénia


1. Em mensagem do dia 17 de Março de 2015, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), fala-nos dos festejos do Caranaval de antigamente da sua terra, Brunhoso.


Brunhoso há 50 anos

3 - Festejos do Entrudo

Como em quase todas as terras do nordeste transmontano e provavelmente na maioria das aldeias do interior do país, em Brunhoso celebravam-se três festas anuais: o Carnaval, o Natal e festa a um santo que nem sempre coincidia com o santo padroeiro.

No Carnaval, festa do tempo frio de Fevereiro, comia-se em excesso, sobretudo ao almoço, era o tempo das casulas com o bulho, noutras terras chamado butelo, o pé de porco, a orelha, a linguiça, tudo cozido numa grande panela de ferro à lareira. Bebia-se em excesso sobretudo vinho, durante o dia e noite, até as forças e as pernas o permitirem.

Os rapazes todos os anos faziam um grande boneco, com roupas velhas, que enchiam de palha, muitos deles vestiam-se com roupas de mulher ou disfarçados doutras formas, eram os caretos, passeavam pela aldeia, esse boneco, que era o Entrudo, num carro de vacas ou às costas de uns e outros, ao som de quadras improvisadas referidas ao dia e à figura, com muitas bombas de carnaval e bombas de lágrimas coloridas (rasca-pés na gíria do povo). Essa figura, da qual desconheço a origem e a idade, ganhou tanta importância que só recentemente entendi por que é que os meus conterrâneos falavam sempre no dia de Entrudo e não no dia de Carnaval. No Carnaval o rei era o Entrudo, um rei maltratado com violência física e verbal.

Acredito que quase toda a aldeia perdeu a memória da palavra Carnaval para se fixar somente no Entrudo, essa figura trágica, tão maltratada. O Carnaval ou Entrudo que dizem alguns eruditos terá origens em cultos anteriores ao cristianismo, tem um pouco de todos esses excessos dalgumas festas gregas, celtas, romanas e doutros povos, é pois natural que tenha uma origem muito antiga. Sendo uma festa popular, de brincadeiras, excessos vínicos e outros, sobretudo masculinos, pois era uma festa de rapazes e homens.

Festa que as mulheres toleravam e em que passivamente participavam, mostrando bastante medo, real ou ficticio pelo Entrudo e pelos caretos, e na alimentação melhorada em doces e petiscos que faziam, sabendo que estavam a contribuir para melhorar essa grande farra que era sobretudo deles, dos seus homens e dos seus filhos.

Caretos de Trás-os-Montes

O trabalho era muito, era duro, quase não havia dias de folga, os homens tinham direito a esse dia de descontração e de abandono das regras a que essa vida dura os obrigava. A Igreja, embora contrariada, também tolerava essa festa que não era dedicada a nenhum Deus ou Santo do seu calendário. A Quaresma estava à porta e os homens seriam obrigados a cumprir muitas penitências.

O antigo regime sendo tão austero e pouco tolerante com manifestações populares, sempre admitiu esse desvario, esse excesso com tanto álcool, bombas e arruaças.

Nunca se deve impedir a respiração da alma de um povo, Salazar, um ditador bastante erudito, criado junto do povo, compreendeu isso. A democracia, oxalá se mantenha, tem procurado acabar com o Carnaval. Para mim isso é das ofensas mais mesquinhas que têm tentado fazer ao povo, e estou a falar do povo mais humilde, que é o que mais se diverte nesse dia. É muito grave tirar-lhe o pão, mais grave ainda é querer tirar-lhe a alma e a alegria de viver.
Quem quis ou quem quer acabar com o Carnaval, nunca bebeu um copo de vinho numa roda na praça de uma aldeia, a passar de boca em boca, nunca conheceu nem amou esse povo simples e trabalhador.

