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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10332: Blogpoesia (198): Uma estranha maneira de dizer adeus (Luís Graça)



Lisboa > Cais da Rocha Conde Óbidos > Meados de 1965 > Embarque, no T/T Niassa, do pessoal da CCAÇ 1426 e de outras unidades para o TO  Guiné. Ao fundo, o tabuleiro da ponte sobre o Rio Tejo ainda em construção. Compare-se, entretanto, esta foto com as cenas dos dois primeiros minutos do vídeo feito pelo Henrique Cardoso com a história da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69): embarque do pessoal, no N/M Ana Mafalda, em 14 de janeiro de 1968.

Foto: © Fernando Chapouto (2006). Todos os direitos reservados.




O meu país megalítico > Penafiel > Oldrões - Galegos >  25 de agosto de 2012 > Castro de Monte Mozinho > Povoação castreja, da época da romanização ( Sec. I d.C. e seguintes). A acrópole (o "terreiro do povo") ao centro, assinalado a tracejado.

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


Uma estranha maneira de dizer adeus

por Luís Graça (*)

uma estranha maneira de dizer adeus.
um estranho povo este
que vem ajoelhar-se
no cais da partida,
não em oração,
para aplacar a ira dos deuses,
mas vergado,
vergado à toda poderosa razão
de Estado.

a tentacular força centrífuga
que de há séculos
te leva os filhos teus,
para fora.
paridos e expulsos da mátria,
para longe.
bem para longe.
muito para lá do mar.

uma despedida breve,
com lágrimas salgadas no rosto
e lenços brancos em fundo preto.

todas as despedidas são breves e tristes,
o momento
em que o niassa apita três vezes
e levanta a âncora,
nunca se poderia eternizar:
diz o capitão de mar e guerra,
lencinho ao pescoço,
cheirando a vate 69,
fotocine, 

cinéfilo,
garboso, 

charmoso,
pronto para a acção.

há um briefing às cinco da tarde,
já em velocidade de cruzeiro,
depois do bugio,
no mar alto português,
anuncia o capitão,
pouco ou nada miliciano,
que serve de mordomo,
pequeno-burguês.
vai na segunda comissão,
o oficial provinciano,
que nunca ouviu falar
da batalha de dien bien phu

nem da operação tridente 
na ilha do como.

e o filme da noite é
uma comédia,

do cinema mudo,
acrescenta o nosso primeiro,
a servir de porteiro
do cais do sodré.
um gajo bacano,
num país de bacanos,
de soldados rasos, 

primeiros cabos,
furriéis 

e segundos sargentos.

uma tragicomédia,
escreverás tu
no teu diário
a que mais tarde chamarás
o diário de um tuga.
cadé os oficiais ?
cadé a elite da nação ?
os filhos-família,
os primeiros,
a fina flor,
os morgados,
os primogénitos,
os fidalgos,
a casta,
a raça,
o sangue azul,
o pedigree,
os melhores de todos nós ?
morreram todos
em alcácer quibir.

lisboa revista
em filme de oito milímetros.
a preto e branco.
ou a preto e negro.
uma só nação,
valente mas mortal,
ironiza alguém.
o niassa colonial
na azáfama do seu vai-e-vem
antes de ir parar à sucata.
inglória a sucata da história
que eu perdi
aos dezoitos anos,
quando dei o meu nome para as sortes.
estranha palavra esta, 

das sortes,
que rima com desnortes
e com mortes.

a despedida breve e triste
do niassa
e ainda mais triste é o filme.
sem som.
sem palavras desnecessárias.
a preto e branco
que alguém terá feito
no cais das sete partidas.
talvez a noiva
que ia vestida de branco
com xaile preto.

a ponte de salazar,

ainda reluzente.
o velho abutre 

que alisa as suas penas,
dirás tu, sophia, pitonisa,
quase morto mas não enterrado.
os últimos golfinhos do tejo.
a última fragata de vela erguida,
a última caravela,
o último império.

o cristo rei em terra que outrora foi de infiéis,
o terreiro que continua do paço, não do povo,
lisboa e o seu casario,
branco.
o filme a preto e branco.
um gato preto à janela.
lisboa e as suas ruínas
pré-pombalinas.
o poço dos mouros.
o poço dos negros.
o lundum.

a umbigada.
a procissão
da nossa senhora da saúde.
a santa inquisição,
zelando pela pureza do sangue,
o cemitério dos prazeres
ao alto,
com os seus altos ciprestes negros.
os mastros dos navios
da carreira colonial.
o império por um fio.
a vida que se recapitula,
de fio a pavio,
no último comboio da noite
que veio do campo militar
de santa margarida.

ah!, e as santas das nossas mães
que ficaram em casa,
a acender a vela à santa das santas.
um fado que tu ouviste no bairro alto
e que já não era batido
nem dançado 

nem cantado.
um fado apenas gemido.

ordeiros os soldados
como os cordeiros da matança da páscoa.

anhos, dizem no norte.
alinhados
no cais da rocha conde de óbidos,
como os eléctricos amarelos
que vão para a cruz quebrada.
empilhados. 

aboletados.
requisitados
às mães para servir
a pátria,
o pai-patrão
que lhe cobra o dízimo
em sangue, suor e lágrimas.

mudos, agrilhoados, os básicos,
uns refractários,
outros desertores,
cozinheiros, 

magarefes,
corneteiros,
apontadores de dilagrama,
municiadores de metralhadora,
atiradores,

sacristães,
coveiros.


