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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7641: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (3): Alerta aos camaradas que subscreveram, mas não confirmaram a assinatura (Inácio Silva)

1. Mensagem de Inácio Silva, ex-1.º Cabo da CART 2732, Mansabá, 1970/72, com data de 18 de Janeiro de 2011:

Boa tarde caros Amigos:

SOLICITO A PUBLICAÇÃO DO EMAIL E DA LISTA ANEXA*

A lista anexa contém os nomes dos subscritores que estiveram no Site PETIÇÃO PÚBLICA para assinar a petição mas NÃO CONFIRMARAM A SUA ASSINATURA, tornando nula a sua intenção. Também não deixaram o seu email para poderem ser contactados.

Da consulta à lista das assinaturas da PETIÇÃO "Os ex-combatentes solicitam ao Estado Português o reconhecimento cabal dos seus serviços e sacrifícios", verifiquei que, cerca de 26,5% das subscrições não tem a sua assinatura confirmada. Estes subscritores terão que procurar, na sua caixa do correio, um email enviado pelo PETIÇÃO PÚBLICA que contém um link para a confirmação. Depois de clicar nesse link, receberão um outro email dizendo que a sua assinatura foi confirmada.

Se já não conseguir confirmar a sua assinatura, então a subscrição será considerada nula. Neste caso, poderá efectuar nova nova subscrição. Se o fizer, informe para o email inacio.silwa@gmail.com, para ser retirada a subscrição nula.

Um abraço.
Inácio Silva
ex-CART 2732
Mansabá-Guiné


(*) LISTA DOS SUBSCRITORES CUJA ASSINATURA NÃO FOI CONFIRMADA
(Estes subscritores não deixaram o email disponível)


ABILIO DELGADO
Acácio de Jesus Seabra Conde
Adelino Nuno Marinha dos Reis e Moura
Adérito Caldeira Cordeiro
Albino Antonio Guimaraes Pereira Garcez
Alfredo Aurélio Pereira Monteiro
Amadeu José Martins Gonçalves
Amilcar Joaquim Avó Dias
Ana Maria Andrade
Ana Paula Fernandes Ginja Ferreira
Aníbal Ramos de Melo
Antonio Blayer Soares
António Camões Flores
antonio carvalho rodrigues do nascimento
ANTÓNIO CORREIA
ANTÓNIO DOS SANTOS MAIA
António José Henriques Rodrigues
Antonio Martins Moreira
António Pereira dos Santos
António Rapado Correia
Armando Benfeito da Costa
Armènio Evangelista Mendes Zagalo
Artur Jorge Gorjão da Fonseca Almeida
Carlos Alberto Frade Leitão
Carlos António Carreira da Gama
Carlos dos santos varela
Carlos Jorge Lopes Marques pereira
Carlos Manuel Gouveia Pestana
carlos Parreiras Fernandes
Catarina Joana Branco Gonçalves
Cláudio Francisco Portalegre Trindade
constantino da silva costa
Diamqantino de Almeida Santos
Eduardo Ferreira Campos
Eduardo Guilhermino Evangelista Luis
Elisa conceiçao Almeida Carvalho Leite
Emanuel João de Canha Frazão Afonso
Fernando Artur Esteves Marreiros
Fernando Guilherme Pedras de Freitas
Fernando Manuel Barros Nunes
Fernando Manuel da Silva Cabral
Fernando Manuel Gonçalves Mascarenhas
fernando martins ferreira
FERNANDO SOUSA DE MATOS PIRES
Filipe Manuel Castanho Pinheiro
Filipe Miguel Garcia Fernandes
Firmino da Silva Barros
Francisco Diogo Candeias Godinho
Francisco Gomes da Silva
FRANCISCO JORGE DE PINHO
Frederico Carlos dos Reis Morais
Geraldo dos Anjos Cascais
germano jose pereira penha
Graciano Fernando de Almeida Barbosa
Gualter ALves Vieira
Helder Duarte Rodrigues de Assunção
Helder Lourenço
Humberto Simões dos Reis
joao adelino alves miranda
João Diogo Silva Cardoso
João Elvio Freitas Faria
João Evangelista de Jesus Hipólito
joao Pedro Emauz Leite Ribeiro
Joaquim Antonio Henriques Silvério
Joaquim Augusto Neves Eliseu
joaquim da conceição paiva
Joaquim da Cruz Marques
jose antonio celestino de assis
jose antonio timoteo machado
JOSE AUGUSTO LEITE DE ARAUJO
Jose Conceiçao Batista Afonso
José Fernando Rosa Lopes
José Ferreira da Silva
José Luís Pinto Vieira
Jose Manuel Maia Mendes Sousa
jose manuel moreno de azevedo campos
Jose Paulino silva
jose rodrigues pereira
Jose Sequeira Silva da Venda
jose silva nunes
JOVINO AUGUSTO ARMADA LOURENÇO DA CHÃO
Luis Alberto Pessoa da Fonseca e Castro
luis Francisco Dias Fânzeres Martins
Luis Manuel da Graça Henriques
Luis Manuel Vieira Ferreira
Luís Manuel Vitorino Ribeiro
Luís Rodrigues Cardoso Moreira
Manuel António da Conceição Santos
MANUEL DE CASTRO BARBOSA
Manuel Diogo da Silva Gomes
Manuel Fernandes da Luz
Manuel Jorge de Carvalho Sampaio Faria
Manuel Simões Fernandes
Marcos Vitor Leonardo
Maria Alice Monteiro Grilo
MARIA ARMINDA NEVES CASTRO
Mário Fernando Lima de Oliveira
Mário Macedo Caixeiro
Mário Pedro dos Santos Aguiar
Nádia Filipa Pombo Simão
Raul Armando da Cruz Domingues Ribeiro
Ricardo Jorge da SIlva Mota
Ruy José Cardoso Pereira Branquinho
SANDRA LOURENÇO ALVES
Tiago Miguel Rebelo Tavares
Tiago Miguel Santos Duarte
Vasco de Almeida e Costa
vitor antonio de jesus ferrinho
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7625: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (2): Informação e incentivo (Inácio Silva / Amaro Samúdio)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7625: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (2): Informação e incentivo (Inácio Silva / Amaro Samúdio)

A propósito da petição nacional da iniciativa do nosso camarada Inácio Silva, publicamos as duas mensagens que se seguem:


1. Mensagem de Inácio Silva, ex-1.º Cabo da CART 2732, Mansabá, 1970/72, com data de 17 de Janeiro de 2011:

Caros amigos e ex-camaradas:
Volto ao vosso contacto para informar que a petição "Os ex-combatentes solicitam ao Estado Português o reconhecimento cabal dos seus serviços e sacrifícios", http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N5306, está a ter uma boa adesão. Neste momento já foram recolhidas 365 assinaturas.

Porém, verifiquei que algumas assinaturas não foram confirmadas. É preciso não esquecer que, após a assinatura da Petição, terá que ser feita a sua confirmação a partir do email que o Site PETIÇÃO PÚBLICA envia para a caixa de correio de cada um de vós. Caso contrário, a assinatura não é validada.

Penso que todos saberão que a Petição é dirigida a todos os cidadãos, podendo ser assinada por quem for maior de idade. Como é óbvio, não é necessário ser ex-combatente.

Repito que é necessário vencer a info-exclusão, transmitindo aos que não têm Internet, que poderão, com a ajuda dos que a têm, VOTAR/ADERIR/CONCORDAR/ASSINAR.