Quando se fala tanto e se promovem patrimónios materiais e imateriais de Portugal para turista estrangeiro ver, ouvir, apreciar, porquê querer destruir a alma de um povo naquilo que ela tem de mais antigo, tão antigo, que ele encontra e abraça, uma multidão de parentes e amigos, que consigo vêm confraternizar nessa grande festa, nesse convívio tão pleno de emoções, tão alargado aos que partiram para longes terras, aos que continuam a sobreviver lá, em condições cada vez mais difíceis e aos que partiram para lá da vida.

VIVA O CARNAVAL! VIVA O ENTRUDO!

Saudações Transmontanas!

Um abraço
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14381: Brunhoso há 50 anos (2): As Autoridades - Continuação (Francisco Baptista)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12442: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte VI): A alegria das primeiras chuvadas...



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 1A > "Alegria das primeiras chuvas" (...)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 1 > " (...) Depois de 7/8 meses a vermos o céu sempre igual e a atmosfera amarelada com as poeiras vindas do deserto, os primeiros pingos grossos de chuva eram celebrados com grande alívio por nós e contagiante alegria pela criançada que aproveitavam as poças de água para se refrescarem, brincarem e encharcarem os adultos incautos"…


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 2A >"Jogatana de futebol" (...) .



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 2 > "(...) . Mesmo em cenário de guerra havia disposição para 'jogatanas' de futebol. Este campo foi construído durante período que vivi em Fulacunda. Havia ainda um outro campo térreo, que na época das chuvas ficava impraticável para futebol."



 Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 3A> "Dia de Caranaval em Fulacunda" (...)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 3 > (...) "Não sendo propriamente uma tradição, neste dia quase todos se divertiam mais. Havia batuque.

 

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 3 > "Os meus 24 anos"...


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 3 A >  "Os meus 24 anos foram assim comemorados. Muita união e camaradagem. Apesar de a adega não estar muito apetrechada, quando alguém fazia anos fazíamos questão de fazer a respetiva festa. Nesta minha festa, até velas aniversariantes tive o prazer de apagar. Como chegaram aquelas velas a Fulacunda é o que o meu amigo Cerqueira me está tentando explicar, apesar de o meu ar incrédulo"…

Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição; L.G.]


1. Continuação da publicação das Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte VI)

Chegamos ao fim de um primeiro lote de fotos do tempo de Fulacunda (1972/74)... Mas o nosso camarada Jorge Pinto promete continuar a satisfazer a curiosidade de uns (que pouco ou nada sabiam de Fulacunda) e mitigar a saudade de outros (que passaram por estas terras da Região de Quíabar, "chão beafada"). 

Diz-nos ele: "No final do ano [de 2013] espero poder enviar mais fotos especialmente relacionadas com o fim da guerra colonial em Fulacunda."

[Foto atual do Jorge Pinto, à direita]

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9515: Fotos à procura de... uma legenda (18): A ecomesa de snooker... em África!


Foto: "Criatividade africana"... Autor desconhecido



1.  A foto veio pelo correio do Mário Beja Santos, e circula pela Net. Veio apenas com esta legenda: "Criatividade africana"... Não sei se a legenda é um elogio à capacidade extraordinária dos mais pobres dos africanos (a começar pelas crianças) de lidar com as situações mais adversas (da guerra civil à extrema pobreza das megacidades do continente negro), ou se é um olhar cínico, etnocêntrico e superior de gente que nunca saberá pôr-se na pele do outro...


Não resisti à tentação de a "postar" aqui no nosso blogue, em  terça feira gorda de carnaval... Não sei o que mais admirar, se a reinvenção da mesa de snooker - ou melhor, da ecomesa -, se a concentração (e o gozo) dos jovens jogadores... A foto podia ter sido tirada algures, na Guiné-Bissau... Para o caso não interessa...  Faz-me também recordar os nossos "jogos de infância" e a extraordinária capacidade inventiva da minha geração, que nasceu pobre, no tempo do candeeiro a petróleo: no pátio da escola, de terra batida, ou no adro da igreja com calçada à portuguesa, nas vilas e aldeias da Estremadura, jogávamos o "hóquei em patins" com "sticks" de pau de tarmagueira e... seixos redondos recolhidos na praia!... E construíamos rádios de galena para ouvir os relatos emocionantes do Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, torcendo pela equipa das quinas!