coitadas das mães que tais filhos pariram,
diz a letra do ceguinho.
subindo o portaló,

 o cadafalso,
com um nó na garganta
bem disfarçado.
os lenços brancos
como em fátima no 13 de maio.
algumas bandeiras verdes-rubras,
poucas e loucas,
que os tempos não são
de exaltação
patriótica.
o hino
canta-se com voz rachada,
em disco riscado
por senhoras
do movimento nacional feminino.

a mesma atitude
admirável
de patética resignação
perante o arbítrio dos deuses
que tudo pedem e podem,
diz o capelão,
cheio de unto e de virtude,
que este é um povo religioso
porque tem o sentido do pathos.
leia-se: da tragédia inelutável.

senhora minha, protege-me,
das minas e armadilhas,
dos fornilhos 

e das bailarinas,
das canhoadas e roquetadas,
das morteiradas,
dos estillaços
e dos tiros de costureirinha.
protege-me do IN,
dos esquentamentos e das sezões,
dos ataques de abelhas
e das formigas carnívoras.
mas também do cone de fogo
das nossas bazucas e canhões sem recuo.
das piçadas e dos louvores dos meus comandantes.
e sobretudo de mim mesmo,
soldado malgré moi
soldado à força
arrebanhado, arregimentado, aboletado,
requisitado, condenado, ameaçado,
camuflado.
livra-me, senhora minha,
da fome, da peste e da guerra,
e do inimigo da minha terra
que me manda para tão longe.


lisboa e as suas sete colinas
perdem-se na linha de água.
puseste o combate do possível
na tua agenda
de expedicionário da guiné.
puseste o fio com a medalha de ouro
ao peito.
que te deu a namorada,
coitada.


não, não uso a cruz. 
o crucifixo.
não vou para a guerra santa,
senhor capelão.
alguém há-de rezar por mim
para que eu volte
são e salvo.
do regulamento é apenas
a chapa de zinco
com o número mecanográfico
13151468
e o picotado ao meio.
para mais facilmente ser cortada
em duas partes
que seguirão caminhos distintos
tudo isto face ao risco,
bem real e concreto,
de eu morrer longe.
bem longe

da pátria,
para lá do mar,
em terra que não me viu nascer.


descansa, camarada,
alguém fará o teu espólio.
cerrará os teus dentes,
fechará os teus olhos
e engraxará as tuas botas.
se não morreres de morte súbita.

levarei comigo a pedra-chave
que me liga ao além.
uma chapa de zinco,
picotada ao meio.
outrora era de xisto ou de grés,
entre o meu antepassado 

calcolítico,
castrejo,
romanizado.

camaradas
(que colegas é só nas putas):
se eu morrer, que me enterrem,
numa anta do meu país megalítico. (**)


luís graça
lisboa-bissau / niassa, 24-30 de maio de 1969 / 
revisto e aumentado: lisboa,  março de 2007 / abril 2021

________________


Notas do editor:

(*) Uma primeira versão foi publicada na I Série do blogue >  16 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXL: o meu país megalítico


(**) Último poste da série > 24 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10297: Blogpoesia (197): O trabalho, por António Peres, poeta popular (José Colaço)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Guiné 63/74 – P9884: Convívios (433): 7º Encontro da CCAÇ 1426, 7 de Julho de 2012, em Vila Amélia (Fernando Chapouto)


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, com pedido de divulgação, o seguinte programa da festa da sua Companhia.

VII ENCONTRO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 1426 – GUINÉ 1965/67
07 DE JULHO DE 2012 (SÁBADO)

Camaradas, 

Venho informar que o nosso encontro se realiza em VILA AMELIA, junto à FABRICA DA COCA-COLA, no CAFÉ RESTAURANTE “A QUINTINHA”. 

Contamos com a vossa presença, no:

CAFÉ RESTAURANTE “A QUINTINHA

EMENTA

Entradas: Pão, azeitonas, manteigas, queijo e Linguicinhas
Sopa: Creme de Cenoura
Pratos Quentes: Bacalhau à casa frito com molho de cebolada e Carne de porco à alentejana
Bebidas: Vinho a jarro, sumos, cerveja, águas e sangria
Sobremesas: Diversas
Mais: Bolo de Aniversário com champanhe, café e digestivo

Contactos
António Sequeira Gomes: Telef: 212880260, TMN: 969073463
Fernando Chapouto: Telef: 210838708, TMN: 965114882

Programa:
11h30 - Concentração junto ao restaurante
13h00 - Almoço convívio

Inscreve-te até 10JUN2012, vem participar no nosso/vosso convívio.
Não faltes, esperamos por ti, nós estaremos lá.

Preços:
Adultos: 25.00 €
Crianças: Até aos 10 anos não pagam.

ITINERÁRIO: 


Coordenadas GPS: 38.557529 – 8.987091
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

10 DE MAIO DE 2012 > Guiné 63/74 – P9882: Convívios (250): Almoço anual da CART 2479 - CART 11 (CCAÇ 11), dias 26 e 27 de Maio de 2012, em Coruche (Abílio Duarte)


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9529: Parabéns a você (386): Agradecimento e esclarecimento (Fernando Chapouto)


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos em 20 de Fevereiro de 2012 a seguinte mensagem de agradecimento, relativa ao poste P9497 sobre o seu septuagésimo aniversário e um pequeno mas interessante esclarecimento do dia exacto em que nasceu.

Aniversário,

Quero agradecer aos ex-combatentes que me desejaram os parabéns aqui no blogue, no passado dia 17 de Fevereiro.

