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sábado, 25 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7037: Recortes de imprensa (30): A guerra do José Corceiro, CCAÇ 5, Canjadude, 1969/71 (Correio da Manhã)


1. O nosso Camarada José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos, Canjadude, 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 22 de Setembro de 2010:

Camaradas,

Aqui estou eu a enviar para o Blogue o depoimento que mandei para o Correio da Manhã, para a série a “Minha Guerra”, para ser publicado na revista ”Domingo” que acompanha o Jornal, nas edições dos Domingos.
É lógico que em função do extenso conteúdo que eu enviei para publicação na rubrica “A Minha Guerra”, e atendendo ao limitado espaço que a revista reserva para a edição do artigo, não me surpreendeu a súmula que saiu no jornal, são peças jornalísticas.
Eis pois o depoimento que eu enviei para o Correio da Manhã, em função das perguntas feitas pela Jornalista:
A MINHA GUERRA (DEPOIMENTO ENVIADO PARA O CORREIO DA MANHÃ)
1) - Fez parte de que Batalhão?
Em 24 de Maio 1969, por volta do meio-dia, deixo o Porto de Lisboa no N/M Niassa, rumo à Guiné, como rendição individual.
Foi emocionante e comovente, ver aquela moldura humana de familiares e amigos a despedirem-se.
No cais, eram uns com lenços nas mãos a acenar, outros com lenços nos olhos, no nariz, na boca, outros deitavam as mãos à cabeça, enquanto outros apertavam a barriga, cada familiar e amigo expressava queixume e desespero com o sentimento de gesto diferenciado.
Um quadro impressionante que me fez cogitar e questionei-me:

- Será, que é a atitude mais acertada, eu empenhar-me a defender a Pátria e as cores da Bandeira, neste caso?

- Será, que têm razão os que desertam, como fizeram alguns da minha terra?

Fiquei confuso, ao ver tanto rosto carregado de tristeza, fisionomias que transpiravam sofrimento e mágoa e deu para pensar muita coisa. Perplexo, olhava as pessoas que gostavam de mim.
Eu fui mobilizado para a Guiné, em rendição individual e já na Guiné, no Aquartelamento dos Adidos, no dia 3 de Junho de 1969, informaram-me que tinha sido colocado na CCAÇ.5, uma Companhia de Africanos, cognominados – Os Gatos Pretos – Metropolitanos éramos cerca de 40 militares e Nativos 220 a 230, sediados em Canjadude - Sector Leste - Nova Lamego.

Destacamento de Canjadude.

2) - Quando é que chegaram?

Dia 29 de Maio 1969, por volta das 21.00 horas, cheguei ao Porto de Pidjiguiti em Bissau, só desembarquei no dia 30.

Levaram-me para o DGA (Depósito Geral de Adidos), onde logo que cheguei, quis a minha fada madrinha, estrelinha da sorte, que encontrasse por mero acaso, um amigo, tínhamos estudado juntos.

3) - Soube logo para onde ia?

Só no dia 3 de Junho de 1969, fui informado que tinha sido colocado na CCAÇ. 5, em Canjadude, e nesse dia deixei Bissau, estrada rio Geba, rumo Bambadinca numa LDG, onde iam militares e civis acomodados como sardinha em lata.

Além da massa humana, havia muita mercadoria e os civis levavam de tudo, desde alfaias agrícolas, produtos alimentares, pilões, gaiolas com galinhas e pintos, todo o tipo de animais, que barafunda, até cabras iam!

O Sol era abrasador, sombra ou lugar para me sentar não havia, isto tornou-se fatigante, se ao menos houvesse um mínimo de conforto, para quem gosta de Natureza como eu, isto era um mimo, pois a paisagem nas margens do rio, que se avistava do barco, parecia-me deslumbrante, só que nestas condições desconfortantes, não havia serenidade e predisposição para apreciar e desfrutar o meio circundante.

O Geba era bastante largo e o barco deslocava-se na parte central.

As margens estavam praticamente ladeadas, em toda a sua extensão, por arvoredo compacto, pareciam ser matas virgens encantadoras, eram para mim, matas onde a pata do homem nunca tinha posto a mão, familiar para os meus olhos, só conheciam as palmeiras, de espaço a espaço viam-se habitações.

4) - O que sentiu quando chegou?

Foi desolador ver tanta pobreza e um modo de viver tão primitivo.

Surpreendi-me ao confrontar-me com os hábitos e condutas sociais dos habitantes de Bissau, que me pareceram conformados e felizes com o pouco ou nada que tinham.

O meu amigo e outro amigo dele, levaram-me a ver, e não só, umas lavadeiras numa bolanha, relativamente perto do DGA, não sei bem o local exacto, quando se ia de Bissau para o DGA, era do lado direito.

Sou por natureza bucólico, encanta-me o campo, a paisagem, a floresta, fiquei admirado, havia muito contraste entre o espaço que ladeava a estrada que ligava Bissau ao DGA, cujo terreno era árido e algo despovoado de arvoredo, destoando da Bolanha, onde me levaram, que tinha mata bem luxuriante.

Além disso, foi agradável ver lá as lavadeiras, algumas completamente nuas, uma mais atrevida e desinibida, vendo o nosso olhar maroto e malicioso, aveludado de concupiscência, dirigiu-se ao meu amigo nestes termos:

- Bu mamé é puta, sinon bu cá tinha nascido.

Não sei se será algum provérbio guineense, mas foi oportuno, nunca o esqueci.

Para o meu íntimo, estes momentos a que estava a viver, eram bem reveladores do fosso cultural existente entre nativos e metropolitanos, começava-me a aliciar a idiossincrasia e a genuidade do povo guinéu, despido de formalismos e preconceitos; para mim era pureza, esplendor natural, como que um ode à criação.

Ali continuou a estruturar-se o meu despertar e a avolumarem-se as minhas dúvidas, por um lado a intuição, por outro o raciocínio, comecei a ficar sobressaltado e a entender que era outra cultura, outra forma de ser e estar na vida, era a sua Pátria, os nativos estavam no seu habitat e adaptados aos costumes do seu Povo.

Só havia que aceitar e respeitar, eu estava desintegrado, era invasor!


Eu “Periquito” quando cheguei a Canjadude.

Eu na parada de Canjadude ainda “Periquito”.

5) - Como foram os primeiros tempos?

A adaptação foi dificílima. Sobretudo acomodar-me à alimentação e aclimatizar-me ao meio.

Eu sentia-me descompensado.

Era um calor tórrido e mortiço, atmosfera carregada e tensa, humidade misturada com as partículas em suspensão ameaçam explodir a qualquer momento, transpira-se preocupação e insegurança, paira incerteza e receio no ambiente, aproxima-se temporal, será chuva, trovoada ou vendaval, o desconforto e a palpitação são gerais, o suor é melaço e teima em não se deixar limpar, está tudo agitado, a brisa está calma, mas as folhas das árvores estão a baloiçar, os mosquitos põem à prova toda a astúcia e rebeldia, para fintar o indígena e conseguir a sua sugadela, as lagartixas, no quintal, andam num frenesim desenfreado e estonteante, como se hoje fosse o último dia das suas vidas, no quartel de Nova Lamego respira-se desconfiança, há muita movimentação militar, já vieram dois Pelotões de outro Destacamento, saíram três Pelotões para o mato na eventualidade de ataque estarem a postos, está tudo de prevenção, eu estou de Cabo de Dia ao Comando, é dia 9 de Junho 1969.


Eu junto da tabuleta que estava no local de entrada, vindo de Nova Lamego, onde anteriormente estava o arame farpado, antes do Aquartelamento ser alargado.

Cheguei a Canjadude, dia 13 de Junho de 1969, na parte de tarde.

Após a refeição do jantar, comunicaram-me que no dia seguinte, às 07.00h, devia estar pronto para alinhar na operação a nível de Companhia, ao Cheche.

De transmissões iam o Silva, o Carvalho (que era o mais velho de transmissões), e eu, o mais novo, que para me familiarizar acompanharia sempre o Carvalho.

Era norma, o “periquito” chegado, pagar umas cervejas aos camaradas da secção e eu não fugi à regra. Mas não chegava.

Eles estavam concertados e queriam amigavelmente infernizaram-me a vida, mais parecia que me queriam praxar.

Eu era uma novidade, um “periquito” e estava muito verde… era um novato.

Eles diziam: “Nós já somos velhinhos!”.

O que queriam era “folia” e atormentar-me. Às tantas, um deles, causticamente, sai-se com esta:

- Tu chegaste hoje, dia 13 sexta-feira, e amanhã vais logo para o Cheche, onde há quatro meses perderam a vida perto de meia centena de militares (47), isto não é, convém que se diga, uma colónia de férias, para vires com discos e gira-discos na bagagem.

Isto aqui é a guerra, amigo, e não vais ter propriamente vida facilitada, até porque os nossos graduados não são flor que se cheire, as surpresas não vão ser glico-doces para o teu lado.

Eu a ouvir música em cima do abrigo, no gira-discos que levou da metrópole.

6) - Quando voltou?

Regressei à Metrópole, o dia 2 de Julho de 1971, no navio Angra do Heroísmo.

7) - Qual foi o dia mais marcante? E porquê?

No teatro operacional foi o dia 3 de Agosto de 1970, porque perderam a vida dois camaradas, um dos quais o enfermeiro Dinis que éramos amigos. E depois toda a polémica gerada em torno do caso…

8) - O que lhe lembra a guerra?

Só deseja a guerra, o homem que não tem paz interior e vive em conflito permanente com ele próprio.

Portugal não teve, infelizmente, um estadista à altura, para em tempo oportuno, ter encontrado uma saída politica honrosa para as duas partes, de forma a solucionar todo o problema Ultramarino, sem que houvesse necessidade de recorrer à via da guerra, que é sempre um desastre, sobre tudo para inocentes indefesos.

A guerra é uma atitude que embrutece os homens e os torna mais fracos…

Messe de Oficiais e Sargentos > Da direita para a esquerda: Capitão Costeira, Alferes Sousa, Alferes Luís Alberto Gil Duarte, Furriéis Ramos, Saúde e Gonçalves.

Jogo futebol na CCAÇ. 5 > Solteiros contra casados > Da direita para a esquerda: Sarg. Farinha, Fur. Laminhas, Sarg. Rodrigues, Sarg. Cipriano, Furs. Adelino, Gil e Saúde, Cap. Oliveira, Alf. Sousa, Furs. Gonçalves, Vieira da Silva, Rito, José Martins (um pouco adiantado do perfilado), Fur. Borges.

Troca de galhardetes no jogo de futebol > O Alf. Sousa oferece à equipa dos casados, um “Corno” e o Cap. Oliveira oferece à equipa dos solteiros, um “Vergalhinho dum cabritinho” > As personagens nesta foto são as mesmas que na foto anterior.

9) - Fazem-se irmãos?

Estive 40 anos sem ter contacto nenhum com Gatos Pretos, que tenham coexistido comigo em Canjadude.

Quando em Janeiro passado começo tibiamente e com certa timidez a estabelecer alguns contactos telefónicos, para os endereços que já existiam numa lista de alguns Gatos Pretos que me foi fornecida, constato que há um desejo desmedido para que se realize um encontro convívio, dos Gatos Pretos.

Exigia-se determinação e aplicação e, à medida que vou descobrindo mais uma morada, ou um telefone, dava-me um gozo de “êxtase,” porque era mais um Gato Preto que apanhava “c´o mão” (era clamor de guerra em Canjadude gritar-se: “Gato Preto apanha c´o mão”).

Assim, com a conivência de todos, se tem vindo a estruturar uma listagem, com dados de cada um, que já tem uma ninhada de mais de 150 Gatos Pretos.

Fui ouvindo desabafos e desalentos, de uns e outros, que me diziam frases tais como:

- Todos os Batalhões e Companhias, tem anualmente o seu dia de festa e convívio, não compreendo como é que nós da CCAÇ 5, não conseguimos ter essa alegria;

- Era o maior sonho da minha vida e, podê-lo complementar com uma ida a Canjadude, sentir-me-ia realizado;

- Estou a ver que vou morrer sem ver concretizada a realização dum convívio dos Gatos Pretos, se o quiserem fazer em Canjadude desde já podes contar comigo…

10) - Esteve debaixo de fogo?

Eram 22.48h, do dia 11 de Julho de 1969, quando se precipitou inusitado ribombar, em que eu, o primeiro estrondo que ouvi, quis-me convencer que fosse um trovão, mas em milésimos de segundo, acordei o espírito e consciencializei-me que era o meu baptismo de fogo que estava em urdidura, estava a perder a virgindade de fogo no flagelo ao Aquartelamento de Canjadude.

Saltei da cama para o chão, da parte superior do beliche, quis encontrar uma G3, pois eu não tinha arma distribuída.

A lei da necessidade primária, sobrevivência, impôs que eu agisse e procurasse instrumento para me defender. Nestas décimas de segundo o gerador de energia eléctrica foi-se abaixo e ficou tudo às escuras, eu corro de mãos vazias para a saída do abrigo, saio e meto-me numa das valas, que me poderá conduzir ao abrigo do Posto de Transmissões.

Cá fora, os rebentamentos eram constantes e afiguravam-se ser mesmo por cima de mim, ouvindo-se um ruído sibilo a cruzar o espaço em todas as direcções.

Eu fiquei boquiaberto e pensei:

- Que festival de fogachal tão bem orquestrado é fogo de guerra mesmo para matar, parece que os deuses estão contra mim?!

O bramir das detonações, era incessante e havia ecos de explosões de proveniência indeterminada, vinham de todos os lados!

Eu cogitava: que razões assistem a estes seres para despoletar tamanha barbárie?

Fiquei cismado, atrapalhado, embora não estivesse nervoso, mas estava um pouco amedrontado! Sempre me imaginei a reagir, numa situação destas, com conduta bem pior do que esta que estava a revelar, ao defrontar-me perante uma bagunçada com esta factual perigosidade, para a minha integridade física.

Foi uma grande surpresa, para mim, esta minha atitude comportamental, diante de ameaça tão iminente, concreta e real.

O fogo continuava violento e insistente, desconcertante, indistinguível, não conseguia percepcionar, nem ajuizar qual a proveniência dos disparos, era uma barafunda de silvos na atmosfera envolvente e por cima da minha cabeça, que me deixava baralhado.

Os roncos dos rebentamentos são no ar, eram na frente, por trás e dos lados, era aterrorizador.

Da nossa parte a reacção é quase nula, não se fazem sentir esboços de defesa!

Mas logo que as nossas morteiradas do 81 começaram a ser certeiras e a colidir com as posições do inimigo, tudo amainou…

Dia 12 de Setembro de 1969 houve coluna a Nova Lamego.

Depois de termos feito picagem da estrada até Uelingará, subimos para as viaturas. Ainda não eram 8.30h, começamos a avançar.

Eu estava a estabelecer contacto via rádio, com Canjadude.

A viatura da frente arrancou, eu ia na segunda viatura, a última da coluna ainda não estava em movimento de progressão.

Neste intervalo de tempo ouviu-se um violento rebentamento, tudo à minha frente voou pelos ares, envolto em cortina de fumo e terra, devido ao rebentamento de mina anti-carro accionada pela primeira viatura.

Não sei como saltei do transporte onde eu ia, foi tudo tão rápido que só me lembro que estou no chão de pé e com uma G3 na mão, que não era minha, pois não tinha arma distribuída.

Olho em frente e vejo a escassos metros uma viatura atravessada na picada, com a parte frontal toda destruída e, o chão assolado com corpos humanos, pensei o pior, aproximei-me ajudei alguns a levantarem-se, mas deparei-me logo com um ferido que me inspirou muito cuidado e preocupação, caso que nunca esqueci e me marcou.

Estava caído no chão, inerte, desconsolado, a gemer desfalecido com muito padecimento, não havia mobilidade e a visão daquela fácies hipocrática com a sua fisionomia de músculos contraídos, atestavam bem o sofrimento e dor porque estava a passar aquele ser humano, imagem que já mais apaguei da minha mente.

Verifiquei que não tinha contracções musculares nem sensibilidade nos membros inferiores, ajudei-o a apoiar a cabeça e pedi para que não o movimentassem, continuava a gemer desesperadamente e acabou por desmaiar.

Nunca mais tive notícias deste militar nativo, presumo que tenha sido mais uma vítima da guerra que ficou paraplégica.

Fui para a viatura de Transmissões para enviar mensagem a Canjadude, a pedir evacuações urgentes e apoio de enfermagem, pois havia muitos feridos, alguns com gravidade e deitados no solo em sofrimento, sequencialmente, pediu-se a Nova Lamego que enviasse um grupo de protecção e um pronto-socorro para levar a viatura acidentada (do local do acidente a Nova Lamego eram aproximadamente 15km).

Placar no refeitório de Canjadude, onde o Corceiro colocou um recorte de revista, que cortou da revista Salut les Copains, com a imagem da Francoise Hardy.

11) - A guerra marca para sempre?

Em Canjadude, passei 25 meses, com poucas ausências.

Foi muito tempo fora da civilização que eu conhecia, logo, desejava, confinado a um espaço tão limitado em condições tão carenciadas, privado das necessidades mais elementares, sem as quais o ser humano consegue harmonia emocional e física; tentava, conforme podia e deixavam, compensar o não gozo em pleno das três necessidades primárias dos seres vivos, e como podia tentava desequilibrar os pólos das baterias.

A Cády, uma bonitinha bajuda (rapariga) de Canjadude, de etnia mandinga.

Foi muito difícil a falta de presenças, de carinhos, de mimos, de pequenos nadas, os afectos… era a saudade… a tensão e a pressão que era preciso conter para não haver explosão.

Cada um refugiava-se e representava o que lhe ia na alma, o que lhe parecia mais plausível: álcool, bajudas, petiscos, escrita, leitura, simulações guerreiras e teatrais, afeição a animais, apegados às coisas mais inverosímeis, tentava-se suprimir as deficiências e lacunas do meio a que estávamos expostos, recorrendo aos mais variados hobbies para nos compensarmos, eram necessidades primárias desvirtuadas a actuar!

Talvez tivesse facilitado a minha integração e minimizado o meu desconforto, se o meu código genético tivesse no respectivo cromossoma um gene com aptidão mais guerreira que dominasse o alelo correspondente, ficaria por ventura mais acomodado no teatro de guerra, mas deixava de ser EU, eu batia-me interiormente com as minhas limitações, por valores que queria preservar e dignificar, queria, sem ser lírico ou utópico, (com toda a estima e consideração por eles) continuar a ser amante de diálogos, respeito, consensos e paz, não tinha preparação para este tipo de guerra, estava a ficar com a percepção que neste meio (teatro de guerra) obrigavam-me a renunciar à minha personalidade e a valores que eu queria acautelar, vivia num conflito ambíguo, meio externo (ambiente) guerra, meio interno (raciocínio) paz, esta ambivalência era morrinha para o meu EU!

Os meus hobbies, entre outros, foram a fotografia e o diapositivo (slide), tirei muito… milhares.

Eu em Canjadude, a digerir e organizar pensamentos, sentado na Bolanha que se recusava a secar mas onde a água se estava a acabar.

Nota Biográfica:

O meu nome é: José Manuel Silva Corceiro, natural de Vale de Espinho, concelho de Sabugal, data de nascimento 1947. Vivo em Lisboa, na Rua Pascoal de Melo.

O serviço militar, no meu caso, teve graves e nefastas implicações na orientação da minha vida profissional. Interferiu e muito, no que poderia ter sido o meu percurso de vida, entrei na Faculdade de Medicina de Lisboa, mas por razões diversas, que não interessam para o momento, não terminei o curso de medicina.

Profissionalmente estive ligado ao ramo das telecomunicações, presentemente sou pré-reformado.

Sou casado, pai de três filhos, os dois mais velhos, um licenciado pelo IST em Engenharia (tecnologia e computação), outro licenciado em Química e o terceiro está no 12º ano.

Tenho dois netos descendentes do filho mais velho, o Tomás e a Laura.

Um abraço e boa saúde para todos,

José Corceiro

1º Cabo TRMS da CCaç 5

___________
Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

23 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7024: Recortes de imprensa (29): A guerra do António Branco, CCAÇ 16, Bachile, 1972/74 (Correio da Manhã, 24 de Agosto de 2008)

sábado, 28 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6905: Parabéns a você (145 ): Um rodada de ternura para o nosso Gato Preto José Corceiro, em férias na Madeira



O José Corceiro aqui, menino de sua mãe, em 24 de Junho de 1948, aos dez meses de idade, na sua terra natal, Sabugal, distrito da Guarda. No TO da Guiné, viria ser 1.º Cabo Trms, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71.

Foto (editada por L.G.): © José Corceiro (2010). Todos os direitos reservados.




O José Corceiro (ex-1.º Cabo Trms, CCaç 5 - Gatos Pretos, Canjadude, 1969/71) faz hoje anos, 63, pelo que tem direito a rancho melhorado, a tratamento VIP e outras pequenas mordomias... virtuais. (*)

Embora ele esteja (suponho que ainda) de férias na Madeira, não deixará de nos ler e de receber, com agrado, os votos de parabéns que esta já vasta comunidade virtual de amigos e camaradas da Guiné lhe manda à velocidade da luz.

Ainda não o tive o prazer de o conhecer pessoalmente, o que é só uma questão de tempo, tanto mais que ele vive em Lisboa, embora beirão de nascimento. Um dia destes isso vai acontecer muito naturalmente. Até lá continuo/continuaremos a ler as suas histórias e ver as suas fotos dos Gatos Pretosm  de Canjadude, justamente da mesma época em que eu estive noutra companhia africana, a CCAÇ 12 (1969/71), na outra ponta da zona leste (Bambadinca).

Em 24 de Junho p.p., passámos a conhecê-lo um pouco melhor na sua intimidade: ele, discretamente feliz, dava-nos a notícia de ter sido avô, pela segunda vez... Aproveitou para homenagem, com o talento literário e a sensibilidade que todos lhe reconhecem, a sua saudosa mãe e a nova mulher que acabava de entrar na família:

"Aproveito para homenagear, singelamente, a mulher que foi a minha Mãe na minha vida e dizer-lhe que, embora nos tenha deixado, continuo a sentir-me ao seu colo adorado e protector. Saúdo a minha netinha Laura, desejando-lhe uma vida graciosa e risonha, assim como não esqueço as outras mulheres da minha vida, às quais desejo tudo de bom". 

Para justificar o gesto e o seu registo, intimista,  perante os mais puros e duros guerreiros da nossa Tabanca Grande, eu comentei:

"Este é também um blogue de afectos... Um gesto de ternura é sempre algo de irrecusável. E como nós estamos necessitados de ternura, nestes tempos difíceis por que estamos a passar, nós, todos, indivíduos, famílias, comunidades, povo!"... (**).

E já que a ternura (ainda) não paga imposto nem afecta (ou afecta ?) a nossa dívida pública nem a nossa balança de pagamentos, aqui vai uma rodada de abraços, beijinhos e chicorações para o Gato Preto Corceiro, em nome da malta toda da Tabanca Grande, reunida sob o poilão da amizade, da camaradagem e da solidariedade. E bom regresso de férias na Madeira...

Luís Graça, Candoz, Paredes de Viadores, 28/8/2010.

______________

Notas de L.G.

(ª) Último poste da série > 27 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6902: Parabéns a você (144): Jaime Machado, exc-Alf Mil Cav, Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) e actual presidente do Lions Clube Senhora da Hora, Matosinhos

(**) 24 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6641: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (22): José Corceiro, um bom filho, um melhor pai, um avô babado

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6901: José Corceiro na CCAÇ 5 (16): O depoimento do Armando Oliveira Alves, ex-Alf Mil, Brá, Cheche, Canjadude, 1967/69 (José Corceiro)


1. O nosso Camarada José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos, Canjadude, 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 26 de Agosto de 2010:

Camaradas,

Estou de férias na Madeira, mas não deixo de dar uma espreitadela à caixa de correio electrónico. Hoje recebi uma mensagem do nosso estimado Gato Preto, Armando Oliveira Alves, ex-Alferes Miliciano 1967/69, que tenho a certeza que tem muitas estórias, enquanto Gato Preto, para nos contar, pois foi testemunha de muitos factos que aconteceram na picada entre Canjadude e Cheche onde esteve destacado largos meses.

Na mensagem que enviou, diz que provavelmente no próximo Domingo, dia 29 de Agosto, o Correio da Manhã na revista Domingo que acompanha o Jornal, publicará na rubrica “A Minha Guerra” o artigo do Armando Alves.

Teve a gentileza, que agradeço, de me enviar o depoimento que deu origem ao artigo que vai sair na revista, depoimento esse, que eu envio em anexo, para todos os Gatos Pretos e não só.

Os nossos parabéns ao Armando Alves pelo seu depoimento tão articulado e consistente.


A Minha Guerra na CCAÇ 5 (Companhia de Caçadores 5)


1)- Fez parte de que Batalhão?

Concluído, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, no 1º trimestre de 1967, o Curso de Oficiais Milicianos e após ministrar uma recruta no Regimento de Infantaria de Viseu (RI 14), fui mobilizado, em Junho desse ano, para uma comissão de serviço na Guiné-Bissau, em rendição individual.
Assim, nos primeiros dias de Agosto (não consigo precisar o dia) embarquei, no Cais de Alcântara, no navio Alfredo da Silva (embarcação mista de passageiros e carga).

2)- Quando é que chegou?

Apesar de alguns enjoos, a viagem correu sem sobressaltos, tendo o navio feito escala nos portos das cidades do Funchal, S. Vicente e Praia. Durante o percurso, impressionou-me, negativamente, a forma como iam instalados os soldados: amontoados no porão, sem quaisquer comodidades e sem as condições de higiene, minimamente, exigíveis. Volvidos, mais ou menos, doze dias, o barco atracou no Porto de Bissau, em pleno estuário do rio Geba.

3)- Soube logo para onde ia?

Como ia em rendição individual, não fazia a menor ideia em que Unidade seria colocado. À chegada, tinha à minha espera um representante da Companhia Geral de Adidos, posteriormente Depósito Geral de Adidos, que me conduziu, de imediato, ao respectivo Aquartelamento, localizado em Brá, junto ao Aeroporto.

4)- O que sentiu quando chegou?

Ainda a bordo do Alfredo da Silva, tive uma vista panorâmica da cidade, mormente a Avª da República, ao cimo da qual ficava a Praça do Império, onde se localizava o Palácio do Governador. A sensação, que tive ao desembarcar, foi pouco animadora: clima agreste (muito quente e húmido), pobreza acentuada e bem visível, reduzidíssima população branca e um enorme fosso económico e cultural entre nativos e metropolitanos. Embora, à data, a Guiné-Bissau fosse considerada parte integrante de Portugal, ao pisar, pela primeira vez, aquele território senti-me estrangeiro e um intruso.

5)- Como foram os primeiros tempos?

Como atrás referi, fui mobilizado em rendição individual, tendo ido substituir um Alferes Miliciano, de Coimbra, que, quando regressou à Metrópole, desempenhava as funções de Oficial de Justiça na já mencionada Companhia Geral de Adidos. Embora fosse de Infantaria e sem qualquer formação académica no ramo do Direito, julgo que, com muito trabalho, dedicação, consultas e trocas de impressões com camaradas do Quartel-general, desempenhei, durante três meses, com rigor e competência as respectivas funções. Sem quaisquer preconceitos de falsa modéstia, esta minha opinião alicerçou-se no facto do Comandante da Companhia, Sr. Capitão Gândara, ter solicitado, mais do que uma vez, ao Sr. Brigadeiro Reimão Nogueira, do Quartel-general, a minha colocação definitiva na Unidade referenciada, alegando um bom desempenho a todos os níveis.
Neste período, a adaptação foi, relativamente, fácil, pois, para além das agruras do clima e da ausência dos entes queridos, as contrariedades eram diminutas e as privações quase nulas. Chamo a esse período, bem como a outro, após o regresso do mato, “a guerra da caneta”.

Como não foi possível a minha permanência definitiva em Bissau, em Dezembro de 1967 foi colocado na CCAÇ 5 (Companhia de Caçadores 5), uma Unidade militar constituída, essencialmente, por africanos. Apenas os Comandos/Chefias e os postos mais técnicos, como, por exemplo, maqueiros/enfermeiros e radiotelegrafistas, eram exercidos por europeus.
Embarquei num avião Dakota, com bancos em madeira a toda a volta e cujos cintos de segurança eram pequenas correias com fivelas nas pontas. Como era habitual na época, o avião, para além de pessoas, também transportava animais e mercadorias de diversas espécies, o que, diga-se em abono da verdade, não proporcionava o mínimo de conforto. À data, a CCAÇ 5, com sede em Gabu/Nova Lamego, onde funcionavam o Comando e os Serviços, estava dividida em três Destacamentos: Cabuca (localizado na zona de Piche), Canjadude (entre Nova Lamego e o Cheche e futura Sede da Companhia) e Cheche (encostado ao rio Corubal e próximo de Madina de Boé, local onde foi proclamada, pelo PAIGC, a independência do território).

Após alguns dias em Nova Lamego, para adaptação, fui colocado no Destacamento do Cheche, tendo sido, para o efeito, organizada uma coluna militar. Nesta Unidade, brancos eram cinco e negros sessenta (um pelotão de tropa regular e um pelotão de milícias), sem contar com mulheres e filhos. Embora houvesse tabancas, feitas de madeira e capim, as instalações eram subterrâneas (os chamados abrigos), cavadas no solo e com cobertura à base de troncos de madeira.
Vivia-se em estado permanente de alerta, pois, quase diariamente, era fustigado com tiros de morteiro, provenientes da margem esquerda do rio Corubal. Felizmente, o rio, em frente ao Destacamento, era muito largo, pelo que todos os ataques, durante a minha permanência, redundaram em fracasso.
As missões militares, incumbidas ao Destacamento, para além de patrulhamentos na zona envolvente, limitavam-se a patrulhar e a “picar” a estrada em terra até Canjadude, no sentido de detectar, essencialmente, minas anticarro, aquando das colunas de reabastecimento ao Cheche e/ou a Madina do Boé, e a participar, como reforço, nas deslocações a este último Aquartelamento.

6)- Quando voltou?

Após ter cumprido uma comissão de serviço, no mato, de mais ou menos 13 meses, repartida pelo Cheche (+- 11 meses) e por Canjadude (o restante), voltei a Bissau, novamente ao Depósito Geral de Adidos, como responsável pela organização de transportes de regresso dos militares às respectivas Unidades, após internamento hospitalar, consultas externas, tratamentos de fisioterapia, retorno de férias, etc, etc.
Regressei à Metrópole, a bordo do navio Uige, no início de Setembro de 1969, tendo cumprido, na totalidade, uma comissão de serviço de 25 meses.

7)- Qual foi o dia mais marcante? E porquê?

Embora não consiga precisar a data, o dia mais marcante, durante a permanência no teatro de guerra, foi quando assisti ao rebentamento de uma mina anticarro, que tirou a vida ao Sr. Major de Engenharia Pedra (Oficial de Carreira) e a dois Furriéis Milicianos, também de Engenharia, que se deslocavam ao Cheche, já em fim de comissão, para estudar a possibilidade de uma alternativa à jangada de madeira na travessia do rio Corubal. Embora ainda tivessem sido evacuados com vida, mas muito maltratados, acabaram por falecer, a bordo do helicóptero, a caminho do hospital.
Um dos furriéis, com as duas pernas quase desfeitas, enquanto lhe prestava, juntamente com o enfermeiro, apoio, virou-se para mim e suplicou: “Estás a ver o estado em que me encontro! Se és, realmente, meu amigo, peço-te que utilizes a tua arma e põe fim a este sofrimento”!!! Com o coração desfeito e banhado em lágrimas, tentei confortá-lo e incutir-lhe o mínimo de esperança, o que, reconheço, não foi nada fácil. Nestas circunstâncias, um minuto parece uma eternidade!

8)- O que lhe lembra a guerra?

A quarenta e três anos de distância, a lembrança que tenho da guerra é a mesma que tinha, quando fui mobilizado: um autêntico desastre em termos políticos, económicos e sociais. É caso para perguntar: sacrifícios, privações, mortos e deficientes, em larga escala, em prol de quê? Se tivesse havido, desde o início, uma negociação política, ter-se-iam evitado imensos dramas e as pessoas, que consideravam as ex-colónias como a sua pátria, onde nasceram os seus filhos e onde investiram as suas economias, não seriam forçados a regressar, apressadamente, à Metrópole, “com uma mão à frente e outra atrás”, como se costuma dizer. Por outro lado, a juventude da época não teria sido tão castigada e privada dos melhores anos das suas vidas.

9)- Fazem-se irmãos?

Não restam dúvidas que o teatro de guerra proporciona, em larga escala, espírito de união e de entreajuda, fomenta a amizade e a solidariedade. Sem que cada um deixe de assumir as suas responsabilidades, não há superiores nem subordinados, não há pais nem filhos, são todos irmãos, imbuídos do mesmo pensamento: colaboração recíproca, no sentido de ultrapassar, em todas as circunstâncias, as contrariedades, que vão surgindo, por forma a que a comissão de serviço, imposta pelas autoridades governativas, atinja, rapidamente, o seu términus e todos possam regressar em segurança, saúde e paz aos seus lares. Este “sentimento de irmandade” só acaba, quando todos “partirem”, pois, enquanto vivos, procuram conviver, alegremente, uns com os outros, pelo menos uma vez por ano, através de encontros previamente organizados.

10)- Esteve debaixo de fogo?

Infelizmente, mais de uma vez, embora sempre com muita sorte, pois nunca sofri qualquer tipo de ferimento. Há uma situação, que me marcou para toda a vida, não só pelo número de mortos sofrido (20), mas, também, pelas circunstâncias em que ocorreu o ataque/emboscada e pelas consequências que provocou.
Antes da época das chuvas, cujo início ocorria, normalmente, em meados de Maio, programava-se o reabastecimento ao Destacamento do Cheche e ao Aquartelamento de Madina do Boé, pois, durante aquele período, a estrada em terra (picada) ficava intransitável. Assim, nos primeiros dias de Maio de 1968, deu-se início à coluna militar, constituída, ao nível de efectivos, por uma Companhia e por diversas viaturas, incluindo carros de combate. Ao destacamento do Cheche, sob o meu comando, competiu, para além de outras tarefas, “picar” a estrada ao encontro da coluna. A primeira fase, embora, como sempre, debaixo de grande tensão, correu sem sobressaltos. No regresso e a poucos quilómetros do Destacamento do Cheche (+- 6/7), numa grande clareira em forma arredondada e quando a coluna militar se encontrava, totalmente, dentro da mesma, sofreu um ataque violentíssimo, perpretado por um grupo numeroso de guerrilheiros, equipado com material bélico sofisticado, incluindo canhão sem recuo (uma novidade, para a época, em emboscadas). As nossas tropas, face à surpresa e intensidade do ataque, desmembraram-se por completo e, praticamente, não reagiram. Cada combatente, independente do posto e da responsabilidade atribuidos, procurou proteger-se e, na medida do possível, afastar-se “daquele inferno”.
Particularizando, as minhas protecções foram, num primeiro momento, o rodado de uma viatura e, posteriormente, um “bagabaga” (formação fortíssima, de vários metros de altura, resistente à destruição, construída pelas térmitas – formigas tenazes e temidas -, com a argamassa resultante da mastigação, por elas próprias, de madeira, terra, excrementos e saliva). A desorientação foi de tal ordem, que a coluna militar não mais se conseguiu reorganizar, acabando todos os elementos sobreviventes por chegar ao Destacamento do Cheche isoladamente. As viaturas foram incendiadas e o reabastecimento roubado. Para além dos géneros alimentícios, levaram, também, o correio destinado aos militares do Cheche e de Madina do Boé, o que, como se depreende, teve consequências gravíssimas ao nível das suas famílias, pois o PAIGC fez constar que os destinatários da correspondência estavam presos e às suas ordens. A carência de alimentos foi, igualmente, problemática, obrigando, até ser decidida a sua reposição por meios aéreos (sacos largados do ar por avionetas e/ou helicópteros) a recorrer a tudo o que era possível: peixe “pescado” no rio Corubal com granadas ofensivas, pombos verdes “abatidos” com G3 e macacos fidalgos assados no forno, “tipo cabrito”!

11)- A guerra marca para sempre?

Creio que a guerra, em que cada um foi obrigado a participar, marca para sempre, de uma forma mais intensa ou de um modo mais indelével, a vivência de cada interveniente. Julgo que para tal contribuiu, de forma decisiva, a atitude psicológica de cada um, a maneira como conseguiu conviver com as situações mais adversas e o antídoto utilizado para as ultrapassar.

Nota Biográfica: o que fez, faz, idade, percurso profissional. Casado, netos, etc

Nome: Armando de Oliveira Alves
Naturalidade: Fiães – Santa Maria da Feira
Idade: 65 anos (nascido a15 de Agosto de 1944)
Estado Civil: Casado
Filhos: 2. O mais velho, formado em Gestão de Empresas, está radicado em S. Paulo – Brasil e exerce a sua actividade profissional na Empresa Portuguesa Somague Engenharia. O mais novo, formado em Informática de Gestão, também está radicado em S. Paulo – Brasil e exerce a sua actividade profissional na Empresa Americana Logic Information Systems.
Netos: uma menina luso-brasileira, a Beatriz.
Percurso profissional: Antes do serviço militar, fui estudante-trabalhador (funcionário público). Após o regresso do Ultramar, ingressei na Banca, tendo sido reformado, em 2006, com a categoria profissional de Director.

Um abraço e boa saúde para todos. Boas férias.
José Corceiro
1º Cabo TRMS da CCaç 5
___________
Notas de M.R.:

É óbvio que o José Corceiro já falou nesta nossa Tertúlia ao Armando de Oliveira Alves e o convidou a reforçar o “batalhão”, que já conta com mais de 400 Camaradas.

Assim, em nome do Luís Graça & Restantes Camaradas, resta-nos deixar aqui expresso esse mesmo desejo de que, logo que lhe seja possível, o Armando Alves se junte a nós nesta nossa parada virtual, enviando as fotos da praxe, as estórias de que ainda se recorde e, se as tiver, as suas fotografias da tropa.

Por agora ficamos por aqui com um abraço Amigo.

Vd. último poste desta série em:

18 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6756: José Corceiro na CCAÇ 5 (15): Canjadude, CCAÇ 5, onde a surpresa acontece

domingo, 18 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6756: José Corceiro na CCAÇ 5 (15): Canjadude, CCAÇ 5, onde a surpresa acontece

1. Mensagem de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71), com data de 16 de Julho de 2010:

Caros camaradas, Luís Graça, Carlos Vinhal, J. Magalhães.
É com estima que apresento este redigido, que publicarão se assim o entenderem. Empenhei-me nas fotos, publiquem com o vosso saber e arte, como ajuizarem mais conveniente.

Um Abraço
José Corceiro


José Corceiro na CCAÇ 5 (15)

CANJADUDE, CCAÇ 5, ONDE A SURPRESA ACONTECE


FOTO 1 – Tabanca e Aquartelamento de Canjadude, vista do lado da picada do Cheche, vendo-se em plano afastado a picada que nos conduzia a Nova Lamego. Pode ver-se um filão de rochas, pouco vulgar na Guiné, que atravessa a imagem, um pouco para além do plano central da foto e o veio termina quase por ali. Podemos ver no lado esquerdo, a pista aérea e o quadrado esbranquiçado é o heliporto. É visível o campo de futebol no lado direito da pista. Como se pode observar há desmatização em todo o perímetro que circunda o Aquartelamento e a Tabanca, até uma distância aproximada de 300 metros. Este espaço desarborizado podia, algum, ser cultivado. Ao lado direito vê-se parte da Bolanha.

Eu sei muito bem, que cada um de nós foi uma individualidade distinta, que sentiu e se lhe cravaram na pele os efeitos nefastos da Guerra, deixando esculpido o estigma, segundo a sua particularidade, pois cada um de nós é uma singularidade. Testemunhámos ocorrências que nos afectaram, segundo a percepção e sensibilidade de cada um, e em função do maior ou menor grau de exposição, perante as crueldades belicistas a que cada um esteve sujeito no TO da Guiné. As desumanidades que presenciámos marcaram as nossas personalidades, pois foram tempos de intensa solidão, ainda que acompanhados de camaradas. Também sei, que após terem passado quase 40 anos, já pouco lembramos esse passado, que permanece (como que adormecido) no nosso subconsciente, manifestando-se, em alguns, em determinadas reacções comportamentais, que por vezes são difíceis de aceitar e interpretar. Eu estou a enquadrar esta questão, porque o teor do meu artigo, a seguir, é uma síntese singela do que escrevi na circunstância, sobre os factos que vou relatar... a minha linha de pensamento, duma maneira geral, mantém-se fiel com a da época.

Durante a minha permanência na Guiné, de entre os quatro Comandantes de Companhia da CCAÇ 5 que eu conheci em Canjadude, por razões de estilos diversos, cada um deles deixou cinzelado na minha memória recordações e sentimentos distintos.

FOTO 2 - Largo central da Tabanca de Canjadude onde os Homens Grandes passavam o dia sentados.

Vivemos em Canjadude num estado permanente de emoções, sobressalto, ansiedade e dúvida, pois estamos num envolvente TO de Guerra, onde as condições climatéricas são inóspitas e deveras funestas para se adaptarem a Metropolitanos. A estas agruras ambientais há a somar o muito desgastante esforço solicitado para equilibrarmos a subsistência, onde há carências tão básicas que provocam cansaço físico e psíquico, realce-se a nossa docilidade e adaptação ao meio. Estamos integrados numa Companhia Independente de Africanos, cujo Quartel tem abrigos enterrados no chão, onde dormimos, os que conseguem, em condições desumanas. O acampamento confina com uma tabanca, onde coexistem civis e militares nativos com as suas famílias, habitando em “morançinhas” familiares tradicionais, cobertas de capim (colmo).

FOTO 3 - Horta militar, próximo da bolanha.

Quer a tabanca quer o aquartelamento estão delimitados do mato pelo arame farpado. A localização do aquartelamento é periférico e isolado, tendo ficado depois da evacuação do Cheche o mais próximo de Medina de Boé. As condições de sobrevivência têm carências de toda a ordem, em todas as vertentes, daquilo a que vulgarmente chamamos necessidades básicas, pelo que não há uma sã harmonia que contribua para um salutar equilíbrio físico e emocional que o ser humano precisa para estar integrado socialmente. A tabanca, além das pequenas moranças com os seus habitantes, nada mais tem além dum rudimentar cabanal, coberto com chapas de zinco, a que se deu o nome de escola.

A actividade agrícola praticamente é nula, ainda que seja um facto a grande fertilidade do solo que circunda o aquartelamento, como se pode provar através da horta militar, que graças à dedicação, empenho e boa vontade, do Sargento José Marques que orienta o cultivo, em mais de um local, permitindo-lhe agricultar diversos legumes que produzem colheitas sequenciais, tais como: couves, alfaces, nabos, tomates, pimentos, pepinos, feijão, cenoura, cebola, etc. etc.

Lancem a semente à terra amanhada e o produto resplandece, como dádiva... a terra tem nutrientes e os necessários sais minerais, há luz, há calor, dêem de beber ao solo e ele retribui a sua generosidade.

FOTO 4 – Cozinha comunitária em Canjadude.

Os nativos, os não militares, somente cultivam junto à bolanha alguma “mancarra”, mas muito pouca e nada mais. Em qualquer cultura existe sempre um cereal como base alimentar, sendo neste caso da Guiné, o arroz, mas a gente de Canjadude está dependente dos militares para lho vender a preço simbólico. Quão benéfico teria sido para a população civil e militar, agora, se ao longo de anos tivesse havido mais interesse para investir na formação de técnicos para transmitirem conhecimento aos nativos na área agrícola? Os habitantes civis, aqui, vivem praticamente dependentes de algum frete que os homens fazem, como carregadores de material militar, quando há operações para o mato, enquanto as mulheres vão ganhando alguns pesos como lavadeiras dos metropolitanos, isto é o quotidiano de Canjadude.

FOTO 5 - Retirar as sementes da palmeira, em condições pouco higiénicas, para utilizar nos cozinhados, da alimentação dos Canjadudianos.

Dia 20 de Março de 1970, o Comandante da CCAÇ 5 é o Capitão Manuel de Oliveira (falecido em 31/03/2007 com a patente de Coronel Tirocinado na Reserva) e é voz corrente que nos vai deixar por ter sido promovido a Major e ter sido destacado para Bissau, para exercer funções relacionadas com actividades no Ministério da Educação. A família do Capitão vive em Bissau, cujo agregado familiar é composto por duas filhas e a esposa (Biologa) que lecciona Ciências no Liceu Honório Barreto.

FOTO 6 – Foto tirada do aquartelamento, junto do arame farpado, para o lado da bolanha. Terreno que podia ser todo cultivado.

Dia 21 de Março, logo cedo, antes das 07h00, saiu uma coluna de reabastecimento para Nova Lamego. Eu estou de serviço no Posto de Rádio, das 04 às 08h00 e das 12 às 16h00. O José Carlos Freitas saiu hoje na coluna e vai para a Metrópole em gozo de férias.

A coluna regressou cedo do Gabu, por volta do meio-dia. Recebi muita correspondência. Veio para substituir o Capitão Oliveira, o Capitão Borges (Hoje Coronel na Reserva) que era o Comandante da CCS do Batalhão de Nova Lamego.

Aqui, por Canjadude, a actividade operacional tem sido incessante, quase todos os dias saem Grupos de Combate para o mato, as operações sucedem-se, mas não tem havido nada digno de nota.

Dia 25, às 20h30, o IN começou a flagelar Cabuca, que é um Aquartelamento localizado a Nascente de Canjadude e o mais próximo, embora não haja via (picada) de ligação directa entre eles. Há pouco mais de oito dias que foram atacados e hoje voltaram a embrulhar, a Companhia ainda é “periquita”, se não ganham animosidade estão tramados.

Dia 26, não sei se terá algum fundamento ou se será boato de caserna, mas comenta-se a notícia com honras de veracidade. Fala-se à boca cheia que o Capitão Borges vai trazer a esposa, que vive em Nova Lamego, aqui para o Destacamento de Canjadude.

Dia 28, houve coluna a Nova Lamego e o Capitão Oliveira deixou hoje a CCAÇ 5, foi para Bissau.

Dia 29 de Março de 1970, é Domingo de Páscoa. Na parte da tarde realizou-se um emocionante desafio de futebol entre a equipa dos “velhinhos” e os “periquitos”, eu, ainda alinhei pelos “periquitos”, a disputa entusiasmou e foi empolgante, pelo que nos descontrolamos um pouco e chegámos uns escassos cinco a dez minutinhos atrasados ao jantar, já não nos deixaram comer.

FOTO 7 - Recepção do povo de Nova Lamego ao Ministro do Ultramar, 14 de Março de 1970.

Desde que o Ministro do Ultramar esteve em Nova Lamego, dia 14 deste mês, todos os dias têm havido saídas de pelotões para o mato e tem sido uma constante o movimento de envio e recepção de mensagens no posto de rádio.

Dia 31, o Capitão Borges mandou reunir os Militares da Formação e esteve a definir algumas normas de conduta, que quer que sejam cumpridas por todos, principalmente na apresentação do vestuário e comportamentos.

FOTO 8 - O Ramos a cortar o cabelo ao Corceiro em Canjadude. Era normal entre as 10 e as 15hh00, intervalo de descanso, andarmos assim vestidos, quando não era pior.

Dia 1de Abril, é o dia da Unidade. Logo cedo saí para o mato com dois Grupos de Combate, para os lados de Comuda, não sei porquê, mas não nos foram disponibilizados carregadores para transportar o equipamento de Transmissões. Regressámos por volta das 16h00, um pouco cansados, pois foi sempre a trilhar, felizmente que para as nossas caminhadas, agora, não há as martirizantes bolhanhas alagadas.

Dia 3, já há dois dias que estão três Pelotões para o mato e só regressam amanhã. Esteve aqui um “DO” que trouxe frescos e correio, tendo vindo também um Capelão, assim como um Militar Foto-Cine.

Dia 5, depois de jantar saiu o 1.º Pelotão para o mato. Das Transmissões sou o operacional que está afecto a este Grupo, pelo que saí para o mato também. Já depois de estarmos instalados no mato, 22h30, começámos a ouvir grandes rebentamentos na direcção de Nova Lamego, o Gabu, estava a sofrer flagelação. Recebi ordens do aquartelamento para regressar imediatamente à base. Regressámos, já nos tínhamos deitado, mas por volta das 23h30 tivemos que nos levantar. Formaram-se dois Grupos de Combate e saímos em direcção a Cancoré onde chegamos por volta da 01h30, ficando por ali emboscados. Ainda não tinha rompido o alvorecer já nós estávamos de regresso ao destacamento, onde chegámos às 06h50. Por volta das 12h00, saiu de Canjadude um Pelotão em direcção a Nova Lamego, que se instalou e emboscou no mato, próximo do cruzamento de estradas, Canjadude, Cabuca, Nova Lamego.

O flagelo que sofreu Nova Lamego não causou danos dignos de registo. Os mísseis que foram lançados já estavam obsoletos e falharam os alvos, pois as rampas de lançamento foram montadas muito distante de Nova Lamego, de forma que não atingiu a eficácia pretendida pelo IN, devido à deficiente orientação dada ao projéctil lançado.

Dia 7 de Abril, logo de manhãzinha, ao romper da aurora, saiu uma coluna para Nova Lamego. A coluna regressou a Canjadude bem cedinho, tendo recolhido no trajecto o Pelotão que estava emboscado.

Ao chegar a coluna ao aquartelamento ficou tudo surpreendido e de boca aberta… ah! ah!, embora não fosse surpresa para ninguém, pois já todos sabiam, o Capitão Borges veio acompanhado da sua esposa, que segundo consta vai ficar a viver em Canjadude.

FOTO 9 - Capitão Borges com a esposa numa coluna para Nova Lamego. Sentados atrás vão os guarda-costas (elementos dos Comandos, Dragões). Houve autorização superior para o jipe poder integrar a coluna.

É uma atitude arrojada que revela coragem, determinação e cumplicidade no casal, dando provas de coesão, sem se pouparem a sacrifício para consolidar a união dos cônjuges. É evidente que o amor é mais importante que a morte... mas o Capitão Borges, com esta sua ousadia, deu provas de combate, segurança e confiança, no porvir.

A senhora do Capitão Borges, tem que ser uma mulher de alma magnânima e imperturbável, para se arriscar a viver nestas condições, a milhas da civilização e neste isolamento, não deve ser fácil, mas é revelador de acto de afoiteza e amor para com o marido, ao querer trilhar alguns dos perigos e dificuldades inerentes ao TO de Guerra que todos aqui vivemos, só que nós militares, por imposição e obrigação, enquanto a senhora do Capitão é de livre vontade, abnegando a possibilidade de bem-estar, provavelmente podendo viver na Metrópole.

FOTO 10 – Abrigo do Capitão na CCAÇ 5.

Não nos podemos esquecer que estamos no mato e, a partir de agora, da parte de nós militares, impõe-se nova conduta, mais moderação no verbalismo utilizado na oralidade, mais decoro na postura de apresentação, mormente no vestuário usado, pois tem que haver pundonor e uma determinada probidade no porte, não nos podendo dar à veleidade do desalinho que é ir dos abrigos para os balneários, só de toalha às costas (às vezes suportada por cabide fantasiado) e sabonete na mão. É toda uma atitude comportamental na disciplina, a que temos que nos ajustar.

Anda um calor abrasador e todos os dias têm saído Pelotões para o mato, por um ou dois dias. No dia 10 houve coluna ao Gabu e no dia 12 voltou a haver, ficando o 2.º Pelotão da CCAÇ 5 em Nova Lamego por uns dias.

Os últimos meses de comissão passados na Guiné são extremamente dolorosos e longos, quase para todos, tornam-se angustiantes, por aquilo que tenho observado e analisado são traumatizantes, são o limite do resistir ao sacrifício imposto. Ultimamente tem sido o Nora de Transmissões, que tem andado descompensado e muito agitado, (infelizmente, actualmente está a viver momentos menos tranquilos, também reflexos desse passado) pois já é o mais velho na Secção de Transmissões e hoje teve que ser evacuado para Nova Lamego. Pessoalmente sinto estes casos com sofrimento, atiçando em mim um sentimento de pena…

A esposa do Capitão Borges, com todo o respeito, é uma senhora muito simpática e bem-disposta, tem uma auréola de energia positiva. Sempre que passa por algum de nós, indiscriminadamente, não faz distinção, tem a amabilidade de nos dirigir um cumprimento de saudação, sempre com ar de pessoa feliz e sorridente. Só uma senhora que aparenta esta tranquilidade interior e serena generosidade, se sujeitaria a viver neste meio tão hostil e carenciado, onde abundam todo o tipo de privações.

A actividade operacional continua intensíssima, há sempre pessoal no mato e um Pelotão em Nova Lamego. No dia 18 veio o substituto do Alferes Gago. Alguns graduados tem sorte, porque nem um ano cumprem aqui de comissão, até serem rendidos, enquanto outros militares chegam a estar aqui 25/26 meses. Vá lá o diabo compreender estas injustiças…

Dia 29, por sugestão da esposa do Capitão Borges, ao serão, reunimo-nos todos os militares no refeitório das praças para confraternizarmos um pouco e jogar ao loto, presidido pelo Comandante da Companhia (desde que eu estou em Canjadude nunca houve uma união e envolvimento de aproximação semelhante a este acto, as águas têm sido muito separadas). Eu logo na primeira jogada fiz Bingo, ganhei 154 pesos, voltei a fazer Bingo na terceira jogada, ganhando 86 pesos, pelo que levou alguém a gracejar que eu já tinha ganho dinheiro suficiente para pagar uma rodada de cervejas para todos.

Dia 6, de Maio, chegou a Canjadude o Capitão Arnaldo Costeira (creio que na época era o Capitão com menos idade do QP, se a memória não me falha, ouvi-lhe dizer que comandou, interinamente, uma Companhia em Angola tinha ele 20 anos de idade, na altura como Alferes e que tinha sido há quatro anos atrás. Hoje é Coronel na Reserva) para substituir o Capitão Borges.

Dia 7, na parte de tarde saiu de Canjadude um Pelotão que se foi emboscar no espaço entre a estrada de Canjadude e Cabuca, já próximo do cruzamento. Dia 8 fomos buscar o Pelotão e visto estarmos próximo, fomos ao Gabu. Neste mesmo dia rebentou uma mina, na estrada de Cabuca, que provocou muitos feridos à Companhia ali aquartelada.

Dia 13, em Canjadude foi accionado o alarme de perigo, dirigiu-se apressadamente todo o pessoal para os seus postos de defesa, mas afinal era tão só uma demonstração para testar a eficácia da actuação do pessoal e, para o Capitão Borges dar umas explicações da orgânica dos procedimentos a cumprir, em caso de ataque IN, ao Capitão Costeira.

FOTO 11 - Entre o Cheche e o Bormuleo, na margem direita do Rio Corubal, a posar para a foto o Capitão Borges, Capitão Costeira e Alferes Varela (hoje advogado em Almada). É visível a margem oposta do rio Corubal.

Dia 23, realizou-se uma operação para os lados do Cheche, Corubal, Bormuleo, a nível de Companhia, foram o Capitão Borges e o Capitão Costeira nesta operação. As viaturas foram-nos levar na direcção do Cheche e apeamos muito próximo das viaturas que estavam abandonadas na picada, por terem sido acidentadas com minas. Após termos desmontado das viaturas, caminhamos bastante tempo, até nos instalarmos para comer a ração de combate. Na parte da tarde começamos a caminhar rumo ao Corubal e no percurso encontrámos um destacamento IN, já abandonado, restando vestígios da actividade humana. Destruímo-lo, após o que continuámos a progredir até à margem do Corubal, onde passámos a noite. Instalámo-nos junto de rochas, num lugar paradisíaco, mas para esquecer, pois durante a noite, quase todos nós fomos hostilizados por formigas, que nos queriam papar, as quais tiveram o condão de nos agitar e perturbar a nossa tranquilidade, quando precisávamos de descansar.

FOTO 12 - Instalados junto à margem do rio Corubal, ao fim do dia, a comer a ração de combate. Na foto, o Capitão Borges e mais pessoal da operação; o Silva de Transmissões está de pé; alguns carregadores civis são visíveis  assim como os garrafões que transportavam com água. Passámos aqui a noite, onde as formigas nos atacaram.

Logo de manhã cedo começámos a caminhar, sempre seguindo a margem do rio Corubal, em direcção ao Bormuleo, pois a nossa posição era entre este e o Cheche. Não foi preciso caminhar muito até encontrar o terreno que nós próprios tínhamos minado há três meses atrás, numa operação em que eu estive presente. Depois de terem levantado as minas, ficámos por ali até às 14h30. De seguida passámos pelo Bormuleo e fomos dormir a Samba Gane. De manhã rumámos na direcção da picada entre Canjadude e Cheche, onde as viaturas nos apanharam e transportaram ao aquartelamento.

FOTO 13 - Desminagem de terreno que tinha sido minado por nós. Levantamento de uma mina, estando um militar com mapa onde estão referenciados os locais para levantamento e outro a executar o trabalho.

Dia 24, de Maio 1970, veio o Furriel de Transmissões, Alberto José dos Santos Antunes, substituir o Furriel de Transmissões, José Martins.

Dia 26 de Maio, de 1970, houve coluna a Nova Lamego. O Furriel José da Silva Marcelino Martins (José Martins, nosso tertuliano) despediu-se de Canjadude, e da CCAÇ 5, rumando à Metrópole por ter terminado a sua comissão de serviço na Guerra do Ultramar. Desejo-lhe boa viagem, muita saúde e êxito no percurso que vai iniciar. Que a vida lhe sorria e boa sorte.

Para todos um abraço e muita saúde.
José Corceiro
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6698: José Corceiro na CCAÇ 5 (14): Emissor receptor AN/PRC-10

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6698: José Corceiro na CCAÇ 5 (14): Emissor receptor AN/PRC-10

1. Mensagem de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 5 - Gatos Pretos, Canjadude, 1969/71), com data de 6 de Julho de 2010:

Camaradas,

Achei piada à foto do Sousa de Castro com o E/R AVP-1, no Convívio da Tabanca Grande.
Esta imagem entusiasmou-me a escrever algo sobre o pai do AVP-1, que é o AN/PRC-10, que têm a mesma gama de frequências e comunicavam muito bem um com o outro.



NOÇÕES DE TRANSMISSÕES DO EMISSOR RECEPTOR AN/PRC-10
De entre os equipamentos de transmissões utilizados no TO de Guerra das ex-Colónias, o mais apropriado para comunicações com os meios aéreos, era sem dúvida o Emissor/Receptor AN/PRC-10.
Vamos então falar um pouco, concretamente, sobre este equipamento de transmissões e as suas virtualidades.
Particularmente já entraram em contacto comigo meia dúzia, de “tertulianos”, da “Tabanca Grande”, para me colocaram questões sobre o E/R (Emissor/Receptor) AN/PRC-10.
Um camarada até me disse que tem dois aparelhos em seu poder, que adquiriu no mercado, mas que não tem o folheto das descrições técnicas nem o de instruções, e perguntou-me se eu o podia ajudar.
Eu respondi-lhe que efectivamente perante o aparelho, não me seria muito difícil lidar com ele e disse-lhe também que tenho a certeza que possuo um livro, sobre transmissões, que contém as descrições técnicas e seu funcionamento, que lho disponibilizaria caso o encontrasse, só que entre os muitos livros que tenho, distribuídos por diversos locais, tem sido difícil localizá-lo e até ao momento não sei onde o livro “atabancou”.

Atendendo ao que ainda me lembro do PRC-10 e apoiando-me em alguns apontamentos que na época registei, quando tirei a especialidade de transmissões, vou tentar em traços gerais dar algumas noções básicas técnicas e teóricas, sobre as potencialidades e funcionamento deste aparelho.

Fotos 1 e 2
O AN/PRC-10 é um equipamento de transmissões portátil, com potencialidades para poder ser instalado num posto de rádio, assim como pode ser montado numa viatura ou num meio aéreo, visto vir equipado com os respectivos acessórios para as diferentes necessidades.
“ O AN/PRC-10 é um emissor receptor móvel, de frequência modelada, praticamente impune às interferências de ruídos parasitas nas suas comunicações, destaca-se a qualidade sonora comparativamente com aparelhos de amplitude modelada.
Foi concebido essencialmente, para comunicações de terra para meios aéreos e vice-versa, tem uma boa qualidade sonora e as ondas de difusão neste meio, terra ar, não têm praticamente obstáculos físicos, aos quais as ondas de frequência modelada são sensíveis.
Para comunicar em terra neste teatro operacional, plano e com arvoredo, o seu alcance é limitado, não só pela potência do equipamento emissor que é fraco em watts (0,9W), mas também devido às características das suas ondas, frequência modelada, cuja propagação é prejudicada por obstáculos físicos; para obstar a esta característica negativa, nos Aquartelamentos, há necessidade de montar um suporte físico, mastro, com altura razoável, com uma antena vertical instalada no topo do mastro, que optimiza a recepção e emissão do AN/PRC-10.
Tem ainda um outro inconveniente nas comunicações, o chamado efeito de captura, isto é, perante dois equipamentos a emitir na mesma frequência para um terceiro equipamento receptor, (central) este selecciona o sinal de maior potência ignorando o mais fraco.” (Descrição que fiz no meu artigo, Poste – 6036).
A gama de frequência do AN/PRC -10, permite-lhe que possa ser sintonizado na faixa de frequência compreendida entre a 38 e 54,9 Mc/s (Megaciclos por segundo) em FM (Frequência Modelada). A emissão é em fonia.
O Emissor e o Receptor são individuais, mas estão dentro do mesmo invólucro que se separa da caixa acondicionadora da Pilha de alimentação, (BA 279U) por dois ganchos-mola laterais.
A Pilha é uma unidade de alimentação complexa, pois tem diversos terminais, (alvéolos) com diferentes valores de tensão, (voltagem) consoante é para alimentar um ou outro componente do equipamento.
A alimentação é normalmente feita pela pilha própria, que tem uma capacidade de armazenamento de energia, que lhe permite debitar corrente por um espaço de tempo muito próximo de 25 horas em funcionamento.
Compreende-se que na função de emissor, as exigências energéticas de intensidade são muito maiores, pelo que o consumo de corrente é bem mais acentuado.

Para tirar o máximo de rendimento na emissão e recepção do equipamento e melhorar a propagação das suas ondas electromagnéticas, a antena neste equipamento tem que ser montada sempre na vertical, cuja difusão, do sinal, é uniforme em todas as direcções. pelo que não precisa de orientação.


Fotos 3, 4 e 5
O alcance de emissão do aparelho depende do tipo de antena utilizada, dos acidentes geográficos e das condições atmosféricas, (humidade relativa, nebulosidade, energia estática de ionização etc.).
É aceitável que em condições, consideradas padrão, com a antena tubular segmentada, (por secções) a maior, as suas emissões se propaguem e sejam captadas com qualidade razoável a uma distância de 8 a 10 km.
Pode acontecer, em condições excepcionais, sem obstáculos, em que até uma nuvem pode servir de espelho reflector e direccionar o sinal na orientação favorável, optimizá-lo, de forma que o alcance da onda electromagnética irradiada pela antena do emissor, possa ser captada por um receptor até cerca de 15 km de distância.
Em Canjadude, em 1971, pode-se testemunhar o seguinte: Durante uma flagelação do inimigo ao Aquartelamento, no dia 21 de Julho de 1971 ao escurecer, o fogo do IN danificou as duas antenas horizontais existentes do AN/GRC-9, que estavam instaladas e suportadas pelos ramos do embondeiro grande, que estava ao lado do campo de futebol e de uma mangueira que estava junto da Parada Alferes Gamboa. (O nome desta Parada, era uma homenagem ao Alferes Augusto Manuel Casimiro Gamboa, que segundo se dizia, já após o término da sua comissão de serviço na Guiné, perdeu a vida numa emboscada do IN, no dia 14 de Dezembro 1967, quando a coluna que o transportava de Canjadude para Nova Lamego sofreu um ataque, em Uelingará, entre Canjadude e Nova Lamego. Contava-se em Canjadude, que foi todo esquartejado no tórax para lhe arrancarem o coração, assim como o despojaram de todos os seus haveres).
Ora, com as antenas danificadas, o Aquartelamento ficou sem transmissões, utilizando o equipamento que era tradicional usar para comunicar com Nova Lamego, pois não tínhamos suporte físico para difundir e captar o sinal hertziano.
Recorreu-se ao PRC-10 que estava no Posto de Rádio, por norma utilizado para comunicar com os meios aéreos, que era servido para a emissão e recepção, por uma antena que estava instalada verticalmente no topo de um mastro com espias, que devia ter para cima de 20m de altura, que por acaso não ficou inutilizado.
Conseguiu-se comunicar com o PRC-10 com Nova Lamego, que dista de Canjadude mais de 20km. As condições de fonia, ainda que com algumas deficiências eram aceitáveis, pelo que a CCAÇ. 5, teve toda a noite comunicações com Nova Lamego.

Foto 6
O equipamento AN/PRC-10 tem três fichas terminais localizadas no painel de comandos para entrada/saída de sinal (de) e para as antenas:
SHORT ANT – Antena Curta que se deve utilizar quando o equipamento está a ser utilizado em caminhada “portátil” pelo operador, tipo mochila, e neste caso deve ser utilizado na base da antena a mola em espiral, para poupar a antena a danos causados no embate contra obstáculos e para a manter na vertical. Com esta antena as emissões dificilmente serão captadas a mais de 4km.
LONG ANT - Antena Comprida segmentada (por secções) feita de cobre, (maior condutibilidade) que devido ao seu comprimento, na ordem dos três metros, quando em movimento deve ser montada numa base elástica, para não se inutilizar ao ir de encontro contra os entraves. Com esta antena as ondas não ultrapassarão os 10km.
AUX ANT - Antena Auxiliar para permitir a localização dos emissores.
NOTA – A antena é o dispositivo físico, que irradia ou capta do espaço a energia transportada sob a forma de ondas electromagnéticas.

NOTA – A antena vertical irradia ondas electromagnéticas em todas as direcções por igual, por isso não há necessidade de orientação, como acontece nas antenas horizontais. Nestas, o plano horizontal definido pela intercepção da antena do emissor, deve formar um rectângulo quando intercepta a antena do receptor. Ou dito de outra maneira, as antenas horizontais de dois postos de rádio, para optimizar a comunicação entre eles, devem ser paralelas e devem ter um determinado comprimento em função da frequência de E/R. Mas isto de orientação, como se pode inferir é teórico, porque obrigaria o posto director a ter tantas antenas quantos os postos satélites, (dirigidos) caso a localização destes não seja em fila (linha).
Os terminais Short e Long Ant, são comuns ao emissor e ao Receptor, por essa razão também quando o equipamento está a emitir não pode receber e vice-versa, por partilharem a mesma antena e outros componentes electrónicos. O interruptor, no microtelefone, serve para fazer a comutação de recepção para emissão, dai a razão porque em transmissões quando se ia terminar a emissão, se dizia, “Escuto” que significava comutar para a recepção o equipamento.

Foto 7
Descrição do painel de comandos:
Na face topo do equipamento temos o painel onde estão localizados os comandos que são:
- Do lado esquerdo temos os três terminais de antena já atrás referenciados;
- POINTER ADJUST – Ajustamento da Referência da Escala; faz deslocar a referência da escala de frequências. Janela para poder ver o ponteiro que indica a escala da frequência.
- TUNNING – Comando de Sintonia; para fixar e fazer procura da frequência do Emissor-Receptor.
- VOL – Comando do Volume; para regular o volume da recepção.
- SQUELCH – Limitador de Ruídos; destinado a eliminar o ruído de fundo.
- AUDIO – Tomada para o Microauscultador;
- POWER – Comutador Geral; - com as posições:
- OFF – Desligado.
- REMOTE – Para o Comando à Distância.

- ON – Ligado.
- CAL & DIAL LITE - Destinado à calibração e iluminação do quadrante.
- DIAL LOCK – Fixador do Comando de Sintonia.
Nota – Tem uma placa destinada à inscrição das frequências de trabalho. (rectângulo definido na superfície do painel de Comandos.)
Nota - O interruptor que comuta da recepção à emissão está localizado no microtelefone.
Para ligar o aparelho depois de já termos colocado a Pilha realizamos as seguintes operações:
- Colocar o comando limitador de ruído – SQUELCH - na posição desligado - OFF.
- Rodar o comando de volume – VOL - para o máximo – todo para a direita.
- Colocar o comutador geral – POWER - em – ON.
- Calibrar a escala de frequência. Este paço serve para verificar se a referência da escala de frequência está correcta.
- Libertar o comando de sintonia – TUNNING – rodando o bloqueador deste – DIAL LOCK – em sentido contrário ao movimento dos ponteiros do relógio.
- Rodar o comando de sintonia –TUNNING - até ao ponto de calibração (indicado a vermelho no mostrador) mais próximo da frequência em que vai trabalhar.
- Colocar o comando de volume – VOL – na posição 10 caso o não tenha feito antes.
- Colocar o comando limitador de ruído – SQUELCH – em desligado – OFF – se o não fez anteriormente.
- Colocar e segurar o comutador – POWER – na posição – CAL & DIAL LITE – e com o microtelefone no ouvido rodar o comando de sintonia até extinguir o silvo que se ouve para um e outro lado do ponto de extinção deste.
- Soltar o comutador geral – POWER – que automaticamente volta à posição – ON.
- Se a referência do mostrador não indicar a frequência de calibração, rodar o ajustamento da referência – POINTER ADJUST – até que este fique rigorosamente sobre o ponto de calibração escolhida.
NOTA – Nunca se deve carregar no comutador de emissão-recepção do microtelefone com o comutador geral na posição – CAL & DIAL LITE.
- Soltar o comando de sintonia – TUNNIG – actuando no fixador do comando de sintonia –DIAL LOCK.
- Rodar o comando de sintonia até a frequência de trabalho ficar debaixo da referência.
- Fixar o comando de sintonia actuando em – DIAL LOCK.
- Afinação do limitador de ruídos:
- Rodar lentamente para a direita o comando limitador de ruídos – SQUELCH – até que deixe de ser ouvido no auscultador do microtelefone o ruído de fundo. Parar logo que o ruído se extinga, pois continuando, a sensibilidade do aparelho é reduzida com prejuízo da recepção. As operações anteriores correspondem à fixação e ajustamento da frequência do emissor e receptor e à ligação de alimentação.
- O aumento do volume de som só é eficaz na recepção rodando o comando do volume para a direita no sentido dos números mais elevados.
- Para emitir premir o interruptor de emissão-recepção do microtelefone e falar no microfone mantendo este afastado dos lábios 5 a 8 cm.
- Para desligar rodar o comutador – POWER – para – OFF.
- Retirar a pilha quando o aparelho estiver inactivo por período prolongado.
A explicação que acabo de fazer é em função do aparelho que conheci, na época em que fui militar do Exército Português, e apoiei-me, como é lógico, nos apontamentos que por acaso ainda possuo, que anotei quando tirei a especialidade de transmissões. Tentei explicar tanto quanto me foi possível com clareza o pouco que ainda sei.

Fotos 1 e 2: AN/PRC -10 com os diversos acessórios.
Foto 3: Operação realizada o dia 26 de Abril 1970 para os lados de Comuda. À frente do operador de transmissões, o Coias, que leva uma antena segmentada na mão, vão três carregadores civis, levando o primeiro o PRC-10 às costas, o segundo leva material diverso e o terceiro leva às costas o rádio Racal que é o aparelho que nos permitia comunicar com o Aquartelamento. Para os civis, estes fretes como carregadores, era uma maneira de poderem ganhar uns míseros centavos para irem vivendo. Já passei por aqui, em operação anterior, com este terreno todo alagado com a água a dar pela cintura.
Foto 4: Eu, a ganhar força, depois de comer a ração de combate e a reflectir para passar a escrito algum acontecimento. À minha frente está uma antena seccionada do PRC-10.
Foto 5: Eu, depois da operação de dois dias à espera das viaturas, que já pediu, para nos transportarem rumo a Canjadude. Logo à minha frente está o Racal e um pouco mais afastado o PRC-10, que tem acoplado a antena de mobilidade no mato (pequena).
Foto 6: Parada Alferes Gamboa, no Aquartelamento de Canjadude. (Na base do mastro onde está içada a Bandeira Nacional, podemos ver um tronco de madeira facetado onde estão inscritas, em sulco, as referências ao Alferes Gamboa). No lado esquerdo podemos ver o abrigo dos graduados. Podemos ver também parte do mastro espiado, que suportava a antena vertical que servia o PRC-10, cuja base estava junto do abrigo de transmissões.
O edifício funcionava como Secretaria e Centro Cripto. Em tempos foi armazém de “Mancarra” (amendoim) da Casa Gouveia.
Foto 7: Face superior do AN/PRC-10 ou Painel de Comandos de Control.

Foto 8: Posto de rádio, novo, de Canjadude. Por cima de secretária estão instalados dois AN/GRC-9 com o respectivo amplificador QR-TA-1-A. Em frente vê-se o comutador telefónico, que deve ser o equipamento BD 72 porque tem 12 linhas para serviço. O PRC-10 consegue-se identificar no lado esquerdo da secretária, (no alçado lateral) dentro duma caixa branca onde está pendurado o microtelefone. 

Foto 9: Novo abrigo de transmissões em Canjadude. Construído atrás da Enfermaria e à frente da Secretaria. O pessoal espera a chegada das entidades locais para a inauguração. Costa, Esteireiro, Vieira, Mateus (africano), e o Baioa em cima do abrigo com cartaz na mão a dar as boas vindas às entidades locais.

Foto 10: A Secção de transmissões no dia da inauguração do segundo posto de rádio de Canjadude. À frente lado esquerdo: Reis, Esteireiro, Albino Conceição, (estes três coexistiram comigo em Canjadude, assim como o meu “periquito” que não consigo identificar), Baioa, Mateus (africano), Vieira; - Atrás lado direito: Furriel Mimoso (com uma cerveja na mão a comemorar a inauguração), Cap. Gil Figueiredo Barros (hoje Coronel na reserva), António Costa, José Marques e Gomes (africano). Como podemos constatar em 1972 já havia 2 africanos na secção de transmissões.

Para todos um abraço e muita saúde.
José Corceiro
1º Cabo TRMS da CCaç 5

Fotos: © José Corceiro (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

29 de Junho de 2010 >
Guiné 63/74 - P6654: José Corceiro na CCAÇ 5 (13): Ritual do Fanado no Aquartelamento de Canjadude