Recuso-me a fazer comentários moralistas ou miserabilistas do género Vejam, os pobres dos africanos, felizes com tão pouco!...  


Parabéns ao autor,  desconhecido, da foto ... Merece uma boa legenda, para o que fica aqui o desafio aos nossos leitores!....
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9500: Fotos à procura de uma legenda (17): Bambadinca ("a cova do lagarto"), abril de 1972, ao tempo do BART 3873 (1971/74)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9511: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (9): Circo... e bombas que não eram de carnaval ... em 1974


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68)> Alguns dos quadros da companhia, vestidos com trajes fulas... Presume-se que fosse uma brincadeira de Carnaval... Dois militares parodiam a PM - Polícia Militar... O Eurico Corvalho † podia ser o terceiro a contar da esquerda,  pelo menos é alguém que parodia a figura do capitão. "Aqui de certeza é o Corvacho, um bom amigo", garantiu-me uma vez o Nuno Rubim, que foi seu camarada da academia (O Nuno era de um curso anterior ao do Eurico)... Mas o Zé Brás,  que também o conheceu, em Mejo e Guileje,  diz que não... (LG).

Foto: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). (Fotos do José Neto † , reeditadas por Albano Costa). Todos os direitos reservados.


Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 1746 (Bissorã e Xime,1967/69) > A RTX - Rádio Televisão do Xime, em ação, no Carnaval de 69...  


 Foto: © Manuel Moreira (2011)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Que a guerra não rima com carnaval, isso toda a gente sabe. Na Guiné, em tempo de guerra não se limpavam armas...No carnaval de 1970, 9 de fevereiro, lembro-me de ter levado porrada da grossa.  No mesmo dia, embarcava para a Guiné o Cap Mil Art Jorge Picado, deixando mulher e quatro filhos... 

Outros, eram capazes de se desenfiar por umas horas, em dia de carnaval (ou noutro dia qualquer), por uma boa causa como a de ajudar os camaradas a comer um cabritinho assado:  estou-me a lembrar do Tomás Carneiro, o nosso camarigo açoriano, que no Carnaval de 1973  fez Jugudul-Polibaque sozinho, com o seu Unimog ou  Berliet e a sua G3, só para matar saudades dos amigos de Polibaque...

Em suma, não sobrava tempo (e muito menos ainda disposição) para "brincar ao carnaval"... É possível que, num ou noutro sítio, num ou noutro tempo, houvesse quem arranjasse tempo e pachorra para se mascarar, reinar, parodiar, brincar... Estou-me a lembrar dos foliões da CART 1613 (Guileje) ou da CART 1746 (Xime) de que publicamos  fotos acima... O ser humano é imprevisível... Tragédia, drama e comédia, podiam acontecer no mesmo dia, e até em dia de carnaval...

Fui ao Diário do António Graça de Abreu (AGA) mas lá não há referências ao Carnaval. Minto: há uma, mas é irónica... Em contrapartida, um mês antes, tinha passado por  Cufar o circo!.. Podem achar surreal, mas houve pelo menos uma companhia de circo, em deambulação pela Guiné, no 1º trimestre de 1974... Esteve em Cufar, no dia 25 de janeiro de 1974... Nesse ano o carnaval, foi a 26 de fevereiro... 

Por gentileza e generosidade do nosso camarigo AGA, aqui ficam aqui mais dois  excertos do seu Diário da Guiné, 1972/74, de que temos um ficheiro em word, o mesmo que serviu de base à edição do seu livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp) (*).


(...) Cufar, 25 de Janeiro de 1974

A companhia do “Circo Sevilha” chegou a Cufar para um grande show destinado às nossas Forças Armadas e à população nativa. De manhã cedo, o Nordatlas trouxe os artistas e os adereços, veio buscá-los à tardinha, de regresso a Bissau. O exército pagou aos talentosos artistas, deu-lhes cabrito assado para o almoço, forneceu o público.