Para todos eles um forte abraço, extensivo a todos os demais ex-combatentes portugueses.

Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp / RANGER da CCAÇ 1426

2. Aproveito para enviar duas cópias, da Cédula Pessoal e do B.I., para esclarecer as confusões quanto ao dia do meu aniversário. 



Não sei o que se passou, pois sempre me foi dito que nasci a 17 de Fevereiro, como se pode ver na cédula. 

Só quando me preparava para fazer o exame da 4ª Classe, a professora me disse que o meu nome era FERNANDO SILVÉRIO CHAPOUTO e não como eu pensava: FERNANDO RAMOS SILVÉRIO CHAPOUTO. 

Como tinha só 10 anos, quem era eu dizer que não à professora?! 

E só quando tirei o 1º. B.I., para continuar os estudos, é que vi que a data não condizia com a da célula. 

Acreditem que nem os meus familiares sabem do 1 de Março. 

Uma coisa é certa: eu não tive nada a ver com esta confusão.
___________
Nota de MR:

Vd. também sobre o assunto tratado o poste:



Vd. último poste desta série em:


24 DE FEVEREIRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9524: Parabéns a você (385): Manuel Henrique Quintas de Pinho, Marinheiro Radiotelegrafista, LDM 301 e LDM 307 (Guiné, 1971/73)


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9212: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (2): Mensagens dos nossos camaradas José Carlos Gabriel, Alcides Silva, José Lima da Silva, José Corceiro, António Nobre, Fernando Chapouto, António Paiva e Armando Fonseca

MENSAGENS DE NATAL DOS NOSSOS CAMARADAS

1. Mensagem do nosso camarada José Carlos Gabriel (ex-1.º Cabo Op Cripto da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74):

Nesta data festiva não poderia deixar de endereçar os meus votos de UM FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO DE 2012 para todos os camaradas e respetivas famílias.


José Carlos Gabriel
Ex-1º Cabo Op. Cripto
2ª CCAC do BCAC 4513
Nhala 73/74

************

2. Mensagem de Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador na CCS/BART 1913, Catió,1967/69:

Amigos e companheiros de guerra,
Envio o desejo de Bom Natal e Feliz Ano novo para todos os camarigos.


Um grande abraço para todos e muita saúde.
Alcides Silva

************

3. Mensagem de José Lima da Silva (ex-Soldado da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bissum, Pirada e Bula, 1966/67):

Com os votos de que tenham Festas felizes e Santo Natal para todos em geral
Um abraço
JLS


************

4. Mensagens de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71)

António Nobre (ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Buba, Nhala e Binar, 1969 e 1970):
e
Fernando Chapouto (ex-Fur Mil da CCAÇ 1426, 1965/67, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda

Natal Feliz com muita saúde e alegria
Um abraço


************

5. Mensagem do nosso camarada António Paiva (ex-Soldado Condutor Auto no HM 241, Bissau, 1968/70):


************

6. Mensagem de Armando Fonseca (ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64):

____________

Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 14 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9196: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (1): Gabriel Gonçalves (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8551: Convívios (361): 6º. Encontro da CCAÇ 1426, 9 de Julho, em Cuba (Fernando Chapouto)




1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos uma pequena reportagem sobre a festa da sua Companhia.


Camaradas,

Realizou-se no passado dia 9 de Julho, em Cuba no pleno coração do Alentejo, o 6º Encontro/Convívio da minha CCAÇ 1426, que andou por terras de Geba, Camamudo, Cantacunda e Banjara, entre os anos de 1965/67.

Infelizmente a grande maioria dos ex-Combatentes da minha companhia não são muito dados a convívios, por diversos motivos, de que se adivinham alguns, tal como o estado crítico do País, os poucos recursos e os problemas de saúde

Mesmo assim, este ano, a adesão superou as melhores expectativas tendo-se verificado a presença do maior número de companheiros presentes nestes nossos convívios, apesar de terem faltado à chamada final alguns que se tinham inscrito.

Foi espantoso verificarmos que 39 combatentes (poucos mas bons) conseguiram reunir, contando com os seus familiares, um total de 114 (cento e catorze) adultos e algumas crianças.

Foi muita a alegria, abraços e natural emoção demonstrados por aqueles que apareceram pela primeira vez, pois tinham-se passado 44 anos sem sabermos nada deles.

Mais uma vez fico muito grato ao blogue, pelo trabalho e boa vontade colocada ao serviço dos ex-Combatentes da Guiné.

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil da CCAÇ 1426
Os Alferes Milicianos, após a colocação de um ramo de flores no monumento dedicado aos Combatentes do Ultramar do concelho de Cuba. Da esquerda para a direita: Almeida, Soeiro e Albardeiro.
O pessoal junto ao mesmo monumento. O último da direita, em pé, sou eu.
Aspecto do grupo que começava a engrossar. Ainda faltavam muitos. Eu estou em 1º plano, do lado esquerdo, em baixo.

O grupo e seus familiares.

Três transmontanos presentes pela 1ª vez. À esquerda estou eu, à direita o Fur Mil Vaqueiro (duas presentes habituais nos encontros) e, ao centro, o Soldado Condutor Santos de Chaves (meu condutor que apareceu pela 1ª vez).
____________
Nota de MR:
Vd. último poste desta série em:

sábado, 11 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8403: Convívios (350): VI Encontro dos Ex-Combatentes da Companhia de Caçadores 1426, 9 de Julho, em Cuba (Fernando Chapouto)




1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos, com pedido de divulgação, o seguinte programa da festa da sua Companhia.