Mais uma vez solicito e agradeço a todos os ex-camaradas que desenvolveram BLOGUES ou PÁGINAS DE INTERNET, e a todas as pessoas que, duma forma ou doutra o possam fazer, que noticiem este facto e, se possível, publiquem o link, acima indicado, para aceder à mesma.

Esta Petição já se encontra difundida nos seguintes endereços:
http://guerracolonial.blogs.sapo.pt/
http://cart2732.blogspot.com/2011/01/peticao-assembleia-da-republica-e-ao.html
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/01/guine-6374-p7591-ex-combatentes-da.html

Sabemos que também já corre no FaceBook e no Twiter.

Como sabem, é necessário obter um mínimo de 4000 assinaturas, para que a mesma possa ser entregue aos Órgãos do Estado a que se destina: Assembleia da República e Governo.

Os meus cumprimentos e um abraço fraterno do seu autor

Inácio Silva
ex-CART 2732
Mansabá-Guiné


2. Mensagem de Amaro Samúdio, ex 1.º Cabo Aux. Enfermeiro (CCAÇ 3477, Guileje, 1971/73), com data de 16 de Janeiro de 2011:

Então Caros Gringos de Guiléje
Foi por muito trabalho do Inácio Silva (ex-Combatente na Guiné) e do Luís Graça (ex-Combatente na Guiné) que hoje se fala dos ex-Combatentes.

Não fossem eles e estaríamos esquecidos.

Para a Petição em que se meteram são, suponho necessárias 4000 assinaturas.

Por esta ordem dos Gringos de Guiléje, já assinaram, o Abílio Delgado, eu, o Parreiras, o Carioca e o Dart Silva.

Julgo ser a Petição importante, caso contrário não vos CHATEAVA.
Caso entendam que é no mínimo razoável o pedido da petição assinem-na.

Um Abraço Gringo
A. Samúdio
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7591: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (1): Meta, recolha de 4000 assinaturas (Inácio Silva)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7591: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (1): Meta, recolha de 4000 assinaturas (Inácio Silva)

1. Em mensagem de 5 de Janeiro de 2011 o nosso camarada Inácio Silva, ex-combatente da Guiné ao serviço da madeirense CART 2732, trouxe ao conhecimento do nosso Blogue e por extensão a todos os nossos leitores, ex-camaradas que combateram em Angola, Guiné e Moçambique, que sabemos serem muitos, a iniciativa de lançar uma Petição On Line dirigida à Assembleia da República.

Caros amigos e ex-camaradas:
No seguimento do meu email do passado dia 5 de Janeiro de 2011 e de algumas respostas incentivadoras, decidi colocar, publicamente, a PETIÇÃO que anunciei, que poderá ser acedida através do link:

http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N5306

O seu nome é: Os ex-combatentes solicitam ao Estado Português o reconhecimento cabal dos seus serviços e sacrifícios.

É óbvio que o sucesso da mesma dependerá da adesão que ela merecer por parte de todos os ex-combatentes.

Há que vencer a info-exclusão, transmitindo aos que não têm Internet e não a querem ter, que poderão, com a ajuda dos que a têm, VOTAR/ADERIR/CONCORDAR/ASSINAR.

Solicito e agradeço, desde já, a todos os ex-camaradas que desenvolveram BLOGUES ou PÁGINAS DE INTERNET, que noticiem, de forma visível, este facto e, se possível, coloquem o texto da petição e o link para aceder à mesma. Naturalmente que serei o primeiro a dar o exemplo, publicando-a nos meus próprios blogues.

Ao Carlos Vinhal não preciso de o pedir, porque sei que ele o fará, de imediato. Os meus agradecimentos ao Carlos e também ao Luís Graça e a toda a equipa de co-editores deste grande blogue, de alcance mundial: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

Agora, é só esperar que obtenhamos um mínimo de 4000 assinaturas, para, de seguida, enviar a petição aos Órgãos do Estado a que se destina: Assembleia da República e Governo.

Se pensarmos que, só nas guerras de África, foram mobilizados cerca de 900.000 militares, ficaria muito satisfeito que se obtivesse 1% de adesões.

Agora poderei dizer que a "bola" está do nosso lado. É necessário chutá-la e marcar golo na outra baliza!

Um abraço fraterno do
Inácio Silva
ex-CART 2732
Mansabá-Guiné
__________

Notas de CV:

Petição On Line em: http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N5306

Consultar a Lei nº 3/2009, de 13 de Janeiro em: href="http://www.mdn.gov.pt/NR/rdonlyres/CB80E35E-2254-481B-8DBC-290CD1ED5045/0/Lei32009.pdf%22

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6574: O discurso de António Barreto no dia 10 de Junho de 2010 (1) (Inácio Silva / Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Inácio Silva, ex-1.º Cabo da CART 2732, Mansabá, 1970/72, com data de 10 de Junho de 2010:

10JUN2010 - António Barreto dá uma chicotada psicológica aos mais Altos Representantes de Portugal

ANTÓNIO BARRETO, intelectual e cientista social, autor dos documentários para a RTP, “Um retrato social”, realizados em 2006, encarna publicamente, em frente das mais altos responsáveis do país, o sentimento e a mágoa dos ex-combatentes.

Confesso que não sabia que António Barreto era o responsável pela Comissão das Comemorações do 10 de Junho de 2010, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, mas foi com uma agradável surpresa que ouvi o seu discurso, quase todo virado para os ex-combatentes, preocupado em salientar o facto de não haver vários tipos de combatentes, como alguns pretendem. Existe, apenas, um tipo de combatente: aquele que em nome do seu país, serviu ou serve, em território português, ou no estrangeiro, por mandato do Estado Português. Entenda-se que as ex-colónias, hoje países estrangeiros, eram, na altura da guerra colonial, consideradas terras sob administração portuguesa...

António Barreto proferiu, no meu ponto de vista, o discurso que os ex-combatentes esperavam ouvir, há mais de 40 anos, e que nenhum político ousou dizer, talvez com o receio de ser conotado com uma ou outra força política, por concordância ou discordância da manutenção das guerras do ultramar. O desassombro e a inspiração de António Barreto merece a nossa vénia e o nosso obrigado. Ele soube definir, com tamanha clareza de espírito e evidência o que levou tantos milhares de jovens a deixar as suas terras e as suas famílias, os seus amigos, os seus empregos, para serem levados, sem vontade própria, para terras que desconheciam, sem um “bilhete de passagem” que lhes garantisse o regresso.

A tal dívida de gratidão, tantas vezes proferida por milhares de ex-combatentes e que ventos hostis nunca permitiram que chegasse aos nossos governantes, foi – graças ao António Barreto - insuflada, à força, um a um, nos ouvidos dos governantes ali presentes. A partir de hoje, nenhum deles poderá dizer que desconhece existir uma dívida de gratidão e que ela terá que ser paga, com ou sem existência de crise.

É certo que o País já possui legislação sobre algumas questões que afectavam e afectam os ex-combatentes, relacionadas, justamente, com as situações mais gritantes de injustiça social, tais como, o apoio aos deficientes e aos afectados pelo stress pós traumático

António Barreto afirmou que "Portugal não trata bem os seus antigos combatentes, sobreviventes, feridos ou mortos”, reforçando que o “esquecimento e a indiferença são superiores”, sobretudo "por omissão do Estado".

Barreto acusa o Estado de ser pouco "explícito no cumprimento desse dever", avisando que está na altura de "eliminar as diferenças entre bons e maus soldados, entre veteranos de nome e veteranos anónimos, entre recordados e esquecidos".

Um antigo combatente não pode ser tratado de "colonialista", "fascista" ou "revolucionário", mas simplesmente "soldado português",.