O circo serviu para distrair, dar fantasia à dureza dos dias, adoçar-nos a boca cheia de temores e angústias amargas.

O que é um circo? Quem são os homens que fazem um circo? Para que serve um circo?

Juntam-se as pessoas num grupo, cada uma delas capaz de executar um truque ou habilidade, ou de colaborar na realização de diferentes números, difíceis, fantásticos, surpreendentes. Os artistas, o prestidigitador, o músico do trompete, a “partenaire” do equilibrista, o carregador de aparelhos para dentro e fora da pista, os animais, os palhaços.

O circo. Música de tchim-pó-pó, o movimento e a cor, os saltos no ar, lantejoulas, garridice, a fantasia, alegria com vislumbres de verdade, tristeza com laivos de exultação e festa.

O circo. Momentos de espanto e de magia, mas o gato com rabo de fora. Gente que ganha e gasta a vida. Povo real, os trajes coçados pelo uso, os corpos deselegantes e cansados, as meias rendadas rotas, os truques velhos, o espectáculo pobre.

Boquiabertos, assistimos ao retrato original do que também somos.


(...) Cufar, 25 de Fevereiro de 1974

Véspera de Carnaval e houve grande folia pelas terras do sul da Guiné. Foram rebentamentos uns atrás dos outros, de manhã à noite. São agora nove horas, às oito ainda os Fiats largavam bombas e mais bombas sobre os refúgios do PAIGC. Os guerrilheiros resolveram atacar Bedanda, três vezes ao longo do dia, mais Caboxanque, duas vezes, Cadique, Jemberém e Cameconde. Em Caboxanque houve três feridos entre a população, nos outros, apenas os estragos materiais do costume. (...)

[Foto acima: Máscara bijagó, Bubaque, 13 de dezembro de 2009. Foto de João Graça]

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9475: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (8): Boatos, em Lisboa, de ameaças de ataques a aviões da TAP... e de bombardeamentos aéreos aos nossos aquartelamentos

sábado, 9 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8071: A minha CCAÇ 12 (16): O 1º Cabo Galvão, ferido duas vezes em 9 de Fevereiro de 1970, segunda feira de Carnaval...Uma violenta emboscada em L em Gundagué Beafada, Xime (Op Boga Destemida)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A solidariedade dos combatentes... Dois soldados, guineenses, do 3º Grupo de Combate, do Alf Mil At Inf Abel Rodrigues, aparam o 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão, metropolitano (vive hoje na Covilhã, estando reformado da Direcção Geral dos Impostos, se não me engano), comandante da 1ª secção, o homem que cometeu a proeza de ter sido ferido duas vezes no decurso da mesma operação (Op Boga Destemida, 9 de Fevereiro de 1970), aqui relatada.~

Estes dois camaradas guineenses podem ser alguns dos seguintes que compunham a 1ª secção do 3º Gr Comb: Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula); Sold 82108569 Sambel Baldé (Fula); Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (Fula); Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (Fula); Sold 82109169 Malan Baldé (Fula); Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (Fula); Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (Fula); Sold 82109969 Malan Nanqui (Mandinga).

Slide do Fur Mil at Inf Arlindo T. Roda, comandante da 2ª secção, que nesses dias (8 e 9 de Fevereiro de 1970) levou a sua máquina fotográfica... (Não era vulgar levar-se uma máquina de fotografia, para o mato, em operações, numa região como esta em que a probabilidade de contacto com o IN era muito alta. Estou muito grato ao Roda, que já não vejo desde 1994, por generosamente nos disponibilizar a sua fabulosa colecção de slides, convertidos para o digital...)