VI ENCONTRO DOS EX-COMBATENTES DA
COMPANHIA DE CAÇADORES
9 de Julho de 2011
CUBA

Venho informar que o nosso encontro se realiza em CUBA no RESTAURANTE CASA MONTE PEDRAL Contamos com a vossa presença.

PROGRAMA

10H00 - Concentração junto à sede da Assoc. Antigos Combatentes
13H00 - Almoço convívio
EMENTA
ENTRADAS NO PÁTIO COLON ALMOÇO NO RESTAURANTE
Pão e azeitonas, queijo de cabra e ovelha, presunto, mini rissóis
Sopa
Bacalhau com espinafres e gambas de camarão, pastéis de bacalhau
Grelhada de porco preto do montado
BUFFET DE SOBREMESAS INCLUINDO
Salada de frutas, mousse de chocolate, pudim de ovos e bolo de bolacha
Vinho branco/tinto da região
Água, refrigerantes e café
Aguardente caseira
Bolo comemorativo do 44º Aniversário do nosso regresso
Contactos
Joaquim Bicho : Telef: 284412732 ou TMN: 961412814
Joaquim Recto Delgado: Telef: 219556626 ou TMN: 917128308
Fernando Chapouto: Telef: 210838708 ou TMN: 965114882
Por correspondência ao remetente


Inscreve-te até 25JUN11, vem participar no nosso, vosso convívio, haverá surpresas! Não faltes, esperamos por ti, nós estamos lá.
PREÇO
Crianças até 10 Anos ……………..13,00 €
Adultos …………………………………. 26,00 €


__________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série:

9 de Junho de 2011 >
Guiné 63/74 - P8393: Convívios (343): A CART 1689 comemorou os 44 anos da chegada à Guiné no dia 30 de Abril de 2011 na Póvoa de Varzim (José Ferreira da Silva)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7923: Parabéns a você (225): Agradecimento de Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426

1. Mensagem de Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426 que entre 1965 e 1967 esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, com data de 2 de Março:


AGRADECIMENTO

Quero agradecer a todos os ex combatentes camaradas e amigos pelos parabéns* que me dirigiram por mais um aniversário são só apenas 68 anos e 12 meses penso que me não enganei nas contas se alguém duvidar que me desculpe e para o ano se ainda por cá andar faço 70 e vocês que vejam.


Mas agora desfazer as dúvidas quanto ao dia dos meus anos, vejam:


Pois é, o que se fazia naquela época para não pagarem a multa de 2$50, mas agora se quisesse repor a verdade teria que pagar bem mais.

Oficialmente é o B.I. que conta em casa é o dia verdadeiro do nascimento que é 17FEV, porque só dão prenda e parabéns uma vez.

Para todos os ex combatentes um forte abraço
Fernando Chapouto
Ex-Fur Mil OE
CCaç 1426
Guiné 1965/67
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7881: Parabéns a você (223): Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426 (Tertúlia / Editores)

Vd. último poste da série de 8 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7908: Parabéns a você (224): António Marques Lopes, Coronel DFA (Reformado), ex-Alf Mil da CART 1690 e CCAÇ 3 (Tertúlia / Editores)

terça-feira, 1 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7881: Parabéns a você (223): Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

01 DE MARÇO DE 2011


Caro camarada Fernando Chapouto , a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.

__________

Notas de CV:

Vd. poste de 1 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5914: Parabéns a você (84): Fernando Chapouto, Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, Geba/Camamudo/Banjara/Cantacunda-1965/67 (Editores)

Vd. último poste da série de 27 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7870: Parabéns a você (222): Luís R. Moreira (ex-Alf Mil Sapador da CCS/BART 2917 e BENG 447 (Tertúlia / Editores)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5914: Parabéns a você (84): Fernando Chapouto, Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, Geba/Camamudo/Banjara/Cantacunda-1965/67 (Editores)

»»»»»» F*E*L*I*Z....A*N*I*V*E*R*S*Á*R*I*O«««««««

1. Completa hoje 68 anos de idade, o nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda.

O Chapouto chegou à Guiné no navio Niassa em Agosto de 1965, e, em Outubro foi para o Camamudo. Nos finais do mês de Novembro desse mesmo ano, foi destacado para Banjara e em meados do ano de 1966, foi destacado para Geba.

Continuando a sua saga pelo território guineense, em Março de 1967 foi colocado em Cantacunda.

Finalmente, em Maio de 1967, regressou à metrópole no navio Uíge.

Foi agraciado com uma cruz de guerra...

É um dos nossos membros mais antigos da Tabanca Grande.

2. Para melhor tentarmos avaliar o perfil do Chapouto, fomos mais uma vez consultar um site, que se tem vindo a tornar muito popular e se dá pelo nome de KAZULO (http://horoscopo.kazulo.pt/4866/signos-do-zodiaco.htm).

Diz-nos, ali, que o signo de Zodíaco, para os nativos nascidos entre 20 de Fevereiro e 20 de Março é: PEIXES.

Acreditando nesta ancestral sabedoria, vejamos o que diz o seu horóscopo:

Peixes (20/02 a 20/03)

Os peixes mostram-se etéreos e misteriosamente charmosos, quase frágeis. Mostram, um nível de consciencialização que muitos desconhecem. Não são pessoas materialistas, entregam-se frequentemente de corpo e alma a causas que os outros vêm como perdidas - para eles não existe nada sem redenção.

