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sábado, 26 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18679: (De) Caras (109): A história da Kalash apanhada pelos Kimbas a um "Don Juan" do PAIGC, contada pelo António Ramalho, o "pira" da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), que andou sempre com "gente aprumada e de alto gabarito"...



Guiné > Região Cacheu > Bula > Capunga > CCAV 2639 (1969/71) > 2/5/1970: o Victor Garcia, do 3º Gr Comb, "Os Kimbas", posando para a fotografia com a Kalash apanhada a um elemento IN.  É membro da nossa Tabanca Grande.

Foto (e legenda): © Victor Garcia (2009) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



António Ramalho

1. Mensagem enviada pelo nosso editor LG ao António Ramalho e ao Victor Garcia:

Data: 24 de maio de 2018
Assunto: A Kalash apanhada pelos Kimbas (*)


António, Victor:

Expliquem lá melhor como é que... os pilha-galinhas dos Kimbas apanharam a Kalash e deixaram o "Dom Juan" fugir...


O Victor era Kimba,e tu, António ?... Ab para os dois. Luís

 2. Resposta do António Ramalho,  a 24 mai 2018, às  20:11


Caro Luís, vou satisfazer a tua curiosidade e podes acreditar, até porque o Victor Garcia já tinha enviado a foto.

Eu fui o mais "periquito" da minha companhia, fui substituir um camarada que se rebolou pela parada do RC7 quando soube que não iria ser mobilizado!...

Foi tão rápida a minha mobilização que tive que levar do Casão Militar as calças de um Coronel!...

Se a PM [, Polícia Militar,] me pedisse a identificação era só baixar as calças e mostrar a etiqueta com o nome do Coronel...

A minha Companhia [, a CCAV 2639,] em termos de formação era muito, muito heterogénea.

A minha origem foi o 3º Pelotão, Os Kimbas.

Mais tarde fiz parte dum Pelotão de "elite", constituído por rapaziada mal comportada, que foi "enviado" para Bissum para acompanhar uma companhia açoriana,  também muito "esquisita", cujo capitão não conheci por razões de saúde.

Fui com o alf mil Queiroz ("Caguei"),  casado com uma inglesa,  que vivia em Bula, estás a ver a permanência dele em Bissum!  E com o Zé Viriato,  que infelizmente já partiu, promotor das famosas maçãs de Blequisse (Pete)!

Como vês, tudo gente aprumada e de alto gabarito!

De regresso fui chutado para Ponta Consolação para junto do alf mil Miguel Ângelo Guimarães] Leal, co-piloto do avião da TAP que caiu no Funchal em 19 de novembro de 1977, ironias do destino!

Os sete Kimbas que apanharam a Kalash. O fur mil Adriano 
Serra é o do meio, sentado na frente do "burrinho", o Unimog 411,
empunhando a Kalash. Local e data: Bula, Capunga, 2/5/1970.  
Foto (e legenda) de Victor Garcia (2009)
Uma tarde o Adriano Serra (, fur mil, para nós era o 1º Serra, ) foi com esse grupo da foto a uma tabanca na picada Capunga/Pete, à esquerda, não me recordo o nome,  comprar qualquer espécie comestível; de mãos a abanar, já no regresso,  eis que se depararam com o IN (desenfiado). Tinha ido matar saudades com a namorada... ainda com a farda cubana, desabotoada,  não hesitou em entregar a arma e fugir!... Ainda o perseguiram,  mas sem êxito, estavam pertíssimo do Choquemone, recearam alguma reacção de qualquer elemento por ali escondido.

Imagino o que terá acontecido ao mancebo, comentámos na altura que talvez não tenha regressado [à base] e se tivesse refugiado ou deslocado para outras paragens, certamente que o castigo seria severo!

Irei tratar das fotos este fim de semana.

Um forte abraço para todos.

António Fernando Rouqueiro Ramalho (**)

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  24 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18672: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte II: As armas não se comem... mas, mesmo assim, apanhámos uma Kalash quando íamos à procura de galinha ou de porco... 

(**) Último poste da série > 14 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18632: (De)Caras (107): O "pilotaço" Mário Leitão, ex-fur mil farmácia (Luanda, 1971/73): tirou o brevê de piloto privado de avião (PPA) em 1977, tem 300 horas de voo e 800 aterragens... Além disso, é "cavaleiro do mar", mergulhador e instrutor de mergulho...

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18672: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte II: As armas não se comem... mas, mesmo assim, apanhámos uma Kalash quando íamos à procura de galinha ou de porco...





Guiné > Região Cacheu > Bula > Capunga  > CCAV 2639 (1969/71) > A insólita história da captura de uma Kalash...

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem omplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), membro da Tabanca Grande, nº 757, natural de Vila Fernando, Elvas (*).

Uma história com algo de burlesco, que merece maior desenvolvimento por parte do autor... Se não for anedota, é uma
história de se lhe tirar o chapéu!

Os tipos do PAIGC eram tão "humanos" como nós, capazes de perder a cabeça por um rabo de saia... Neste caso, o "camarada" que foi a Capunga dar uma queca, ficou sem as calças e a arma que lhe estava distribuída, mas salvou a cabeça... Presume-se que tenha fugido em pelota, e sem arma, ao ser surpreendido pelos pilha-galinhas... (Sabemos, pelo Victor Garcia, que eram 7, e que pertenciam ao 3º Gr Comb, "Os Kimbas").

Pergunta de editor curioso: o que lhe tirá acontecido ao chegar à "barraca" em Choquemone, em pelota e sem a sua bela Kalash  ? (LG)

2. O Victor Garcia, nosso grã-tabanqueiro de longa data, também publica na sua página a foto da famosa Kalash apanhada por 7 elementos (menos de uma secção) do 3º Gr Com da CCAV 2639, a que ele pertencia.



Guiné > Região Cacheu > Bula > Capunga  > CCAV 2639 (1969/71) > A insólita história da captura de uma Kalash



Guiné > Região Cacheu > Bula > Capunga  > CCAV 2639 (1969/71) >  Os 7 elementos do 3º Gr Comb, "Os Kimbas",  que capturaram a Kalash: Pereira, Ferreira, Serra, Moura, Nogueira, Marco Paulo e Torcato



Guiné > Região Cacheu > Bula > CCAV 2639 (1969/71) > Emblema de "Os Kimbas", o 3º Gr Comb

Fotos (e legendas): © Victor Garcia  (2009) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem omplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

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sábado, 6 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11351: Álbum fotográfico do Jorge Canhão (ex-fur mil inf, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (8): Mais fotos do álbum do ex-alf mil Carlos Alberto Fraga, futuro capitão em Moçambique


 Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 > Foto nº 1 > O alf mil Carlos
Fraga



Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 > Foto nº 2 >  Sistema de defesa de um destacamento (1)



Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 > Foto nº  2A > Sistema de defesa de um destacamento (2)



Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 > Foto nº 3 > Quarto (presumimos que seja do alf mil Carlos Fraga)




Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 > Foto nº  4 > O alf mil Carlos Fraga, à esquerda, com o alf mil trms Martins, à direita, fazendo testes com o Racal.




Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 > Foto nº  5 >  Uma mina A/P (antipessoal), montada pelo IN, e desmontada pelo cap Salgado Martins, comdt da 3ª Compnanhia, de que o alf mil Carlos Fraga foi adjunto (num curto período de 4 meses, até finais de 1974, antes de ir formar e comandar companhia que seguiria depois para Moçambique).



Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 > Foto nº  6 > A mesma ou mina A/P, montada pelo PAIGC, e devidamente detectada e desmontada pelas NT. Fotos da autoria do ex-alfd mil Carlos Alberto Fraga.

Fotos: © Carlos Alberto Fraga / Jorge Canhão (2011). Todos os direitos reservados

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Carlos Fraga,com data de ontem:


Assunto: Blogue

 Caro Doutor: Vi a publicação de algumas fotos das que tirei na Guiné,  em particular as do Choquemone (*)... Introduzo algumas precisões:

(i) a legenda da foto [, à direita,] a experimentar armas na estrada Mansoa-Mansabá,  2 ou 3 dias depois do combate do Choquemone, e que diz: «O alf mil Fraga testando a HK 21» não está correcta; foi tirada por mim mas o soldado que está com a HK21 não sou eu;

(ii) a fotografia do furriel Mil Melo [, à esquerda,] é tirada no Choquemone na zona onde estivemos em combate e após este;

(iii) a foto em que eu estou e legendada "O alf mil Fraga numa operação de patrulhamento»,  foi tirada numa picada que saía de Mansabá e seguia para o Sara-Changalena,  salvo erro em 18/08/73; nesse dia detectámos uma mina anti-pessoal que foi desmontada pelo Capitão Salgado Martins; há uma foto  disso no CD que o Jorge [Canhão] lhe deu [, vd. foto nº 2, acima]; 

(iv) na foto do Rackal [, foto acima, ]estou com o Alf Mil Martins das transmissões; estávamos a testar uma ideia de se conseguir estabelecer posições correctas no mato a partir de triangulação de emissões rádio.

As restantes fotos que tem e estão no CD,  se for necessário posso legendá-las tanto quanto me lembre.

Mandei recentemente ao amigo Jorge Canhão mais fotos da Guiné mas sem serem tiradas por mim.

Cumprimentos
Carlos Fraga
(ex-Alf Mil)

2. Comentário de L.G.:

Camarada Carlos Fraga:

Obrigado pelas oportunas e rápidas correções que faz às legendas das fotos que publicámos e cuja autoria lhe é imputada. Vou, oportunamente, reeditar o poste, se possível logo amanhã de manhã. Somos pelo rigor e pela verdade. 

Agradeço, por outro lado, a sua generosidade, pondo ao nosso dispor mais fotos da Guiné, através do nosso amigo comum Jorge Canhão. 

Aproveito para reiterar o convite para se juntar a esta malta, magnífica, generosa e solidária, que se reúne neste blogue à volta do imaginário, mágico e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande. 

Um alfa bravo, Luís Graça.

3. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso amigo e camarada Jorge Canhão, que vive em Oeiras (ex-Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74). Desse álbum constam vários ficheiros, incluindo um com o nome "Alf Fraga".

Estas fotos chegaram-nos às mãos através de outro grã-tabanqueiro, o Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), residente em Leiria. Os nossos especiais agradecimentos aos três camaradas, e muito em especial ao Carlos Fraga.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11345: Álbum fotográfico do Jorge Canhão (ex-fur mil inf, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (7): Op Ratice, no Choquemone, em 11/9/1973... Fotos do ex-alf mil Carlos Alberto Fraga, futuro capitão em Moçambique







Guiné > Região de Cacheu > Bula > Choquemone > 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72 > Op Ratice > 11 de setembro de 1973 > Evacuação de feridos (as 4 primeiras fotos de cima); fur mil Melo (última foto). Fotos da autoria do ex-alfd mil Carlos Alberto Fraga.


Fotos: © Carlos Alberto Fraga / Jorge Canhão (2011). Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso amigo e camarada Jorge Canhão, que vive em Oeiras (ex-Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74).

Estas fotos, do alf mil Fraga, bem outras, do BCAÇ 4612/72, chegaram-nos às mãos através de outro grã-tabanqueiro, o Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), residente em Leiria. Os nossos especiais agradecimentos aos dois, e muito em especial ao nosso camarada Jorge Canhão. No CD que nos foi cedido, as fotos do alf mil Fraga vêm num ficheiro, à parte, e algumas estão sumariamente legendadas (como é o caso destas que acima publicamos, tiradas no Choquemone).



O alf mil Fraga testando a HK 21


O alf mil Fraga numa operação de patrulhamento


O alf mil Fraga testando o Racal


Fotos: © Carlos Alberto Fraga / Jorge Canhão (2011). Todos os direitos reservados



Guiné > Região de Cacheu > Carta de Bula (pormenor), 1953, 1/50000 >  A norte da estrada Bula - Binar - Bissorã (em direcção a Farim), o PAIGC tinha uma das suas bases, Choquemone, um nome mítico, em meados de 1969, quando eu cheguei à Guiné. Era um daqueles topónimos exóticos com que os piras se começavam a familiarizar. Choquemone e outros, como Madina do Boé, Corubal, Gandembel, Guileje, Morés, Fiofioli..., pronunciados com temor e reverência pela velhice... (LG)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


2. Mensagem do Jorge Canhão, respondendo a uma pergunta dos editores sobre o alferes miliciano, Carlos Fraga, que estagiou na 3ª C/BCAÇ 4612/72


Data: 25 de Março de 2013, 17:36

Assunto: ex-alferes miliciano Carlos Fraga

Camarada Luís Graça:

Sobre o ex- alferes miliciano Carlos Alberto Fraga aqui vão os dados que pediste, pois mesmo agora estive em contacto telefónico com ele, que vive em Faro.

Ele fez parte da 3ª Companhia do BCAÇ  4612/72 (cerca de 4 meses, até fim de 73 aproximadamente), como adjunto do comandante da companhia,  pois estava a tirar um estágio para capitães. Foi depois graduado em tenente, e foi como capitão comandar uma companhia em Moçambique, acabando o tempo de tropa nos Açores.

Por esse motivo, não tinha pelotão atribuído na companhia, podendo ir em qualquer um deles.

As fotos são de autoria do Fraga, sendo algumas delas tiradas a bilhetes de postal. Agradeço que,  ao publicares as fotos do Fraga, digas a origem, pois foi a única "condição" exposta.

Sobre as fotos da evacuação, foram tiradas no Choquemone (região de Bula),  a 11 de Setembro de 73, na operação Ratice. Como já tinha dito, a nossa companhia, quando regressou de Gadamael Porto, passou a força de reserva e intervenção do COT 9 (Comando Operacional Temporário), por
isso a nossa zona de operação era entre Bula, Mansoa, Bissorã, Mansabá até quase a Farim........Ver mapa que já vos enviei.

A evacuação são dos feridos nessa operação em que resultaram 3 feridos graves (furriel Silva, tiro no pescoço- vive no Porto; soldado Estalagem, vive em Bencatel, Vila Viçosa –atingido num braço e numa vista por um RPG; e um milícia com tiro na cabeça). Todos sobreviveram.

Além desses, houve mais 6 feridos ligeiros,entre eles o ex-alferes Rocha,que ainda tem estilhaços na cabeça,1 milícia e 4 praças.

Esta operação foi comandada pelo ex-alferes Maia do 2º pelotão (o meu), pois o nosso cmdt de companhia,  capitão Salgado Martins, estava de férias,(tal como eu, felizmente).

Sobre os destacamentos onde estive, foram: (i)  em Mansoa (6 meses), na protecção aos trabalhos de construção da estrada Jugudul/Babadinca;  (ii) rodei para Infandre, onde estivemos talvez 3 meses, de onde saímos para (iii) Gadamael Porto juntamente com o resto da companhia que estava
distribuída pelos destacamento de Braia (um pelotão), Mancalã, Pista de aviação de Mansoa (secção e meia em cada local) e pelotão de Mansoa.

Após o nosso regresso de Gadamael Porto,ficámos cerca de 1 ano como força de intervenção do COT 9 e após o 25/4/74, e depois da extinção do mesmo [, o COT 9,] , fiquei em Mansoa nos postos de Mancalã e Pista, até ao regresso a Portugal em 25 Agosto 1974.

Espero ter dado resposta ao que querias saber

Abraços,

Jorge Canhão

3. Comentário de L.G.:

Obrigado, Jorge, pelos teus rápidos e cabais esclarecimentos. Transmite ao teu amigo e camarada Carlos Fraga o agradecimento do nosso blogue pela gentileza de autorizar a publicação das suas fotos. Transmite-lhe igualmente o nosso convite para integrar a nossa Tabanca Grande. A sua experiência como alferes miliciano, no TO  da Guiné, antes de ir comandar uma companhia operacional em Moçambique, interessa-nos que seja conhecida e divulgada.  Por outro lado, o Choquemone sempre foi um dos lugares míticos da guerra de guerrilha e contraguerrilha na Guiné do nosso tempo. Temos já vários postes sobre o Choquemone, e malta de andou por lá.




CTIG - Comando Territorial Independente da Guiné > Carta da situação, referida a 7/4/1974 > A vermelho a delimitação da zona de acçaõ do Comando Operacional Temporário, COT 9. Documento inserido pelo Jorge Canhão na história do BCAÇ 4612/72,  mas cuja fonte original presumo que seja  o livro Batalhas da História de Portugal, Guerra de África, Guiné, 1963-1974, Vol. 21, editado pela Academia Portuguesa de História, e da autoria de Fernando  Policarpo.

_____________

Nota do editor;

Último poste da série > 16 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11260: Álbum fotográfico do Jorge Canhão (ex-fur mil inf, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (6): Vítimas da emboscada na estrada de Farim-Mansabá-Mansoa, em 15 de julho de 1973: 1 morto, 8 feridos graves, 2 viaturas danificadas

sábado, 13 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10526: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte II): Bula, Op Bolo Rei, uma grande operação de 15 dias, de 22/12/67 a 3/1/68: 40 mortos e 5 feridos confirmados e 14 capturados, do lado IN; 7 mortos e 32 feridos do lado das NT; recuperados 44 elementos pop





Guiné > Região do Cacheu > Bula >1967 >  Furriel Serôdio

Fotos: © Manuel Serôdio (2012). Todos os direitos reservados.
1. Continuação da publicação das memórias do Manuel Serôdio (*):


(i) A 4 do corrente, escreveu o Manuel Serôdio, de Rennes, França onde vive:

Amigo Luis, vejo que guardas conhecimento da língua Françêsa, vamos fazer um teste:  Je suis arrivé en France a 21 Aôut 1970, et j'ai depuis ce jour residence à Rennes, capitale de la Bretagne qui aujourd'hui compte près d'un million d'habtitants. (**)
Isto é uma pequena brincadeira, mas se lês a frase, não hà dúvidas que és um bom "francês",.,,,

Vou continuar a "escrita" possivelmente vou recomeçar certas passagens jà publicadas, mas assim vai tudo em "ordem". Queria responder a um comentário do Arménio Estorninho, mas ainda não percebi como enviá-lo. E PORTANTO ESTAMOS EM 2012. Um abraço amigo.

(ii) Resposta do nosso editor:

Salut le copain! Le français ? C' est ma première langue étrangère... Ton français écrit est de très bonne qualité... J'aimerais bien avoir beaucoup d'autres opportunités pour parler le français, une très belle langue latine!... Amitié. Luis

PS - Je viens de recevoir ton dernier message concernant l'histoire de ton unité militaire en Guinée... On la va publier.




2. Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte II ):  Bula, Op Bolo Rei

Durante o período de permanência da Companhia em Bula, foi-lhe dado o treino operacional pela CCva 1693, tendo ficado posteriormente como Companhia de Intervenção do Comando Chefe.

1967


Novembro

Segurança aos trabalhos da estrada Bula-João Landim e estacionamento da engenharia.
Emboscadas 10
Escoltas a João Landim 09Patrulhas 03
Controle das populações 01


Dezembro

Proteção aos trabalhos da estrada Bula-João Landim e estacionamento da engenharia

Emboscadas 11
Escoltas a João Landim 05Patrulhas 03
Operações 07


OP "BARCAROLA"


1) Exploração da notícia que referia a existência de armas distribuidas pelo inimigo a elementos da tabanca de Biur.

2) Patrulhamento

3) Península de S. Vicente


4) 1 de Dezembro de 1967

5) Saída às 3 horas

6) CCça 1787, CCav 1693, 1 secção do pelotão de auto-metrelhadora ligeira 1106.

7) Efetuada uma rusga a Biur. Não foi confirmada a notícia.

OP "BOLOTA"

1) Coluna de reabastecimento.

2) Operação com a finalidade de escoltar uma coluna de reabastecimento a Binar e Biambe, e atuar ofensivamente com as forças de segurança sobre os elementos inimigos que tentassem atuar sobre a coluna.

3) Bula-Binar-Biambe
4) 4 de Dezembro de 1967

5) Saída pela 6,30 horas

6) CCaça 1787, CCva 1693, C. Art 1647, C. Art 1688, 1 secção do pelotão de auto metrelhadora ligeira 1106

7) Sem incidentes.


OP "BALUARTE BRANCO"

1) Exploração da notícia que referia a existência de um acampamento inimigo na península de Bissauzinho.

2) Ação ofensiva com a finalidade de destruir as instalações inimigas, aprisionar ou aniquilar elementos inimigos e capturar material e documentos.

3) Bissauzinho.


4) 9 de Dezembro de 1967

5) Saída pelas 12,30horas

6) 1 grupo de combate da CCaç 1787, CCav 1693, CArt 1647, CCav 1747, 1 secção do pelotão de Milícias 126.

7) As nossas tropas foram emboscadas pelo inimigo com lança-roquetes e metralhadoras ligeiras. À reação pronta e rápida das nossas tropas, o inimigo retirou com baixas prováveis. As nossas tropas sofreram 1 morto e 3 feridos graves. Foi batida a área, sem mais contactos.



OP "BARBA AZUL"

1) Detetar movimentos inimigos na região

2) Rede de emboscadas conjugadas com um patrulhamento ofensivo, com a finalidade se aniquilar ou prender os elementos inimigos que se revelassem, capturar material, documentos, e prender elementos suspeitos.

3) Região de Capafá, Bipo Delta, e Boté.


4) 14 de Dezembro de 1967

5) Saída pelas 22 horas

6) CCaç 1787, CCav 1693

7) Não houve contato.


OP "BOLETIM"

1) Coluna de reabastecimento

2) Operação com a finalidade de escoltar uma coluna de reabastecimento a Biambe, e atuar ofensivamente com as forças de segurança sobre os elemntos inimigos que tentassem atuar sobre a coluna.

3) Bula-Biambe

4) 18 de Dezembro de 1967

5) Saída pelas 8 horas

6) CCaç 1787, CCav 1693, CArt 1647, CArt 1648

7) Não houve contato.


OP "BENVINDO"

1) Coluna de reabastecimento

2) Operação com a finalidade de escoltar uma coluna de reabastecimento a Binar, e atuar ofensivamente com as forças de segurança sobre os elementos inimigos que tentassem atuar sobre a coluna.

3) Bula-Binar


4) 20 de Dezembro de 1967

5) Saída pelas 5 horas

6) CCaç 1787, CCav 1693, CArt 1647

7) Foram avistados por 1 grupo de combate da Companhia 1787, 8 elementos inimigos que fugiram ao serem detetados. 1 grupo de combate da Companhia 1693 avistou 3 elementos que fugiram sob o fogo das nossas tropas. 


Cerca das 12 horas voltaram a ser detetados 8 elementos inimigos, incluindo 2 brancos, que se furtaram ao contacto. 1 grupo de combate da Companhia 1647 foi flagelado por um grupo inimigo com morteiros, lança-roquetes e armas automáticas. 1 grupo de combate saiu de Binar em perseguição do inimigo até Poncho, causando baixas prováveis. Sem consequências para as nossas tropas.


OP "BOLO REI"

1) Missão: combater a atividade inimiga no setor.

2) Batida através de patrulhamento, golpes de mão e emboscadas.

3) Zona de ação: região norte do setor

4) Data de início: 22 de Dezembro de 1967

5) Duração: 15 dias

6) Forças intervenientes: CCaça 1787, 1788, 1801, CCav 1747, 1650, CArt 1746, 1648, 1647, 1802, e três  pelotões de rtilharia do BAC 1;


23 de Dezembro de 1967

Forças das companhias 1787 e 1788 que patrulhavam a trgião a sul de Bipo, foram emboscadas por 1 grupo inimigo. Â pronta reação das nossas tropas, o inimigo retirou com baixas prováveis. As nossas tropas sofreram 1 morto e 7 feridos. Neste contato, a companhi sofreu o seu primeiro morto e 5 feridos, dois deles graves.


31 de Dezembro de 1967

Apoiadas pela força aérea e pela artilharia, as CCaç 1787 e 1788 conseguiram entrar no acampaento inimigo de Choquemone, tendo capturado diverso material e destruído as instalações inimigas.


03 de Janeiro de 1968

As CCaç 1787 e 1788 efetuarm um cerco às tabancas da península de S. Vicente, tendo detido 83 elementos da população. Posteriormente, após interrogatório, verificou-se que 2, eram elementos inimigos.


Conclusões: 

Como reflexo da operação "BOLO REI", e até ao fim do mês de Janeiro de 1968, apresentaram-se 124 elementos da população de áreas anteriormente controladas pelo inimigo.

Durante a operação o inimigo sofreu 40 mortos e 5 feridos confirmados, e 14 capturados. As nossas tropas sofreram 7 mortos e 32 feridos. Foram recuperados 44 elementos da população.

(Continua)
_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10474: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte I): De Oliveira de Azemeis a Bula e Empada

(**) Cheguei a França em 21 de agowto de 1970 e desde então tenho residência em Rennes, a capital de região da Bretanha, que hoje conta com cerca de um milhão de habitantes.

(**) Viva, companheiro! O francês é a minha primeira língua estrangeira.  O teu francês escrito é ótimo... Pessoalmente gostaria de ter muito mais oportunidades de falar esta bela língua latina... Com a amizade do Luís

PS -  Acabo de  receber a tua última mensagem, respeitante à história da tua companhia...  Vamos publicar esse material.

domingo, 26 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4742: Tabanca Grande (165): António Dâmaso, CCP 123/BCP 12, 1969/71

1. Primeira mensagem de António Dâmaso com data de 15 de Junho de 2009:

Caro camarada Luís Graça.

Apresenta-se o periquito António Dâmaso, de Odemira, pedindo a inscrição no almoço do dia 20 em Ortigosa só para mim.

Informo que fui pára-quedista, e era na altura o comandante do grupo de combate a que pertenciam os três páras que ficaram sepultados em Guidage e que vieram no ano passado.

Oportunamente darei a minha versão sobre esses acontecimentos.

Junto envio as duas fotos exigidas.

Um abraço do camarada
Dâmaso



2. Em 30 de Junho foi enviada mensagem ao nosso novo camarada:

Caro António Dâmaso:

Enquanto não te apresentas formalmente à Tertúlia, diz-me por favor o teu antigo posto nos Páras, Companhia e datas de chegada e saída da Guiné.

Se quiseres manda já um pequeno resumo da tua actividade na Guiné e apresento-te definitivamente.

Depois podes ir mandando coisas que aches importantes para o Blogue. Fotografias legendadas, textos, etc.

Convivi um pouco com os Pára-quedistas durante a sua permanência em Mansabá, por volta de 1970/71 e tenho de vós as melhores impressões.

Fico a aguardar as tuas notícias.
Até lá, recebe um abraço
Vinhal


3. Mensagem de António Dâmaso, com data de 20 de Julho de 2009:

Caro camarada Luís Graça e Co-Editores:

Aqui vai o relato da minha segunda comissão na Guiné.

Bissalanca, 1969

Em 20 de Julho de 1969 estava em Bafatá

Hoje o meu pensamento vai para o soldado desconhecido, digo eu, refiro-me àquele militar, com ou sem patente, que estava lá, contribuía com o seu esforço para o conjunto, como formiga obreira, mas que, por não ter cunhas, não ser engraçado nem engraxador, via as benesses passar-lhe ao lado, não havia prémios do Governador da Província, nem promoções a cabo, nem férias, em resumo nada de nada, no entanto lá ia procurando manter-se vivo, com a agravante de passar uma comissão a viver em buracos sem as mínimas condições.

As minhas palavras valem o que valem, sabemos que dois observadores colocados no mesmo ponto, cada um tem a sua visão dos acontecimentos e depois na narração, cada qual compõe o ramalhete à sua maneira.

Por outro lado, a sensibilidade para suportar a dor e outras situações traumáticas, varia de indivíduo para indivíduo, daí que apareçam alguns armados em valentes, que dizem que não foram stressados, apanhados pelo clima e até marados, mas pior ainda, são os que foram tudo isto e não são capazes de o admitir.


Vou falar da minha segunda comissão na Guiné e dos motivos que me levaram a ir para lá segunda vez:

Quando regressei da primeira comissão, depois das férias, apanhei a escala de serviço, com cinco fins-de-semana seguidos com começo à sexta ao render da parada e fim na segunda à mesma hora.

Depois foi uma instrução de Combate, seguidamente uma recruta, com três instruções nocturnas por semana que me impediam de ir a casa embora só morasse a cerca de 10 Km, depois foi a informação de que estava à bica para ser nomeado para Moçambique, isto levou a que me oferecesse novamente para a Guiné, por já conhecer e estar convencido de serem só 18 meses.

Cheguei à Guiné, ao BCP 12, em 20 de Março de 19699, ia a contar ir para uma companhia operacional, mas devido à minha especialidade, mecânico desempanador auto, fui aumentado ao efectivo da CMI, (Companhia de Material e Infra-estruturas) passando a desempenhar as funções de chefe de movimento no pelotão de transportes auto.

Como não ia para o mato, mandei ir a família, estava tudo a correr bem, até que um dia escalei umas viaturas para irem transportar uma companhia que regressava do mato, os militares saíram da viatura e de imediato colocaram-se uns à frente e outros atrás e procederam à acção de desarmar, o material de guerra, o condutor buzinou para que o deixassem passar.

Veio de lá o tenente, comandante do pelotão, sacou o condutor do lugar e deu-lhe uma valente sova a que eu assisti.

O militar que estava debaixo das minhas ordens directas, chegou junto de mim a chorar de raiva, como não gosto de abusos desta natureza, disse-lhe que lhe assistia o direito de queixa, mas que tinha de dar conhecimento ao superior.

Redigi-lhe a queixa e lá foi ele dar conhecimento ao tenente que se ia queixar, este deu a volta ao rapaz, que não apresentou queixa nenhuma e eu, passados três ou quatro dias sem que ninguém me tivesse dito nada, fui transferido para a CCP 122 e com a G3 nas unhas e mochila às costas colocado no pelotão do citado senhor oficial isto a 29 de Maio de 1969.

Em 30 marchei para Mansabá onde estava a Companhia, sem que eu o soubesse, começou aqui uma perseguição que me deu cabo da vida militar para sempre com graves reflexos para a vida privada e familiar, só vim a saber em 1975, pelo facto do mesmo se ter gabado do feito, com alguns ouvintes que depois me deram conhecimento, até aí foi-me acontecendo de tudo, sem eu saber de onde vinha o mal.

A missão da Companhia na altura era fazer segurança à estrada que estava a ser construída entre Mansabá e Farim, dar protecção às colunas auto efectuadas entre Mansabá-Mansoa e vice-versa, para descansar íamos fazendo uns Heli-assaltos.

Foi assim que tomei parte na Operação Orféu, juntamente com a 15ª Companhia de Comandos, na zona de Bula no dia 13 de Junho de 1969, onde se fizeram alguns mortos, prisioneiros e se apanhou muito material de guerra, nesta operação fui colocado na segunda vaga, no outro extremo da mata, tendo como missão a limpeza e destruição.

No dia 20 de Junho de 1969 tomei parte na operação Nestor também na zona de Bula, Choquemone, mais uma vez na 2.ª vaga, destruição e limpeza, mais prisioneiros, mais material, vi coisas que me chocaram entre elas, o cavalheiro Tenente estar a dar um tratamento a um prisioneiro, tendo este as mãos atadas atrás das costas, pelos vistos, gostava de malhar nos mais fracos.


Rumo à CCP 123, com escala em Teixeira Pinto

No início de Julho fui com a CCP 122 para Teixeira Pinto, via auto e os cicerones lá iam informando o periquito que era eu, dos locais onde tinham havido emboscadas às nossas tropas, confesso que aquela mata metia respeito.

Depois de três dias em Teixeira Pinto, a caçar umas perdizes junto à pista, pombos verdes nas mangueiras, apanhar algum marisco, estava a ambientar-me, até que, no dia de Julho de 1969, enfiaram-me numa DO 27 rumo a Bissalanca.

Chegado ao BCP 12, estava lá uma CCP(-) que passaram a chamar de CCP 123. Esta Companhia tinha sido formada em Tancos com destino a Angola, mas à última hora, foi parar à Guiné como reforço, alguns dos graduados intervenientes não gostam do nome CCP 123 e preferem chamar-lhe grupo expedicionário, mas nos relatórios de operações consta CCP 123.

Recebi ordens para integrar a mesma, o Comandante já o conhecia da primeira comissão, tinha lá estado como Alferes, alguns dos Sargentos também lá tinham estado, até aí tudo bem.

De armas e bagagens, embarcámos no Cais de Bissau numa LDM, ou LDG, não me lembro qual delas, lá navegámos Geba acima até Bambadinca, passámos por um estreito em que o rio era como que feito por medida para a Lancha passar, se não estou em erro, chegados a Bambadinca, viaturas até Bafatá e ficámos aboletados no Esquadrão de Cavalaria FOX.

No dia 11 de Julho de 1969 embarcámos nas viaturas com destino a Galomaro e aí tomámos os helis para a operação Sátiro que durou dois dias na zona de Padada-Jábia, além da CCP 123, participou a CCAÇ 5. No dia 12, fomos recuperados de Heli para um Acampamento e deste para Nova Lamego, de onde seguimos via auto para Bafatá.

Quando estávamos a chegar vimos os Helis a aterrar pela ordem de aproximação e o Heli-canhão a dar mais uma volta tendo tocado com a ponta da Hélice numa das antenas rádio, enrolou vindo a despenhar-se no solo. Como se incendiou, as munições do canhão começaram a rebentar em todas as direcções sem que nada se pudesse fazer para os tirar daquele inferno de chamas. Aquela cena lancinante, causou-nos a todos grande consternação e pesar, ali ficaram mais duas vidas a do piloto e do apontador do canhão.

Bafatá, 1969

Nos dias 17 a 19JUL69, outra vez na zona de Padada concretizámos a operação Marduque , desta vez só com a CCP 123.

De 24 a 30 de Julho de 1969, operação Atena, zona de Duas Fontes e Padada, com a participação de 3 GComb da CCP 123, 1 GComb da CCP 121 e a CCAÇ 2446.

Depois apareceu a minha grande dor de cabeça, que era a Guerra de quadrícula, sempre tive o entendimento de que as tropas especiais, eram para intervenções rápidas, ou não, também para servirem de reserva, mas pelos vistos, a situação não estava para brincadeiras.

Comecei a operação Nereu 1.ª fase que foi de 31 de Julho a 31 de Agosto de 1969 nas zonas de Madina do Boé, Dulombi, Bilonco e Madina Xaquili. Actuaram connosco, além da CCP 123, a CCAÇ 2405 e CCAÇ 2446.

Lembro-me que numa das operações de dois dias, tivemos de atravessar o mesmo rio, quatro vezes seguidas, para não andarmos mais quilómetros a contorná-lo. Chegámos a Galomaro já depois do meio-dia, mas tínhamos à nossa espera uns franguinhos de churrasco. A fome era tanta, que nunca mais comi frangos que me soubessem tão bem.

No decorrer deste período, ou não, julgo que a 24 de Julho de 1969, não posso precisar a data, um dia à tarde chegámos a Dulombi, na altura era uma tabanca com algumas palhotas com abrigos, valas e arame farpado à volta, com uma espécie de portão de entrada na estrada de Galomaro a poente, e a sul outro portão que dava para a mata, íamos passar lá a noite, e de futuro serviria de acampamento base.

Sempre tive um acordar estremunhado quando estava no primeiro sono, mas naquela noite, quando estava no primeiro sono, fui acordado com um festival de fogo-de–artifício, rebentamentos por todo o lado, balas tracejantes cruzavam o céu, o meu acordar foi igual a outros, mas notei que o meu maxilar inferior, teimosamente batia ritmadamente no maxilar superior, durou alguns segundos até me aperceber do que se estava passar, rapidamente cerrei o os dentes e analisei a situação e vi que o ataque não era do nosso lado, mandei cessar o fogo que estava a ser efectuado para o lado do portão sul.

A minha secção estava na parte sul, onde existia o tal portão. As balas tracejantes passavam por cima de nós, apesar de muitos rebentamentos à nossa volta, ninguém foi atingido. Liguei o rádio, chamei, como não obtive resposta, desliguei. Quando estava a preparar-me para dormir novamente, apareceu-me um camarada a saber se estava tudo bem, escandalizado por eu não ter mantido o rádio ligado. Nessa altura fiquei a saber que o ataque foi efectuado do arame farpado, à esquerda da entrada e que havia a lamentar uma baixa da CCAÇ 2446, que foi recuperada no dia seguinte por elementos do ESQ FOX. Começara aqui o meu baptismo de fogo em ataques nocturnos.

Também estivemos em Bivaque, em tendas de campanha junto do aquartelamento de Galomaro, depois iniciou-se a operação Nereu 2.ª fase de 1 de Setembro a 11 de Outubro de 1969, novamente em conjunto com as duas companhias já citadas e nas zonas de Duas Fontes, Cansissé, Contabane e Padada.

Durante a minha permanência no Gabu, fui duas vezes a Bissau à boleia, uma vez de Heli e outra de Cessna (?) dos TAGCV, para tentar resolver problemas de saúde familiar, regressei ambas as vezes em DC 3 Dakota, com o nosso saudoso camarada Fur Vitorino, meu vizinho na altura. Depois da guerra veio a ser vítima de acidente aéreo na Ilha Terceira com um aviocar.

Problemas familiares e transferência para a CCP 121

A minha mulher contraiu malária e teve de ser internada no Hospital Civil em Bissau. Depois de curada ficou com os nervos em franja, enfrascava-se em comprimidos e tinham de ser as vizinhas a tomar conta da minha filha de 18 meses, situação que me levou a requerer a passagem ao SG da FAP, tendo a mesma sido indeferida posteriormente.

Findos os três meses, os oficiais e sargentos seguiram rumo a Angola e as praças foram integradas nas Companhias existentes no BCP 12, eu fui transferido para a CMI.

Coincidência ou não, baixei a guarda e como resultado, em 14 de Abril fui punido com 5 dias de prisão e em vez de iniciar o cumprimento da pena, fui de imediato transferido para a CCP 121 de que o citado oficial era comandante.

No dia 16 fui a caminho do Guileje que já na altura estava a ferro e fogo, não havia nada para comer a não ser feijão com chouriço, eu andava de diarreia, nem os ataques com morteiros 120 me tiravam das latrinas, quando saía para o mato levava o tempo de calças na mão.

A fome era de tal ordem que os cães na tabanca começaram a desaparecer. Uma hiena que caiu numa armadilha foi comida e até os abutres, diziam os rapazes, que de vinho e alhos eram um pitéu. Quem lá esteve nesta data sabe que isto não é invenção.

Neste período tomei parte nas seguintes operações:

Operação Lobo Verde de 20 a 30 de Abril de 1970 na zona de Guileje e Gadamael Porto. Também tomaram parte a CCAÇ 2617 e CART (?

Operação Lacrau Verde, 29 de Abril de 1970, no Corredor do Guileje, juntamente com uma equipa de sapadores do BART 2866. Nesta operação fomos ao local onde o IN tinha ido com uma viatura carregada de granadas que despejou sobre o aquartelamento, seguidamente fomos ao Corredor colocar minas anti-carro.

Operação Leão Verde , 30 de Abril de 1970, no Cantanhês, fomos até Gadamael Porto de viaturas e depois de Heli-assalto, não houve contacto, destruímos acampamentos.

Muito tempo depois, vim a saber que aquela minha ida repentina para o Guileje tinha sido um teste, porque a vontade de alguém era correr comigo para o Exército, destino que muitos camaradas tiveram.

Recordo que no decorrer da operação de 11 e 12 de Julho, no local do heli-assalto, estava um burro que os guerrilheiros deixaram ficar, foi o único burro de 4 patas que vi em toda a Guiné.

No dia 12, fomos heli-trasportados para um acampamento do Exército, onde circulava o boato que um alferes tinha sido evacuado por ter sofrido de doença súbita de Priapismo. Trata-se nada mais, nada menos de uma erecção dolorosa e prolongada por mais de seis horas.

Depois disto gostava que alguém desse notícias do Senhor Viagra.

Não inventei datas, as mesmas constam dos relatórios de operações, embora a CCP 123 tivesse actuado isolada as outras forças estavam no terreno.

Saliento que fui muito bem recebido pelos camaradas do Exército, que estavam em Galomaro e do ESQ FOX de Bafatá.

Saudações para todos os camaradas

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Da direita para a esquerda: O António Graça de Abreu (CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), mais dois camaradas da FAP: o António Martins de Matos, ex-Ten Pilav (BA 12, Bissalanca, 1972/74), e o António Dâmaso, ex-páraquedista (BCAP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74).

António Dâmaso do prestigiado Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, BCP 12 participou no IV Encontro da Tertúlia.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4735: Tabanca Grande (164): Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519, Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71

terça-feira, 10 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4008: As abelhinhas, nossas amigas (1): Com NEP ou sem NEP ... (Luís Graça / António Matos)

1. O Mexia Alves (*) levantou uma questão processual e deu-nos aqui uma boa sugestão. Refiro-me à famigerada NEP das abelhas, que ele jura que existe(ou existia, no nosso tempo) mas que nunca ninguém viu.

A título de curiosidade, também me meti nas minhas tamanquinhas e fui procurar... Deitei mão ao Manual do Oficial Miliciano, ou parte dele, já aqui publicado no blogue (Refiro-me à cópia, parcial, que nos chegou, por cortesia do A. Marques Lopes, nosso camarada, Cor DFA Ref, que tem também andado arredado das nossas blogarias) (**).

Népias, o book deve ter sido escrito por um qualquer prussiano da Guerra de 14, não encontro nenhuma referência à tal NEP das abelhas. De qualquer modo, devo acrescentar que o acrónimo NEP deve querer dizer Normas E Procedimentos (Nunca fui bom em secretaria, razão por que me mandaram para a especialidade de Atirador de Armas Pesadas de Infantaria e, como prémio, meteram-ne num barquinho a caminho da Guiné e lá deram-me uma G3).

Como é sabido, a vocação do nosso blogue é contar histórias (não as dos outros, como fazem os jornalistas, os ficcionistas, os cineastas, etc.), mas as nossas próprias... Nós fomos actores numa guerra (que nos calhou em sorte), e é dessa guerra que devemos falar, não do antes e do depois, das causas e consequências, das causas remotas e próximas, e das consequências~, locais, regionais e globais (políticas, económicas, sociais, culturais, diplomáticas...) mas das estruturas, dos processos e dos resultados...da guerra.

Ora as tais abelhas ou abelhinhas ("africanas, selvagens, assassinas") também nos combatiam... Não sei porquê, mas acho que tinham alergia, não à cor da pele, mas à nossa farda (em especial ao camuflado; ou seria ao cheiro a merda que exalávamos no regresso ao quartel ?): de facto, tanto atacavam os tugas como os seus aliados fulas, que eram pretos retintos, a maior parte deles (tirando os futa-fulas)... Falo por experiência própria (enquanto operacional da CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71).

Mas pergunto-me: será que elas, as abelhas da Guiné (**), também foram treinadas na China, tal como o Nino Veira, o últimos dos comandantes do PAIGC, agora morto, "de morte matada" ?

Cá está um ponto que eu gostaria de ver descrito, documentado, ilustrado, discutido, analisado, dissecado, postado no nosso blogue, indo atrás da sugestão do Mexia Alves e já entusiasticamente apoiada por diversos camaradas...

Sugiro, pois, a criação de uma nova série: "As abelhas, nossas amiguinhas"... ou "As abelhinhas, nossas amigas". Gosto mais da segunda alternativa, é um título mais ternurento...

O título é irónico, claro: eu soube, por diversas vezes, quão dolorosa era uma só picada destes terríveis insectos... Agora imaginem mil!... Caí em várias emboscadads onde elas eram foram muito mais eficazes do que as costureirinhas, as kalash, os morteiros ou os RPG do Inimigo.

O Mexia Alves deu o pontapé de saída, lançou a granada de fumos, armou o granel, mandou o piquete de serviço à procura da NEP... Quem vier a atrás, que feche a porta ou se atire ao primeiro charco que encontrar... Por mim, obrigado, amiguinhas. Ainda temos umas contas para ajustar, ao fim destes anos todos...com ou sem NEP.

O Mexia Alves é um bom cristão, mas como eu costumo recordar Cristo, Deus Filho, mandava ser bom, mas Deus Pai, não mandava ser parvo.... As outras contas (com os homens), essas, já as perdoei... Acho eu de que... LG


2. Comentário do António Matos ao poste do J. Mexia Alves (*):

Caro Joaquim,

As abelhas ...

Confesso que, para além dumas colheres de mel que emborco cada vez que apanho uma daquelas gripalhadas de caixão à cova, passo infinidades de tempo sem me lembrar das ditas. Excepção quando sou obrigado a "conviver" com elas, por isto ou por aquilo.

Que me recorde, o meu 1º encontro de homem-para-abelha que tive na vida foi precisamente na Guiné.

Relatei-o num dos primeiros postes que mandei para o blogue e cujo cenário estava montado no meio dum campo de minas, algures entre Ponta Matar e Choquemone, à beira da estrada Bula - S.Vicente.

Aí, e com um barulho de aproximação a fazer lembrar o ronco dum automóvel de corridas, ficámos colados ao chão quando, olhando para cima, vimos uma núvem delas ! Pararam a deslocação e planaram ...

Do enxame libertou-se uma delas que picou na nossa direcção com o "consentimento" e passividade do grupo ...

Desceu, desceu e aterrou no corpo do camarada Luís Faria ... Com nervos de aço, o Luís "permitiu" que ela o "farejasse" ... Todos estávamos transpiradíssimos, de tronco nu, a "assentar" minas ...

A abelhinha, que não tinha aspecto de abelhinha Maia, caminhou para-ante-pata, pelo peito do Luís, depois pela perna (ah! estava de calção curto !!) e enfiou-se no cano da bota !

O momento foi de uma tensão incalculável pois o "pelotão de fuzilamento" mantinha-se em posição de ataque lá em cima !!

A páginas tantas, incomodada talvez pelo cheiro que aquela bota poderia estar a exalar, saiu, cumprimentou e levantou voo, dirigindo-se, com todas as outras, em direcção a S. Vicente.

Não houve ataque, não houve feridos, mas a estória ficou!

Já o mesmo não direi dum verdadeiro "arrastão" que um outro enxame fez ao passar pelo quartel de Bula. Alguns feridos, alguns olhos inchados, anti-estamínicos esgotados, mas, parece-me, o maior azar foi dos macacos que existiam por lá. Passada a loucura, contabilizaram-se variadíssimos bichos mortos a atestar da sua perigosidade.

Finalmente, e porque a curiosidade da coincidência do tema é, no mínimo, engraçada, posso-te contar que no último fim de semana, em Leiria, e numa prova dum campeonato de karting em que participo, fui visitado por um desses "adoráveis" estupores que invadiu o interior do capacete o que, calcularás, provocou um quase acidente e a perca, óbvio, de qualquer veleidade de campeão !!!

Em todas estas experiências, porém, nunca me lembrei que poderia haver uma NEP que ensinava como bem domar uma abelha, se mergulhando no rio mais próximo, se ir a correr para os bombeiros e pedir-lhes que lhes apontassem a mangueira ao focinho. E ainda bem porque em todos os casos estava demasiado longe desses apoios logísticos o que complicaria a situação pelo stress que provocaria !

Um abraço e ... cuidado que elas ferram mesmo ! (***)

António
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 9 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4005: Para amenizar, quem conhece a NEP das abelhas? (J. Mexia Alves)

(..) Era conhecida pela NEP das abelhas e eu nunca a vi e nunca a li, mas ao que me diziam, continha coisas de "bradar aos céus".

Segundo diziam, a NEP preconizava entre outras coisas, em caso de ataque de abelhas, a entrada imediata no curso de água mais perto... Dizia-se também que a mesma aconselhava o rebentamento de granadas de fumo, talvez com o intuito de dar a conhecer ao inimigo a nossa posição!!!

Não sei se a NEP existia ou não e se continha tais "conselhos", mas embora nunca tenha tido nenhum ataque de abelhas, sei que era uma coisa terrivel, que fazia o pessoal atacado entrar num descontrole total e lembro-me de ouvir referir, que um Alferes de uma Companhia Independente teria morrido na mata de vido às multiplas picadas de um ataque de abelhas.

Alguém sabe alguma coisa sobre isto, da NEP, ou mortes causadas pelas abelhas? (...)


(**) Vd. postes de:

3 de Abril de 2008 >Guiné 63/74 - P2717: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (1): A Selva, perigos, demónios e manhas (A. Marques Lopes)

9 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2738: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (2): A Selva: Struggle for Life... (A. Marques Lopes)

(***) Vd. Wikipédia > Abelha africana (Apis mellifera scutellata)
Vd. também Killer bees

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3849: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (8): Bula, vésperas do Natal de 1970

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 3 de Fevereiro de 2009:

Olá, Carlos Vinhal

Sem lapso desta vez, segue outra passagem de "Viagem à volta das minhas memórias".

É bem verdade que com o passar da idade, a nossa memória remota se vai aprimorando (com algumas ajudas) e a próxima, ao invés vai-se esbatendo, criando-nos até por vezes problemas.

Tem sido curioso constatar que, ao ler determinadas passagens/comentários no vosso/nosso blogue, ao ver fotos ou na consulta de alguns apontamentos, disparam-se flashes de pormenores, momentos ou situações que talvez me tenham marcado pela positiva ou negativa (??) Por outro lado há lapsos de tempo, sitios, situações que sei que vivi, mas estão envoltas até ver, numa escuridão desesperante! Por vezes bem puxo pela cabeça... mas ela não sai! !!

Tudo de bom
Luis Faria


Bula - Vésperas de Natal 1970

A 1 de Dezembro de 1970, os Velhinhos do BCav 2868 passam a responsabilidade da zona para o BCaç 2928 e a minha rotina continua até ao dia 19, data em que a Operação Ronco Desejado (???!!!) de novo vai levar a Força às matas de Dungor, península a Norte do Choquemone, mas agora com responsabilidade própria e sob o comando do Cap Mil Mamede de Sousa que, saindo pela primeira vez, se fez acompanhar pelo Fur Enf Urbano e o nosso guia balanta Inchalà Guancane que já tinha acompanhado mais do que uma vez o meu Grupo em acções, sem consequências, nos arrabaldes das zonas de Ponta Matar, menos problemáticas e daí já o conhecer como guia. Desta Operação mantenho algumas lembranças bem vivas, que hoje transcrevo.

A bicha de pirilau pôs-se em marcha como de costume pelas 1/2 horas da manhã, em silêncio absoluto, tentando não alertar a população para a nossa saída. Como sempre em Capunga(?), tabanca à saída da povoação, lá estavam mirones à porta de moranças e não seria por insónia, julgo! Continuamos pela picada de Binar e infletimos para leste em direcção ao objectivo. Ultapassámos a zona desmatada e o capinzal, e entramos na mata verdejante e húmida.

Não sei por que razão, o Cap Mamede e o Urbano iam integrados no meu grupo, que julgo seguia em segundo lugar. A noite luarenta deu lugar à manhã, andava-se cautelosamente com o minimo de ruído, aos esses evitando os trilhos e de quando em vez agachávamo-nos para ligeiro descanso.



- Oh Inchalá, ainda estamos longe…?

- É já li Furié - e andávamos mais uma imensidão de tempo sempre às voltas e contra-voltas, rarissimamente em trilhos, conforme instruções dadas. Sabia que aquela zona não era para brincar. Como da primeira vez, comecei a ouvir umas rajadas curtas intervaladas. Engodo, já sabem que cá estamos e não sabem onde - penso. Redobro a cautela e continuo a andar. A mata é mais densa agora.
Sem aviso rebenta um fogachal tremendo da minha direita. O pessoal agacha ou deita-se, proteje-se, pois o tiroteio é muito intenso, mas parece-me alto. A zona de morte é extensa, dando-me a entender que é um grupo IN numeroso e dividido. As malditas das RPG estoiram por tudo o que é lado, distingo bem o matraquear das armas turras e as balas são profusas. Parecia o inferno!!

A meu lado está o Cap Mamede, que num dos pequeníssimos abrandamentos do tiroteio dirigido à nossa zona, se levanta talvez com intuito de ver alguem ou por julgar que tinha acabado, não sei. Digo-lhe para se deitar e protejer, o que fez sem denotar qualquer receio ou medo. O Urbano, também à minha beira, ajuda à missa! Com a sua sacola de primeiros socorros e a sua G3 parece-me talhado para aquelas andanças!

O tiroteio continua a prolongar-se, com alguns abrandamentos e não parecendo viável e seguro tentar qualquer manobra de envolvimento, já que para além das carateristicas da mata, a zona de emboscada era extensa, há que protejer e aguentar. Da frente do meu 2.º Grupo pedem enfermeiro e lá vai o Urbano prestar apoio. É o Castanhas (HK 21) que tem estilhaços das malditas RPG no corpo. Continua a refrega. Protejo-me atrás de uma árvore tipo cajueiro, folhagem cai, ouço xicotadas, sinto impactos no tronco da árvore e fico à rasca. Estou sob mira! Vejo um vulto encoberto por um arbusto… atiro e deixo de o ver. A meu lado está agora o Augusto(inho) com os seus dilagramas. Lança um, recarrega e diz-me:

- Furriel, acabaram... só balas! Péssimo! Naquela situação o dilagrama podia fazer a diferença.

A refrega continua, já lá irão uns bons 15 minutos até que por fim tudo acaba. Para além do Cabo Castanhas fica ferido o Seno (morteiro) também com estilhaços, julgo. Pelos vestígios encontrados, o adversário teve bastantes feridos e talvez até mortos. No sítio onde vi o vulto e atirei, nada só a cama na folhagem.

As evacuaçoes são feitas pelo heli em clareira próxima com segurança e a 2791 rearranca em pirilau de novo aos esses e a corta mato. O moral do pessoal era bom e continua-se atento. Estou tenso mas calmo. O Inchalá está sereno e diz-me mais ou menos isto que me ficou gravado:

- Furié manga de tura… nos saída mais e sorriu-se!

Fiquei preocupado. A palavra foi passada e uma meia-hora depois, se tanto, aí estão eles de novo, desta vez com menor intensidade. Riposta-se, pede-se apoio aéreo. O recontro continua e passado algum tempo aparecem dois T6 que julgo andassem na zona, fazem a vertical, circundam, picam, largam duas bombas nos locais indicados como prováveis de retirada do IN, ganham altitude circundam a zona e vão embora. Ainda não tinha visto a actuação de aviões em combate e só meses mais tarde voltei a ter essa oportunidade, mas dessa vez foram os Fiat. Foi para mim realmente um espectáculo inesquecível que ainda hoje me parece estar a ver.

Com o aproximar e chegada dos aviões, o tiroteio esmorece e acaba sem que tivessemos baixas. Há informação de que muito pessoal esgotara as munições. São pedidas e chegam-nos de helicóptero (canhão?). É feita a segurança numa pequena clareira e o Fur Castro corre agachado a buscar os cunhetes por duas ou tres vezes.

Remuniciados, há que avançar de novo. O pessoal continuava cauteloso, mas estoirado. Como não há duas sem três, pouca distância percorrida e tivemos novo contacto, creio que com um pequeno grupo que estaria em retirada e também sem cosequências. Já era demais e como tínhamos que passar lá a noite, ia ser o bom e o bonito, pensei.

A tarde caminha para o anoitecer e, para meu contentamento o Cap Mamede deu ordem de regresso à estrada de Binar, saindo da zona. Passada a estrada, emboscamos em linha com os topos reforçados, preparando-nos para passar a noite. No dia seguinte pela manhã, vejo uma mulherzinha chorosa que mando parar e pergunto-lhe o que faz ali? Marido curta perna, respondeu receosa (?!). Deixei-a seguir para a tabanca que era próxima, sem querer aprofundar a questão.

De regresso ao quartel, quando passava pela rua principal de Bula, recordo que habitantes nos olhavam de maneira não habitual e cheguei a ouvir manga de ronco. Chegados, fomos recebidos na parada pelas chefias, coisa não usual, com dezenas de camaradas a obsevar. Após o destroçar, o bar foi o meu objectivo imediato.

Posteriormente soube o porquê daquela recepção: o pessoal julgou que, dada a intensidade dos rebentamentos que ouviram e os pedidos que fizemos, estávamos a ser dizimados. Dizia-se até que o Amilcar Cabral por azar estava ou ia passar na zona onde andámos e por isso nos deparamos com segurança reforçada. É possível, nunca cheguei a saber. Aquele era um corredor de passagem entre o Norte e o Sul. Só sei é que embrulhámos forte e feio, que infelizmente houve dois feridos, mas que recuperaram, que podia ter havido muitos mais, que a rapaziada se portou à maneira e que no espaço de um mês era a segunda vez que embrulhava duro e na mesma zona. Só cerca de um ano mais tarde voltei a pôr as botas no Choquemone, aquando da visita do Ministro para a inauguração(?) da estrada Bula/Binar.

O Natal era daí a quatro dias e tudo estaria bem se no dia seguinte ao final da Operação, 21 de Dezembro de 1970, não tivesse havido o primeiro morto da Companhia, num acidente de viação na estrada Bula/João Landim. O Sold At Celestino do 4.º GComb, que de véspera no Choquemone se tinha safado incólome, morreu estúpidamente ao fazer a escolta a João Landim, integrado no Grupo, quando o perigoso Unimog (burrinho) em que seguia, entrou num buraco da estrada cuspindo todo o pessoal da viatura e provocando mais 6 feridos. Creio que só o Fur Fontinha que seguia no lugar do morto, saiu incólume. Nessa data o Celestino ficou em Paz.

Um abraço a todos
Luis Faria



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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3832: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (7): Bula - Dias de calmaria

sábado, 3 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3694: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (6): Objectivo: Choquemone, 17NOV70


1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 29 de Dezembro de 2008:

Carlos Vinhal
Por causas técnicas não pude enviar a estória na data prevista assim como os votos de Bom Natal para vós e para a Tertúlia, nem agradecer as diversas mensagens recebidas.
Faço-o agora, acrescentando os votos sinceros de que o 2009 seja melhor em Saúde, concretização de Desejos e Objectivos.
Que a coesão Familiar seja uma Dádiva, que a Amizade se reforce. Que os mais Jovens se aproximem dos Idosos e troquem afectos e vivências. Que o apoio aos mais Desfavorecidos e Desprotegidos seja uma realidade.

Um abraço a Todos
Luis Faria

Bula - Objectivo: Choquemone 17 de Novembro de 1970

Como referi no capítulo anterior, os primeiros dias de Novembro de 1970 foram de adaptação à zona e ao meio: protecção de colunas, patrulhamentos seguidos de emboscadas nocturnas que duravam 36/48 horas na estrada Bula –S. Vicente com finalidade de eventual intercepção do IN, serviram também para um melhor conhecimento e adaptação à realidade do meio hostil, especialmente durante a noite, para o controlo de mantimentos (especialmente água) e mais.

Pelos meados do mês chega à 2791 o Alf Mil Ruas Gaspar que vai comandar o 4.º GComb, substituindo-me. Era a 2.ª vez que acontecia (* cap 1.º) e fiquei um bocado quilhado por ter de abandonar o Grupo que tinha ajudado a preparar e comandava… mas ordens são ordens… e fui colocado no 2.º GComb que passou a ser o meu, sob o comando do Alf Barros (Guineense) e onde estavam os Furriéis Castro e Marques. A integração fez-se sem problemas.

Ao dia 17 do mês, numa Operação às matas do Choquemone, tive o meu Baptismo de Fogo, assim como a Companhia.

Pela 2/3 horas da manhã, a 2791 a 4 GComb sob o comando de um Alf do Bigrupo veterano que nos incorporava, arrancou em bicha de pirilau dando início à Operação Doninha Parda, dirigida à região de Choquemone. Tinha a informação que esta mata não era pêra doce e toda a atenção era necessária, já que seria uma base permanente com patrulhamentos IN e a detecção na entrada relativamente fácil.

Não era uma noite muito escura e quase à saída da povoação, antes da bifurcação S. Vicente - Binar fiquei surpreendido e apreensivo por àquela hora ver aqui e ali pessoas às portas das moranças. Porra, os gajos estão a manjar para onde é a ida, pensei!

Continuámos a caminho do objectivo e na picada para Binar, um rebentamento forte, isolado, fez-me pensar que tinham pisado uma mina . A bicha de pirilau parou defensivamente, o silêncio foi cortado por gemidos de dor e logo de seguida constatou-se o desastre: uma granada da bazooka de que o Nunes era apontador, sabe-se lá por quê, caiu ao chão e detonou, decepando-lhe um pé e ferindo menos gravemente creio que mais 2 militares. O Nunes era do 4.º GCOMB, que eu deixara e lá estava o Fur Fontinha e o Enf Silva (julgo) a acompanhar a situação.

Feitas as evacuações, retomou-se a progressão para o objectivo em marcha atenta . Já na mata e ao pensar que podíamos ter sido detectados, o acidente com o Nunes começou a esbater-se no meu pensamento dando lugar a uma maior atenção ao meio envolvente e ao pessoal. Chegada a manhã comecei a ouvir umas rajadas curtas à distância que me puseram os sentidos no limite, mas a velhice não pareceu muito preocupada pois aqueles tiros, no entender deles seriam chamariz. Realmente nada aconteceu e continuamos a progressão com as devidas cautelas. Chegada a hora do almoço, há que estacionar .

Estávamos numa mata não muito densa e os velhinhos, conhecedores da zona (?), dão instruções para dispor o pessoal em perímetro de segurança alargado o que foi feito. Os oficiais abanquetaram-se no interior do perímetro e há que começar a dar ao serrote. O Alf Quintas chamou-me para o pé dele e lá fui com a minha G3 e ração. Comecei a comer e de repente rebenta um fogachal daqueles! Um grupo IN estaria a tentar envolver-nos, mas foi detectado, gerando-se o primeiro confronto a sério da 2791 .

Aos primeiros tiros o Quintas, que não tinha a G3 com ele, quis abarbatar a minha o que claro, não deixei (esta é minha… pegue na sua…!!) e corri para o perímetro, de onde não deveria ter saído. Ouvi pela 1.ª vez o vai no Puto ! E sem ver ninguém, dei uns tiraços na direcção de onde me pareceu ter vindo a voz, mas sem nenhum efeito prático, julgo! As Kalach não se calavam e as roquetadas ferviam, tendo os RPG passado a ser a arma que mais temi, durante toda a comissão.

Acabado o confronto e debaixo de toda aquela tensão, há que ver se havia baixas e havia : dois feridos com gravidade e uma dezena de outros rapazes com ferimentos ligeiros. Quanto ao IN teve 1 morto confirmado e vários feridos mais que prováveis dados os indícios detectados no reconhecimento de zona. De volta à picada para as evacuações serem feitas em ambulância e regressarmos ao quartel, ia ouvindo de novo rajadas, o que me deu ideia de o IN teria ficado desnorteado, nos procurava a pensar que ainda lá nos encontrávamos.

A CCaç 2791 começou a honrar cedo a sua divisa Força ,o que a meu ver foi positivo já que o pessoal tomou consciência logo no início de que naquele teatro operacional, se alguém facilitasse, podia ter consequências graves para si e para os companheiros. Quanto a mim, surpreendeu-me o facto de ter passado de tenso a sereno no meio de tudo aquilo e confirmei que aquela guerra não era para brincar. Faz hoje 38 anos e 1 mês.

Luís S Faria



CCaç 2791 – 2.º GrComb > Em cima: Fur Marques; Fur Castro; Alf Barros e Fur Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3602: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (5): Bula - Gratidão

sábado, 8 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3424: 16.000 minas montadas entre Bula e S. Vicente (António Matos, ex-Alf Mil, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)

Como sobrevivi a um campo de minas 

António Matos ex-Alf Mil CCAÇ 2790 Bula, 1970/72

Já por várias vezes referi neste blog à minha interferência na montagem dum campo de minas no terreno que ladeava a estrada Bula - S.Vicente, mas para uma melhor compreensão de quem o não saiba, vou tentar dar uma ideia mais precisa dessa realidade.

A estrada Bula-S.Vicente tinha uma extensão de cerca de 16 kms e ao longo dela realizavam-se caravanas de transporte de populações para além das patrulhas militares. A Guiné é constituída por uma morfologia de terreno plano, sendo que a maior altitude se cifra nos 300 metros, num planalto do maciço do Futa Djalon o que, em termos militares, dificultava a orientação por falta de referências. De um e de outro lado da referida estrada existiam dois pontos estratégicos: Ponta Matar, a oeste, e Choquemone, a leste.

Ao tempo, 1970/72, estes locais albergavam guerrilheiros que procuravam mantimentos perto de Bula (tabancas de Capunga, Pete, Ponta Consolação, Augusto Barros e Mato Dingal). A minagem justificava-se para obrigar o IN a utilizar as passagens que estivessem "vigiadas" 24 horas por dia pelas nossas tropas. Para essa tarefa formaram-se várias equipas de especialistas uma das quais, liderada por mim.

Estávamos em Outubro de 1971

Estratégicamente, pretendia-se minar todo o lado leste da estrada, desde o km 4 até ao km 13. Tecnicamente, a implantação das minas seria em duas fiadas mais ou menos paralelas. Obtido o azimute desde o ponto de referência inicial do troço até ao ponto final do mesmo, mediam-se os primeiros 3 metros nessa linha imaginária; aí, e perpendicularmente a essa linha, mediam-se 1,5 metros onde se abria um buraco com a ajuda da faca do mato, que albergasse a mina anti-pessoal de fragmentação, portuguesa, ficando apenas a descoberto, as 3 finas pontas finais as quais, uma vez pisadas, despoletariam toda a sequência de deflagrações por simpatia até que a última, a do bloco de trotil onde se encaixava o detonador, faria os piores e mais hororosos estragos à infeliz vítima. Uma vez colocada esta mina, metálica e detectável com o detector eléctrico, mediam-se novamente 1,5 metros quer para a esquerda, quer para a direita quer ainda para a frente dela e, em cada uma destas localizações, montava-se uma mina anti pessoal de sopro, italiana, de seu nome Encrier.

as mãos...

Regressando à linha imaginária entre as duas referências, mais 3 metros e repetia-se toda esta sequência, embora para o lado contrário. Se se imaginar agora que, paralelamente, seguia uma outra linha imaginária com o mesmo esquema e número de minas, fácil é de calcular que a densidade por metro quadrado não dava grandes hipóteses de se passar sem accionar um destes engenhos. Todo este trabalho era simultâneamente acompanhado da feitura dum croqui que permitisse a todo o momento procurar, verificar, substituir, ou levantar o que fosse necessário. Claro que as precauções eram imensas! Desde logo porque todo o manuseamento dos engenhos era, já de si, susceptível de disparo inadvertido; depois porque as Encrier eram quase que deixadas à superfície o que não impedia que qualquer bicho ao farejá-las não levasse com ela nos queixos e por ali ficasse; a própria época das chuvas se encarregaria de as deslocar (dificultando perigosamente a sua localização à posteriori); os azimutes tinham de ser extremamente bem conseguidos sob pena de 1 grau de desvio representar uma grande amplitude de erro ao longo da linha imaginária; finalmente, a formação do bagabaga em cima das ditas tornava a operação de resgate uma tarefa imprópria para cardíacos! No total montaram-se cerca de 16.000 minas e, a par de alguns indígenas, e de diversos macacos, houve também vários camaradas acidentados.

a imagem Google (clicar para ver em tamanho mais aceitável) mostra esquematicamente a localização e extensão deste campo de minas. Infelizmente, na guerra, a "cunha" era tão omnipresente como no quotidiano e, como sempre, ganha o mais poderoso ainda que, posteriormente, não se evitem lágrimas de crocodilo para aligeirar "os remorsos".

Os campos de minas não se levantam, passam-se

Quero eu com isto dizer que, sendo dos livros que um campo de minas não se levanta, passa-se (para isso existem os croquis), aparecem sempre ombros estrelados que, por cagaço, incompetência e/ou mera prepotência, mandam os livros às malvas e impõem a lei do mais forte! Foi também o que aconteceu com esse campo de minas o qual teve que ser levantado (antes da guerra acabar!!!) apenas porque sim! Essa operação tornou-se um verdadeiro inferno em muito ajudado pela incompreensível condescendência admitida aos comandos dos piriquitos numa altura em que o fim da nossa comissão estava a chegar. Diariamente seguíamos para o campo com um espírito negativista devido à cadência dos acidentes e não raras vezes os vivi a uma distância de alguns poucos metros e mesmo alguns centímetros. E PUM!

Uma vez mais por meros motivos de memória futura destapo o baú das minhas más recordações e relato uma dessas ocasiões.

O Alf António Matos com o detector...

Tinha sido já detectada (por detector) a mina de fragmentação e propunha-me descobrir as outras à base de picagem do terreno. Simultâneamente, outro elemento de outra equipa (Furriel José Abreu, sapador) ocupava-se de idêntica operação no cacho (conjunto das 4 minas) contíguo; mais ao lado, um terceiro camarada (Furriel Santos) num 3º cacho. Eram evidentes as dificuldades em encontrá-las uma vez que essas minas estavam todas deslocadas das posições habituais por via das chuvas que, entretanto, tinham caído. Uma operação que normalmente demorava uns escassos minutos a neutralizar, prolongava-se, neste caso, há mais de 1/2 hora! Ordenei várias paragens para verificação de possíveis más colocações nossas mas não era o caso.

Repentinamente, PUM! e dou por mim caído no chão com o Abreu muito perto também estatelado . Os primeiros momentos foram de horror com a perspectiva das consequências. Recuperada a lucidez possível, perguntei ao Abreu se tinha sido ele a pisá-la, e o pânico apoderou-se dele perante essa expectativa. Não teve coragem para confirmar e então comecei eu a temer pela minha sorte. A dúvida de ambos é algo impossível de descrever pelos sentimentos provocados. Era imperioso esclarecer a situação e a muito medo cada um teve de certificar-se se ainda era possuidor de ambos os pés ou mesmo de ambas as pernas. É nessa altura que o camarada Santos, ali do outro lado, começa a dar sinais de ter sido ele a vítima. Havia que o ajudar de imediato mas não podia esquecer que estávamos caídos num campo de minas e qualquer gesto menos pensado podia transformar a ocasião num verdadeiro mar de sangue pelo possível rebentamento de vários outros engenhos. Tratei de localizar a nossa posição ao camarada enfermeiro (Aprígio) e "conduzi-lo" até nós via rádio. Esta tentativa demonstrou-se pouco prudente e optámos por levar o Santos para a estrada afim de ser socorrido. Uma vez aí, e perante um odor nauseabundo a carne humana assada, conseguimos pô-lo a soro e proceder à sua evacuação. A adrenalina só descarregou um par de horas mais tarde, no quartel, mas no dia seguinte, qual trapezista de circo que cai, voltamos para desafiar a sorte. Deus ajudou-me ! Estou inteiro! António

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  Notas: 1. Imagens e texto de António Matos.

2. Sublinhados e subtítulos da responsabilidade do editor. 2. artigos do autor em 1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390 Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)