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados













Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Sequência dramática dos acontecimentos do dia 9 de Fevereiro de 1970, desde o ferimento do 1º Cabo Galvão, na travessia da cambança do Rio Buruntoni, por volta das 5 e tal da manhã, até à violenta emboscada em Gundagé Beafada, às 13h, de que resultariam uma série de baixas entre as NT (CART 2520, Pel CAç Nat 63 e CCAÇ 12), incluindo o 1º Cabo que ia nesse momento em padiola improvisada e foi alvejado a tiro... A helievacuação dos feridos deu-se já em Madina Colhido...

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados


A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (**), por Luís Graça



(8) Fevereiro de 1970:

(8.1) Uma emboscada em L às NT (Op Boga Destemida)


As declarações dos prisioneiros Jomel Nanquitande (capturado em Satecuta, durante a Op Navalha Polida) (*) e Festa Na Lona (capturado em Ponta do Inglês durante a Op Safira Única) trouxeram os seguintes elementos sobre o acampamento IN do Baio/Buruntoni:

(i) Localização: Xime 2D-81;

(ii) A vegetação à volta do acampamento e nas imediações do Rio Buruntoni é do tipo floresta tropical (ou floresta galeria), composta por árvores de grande porte;

(iii) Efectivos: 30 elementos;

(iv) A população sob o controlo IN é numerosa na área, havendo uma tabanca a cerca de 150 metros, a SE do acampamento;

(v) Armamento: 1 morteiro 60, 5 bazucas (RPG), 4 metralhadoras ligeiras e armas automáticas;

(vi) Chefes: Ponhe, Xito Mané, Tchuda Ada;

(vii) Segurança: 1 sentinela para norte, a cerca de 100 metros do acampamento;

(viii) Diariamente, pela madrugada, sai uma patrulha de 15 elementos fortemente armados que reconhece a área para norte até ao Rio Buruntoni. Há aqui uma cambança sobre troncos de árvore;

(ix) Devido à intensa actividade das NT que levou à captura do vários elementos conhecedores da região, é de admitir que o IN se encontre alertado e até mesmo reforçado.

A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 6 grupos de combate: Destacamento A, constituído por 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A); Destacamento B, formado por forças da CART 2520 (unidade de quadrícula do Xime), reforçadas com o Pel Caç Nat 63, aquartelada em Fá Mandinga (sob o comando do Alf Mil Art Jorge Cabral).


Desenrolar da acção:

Em 8 de Fevereiro de 1970, pelas 9.00h, os 2 Dest saíram do Xime, seguindo por Madina Colhido e Gundagué Beafada até próximo de Darsalame Baio onde se emboscaram, repousaram e almoçaram.

Da parte da tarde, dois Gr Comb da CCAÇ 12 reconheceram com os prisioneiros o local de cambança do Rio Buruntoni, tendo encontrado,e m Xime 2g3-78, uma ponte de rachas de cibe, soltas, com uma extensão de 20 metros, que oferecia pouca segurança, obrigando a travessia a efectuar-se somente de dia e muito lentamente, contrariamente ao que estava previsto.

Os 2 Gr Comb regressaram ao local da emboscada tendo depois os 2 Dest seguido para perto do rio onde pernoitaram. O PCV, em face do reconhecimento da cambança, ordenou que a travessia se fizesse ao amanhecer.

Em 9 de Fevereiro [, segunda feira de Carnaval em Lisboa, e nesse dia embarcava para a Guiné o nosso camarigo Cap Mil Jorge Picado...], pelas 5.30h, iniciou-se a cambança que demorou cerca de uma hora.

Durante a travessia, o 1º Cabo Galvão ( 3º Gr Comb da CCAÇ 12) caiu, ficando lesionado na coxa direita, o que impossibilitava de prosseguir. De forma que teve de ficar o 3º Gr Comb do Dest A emboscado junto ao ponto de cambança.

Como fossem encontrados trilhos e o prisioneiro Festa informasse que o acampamento distava cerca de meia hora, os 2 Dest separam-se, tendo o Dest B seguindo ao longo do Rio Buruntoni e montado uma linha de emboscada a oeste da região indicada como sendo a do acampamento IN.