Cheios de compaixão, a realidade em que vivem é tão verdadeira quanto a física. Possuem uma paz interior invejável e conseguem manter-se calmos nas circunstâncias mais adversas. Visionários e muito sensíveis, respondem facilmente aos pensamentos e sentimentos dos outros. Conseguem perceber se os outros estão a passar por dificuldades, detectando a dor e sofrimento nas suas vidas.

Peixes escolhem muitas vezes dedicarem todo o seu tempo e energia a ajudar alguém desolado, e fá-lo sem pensar na recompensa. São capazes de se colocar nas condições mais indesejáveis para ajudar a libertar a carga de outros.

Peixes costumam ser bastante artísticos por natureza, virados sobretudo para a música e dança, mas também para a pintura, representação e outros. Nada egoístas e muito dedicados, fecham os olhos aos defeitos dos que amam.

Neptuno governa este signo mutável de Água que tem como frase chave «eu acredito». Virgem está na casa das relações, cuja natureza prática mantém Peixes no tempo certo.

Anjo:

O Arcanjo Zachariel protege os nativos do Signo Peixes. Aqueles que nascem sob a sua influência são sensíveis, emotivos e generosos. Preocupam-se pelo bem-estar do próximo e sacrificam-se pela felicidade dos outros. Extremamente sensitivos, conseguem aperceber-se dos sentimentos daqueles que estão à sua volta.

São compreensivos, tolerantes e muito dedicados. No amor são românticos e um pouco dependentes da pessoa amada.

O Arcanjo Zachariel ajuda os seus protegidos a serem pessoas mais independentes. Favorece a compreensão e o Amor Universal.

3. Independentemente das mensagens e comentários que os nossos Camaradas enviarem e colocarem, futuramente, no local reservado aos mesmos, neste poste, queremos em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca, que por vários motivos, não puderem enviar as suas mensagens, cantar-te a seguinte cantiguinha muito tradicional:

PARABÉNS A VOCÊ,
NESTA DATA QUERIDA,
MUITAS FELICIDADES,
MUITOS ANOS DE VIDA.
HOJE É DIA DE FESTA,
CANTAM AS NOSSAS ALMAS
PARA O AMIGO NANDINHO...
UMA SALVA DE PALMAS!

E mais acrescentamos que:

O nosso maior desejo, neste teu aniversário, é que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.

E mais te desejamos,que por muitos mais e boas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos te possa dedicar mensagens idênticas, às que hoje lerás neste teu poste e no cantinho reservado aos comentários.

Estes são os mais sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, que como tu, um dia, carregaram uma G3 por matas e bolanhas da Guiné.

Com montanhas de abraços fraternos.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série em:

27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5890: Parabéns a você (83): Luís R. Moreira, ex-Alf Mil Sapador da CCS/BART 2917 e BENG 447, Guiné 1970/71 (Editores)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5395: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (16): A caminho de casa - O fim de um pesadelo


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos a última fracção das suas memórias. Esta sua série havia sido iniciada em 29 de Agosto p.p., no poste P4877.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67

A caminho de casa
O fim de um pesadelo

A bordo do Uíge, os dias eram passados a jogar às cartas e a contarmos as nossas histórias. É claro que nós, os furriéis das diversas companhias, como estivemos numa quadrícula, só nos víamos de vez em quando e de passagem, ou então, quando fizemos operações em conjunto.

No refeitório do Uíge, em primeiro plano o Furriel Paio, seguindo-se o Marques, o Cardoso (com óculos). Eu fui o fotógrafo.

No dia nove de Maio quando acordei e fui à vigia já vi terra.

Estávamos à entrada da barra, chegou o barco dos pilotos e lá fomos rio Tejo acima, até ao Cais da Rocha.

Neste percurso, quando nos íamos aproximando da Ponte de Salazar, sobre o Tejo, já concluída e inaugurada, olhei para os mastros do Uíge e para altura da ponte. Os nastros eram tão altos que pensei cá para comigo: “Agora não podemos passar porque a maré está cheia.”

Ainda bem que eu estava enganado porque o barco passou facilmente, como é óbvio, e atracamos no cais por volta das dez horas.

Quando vi o barco preso a terra levantei os braços de alegria, por regressar são e salvo.

O navio Uíge que nos transportou de regresso à Metrópole

Descemos do navio e, cumprindo a praxe, desfilamos pelo cais fora, em formatura (coisa a que já não estava habituado), perante as altas individualidades que ali nos vieram receber-nos e passarem a revista às tropas e verem o nosso perfil.

No mato não apareceram eles!

E eu sem botões nos bolsos do blusão. Estavam descosidos e dentro do bolso. Não os cozi, visto já não precisar do blusão. A tropa para mim acabara!

Mais tarde tive de “mobilizar” a minha esposa para voltar a cozer os botões, porque tive que ir às cerimónias do dia 10 de Junho, que decorreram no Porto, receber a Cruz de Guerra.

Em conclusão, hoje sinto-me um herói, não por ter sido medalhado com a Cruz de Guerra, mas sim pelo sentimento de ter cumprido o meu Dever, para com a minha Pátria, porque, na minha opinião pessoal, heróis são todos aqueles que serviram com dignidade e honra nas missões que lhes foram incumbidas.

Mais me sinto orgulhoso, apesar de ver e saber tão maltratados pela Tutela, os ex-Combatentes, neste últimos 35 anos.

Não esquecerei os que tombaram ao serviço da Pátria, esses duplos heróis que estão “esquecidos” pelos nossos políticos e curvo-me perante as suas memórias com todo o respeito e admiração.