O dia 10 de Junho de 2010 fica marcado, também, por ter sido a primeira vez que os antigos combatentes desfilaram na cerimónia militar oficial do Dia de Portugal.

Como ex-combatente, sinto-me profundamente grato pelas palavras de António Barreto, que me tocaram o coração. Um bem-haja.

Inácio Silva

**********

2. Mensagem de Joaquim Mexia Alves**, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 10 de Junho de 2010:


10 de Junho de 2010

Por um acaso da sorte, hoje liguei a televisão quando ia começar o discurso de António Barreto na cerimónia do 10 de Junho.

Desde há muito que vejo neste homem, (sou insuspeito na matéria, como bem sabeis, camarigos), uma pessoa integra e de vincado carácter, que pensa pela sua cabeça e não se deixa levar “em modas”.

Assim decidi ouvir o seu discurso: “mal não me faria com certeza!”

E tive a grata surpresa de pela primeira vez, desde há muitos anos, ouvir falar desassombradamente um homem, figura da política de agora, chamar “os bois pelos nomes” e colocar as coisas na devida realidade.

Assim António Barreto teve a coragem de dizer aquilo que muitos sentem, ou seja, que não há antigos combatentes de Portugal legítimos e ilegítimos, que não há combatentes “fascistas” e “democráticos”, que todos, e frisou bem todos, merecem o respeito dos Portugueses e da Nação Portuguesa.

E foi mais longe, pois teve o desplante de dizer a verdade, ou seja, que o Estado Português trata mal os seus filhos antigos combatentes das guerras travadas em nome de Portugal, independentemente dos regimes políticos que governavam e governam o País.

Não se coibiu de, (apontando para a sua matriz ideológica), afirmar que todos os antigos combatentes lhe merecem igual respeito, exceptuando logicamente aqueles que, por erro grave de conduta própria, tenham ultrapassado a sua missão, cometendo vulgares crimes, puníveis em todo o momento da história.

Senti-me bem, confesso, e respeitei ainda mais este político que disse a verdade e não teve medo de a enfrentar.

Nesse discurso, soube também, que pela primeira vez desfilaram antigos combatentes na parada do 10 de Junho!

Era tempo de se fazer justiça a todos e sobretudo à geração de sessenta e princípio de setenta, que deu a vida pela pátria Portuguesa!

Alguma coisa mudará?

Não acredito muito, porque os ouvidos do poder são moucos e de fraco entendimento, mas pelo menos pela primeira vez ouviu-se alguém dizer na cara do “poder” da Nação Portuguesa, que não há antigos combatentes de primeira e de segunda, que não há antigos combatentes justos e injustos, pois todos combateram pela mesma nação: Portugal

Hoje a minha alma Portuguesa ganhou um pouco mais de alento, e o meu coração Português alegrou-se por um tempo.

Assim saibamos unir-nos para, ajudando-nos uns aos outros, lembrarmos os vindouros que soubemos ser Portugueses em tempos bem conturbados e difíceis!

Marinha Grande, 10 de Junho de 2010
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6194: Convívios (133): Encontro comemorativo da ida da CART 2732 para a Guiné, Funchal 10 de Abril de 2010 (Inácio Silva/Carlos Vinhal)

(**) Vd. poste de 10 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6572: 20 Anos depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (5): Sem Título 2

Link para o discurso: http://o-jacaranda.blogspot.com/2010/06/dia-de-portugal-de-camoes-e-das.html

terça-feira, 20 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6194: Convívios (219): Encontro comemorativo da ida da CART 2732 para a Guiné, Funchal 10 de Abril de 2010 (Inácio Silva/Carlos Vinhal)

Alguns camaradas naturais e/ou residentes no Continente, da CART 2732, encontraram-se, no Funchal, com um grupo alargado de camaradas residentes na Madeira, com o intuito de comemorar o 40.º aniversário da partida para a Guiné.

A ida para o Funchal foi feita, optando cada um pela data mais conveniente. O mesmo aconteceu em relação ao regresso, porque a deslocação foi aproveitada pela maioria para fazer um pouco de turismo na Ilha.

Os camaradas organizadores, que fizeram um excelente trabalho, programaram com todo o pormenor as diversas etapas do nosso encontro. Inclusivé, não subestimaram a recepção no aeroporto e o inestimável serviço de transporte do aeroporto para o Funchal, deixando-nos mesmo à porta do hotel. O transporte do Funchal ao aeroporto, mesmo em dias diferenciados, foi também assegurado aos continentais pelos camaradas naturais da Madeira. Registamos com muito agrado e simpatia esta louvável iniciativa que, aliás, foi distribuída, um pouco, por cada um dos membros da organização.

Este evento permitiu, como seria expectável, juntar alguns familiares mais próximos dos ex-combatentes, designadamente, com a inclusão do elemento feminino, atribuindo um colorido mais íntimo e harmonioso.

Assim, no dia 10 de Abril, sábado, logo pelas 10H00, fomos esperar um autocarro que nos levaria até junto de um grupo dos ex-camaradas madeirenses, cujas caras - a maior parte delas - não eram vistas, há quarenta anos.
Passado o primeiro impacto, com a dispensa de um relativo esforço de reactivação da memória visual e auditiva, foi possível estabelecer, nuns casos, mais rapidamente do que noutros, a ligação com o passado, já longínquo, e de relembrarmos certos episódios, vividos no colectivo, que, jamais, serão esquecidos.

Já dentro do autocarro, a curiosidade mútua era evidente e a pergunta, quem é aquele?, surgia amiúde.
Houve algumas situações, algo caricatas, de alguns camaradas dizerem cara-a-cara:

- Desculpa-me, mas eu não me lembro de ti... - dizendo, logo, o outro:

- Então, não te lembras... disto e... daquilo?

- Sim disso, eu lembro-me bem mas da tua cara, não...!

Pouco e pouco, a sã camaradagem sobrepôs-se as todas as dúvidas e as conversas foram sendo feitas com a maior cordialidade.

O autocarro dirigiu-se, então, para as antigas instalações do BAG-2 (Bateria de Artilharia de Guarnição), transformado em GAG-2 (Grupo de Artilharia de Guarnição) para se tornar numa Unidade Mobilizadora, onde a nossa Companhia recebeu instrução militar e de onde partiu, rumo à Guiné.

O GAG-2 foi entretanto transformado em Unidade de Apoio ao Comando da Zona Militar da Madeira.

Fomos recebidos pelo Oficial de Dia, senhor Capitão Urbano Correia em representação do Comandante que não pôde estar presente devido a ter que participar numa cerimónia que estava a decorrer no Funchal, alusiva ao Dia do Combatente.

O Oficial de Dia deu-nos as boas-vindas, num tom muito cordial e proporcionou-nos uma visita àquelas que foram as nossas instalações, algumas delas inexistentes e outras submetidas ao longo do tempo a obras de beneficiação.

Nesta parada se fez muita Ordem Unida, Ginástica e Aplicação Militar. Aqui recebemos o nosso Guião que nos acompanhou na Guiné e que lastimavelmente parece estar desaparecido.

À esquerda a antiga caserna dos Recrutas.

Fomos conduzidos ao monte mais alto da guarnição, onde se encontram instaladas algumas peças de artilharia, local que nos proporcionou uma excelente vista sobre a Ilha e onde nos detivemos, algum tempo, em amena cavaqueira.

Ex-combatentes e respectivos familiares a caminho do monte onde se encontram as peças de artilharia anti-aérea.

Uma das anti-aéreas apontando simbolicamente o céu, hoje verdadeiras peças de museu.

