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segunda-feira, 30 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4105: Carta aberta a... (3): Sr. gen Almeida Bruno (3): Agradecimento ao gen Almeida Bruno e a outros almeidas brunos (Pedro Neves)

1. Mensagem de José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCaç 4745/73 - Águias de Binta, Binta, 1973/74, com data de 29 de Março de 2009:

Caro Luís Graça

Cumprimentos a todos os camaradas, principalmente aos que passaram os meses de comissão na Guiné, em resorts pagos pelos nossos governantes de então e que em vez de termos vedações com arbustos e jardins floridos, piscinas e bares, suites e outros confortos a que tínhamos direito, fomos colocados dentro de vedações com arame farpado, barracas e barracões para dormirmos, em vez de camas normais, tinhamos colchões de ar, água da bolanha e água de furos, na maior parte salobra, comida liofilizada, ração de combate e tudo o que só nós sabemos, porque fomos nós que aguentámos meses e meses, todos os luxos com que nos contemplaram. Assim, com todas essas mordomias, quem é que queria sair do arame farpado, ninguem!!!

Mas tenho que agradecer ao sr. gen Almeida Bruno e aos muitos Almeidas Brunos, que por lá andavam, a preciosa ajuda que me deram, por ficar a saber passados tantos anos, que apesar de andarmos a fazer patrulhamentos, emboscadas, protecção aos trabalhos de abertura de estradas, sofrermos flagelações no mato e nos destacamentos, emboscadas e outros brindes, é que eramos BANDOS, porque ficávamos à espera que o IN viesse ao arame farpado, acordar o pessoal e isso chateava a malta.

Pura ignorância, Sr. Gen., porque para falar e dizer o que disse, o Sr. teria que, no mínimo, ter passado meses no mato e não em Bissau, no Q.G. e à noite no bar dos oficiais, a congeminar a estratégia no papel, junto dos seus acólitos, para que os BANDOS, vos guardassem as costas.

Os BANDOS não fomos nós, foram vocês, porque, quando foram visitar o destacamento em Binta, no norte da Guiné (este é apenas um exemplo e eu estava lá), a minha CCaç 4745 e outra que estava reduzida a metade e que pertencia ao Batalhão de Farim, andámos a dormir no mato (fora do arame), para que pudessem aterrar, mandar "bitates" e levantar rumo ao ar condicionado, de Bissau, nos ALOUETTS da comitiva, isto para que vossas senhorias, pudessem estar (dentro do arame), em segurança!!!

Tenho mais exemplos, mas mais uma vez agradeço ao Sr. Gen, ter divulgado o termo que eu andava à procura, pois não sabia se tinha sido combatente, guerrilheiro, herói, cobarde, assassino ou outros apelidos, que procurei durante estes anos todos, mas afinal fui chamado, juntamente com os outros camaradas, na sua maioria, de BANDOS.

Sr. Gen, tenha mais respeito por aqueles que tudo deram pela Pátria, alguns a própria vida e muitos sem saberem a razão do porquê de ali estarem e mesmo assim, defenderam com todas as suas energias, as costas de muitos, como o Sr. Gen, ou não foi assim?

Finalmente e nunca desprestigiando, as forças especiais tais como, Pára-quedistas, Fuzileiros e Comandos, até porque eu pertenci aos Rangers (Operações Especiais), devo dizer que essas forças "eram chatas como tudo", porque por duas vezes tivemos que fazer a cobertura das operações deles, na mata do CHANGALANA, (quando estávamos a fazer a protecção aos trabalhos da abertura da estrada JUGUDUL - BABADINCA) e por isso tivemos que "sair do conforto do arame farpado". Assim, tenho que concluir, que o Sr. Gen Almeida Bruno, andou na Guiné, apenas a ler possíveis relatórios, em vez de passar uns tempinhos connosco, noutros "arames farpados", que não os de Bissau!!!

Tenho muito mais a dizer, sobre alguma elite de iluminados dos oficiais generais, mas como a maior parte deles devem ter algumas luzes partidas e as que estão inteiras devem estar fundidas, dou desconto a essa gente, que não soube e não sabe dar o devido valor, a quem aguentou meses e meses de angústias, medos, desconforto, sem serem profissionais da guerra, (vocês sim, são profissionais) para que hoje possam estar vivos e dizer as baboseiras que lhes dá na gana. Por isso vemos hoje em dia, cada vez mais essa gente como "ASPORN" (Acessores de Porra Nenhuma)!!!