Terminou a guerra de G3, no mato, no tarrafo e nas bolanhas, mas não terminou, no meu cérebro, a guerra psicológica. Aquela que passados quarenta anos continua me continua a atormentar.

Más recordações que acabarão um dia… quando… só Deus sabe!

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Fotos: Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:


sábado, 28 de novembro de 2009

Guiné 63/74 – P5365: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (15): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – Rotinas perigosas V

1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos a 15ª fracção das suas memórias. Esta sua série foi iniciada em 29 de Agosto p.p., no poste P4877.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67

Rotinas perigosas V e
Preparar o regresso

O tempo foi passando, custosa e demasiado lentamente, o Furriel Paio deslocou-se a Geba em serviço e, quando regressou, deu-me uma grande notícia ao informar-me que, em breve, iríamos ser rendidos. Logo informamos os soldados, solicitando-lhes que não dessem sinais disso para o exterior, nomeadamente junto dos soldados nativos que, de imediato, espalhariam a notícia.

No dia seguinte reuni o pessoal necessário, para ir verificar as armadilhas e certificar-me se os croquis que desenhara, estavam em conformidade com o as montagens realizadas e deixar tudo em ordem ao pessoal que nos viria render.

Deixamos o aquartelamento por volta das 10h00, em direcção à bolanha e atravessamos esta (nesta altura ainda seca). Havia ali uma pequena subida, que percorremos facilmente, e entramos na mata embelezada por algumas árvores de grande porte e basto arvoredo rasteiro.

Chegamos ao ponto de referência da primeira armadilha. Mandei o pessoal distribuir-se, metade par cada lado da picada e seguirem um pouco mais atrás, em relação à minha posição e comecei a contagem das passadas, seguindo escrupulosamente o delineado no croqui.Quando estava a duas ou três passadas da armadilha tive nova surpresa, pois o fio de esticar fora cortado novamente.

Senti-me deveras curioso, em me certificar quem seria o “artista” que cortava tão habilmente os fios, mas como estávamos para ser substituídos não voltei a rearmar a granada, acabando com a ideia de emboscar aquela zona.Continuei a progressão, em frente, para verificar a outra armadilha.

Uma vez chegado junto da mesma, verifiquei que o fio estava intacto. Como a granada estava colocada num lugar de difícil acesso, por precaução resolvi fazê-la explodir. Assim, coloquei-me a uns trinta metros e disparei-lhe um tiro. Eu tinha a certeza que lhe acertara, mas o que é verdade é que ela não explodiu. Então um dos meus camaradas disse: “O meu Furriel não acertou nada… eu atiro.”

O soldado disparou e... absoluto silêncio. Pensei cá para comigo: “Aqui há gato!”Mandei montar a segurança no perímetro, para me aproximar, cautelosamente, porque a granada semi-escondida, com mato à volta, que permitia que, por sua vez, estivesse contra-armadilhada pelo IN.

Pois se eu já estava surpreendido com o que tinha visto na primeira armadilha, ainda o fiquei mais ao constatar que os tiros que déramos, desfizeram a estrutura da granada em pedaços de aço, que se encontravam ali espalhados em volta e, para meu maior espanto, não tinha a cavilha de segurança nem a espoleta.

Mais pensei, naqueles elementos desconhecidos e suspeitos, que apareciam de vez em quando a rondar e a espiar os movimentos da Tabanca, sacando preciosas informações aqui e ali, e, posteriormente, brincavam connosco como foi o caso destas armadilhas, nitidamente anuladas por quem fora bem informado da sua existência e localização exacta.

A sorte deles é que eu estava para ser rendido e pensei: “Quem vier atrás de mim que trate desses gajos.”Regressei ao aquartelamento furioso e, durante o almoço, comentei o sucedido com o Paio, ao que ele me respondeu: “Amanhã vamos embora, deixa as coisas bem esclarecidas e dá todas as instruções à pessoa que ficar responsável pelas armadilhas.”

No fim do almoço deixei tudo em ordem e, em seguida, fui dar uma volta pela Tabanca, pedi a minha roupa à lavadeira que me disse ainda não a ter pronta, só dali a duas horas. Eu quero tudo prontinho hoje! – disse-lhe.Assim foi, passadas as duas horas lá estava eu e a roupa estava pronta. Paguei-lhe e regressei ao aquartelamento.

Há noite, depois de jantar o pessoal foi oficialmente informado, que, no dia seguinte (18ABR1967), de manhã cedo íamos ser rendidos. O Furriel Paio ordenou que todos metessem os seus haveres dentro das suas mochilas, porque íamos para Geba proceder ao espólio de todo o material de guerra em nosso poder.

Íamos regressar a Metrópole! Que grande euforia, gozada intensamente em pouquíssimo tempo, porque havia que arrecadarmos tudo nas nossas mochilas e zelar pela segurança durante essa angustiosa e infindável noite.

Pela manhã cedo, toca a pôr tudo em ordem, para entregar os “tarecos” ao pessoal que nos vinha render. Foi muito rápido, pois havia pouco para entregar, além de alguns géneros alimentícios, as armas de autodefesa, a enfermaria, as transmissões e a caserna com as respectivas camas.

Deixamos pelas costas, sem qualquer tipo de saudades Cantacunda, por volta das 09h30, tomamos o caminho de Geba, com paragem em Camamudo. Aqui chegados, fui-me despedir do pessoal da Tabanca e do Chefe de Posto, pois foi aqui onde passei a maior parte do tempo.