Uma vista da Ilha obtida a partir do monte adjacente ao Quartel

Descemos para a zona da Parada, sendo, já, acompanhados pelo Comandante da Unidade entretanto chegado, senhor Tenente Coronel Rui Manuel Sequeira de Seiça que nos deu as boas-vindas, de uma forma muito efusiva, manifestando o seu apreço pela nossa presença, salientando o facto de ser pouco comum, os ex-combatentes regressarem às Unidades que não lhes foram muito "simpáticas".
Não deixou, também, de salientar a presença do elemento feminino, chamando a atenção para a importância da mulher na participação, com o homem, nas questões relacionadas com os militares.

Um tema que nos mereceu algum reparo foi o facto do GAG-2, em tempos, ter erigido um pequeno monumento em memória dos que dali partiram para a Guerra do Ultramar e dos que, ao serviço da Pátria morreram, que por questões relacionadas com a construção da Via Rápida, que liga o Funchal à Ribeira Brava, foi destruído, não tendo sido, depois, reerguido.

Memorial fotografado por Carlos Vinhal em 1985, entretanto destruído.

Um dos elementos da CART 2732 pediu a palavra para reiterar, na presença de todos, aquilo que alguns já tinham feito chegar ao Comandante, em conversa privada...
Agradecendo a forma cordial e amiga como fomos recebidos, revelou uma certa mágoa pelo facto daquela Unidade não ter uma referência aos ex-militares que, dela, partiram para o Ultramar, deixando um repto para que o seu Comandante diligenciasse no sentido de não deixar caír no esquecimento um episódio marcante vivido, conjuntamente, pelo GAG-2 e pelos ex-combatentes, ali presentes.

O Ten Cor Rui Seiça, Comandante da Unidade, usou de seguida da palavra, para informar, solenemente, que assumia o compromisso e se iria empenhar no sentido de voltar a reerguer o referido monumento, deixando todos muito satisfeitos. Fazemos votos para que esse desiderato seja alcançado para que, numa próxima visita à Madeira e à nossa Unidade, possamos prestar a nossa profunda homenagem aos que já não voltaram connosco.

Parte da formatura, vendo-se à esquerda, de camuflado, o senhor Cap Urbano Correia e, com a farda n.º 1, o senhor Ten Cor Rui Seiça.

Um grupo de senhoras acompanhantes dos ex-combatentes.

O Comandante da Unidade dirige palavras sentidas de reconhecimento às esposas ali presentes.

Saímos do quartel já perto das 13H00, sendo conduzidos ao local onde na Madeira foi construída uma escultura e um pequeno edifício, dentro do qual estão gravados, em metal, os nomes dos madeirenses falecidos em campanha na guerra do ultramar.

Placa que assinala o local do Memorial.

Figura escultórica que encima o edifício, quanto a nós envergonhado, no interior do qual estão inscritos os nomes dos militares madeirenses tombados em campanha nos três Teatros de Operações. Por que estão estes nomes escondidos nesta espécie de meia-cave?

Como o estômago já reclamava, fomos, de imediato, para o restaurante que nos iria acolher para o almoço.
Este, decorreu tranquilamente, em formato self-service, podendo, cada um usufruir da variedade de produtos que foram colocados à nossa disposição, sendo, na generalidade, do nosso agrado.

Por fim, o camarada Pedro Reis, à sua maneira, surpreendeu-nos com a distribuição individual duma placa alusiva ao encontro.

Para rematar o final do encontro, foi fatiado o bolo alusivo à efeméride, decorado com os símbolos do Blogue da CART 2732, o que muito nos lisonjeou.

Depois, foi o dispersar, indo cada um para onde lhe apeteceu... não esquecendo, contudo, os bons momentos passados e que serão recordados com saudade.

Ficou a promessa de que se iria comemorar o 40.º aniversário do regresso, de novo no Funchal em 2012.

Texto - Inácio Silva e Carlos Vinhal
Fotos e legendas - Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6179: Convívios (132): 7º Convívio da CART 1746 (Manuel Vieira Moreira)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3802: Convívios (93): I Encontro de militares da CART 2732, no Continente. 18 de Janeiro de 2009, Arruda dos Vinhos (Carlos Vinhal)

CART 2732 - Mansabá, 1970/72 - Divisa - Nam Acham Quem Por Armas Lhe Resista

1. No passado dia 18 de Janeiro, em Arruda dos Vinhos, Restaurante Valverde, aconteceu o I Encontro dos ex-combatentes da CART 2732 (*), do Continente. Sublinha-se que este foi o I Encontro no Continente, já que na Madeira há Encontros regulares do pessoal natural daquela Pérola do Atlântico.

Este Encontro aconteceu graças à iniciativa dos nossos camaradas Reis Pedro, Malhão Gonçalves e Pinheiro Miranda.

Na hora da concentração, o Reis Pedro franqueou-nos as portas de sua casa, literalmente, onde nos serviu uns miminhos e onde pudemos estabelecer os primeiros contactos. À sua esposa Helena, o nosso muito obrigado pela amabilidade e paciência que teve em nos aturar.

Estiveram presentes 21 ex-militares da CART, entre os quais o ex-Cap Mil Jorge Picado que foi um dos seus Comandantes.
Agradável surpresa foi termos entre nós o senhor Coronel Carlos Marques Abreu, um dos Comandantes do COP 6, onde a CART esteve integrada. Compareceu também o ex-Alf Mil Brito Ribeiro que chefiou as Transmissões em Mansabá.

Da Madeira vieram expressamente para o evento os camaradas Alfredo Gouveia e Olim Meneses, que anteciparam viagem de negócios a Lisboa para poderem estar presentes. Ainda naturais da Madeira, mas radicados no Continente, participaram no Encontro, o Inácio Silva (nosso tertuliano) e o Manuel Jesus Ferreira, meu camarada no 3.º Pelotão.

Um primeiro encontro ao fim de quase 37 anos é invulgar, e causa alguns embaraços e surpresas. Por um lado, os anos e os quilos causam algumas alterações, por outro, há camaradas que se mantêm praticamente com o aspecto que tinham na juventude. A uns branqueou ou levou o cabelo, noutros apareceu a barriga e há os felizardos para quem os anos nem passararam. Houve quem levasse os netos. Como? Se ainda ontem éramos uns jovens com 24/25 anos, vindos das matas da Guiné?


2. Ficam algumas fotos do acontecimento.

O ex-Fur Mil Gardete Correia, meu camarada do 3.º Pelotão, hoje advogado

O ex-Fur Mil Mec Auto Rodas Dias, o ex-Fur Mil TRMS Lourenço e o ex-1.º Cabo Op Cripto Mário Romana Soares trocam impressões

Ex-Cap Mil Jorge Picado em conversa com um dos seus ex-furriéis

Inácio Silva (nosso tertuliano) ladeado pela sua simpática companheira Amélia

Ex-Alf Mil Manuel Casal que muitas vezes assumiu o Comando da CART 2732

O nosso camarada Pinheiro Miranda um dos impulsionadores do I Encontro da CART 2732

Os nossos anfitriões, Reis Pedro e esposa Helena

Da esq. para a dta. - Cor Carlos Marques Abreu, ex-Alf Mil Trms Brito Ribeiro, ex-Alf Mil Nunes Bento, hoje Ten Cor Ref, ex-Fur Mil Vinhal e ex-Sold Trms Malhão, um dos organizadores do Encontro, no uso da palavra

Ex-Fur Mil Op Esp Luís Pires e sua esposa Jacinta que se deslocaram de Macedo de Cavaleiros para o efeito

Ex-Furs Mils Francisco Fonseca e Ismael Santos, acompanhados das respectivas esposas

Bolo comemorativo do Encontro, oferta do Ten Cor Ref Nunes Bento

Foto de família com os participantes no I Encontro da CART 2732, no Continente

Fotos e legendas: © Rita Casal, Inácio Silva e Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 Abril 2006 > Guiné 63/74 - DCCXI: Breve historial da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)

Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3684: Convívios (91): Encontro de ex-combatentes da Madeirense CART 2732, dia 18 de Janeiro de 2009, Arruda dos Vinhos (Carlos Vinhal)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3796: Blogues da Nossa Blogosfera (14): "CART 2732" criado e gerido por Inácio Silva (Carlos Vinhal)


Nasceu mais um Blogue, desta feita dedicado à madeirense CART 2732 (*) e aos seus ex-combatentes, que ao longo de 22 longos meses permaneceram e defenderam a povoação e aquartelamento de Mansabá.

