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quinta-feira, 8 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22081: (In)citações (184): O martirológio do Boé - Ainda a propósito da(s) jangada(s) do Cheche e dos mártires do Boé: o Major Luís Vasco Pedras, da Chefia do Serviço de Material e o Fur Mil Abílio Jorge, do BENG 447 (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 7 de Abril de 2021:


O martirológio do Boé

I - Acabo de ler no poste P22059 do Virgílio Teixeira o que escreveu sobre a temática da jangada do Cheche e a actividade da minha CART 1742.

Para que não sejam terceiras pessoas a falar sem terem conhecimento da actividade da companhia de que fiz parte, com muita honra, e que defendo com todo o fervor, começo por apresentar a CART e a síntese da sua actividade operacional, embora faltem alguns elementos à História da Unidade. 
Envio mapa do sector Leste com sede em Nova Lamego, que está representado com a cor laranja, o terreno que a companhia calcorreou.

Janeiro

Vamos a factos.
Foto 1 - Jangada de três canoas com pessoal da 1742, que passo a identificar. Da da esquerda para a direita: Sousa, Maurício, Neto, furriel Viola, Fonseca e Clérigo. Há mais elementos mas já não recordo os seus nomes.
Foto 2 - Neto e Fonseca puxando a jangada a braço, era assim que a travessia era feita por não haver motor auxiliar. Reporta-se a terça-feira, 17 de Janeiro de 1968, aquando da escolta à CCAÇ 1790 do Capitão Aparício que foi para Madina render a CCAÇ 1589 que tinha acabado a sua comissão.

Fevereiro

Dia 07 - Mais uma viagem a Béli, a jangada era a mesma.
Dia 29 - Mais uma viagem a Madina, a jangada era a mesma.

Março

Dia 20 - Mais uma viagem a Béli, a jangada continua a ser a mesma.

Esta é a verdade dos factos, a CART 1742 fez a travessia do rio Corubal quatro vezes, ida e volta, sempre na mesma jangada de três canoas, que transportava viaturas e pessoas, nunca vez alguma houve jangada só para transporte de pessoas. Quanto à jangada de duas canoas, nunca a vi.

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II - Emboscada entre Canjadude e Piche

A emboscada foi no 4.º trimestre de 1967 muito próximo do Natal, dia 14 de Dezembro, na qual morreram, o Alferes Gamboa,  da CCAÇ 1586,  e o 1.º Cabo Radiotelegrafista José Alves,  do EREC 1578, tendo ainda ficado ferido um soldado. 

O Alferes Gamboa ficou sem um dos galões e ao 1.º Cabo Alves foi-lhe retirada a correspondência que levava, para enviar à família quando chegassem a Bissau, já que a sua unidade estava a poucas semanas de regressar à metrópole. Essa correspondência foi lida aos microfones da rádio da libertação em Argel, que comoveu e revoltou quem a escutou.
 
O socorro foi feito por dois pelotões da CART 1742 que, chegados ao loca,  nada puderam fazer por aqueles camaradas que perderam a vida no fim da comissão de serviço.

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III - Emboscada a caminho do Cheche

A 24 de Janeiro de 1968 uma coluna que se dirigia ao Cheche com abastecimento para a malta lá instalada, um dos produtos transportados eram bidões de combustível, foi emboscada a meio caminho entre esta localidade e Canjadude, o que causou muitos feridos e a morte a 6 militares, dois continentais e quatro africanos, que morreram carbonizados junto das viaturas em chamas, quando rebentaram os bidões  durante a flagelação do IN.

A CART 1742, às 4.30 horas do dia 25, com dois pelotões, foi em socorro dos camaradas, onde foram encontrar um cenário dantesco, pessoal gritando, outros gemendo, viaturas queimadas. O nosso pessoal necessitou de colocar lenços no rosto devido ao cheiro a carne queimada, mas apesar de tudo que vimos, e como soldados que somos, reagimos, começando organizar a retirada do local para sairmos daquele inferno, rumando a Nova Lamego, onde chegamos dia 26 pelas 16 horas com um espólio macabro.

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IV - A morte do major Pedras

Aquando de uma operação que a CART 1742 fez ao Monte Siai no dia 12 de Janeiro, com contacto com o IN, e que provocou alguns feridos graves nas NT, entre eles o Alferes Magalhães, o Enfermeiro Aníbal, o Martins de transmissões e o Aguiar, conhecido por Arrifana (por ser natural desta freguesia do concelho de S. João da Madeira), que foi ferido e apanhado pelo IN. (Levado para Conakry, foi um dos camaradas libertados na Operação Mar Verde.)
 
Após termos repelido o ataque de que fomos alvo, deslocamo-nos para o aquartelamento do Cheche, local de reunião estabelecido pelas chefias militares, e já muito próximo do ponto de reunião ouvimos o som de rebentamentos, no lado contrário do Monte Siai, rebentamentos esses que foram provocados pela primeira viatura da coluna que vinha evacuar a companhia para Nova Lamego.

O Major Pedras, que pertencia ao Serviço de Material do QG, vinha nessa coluna assim como o Furriel Jorge que pertencia ao BENG 447, e que na altura se encontravam em Nova Lamego, onde aproveitaram a “boleia” para verificarem as instalações do aquartelamento, em especial a célebre jangada que ainda hoje provoca opiniões divergentes. 

Essa coluna caiu num campo de minas AC/AP do IN, instalado a pouca distância do quartel. O Major Pedras seguia sentado ao lado do condutor e o Furriel Jorge na caixa de carga da GMC, que estava equipada como rebenta-minas com materiais pesados e sacos de areia.
 
A mina foi acionada pelo rodado da frente da viatura, do lado do condutor que pertencia à CART 1742, que foi ejectado da mesma e caiu no meio do mato sem ferimentos, já o Major após o sopro, bateu com as pernas na parte interior do habitáculo da GMC de onde foi retirado para evacuação. O Furriel Jorge e um soldado africano foram cuspidos, caindo no meio do campo de minas e armadilhas, tendo ambos ali mesmo falecido.
Eu junto da GMC da CART 1742 que acionou a mina AC que vitimou o Major Pedras, o Furriel Jorge e um soldado guineense.

Aproveito para rectificar duas afirmações do Virgílio Teixeira. Diz ele que o Major Pedras foi morto por uma bazucada mas não é verdade, como acima digo, foi vitimado pelo rebentamento da mina, tendo falecido no dia 15 de Janeiro no HM 241.
 
Também diz que um soldado condutor que passou várias vezes naquele local e que assistiu a tudo, lhe contou que ajudou a transportar o Major Pedras para o héli. Como foi isto possível se após algum rebentamento toda a coluna pára e quem está para trás não avança? Ninguém saía do sítio em que se encontrava, fico admirado com o Virgílio por corroborar com tais afirmações.

quarta-feira, 31 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22053: Casos: a verdade sobre ...(21): a jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, já era assente em três canoas, no meu tempo, c. set 1967 / c. abr 1968 (Abel Santos, sold at, CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, jul 1967 / jun 1969)

Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Rio Corubal > CART 1742 > c. set 1967 / c. abr 1968 >  A jangada com estrado assente em três canoas... O Abel Santos diz que a a foto é de janeiro de 1968, ou seja, um ano antes da Op Mabeco Bravios.


Guiné > Região de Gabu > Cheche > Rio Corubal > CART 1742 > c. set 1967 / c. abr 1968 >  O pessoal puxando a braço a corda que fazia deslocar a jangada.

Fotos (e legendas): © Abel Santos  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Abel Santos (ex-Sold Atir,  CART 1742, "Os Panteras",
 Nova Lamego Buruntuma, 1967/69)

Data - terça, 16/03/2021

Assunto - Poste 21949 Retirada  de Madina do Boé. 

Boa tarde,  meu amigo e camarada Luís Graça.

Lendo o poste em epigrafe (*) e as declarações nele introduzidas pelo senhor tenente coronel José Aparício, noto que há algumas inverdades inseridas no texto.

A certa altura o ten cor  José Aparício escreve que não havia jangada com três canoas, mas só com duas,  o que não é verdade, e para confirmar o que digo envio fotos da jangada na qual a minha CART 1742 fazia a travessia do rio Corubal (4 x 2) para Madina do Boé e Béli, aquando das colunas de reabastecimento aos camaradas ali colocados. 

Uma foto mostra a rapaziada da minha companhia que fazia o trajeto de ida e volta [Foto nº 1] , na outra foto vemos o pessoal puxando a braço a corda que fazia deslocar a jangada, porque não havia o tal motor auxiliar.[Foto nº 2]

A minha opinião em relação ao acidente no rio Corubal foi excesso de peso que a jangada levava a bordo, o que originou entrada de água nas canoas e, com corrente forte a meio do rio, adornou. Por precaução e segurança o nosso comandante nunca excedia o peso, levando em cada travessia 2 viaturas e os dez homens que puxavam a corda, que eram substituídos após a segunda travessia. (**)

Abel Moreira dos Santos, 
soldado de artilharia da CART 1742,
Nova Lamego, Buruntuma 
30 de Julho 1967/06 junho 1969. (***)

___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 26 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21949: Op Mabecos Bravios: a versão da CECA e do ex-cap inf José Aparício, comandante da infortunada CCAÇ 1790, a última companhia de Madina do Boé

(...) A travessia do rio Corubal era então [, antes da Op Mabecos]  feita por uma jangada constituída por uma plataforma sobre 2 canoas; um longo cabo ligando 2 pontos fixos instalados em cada margem corria numa roldana instalada na plataforma; a impulsão necessária para mover a jangada era dada pela força braçal dos militares puxando manualmente o cabo.

Como segurança do movimento, uma embarcação "Sintex" com motor fora de bordo acompanhava lateralmente cada movimento de vaivém, pronta para qualquer emergência. (...)
 


(**) Vd. postes de:

25 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )

(...) No Gabu (então Nova Lamego) construiu-se uma nova jangada que depois foi levada para o Cheche onde a que lá estava foi devidamente reforçada. 

Estas jangadas eram constituídas por um forte estrado dotado de vedações laterais e assente em bidões vazios e em três “barcos” formados por grandes troncos de árvores escavados [canoas]. Estrutura esta que, com a jangada descarregada, colocava o estrado a cerca de um metro da água.

As jangadas eram consideradas muito seguras e incapazes de se voltarem ou afundarem, desde que não fossem excessivamente carregadas. 

Calculava-se que aguentariam um peso de dez toneladas. Mas para maior segurança a O.Op. proibia que fossem transportados mais de 50 homens de cada vez. (...)


26 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18871: Para que os bravos de Madina do Boé, de Béli e do Cheche não fiquem na "vala comum do esquecimento" - Parte III: A operação rotineira de manobra e montagem da segurança da jangada que fazia a travessia do Rio Corubal, no Cheche: fotos do álbum do Manuel Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Bissau, Fá Mandinga, Nova Lamego, Béli e Madina do Boé, 1966/68)


(***) Último poste da série > 15 de fevereiro e 2021 > Guiné 61/74 - P21903: Casos: a verdade sobre... (20): a canoa abandonada na bolanha, na Tabanca Velha, Nova Sintra, e que servia de diversão para a rapaziada... (Carlos Barros, ex-fur mil, 2ª C / BART 6520/72, 1972/74)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21949: Op Mabecos Bravios: a versão da CECA e do ex-cap inf José Aparício, comandante da infortunada CCAÇ 1790, a última companhia de Madina do Boé


Guiné > Região de Gabu > Carta de Jábia (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ché Ché, na margem esquerda do Rio Corubal. 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Há operações que ficaram na nossa memória,por uma razão ou outra, boa ou má...  A Op Mabecos Bravios (retirada do aquartelamento de Madina do Boé, sector L3, de 2 a 6 de fevereiro de 1969) é daquelas que nos marcaram para sempre, pela tragédia que ocorreu na travessia do rio Corubal, em Cheche (ou Ché Ché).  O descritor, Op Mabecos Bravios,  tem já 30 referências no nosso blogue (*). 

Mas faltam aqui ainda outras versões. Como se sabe, continua ainda a haver controvérsia sobre a etilogia do acidente que provocar 47 vítimas mortais. Encontrámos esta versão no livro da CECA (2014), com o valioso testemunho do ex-comandante da infortunada CCAÇ 1790,  o então cap inf José Aparício, hoje cor inf ref.

Corrigimos as datas, que não estão corretas. Mantemos o topónimo Ché Che, usada pela CECA (Comissão para Estudo das Campanhas de África), embora na carta de Jábia o topónimo grafado seja Ché Ché. No nosso blogue temos usado a grafia Cheche (que tem mais de 7 dezenas de referências).

Faz-nos falta ainda, aqui,  um importante testemunho, o do ex-alf mil José Luís Dumas Diniz,  da CART 2338, responsável pela segurança da jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, aquando da retirada de Madina do Boé. 

Com a história da pandemia, está por realizar o prometido encontro do nosso editor Luís Graça com ele. Como há tempos escrevemos aqui, uma peça fundamental neste feliz encontro foi (e vai ser) o ex-alf mil trms, Fernando Calado, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande, e meu contemporâneo da Guiné (estivemos juntos, em Bambadinca, entre julho de 1969 e maio de 1970). Foi o Fernando Calado que me pôs em contacto com o José Luís Dumas Diniz. Enfim, dificuldades de agenda, de parte a parte, ainda não nos permitiram fazer esse encontro a três. O Dumas Diniz vive, a maior parte do tempo, em Coruche, se não erro.


Operação "Mabecos Bravios" , de 2 a 7 de fevereiro de 1968

Forças envolvidas:

CCaç 1790
CArt 2338 (-)
CCaç 2383 
CCAÇ 2403
CCAÇ 2405
CCAÇ 2436
CArt 2440,
CCaç 5 (1 Gr Comb)
Pel Mil 161
Pel Rec Daimler 1258 (-)
Pel Sap /  BCaç 2835

Estas forças, com APAR [, apoio aéreo], efectuaram uma escolta no itinerário Nova Lamego - Madina do Boé - Nova Lamego, pertencente à Zona Leste, Sector L3 [, BCAÇ 2835].

Foi accionada mina A/C no cruzamento de Beli, sem consequências; e foram detectadas e destruídas 2 minas A/C entre Ché Che e Canjadude. Durante a operação, Madina foi flagelada 4 vezes sem consequências.

No regresso, na travessia do rio Corubal, um acidente com a jangada que transportava forças de segurança da retaguarda provocou a morte de 47 militares das NT (2 sargentos, 43 praças e 2 Milícias).


Guiné > Região de Gabu > Madina do Boé > CCaç 1790 > 5 [?] de fevereiro de 1969 > Missa celebrada pelo Bispo de Madarsuma e Capelão-Mor das Forças Armadas, Brig António Reis Rodrigues (1918-2009) (e também procurador à Câmara Corporativa, na VIII Legislatura, 1961/65, como representante da Igreja Católica).

Foto: Cortesia de CECA (2014), p. 353. (Com a devida vénia)



NOTA:  Acidente no rio Corubal em 6 [e não 8] de Fevereiro de 1969 - Dados fornecidos pelo Tenente-Coronel José Ponces de Carvalho Aparício, à época Cmdt da CCaç 1790 aquartelada em Madina do Boé.

"Na Guiné-Bissau nos anos 60 a travessia do Rio Corubal para a região do Boé era feita, como hoje, junto à povoação do Ché Che onde durante a guerra se encontrava ali em permanência uma força militar de um pelotão de infantaria, reforçado com uma secção de morteiros de 81 mm.

Esta travessia era então obrigatória para a rendição das forças militares portugueses estacionadas em Madina do Boé e Beli, e ainda para o reabastecimento daquelas forças que na época das chuvas (cerca de 6 meses) ficavam completamente isoladas.

Por isso, durante a época seca realizavam-se normalmente 2 colunas por mês, cada uma escoltada por uma companhia reforçada com um pelotão de autometralhadoras "Fox" ou "Daimler" e com protecção aérea permanente.

Cada coluna era constituída por um elevado número de viaturas, cerca de 20 a 30, carregadas com munições e reabastecimentos.

A travessia do rio Corubal era então feita por uma jangada constituída por uma plataforma sobre 2 canoas; um longo cabo ligando 2 pontos fixos instalados em cada margem corria numa roldana instalada na plataforma; a impulsão necessária para mover a jangada era dada pela força braçal dos militares puxando manualmente o cabo. 

Como segurança do movimento, uma embarcação "Sintex" com motor fora de bordo acompanhava lateralmente cada movimento de vaivém, pronta para qualquer emergência.

Em Fevereiro de 1969 após a decisão do Comando-Chefe da Guiné de abandonar todo o Boé [,  
Directivas n° 1/68 de 1 Jun, 20/68 de 25 Jul e 59/68 de 26 Dez do Cmdt-Chefe] - sendo que  Beli já tinha sido abandonado meses antes retirando para Madina do Boé todas as forças ali estacionadas - foi desencadeada a operação "Mabecos Bravios" sob o comando do agrupamento n" 2957 [, cmdt: cor inf Hélio Felgas]. 

Uma enorme coluna com cerca de 50 viaturas pesadas escoltadas por 2 Companhias de Caçadores, e dois pelotões de autometralhadoras, e com apoio aéreo permanente, chegou a Madina do Boé na tarde de 07  de Fevereiro de 1969.

A esquadra de helicópteros simulou durante a tarde lançamento de forças nas colinas de Madina para tentar evitar as habituais flagelações por morteiros e canhões sem recuo.

Durante toda a noite desse dia as viaturas foram carregadas com as toneladas de munições, armamento pesado, e todo o equipamento e material aproveitável ali existente; na manhã de 5 [, e não 7,]  de Fevereiro iniciou-se o movimento para o Ché Che, onde a coluna chegou no final da tarde desse dia. 

Por decisão do comandante da operação, o número de dias previsto para a sua realização foi reduzido de vários dias, para libertar os meios aéreos empenhados; e a travessia do rio Corubal iniciou-se logo de seguida, com inúmeras travessias efectuadas durante a noite com muitas dificuldades e problemas no embarque na jangada das viaturas carregadas ao limite.

Para a realização da operação de evacuação do Boé, foi construída uma jangada nova, maior que a anterior, com um estrado sobre 3 canoas. 

Em vez da corda inicial, o movimento da embarcação era garantido pelo "Sintex" com motor fora de bordo amarrado à jangada, do lado de jusante do rio, e operado por um sargento de Marinha requisitado para o efeito. 

A velha jangada esteve sempre acostada na margem direita.

Nas travessias do rio durante a noite, com as viaturas foram também indo passando secções dos militares empenhados. 

No início da manhã de 6 [e não na tarde de 9]  de Fevereiro de 1969, na última e fatídica viagem, embarcaram a parte que restava dos militares das CCaç 2405 e da CCaç 1790, cerca de 80 a 90 militares. 

A meio do rio, uma aceleração brusca do motor do "Sintex" fez erguer a frente de bombordo da jangada; tendo sido dada logo ordem para reduzir a velocidade, a jangada fez o movimento pendular inverso, desta vez mergulhando ligeiramente no rio a frente de estibordo, as canoas ficaram cheias de água mas o tabuleiro ficou flutuando, com os militares a bordo com água pelos tornozelos.

Chegados à margem direita, ao proceder-se à contagem constatou-se a falta de 47 militares das duas Companhias.

O Comandante da Operação {, cor inf Hélio Felgas,] não permitiu que as duas Companhias [, CCAÇ 1790 e CCAÇ 2405] permanecessem no Ché Che para tentarem recuperar o maior número de corpos possíveis, seguindo por isso logo para Nova Lamego.

O acidente em causa deu origem de imediato a um Auto de Corpo de Delito, e a longas e complexas averiguações, incluindo todos os aspectos da operação, que em 1970 terminaram em julgamento em Lisboa no 3.° Tribunal Militar Territorial, que durou várias sessões e que terminou com a absolvição do único réu, o alferes miliciano comandante do Destacamento estacionado no Ché Che [, pertencente à CART 2338, Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Buruntuma, Pirada, 1968/69]
 ".

__________

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné -  Livro I  (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 353-355. 
___________

Nota do editor:

(*) Vd. alguns dos muitos postes sobre este doloroso dossiê:

1 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - 21724: Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403, na
retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Hilário Peixeiro, cor inf ref)

6 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19476: Recortes de imprensa (101): o desastre do Cheche, no rio Corubal, ocorrido na manhã de 6/2/1969 (Diário de Lisboa, 8 de fevereiro de 1969, p. 1)

13 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)

sábado, 16 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21772: (D)o outro lado do combate (64): o caso da jangada do Ché-Che em maio de 1965... (Jorge Araújo)


Foto 1: - Região do Boé > Rio Corubal > A jangada do Ché-Che. Foto publicada no cmjornal de 23 de Junho de 2013, em entrevista dada por António Manuel Baptista, furriel vagomestre da CCAV 702 / BCAV 705 (1964/1966), com a devida vénia. [Link: https://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/morreu-a-17-dias-de-voltar-a-casa].

 


Foto 2: - Região do Boé > Rio Corubal > 30 de Junho de 2018 > A jangada do Ché-Che, puxada à corda. Foto retirada do vídeo de Patrício Ribeiro (Ímpar Lda, Bissau), publicado no P18862, disponível em You Tube / Luís Graça, com a devida vénia.



Imagem de satélite da região do Boé (Centro – Sul), com infografia do triângulo Madina do Boé/Béli/Ché-Che, sinalizando-se o local da jangada que ligava as duas margens do rio Corubal.





O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior,  ainda no ativo; 
tem cerca de 280 referências no nosso blogue.

 


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

AMÍLCAR CABRAL E O BOÉ:

A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA REGIÃO

- O CASO DA JANGADA DO CHÉ-CHE DESTRUÍDA [?] EM 11MAI1965 -     

► ADENDA AO P21712 (30.12.20)

1.   - INTRODUÇÃO


Com a elaboração da presente adenda ao P21712 publicado no penúltimo dia do ano findo (*), pretende-se dar conta, no fórum, do que foi possível esclarecer quanto às dúvidas suscitadas na "análise de conteúdo" sobre a carta "mensagem" de Amílcar Cabral (1924-1973), datada de 01 de Julho de 1965, 5.ª feira, dirigida aos seus camaradas operacionais, combatentes do exército popular, instalados na região do Boé, onde faz constar o valor e importância estratégica que ele atribuía a esta região no desenvolvimento da luta armada.


Nessa "mensagem", o Secretário-Geral valoriza, sobremaneira, o desempenho tido pelos elementos comandados pelo cmdt Umaro Djaló (1940-2014) pelo facto de, entre outras acções, terem destruído (?) a «jangada do Ché-Che», em 11 de Maio de 1965, 3.ª feira, de modo a impedir, às NT, a travessia entre as margens do rio Corubal.


Ainda que não tivéssemos tido a "sorte" ou o "saber" de encontrar testemunhos escritos na literatura oficial, que pudessem validar mais uma (esta) ocorrência concreta, e histórica, da "guerra" no CTIG, sempre acreditámos que seria possível obter informações complementares produzidas por alguém que nela tivesse estado envolvido (informante privilegiado) ou que dela tivesse tido conhecimento.


E o objectivo de partida foi conseguido! Graças à pronta resposta ao nosso apelo, colocada pelo camarada Manuel Luís Lomba, da CCAV 703, na caixa de comentários ao poste supra, a quem agradecemos, permitiu-nos entender melhor o quadro factual, do objecto de estudo, por efeito da triangulação de conteúdos.


Como justificação metodológica, recuperámos alguns acontecimentos já narrados anteriormente, de modo a contextualizar o tema, quer do ponto de vista cronológico, quer no que concerne ao valor semântico de algumas expressões utilizadas.


2.   - MENSAGEM DE AMÍLCAR CABRAL

- Dirigida aos combatentes das FARP do Boé em 01Jul1965


Todos sabem que a região do Boé é muito importante para a nossa luta na nova fase em que nos encontramos, (…) se conseguirmos tirar dali todas as forças inimigas, criamos uma situação difícil para as tropas portuguesas que estão em Bafatá e no Gabu.


O Partido tem feito grandes esforços para libertar totalmente o Boé, onde tem operado uma subsecção e dois bigrupos bem armados. Sabemos que as nossas forças têm tido dificuldades por falta de consciência política da população e por falta de alimentação em alguns momentos numa região onde há pouca comida. Vocês têm feito algumas acções boas e conseguiram destruir [?] a «jangada do Ché-Che» [em 11 de Maio de 1965, 3.ª feira, conforme comunicado manuscrito por Umaro Djaló, cmdt da subsecção "Rui Djassi"] e atacar Madina do Boé com sucesso. (…) Durante as chuvas, não faltará água. Por outro lado, o nosso Partido vai continuar a pôr à disposição dos combatentes do Boé todo o alimento necessário para um período de 2 meses. Não faltará armas nem faltará munições.


Sabemos que o inimigo já refez outra jangada, mas sabemos todos que ele tem pouca gente no Boé [CCAV 702]. Cremos que basta uma subsecção forte e decidida para criar ao inimigo uma situação difícil e correr com ele do Boé durante esta época das chuvas. Além disso, reduzindo o número de combatentes no Boé fica mais fácil dar comida para esses combatentes, em virtude das dificuldades de transporte durante as chuvas. (…)


O Boé tem condições muito favoráveis para a nossa luta. Desde que haja alimentação, não haverá razão nenhuma para não libertarmos (…) completamente o Boé até ao fim do mês de Julho [1965]. (…)


2.1        - Que devemos fazer para correr com os portugueses do Boé?

- Nós (PAIGC] deveremos:

(…)


■ 3. - Destruir a ponte da estrada do Boé que fica logo depois de Contabane. Minar essa estrada.


■ 5. - Destruir a jangada do Ché-Che, mesmo que para isso seja possível combater. Devemos atacar e destruir a jangada no momento em que esteja a trabalhar, quando chegar à margem do lado de Madina [do Boé].


■ 6. - Colocar armas pesadas no porto do Ché-Che para não deixar passar o inimigo.

(…)


Fonte: Citação: (1965), "Mensagem aos camaradas militantes e responsáveis, combatentes do exército popular em Boé", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40509


3.   -   DESTRUIÇÃO [?] DA «JANGADA DO CHÉ-CHE» EM 11MAI65

- Comunicado assinado pelo cmdt Umaro Djaló em 12Mai65


Comunicamos à direcção do nosso Partido que destruímos a «jangada do Ché-Che" no dia 11 do mês corrente [Maio'65], às 4 horas da manhã. Foi totalmente [?] destruída, e o homem que guardava a jangada conseguiu fugir no momento em que os camaradas progrediam em direcção do objectivo, e não conseguiram prendê-lo. Também os camiões [?] que se encontravam na travessia foram igualmente destruídos. (…)


Fonte: Citação: (1965), "Comunicado [Frente Leste]", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40708


4.   - REACÇÕES AO COMUNICADO DO CMDT UMARO DJALÓ


Três dias após a elaboração do comunicado assinado por Umaro Djaló, cmdt da subsecção "Rui Djassi" [nome atribuído em homenagem ao cmdt Rui Djassi "Faincam", que morreu nas matas de Gampará, em 24Abr64, durante a «Operação Alvor» (P19532)] e consequente envio aos dirigentes do PAIGC, instalados em Conacri, Aristides Pereira (1923-2011) enviou-lhe a seguinte missiva:


15 de Maio de 1965


Caro camarada Umaro [Djaló]:

Acabamos de receber a vossa comunicação relatando a liquidação [?] da jangada do CHECHE – um dos grandes objectivos da vossa missão nesta altura. Comunicamos imediatamente o facto ao camarada Secretário-Geral que se acha em viagem, pois bem sabemos a grande importância que ele dá a esse facto. Estamos muto satisfeitos com a vossa realização, e enviamos calorosas felicitações pela vossa determinação em cumprir as palavras de ordem do Partido, ao serviço da nossa luta. Estamos certos de que este primeiro êxito vos encorajará cada vez mais no cumprimento da missão sagrada do nosso povo, para correr com os colonialistas das nossas terras. Por outro lado, a nossa confiança actual se reforça com esta acção vossa, e a nossa convicção é cada vez maior de que levareis a bom termo a missão que vos cabe nesta fase da nossa luta. Mais uma vez parabéns a todos, sem nos deixarmos no entanto entusiasmar demais por este sucesso: muita vigilância. 





O Nino deve-se ter encontrado contigo e com certeza discutiram bastante no sentido da boa marcha da nossa luta nesse sector. Discutimos com ele a questão das munições que pedes, e ele deve satisfazer o teu pedido com o material que levou.


Vão os envelopes pedidos.


Saudações para todos os camaradas, e votos de saúde e cada vez mais coragem no nosso trabalho.


Para ti, abraço amigo do camarada de sempre,

Aristides Pereira.

 


Fonte: Citação:
(1965), Sem Título, Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39106

 

Ainda sobre o este assunto, e com a mesma data, Amílcar Cabral escreve a Nino Vieira (1939-2009), cmdt da Frente Sul e Leste, o seguinte:


▬ Conacri, 15 de Maio de 1965


Meu caro Nino,

Cheguei hoje a Conacri, depois de ter visto o Osvaldo [Vieira] e outros camaradas, no Senegal. Se vires o Umaro [Djaló] e os três camaradas da subsecção ["Rui Djassi"], apresenta-lhe as minhas felicitações pelo sucesso da missão à jangada do Ché-Che. Estou convencido que os nossos combatentes, o nosso povo, terá vitórias decisivas para a mudança da nossa luta, nessa área. Temos necessidade de preparar, no pouco tempo, camaradas nossos na utilização da nova arma que recebemos. Preferíamos que fossem camaradas que tenham certa experiência de armas anti-aéreas e por isso pensamos que o camarada Inácio [da Gama (?)] poderia regressar para essa preparação. Diz alguma coisa. É urgente. Envio-te o relógio pelo Inácio.


Saudações a todos os camaradas

Um abraço amigo do camarada.

Amílcar Cabral.

 


Fonte: Citação:
(1965), Sem Título, Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35318

 

5.   - CONTRIBUTOS DE MANUEL LUÍS LOMBA SOBRE A OCORRÊNCIA


Na qualidade de Fur Mil Cav da CCAV 703 / BCAV 705 (Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) o camarada Manuel Luís Lomba escreveu o seguinte:


(…) Ainda não havia tropa em Canjadude e ao segundo dia mandaram-me proteger a jangada do Ché-Che, reforçado com um canhão s/r (sem recuo) 10,7, montado num velho jipe Willis. Pela análise da situação, mandei estacionar as viaturas viradas a Nova Lamego, o jipe e o canhão apontados à jangada e passei a noite em branco sobre a caixa de carga do camião Mercedes, à cuca e à escuta: se o IN aparecesse na nossa banda (o que parecia pouco provável), os campeões da eliminação da jangada seríamos nós, a retirada no "gosse gosse" – a batalha era cometida aos navegantes carnívoros [os "alfaiates"] do Corubal, se ele o ousasse cambar a nado.


Isto terá ocorrido em 21 de Maio'65, cálculo meu (ou seja, dez dias após o ataque), a jangada encontrava-se em perfeito estado, depois de ter sido rapidamente recuperada por malta vinda de Bissau (provavelmente da Engenharia, da Marinha ou do Serviço de Material?). A sua avaria ficou a dever-se a um ataque à bazucada lançado do lado de Madina do Boé, no tempo em que a jangada tinha apenas um guarda-nocturno.


6.   - CONSIDERAÇÕES FINAIS


Para finalizar o presente texto (adenda), podemos concluir:


■ 1. - Confirma-se o ataque à «jangada do Ché-Che» em Maio de 1965, sob as ordens do cmdt Umaro Djaló, à data em nomadização na região do Boé.


■ 2. - O conceito utilizado por Umaro Djaló: "destruição", que significa: "desfazer"; "exterminar"; "aniquilar"; "extinguir"; "fazer desaparecer"; etc., não se verificou, pelo que não se aplica, ainda que no léxico da guerra seja comum.


■ 3. - O que se verificou foi que o ataque (à bazucada) provocou "avaria", causando "dano"; "prejuízo" ou "estrago" na «jangada» que rapidamente foi recuperada.


■ 4. - Amílcar Cabral, na sua "mensagem" de 01 de Julho de 1965, refere que já tinha sido refeita [recuperada] outra jangada.


■ 5. - A travessia do rio Corubal, no Ché-Che, continuou a verificar-se por parte das NT, com recurso a uma «jangada», como prova a foto 1, onde elementos da CCAV 702 acompanham vários volumes e diferentes produtos.


■ 6. - O recurso à «jangada do Ché-Che» por parte da CCAV 702 aconteceu a partir de Maio de 1965, após ter sido deslocada por fracções, entre 22 e 30 desse mês, para Madina do Boé, com um Gr Comb em Béli a partir de 25Mai65, onde substituiu Grs Combate da 3.ª CCAÇ. Em 23Mai65, assumiu a responsabilidade do subsector de Madina do Boé, então criado na zona de acção do BCAÇ 512 e depois do seu batalhão (BCAV 705). Em 04Mai66, foi rendida no seu subsector pela CCAÇ 1416, seguindo, então, pata Fá Mandinga. (CECA; p 258).


► Fontes consultadas:


Ø  (1) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07069.107.012. Título: Mensagem aos camaradas militantes e responsáveis combatentes do exército popular em Boé. Assunto: Mensagem de Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, aos militantes e responsáveis combatentes do Exército Popular no Boé, reafirmando a importância estratégica dessa região para a libertação de toda a área circundante (Xitole, Bambadinca, Bafatá e Gabu). Directivas e instruções militares aos combatentes para a conquista e libertação do Boé. Data: Quinta, 1 de Julho de 1965. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Exército Popular / Zona Sul 1964-1965. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


 

Ø  (2) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07069.107.027. Título: Comunicado [Frente Leste]. Assunto: Comunicado assinado pelo Comandante Rui Djassi (erro) [Umaro Djaló] sobre a acção de destruição da jangada de Cheche e a preparação de um novo ataque a Béli. Data: Quarta, 12 de Maio de 1965. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Exército Popular / Zona Sul 1964-1965. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


 

Ø  (3) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07069.107.021. Assunto: Resposta ao comunicado sobre a liquidação da jangada do Cheche. Remetente: Aristides Pereira. Destinatário: Umaro Djaló. Data: Sábado, 15 de Maio de 1965. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Exército Popular / Zona Sul 1964-1965. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.


 

Ø  (4) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04618.082.036. Assunto: Felicitações pelo sucesso da missão à jangada do Cheche. Envio do relatório pelo Inácio. Remetente: Não identificado [Amílcar Cabral]. Destinatário: Nino Vieira. Data: Sábado, 15 de Maio de 1965. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Correspondência dactilografada (de Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.


 

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

 

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde para 2021.

Jorge Araújo.

02JAN2021

______________


Nota do editor:

(*) Último poste da série > 30 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21712: (D)o outro lado do combate (63): Amílcar Cabral e o Boé: a importância estratégica da região (Jorge Araújo)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - 21724: Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403, na retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Hilário Peixeiro, cor inf ref)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Op Mabecos Bravios > 2  fevereiro de 1969 >  Canjadude foi o local onde as NT se reuniram para o início, propriamente dito, da Operação. À esquerda os pilotos da FAP Cap Pilav José Nico (filmando) [, hoje ten gen pilav ref] [1] e o Sarg mil  Honório [2] e o Cmdt da Operação,  Cor Inf Hélio Felgas [, Cmd Agrup 2957, Bafatá, 1968/70][3].



Foto nº 2 Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Op Mabecos Bravios > 2 de fevereiro de 1969 >  Concentração das NT em Canjadude, quartel guarnecido pela CCAÇ 5.



Fotos (e legendas): © Hilário Peixeiro (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Há dias falou-se aqui do cor inf ref Hilário Peixeiro, que foi capitão no CTIG, cmdt da CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá MandingaOlossato e Mansabá, 1968/70, mas de quem não temos notícias há já uns anos largos (*). 

Num poste já antigo, de 16/5/2011, há documentação interessante (texto e fotos) sobre a participação da CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851 na operação de retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios) (**). Reeditamos agora esse materal, valorizando em especial a documentação fotográfica. (***) 

Recorde-se que o desastre do Cheche, em 6 de fevereiro de 1969, fez 47 vítimas mortais. Foi há 52 anos. É uma efeméride difícil de esquecer por todos nós.


 Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403

por Hilário Peixeiro (**)


Durante o mês de Janeiro [de 1969] tiveram lugar os preparativos e reconhecimentos na zona do Boé, com vista à Operação de evacuação de Madina do Boé, denominada “Mabecos Bravios”.

Para além da CCaç 1790, local, comandada pelo Cap inf Aparício,  participaram na operação outras 6 Companhias [, incluindo da CCaç 2405, Destacamento F].

A 2 de Fevereiro [de 1969] a CCaç 2403, com 3 G Comb  (...)  [Destacamento ], deslocou-se para Canjadude e depois para o Cheche onde chegou já no final do dia, transportada nas viaturas destinadas ao transporte, no regresso, dos materiais da CCaç 1790 e da população de Madina. Desta vez todos os Gr Comb eram comandados pelos respectivos Alferes.

Juntamente com a CCaç 2405, do Cap Jerónimo [Destacamento F], atravessou o Corubal numa das jangadas, recém-construídas para o efeito, indo cada uma ocupar as colinas que flanqueavam a estrada para Madina, á esquerda e á direita. 

Quando as Companhias se separaram, já noite fechada, o IN lançou 2 granadas de morteiro sobre a estrada, sem consequências o que, 15/20 minutos antes, poderia ter tido resultados bem diferentes. 

Na manhã seguinte [, 3 de fevereiro], as Companhias seguiram, apeadas, rumo a Madina, sempre sobrevoadas por 1 T6 ou 1 DO até ao final do dia.

 
Foto nº 3 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969 > Progressão da coluna em direção a Madina do Boé, sob a proteção da DO 27 do srgt pil Honório



Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969 > Progressão da coluna em direção a Madina do Boé, sob a proteção da DO 27 do srgt pil Honório


A meio da manhã [do dia 3 de fevereiro] houve um reabastecimento de água, planeado e, mais à frente, não planeado, um fortíssimo ataque de abelhas à CCaç 2405  {Destacamento F] que deu origem à evacuação de alguns homens no heli do Comandante da Operação, Cor Felgas, que aterrara entretanto.

Este contratempo provocou grande atraso na coluna e a certa altura o efeito do calor e das abelhas fez-se sentir mais acentuadamente sobre a CCaç 2405, tendo a CCaç 2403 [, Destacamento D] que ia na retaguarda, passado para a frente com o intuito de pedir a Madina reabastecimento de água para o pessoal mais atrasado que estivesse em dificuldades. 

Quando, cerca de 10 minutos depois, um Gr Comb se preparava para sair do quartel, chegou a outra Companhia [, CCAÇ 2405].

Enquanto o pessoal foi instalado,  os Capitães receberam do Comandante a missão para o dia seguinte  [4 de fevereiro] que consistia na ocupação dos morros que se estendiam a sul de Madina entre esta e a República da Guiné.



Foto nº 5 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969  > Evacuação de vítimas de ataques de abelhas e insolação,  com o helicanhão a sobrevoar a zona.

 

Foto nº 6 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé > 3 de fevereiro de 1969 > Viaturas das NT abandonadas (Mercedes)



Foto nº 7  > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé  > 3 de fevereiro de 1969 > Viatura das NT abandonada (Berliet)



Foto nº 8  > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé > 4/5 de fevereiro de 1969 > Viatura das NT abandonada (Berliet)



Foto nº 9 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios >  Madina do Boé > 5 de fevereiro de 1969 > Reparação
 de GMC (rebocada) e sem paragem da coluna, de regresso a Cheche,


Quando se fez dia  [em 5 de fevereiro de 1969] o pessoal ficou surpreendido com o cabeço a que Madina estava encostada e os que a rodeavam. Eram autênticas “montanhas” na Guiné, onde tudo era plano. 

As Companhias ocuparam as elevações que lhes foram indicadas e aí permaneceram nesse dia enquanto as viaturas chegaram e no dia seguinte enquanto se procedeu ao seu carregamento com os materiais da guarnição e da população civil que ia ser deslocada para Nova Lamego. 

No dia 6 [de fevereiro], logo que se fez dia, deslocaram-se para a coluna que já se encontrava em movimento a caminho do Cheche, assumindo a segurança dos flancos e retaguarda. 

Antes de atingir o rio Corubal,  a coluna ainda foi alvo de mais um feroz ataque de abelhas que só provocou, como vítimas, a morte de dois cães da população.



Foto nº 10 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



Foto nº 11 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



Foto nº 12 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



As viaturas e pessoal foram atravessando o rio até só restarem as 2 Companhias e parte da CCaç 1790 de Madina. Comandava a Operação de carregamento da jangada o Cap Aparício [, da CCAÇ 1790]. 

Na penúltima travessia foram transportadas a CCaç 2403 e parte da CCaç 2405, tendo a primeira recebido imediatamente ordem do Cor Felgas para montar a segurança do flanco esquerdo da coluna que partiria, logo que pronta, rumo a Canjadude.

Para a última travessia, seria embarcado o pessoal que restava das CCaç 2405 e CCaç 1790, muito menos de 100 homens. 

Enquanto se aguardava a chegada do pessoal que faltava para a coluna se pôr em marcha foram disparadas 1 ou 2 granadas das armas pesadas do Destacamento do Cheche. 

Pouco depois surgiu um soldado a correr em direcção ao rio, a chorar, dizendo que a jangada se havia virado e que muita gente tinha caído à água no meio do rio. 

Através do rádio do Capitão,  foi ouvido o Cor Felgas em comunicação com o General Spínola, que não esteve no local, dizendo que havia muitos homens desaparecidos no rio. 

Com grande atraso em relação à hora prevista, a coluna iniciou o deslocamento para Canjadude onde pernoitou.

No dia seguinte [, 7 de fevereiro] chegou a Nova Lamego, onde o Comandante-Chefe falou às tropas participantes na Operação.

Com a chegada da CCaç 1790 a Nova Lamego,  a CCaç 2403 recebeu ordem de marcha para o Olossato com passagem por Fá Mandinga (...) e aí ficou mais de 1 mês, em missão de intervenção do Comando de Agrupamento de Bafatá. (...)

[Revisão / fixação de texto: LG]

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Notas do edidtor:


(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21715: Em busca de... (310): Hilário Peixeiro, capitão que conheci no Forte da Graça, em Elvas, em 1973/75 (João Rico, ex-fur enfermeiro)

Vd. poste de 13 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)


(...) 2. Extractos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Classificação: Reservado. Cap. II. 36-38..

(...) Iniciada a Op Mabecos Bravios, em 1 [de Fevereiro de 1969], com a duração de 8 dias, para retirar as nossas tropas de Madina do Boé. 

Entre vários destacamentos, tomou parte no Destacamento F a CCAÇ 2405 [ .Comandante: Cap. Mil. José Miguel Novais Jerónimo; 1º Gr Comb – Alf Mil Jorge Lopes Maia Rijo; 3º Gr Comb  – Alf Mil Rui Manuel da Silva Felício; 4º Gr Comb  – Alf Mil Paulo Enes Lage Raposo]. (...)

1 de fevereiro de 1969

(...) O Dest F com o efectivo de 112 homens (4 oficiais, 10 sargentos e 98 praças - estão incluídos 1 secção de sapadores e 8 condutores auto), saiu de Galomaro em 1 de Fevereiro de 1969, pelas 9.30h, e chegou a Nova Lamego por volta das 13.00h do mesmo dia, sem qualquer novidade.

Aqui fizeram-se os preparativos finais da organização da coluna que partiu às 5.30h do dia 2 [D]. (...)

2 de fevereiro de 1969

(...) A coluna saiu de Nova Lamego para Canjadude com o pessoal totalmente embarcado e atingiu-se esta povoação por volta das 9.00h sem qualquer problema. A partir de Canjadude a coluna progrediu com guardas de flancos,  tendo o Dest F colaborado na guarda da rectaguarda da coluna fazendo uma progressão apeada que não estava prevista.

Atingiu-se o Cheche [entre Canjadude e Madina do Boé] por volta das 17.00h (sempre com uma cobertura aérea excelente).

3 de fevereiro de 1969

(...) O IN não voltou a manifestar-se mas obrigou-nos a uma vigilância nocturna permanente e a uma mudança de posição por volta das 23.00h.  (...)

Pelas 5.30h [do dia 3, D + 1] mandou-se um Pelotão a Cheche buscar um Pelotão do Dest E que fazia guarda imediata às viaturas e que eu [, cmdt da CCAÇ 2405,] devia levar até Madina.

Cerca [ das 10.00h ] o Dest F sofreu um violento ataque de abelhas e teve que recuar cerca de um quilómetro para se reorganizar de novo. Um soldado, em consequência, ficou imediatamente fora de acção. Foi pedida a respectiva evacuação bem como a de outro soldado que apresentava sintomas de insolação.

As evacuações fizeram-se para Nova Lamego  (...)

O héli desceu mais tarde para reabastecer o pessoal de água.

O Dest D [CCaç 2403[ passou para a frente e reinicou-se a marcha, sempre fora da estrada até à recta que leva a Madina. Nada mais se passou além do sofrimento intenso das tropas por via do calor. O Det D foi reabastecido de água. 

Atingimos Madina [do Boé] por volta das 19.00h [do dia 3 de fevereiro ] desligados do Dest D que prosseguiu a sua marcha quando F teve que parar para reajustar o dispositivo e tratar os mais debilitados (4 praças e 1 furriel).

Houve descanso em Madina e tomou-se uma refeição quente (...)

4 de fevereiro de 1969

(...) No dia 4 (D + 2)  o Dest F dirigiu-se para [ Felo Quemberá, ilegível] ocupando a posição 3 que se atingiu sem dificuldade por volta das 11.00h. Alternadamente ocupou-se as posições 3 e 4 de acordo com o plano.(...)

5 de fevereiro de 1969

(...) Em D + 3 [5 de Fevereiro de 1969] por volta das 7.30h,  recebemos ordens do PCV [Posto de Comando Volante] para a abandonar a nossa posição e seguir ao encontro da coluna. 

Uma hora depois atingimos o campo de aviação de Madina onde fomos reabastecidos de água e r/c [rações de combate]. 

Pelas 9.00h a coluna pôs-se em movimento e meia hora depois 4 carros da rectaguarda tiveram um acidente. Não obstante, a coluna prosseguiu e o pessoal do Dest F mais os mecânicos resolveram a dificuldade.

6 de fevereiro de 1969

(...) Próximo de Cheche recebi ordens para ocupar a posição que ocupara que tivera em D / D+1 porque o Exmo. Comandante da Operação [, cor inf Hélio Felgas,] entendeu dever poupar alguns quilómetros ao Dest F e D, bastante atingidos pela dureza dos respectivos percursos. Essa foi a razão porque não transpus o [Rio] Corubal em D + 3 [ 5 de Fevereiro] só o vindo a fazer em D + 4 [6 de Fevereiro] por volta das 9.00h.(...)

(...) Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb [da CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790], respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F e grandes quantidades de material perdido. (...)

(...) Por voltas das 10.00h de D+ 4 [6 de Fevereiro] saímos de Cheche para Canjadude que atingimos por volta das 16.30h com o pessoal deste Dest embarcado. (...)

7 de fevereiro de 1969

(...) Descansou-se e em D + 5 [7 de Fevereiro] às primeiras horas a coluna pôs-se em movimento para Nova Lamego que foi atingida por volta das 11.00h. 

Às 12.00h as tropas ouviram uma mensagem do Exmo. Comandante-Chefe [, brig António Spínola,] que se deslocou propositadamente para a fazer.