Tudo isto em grande velocidade, após o que continuamos até Geba, onde fizemos a entrega das G3, facas de mato, granadas de mão ofensivas e os colchões, que também nos estavam distribuídos e que eram de espuma, com coberturas que já estavam todas rotas devido às transpirações pessoais.

Depois dos espólios feitos já as viaturas estavam à nossa espera. Fomos informados que íamos para Fá Mandinga, esperar pelo barco.

Seguimos então viagem até pararmos em Bafatá, onde chegamos por volta da 13h00 e poucos minutos. Descemos das viaturas, rumo ao refeitório para almoçar e ainda bem, pois o estômago estava completamente vazio.

Acabado o almoço fui reunir o pessoal e dirigi-lo às casernas, onde íamos ficar instalados. As casernas mais não eram que uns barracões, na parte mais baixa de Fá, pois no alto da colina estava uma companhia ou um batalhão. Nós, os furriéis, ficamos logo à entrada do quartel, acerca de duzentos metros das casernas dos soldados. Ficamos espantados, pois nem uma arma nos foi distribuída, assim como aos soldados. Ali ficamos até ao dia 02MAI1967.

Passamos os dias a jogar à bola e, de vez em quando, dávamos uns passeios até Bafatá, onde comíamos uns petiscos e eu aproveitava para visitar os meus conterrâneos.

No dia dois de Maio, a seguir ao almoço mandaram-nos formar e subir para as viaturas. Carregamos os nossos “tarecos” na viatura destinada ao nosso pelotão e seguimos para Bambadinca, onde nos esperava o barco.

Uma Bor transportou-nos rio Geba abaixo, até Bissau, onde nos esperava o tão ansiado navio, “Uíge”.

Na Bor - Rio Geba -, na direcção a Bissau, onde nos esperava o Uíge, para regressarmos finalmente à Metrópole.

Chegamos ao Uíge por volta das 16h00, subi as suas escadinhas estreitas, com uma caixa de madeira, onde levava várias recordações da Guiné e uma caixa de cartão grande. Fui instalar-me na camarata que me foi destinada e desci do navio.

Apanhei um barquito, para o cais, porque o Uíge devido ao seu grande calado, não podia encostar ao cais e fui comprar uma caixa exterior, para o meu rádio da marca Hitachi, comprado na casa Gouveia em Bafatá, em OUT1965, já que a que tinha, de origem, estava toda partida.

Voltei rapidamente ao Uíge, pois havia ordens do Capitão, para que todo o pessoal formasse antes do jantar, a fim de nos dirigir algumas palavras, o que foi feito.

Jantamos, fomos até ao bar beber umas cervejas e empatar uns momentos de conversa, até se acharem horas para irmos dormir.

Na manhã seguinte quando acordei, sentia-me indisposto, meio enjoado, devido com certeza ao constante baloiçar do barco, sujeito à normal ondulação do mar. Parecia-me que o enjoativo baloiçar, se devia sobretudo à pouca largura do Uíge, olhei pela vigia e reparei que já estávamos bastante afastados da costa terrestre.

No Uíge, a descansar depois de uma refeição. Reconheço os furriéis milicianos (da esquerda para a direita): um elemento de outra companhia, Eu, Cardoso, Vaqueiro, Leonel, António Luís e o Silva.

(Continua)

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Fotos: Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:


sábado, 21 de novembro de 2009

Guiné 63/74 – P5313: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (14): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – Rotinas perigosas IV


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos a 14ª fracção das suas memórias. Esta sua série foi iniciada em 29 de Agosto p.p., no poste P4877.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67
Rotinas perigosas IV

Chegado a Cantacunda foi tempo de conhecer os cantos à casa, denotando, desde logo, que as instalações eram muito precárias. Pior só BANJARA, aonde me havia deslocado uma ou duas vezes para jogar futebol, após o que regressávamos a Camamudo.

Conhecidas as instalações, fomos visitar a Tabanca, contactar com os usos e costumes do pessoal na localidade (especialmente o das bajudas como é óbvio) e arranjar lavadeira.

Cantacunda era uma Tabanca muito estranha, notamos que a maior parte da população era muito desconfiada, de tal modo que não consegui, durante o mês e meio que lá estive, chegar a uma conclusão sobre as origens que motivavam essa desconfiança.

Detectamos a presença de várias pessoas estranhas à nossa tropa, que por ali circulavam, uns a apeados, outros de bicicleta, que habitualmente se juntavam sob os mangueiros a conversar, debandando quando nos aproximávamos. Perguntei aos soldados nativos, quem eram e donde vinham, mas ninguém me sabia, ou não queria, responder, em nítida posição de cumplicidade.

Assim, conhecidos os cantos da casa e da Tabanca, juntamos o pessoal necessário e procedemos ao reconhecimento da periferia, para nos certificarmos da vivência nos arredores da Tabanca, nomeadamente em algumas picadas. Numa delas verificamos sinais de movimentação humana, muito pouco vulgar, já para além da bolanha.

Regressados ao destacamento fui dar conhecimento ao Furriel Paio das minhas desconfianças, sugerindo-lhe que aquela picada mais movimentada fosse armadilhada. Ele concordou comigo e no dia seguinte, a seguir ao pequeno-almoço, falei com o Furriel Paio para que me cedesse nove ou dez soldados da companhia e um soldado nativo conhecedor desta ZO, equipados com o armamento usual, para efectuarmos um reconhecimento mais atento e pormenorizado à citada picada e montarmos então as tais armadilhas.