Além das suas funções de tropa de quadrícula, intervieram nas inúmeras Operações que se desenvolveram pela Região do Óio muito para além da sua Zona de Acção limitada a Norte pelo Bironque, a Oeste por Mansodé, a Sul por Mamboncó e a Leste por Manhau, quer enquanto sob o Comando do BCAÇ 2885, quer já sob o comando do COP 6, durante e após a construção do troço da estrada Bironque/K3, que fazia parte do itinerário que ligava Bissau/Mansoa/Mansabá/Farim numa extensão de quase 100 quilómetros, totalmente alcatroada. Ficou a ser porventura uma das vias de comunicações rodoviárias mais importantes da Guiné, por atravessar zonas sensíveis como o corredor do Morés, por exemplo.

No Blogue da CART 2732, pode-se ler já um trabalho publicado, com as Actividades mais importantes desta Unidade.

Estando ainda este Blogue nos seus primeiros passos, o seu criador, o nosso camarada e tertuliano Inácio Silva (**), com as qualidades que lhe reconhecemos de homem interventivo e actuante, não deixará de o manter vivo e interessante.

Convido toda a tertúlia para ver esta nova página em cart2732.blogspot.com
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 Abril 2006 > Guiné 63/74 - DCCXI: Breve historial da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)

(**) Vd. poste de 27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)

Vd. último poste da série de7 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3709: Blogues da Nossa Blogosfera (13): Entre Fogo Cruzado e Rumo a Fulacunda de Henrique Cabral

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2526: Memórias de Mansabá (8): O ataque ao Quartel no dia 12NOV70 (Inácio Silva)

Foto 1> Inácio Silva no abrigo da Mancarra com a sua Breda.


O nosso camarada Inácio Silva (ex-1.º Cabo Apontador de Metralhadora da CART 2732, Mansabá, 1970/72) relata, na primeira pessoa, um ataque ao aquartelamento, dos muitos que ocorreram durante os 22 meses de permanência nesta localidade da região do Oio, muito perto do Morés.

Não se pense que estas flagelações aconteciam porque a CART 2732 se limitava à sua função de força de quadrícula. A História da Unidade enumera as muitas Operações em que a Companhia madeirense participou, enquanto adstrita ao BCAÇ 2885 (até 11 de Novembro de 1970) e como força integrante do COP 6, activado e sediado em Mansabá. Foram inúmeras as colunas auto efectuadas para Mansoa e Farim, emboscadas nocturnas, patrulhamentos e participação na segurança próxima e afastada aos trabalhos de alcatroamento da estrada Bironque-K3.


Foto 2> Guiné> Mansabá, 11 de Outubro de 1970> Cerimónia oficial em memória do Alf Mil Couto, vítima mortal de uma mina AP em 6 de Outubro de 1970. No dia 5 de Outubro o aquartelamento tinha sido atacado.


CART 2732 (1)
Descrição de um ataque ao Quartel de Mansabá, de entre muitos


Por Inácio Silva

Durante os 23 meses de permanência em Mansabá, todos os dias, a qualquer hora, era possível verificar-se um confronto, repentino e inesperado, entre as forças do PAIGC e as nossas tropas, onde quer que elas estivessem: fosse numa operação militar programada, numa batida de zona, numa saída para o mato, à noite, numa coluna militar ou quando estivéssemos no quartel, acordados ou a dormir. Fosse, ainda, com a colocação de minas antipessoais ou anticarro, nos trilhos ou estradas por onde haveríamos de passar.

Foto 3> Mansabá 12 de Novembro de 1970> Estado em que ficou a Enfermaria.

Foram setecentos dias, dezasseis mil e oitocentas horas de permanente e absoluto alerta, com os olhos e ouvidos bem abertos, tentando perscrutar um movimento suspeito, um barulho, um estrondo, numa vasta área de mato, floresta e bolanha, em todo o perímetro do Quartel.

Diga-se, em abono da verdade, que a iniciativa dos ataques, partia, geralmente, dos homens do PAIGC, já que as tropas portuguesas estavam sediadas nos quartéis, cujas localizações eram suas, sobejamente, conhecidas, sendo, portanto, relativamente fácil localizá-las e desencadearem ataques às nossas guarnições.

A nós competia ocupar o território e defender as populações e as autoridades administrativas. Ao PAIGC competia marcar a sua presença em todo o território da Guiné, exercendo a guerrilha, lançando ofensivas, sem data nem hora marcadas, tentando causar baixas nas tropas portuguesas, com o objectivo de as desgastar e desmoralizar.

Num desses dias de 1970 (12 de Novembro), pelas 19H30, eu e alguns camaradas, após o jantar, já noite escura, temperatura amena, subimos, como habitualmente, para a cobertura do abrigo designado por Mancarra, para passar o tempo, o mais descontraidamente possível, até que o sono chegasse, estabelecendo, entre nós, diálogos aleatórios ao sabor de temas, ao acaso.

A minha maior preocupação eram os mosquitos que me rodeavam insistentemente, que se atiravam a mim como gato a bofe, não parando de me autoflagelar com palmadas para evitar que me picassem, a maior parte das vezes, em vão.

Sem conseguirmos ver nada que estivesse para além da periferia do quartel, a vinte metros de nós, cercada de arame farpado e iluminada pela energia produzida por um gerador, alimentado a gasóleo, cujo barulho era audível no local, de repente, a iluminação apagou-se. Tratava-se, sabíamos nós, de um procedimento habitual, pois era necessário fazer descansar aquele gerador e colocar outro em funcionamento.

Já não me lembro durante quantos segundos é que estivemos às escuras; penso que não terá ido além dos 30 ou 40 segundos. Nesse hiato decidi, sem nenhuma razão aparente, vociferar impropérios, na direcção do fosso negro, de nossos pés, até à mata.

O som das nossas vozes emitido, em absoluto silêncio nocturno, era perfeitamente audível a algumas centenas de metros. Fui acompanhado por outros camaradas, na mesma ladaínha: - Está na hora, seus filhos da p..., ataquem agora, aproveitem, seus cobardes.

Estas frases iam sendo repetidas, enquanto se vivia aquele momento de absoluta escuridão.

Foto 4> Alguns dos camaradas presentes nesta foto dormiam no abrigo da Mancarra, localizado nas suas costas. Inácio Silva sentado e encostado ao mini monumento que os defendeu dos estilhaços dos morteiros. A seta indica o sítio onde estavam quando começou o ataque.


Ainda estávamos naquele exercício provocatório, quando, inesperadamente, rompeu da escuridão, na nossa direcção, uma rajada de Kalashnikov (PPSH), conhecida por costureirinha pelo som característico, estridente que provocava, dando uma sensação de proximidade, seguida de lançamento de granadas de morteiro.