Luís Graça, possivelmente estamos a dar-lhe (ao Sr. Gen.) demasiada importância, ou talvez não?

Atentamente
José Pedro Neves
Ex Fur Miliciano de Op Esp
CCaç 4745 - Águias de Binta
GUINÉ
__________

Nota de CV:

Vd. último poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4104: Carta aberta ao sr. gen Almeida Bruno (2): Tinha pelo Gen João Almeida Bruno a maior consideração e respeito (J. Mexia Alves)

domingo, 29 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4104: Carta aberta a... (2): Sr. gen Almeida Bruno (2): Tinha pelo Gen João Almeida Bruno a maior consideração e respeito (J. Mexia Alves)

1. Mensagem de J. Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3942 (Xitole), Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e CCAÇ 15 (Mansoa), com data de 29 de Março de 2009:

Caros camarigos Luís, Carlos, Virgínio e todos os Atabancados

Tinha pelo Gen João Almeida Bruno, Major no meu tempo, a maior consideração e respeito.

O Maj Almeida Bruno foi a pessoa a quem pedi para sair da zona operacional do Batalhão de Bambadinca, por achar que tinha uma nítida incompatibilidade com o comando do Batalhão, e assim fui colocado na CCaç 15 dos Balantas de Mansoa.

O Maj Almeida Bruno era ou é ainda, também, amigo de um dos meus irmãos mais velhos que foi piloto da Força Aérea nos anos cinquenta.

Tudo isto para dizer que algo me ligava ao Gen Almeida Bruno, para além do respeito e consideração que me merecia.
Pois tudo isso desapareceu com esta frase do referido senhor.

Não foi uma frase infeliz!
Só o podia ser, se este militar não tivesse conhecimento do que se passava na Guiné, mas ele sabia bem e tinha acesso a toda a actividade operacional das companhias de quadrícula da Guiné.
Se havia algumas unidades, poucas, muito poucas, que se fechavam no arame, a maior parte delas cumpriam com grande risco a sua missão, indo muitas vezes para além dela.
Basta perceber que se Bissau nunca teve quaisquer problemas, era porque as unidades militares estacionadas na Guiné cumpriam o que lhes era exigido e elas se exigiam.
Aliás, a maior parte das pouquíssimas companhias que se fechavam no arame acabavam normalmente por pagar caro essa atitude.

A frase do Gen Almeida Bruno ofende-me mais que o recente artigo da Visão que fez levantar a nossa indignação.
Um jornalista, se pode ter conhecimento das coisas, pode não as ter vivido e portanto não poder aferir daquilo que notícia.

O Almeida Bruno tinha conhecimento e sabia das condições em que a maior parte das unidades militares viviam e cumpriam a sua missão, pelo que tinha de elogiá-las e ser-lhes profundamente agradecido.

Talvez Almeida Bruno devesse ter passado 9 meses no Mato Cão, enterrado num buraco no chão, sem luz e sem água, tendo por companhia a enormidade da mata envolvente e como meio de transporte um sintex a remos.
Talvez então percebesse! Mas a verdade é que ele sabia isto tudo e mesmo assim não se coibiu de proferir a aleivosia que proferiu.

Espero que o Almeida Bruno se retrate do que disse, e peça desculpa aos militares que deram as suas vidas na guerra da Guiné.
Assim talvez volte a ser na minha memória o homem que respeitei e pelo qual tinha consideração.

Julgo que deveriam ser enviadas ao Almeida Bruno todas estas mensagens de indignação dos ex-combatentes desta Tabanca Grande.
Mas também, não é pelo que um senhor militar diz, que a nossa honra e dignidade é afectada.
Quando as coisas ditas são tão longe da realidade e tão acintosas, o seu veneno acaba por cair em cima de quem as proferiu.