Muni-me de duas granadas defensivas e lá saímos. Passamos a bolanha e caminhamos mais um ou dois quilómetros. Escolhi um local que me parecia mais discreto, junto a uma pequena árvore com vegetação em volta, para colocar uma das armadilhas usando uma das granadas que eu transportava. Montei um círculo de segurança no perímetro, enquanto executava a montagem, acerca de um palmo do solo, dissimulada pelos arbustos que ali existiam dos dois lados do caminho (seguindo as instruções e conhecimentos que recebera nos “ranger’s”).

Para quem não sabe ou já esqueceu, estas colocações obrigavam a fazermos uma descrição da montagem da armadilha, com a sua localização exacta (indicando pelo menos um ponto de referência evidente e EXACTO do local), e, se necessário, elaborarmos um esboço ou esquema da colocação.

Tal se devia a que, posteriormente, serviria não só para comunicação a todo o pessoal da nossa Unidade, desta perigosa e mortífera existência, bem como em caso de nova decisão, se proceder à sua EXACTA desmontagem.

Cumprindo então as normas aprendidas, seleccionei uma árvore seca de grande porte com uma bifurcação enorme e utilizando a orientação possível e o medidor habitual (contagem de passos), elaborei o croqui (que aperfeiçoei quando cheguei ao destacamento), contendo todos os pormenores, para que, como foi dito, caso não fosse accionada a granada pelo IN, quem tivesse que executar a desinstalação não tivesse qualquer dúvida da sua exacta localização.

Escusado seria dizer aqui, que o mínimo erro na elaboração de um croqui desta natureza, poderia significar um drama humano fatal à NT.

Mais uns dias passaram, gastos em voltas pela Tabanca para conhecimento mais intestino dos movimentos de alguns elementos, que me pareciam esquisitos e na tentativa de compreender e assimilar o dialecto empregue pelos nativos, que foi coisa de que nunca consegui entender patavina (nem de fula, nem de mandinga), exceptuando apenas algumas palavras em crioulo, nada mais.

Digo que, também a minha, nossa, missão não era essa, mas sim defender e proteger a população, para que, com a nossa presença, se sentisse mais segura.

Aos fins de tarde, com o sol ameaça desaparecer, davam-se uns pontapés na bola, sem nunca conseguirmos onze “artistas” para cada lado, a que se seguiam os indispensáveis banhos, no belo “balneário” ali existente.

Foto do lavatório típico das péssimas condições existentes em Cantacunda

Mais uns dias de descanso se passaram, a que se seguiu um novo reconhecimento das picadas e, especialmente, a verificação do estado da armadilha que havíamos colocado, se tudo estava como deixáramos. Quando cheguei à árvore de referência, ordenei aos soldados que se dividissem em dois grupos e penetrassem para dentro do mato, ao longo da picada, até ao local da armadilha.

Toca a contar os passos seguindo o rumo da montagem, com cuidado, pois podia haver alguma surpresa até à armadilha e, para meu espanto, quando cheguei ao sítio da armadilha verifiquei que o fio estava partido, ou cortado. Analisei a armadilha e tudo estava normal, pelo que, pensei aqui há “gato”. Como levava a outra granada comigo, andei mais um quilómetro aproximadamente e montei-a num lugar muito estreito, com mato muito denso e com indícios de passagem de pessoas.

No regresso, ao passar pelo local onde se encontrava a primeira armadilha, introduzi uma cavilha em segurança na granada, mudei o fio de esticar, retirei a cavilha novamente e regressei ao destacamento, pois já estava na hora do almoço.

Aproximava-se o domingo de Páscoa e tínhamos agendado um jogo de futebol com a equipa de Capé, da parte da manhã. Era preciso ir à lenha para a cozinha e como o condutor estava atrasado, pediu-me que conduzisse eu a viatura. Lá fui eu num Unimog “dançarino”, até poucos quilómetros de Cantacunda, perto da bolanha, na direcção de Camamudo. Carregou-se a viatura e regressamos.

Eu carregava no acelerador e os nativos gritavam: - Força furriel!

E eu, extasiado, cada vez acelerava mais. O pior foi quando entrei num terreno arenoso e o Unimog, que já de si era muito instável e inseguro, guinou para um lado e para o outro e saiu da picada, obrigando-me a virar e a revirar o volante. Tive sorte, o veículo não saiu da picada e como não havia nada nas bermas, consegui dominar a direcção da viatura. Fiz uma tangente a uma árvore e retomei a picada. Milagrosamente chegamos todos inteiros ao destacamento, não ganhei para o susto mas ficou-me a experiência para o futuro. Aprendi a ter mais cuidado, pois com a carta de condução há apenas dois meses, não tinha qualquer noção de condução no mato.

Descarregada a lenha, subiram os jogadores da nossa equipa seleccionados para a viatura, pois o jogo era às dez horas. Capé distava cerca de 20 kms, cujo trajecto percorremos rapidamente, chegando antes da hora prevista. Como o pessoal já ia meio equipado, apenas tiramos o camuflado e começamos o jogo. Tudo correu bem excepto o resultado final do jogo. Fomos derrotados por 1-0.

Acabado o jogo regressamos a Cantacunda, tomamos banho e fomos almoçar com o restante pessoal da companhia, que já estava à nossa espera.

Foto da equipa de futebol de Capé capitaneada pelo bem conhecido Carlos Barbosa, filho do patrão da refinaria de cana de açúcar local. É o primeiro em pé, a contar da direita.

(Continua)

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Foto: Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em: