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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16971: In Memoriam (276): o 1.º cabo sapador Glória, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, um tripeiro de gema: até sempre, camarada ! (Juvenal Amado)


Foto nº 1 > O pelotão de sapadores da CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 172/74)  a bordo do T/T Angra de Heroísmo, a caminho da Guiné. O Glória é o 4.º a contar da esquerda, na fila na frente, e está sentado. Foto do ex-fur mil António Maria Fernando, o 1.º em pé a contar da direita.


Foto nº 2 > Galomaro: o meu abrigo e o espaldão da MG 42


Foto nº 3 > Capela de Galomaro, construída em 1973 pelo pelotão de sapadores

Fotos (e legendas): © Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados. [Seleção, edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de ontem à noite, enviada pelo Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem" (Lisboa, Chiado, Editora, 2016):

Caros camaradas,  
Recebi esta notícia e que outra coisa poderia fazer senão homenagear este camarada, senão transportá-lo para aqui e aqui descansar à sombra desta Tabanca  Grande, que se construiu a partir das vivências e memórias que nos unem para sempre.

Daqui endereço os meus mais sentidos pêsames à família e amigos

Até sempre, Glória
Juvenal Amado



2. In memoriam > O Glória, o inesquecível 1.º cabo sapador Glória

por Juvenal Amado [foto à esquerda]

O 1.º cabo sapador Glória, natural da zona ribeirinha do Porto, era, como o costume dos naturais dessa cidade, orgulhoso da sua naturalidade, o que gerava grandes discussões com quem era de outras, bem como de outros clubes de futebol etc.

Com ele fiz colunas, serviços de reforço, partilhei mesa no refeitório e joguei à “sueca” muitas vezes, o que era uma animação.

Na noite de 1 de Dezembro de 1972, quando Galomaro foi violentamente atacado ao arame, estávamos nós, os dois, mais o Costa também sapador e o Confraria operador STM, embrenhados numa animada partida desse popular jogo na cantina . Normalmente dez riscos e a equipa ganhadora recebia duas cerveja pagas pela a equipa que perdia. Não é preciso explicar muito sobre as bocas de quem com regozijo ganhava e o desgosto de quem perdia.

O 1º cabo sapador Glória
Mercê da divisão de alojamento pelos diversos abrigos, muitos dos nossos tempos livres eram passados com quem nos era mais próximo e por conseguinte, embora nos conhecêssemos bem, o nosso relacionamento era esporádico.

Mas estar onde ele estava era sempre uma animação, pois as discussões em voz alta eram constantes. Não era por mal, era do seu feitio expressar-se e defender-se com a voz muitos pontos a cima dos decibéis normalmente utilizados e aconselhados. Assim a gritaria, que se ouvia vinda do abrigo dos sapadores era sempre constante e por vezes, até bem tarde. A malta ria-se, pois eles eram capaz de discutir numa coluna.

Mas atentem, que eram três ou quatro assim e que, não eram discussões que alguma vez pudessem descambar a agressões, pois nunca eram desse cariz. Chegava a ser discutir por discutir como quem teima.

Uma vez as discussões e berros, já noite fora, eram de tal ordem, que o coronel Castro e Lemos levantou-se da cama e em roupa interior, atravessou a parada para se inteirar do barulho e mandar calá-los.

Foram motivo da galhofa geral e era frequente na cantina quando havia mais barulho, o “estofador” dizer em ar de gozo: “ Ó!! meus meninos, querem ver que me tenho que pôr em cuecas para vos mandar calar”? A boca servia para eles e para os outros, que também faziam barulho que se fartavam. As discussões acaloradas não eram exclusivas dos sapadores.

O pelotão de sapadores era usado para além do trabalho de linha, também lhes cabia a eles os trabalhos de consertar os telhados, uma parede, um muro etc. Ao trabalho deles se devem as alterações estéticas, que o quartel de Galomaro foi sofrendo desde que chegamos até à nossa partida, acabando por sua livre iniciativa construir a capela, que o quartel nunca tinha até aí tido. Até aí o padre Nuno realizava o culto numa arrecadação, que já tinha servido de morgue e depois serviu para alojar parte dos camaradas do Dulombi após a retracção daquela companhia, que foi dividida entre a CCS, Cancolim e Nova Lamego ou Piche.

No dia a seguir ao ataque, lá estava o Glória a mudar as coberturas de zinco do refeitório e a mandar umas bocas para o outro sapador, que estava a tapar um buraco de RPG numa parede.

Bem, no fim do dia podia-se jurar, a pés juntos, que não tinha havido ataque nenhum, de tal maneira foi rápido o conserto que, por mais que eu peça aos meus camaradas de companhia, não há uma única foto sobre os estragos a não ser os do abrigo da MG 42 e do meu próprio abrigo.

Mas os sapadores eram também utilizados em picagens, em patrulhas nocturnas e assim o Glória mais os seus camaradas de pelotão, acabaram mesmo por serem enviados para Buruntuma já em 1974, a pouco tempo do nosso regresso, para minar zonas circundantes desse destacamento onde, após Copá, era esperado um grande ataque, que acabou por acontecer em Canquelifá na forma de foguetões.

Soube agora, por um camarada sapador, que o Glória morreu no princípio deste mês.
Nunca mais o vi desde o nosso regresso, mas lembrava-me muitas vezes dele tanto, que do pelotão dele só me lembro do nome de mais dois ou três.

É assim, vamos ficando menos. Faço votos que a terra lhe seja leve e que descanse em paz junto com os que nos deixaram, mas que vivem na nossa memória. Os meus mais sentidos pêsames à família e a todos que com ele privaram.
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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16802: Inquérito 'on line' (94): Inofensivas batotas (António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912)

Quartel de Galomaro


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 4 de Dezembro de 2016:

Inofensivas batotas

Camarigos,

Estávamos em finais de Fevereiro de 1972, quase no final da comissão. Atrás deste tronco, sito a uns metros depois da pista dos hélis, do quartel de Galomaro, estacionei, embosquei e comandei um grupo de camaradas. BATOTA...

Tinha de me embrenhar uns bons metros além deste local que militarmente não era muito aconselhável. O tronco estava bem posicionado porquanto de lá via o quartel, ouvia o barulho do gerador e até as vozes dos meus camaradas mais noctívagos. Barulhos inofensivos para quem por vezes ouvia gritos de dor e ruídos do fogo IN.

Não foi o caso daquela noite. O quartel tão perto e ninguém via do quartel. Havia um inconveniente: ficava perto do local onde os guinéus enterravam os mortos. Eu sabia.

O cheiro da Metrópole estava mais próximo de cada um de nós e a vontade de aventuras era menor. Alguns dos meus camaradas, que conheciam bem o local, protestaram mas por ali ficámos durante seis horas, das 20H00 às 02H00.


Galomaro

Foto: © Carlos Filipe



A “VALENTIA” e a “CORAGEM” do início da comissão, em Maio/70, estavam muito gastas.
Foi o meu último serviço, fora do quartel, em postos avançados.
(…)

Essas patrulhas eram a pé,
Feitas com poucos homens e muita pressa,
Abordávamos o chefe da tabanca
E dávamos dois dedos de conversa.

Enquanto éramos “periquitos”,
Cumprir a rigor procurávamos,
À medida que íamos ficando cansados
O percurso traçado encurtávamos.

O encurtar foi tanto,
Esquema usado por toda a gente,
Até havia quem saísse do quartel
E entrasse na tabanca quase em frente.

Era preciso fazer passar o tempo,
Como se tudo fosse cumprido,
E aproximar do quartel
Pelo lado contrário ao que tínhamos saído.

(do livro – Guineíadas, de 2003)


Na secretaria dos Reabastecimentos do BCaç 2912:

- Alterávamos os mapas de SITMUNIÇÕES; SITARMAS; SITVIATURAS…

- Eram acrescentados alguns quilómetros às distâncias percorridas pelas viaturas civis utilizadas nas colunas de reabastecimentos, isto é, um percurso real de 40 Kms era pago por 50 Kms.
O COMCHEFEGUINÉ, em Bissau, aprovava ou não as distâncias utilizando os mapas Cartográficos do Exército.

Inofensivas BATOTAS,  realizadas em 1970/72, em que procuravam não prejudicaros civis ou os militares do batalhão.

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16800: Inquérito 'on line' (93): "Batota no mato" .. ou no blogue ?... Esperávamos 100 respostas, obtivemos apenas 45... Resultados: as três formas mais frequentes de batota: (i) emboscar-se perto do quartel (37%); (ii) começar a “cortar-se", com o fim da comissão à vista (37%); e (iii) “acampar” na orla da mata, ainda longe do objetivo (24%)... Só não fazíamos batota era com o Natal no mato...

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16615: O que é feito de ti, camarada ? (6): Carlos Filipe Coelho (ex-Soldado Radiomontador, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)... Um resistente, duplamente resistente... Faz hoje anos... Parabéns, amigo, e até sempre! (Juvenal Amado)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) > Carlos Filipe, radiomontador, à civil... Um homem gentil que aqui aprendeu a amar aquela terra e aquela gente...




A caminho da Guiné, num dos navios da nossa marinha mercante, o "Angra do Heroísmo", que largou do Tejo em 18/12/1971, cheio que nem um ovo...

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) > Carlos Filipe, radiomontador, uma especialidade pouco usual...



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) > Carlos Filipe, radiomontador 




Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > O Carlos Filipe, radiomontador, da CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) esteve internado 32 dias em Bissau, antes de ser evacuado, com hepatite,  para o Hospital Militar da Estrela em Lisboa, onde esteve 173 dias.


Fotos © Juvenal Amado (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Mensagem, com data de 9 do corrente, do  Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas,  CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74; autor de "A Tropa Vai Fazer De Ti Um Homem - Guiné, 1971 - 1974"  (Lisboa: Chiado Editora, 2015, 308 pp.)


Carlos,  mando aqui alguma coisa escrita para o poste do Carlos Filipe. Também envio fotos que tenho dele e junto a talhe de foice,  porque falo do Jamba,  uma foto em que o Catroga trata do filho dele.

Um abraço, Juvenal
Encontramo-nos a miúde na Amadora [,onde vive, sozinho, viúvo, com uma filha a viver no Cacém, e doente, doente de longa duração, mas resistente...]

Bebemos um café numa esplanada muito agradável perto da casa dele. Falamos de tudo mas em especial da Guiné, da sua situação interna, da sua classe politica, do seu injustiçado e sofrido povo.

Não consegue esconder desgosto por ver o partido de Amilcar Cabral não ser melhor que os demais, depois de tantas lutas, também ele se afunda na corrupção, no lodo dos interesses instalados e dos que se querem instalar.

Soubemos há tempos que o quartel de Galomaro foi transformado em armazém serração, que faz parte da praga que abate as suas florestas e que por isso não se pode filmar nem fotografar. As provas do crime, aguardam por embarque para Bissau em Bambadinca, ou no Xime. No Geba,  rio que cruzamos cheios de dúvidas e ansiedades das chegadas e alegrias das partidas, cumprirão mais uma etapa que levará a madeira das milhares de árvores abatidas para a China.

Para trás fica a destruição do meio ambiente, a sua fauna e flora. A Guiné que nós conhecemos, é só um resquício na nossa memória, é como vermos alguém morrer jovem e belo, vamos sempre lembrá-lo assim.

Acabamos por lembrar Galomaro mais o Regála, o Jamba [, foto à esquerda,] que era do PAIGC na clandestinidade, andava dentro do quartel por onde queria e lhe apetecia, a alegria das lavadeiras, Bafatá com os seus restaurantes e o seu comércio vibrante, a piscina, a praça, os vendedores de óculos de sol e relógios das melhores marcas “suíças” que só trabalhavam o tempo de sair da cidade....

As loucuras dos almoços às 10 da manhã, com whisky e charutos para rematar, pois a coluna tinha que sair com o correio o mais tardar às 11,30. Bebíamos mais uma para a viagem no caminho já à saída de Bafatá à esquerda,  numa tasca que,  segundo diziam.  eram de um individuo de Alfeizerão, que jogava com um pau de dois bicos e nem um copo de água dava à malta. Mandava-nos ir beber ao poço e era se queríamos.

Carlos ri-se da minha forma de falar, relembrar,  e dos rodeios que faço para lá chegar. Há dias levei-lhe um emblema do nosso batalhão. Só para ver aquele olhar iluminar-se e aquele corpo magro que resiste ao sofrimento crescer um palmo, metaforicamente falando, valeu apena.

Telefonou-me no dia 4 deste mês e eu não dei por isso. Quando reparei telefonei-lhe logo mas já não me atendeu. Tenho-lhe telefonado todos os dias sem conseguir falar com ele. Não me admiro,  pois por vezes está semanas e meses sem falar comigo, até que um dia vejo que é ele,  atendo, fico a saber, pela sua voz sumida e fraca, que esteve internado, ou que a quimio o deitou abaixo de tal maneira que nem comer nem beber consegue.

Volto-me a encontrar com ele e lá voltamos à Guiné e ao blogue dele,  Bissau Resiste, onde ele se digladia com guineenses e não só, de tendências e religiões várias. Facto que lhe grajeia amigos e possivelmente mais inimigos.

Fico a pensar onde vai buscar semelhante força.

Não sei quando vou falar com ele novamente, não sei se lhe consigo dar os parabéns pelo seu aniversário pessoalmente, mas nem por isso quero deixar esquecido e vou beber um copo à sua resistência e força, que o faz vencer todos os dias mais um dia.

Parabéns, Carlos Filipe.  recebe um abraço deste teu camarada, que o 3872 juntou e a Guiné uniu.

Até sempre, amigo.

Juvenal


Um resistente: o Carlos Filipe Coelho (ex-soldado radiomontador, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74) ... Foto atual... Vive na Amadora, sozinho, viúvo, com uma filha a viver no Cacém, e doente, doente de longa duração, mas resistente, duplamente resistente, um lutador...Tem 22 referências no nosso blogue.... Mas no seu blogue, "Bissau Resiste", tem mais de 7 mil postes publicados, em 4 anos, desde meados de 2013...




Cabeçalho do blogue do Carlos Filipe, "Bissau Resiste", criado em agosto de 2013 e atualizado até ao início de outubro de 2016. Tem mais de 70 seguidores. O nº de postes anuais é notável:  2016 (926); 2015 (3215); 2014 (2391); 2013 (790).


 2. Comentário do editor:

Caro Juvenal, és um grande ser humano. O que fazes pelo teu (e nosso)  amigo e camarada, é digno de registo, é um exemplo para todos nós, É isso a camaradagem e a solidariedade humana. É também esse espírito da Tabanca Grande.

Sim, eu sabia que Carlos Filipe estava (ou esteve) doente, há uns anos atrás.  Mas não sabia era o resto da história nem lo prognóstico da doença...  Há estoicismo e dignidade na maneira como o Carlos tem enfrentado a adversidade e fintado a morte.

Se conseguires estar com ele,  hoje, no dia do seu aniversário natalício, dá-lhe um abraço, de todos nós,  do tamanho do poilão da Tabanca Grande e bebe um copo com ele, por ele, por ti  e por todos nós, que merecemos viver mais uns aninhos cá na terra, para compensar os que perdemos na guerra... Mesmo de muletas... por que como diz o provérbio popular "mais vale andar neste mundo de muletas  do que no outro em carretas"... (LG)
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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16376: Memória dos lugares (342): Galomaro e as suas lavadeiras (António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912)

Quartel de Galomaro em construção, em Maio de 1970


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 3 de Agosto de 2016:


A BELA E O SENÃO

Camarigos,

A minha lavadeira de nome Mariana era alta, esbelta, de cor negra clara e de etnia Fula.
Tratava razoavelmente da roupa a troco de 80 pesos (escrevia-se: 80$00) mensais.
Os preços do serviço de lavagem eram diferentes para cada uma das classes de militares.
A Mariana era casada com um Djila que viajava muito à Gâmbia para contrabandear vários artigos vendáveis nos dois países. Diziam que recebia na sua morança tropas quando o seu homem estava ausente. Não sei se era verdade ou não. Comigo tratou somente da roupa. Com pouco mais de 21 anos com certeza vontade não me faltasse de outros serviços.

A minha primeira lavadeira que tive era anciã e andava sempre a mascar coca que trazia numa bolsa pendurada à cintura da vestimenta. Parece-me que estou a vê-la a mascar e depois a cuspir a coca. Era mais cuidadosa com o tratamento dado à roupa. A idade aparente já pesava bastante na sua frágil estrutura física, especialmente na pele enrugada da cara.

Ao fim da tarde era uma romaria de lavadeiras junto ao arame farpado para entregar ou receber a roupa. O chamamento de cada um dos militares por vezes transformava-se num coro desafinado mas engraçado. Quando chamavam pelo nome “TAVARÁS” muito se riam. Nunca descobri qual o motivo de tanto riso.
Os Oficiais tinham o privilégio de receberem as lavadeiras dentro do quartel de Galomaro.

Por razões óbvias não publico fotografias das duas mulheres que trataram da minha roupa durante os 23 meses que permaneci nas matas do Leste do CTIGuiné. História que fez parte da vida de um jovem deslocado numa terra tão longínqua e diferente em usos e costumes da sua terra Natal.

Recordar é Viver!

Tabuleta de recepção aos “piriquitos” do BCaç 3872 colocada (em 1972) na estrada principal de Galomaro. O 1.º Edifício à direita tinha sido uma caserna da CCaç 2405. Em 1970 era a casa do Chefe de Posto. A habitação e o Café - Restaurante do comerciante Francisco Regalla ficava uns metros aquém desta habitação.


Mulheres Fula a lavar roupa numa bolanha de Galomaro, em 15 de Julho de 1970. Nesse dia o BCaç 2912 já conhecia o chão guinéu há 76 dias.

Fotografia de Lavadeiras no seu trabalho quotidiano, em Galomaro.


Visita a uma Morança da Tabanca de Galomaro, em Outubro de 1970.

Abraço,
António Tavares
Foz do Douro, Quarta-feira 03 de Agosto de 2016
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16360: Memória dos lugares (341): UDIB, Bissau, II Jogos Florais, Programa, 28 de junho de 1974 (Augusto Mota)

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16175: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (102): no convívio deste ano, do pessoal do BCAÇ 3872, quem é que eu vou reencontrar? O meu antecessor, o hoje ilustre prof Pereira Coelho, bem como o Ussumane Baldé que estagiou comigo quando eu era subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil médico, BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74)


Convíívio do pessoal do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) > O momento do reencontro dos dois grandes médicos do batalhão de Galomaro... Entre os dois o ex-alf mil trms Mário Vasconcelos


Os drs,  Pereira Coelho e Rui Vieira Coelho, mais o  Juvenal Amado

Fotos (e legendas): © Juvenal Amado (2016). Todos os direitos reservados

1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-almil méd,  BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74):

Assunto - Libaneses

Luís, uma vez questionaste se havia Libaneses nas regiões em que estávamos aquartelados.

Em Galomaro eu sabia que sim, só que não me recordava do nome. Um estabelecimento que vendia de tudo, era do Sr Antoine Faran que vivia com a sua esposa, dois filhos e com o seu pai que se chamava Zamir Faran. 

Foi num convívio do Batalhão 3872, há pouco mais de 3 semanas,  que eu vim a tomar conhecimento daquilo que me parecia já esquecido.

Reencontrei o meu antecessor,  o Professor Pereira Coelho que já não via há cerca de 42 anos e que me emocionou bastante. Voltar a abraçar o percursor em Portugal da inseminação artificial deu ao encontro uma grandeza ainda maior

No meio disto tudo o Prof Pereira Coelho vinha acompanhado do Sr. Ussumane Baldé, que estagiou no Posto de Saúde Militar e na Saúde Civil onde eu era Sub-Delegado de Saúde da Zona de Galomaro- Cossé. 

 O Ussumane Baldé [, foto à esquerda,] mora na Praceta Henrique Pausao n 7,  4 E, 2745-123 Queluz Monte Abraão, mas ainda não apurei o que faz ou que necessidades eventualmente possa ter. 

Foi realmente um reencontro memorável e cheio de afectos, recordações de tempos conturbados mas com a certeza do acreditar numa Lusofonia que nos trouxe ensinamentos e amizades que se irão perdurar cosmicamente para todo o sempre.

O meu relato do encontro do Batalhão serve para responder a várias interrogações e tornar a Tabanca Grande cada vez Maior.

Um abraço do
Rui Vieira Coelho
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Notas do editor:

domingo, 27 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15907: Memória dos lugares (336): Cancolim, subsetor de Galomaro (Rui Baptista, ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, 1972/74) - Parte I


Foto 3 > Parada de Cancolim > Um quartel igual a tantos outros no TO da Guiné, feito pela engenharia militar.


Foto 4 > O pombal na parada de Cancolim (alguns pombos serviram de petisco; e a columbofilia também distraía)


Foto 9 > O fur Mil Jacinto e eu,  junto do famoso pombal de Cancolim


Foto 5 > Bissau > 26/12/1971 > Apresentação do Batalhão (o BCAÇ 3872) ao Com-Chefe, Gen Spínola) > Em primeiro plano o alf Mil Rosa Santos, já falecido há uns anos.


Foto 6 > Cumeré > 1/1/1972 > Passagem de ano >  À frente o alferes que nos abandonou e primeiro da última fila o capitão que também se foi.


Foto 7 > Cancolim > 23 de setembro de 1973 >  Trajando à civil, para esquecer a guerra: oficiais e sargentos: sentado: fur mil Oliveira; 1.ª fila,  da esquerda para direita: 1.º sarg Romana, fur mil Correia (Rodinhas), fur mil Silva (Russo), eu, capelão da CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro), fur mil Silva, fur mil Peixoto, alf mil Andrade; em cima também da esquerda para a direita: fur mil Santos, alf mil Videira, alf mil Oliveira, fur mil Conde, fur mil Gaspar, fur mil Ferreira e fur mil Jacinto.

Fotos (e legendas): © Rui Baptista (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. O Rui Batista, que mora em Póvoa de Santo Adrião, Loures, com 65 anos de idade, reformado, entrou para  a nossa Tabanca Grande em 9/12/2009. É lisboeta, sendo os pais oriundos de Arganil.

Segundo a sua apresentação, embarcou para a Guiné no NT Angra do Heroísmo em 18 de dezembro de 1971 e desembarcou em Bissau, na véspera de Natal em 24 do mesmo mês. Passou o ano novo no Cumeré.

Regressou a Portugal no T/T Niassa que partiu de Bissau em 28 de março e chegou a Lisboa a 4 de abril de 1974.

Permaneceu, portanto, na Guiné 27 meses e alguns dias, sempre em Cancolim, "lá no fim do mundo"...  Há que retirar, diz ele, "o tempo do IAO no Cumeré, duas viagens de férias a Lisboa e dois internamentos no Hospital Militar em Bissau".

Nesse espaço de tempo, aconteceram "coisas que jamais poderei esquecer". Estas fotos (das muitas centenas que tinha e que lhe roubaram, uns tempos da sua chegada, do carro, no Portinho da Arrrábida...) falam um bocadinho dessa história:

Segundo ele, "a CCAÇ 3489 não teve muita sorte durante a comissão, principalmente nos primeiros meses. Logo no início em Cancolim, em três quintas-feiras seguidas tivemos 4 mortos e 21 feridos: um morto e um ferido numa mina na picada entre Cancolim e o destacamento de Sangue Cabomba; 16 feridos ligeiros num despiste de uma viatura a caminho de Bafatá; e mais 3 mortos e 4 feridos na primeira flagelação do IN ao nosso aquartelamento".

Nesse primeiro ataque, ele  teve "a sorte de um ex-furriel dos velhinhos me ter empurrado para dentro da porta da secretaria, ele, com esse gesto, acabou por ser ferido numa vista por um estilhaço de uma granada de morteiro 82 e eu escapei ileso".

Outro dos desaires que teve a companhia, foi "o abandono do capitão e de um alferes, e a partida forçada para as tropas africanas do alferes Rosa Santos, do meu pelotão" (que era o segundo, os "Vingadores").

O IN "não nos dava tréguas", e era "pouco o material de guerra que tínhamos para nos defender (na altura apenas um morteiro 81)"... O assalto pelo IN ao destacamento e a captura de 2 homens nossos, o desaparecimento de um dos nossos soldados [, apanhado pelo IN, o José António de Almeida Rodrigues, que "para alguns de nós teria desertado"], juntamente com "as notícias de mortos no Saltinho e emboscadas no Dulombi", tudo isso contribui para que o desânimo se instalasse nas nossas tropas".

(...) "Com a substituição do Capitão e dos alferes, acabamos por não ter um comando à altura de nos elevar o moral, passámos por um período do quase 'salve-se quem puder'. Valeu-nos o reforço de um pelotão do Dulombi e a visita de alguns páras [do BCP 12,] para as coisas acalmarem em Cancolim."

 O resto é para relembrar num outro próximo poste. (**)
___________

Notas do editor;

(*) Vd, poste 3 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5400: Tabanca Grande (192): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74

(**) Último posto da série > 23 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15786: Memória dos lugares (335): As "viagens" a Madina do Boé e a Béli (Abel Santos, ex-Soldado da CART 1742)

quinta-feira, 24 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15896: In Memoriam (248): Morreu também, ontem, o José António Almeida Rodrigues (1950-2016), natural da Régua... Era sold at inf, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872 (Cancolim, 192/74)... Foi companheiro de infortúnio, no cativeiro, em Conacri e no Boé, do nosso António da Silva Batista (1950-2016)... Fugiu dos seus captores, em março de 1974, andou 9 dias ao longo das margens do Rio Corubal até chegar ao Saltinho... Teve uma vida de miséria, mas também conheceu a compaixão humana, a solidariedade e a camaradagem... É aqui evocado pelo José Manuel Lopes.


José António Almeida Rodrigues (1950-2016): aqui, no almoço semanal da Tabanca de Matosinhos, em 12/10/2011, cortesia do blogue Coisas da Guiné, do A. Marques Lopes. Era natural do Peso da Régua, e teve no Zé Manuel Lopes, entre outros, um ombro amigo e uma mão solidária.  Companheiro de cativeiro do António da Silva Batista (1950-2016), morreu no mesmo dia, em Vila Real.


1. Mais um triste  (e estranha!) notícia: soubemos pelo Zé Teixeira e pelo Zé Manel Lopes (Josema), que morreu também, ontem, de manhã (?), o José António Almeida Rodrigues, natural da Régua... (Vd. também notícia  na página do Facebook do Zé Manel Lopes)

Estava há 3 meses hospitalizado, em Vila Real. De vez em quando o Zé Manel ia lá visitá-lo. Viveu uma vida de miséria, até que, ultimamente, conseguiu ter uma família de acolhimento. Foi igualmente acarinhado pela Tabanca de Matosinhos, que o chegou a ajudar materialmente. A única foto que temos dele foi tirada pelo A. Marques Lopes, numa das vezes que ele foi almoçar à Tabanca de Matosinhos, levado pelo Zé Manel.

Estranha coincidência: foi companheiro de infortúnio do Batista. E morrem os dois no mesmo dia, ou com horas de diferença. Quando estavam os dois, na região do Boé, decidiu fugir. O Batista não o quis acompanhar. Meteu-se numa piroga, andou vários dias à deriva no Rio Corubal... Acabou por conseguir chegar ao Saltinho (Vd. depoimento do Batista no vídeo abaixo)... 

Sobre ele diz o Juvenal Amado:

"Pertenceu também ao meu batalhão, à CCAÇ 3489, Cancolim, 1972/74, tal como o António da Silva Batista (, este da CCAÇ 3490, com sede no Saltinho). Fugiu da prisão, indo ter ao Saltinho, já o BCAÇ 3872 se preparava para regressar a casa. A vida dele foi dura que esteja em paz finalmente".


2. O Zé Manel Lopes, seu conterrâneo, já nos contou aqui a sua triste história de infortúnio mas ao mesmo tempo de coragem, através de um poste e de troca de mensagens de correio (*):

O José António Almeida Rodrigues nasceu em 1950, na Régua.

Em Junho de 1971 assentou praça no RI 13, Vila Real, sendo três meses depois colocado em Abrantes para formar batalhão. Integrado [, não na 2.ª Companhia do BCAÇ 4518, mas] na CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, partiu para a Guiné na véspera de Natal desse ano.

"A sua Companhia foi destacada para Cancolim, dela faziam parte um alferes, natural de Lamego, que me disseram ser actualmente professor, e que não consegui ainda contactar, o alferes João Pacheco Miranda, atualmente correspondente da RTP no Brasil" - acrescenta o Zé Manuel Lopes.

Seis meses depois de chegar ao TO da Guiné, o José António é feito prisioneiro pelo PAIGC. O contexto em que foi apanhado ainda estava por esclarecer, segundo mail de 4 de março de 2011, do Zé Manel Lopes. "Tive conhecimento de várias versões e era importante saber a verdade dos factos para reabrir o processo dele".

É levado para Conacri. Em 1973, após o assassinato de Amílcar Cabral [, que foi em 20 de janeiro desse ano,] é enviado para a região do Boé, no nordeste da província portuguesa da Guiné. Com ele estavam mais 7 camaradas.

"Durante quase um ano a sua casa foi em Madina do Boé", diz o Zé Manel (Para sermos mais rigorosos, provavelmente, na região ou imediações, perto do Rio Corubal, já que o PAIGC nunca ocupava efetivamente os quartéis abandonados pelas NT, alvos fáceis da aviação).

Em 7 de Março de 1974, "aproveitando um momento em que a vigilância abrandou", o José António tomou a direcção do rio para tentar a fuga.

E se o intentou, bem o conseguiu. "Andou 9 dias ao longo do Corubal, até encontrar dois nativos que andavam numa plantação junto ao rio. Um deles, de motorizada, levou o José António até ao Saltinho. Depois foi transportado para Aldeia Formosa, para ser levado para Bissau. Como naquele tempos difíceis a via aérea já não reunia muitas condições de segurança, devido aos Strela, foi transportado em coluna até Buba e daí, de LDG, para Bissau".

No mail de 4/3/2011, o Zé Manel Lopes confirma: "Após 9 dias de fuga pelo mato ao longo do Rio Corubal, é encontrado por dois nativos que o levam até ao Saltinho"...  (Portanto, a fuga terá sido a pé, e não de piroga, o que seria mais arriscado...).

Confessa o Zé Manel Lopes, seu contemporâneo na Guiné [, foto  à esquerda,  ex-fur mil, CART 6250, Mampatá, 1972/74, ] que, "apesar de ser meu conterrâneo, na altura não o reconheci, quando tal me foi comunicado pelo cabo do SPM de Aldeia Formosa, Camilo, também natural da Régua".

E acrescenta: "Após o regresso em agosto de 1974, procurei saber da sua situação. Levava uma vida muito complicada, pois se tornou pouco sociável (como muitos de nós). Não teve uma retaguarda, ou seja, um suporte familiar que o protegesse. Os conflitos eram frequentes. Internado várias vezes, de onde fugia sempre que podia (tornou-se um hábito)"... Seria mais tarde colocado numa casa de acolhimento onde viveu os últimos anos da sua vida e onde era bem tratado...

Este antigo prisioneiro de guerra (, situação que o exército nunca lhe terá reconhecido,)  sobrevivia com uma pensão de incapacidade de apenas 246 €, o que de facto era insuficiente para o seu sustento, concluía o Zé Manel que aproveitava, na ocasião, para "agradecer publicamente à família que o recolheu, especialmente à D. Juvelinda, que com tanto carinho o tratava".

A revolta do nosso amigo e camarada Zé Manel vai mais longe: por incrível que pareça, até do miserável suplemento especial de pensão que anualmente era atribuído a antigos combatentes (150 € / ano), o José António apenas recebia 75 €, pois, como fora capturado com apenas 7 meses de Guiné, o tempo que passou, quase 3 anos, como prisioneiro, não lhe foi considerado!!!

Quem eram os seus companheiros de cativeiro ? Aqui vai a lista, segundo o Zé Manel:

(i) o nosso morto-vivo António da Silva Batista, da Maia;

(ii) Manuel Vidal, de Castelo de Neiva;

(iii) Duarte Dias Fortunato, de Pombal;

(iv) António Teixeira, da Lixa;

(v) Manuel Fernando Magalhães Vieira Coelho, do Porto;

(vi) Virgílio Silva Vilar, da Vila da Feira;

e (vii) Jacinto Gomes, de Viseu.

 Acrescentava o Zé Manel Lopes no seu mail de 4/3/2011:

(...) Viveu até há muito pouco tempo em condições absolutamente miseráveis e numa situação psicológica deplorável. Contudo graças aos esforços do Magalhães,  um ex furriel que também esteve na Guiné e vivia perto da local onde ele habitava e que conseguiu sensibilizar a drª. Maria José Lacerda, vereadora da Câmara Municipal da Régua", através dos Serviços de Assistência Social conseguiu-se um lar de acolhimento para o José António.

(...) "Atualmente a qualidade de vida de José António é muitíssimo melhor. Já fui visitá-lo e de uma das vezes foi comigo o seu companheiro de prisão, o Batista, o nosso 'morto-vivo' da Tabanca de Matosinhos. Como foi bonito!"...

(...) "Contudo é preciso saber se é possível melhorar a reforma de José António, ou se tem direito a algo mais como ex-prisioneiro de guerra, pois com apenas 243,32 € por mês, só por muito boa vontade e graças ao elevado espírito de humanismo e solidário da senhora que tem o lar de acolhimento,  ele lá pode continuar. E quero aqui agradecer publicamente a essa senhora que tão bem tem tratado o nosso camarada e tanto tem contribuído para a sua recuperação. E, acreditem, pela primeira vez o vi feliz, bem tratado, a conversar, a sorrir e com sentido de humor, o que me deixou feliz também a mim.

(...) Também gostaria de organizar um encontro na Régua com os oito camaradas que foram prisioneiros na região do Boé. Deixo os meus contactos" (...)


3. Comentário do editor:

Como diriam os romanos, RIP - Requiescat in Pace, Zé António!... Que a terra da tua pátria te seja leve, pobre camarada, valente soldado!... (**)



III Encontro Nacional da Tabanca Grande > Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > Depoimento do António da Silva Batista (1950-2016) sobre o tempo de cativeiro, em Conacri e depois na região do Boé (1972/74). Aqui se relata também a fuga do  José António, em março de 1974.

Vídeo (5' 43''): Alojado no You Tube > Luís Graça (2008)
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Notas do editor:

(*) Vd poste de 18 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8920: Banco do Afecto contra a Solidão (15): O caso do José António Almeida Rodrigues, ex-prisioneiro de guerra (entre Junho de de 1971 e Março de 1974): uma história de coragem e de abandono (José Manuel Lopes)

(**) Último poste da série > 23 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15894: In Memoriam (247): António da Silva Batista (1950-2016)... A segunda morte (esta definitiva!) de um camarada a quem carinhosamente chamávamos o "morto-vivo do Quirafo". O funeral é amanhã, às 15h45, na igreja de Santa Cruz do Bispo, Matosinhos

terça-feira, 15 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15857: Lembrete (17): É já amanhã, dia 16, a apresentação do livro do Juvenal Amado, no almoço semanal da Tabanca de Matosinhos



Lembrete: Dia 16, 4.ª feira, na Tabanca de Matosinhos Tertulia, o nosso camarada Juvenal Amado vai apresentar o seu livro "A Tropa Vai Fazer de Ti Um Homem! Guiné 1971-1974" [Lisboa, Chiado Editora, 2015, 308 pp. | Preço de capa (papel): 15 €; ebook (edição digital): 3 €].

O Manuel Passos escreveu, na página do Facebook da Tabanca de Matosinhos Tertúlia, a seguinte mensagem:

"Só para relembrar, quarta-feira, 16/3/2016, Almoço... O nosso companheiro, ex-combatente,  Juvenal Amado vai estar na Tabanca de Matosinhos Tertúlia na apresentação do seu Livro. Vamos dar-lhe aquele abraço que só nós sabemos fazer, com a nossa presença, Tabanqueiros!"...


Guiné > Zona leste > Setor L5 A> Galomaro > CCS/BCAÇ 3872 (1971/74)
Com Luis Arrepia, José Manuel Confraria, João Narciso, Adelino José Costa, Germano Gomes e Mário Vasconcelos [nosso grã-tabanqueiro, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72,Mansoa, e Cumeré, 1973/74].

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15647: Efemérides (208): Lembrando José Botelho de CARVALHO ARAÚJO que faleceu a 14 de Outubro de 1918 a bordo do Caça-Minas NRP Augusto de Castilho afundado pelo submarino alemão U-139 (António Tavares)

Monumento a CARVALHO ARAÚJO em Vila Real
Com a devida vénia a minube


Combate entre o Navio Patrulha "Augusto Castilho" e o submarino alemão U-139 em 1918 durante a I Guerra Mundial.
Aguarela de Artur Guimarães
Museu Marítimo de Ílhavo.


1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 10 de Janeiro de 2016

Camarigos,
Ao ver esta excelente aguarela de Artur Guimarães recordei José Botelho de CARVALHO ARAÚJO que faleceu a 14 de Outubro de 1918 a bordo do Caça-Minas NRP Augusto de Castilho afundado pelo submarino alemão U-139 quando escoltava o vapor São Miguel.

O Comandante CARVALHO ARAÚJO interpôs o seu navio entre o submarino e o vapor São Miguel, no mar dos Açores, salvando os 206 passageiros que seguiam a bordo deste.
Estávamos na 1.ª Guerra Mundial iniciada a 28 de Julho de 1914 e terminada em 11 de Novembro de 1918.
A morte do Comandante CARVALHO ARAÚJO ocorreu 27 dias antes do fim da I Grande Guerra.
A Marinha Portuguesa de Guerra e a Mercante glorificou-o perpetuando o seu nome em diversas embarcações.


Características oficiais do Navio T/T CARVALHO ARAÚJO, que o BCAÇ 2912 conheceu em 24 de Abril de 1970:

Tipo... Navio misto de 2 hélices
Construtor... Cantiere Navale Trestino
Local construção... Monfalcone - Itália
Ano de construção... 1929
Ano de abate... 1973
Registo... Capitania do Porto de Lisboa, em 21 de Abril de 1930, com o número 420 F
Sinal de código... C S B U
Comprimento fora a fora... 112,82 m
Boca máxima... 15,30 m
Calado à proa... 6,69 m
Calado à popa... 6,99 m
Arqueação bruta ... 4.559,55 Toneladas
Arqueação Líquida... 2.694,45 Toneladas
Capacidade... 4.292 m3
Porte bruto ... 4.724 Toneladas.
Aparelho propulsor... Duas máquinas de triplice expansão, de 3 cilindros cada, construídas em 1929 por John G. Kincaid & Ca Lda. em Greenock - Escócia.
Quatro caldeiras, com 3 fornalhas cada, para a pressão de 14,7 K/cm2.
Potência... 4.430 CV
Velocidade máxima ... 14,0 nós
Velocidade normal ... 12,0 nós
Passageiros... Alojamentos para 10 em classe de luxo, 68 em primeira classe, 78 em segunda, 98 em terceira e 100 em cobertas, no total de 354 passageiros.
Tripulantes... 98
Armador... Empresa Insulana de Navegação - Lisboa

Com certeza que os milhares de militares que navegaram nele desde 1963 discordam dos números dos passageiros acima. Sentiram na prática o excesso de lotação.


O “EXCELENTE E VALOROSO” Batalhão de Caçadores 2912 desembarcou no cais de Pindjiguiti, Bissau, em 01 de Maio de 1970, com cerca de 500 militares.

O primeiro dia da guerra vivida em Galomaro, Cancolim, Dulombi e Saltinho, matas do Leste do TO do Comando Territorial Independente da Guiné.

António Tavares
Foz do Douro, Domingo 10 de Janeiro de 2016
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15541: Efemérides (207): Ataque ao Cachil na Consoada de 1965 (João Sacôto, ex-Alf Mil da CCaç 617/BCAÇ 619)