Abraço camarigo a todos do
Joaquim Mexia Alves
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4103: Carta aberta ao sr. Gen Almeida Bruno (1): Sinto-me muito honrado em ter pertencido a um dos tais bandos (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P4103: Carta aberta a... (1): Sr. Gen Almeida Bruno (1): Sinto-me muito honrado em ter pertencido a um dos tais bandos (José Teixeira)

1. O nosso camarada Zé Teixeira, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70, que nos honra de vez em quando com as suas fabulosas estórias cheias de humanidade, enviou-nos hoje esta mensagem em tom que não é de todo o seu habitual.

Camaradas:
Como o Sr. General podia estar calado e assim não corria o risco de dizer baboseiras que nos ofendem, eu correndo o mesmo risco, mas em sentido contrário, também não me calo, porque quem cala consente.

Um abraço para toda a tabanca.
José Teixeira
Esquilo Sorridente


CARTA AO sr. GENERAL ALMEIDA BRUNO

Senhor General:

Eu sinto-me muito honrado em ter pertencido a um dos tais “bandos” que vaguearam pela Guiné e se “escondiam” atrás do arame farpado muito calmamente à espera que o inimigo nos viesse visitar. Outros, com muito mais categoria e responsabilidade o faziam no ar condicionado e longe do perigo, escondidos em Bissau.

As suas afirmações foram a resposta à questão que me perseguia desde o dia em que pisei o “tchão” da Guiné. Agora entendo o porquê de durante dois longos anos que por lá andei em bando (felizmente não era de malfeitores – provam-no a forma como tenho sido recebido pelas populações que tenho visitado ultimamente ). Porque é que os oficiais do Q.P. eram aves muito raras no teatro profunda da guerra?

Lá nos locais por onde andávamos, e lutávamos em nome de uma Pátria, e chorávamos de desespero ao vermos os camaradas caírem, e partirem para a eternidade ou feridos gritarem pela mãe e se agarrarem a pagela da Mãe do Céu última esperança de salvação, ou, de medo por sentir que o próximo podia ser qualquer um de nós.

Lá nesse inferno conheci poucos. O Capitão Rei (dos Lenços Azuis) e os Majores Carlos Azeredo e Carlos Fabião de quem guardo, e, creio mesmo muitos camaradas dos tais bandos estarão de acordo comigo, as melhores recordações e o Capitão da 15 .ª de Comandos que fazia jus em partir com os seus homens para o mato, tropa especialista que me habituei a admirar, pela coragem e abnegação, mas que pelos vistos também fazia parte dos tais bandos.

Constou-me que havia um capitão do Q.P. em Gandembel, mas estranhamente nas vezes que lá fui (o bando às vezes fazia umas pequenas saídas para se divertir) estava sempre para Bissau.

Havia ainda um outro, o senhor mesmo, com a patente de capitão, que apareceu algumas vezes, vindo do céu, a acompanhar o Comandante Geral. Estou a ver a sua imagem de óculos escuros tipo James Bond, luvas brancas, botas a brilhar e de camuflado ainda virgem. Isto é, ainda cheirava a novo, nunca tinha passado pelas águas fétidas e sujas da bolanha e dos tarrafos. Não estava manchada pelo suor que nos derretia nas longas caminhadas à caça do inimigo, em operações que os senhores do Q.P controlavam e comandavam, mas, de avião. Nem surrado dos dias e noites passados em emboscadas, colado à terra vermelha e quente, onde expectantes observávamos o terreno na mira de alguém desprevenido que ousasse por ali passar... Havia ainda as colunas, que o Senhor não fazia e a massacrante e arriscada segurança na construção de estradas e depois... o descanso no serviço à segurança da Unidade.

Pode crer que fazíamos isto tudo para nos divertirmos. A prova está nos cerca de 10.000 mortos e muitos mais, feridos fisicamente nestas diversões e os que ainda hoje sofrem as mazelas físicas e psíquicas daquelas andanças.

Era este o trabalho que estes bandos de que o senhor falou com tanto desdém faziam na Guiné, mas para quem estava em Bissau, nas bolanhas de alcatrão e casernas de ar condicionado, não era nenhum trabalho especial. Pelo menos servíamos para isolar Bissau do perigo da presença armada do Inimigo por perto, podendo os senhores da guerra, dormir descansados. Dê-nos pelo menos esse mérito, senhor general.

Deixe-me dizer-lhe ainda, que agora entendo porque razão a classe militar e a classe politica, dá o mais profundo desprezo aos combatentes que tanto deram pela Pátria, abandonando-os à sua sorte.

Quantos de nós ainda sofre na pele as mazelas do que viveram na guerra.

Quantos de nós não consegue dormir uma noite em paz, perseguido pelos fantasmas que ganhou (as medalhas) na guerra.

Quantos de nós tem uma vida destabilizada, pessoal e familiar, pelas doenças do foro psicológico que persistem e os inibe, por exemplo, de trabalhar de se relacionarem como pessoas com pessoas.

Quantos de nós procuram no álcool e nas drogas um lenitivo que faça esquecer.

E os que ficaram no terreno em campas perdidas no mato. Esquecidos de todos, menos dos camaradas e da família que não consegue fazer o luto e mantém a dúvida.

Agora entendo senhor general, nas suas palavras a razão de tantas perguntas que, nós os combatentes, fazemos a nós mesmos e para as quais não tínhamos resposta – Afinal éramos uns bandos armados a mamar o sangue da Pátria.

Que tristeza ouvir da sua boca, da boca de um distinto general de óculos escuros, tanta baboseira.

Até o General Spínola, que me habituei a respeitar como um comandante dos que há poucos, por este mundo fora e tanta consideração expressava por nós a tropa macaca, deve ter dado umas voltas no caixão e se pudesse lhe arrancaria os galões, como fez a alguns que considerava indignos de os usar.

José Teixeira
1.º Cabo enfermeiro
Guiné 1968/1970
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Guiné 63/74 - P519: Carta aberta a... Ao Luís (Jorge Cabral)

Mensagem do Jorge Cabral (ex-Alf Mil Art, comandante do Pel Caç Nat 63, Bambadinca, Fá e Missirá, 1969/71). Esta carta (aberta), dirigida à minha pessoa, honra-me e sensibiliza-me. Prendem-me, ao Jorge, laços de amizade e de cumplicidade.
Orgulha-me tê-lo cá, nesta tertúlia, entre amigos e camaradas. Obrigado, Jorge, pela tua (corrosiva) lucidez e sobretudo pela tua (generosa) abertura de espírito à aventura humana e à descoberta do outro bem como pelo teu arreigado anti-etnocentrismo. Poupa-me as palavras. Por mim, disseste tudo... LG

Caro Luís,

Nunca será demais enaltecer o teu blogue, o qual nos tem permitido, principalmente recordar.

Como tu dizes, fui um tropa desalinhado, marginal e quase sempre provocador, características que mantive ao longo da vida. Sempre procurei realçar os aspectos ridículos das pessoas e situações, gozando e criticando, às vezes com um humor um demasiado ácido…

Sobre a Guerra Colonial na Guiné, sei que lá estive, e procurei ver.

Não sinto nem orgulho, nem vergonha.

Não fui herói, nem cobarde, limitei-me a garantir a minha sobrevivência, bem como a dos que comigo se encontravam.

Tratava-se obviamente de uma guerra absurda e previsível, logo evitável, para a qual nos mandavam mal preparados, num estado de absoluta ignorância sobre o país, sua gente e cultura (contei-te daquele soldado-periquito, que apresentado em Missirá, me pediu para ir ver o jogo do Sporting que dava na televisão naquela note, na Tasca da Muda, ali mesmo à esquina…).

Se alguma qualidade intelectual possuo é a curiosidade, que me leva a tentar compreender tudo e todos, ciente que as diferentes formas de estar e ser são legítimas e sempre explicáveis.
Assim, na Guiné, quer em Fá, quer em Missirá, procurei entender, e através de longas conversas com Homens e Mulheres Grandes aprendi alguma coisa. Dessa forma me inteirei da excisão (a qual depois presenciei) e do infanticídio ritual, dois temas que há mais de vinte anos, falo nas minhas aulas.

Percebi que uma Guiné idílica e pacífica, de negros portuguesismos, nunca existira… Todo o território ao longo dos séculos foi palco de imensas guerras, sangrentas repressões e alguns desastres das nossas tropas. Perante o meu espanto, indicaram-me em Fá, o local onde no tempo, dos avós, dos avós deles, havia sido aprisionado o Governador, que teve de pagar resgate aos beafadas (1). E em Missirá levaram-me a conhecer o campo onde as forças portuguesas e seus ajudantes estiveram longo tempo entrincheirados, preparando a conquista de Madina/Belel, na luta contra o grande guerreiro Unfali Soncó, no princípio do século XX (2).

Foram também os velhos que me falaram de Abdul Injai, régulo do Cuor e do Oio, companheiro de Teixeira Pinto, herói tão amado quanto odiado, caído em desgraça no fim da vida, e degredado para Cabo Verde.

Chegado a Lisboa, e desde então tenho tentado estudar, convicto que é impossível compreender a guerra colonial e o que se seguiu, sem reflectir na história do país e nas múltiplas acções de resistência armada contra os Portugueses.

Claro que o PAIGC, ao iniciar a Luta Armada pretendeu aglutinar todas essas resistências sectoriais, num projecto global de Libertação, que simultaneamente edificasse o Estado Nação. Pelo menos a Libertação foi conseguida…

Tendo estado sempre com tropa africana e milícias, não fiquei indiferente ao que aconteceu aos meus soldados, uns obrigados a fugir e outros fuzilados.

Alguns ainda hoje lutam por uma pensão, e há poucos anos, tive de confirmar por escrito, que um servira no exército português.

Discutir agora quem foi o responsável pelos fuzilamentos, se foi o Nino ou o Luís Cabral, parece-me supérfulo. A responsabilidade cabe por inteiro aos Portugueses, que não souberam garantir a segurança dos militares africanos. Procederam como os seus antepassados, pois o destino dos aliados dos portugueses, foi sempre o mesmo. Abandonados à sua sorte, vitimas das represálias dos vencedores… Ás autoridades negociadoras competia proteger todos os que lutaram integrados no Exercito Português e mesmo assegurar aos que quisessem, a nacionalidade portuguesa. Isso sim, teria sido uma atitude revolucionária. Foram conservadores. Contradições características de uma descolonização tardia e apressada…

Desculpa a seriedade deste arrazoado, mas considero importante contribuir para a destruição de certos mitos e equívocos, naturalmente persistentes numa ex-potência colonial.

Um grande abraço
Jorge
_________

(1) – ocorreu em 1861 no âmbito de uma “campanha” contra os Beafadas de Badora, os quais prenderam o Major Correia Pinto, encarregado da Administração da Província na ausência do Governador. Também nessa altura foram hasteadas bandeiras britânicas, em Bambadinca, Fá e Ganjara.

(2) – tratou-se de uma das mais importantes "operações" ocorridas antes da Guerra Colonial. Os efectivos das N.T. eram para a época impressionantes. Estando 50 marinheiros destacados em Bambadinca, a coluna comandada pelo Governador Muzanty, compreendia:
- 7 oficais do estado maior,
- uma companhia da marinha (4 oficiais e 132 marinheiros),
- uma companhia de infantaria metropolitana (5 oficiais e 251 sargentos e soldados),
- uma companhia mista de infantaria (3 oficiais e 101 atiradores),
- uma bateria de artilharia (3 oficiais e 69 sargentos e soldados),
- mais sete oficias (médicos veterinários e de intendência),
- a que é preciso acrescentar o “exército” de Abdul Injai (2 oficiais, 2 chefes e 100 cavaleiros) e
- ainda a nona companhia indígena de Moçambique.

Pois toda esta tropa, atravessou o rio frente a Bambadinca, tendo conquistado todas as tabancas, até junto de Missirá, onde em Carenquecunda, acampou, cavando trincheiras, e preparando a conquista de Madina, que veio a ser tomada em 9 de Abril de 1908, tendo tido papel determinante Abdul Injai e os seus 100 cavaleiros.

Também eu entrei em Madina em 1971, sem cavaleiros, mas à custa de um decisivo apoio aéreo.

P.S. – o desastre do Cheche, tem um antecedente histórico ocorrido em 30 de Dezembro de 1878 na Ponta de Bolor, entre os Felupes. Porém deste, em que morreram mais de 50 militares, conhecem-se os que pela sua incompetência, foram responsáveis: o Governador António José Cabral Vieira e o Tenente Calisto dos Santos.