O Dest A progrediu com o prisioneiro Festa em direcção ao objectivo, tendo passado por um acampamento com vestígios de abandono recente. Depois de progredir mais de 2 horas na direcção sul, e como o prisioneiro continuasse a dizer que era longe, contradizendo-se, o Dest A que só dispunha de 2 Gr Comb, entrou em ligação com o Dest B a fim de tomar uma decisão face à situação.

É de referir que o PCV ainda não aparecera visto que a respectiva DO-27 tivera de ir cumprir uma missão de evacuação outro sector. De modo que foi decidido pelos comandantes dos Dest regressar ao Xime.

Quando ia ao encontro do Dest B, o 1º e 2º Gr Comb do Dest A foram flagelados à distância com metralhadora e lança-rockets. Era evidente que o IN tentava localizar as NT através do reconhecimento pelo fogo.

Cerca das 11.30h, o PCV sobrevoou a zona, quando o Dest B, já feita a cambança, armadilhava o local onde havia vestígios recentes do IN.

Em marcha lenta, devido ao transporte do ferido em maca, os 2 Dest seguiram o trilho de Darsalame/Baio-Gundagué Beafada, através do capim alto.

Próximo da antiga tabanca beafada (Xime 3F7-11), cerca das 13h, as NT sofreriam uma violenta emboscada montada em L e com grande poder de fogo, especialmente de lança-rockets e mort 60. A secção que ia na vanguarda do Dest B [CART 2520] ficou praticamente fora de combate, tendo sido gravemente feridos, entre outros, o respectivo comandante e a praça encarregada da segurança do prisioneiro Jomel Nanquitande que, aproveitando a confusão, conseguiu fugir, embora algemado e muito provavelmente ferido. (O 1º Cabo José António Oliveira Bagio era o encarregado da segurança do prisioneiro, ficou gravemente ferido, vindo a morrer no HM 241 em 20/3/1970).

Devido ao dispositivo da emboscada, quase todos os Gr Com foram atingidos pelo fogo de armas automáticas e lança-rockets (testa e meio da coluna) e mort 60 (retaguarda).

Devido à reacção das NT, o IN retirou na direcção de Poindon e Ponta Varela, tendo ateado o fogo ao capim para evitar a sua perseguição. O incêndio lançaria sobre as NT um enxame de abelhas, obrigando-as a fugir para uma mata próxima onde se trataram os feridos.

Em resultado da acção fulminante do IN, as NT sofreriam 1 morto (Sold Manuel Maria do Rosário) e 7 feridos entre graves e ligeiros, sendo 2 da CCAÇ 12 (1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e Soldado Samba Camará, nº 8211816, do 2º Gr Comb, evacuados para o HM 241). Ficaram também feridos os Fur Pestana e os Sold Frade e Pinheiro [, pertencentes à CART 2520]. Ferido ligeiro da CCAÇ 12: Sold Arv At Inf Totala Baldé, nº 82108769. Não sei se o Pel Caç Nat 63 teve alguma baixa nesta operação (O Jorge Cabral pode confirmar).

Houve uma tentativa por parte do IN de capturar o 1º Cab Bagio. Devido á atenção do Sold Costa, que abriu fogo sobre eles, esse intento foi gorado. O Costa virá a ser ferido por estilhaços de LGFog.

Feito o reconhecimento, não foi encontrado o prisioneiro. Apesar do incêndio provocado pelo fogo pegado ao capim, ainda se conseguiu recuperar parte do material abandonado, na sequência da emboscada e do ataque de abelhas.

Levados os feridos para Gundagué Beafada (ou talvez Madina Colhido, já não posso precisar, por ser mais seguro...), donde foram heli-evacuados, as NT retiraram para o Xime, protegidas por heli-canhão e T-6, e ainda pela artilharia do Xime (que a pedido fez fogo para região a oeste do local da emboscada), tendo chegado ao aquartelamento por volta das 17h, desse dia, 4 horas depois da emboscada.