De imediato, saltámos da cobertura do abrigo, para o solo, tendo caído, nesse momento, três granadas de morteiro, perto de nós. A sorte esteve connosco, uma vez que as granadas caíram e rebentaram por detrás de um pequeno monumento, erigido pelos camaradas da Companhia que ali estivera antes de nós, a CCAÇ 2403, protegendo-nos.


Foto 5> Os círculos indicam os buracos feitos pelas três granadas de morteiro que marcaram o início do ataque.


Num ápice, o potencial de fogo por parte do PAIGC, originário de uma larga zona, em meia-lua, desde a pista de aviação, em terra batida, até ao abrigo da Mancarra, aumentou, atingindo várias zonas do quartel. Era possível ouvirem-se tiros de espingarda, de metralhadoras, e rebentamentos de granadas de morteiro, de RPG2 e de canhão sem recuo...

Percebi, logo, que estávamos em presença de uma grande operação militar do PAIGC que, das duas uma: ou respondíamos de imediato e com os todos os meios ao nosso alcance, ou poderíamos assistir a uma invasão das nossas instalações, com todas as consequências desastrosas que isso implicava.

Cada um dos camaradas que ali se encontravam, se dirigiu para o seu posto de combate e de defesa das instalações. Todos os postos avançados começaram a reagir àquele incessante matraquear mortífero: as nossas, espingardas G3, metralhadoras pesadas, metralhadoras ligeiras, morteiros 81mm e os obuses, em uníssono, desempenharam um papel absolutamente imprescindível na nossa defesa e foram, sem qualquer espécie de dúvida, a nossa salvação.

No referido abrigo da Mancarra, a meu cargo, estava uma metralhadora pesada BREDA, alimentada por lâminas de vinte balas de 8x59mm, mal posicionada em relação à frente de fogo inimiga. Havia que a deslocar para a posição correcta, sendo necessário dois militares para o efeito. Porém, o seu municiador, já há alguns dias que estava doente, acamado na enfermaria do quartel e eu encontrava-me, ali, sozinho.

Por segundos, fiquei sem saber o que fazer. A primeira reacção foi rodar a metralhadora, o máximo possível, para a frente de fogo inimiga, dando indicação aos atacantes de que a minha zona estava protegida.

Efectuei vários disparos, lâmina a lâmina, até que a BREDA encravou! Preocupado com a ausência de fogo naquele posto, recolhi todas as espingardas G3 dos camaradas que haviam saído para guarnecer os seus postos de combate e trouxe-as para junto de mim.

Tiro a tiro, fui descarregando as várias G3, mantendo, ali, uma presença de fogo. Ao dar o último tiro, fui confrontado com novo dilema: o que fazer a seguir? Abastecer os carregadores das G3 ou tentar desencravar a metralhadora e mudá-la para a frente de fogo? Qualquer destas tarefas implicaria numa paragem, absolutamente desastrosa, incompatível com a situação que estávamos a viver.

A tremer de medo, por pensar que poderia ser apanhado à mão, pelo inimigo, decidi desmontar a metralhadora. Ainda muito quente devido aos disparos a que foi sujeita, queimei as mãos ao desmontar a parte frontal, onde se encontra o cano e, esforcei-me, sem condições, por levá-la para a melhor frente de fogo. Colocada nova lâmina, lá recomeçou a funcionar. Depois, muitas outras se seguiram. Os meus dedos polegares, de empregado forense, já não conseguiam suportar as dores provocadas pelo trepidar dos disparos. Olhei para eles e vi que estavam duas enormes bolhas de sangue.

Continuei, apesar de tudo...

O meu posto era fixo e estava denunciado. De repente, oiço um assustador estrondo, acompanhado de uma labareda e de uma luz intensa, que me deixa absolutamente atordoado, surdo, a zumbir, parecendo que o couro cabeludo iria saltar. Fico sem reacção. Sinto uma impressão no meu sobreolho direito, passo a mão e o sangue anuncia um ligeiro ferimento. Nada de grave, felizmente. Era mais grave o meu estado de espírito e a minha desorientação devido ao gigantesco estrondo, amplificado pela caixa de ar onde me encontrava! Parecia encontrar-me numa gruta com milhões de morcegos a farfalhar.

Pensei! É agora que vou ser apanhado. Estava só e indefeso. Confiava nos meus camaradas que, algures, estavam a reagir estoicamente àquele gigantesco ataque. Não se ouviam vozes nem gritos, apenas os estrondos das bombas. Parecia ser o apocalipse!

Passaram-se quarenta e cinco longos minutos até voltar o silêncio! Havia que recompor as forças e o estado de espírito. Ver os estragos, abastecermo-nos de munições e preparar as armas para novo eventual tiroteio. Em teoria, ele poderia ocorrer noutra frente, no momento imediato!

Para acalmar, psicologicamente, as nossas tropas, o Comando Geral, enviou um bombardeiro T6, que sobrevoou, algumas vezes, as supostas zonas onde o IN se havia posicionado para atacar, certamente, já em debandada.

No dia seguinte, logo pela manhã, quis saber o que havia causado aquele estrondo que me tinha deixado prostrado. Foi uma granada de RPG, lançada pelos militares do PAIGC, na direcção das chamas da BREDA, que embateu na parede do abrigo, junto ao vértice inferior direito da fresta onde trabalhava a metralhadora, rebentando a cerca de um metro de mim.

Foto 6> É possível ver no círculo, o desbaste da parede efectuado pelo impacto e rebentamento da granada. Foi por um triz que ela não penetrou no abrigo.

Fotos: © Inácio Silva (2008). Direitos reservados

Feito o balanço, verificou-se ter havido um morto e quatro feridos nas tropas portuguesas (milícias locais) e 14 mortos e 45 feridos, na população.
Quanto aos estragos materiais, é de referir a destruição da enfermaria, de uma caserna e de algumas casas da população.

No que a mim diz respeito, trago comigo, até hoje, uma deficiência auditiva provocada pelo referido rebentamento, revelada em todos os exames audiométricos que efectuei (mais de uma dezena), no âmbito da Medicina do Trabalho da minha empresa, caracterizada pela impossibilidade de discernir determinadas gamas de frequência, situação que é totalmente desconhecida das entidades militares, não fazendo, pois, parte das estatísticas.

Pergunta-se, agora, porquê tudo isto?

O ser humano é único: pensa, ama, odeia, ri, chora, raciocina mas, por vezes, lamentavelmente, reage irracionalmente... e a guerra é um acto irracional!

Inácio Rodrigues da Silva
Ex-1.º Cabo de Artilharia
CART 2732 - Mansabá
1970/72
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Notas do autor:

(1) Companhia de Artilharia 2732
Partida do Cais do Funchal: 13 de Abril 1970
Chegada à Guiné: 17 de Abril de 1970
Regresso a Portugal: 19 de Março de 1972
Localização da Companhia: Mansabá, região de Oio
Mortos em combate: 3 (1 alferes e 2 soldados)
Mortos por acidente: 1 soldado
Mortos por doença: 1 soldado

(2) A Região de Oio fica situada no Norte da Guiné-Bissau, fazendo fronteira com as Regiões de Bafatá, Biombo, Cacheu e Quinara. Tem uma superfície de 5.404 Km2, e uma população de 199.046 habitantes.
Os sectores que compõem a Região de Oio são: Bissorã; Farim; Mansabá; Mansoa; Nhacra.
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Notas de CV:

Vd. posts de:

27 de Junho de 2007>
Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)

17 de Outubro de 2007>
Guiné 63/74 - P2184: A Guerra do Ultramar no programa Prós e Contras (RTP1, 15 de Outubro de 2007): o debate dos generais (Inácio Silva)

22 de Outubro> Guiné 63/74 - P2200: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (7): Comentário de Inácio Silva, da CART 2732, Mansabá, 1970/72

18 Abril 2006> Guiné 63/74 - DCCXI: Breve historial da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)

25 Março 2006> Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2200: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (7): Comentário de Inácio Silva, da CART 2732, Mansabá, 1970/72

1. Comentário do Inácio Silva (1) ao filme-documentário passado na Culturgest, em 19 de Outubro de 2007, da autoria de Diana Andringa e de Flora Gomes, “As duas faces da guerra” (2):

Diana Andringa e Flora Gomes, a par de outros jornalistas consagrados, através de provas dadas, trouxeram, esta noite, a público, a voz, o ver e o sentir dos ex-combatentes portugueses, intervenientes na Guerra decorrida na Guiné, iniciada pelo PAIGC, no ano de 1963.
Com humildade, Diana Andringa, admitiu que muito ficou por contar do que se passou nos onze anos de guerra, impossível de retratar numa película com cerca de 100 minutos.

Valeu a pena ter estado neste evento, fundamentalmente por duas razões:

(i) nos momentos que antecederam a passagem do filme, verifiquei que os sacrifícios porque passaram os ex-combatentes, quase todos com histórias comuns, sedimentaram a camaradagem, o respeito e a amizade entre todos, independentemente do seu posto ou do quartel para onde foram mobilizados;

(ii) ficar a saber aspectos e pormenores da guerra, quer do lado português mas, principalmente, do lado do PAIGC, desconhecidos da maioria dos ex-combatentes.

O documentário começa de uma forma arrepiante ao mostrar um singelo monumento, com o formato de uma pirâmide semidestruída, no qual constam, sulcados e com muito pó, os nomes de combatentes mortos em Geba [, em 1967], em simultâneo com o capim, símbolo de beleza natural, de respeito e de medo porque servia de esconderijo aos beligerantes, de onde, geralmente, surgiam as emboscadas.

Depois, são apresentados relatos de episódios, na primeira pessoa, da vivência da guerra, tanto do lado português, como do lado do PAIGC, geralmente descritos com emoção, alguns com comoção.

Facto relevante e revelador das agruras da guerra foi um excelente excerto das filmagens efectuadas por uma equipa da televisão francesa, autorizada pelo general António de Spínola, a acompanhar, numa operação, uma companhia de militares portugueses que viria a ser atacada, em emboscada [, na região de Có/Pelundo], na qual o soldado Capela perdeu a vida e outros camaradas ficaram feridos. Foi manifesto o sentimento de raiva, de tristeza e de impotência dos camaradas ao verem caído, no solo, sem vida, um seu elemento que poucos minutos atrás estava pujante de vida. Esta operação pretendia demonstrar aos jornalistas franceses que Portugal tinha o controlo da situação...

Talvez o aspecto mais revelador do documentário é a descrição, com algum pormenor, de certas tácticas de guerrilha empregues pelo PAIGC, sendo salientado o recurso frequente aos elementos infiltrados nas tropas portuguesas para obterem informações militares, para futuros ataques. Ao longo dos anos, foi notória a evolução das técnicas de guerrilha, por parte do PAIGC, que, aliadas a um cada vez melhor apetrechamento de material bélico, iam criando crescentes dificuldades às tropas portuguesas, tornando-as, dia a dia, ano a ano, mais vulneráveis.

De salientar, também, um aspecto digno de registo: os guerrilheiros do PAIGC, assumiam uma atitude disciplinar exemplar e de profundo respeito para com o seu comandante Amílcar Cabral. Esta atitude adveio dum facto importante: os guerrilheiros eram recrutados para as fileiras do PAIGC, através de convite, sem nenhuma obrigatoriedade, sendo que, se não a integrassem, teriam que manter segredo relativamente a tal convite e àquilo que lhes foi dado observar.

O documentário refere, ainda, passagens de portugueses que integraram voluntariamente as fileiras do PAIGC, bem como militares que desertaram ou foram capturados, alguns deles acabando por colaborar com a guerrilha. Embora o filme não o refira, verificou-se, igualmente, o apoio dos nativos Guineenses às tropas portuguesas, muitos deles recebendo treino militar e integrando companhias de combate.

Como corolário das enormes dificuldades criadas pelo PAIGC, os militares portugueses ocupantes do Destacamento de Guileje foram obrigados a abandoná-lo, juntamente com a população (ao todo, cerca de 600 pessoas), dirigindo-se para Gadamael, episódio que é relatado pelo último comandante do destacamento de Guileje [ou melhor do COP 5, o major Coutinho e Lima]. De nada serviram os avisos enviados ao General António de Spínola acerca das extremas dificuldades porque estava a passar toda a Companhia. O Presídio Militar foi o destino do Comandante...

Mas a principal e mais importante constatação, que nos rejubila, é a inexistência de ódio ou de ressentimento entre as partes beligerantes.

É com documentários deste tipo que ficam gravados para sempre, que são trazidos à memória dos portugueses – velhos e novos - aqueles tempos, aquele período negro da história de Portugal, vivido com ingentes sacrifícios pelos ex-combatentes. Período que os políticos no poder, depois do 25 de Abril, teimam em fazer de conta que não existiu.

Aconselho, pois, todos os ex-combatentes a publicitarem este documentário e a vê-lo, logo que possível, levando consigo familiares e amigos.

Da minha parte vai toda a minha admiração e agradecimento à equipa que deu luz a este projecto. Bem hajam.

Charneca da Caparica, 20 de Outubro de 2007.

Inácio Silva
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Notas dos editores do blogue:

(1) Sobre o Inácio Silva, autor do blogue Relembrar para Não Esquecer, ,madeirense, reformado do Metro, residente na Charneca da Caparica, ex-operacional da CART 2732 (Mansabá, 1970/72),vd. os nossos posts:

17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2184: A Guerra do Ultramar no programa Prós e Contras (RTP1, 15 de Outubro de 2007): o debate dos generais (Inácio Silva)

27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)

(2) Vd. posts de:

8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)

17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2186: Uma guerra, duas vitórias: entrevista de Diana Andringa à RTP África (Luís Graça)

19 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2194: Pensamento do dia (13): É na guerra que se revela o pior e o melhor das pessoas (Diana Andringa, Visão, nº 763, de ontem)

20 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2197: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (4): Encontro tertuliano no hall da Culturgest na estreia do filme (Luís Graça)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2184: A Guerra do Ultramar no programa Prós e Contras (RTP1, 15 de Outubro de 2007): O debate dos generais (Inácio Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Inácio Silva, madeirense, ex-1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72), camarada do nosso co-editor Carlos Vinhal, e autor do blogue Relembrar para Não Esquecer ("um instrumento de comunicação entre uma vasta comunidade que se identifica, essencialmente, por ter servido Portugal, quando era detentor da soberania das ex-colónias, hoje, países independentes").


Caros amigos e ex-camaradas:

Presenciei ao debate na RTP1, na passada segunda-feira (15 de Outubro último), sobre a Guerra do Ultramar, de princípio ao fim (1). Salvo as intervenções dos membros das associações de defesa dos ex-combatentes, o resto foi tudo déjà vu: não vislumbrei nenhum interesse, em especial.

Um debate em que a maioria dos intervenientes são ou foram oficiais superiores ou generais, obviamente, só poderia versar sobre as questões belicistas ou político-belicistas. Estes senhores não têm contas a pedir ao Estado, porque, sendo do Quadro Permanente, viram todas as suas regalias satisfeitas, na plenitude. Onde estavam os milicianos e os praças? Provavelmente na plateia. Alguém lhes perguntou alguma coisa? Disseram de sua justiça? Nada!

Todos sabemos que as guerras deixam sequelas de vária ordem: pais que viram desaparecer os seus filhos, esposas, namoradas e amigos que viram partir os seus entes queridos, filhos órfãos de pai, muitos deles nem sequer chegaram a ver o progenitor... Cidadãos deficientes que, com muito esforço, sobrevivem, tentando integrarem-se o melhor possível na sociedade, na esperança de serem reconhecidos e apoiados pelo Estado e por ela. Muitos deles são activos e intervenientes e, graças à sua acção, procuram que o seu presente e o futuro sejam passados com alguma dignidade.

O que é que interessa debater e resolver depois de uma guerra? Não será minimizar os danos e os traumas sofridos, tanto os de ordem material, como os de ordem afectiva, psicológica, moral, social e, até, de cidadania? Nenhuma sociedade viverá em paz consigo mesma se não entender, profundamente, esta realidade! Não é enterrando a cabeça na areia, como faz a avestruz, fazendo de conta que o que aconteceu nada tem a ver consigo que os problemas são resolvidos...

E o Estado Português, representado pelos Órgãos de Soberania, órgãos estes titulados por cidadãos eleitos pela referida sociedade, o que tem feito? Mais de trinta anos decorridos desde o fim da guerra (colonial, do ultramar ou de libertação, como queiram), os ex-combatentes lamentam, diariamente, o divórcio do Estado, relativamente às consequências danosas, de vária ordem, a que foram sujeitos e estão sofrendo na pele, por terem sido OBRIGADOS a combater em territórios que, na altura, os responsáveis por este Estado, entenderam classificá-los como "Províncias Ultramarinas" e, consequentemente, fazendo parte do espaço português!!!

A guerra nunca será esquecida, pelo menos por aquelas que a protagonizaram ou por os que, para ela, foram empurrados. Seria bom que os tais cidadãos, eleitos democraticamente, representantes dos Órgãos de Soberania não agissem com hipocrisia, isto é, reconhecessem o esforço, o sacrifício, a privação, o medo, a dor, a doença, a deficiência, a morte, a perda de empregos, o atraso ou a interrupção dos estudos, enfim, uma panóplia de prejuízos de valor incalculável, e reconhecessem em Lei, perante a sociedade que representam - antes que os ex-combatentes morram - que é necessário eliminar, de uma vez por todas, estas nódoas da guerra, que teimam em eternizar-se...

Se tal não for feito, os ex-combatentes morrerão com a mágoa de terem combatido, em vão, sem o reconhecimento devido, do Estado, a quem serviram. Mas os políticos, titulares dos Órgãos de Soberania, eleitos pela sociedade de que os ex-combatentes são parte integrante, jamais repousarão em paz e serão, sempre, considerados, mesmo pelas gerações vindouras, como políticos incultos, insensíveis, autistas e hipócritas.

Em conclusão: como ex-combatente, não me revejo nesta forma de fazer política. Desejo que fique claro que os políticos a que me refiro são todos os que Portugal, infelizmente, teve depois da instauração da democracia , "sistema político em que a autoridade emana do conjunto dos cidadãos, baseando-se nos princípios de igualdade e liberdade". Sou democrata e não sou possuído por nenhum sentimento passadista ou saudosista. Mas fico indignado e triste por assistir a tanta indiferença e insensibilidade...

Cumprimentos a todos.

Inácio Silva

2. Comentário dos editores: Ver o blogue do Inácio Silva Relembrar para Não Esquecer, e em particular o post de 10 de Outubro de 2007 > Email enviado ao Primeiro Ministro de Portugal

(...) Também o Governo, através do Primeiro Ministro já sabe que os ex-combatentes estão indignados com o que aconteceu. Em 24 de Abril de 2007, enviei o email que se segue ao Primeiro Ministro, Eng.º José Sócrates, ao qual anexei a petição feita à Assembleia da República bem como a resposta da Comissão Parlamentar de Defesa Nacional (...)

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Notas dos editores:

(1) Vd. 27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)

(2) Vd. post de 16 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2182: Blogoterapia (35): Programa da RTP1, Prós e Contras: Éramos todos bons rapazes (David Guimarães)

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)

1. Mensagem do Inácio Silva de 18 de Junho para o Editor Luís Graça

Caro Luís Graça:

Não tive, ainda, o prazer de te conhecer pessoalmente, mas tão só em fotografia. Mas, por aquilo que está publicado, quer na tua página, quer nos teus blogues, tenho que me curvar perante a quantidade e a qualidade de tantos artigos publicados, fotografias, histórias, etc., que não deixarão cair no esquecimento o período da História de Portugal que, embora sem mérito para o País, marcou, profundamente, os seus jovens, os pais e as famílias, no período compreendido entre os anos de 1961 e 1974. Quero dar-te os meus sinceros parabéns.

Fui camarada do Carlos Vinhal, na CART 2732, que esteve em Mansabá, Guiné, entre 1970 e 1972. Só há cerca de dois meses consegui redescobri-lo, precisamente através do teu blogue. Desde então, temos mantido contactos regulares, através da internet e do Windows Live Messenger.

Tenho estado empenhado, também, em ajudar a que se faça justiça, relativamente à dívida de gratidão que o País tem para com os ex-combatentes. Refiro-me ao Complemento Especial de Pensão, previsto na Lei 9/2002. Neste sentido, criei o blogue Relembrar para Não Esquecer (http://guerracolonial.blogs.sapo.pt/) onde estão publicados os documentos que se relacionam com este tema.

Em breve irei precisar da tua colaboração para anunciar a recolha de assinaturas para o abaixo-assinado que, certamente, terá que ser feito, para acompanhar uma nova Petição, a dirigir à Assembleia da República.

Por agora, desejo que me consideres mais um elemento da tua tertúlia...

Para que fiques com alguns elementos a meu respeito, informo-te que fui 1.º Cabo de Art, com o n.º mec.º 06101569, sou oriundo da Madeira e que, como camarada do Carlos Vinhal, ambos vivenciámos episódios comuns, em Mansabá.

Oportunamente, far-te-ei chegar um pouco do que ainda se encontra na memória, sobre o período que correspondeu à estada na Guiné, conforme a vivi e entendi.

Envio-te duas fotos, conforme é solicitado.
Um grande abraço do

Inácio Silva



2. Comentário do co-editor, Carlos Vinhal:

Caro Inácio:

Como adivinhas, é com um enorme prazer que te dou as boas vindas ao nosso Blogue. É uma alegria ter um companheiro de luta, junto de mim.

Entre os tertulianos há alguns camaradas que são, entre si, colegas de Companhia, ou pelo menos de Batalhão. Eu estava só e com nenhumas perspectivas de ter alguém que me chamasse a atenção para um escrito menos verdadeiro, pois o tempo vai desvanecendo a memória e a realidade vai-se confundindo com a ficção.

Chegaste tu para contares estórias que eu não vivi, porque não estive em todas, felizmente.

És além de tudo um Madeirense, representante de um povo que eu desde a primeira hora neste Blogue, exaltei como destemido, humilde no melhor sentido da palavra e, acima de tudo, leal para com os seus superiores de ocasião. Nunca se pouparam a esforços para levarem a cabo as missões confiadas, muitas vezes com desprezo pela própria vida, imbuídos de um dever patriótico.

Em meu nome e no do Luís Graça, bem-vindo.
Fraternal abraço do camarada
Carlos Vinhal