Após esta operação o IN manifestar-se-ia de novo em 12 de Fevereiro (atacando uma embarcação em Ponta Varela, do que resultaram baixas civis) e flagelando também, na região de Ponta Varela, forças da CART 2520 durante a Op Tango Variado). (LG)

Fontes consultadas:

História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II.

História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

Diário de um Tuga




Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que me reencontrei com a malta de Bambadinca (1968/71), incluindo os meus camaradas da CCAÇ 12 (1969/71), e outras subunidades adidas ao comando do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

Na foto (parcial) do grupo, estão alguns dos meus camaradas da CCAÇ 12... Na primeira fila, da esquerda para a direita, (i) eu, Fur Mil At Armas Pesadas Inf Luís Manuel da Graça Henriques; (ii) Arménio Monteiro Fonseca (taxista, no Porto, da empresa Invictuas, táxi nº 69, mais conhecido no nosso tempo como o "vermelhinha"; era soldado com funções de cabo, tinha lebvado uma porrada antes do embarque); (iii) Fur Mil José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, onde vive, agente de seguros]...

Na segunda fila de pé, da esquerda para a direita: (iv) Abel Rodrigues (hoje bancário reformado, ex-Alf Mil, 3º Gr Comb, CCAÇ 12, membro da nossa Tabanca Grande); (v) Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira [, vive em Fafe]; (vi) Fur Mil Joaquim Augusto Matos Fernandes [, de óculos escuros, engenheiro técnico, vive no Barreiro, e é membrto da nossa Tabanca Grande]; (vii) 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão [, o homem que foi ferido duas vezes na Op Boga Destemida, vive na Covilhã]; Fernando Sousa (ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 12, vive na Trofa, e anda há um ano para entrar na nossa Tabanca Grande, já mandou as fotos da praxe...); e, por fim, (viii) 2º Sarg Inf Alberto Martins Videira [, vive ou vivia em Vila Real].

Na Op Boga Destemida, eu (que não tinha Gr Comb atribuído, mas alinhava em todas...) ia, mais uma vez, integrado no 3º Gr Comb da CCAÇ 12, comandado pelo Alf Mil Abel Rodrigues. (Na 5ª foto a contar de cima, apareço em segundo plano, de óculos, de pé, de perfil, virado para a mata, numa das paragens que fizemos, julgo que antes da emboscada, ainda no 1º dia...).

Fotos : © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7888: A minha CCAÇ 12 (13): Janeiro de 1970 (13): assalto ao acampamento IN de Seco Braima e captura de Jomel Nanquitande (Luís Graça)

(...) Na perseguição as NT fizeram um prisioneiro, de nome Jomel Nanquitande, ferido, deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (CCAÇ 12, a 4 GR Comb + CART 2520, a 2 Gr Comb, operação realizada a 13 de Janeiro de 1970, e que descreveremos no próximo poste desta série). (...)


(**) 30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8014: A minha CCAÇ 12 (15): Op Safira Única, 21 de Janeiro de 1970: Ir à Ponta do Inglês e, sem dar um tiro, recuperar 15 elementos da população, destruir dois acampamentos e aprisionar um guerrilheiro "em férias" (Luís Graça)

(...) (iv) Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou: (a) que ia recolher vinho de palma, (b) que a tabanca ficava próxima, (c) que não havia elementos armados e (d) que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha do Poindom.

(v) Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças, andrajosos e aterrorizados. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia balanta, estar alí a passar férias (sic) e pertencer a uma unidade combatente do Gabu (Nova Lamego). Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos. (...)

Estes dois camaradas guineenses podem ser alguns dos seguintes que compunham a 1ª secção: Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula); Sold 82108569 Sambel Baldé (Fula); Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (Fula); Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (Fula); Sold 82109169 Malan Baldé (Fula); Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (Fula); Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (Fula); Sold 82109969 Malan Nanqui (Mandinga).