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sexta-feira, 11 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15842: Notas de leitura (815): “A Marinha em África (1955-1975), Especificidades”, publicação da Academia da Marinha, 2014 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Maio de 2015:

Queridos amigos,
Temos acolhido o que sobre a Marinha na Guiné tem sido escrito: pense-se nas obras de e sobre Alpoim Calvão; a história dos Fuzileiros na Guiné; relatos pessoais como o de "Homem-Ferro", de grande importância, foi assim que ficámos a saber que no segundo semestre de 1962 a região Sul estava a entrar em sublevação; as fabulosas Memórias do Sargento Talhadas, um relato ímpar, inesquecível.
Aproveita-se agora a intervenção do Vice-Almirante Lopes Carvalheira que dissertou sobre a Marinha no teatro de operações na Guiné. Pessoalmente, e no que envolve o rio Geba, li com saudade certas passagens e veio-me à memória a Alfange ou a Montante a passarem por Mato de Cão, eram simpáticos connosco, davam-nos boleia pelo Geba estreito até Bambadinca, aproveitava para fazer abastecimentos.

Um abraço do
Mário


A Marinha no teatro de operações na Guiné

Beja Santos

Nas atas do seminário “A Marinha em África (1955-1975), Especificidades”, publicação da Academia da Marinha, 2014, está inserida a comunicação intitulada “A Marinha no teatro de operações na Guiné”, foi que apresentada pelo Vice-Almirante Lopes Carvalheira, um texto esclarecedor para o qual peço a vossa atenção.

As primeiras unidades navais com caráter de permanência chegaram à Guiné em 19 de Maio de 1961: 2 LFP (lanchas de fiscalização pequenas) e 2 LDP (lanchas de desembarque pequenas). No mês de Junho seguinte chegou outra LFP e a partir daí outras unidades foram sucessivamente chegando, atingindo a Esquadrilha de Lanchas o seu número máximo em Setembro de 1969, 39 unidades.

Durante os anos de 1963 e 1964 foram, umas após outras, atribuídas ao Comando de Defesa Marítima da Guiné 4 LFG (lanchas de fiscalização grandes). Em 1967, este Comando atingira o apogeu no máximo de Forças atribuídas, para além das unidades navais tinha quatro Destacamentos de Fuzileiros Especiais, duas Companhias de Fuzileiros Navais, uma Secção de Mergulhadores, uma Equipa de Inativação de Explosivos, e mais alguns efetivos.

A propósito da fiscalização, o autor escreve:
“Em 1971, após o ataque levado a efeito com mísseis sobre Bissau, em 9 de Junho, retomou-se a fiscalização contínua do rio Geba, a montante de Bissau, até ao Geba estreito, complementando a patrulha noturna ao Porto de Bissau que se mantinha desde 1963, efetuada por uma ou duas unidades navais, coadjuvada por botes de borracha.
A intervenção da Marinha foi importante na Operação Tridente, a Marinha tinha uma importância vital para proteger as vias de comunicação fluviais da Guiné onde o PAIGC podia atacar com espingardas e pistolas-metralhadoras, morteiros, canhões sem recuo e LGF RPG7, tentando, sem êxito o emprego de minas de fabrico artesanal; e para o transporte de efetivos militares para operações de caráter anfíbio, nomeadamente no Sul e no Norte.
O que nos remete para a guerra nos rios, pois era fulcral assegurar o reabastecimento logístico, os transportes operacionais e as rendições de efetivos militares. São de destacar algumas unidades navais particularmente designadas para os transportes logísticos: as LDG Alfange, Montante e Bombarda. Importa igualmente referir que desde 1963, atendendo à natureza da própria região Sul, foram criados vários comboios sob a custódia da Marinha como os de Bedanda, Catió e Bissum. Mas estes comboios percorriam igualmente a região de Cacheu". 
O autor detalha os comboios feitos no rio Cumbijã e toda a rede de comboios que navegavam pelo Sul. É neste contexto que faz uma chamada de atenção para o caso do uso das minas pelo PAIGC: 
“Depois de ter ocorrido o rebentamento de uma mina no rio Cobade, em 1967, passou a existir uma cortina avançada de botes de borracha guarnecidos pelos fuzileiros de escolta, em zonas críticas seguiam à frente da primeira unidade do comboio junto às margens, tentando detetar qualquer fio a elas preso”.

Mais adiante, em jeito de síntese, escreve o seguinte:
“Durante os anos da guerra da Guiné, foram inúmeros os incidentes resultantes dos muitíssimos contactos de fogo entre o inimigo e as nossas unidades navais, no desempenho das suas missões em águas internas daquela Província.
De 1961 a 1964, além dos 50 fuzileiros mortos em combate na guerra da Guiné, morreram igualmente em combate 8 praças ao serviço da Esquadrilha de Lanchas.
A verdade é que, apesar das dezenas de baixas e feridos, de centenas de furos e outros danos graves nos costados das embarcações, da LDM 302 ter sido afundada e recuperada duas vezes, foi possível assegurar, até ao fim, a utilização dessas vias de comunicação”.

Nota curiosa, não há nenhuma referência nesta comunicação à Operação Mar Verde nem às operações que envolveram Alpoim Calvão, o mais condecorado dos oficiais da Marinha.


Durante séculos usaram-se arbitrariamente diferentes topónimos para referir lugares da Guiné onde os portugueses marcavam presença: Terra dos Negros, Rios da Guiné de Cabo Verde, a Guiné de Cabo Verde, Senegâmbia. Encontrei numa comunicação de Teixeira da Mota, apresentada em Washington em 1950, a propósito dos contactos culturais luso-africanos na Guiné de Cabo Verde esta ilustração que me parece elucidativa para se compreender a presença portuguesa na Grande Senegâmbia até ao século XIX. Não esquecer que Honório Pereira Barreto escreveu a sua “memória” sobre a Senegâmbia portuguesa ainda na primeira metade do século XIX. Esta imagem tem um elevado peso histórico: a presença portuguesa confinava-se à faixa litoral, a Norte, acima do rio Gâmbia, em terra dos Sereres, havia povoados de comerciantes, uns oriundos de Cabo Verde, outros de descendentes de judeus, outros de filhos da terra. Infiltravam-se pelas zonas ribeirinhas, aproveitavam-se dos terrenos muitos baixos e atravessados em todos os sentidos por uma densa rede de canais e rias. Os lançados ou tangomaus para se defenderem dos corsários e piratas fortificaram-se e assim nasceu Cacheu (1558) a primeira vila portuguesa da Guiné, e até meados do século XVII surgiram Geba, Bissau, Farim, Ziguinchor e Porto da Cruz. Chegados ao século XIX, a Senegâmbia portuguesa estendia-se entre o rio Casamansa e o rio Nuno.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15828: Notas de leitura (814): “Crónica de Uma Viagem à Costa da Mina no Ano de 1480", por Eustache de La Fosse (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15003: Notas de leitura (747): “A Epopeia da LDM 302”, por A. Vassalo, em BD, Edições Culturais da Marinha, 2011 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Setembro de 2014:

Queridos amigos,
Não deve haver história mais rocambolesca de uma lancha da Armada como a 302 que A. Vassalo descreve com vivacidade e grande didatismo.
Primeiro, contextualiza a guerra e revela quais as unidades da esquadrilha de lanchas na Guiné. A 302 entra em cena, parece afundar-se, os seus marinheiros revelam heroísmo, recuperada volta a atividade e incendeia-se, será novamente rebocada até Ganturé. Recuperada, não voltará ao rio Cacheu, estará operacional no rio Grande de Buba.
Nesta sua nova área de atuação, virá novamente a ser atacada, na foz do rio Uajá. Irá ser desmantelada depois de toda esta saga em Novembro de 1972.
A. Vassalo homenageou tocantemente uma lancha e quem nela combateu, pena é que esta BD não tenha mais notoriedade e possa ser facilmente adquirida.

Um abraço do
Mário


A Epopeia da LDM 302

Beja Santos

A. Vassalo é um nome já conhecido dentro da nossa confraria, em termos de BD relacionada com a guerra da Guiné é mesmo um nome proeminente que dispomos. Publicado pelas Edições Culturais da Marinha em 2011, a BD “A Epopeia da LDM 302” não desiludirá os aficionados e mesmo de quem gosta de história. O blogue dos especialistas da Base Aérea 12, sempre atentos ao que se publica sobre o nosso território de bolanhas e lalas, já tinha dado notícia pormenorizada que, com a devida vénia, aqui se reproduz:

“A LDM 302 foi aumentada ao efetivo dos navios da Armada em 18 de Janeiro de 1964. Chegou à Guiné Bissau a bordo de um navio da Marinha Mercante. Era seu patrão de então o marinheiro de manobra n.º 2156, Aristides Lopes. Após um curto período de adestramento da guarnição, foi atribuída ao DFE 2, ao qual competia a fiscalização da zona do rio Geba. De 9 a 11 de Abril, pela primeira vez, em conjunto com a LDM 101, 201, LFG Escorpião, LFP Canopus e os DFE’s 8 e 9, foi incluída numa missão de apoio e transporte de fuzileiros, levada a cabo no rio Cumbijã.

Em 22 de Abril, conheceu o batismo de fogo. Frente a Jabadá quando, em conjunto com mais três LDM’s procedia a um desembarque de fuzileiros, o inimigo tentou opor-se com fogo de armas ligeiras, mas não conseguiu evitar o desembarque.

No dia 22 de Julho, foi atacada pela segunda vez, desta feita no rio Cacheu, em Porto de Coco. O inimigo, emboscado nas margens, utilizou metralhadoras pesadas e morteiros, sem consequências. Durante o resto do ano de 1964, tomou parte em várias operações do rio Geba e recolheu ao Serviço de Assistência Oficinal, para benfeitorias, protegeu-se com chapa balística a casa do leme e o escudo da peça Oerlinkon de 20mm.

1965 veio a revelar-se para a LDM 302 um ano muito duro. No dia 4 de Fevereiro, em frente de Tambato Mandinga, no rio Cacheu, foi violentamente atacada mas margens com morteiros e metralhadoras ligeiras, sofrendo trinta impactos no costado e superestruturas. A lancha foi atingida e com o patrão gravemente ferido ficou sem leme, entrando pelo tarrafo da margem norte. Os ramos vergaram de imediato e, de seguida, ao recuperarem a posição normal, projetaram LDM que recuou, ficando à deriva. A lancha metia água e afundava-se rapidamente de popa. Sentindo, de todo, que o navio estava perdido, os artilheiros viram-se forçados a abandonar a peça, tentando então o telegrafista socorrer o patrão. Fez um esforço para o por de pé mas foi de todo impossível. Fora atingido em cheio, estava quase cortado em dois.

O inimigo deixou de fazer fogo. O telegrafista, o mais antigo depois do patrão, assumiu o comando e deu ordem para abandonar a lancha. Arriaram então o bote de borracha, colocaram lá dentro o patrão, nessa altura já morto, os papéis de bordo e uma G3, dirigiram-se para a margem e esconderam-se no tarrafo. Era imperioso ir alguém a Bigene, o aquartelamento do Exército mais próximo, situado a cerca de 3 quilómetros e regressar com socorros. Sendo os restantes elementos novos na guarnição e o telegrafista o único conhecedor da zona, empunhou a arma e foi ele próprio, conseguindo lá chegar coberto de lama e sem percalço pelo caminho. Entretanto, a LDM 304, que navegava não longe do local, alertada pela ruído das explosões, dirigiu-se ao local, deparando, para espanto da guarnição, com uma lancha totalmente afundada. Passaram-lhe um cabo de reboque e seguiram rio abaixo, avistando pouco depois os sobreviventes que embarcaram. Mas nesse dia a má sorte acompanhava a LDM 302. Ao aportarem a Ganturé, local escolhido para encalhar a lancha, o artilheiro Carvalho, que saltara do bote para a 302, a fim de manobrar os cabos de reboque, caiu à água e nunca mais foi visto.

A LDM 302 seria rapidamente recuperada e voltaria a navegar. No dia 4 de Outubro, no rio Armada, um afluente do Cacheu, em missão de transporte de forças terrestres, foi atacada das margens, resultando dez feridos ligeiros. Novamente, em 28 de Outubro, a leste de Farim, na margem do Cacheu, foi alvejada sem consequências. Foi de relativa tranquilidade 1966. Trágico viria a revelar-se o ano de 1967. A 19 de Dezembro, pelas onze horas, a 302 descia o rio Cacheu, margens de tarrafo denso a entranhar-se pelo rio. No leme, o patrão, marinheiro de manobra Domingos Lopes Medeiros; nos seus postos, junto à Oerlinkon, os marinheiros artilheiros Manuel Luís Lourenço e Silva e Manuel Santana Carvalho; no posto telefonia, o marinheiro telegrafista Joaquim Claudino da Silva; e na MG 42 o marinheiro fogueiro Manuel Fernando Seabra Nogueira. A lancha deixara para trás uma das muitas curvas sinuosas do rio e passava frente à clareira de Tancroal. Subitamente, observaram-se fumos na margem sul à boca de peças e, quase de seguida, fortes rebentamentos. O navio estremeceu violentamente e os motores paravam. Estavam sob violentíssimo ataque de canhão sem recuo, lança-granadas foguetes e ainda metralhadoras”.



Página alusiva ao ataque que a 302 sofreu em Porto Coco, em 19 de Dezembro de 1967, em que tudo parecia acabado

Confronto no rio Cacheu em 19 de Junho de 1969, incêndio na 302. Resta dizer que no dia 27 de Junho de 1972, a 302 passou à situação de desarmamento, parar ser abatida em 30 e Novembro desse ano. Acabava assim a saga de uma lancha que foi uma autêntica Fénix Renascida.
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Nota do editor

Último poste da série de > 10 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14990: Notas de leitura (746): O “Ericeira”: nos primórdios da BD sobre a guerra colonial (Mário Beja Santos)

terça-feira, 30 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14815: Sondagem: Os rios Geba (26%), Cacheu (20%) e Corubal (14%) colhem as preferências de 60% dos votantes... Resultados preliminares (n=85)... A votação encerra a 3 de julho, 6ª feira, às 7h00


Guiné > Região de Quínara > Mapa de Empada (1955) > Escala 1/50 mil > Rio Fulacunda (ou Bianga), afluente do Rio Grande de Buba.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  "Porto fluvial", no Rio Fulacunda > Chegada de uma LDP [, Lancha de Desembraque Pequena]

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]



Guiné > Região de Cacheu > Bissorã  > "Eu e o Forcado, ambos em traje domingueiro, atravessando a ponte sobre o rio Armada, que separava Bissorã da Outra Banda". [Foto do álbum do Armando Pires, ex-fur mil enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70].

Foto (e legenda): © Armando Pires (2009). Todos os direitos reservados [Edição: LG].

O meu conterrâmeo, amigo, vizinho e colega de escola Ludgero Henriques de Oliveira, sargento chefe (Sch), reformado, da Marinha (1947-2011), fez parte, como fogueiro, da tripulação da mítica LDM 302. atacada e afundada em 19 de dezembro de 1967, quando descia o rio Cacheu, frente à clareira de Tancroal.   Mas já antes, em 4/10/1965,  no rio Armada, afluente do Cacheu, em missão de transporte de forças terrestres, a LDM 302 fora  atacada das margens com metralhadoras ligeiras e granadas de mão, resultando 10 feridos ligeiros entre os militares embarcados. São apenas dois episódios do seu historial de guerra. (LG)



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Catió - Porto exterior > Foto 3 > "Cais do porto exterior de Catió no Rio Cagopere. Da esquerda para a direita, os  fur mil Cabrita Gonçalves, Machado e Mendonça,  e o civil sr. Barros.

Foto (e legenda) do nosso saudoso grã-tabanqueiro Victor Condeço (1943/2010), ex-fur mil, mecânico de armamento, CCS/BART 1913  / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > Rio Cumbijã > 1965 >O nbosso ex-mil João Sacôto,num "momento de descontração"

Foto (e legenda): © João Sacôto (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


I. Eis os primeiros resultados da nossa sondagem desta semana (*):

Três rios recebem as preferências de 60% dos nossos leitores que votaram, até agora:

5. Geba > 22 (25,9%)
1. Cacheu > 17 (20%)
3. Corubal > 12 (14,1%)


Seguem-se mais quatro  rios que congregam as preferências de menos de um terço (31,7%) dos votantes;

2. Cacine > 7 (8,2%)
4. Cumbijã > 7 (8,2%)
7. Mansoa > 7 (8,2%)
6. Grande de Buba > 6 (7,1%)

Eis as restantes categorias (residuais) escolhidas:

8. Tombali > 0 (0%)
9. Outro (o que corria junto do sítio onde estive) > 3 (3,5%)
10. Outro (não referido acima) > 1 (1,2%)
11. Nenhum > 3 (3,5%)


Nº de votos apurados: 85 (às 12h00 de hoje)

Dias que restam para votar: 2 (até às 7h00 d0 dia 3/7/2015)


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Nota do editor:

Vd poste anterior > 30 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14812: Sondagem: O rio da minha... tabanca... O meu rio da Guiné, aquele que mais amei / odiei... Responder até ao dia 3 de julho

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10766: Antologia (77): Os heróis da LDM 302, atacada e afundada no Rio Cacheu em 19/12/1967: banda desenha de Malheiro do Vale e Baptista Mendes (Revista da Armada, nº 8, maio de 1072, pp. 16-17)









Banda desenhada dedicada ao episódio do ataque à LDM 302, no Rio Cacheu, em 19 de dezembro de 1967, de que resultou o seu afundamento e a morte do patrão da lancha, o marinheiro de manobra Domingos Lopes Medeiros. Esta banda desenhada via-a, pela primeira vez, no sítio do nosso camarada Manuel Lema Santos, Reserva Naval (poste de 15 de dezembro de 2008 > Guiné, LDM 302, atacada e afundada).

Este episódio heróico da nossa marinha e dos bravos seis marinheiros que constituíam a guarnição da LDM 302, toca-me muito em especial por entre esses heróis estar um amigo meu, colega de escola, conterrâneo e vizinho, o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira, precocemente desaparecido aos 64 anos. Eramos da mesma colheita, a de 1947.

Em sua homenagem e aos restantes camaradas da tripulação da LDM 302, já aqui reproduzimos, com a devida vénia, dois postes do sítio Reserva Naval, um espaço na Net que é de visita obrigatória para os camaradas da Guiné (*). Hoje tomo a liberdade de editar e publicar esta  interessantíssima banda desenhada, com texto do próprio contra-almirante Malheiro do Vale, diretor da Revista da Armada,  e desenho de Baptista Mendes. (Reprodução com a devida vénia).


Capa (parcial) do nº 8, ano I,  da Revista da Armada, maio de 1972,  36 pp. Legenda da imagem da capa: "Marinheiros dos navios  brasileiros da escolta  ao N/M  «Funchal »  que conduziu os restos mortais  de D. Pedro, vestindo uniformes  da época".

Esta "publicação oficial do Ministério da Marinha" tinha como diretor e editor o Comodoro António de Jesus Malheiro do Vale. A orientação gráfica era de... Hernâni Lopes. Cada número, avulso, custava 3$00. A assinatura anual era de 24$00 para o Continente, Ilhas, Ultramar e Brasil (via marítima); 59$00 para as Ilhas (via aérea); e 113$00 para o Ultramar (via aérea).


Sumário (parcial) da edição nº 8 da Revista da Armada,. maio de 1972, donde consta a "banda desenhada" de M. do Vale e B. Mendes, "Heróis dos Rios da Guiné", pp. 16/17.

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Nota do editor:

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10764: (In)citações (47): Em louvor dos bravos marinheiros da LDM 302 e dos mártires do meu DFE 21 (João Meneses)

1. Já aqui foi apresentado, como leitor e visitante, o nosso camarada, 2º ten FZE RA, João Meneses, que pertenceu ao DFE 21, e que pretende ingressar na nossa Tabanca Grande  (*), estando nós a aguardar o emvio das duas fotos da praxe para a sua apresentação formal.

Antes disso, a 6 de novembro último, ele já tinha respondido a um mail do Carlos Vinhal, nestes termos:

Caro amigo Carlos

Amizade expontânea, unidos pela Guiné. Brevemente enviarei, via mail, o que me foi pedido. Blogue que veio (e continua a) trazer luz ( na sua grande maioria com casos reais, outros, como o pescador que apanhou um peixe de 8 metros !!!!) que ajuda a reviver, a fazer-nos falar, do que alguns NUNCA conseguiram falar, a desabafar e, porque não, a recordar amizades unidas pelo sangue.

Parabéns pela iniciativa e por manterem vivo este Blog

Com amizade
João Carvalho Meneses

2. Em 26 de novembro último, o João Meneses manda-nos a seguinte mensagem:

Caros amigos

Venho agora corrigir um erro ao identificar a suposta LFG a que se fez referência anteriormente (*).

A memória atraiçoa-nos pela acção do tempo, tornando difusa a exactidão, mas grava sempre no subconsciente, que se aclara por vezes em “flashes” .

Assim escrevi que não era uma LFG na Tabanca Nova da Armada e sim uma LFP. Na realidade tratava-se da LDM 302, (cuja história está descrita e muito bem,neste Blogue ) (**), então abatida ao servíço, de onde se retirou a Oerlinkon, da qual existem fotografias no livro do Luís Sanches Baena.

Essa mesma fotografia de “ronco” foi tirada com elementos do meu DFE21. Serve pois para completar ou complementar a história desta LDM
Alguma nomenclatura:

LFG - Lancha de Fiscalização Grande
LFP - Lancha de Fiscalização Pequena
LDG - Lancha de Desembarque Grande
LDM – Lancha de Desembarque Média
LDP – Lancha de Desmbarque Pequena

Isto leva-me para outro assunto: É um estado de Alma e Coração que transformou todo o meu futuro:

Alguns deles (Praças do DFE21), direi, quase todos, assassinados após o “exemplar” incompetente abandono e traição, pelos nossos “internos” libertadores, que não respeitaram as vidas humanas que ao seu serviço ofereciam a deles. 

Não está em causa a independência da Guiné. Está em causa sim, a forma como foi feita. Em nenhuma guerra da história se abandonaram elementos das respectivas forças armadas, que se sabia irem ser fuzilados,(não só por razões de crenças étnicas como por vinganças políticas). Não se poderá atribuir a “escolha” individual a sua permanência na Guiné. Não se lhes deu, sequer, a hipótese de, como Portugueses que eram, virem para a então “metrópole”. Eram soldados Portugueses inscritos nas suas fileiras e como tal obrigatoriamente  de nacionalidade Portuguesa. Não eram mercenários. 

Vergonha, Vergonha e Revolta  minhas, que não tive a hipótese e a possibilidade de interferir por eles nesse processo. (No entanto falei disto ao Nino, quando o transportei, muito mais tarde, de avião de Lisboa para Bissau). Pedi, na altura do meu internamento no INAB após ter sido ferido, para trazer para Portugal o enfermeiro Fuzileiro Pedro, que demonstrou vontade em vir, mas foi-me negado o pedido, por ser muito complicada uma transferência de um militar.

Esta revolta acompanha-me há quase 33 anos. Lembro-me de ver o Augusto Có a chorar, quando fui evacuado pelo Héli. Bem haja,  Augusto. Entrei em coma logo a seguir.

Não falo aqui de convicções políticas, que as tenho, mas sim de convicções morais, que as mantenho

O que consente é conivente com o executante. Daí que .... a conclusão é triste e chocante
Um abraço a todos,

2º Ten FZE João Meneses (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de novembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10659: O nosso livro de visitas (152): João Meneses, 2º ten FZE RA, DFE 21, gravemente ferido na península do Cubisseco, em 27/9/1972


(**) Vd. poste de 28 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10084: Antologia (76): Vida e morte da gloriosa LDM 302, a cuja heróica guarnição pertenceu o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira, natural da Lourinhã, condecorado com a Cruz de Guerra em 1968 (Manuel Lema Santos / Luís Graça)

(***) Último poste da série > 3 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10755: (In)citações (46): O cadete Lima, do último curso de oficiais milicianos que reuniu em Mafra, em 1964, a juventude do império... (Rui A. Ferreira)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10084: Antologia (76): Vida e morte da gloriosa LDM 302, a cuja heróica guarnição pertenceu o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira, natural da Lourinhã, condecorado com a Cruz de Guerra em 1968 (Manuel Lema Santos / Luís Graça)

A. O lourinhanense Ludgero Henriques de Oliveira morreu recentemente


De morte inesperada, na sequência de um internamento hospitalar. Aos 64 anos. E sem tempo de me poder contar, direito, tim por tim, as suas andanças pelos rios e braços de mar da Guiné, a bordo da heróica LDM 302.

Eu sabia vagamente que ele pertencera à guarnição de uma LDM, que fora atacada no Cacheu, e que desse ataque resultaram baixas, tendo o navio sido afundado. 

Ele vivia na Lourinhã. Era sargento chefe reformado da Armada, com uma brilhante folha de serviços. Via-o com frequência. Éramos vizinhos, e mais do que isso, amigos e colegas de escola. Nascemos no mesmo ano, 1947, com uma diferença de 2 meses, eu em janeiro, a 29, ele em março, a 26...

Fiquei inconsolável ao saber, tardiamente, da sua morte. Há dias passei pelo cemitério local, hábito que não tinha e que agora passei a ter na sequência da morte recente do meu pai, Luís Henriques. Estive na campa do Ludgero, e prometi a mim mesmo que falaria dele no nosso blogue... Ele era a modéstia em pessoa. Nunca me disse, por exemplo, que sido condecorado com a Cruz de Guerra, em 1968... Mas tinha muito orgulho na farda da Marinha...

E que melhor homenagem lhe poderia eu prestar do que reproduzir, com a devida vénia, estes dois postes do nosso camarada Manuel Lema Santos, originalmente publicados na sua página Reserva Naval, um sítio incontornável na Net, onde se honra a nossa marinha e os nossos marinheiros ?

A epopeia da LDM 302 e dos seus bravos marinheiros merece ser melhor conhecida de todos nós. Na altura do ataque de 19 de dezembro de 1968 bem como no de 10 de junho de 1968, o Ludgero fazia parte da sua guarnição como maquinista fogueiro. São factos que eu só agora vim a saber. E quero partilhá-los com os amigos e camaradas da Guiné, que acompanham o nosso blogue,  bem como com os meus conterrâneos e ainda a família do meu amigo, em especial o seu filho e os seus irmãos, bem como a mãe do seu filho, Maria Teresa Henriques, natural da Atalaia, Lourinhã.

Que a terra te seja leve, meu amigo e camarada!... E que a gente da nossa terra saiba cultivar a tua memória e a memória dos nossos antepassados que têm o mar no seu ADN !


Luís Graça
___________________




Guiné > Região do Cacheu > Carta de Binta (1954) (Escala 1/50 mil) > A perigosa passagem do Rio Cacheu, em Porto Coco, frente à clareira de Tancroal, de má memória para os nossos marinheiros.


B. Reserva Naval > 28 de novembro de 2008 > A epopeia da LDM 302 na Guiné

(Parte I) [Excerto]

por Manuel Lema Santos

19 de Dezembro de 1967 – O ataque e afundamento da lancha


A LDM 302, de que apenas o casco veio dos EUA em 1963, foi adaptada nos estaleiros da Argibay, onde permaneceu para esse efeito de 9 de Outubro desse ano a fins de Janeiro do ano seguinte.

Foi aumentada ao efectivo das navios da Armada em 18 de Janeiro de 1964.

Chegou à Guiné, Bissau, a bordo de um navio da Marinha Mercante, na manhã de 23 de Fevereiro desse ano. Era seu patrão de então o marinheiro de manobra n.º 2156, Aristides Lopes.

Após um curto período de adestramento da guarnição, foi atribuída ao Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 2 – DFE 2, ao qual competia a fiscalização da zona do rio Geba,  tendo aí iniciado intensa vida operacional.

Efectuou um primeiro cruzeiro de fiscalização naquele rio, em 18 de Março [de 1964], sem que nada de anormal tivesse ocorrido, o que poderia ser interpretado como bom augúrio naquele teatro de guerra.

De 9 a 11 de Abril, pela primeira vez, em conjunto com a LDM 101, 201, LFG Escorpião, LFP Canopus e os DFE 8 e 9, foi incluída numa missão de apoio de fogo e transporte de fuzileiros, a operação “Tenaz”, levada a cabo no rio Cumbijã.

Em 22 de Abril o baptismo de fogo. Frente a Jabadá quando, em conjunto com mais três LDM, procedia a um desembarque de fuzileiros, o inimigo tentou opor-se com fogo de armas ligeiras mas não conseguiu evitar o desembarque.

No dia 22 de Julho, foi atacada pela segunda vez, desta feita no rio Cacheu, em Porto de Côco. O inimigo, emboscado nas margens, utlizou metralhadoras pesadas e morteiro, sem consequências.

Durante o resto do ano de 1964 tomou parte em várias operações no rio Geba e recolheu ao SAO – Serviço de Assitência Oficinal, onde foi submetida a alterações no poço, procedendo-se à instalação de uma cozinha e alojamentos para a guarnição. Foram também protegidos com chapa balística a casa do leme e o escudo da peça Oerlinkon de 20 mm.

A partir de então ficou com possibilidades de alojar permanentemente a guarnição, como viria a revelar-se indispensável.

1965 veio a revelar-se para a LDM 302 um ano muito duro. Continuando a desempenhar denodadamente missões de fiscalização, escoltas a comboios de barcaças mercantes, transporte de tropas e apoio de fogo, no dia 4 de Fevereiro, em frente de Tambato Mandinga, no rio Cacheu, foi violentamente atacada das margens com morteiros e metralhadoras ligeiras, sofrendo 30 impactos no costado e superestuturas. Não houve baixas na guarnição para o que muito contribuiu, certamente, a sua pronta e valorosa reacção.

No dia 4 de Outubro, no rio Armada, um afluente do Cacheu, em missão de transporte de forças terrestres, foi atacada das margens com metralhadoras ligeiras e granadas de mão, resultando 10 feridos ligeiros entre os militares embarcados.

Novamente, em 28 de Outubro, a leste de Farim, na margem do Cacheu, foi alvejada sem consequências com tiros de espingarda, durante uma operação de desembarque de fuzileiros.

Foi de relativa tranquilidade o ano de 1966 dado que, apesar de ter estado sempre no Cacheu no cumprimento das missões que lhe foram atribuídas, não teve qualquer contacto de fogo directo. Mercê do seu constante vaivém nos rios da zona, tornara-se já perfil conhecido e respeitada pelo inimigo.

Trágico viria a revelar-se o ano de 1967, ainda que pelo escoar do tempo se assemelhasse ao anterior, aparentemente tranquilo. Chegara-se a meados de Dezembro sem qualquer acção hostil e apenas no dia 16, em violenta acção do inimigo contra Binta, auxiliou com eficácia as forças terrestres na defesa daquele aquartelamento.

Não viriam aqueles seis homens de guarnição a terminar assim o ano quando, a 19 de Dezembro, pelas 11:00, a “302” descia o rio Cacheu, em postos de combate, calor já a apertar, margens de tarrafo denso a entranhar-se pelo rio.

No leme, (i) o patrão, marinheiro de manobra Domingos Lopes Medeiros;

(ii) nos seus postos, junto à Oerlinkon, os marinheiros artilheiros Manuel Luís Lourenço e Silva e Manuel Santana Carvalho;

(iii) no posto de fonia, o marinheiro telegrafista Joaquim Claudino da Silva;

(iv) na MG 42 o marinheiro fogueiro Manuel Fernando Seabra Nogueira:

(v) e junto aos artilheiros, pronto a acorrer onde necessário fosse, o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira, de serviço aos motores, comandados da casa do leme.

A lancha deixara para trás uma das muitas curvas sinuosas do rio e passava frente à clareira do Tancroal [, vd. carta de Binta], com a guarnição em redobrada atenção pelo comprovado perigo que representava, pelo historial anterior de ataques já desferidos contra diversas unidades navais.

Subitamente, observaram-se fumos na margem sul à boca de peças e, quase de seguida, fortes rebentamentos. O navio estremeceu violentamente e os motores pararam. Estavam sob violentíssimo ataque de canhão sem recuo, lança-granadas foguetes e ainda metralhadoras, pesadas e ligeiras.

A lancha atingida e com o patrão gravemente ferido ficou sem leme, entrando pelo tarrafo da margem Norte. Os ramos vergaram de imediato e, de seguida, ao recuperarem a posição normal, projectaram a LDM que recuou, ficando à deriva.

A lancha metia água e afundava-se rapidamente de popa. A inclinação era já muito grande e os artilheiros, com água pelo peito, ainda faziam fogo por cima do tecto da casa do leme com grande dificuldade. O posto de fonia, atingido por um estilhaço de granada, tinha ficado destruído e o patrão, moribundo, jazia caído sem que alguém lhe pudesse sequer acudir no momento.

Sentido, de todo, que o navio estava perdido, os artilheiros viram-se forçados a abandonar a peça tentando então o telegrafista socorrer o patrão. Fez um esforço para o por de pé mas foi-lhe de todo impossível. Atingido em cheio estava quase cortado em dois, pelas costas, com as vísceras de fora.

Inexplicavelmente, o inimigo deixou de fazer fogo. O telegrafista [, Joaquim Claudino da Silva], o mais antigo depois do patrão, assumiu o comando e deu ordem para abandonar a lancha. Arriaram então o bote de borracha, colocaram lá dentro, o patrão, nessa altura já morto, os papéis de bordo e uma G3, dirigiram-se para a margem e esconderam-se no tarrafo. Fora de água, a lancha tinha apenas parte da porta de abater.

Era imperioso alguém ir a Bigene, o aquartelamento do Exército mais próximo, situado a cerca de três quilómetros e regressar com socorros. Sendo os restantes elementos novos na guarnição e o telegrafista o único conhecedor da zona, empunhou a arma e foi ele próprio, conseguindo lá chegar coberto de lama e sem percalços pelo caminho.

Entretanto, a LDM 304, que navegava não longe do local, alertada pelo ruído das explosões e tiros da “302”, dirigiu-se ao local deparando, para espanto da guarnição, com uma lancha totalmente afundada, sem ninguém à vista.

Passaram-lhe um cabo de reboque e seguiram rio abaixo, avistando pouco depois os sobreviventes que embarcaram e relataram o sucedido.

Mas nesse dia a má sorte acompanhava a LDM 302. Ao aportarem a Ganturé, local escolhido para encalhar a lancha, em águas poucos profundas para poder ser recuperada, o artilheiro Carvalho, que saltara do bote para a “302” a fim de manobrar os cabos de reboque, caiu à água e nunca mais foi visto, não obstante os porfiados esforços dos seus camaradas, soldados e nativos de terra que tinham acorrido ao local.

Tudo tinha sido muito rápido, com consequências trágicas em escassos vinte minutos de duração, num combate desigual para a guarnição, que enfrentou o inimigo com perda de vidas mas com exemplar determinação, abnegação e estoicismo.

Foram agraciados com a Cruz de Guerra na cerimónia anual do 10 de Junho, no Terreiro do Paço, estando os já ausentes representados pelas suas famílias.

A LDM 302 seria rapidamente recuperada e voltaria a navegar!

(continua)

mls [Manuel Lema Santos] [...]





Cinco homens da guarnição que sofreu o último ataque [, 18 de fevereiro de 1969,], da esquerda para a direita: Mar CM Paquete, Cabo M Inácio, Mar A Correia, Mar CM Nogueira e Mar CE Martins (o penúltimo estava presente em três ataques à lancha e o último, no segundo e terceiro ataques). 

Foto da Revista da Armada, reproduzida com a devida vénia.




A LDM 302 navegando no Cacheu, junto ao tarrafo da margem. Legenda; A – Poço(resguardado com chapa balística); B – Peça Oerlinkon; C – Tarrafo; D – Casa do leme; E – Bote de borracha; F – Porta de abater; G – WC. Foto da Revista da Armada, reproduzida com a devida vénia.

Fotos: © Manuel Lema Santos (2008). Todos os direitos reservados.


(Parte II) [Excerto]

por Manuel Lema Santos


Novo ataque e incêndio da lancha em 10 de Junho de 1968


No dia seguinte, a 20 de Dezembro [de 1967], equipas do SAO - Serviço de Assistência Oficinal e da secção de mergulhadores sapadores, rumaram para Ganturé embarcadas na LFG “Sagitário” com a finalidade de procederem ao salvamento da LDM 302. Aquela unidade naval, conjuntamente com a LFP Canopus, garantiram apoio próximo e também escolta ao rebocador “Diana".


Reposta a lancha a flutuar e ainda sob escolta da mesma LFG, foi rebocada para Bissau, onde subiu o plano inclinado no dia 23. Os trabalhos de reparação prolongaram-se até 6 de Janeiro do ano seguinte [, 1968].

Dia de alegria e também de orgulho para toda a equipa, foi aquele em que a LDM 302 içou à popa a bandeira nacional e recomeçou a navegar com nova guarnição, pronta para outras missões.

Entendeu o Comando da Esquadrilha de Lanchas que deveria regressar ao rio Cacheu, agora integrada na organização operacional do dispositivo de contra-penetração ali montado, a Operação Via Láctea, que viria a manter-se até final de 1971.

Seis meses depois do primeiro afundamento e exactamente no mesmo local, Porto de Coco, Tancroal, no dia 10 de Junho, descendo também o Cacheu, foi novamente atacada com canhão sem recuo, lança-granadas foguete, morteiros, metralhadoras pesadas e armas ligeiras, numa dura demonstração de poder de fogo do inimigo.

Apesar da reacção imediata da LDM 305, comandada pelo cabo de manobra Lobo que navegava nas suas águas, logo aos primeiros disparos do inimigo foi atingido mortalmente por uma munição de lança-granadas foguete o grumete artilheiro António Manuel. Outro projéctil idêntico atingiu o escudo da Oerlinkon, fragmentando-se em numerosos estilhaços que feriram com gravidade, no tronco e nas pernas, o marinheiro artilheiro Manuel Luís Lourenço da Silva.

Mesmo ferido, continuou o artilheiro a fazer fogo sobre o inimigo, até que uma granada de morteiro deflagrou no poço da lancha, ateando um incêndio que se propagou à cobertura do poço e ao bote de borracha, provocando tal fumarada que o forçou a abandonar o posto da peça.

Ajudado pelo marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira, lançou o bote à água, fazendo o mesmo com o depósito de gasolina, pelo perigo que constituía. Colocaram o camarada já sem vida à popa, a salvo das chamas, voltando seguidamente à peça e continuando a fazer fogo até calar o inimigo.

O incêndio já tinha tomado proporções alarmantes estendendo-se a toda a lancha e o patrão, cabo de manobra Francisco Pereira da Silva, resolveu abicar à margem Norte. Saltaram então para a água e nadaram para terra conseguindo atingir o tarrafe.

A LDM 305, que não fora atingida, aproximou-se do local, embarcou todos os elementos e seguiu para Ganturé, onde o patrão da lancha, em estado de choque e o marinheiro artilheiro ferido, foram evacuados de avião juntamente com o corpo do artilheiro morto em combate.

No dia seguinte, a “302” que continuava a arder, foi rebocada pela “305” para Ganturé, onde mais uma vez a equipa SAO e uma equipa de mergulhadores sapadores, com guarda montada por um destacamento de fuzileiros especiais, a conseguiram repor em condições de ser rebocada para Bissau.

Apoio próximo dado pelas LFP Canopus e LFG Orion, tendo esta última procedido ao reboque da lancha até Barro, continuado depois pelo rebocador Diana até Bissau, com escolta daquela LFG.

Além dos elementos referidos, faziam igualmente parte da guarnição da LDM 302 o marinheiro telegrafista António Marques Martins e o marinheiro fogueiro Manuel Fernando Seabra Nogueira.


... e novamente recuperada, já não voltou ao Cacheu!


Em 26 de Julho voltou a subir o plano inclinado donde saíra quinze dias antes, mantendo-se ali em reparações até 10 de Novembro [de 1968], data de aprontamento para regressar às habituais fainas.

Sabido que, na generalidade dos casos, os marinheiros são supersticiosos, não seria de estranhar que as guarnições da LDM 302 fossem sedimentando a convicção de que a lancha não se dava bem com os ares do Cacheu.

Compreensivelmente, o Comando da Esquadrilha de Lanchas decidiu-se pelo não regresso da lancha àquele rio, atribuindo-a à TU4*, conjunto de unidades navais encarregadas de manter o dispositivo de contra-penetração no rio Grande de Buba e com as mesmas missões de sempre, ou seja, transporte de forças de desembarque, apoio de fogo em operaçoes militares e escoltas a combóios mercantes além de outras acções.

Já em 1969, pelas 11:30 horas do dia 18 de Fevereiro, quando navegava em missão de fiscalização, frente à foz do rio Uajá, afluente do rio Grande de Buba, foi atacada violentamente da margem esquerda com canhão sem recuo, lança-granadas foguetes e ainda metralhadoras ligeiras e pesadas.

Logo aos primeiros disparos, a cobertura da lancha ficou parcialmente destruída e foi ferido com gravidade o marinheiro artilheiro Dimas de Sousa Correia que, mesmo perdendo muito sangue, se manteve no seu posto de combate, disparando ainda quatro carregadores da Oerlinkon sobre o inimigo.

Talvez o seu sacrifício tenha evitado piores consequências ainda que, mesmo assim, registassem ferimentos ligeiros o marinheiro telegrafista, já mencionado em ocasião anterior, e o marinheiro fogueiro Custódio Mestre Paquete.

Houve igualmente um princípio de incêndio, originado por estilhaços dum projéctil de lança-granadas foguete que atingiu a cobertura do poço, mas foi rapidamente extinto.

O patrão da lancha era o cabo de manobra Manuel António Inácio, e ainda fazia parte da guarnição o marinheiro fogueiro Nogueira, numa prova evidente e confirmando o popular ditado de que não há duas sem três...

Depois de evacuados e substituídos os elementos da guarnição referidos neste combate, a LDM 302 continuou a cumprir as habituais missões no rio Grande de Buba.

Até ao final da sua vida operacional, nunca mais foi atacada a gloriosa e nobre LDM 302. Passou à situação de desarmamento em 27 de Julho de 1972, tendo sido abatida ao efectivo dos navios da Armada em 30 de Novembro desse mesmo ano.

Notável historial de uma pequena unidade da Marinha de Guerra, a roçar a ficção ou o lendário, não tivessem sido reais os combates travados e as baixas sofridas. Os elementos das sucessivas guarnições, sem excepção, honraram ao mais alto nível um dever pátrio, no cumprimento das missões de que foram incumbidos, pagando alguns deles com a vida, a dedicação, a determinação e o estoicismo.

Estarão sempre presentes na nossa memória! [...]

Fontes:

Arquivo de Marinha,
Revista da Armada nº 129 de Julho 1982,
Setenta e Cinco Anos no Mar, da Comissão Cultural de Marinha,
Anuário da Reserva Naval, de Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado Fuzileiros - Factos e Feitos na Guerra de África. de Luís Sanchez de Baêna

mls [Manuel Lema Santos]
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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9000: Antologia (75): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (8): Ilha do Como, 15 de Março de 1964: E Deus desceu à guerra para a paz (Último episódio)...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10080: Convívios (275): Homenagem, em 23 de junho, aos antigos combatentes da minha terra, Lourinhã (Luís Graça)


Lourinhã > Cemitério > Talhão dos Combatentes > Junho de 2012 > Trabalhos de recuperação e requalificação.  Ao fundo, a Igreja de Santa Maria do Castelo, em estilo gótico (Séc. XIV), classificada como monumento nacional em 1922. É um dos ícones da minha terra. Só por si vale uma visita á sede do último concelho do distrito de Lisboa.



Página principal do blogue do Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes, núcleo esse que tem a sua sede na Rua 9 de Abril, n.º 8 - 1.º , 2560-301 Torres Vedras. Na área do núcleo há já dois monumentos
erigidos em memória dos combatentes do ultramar , um em Torres Vedras e outro na Lourinhã. 

Toda a correspondência pode ser enviada para Apartado 81, 2564-909 Torres Vedras ou para o email: torres.vedras@ligacombatentes.org.pt

Fotos: Cortesia do blogue do  Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes(2012)



Homenagem aos antigos combatentes da Lourinhã

1. Integrada nas Festas do Concelho da Lourinhã (22/24 de junho de 2012), realizou-se no passado sábado, dia 23, uma homenagem a todos os ex-combatentes naturais daquele município. Por estar em Angola, não pude comparecer a esta cerimónia, apesar do amável convite que me fizeram, a Cãmara Municipal da Lourinhã e o Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes.

O ponto central desta iniciativa decorreu no Talhão dos Combatentes, no cemitério da Vila, que foi recentemente recuperado pelo  núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes,  com o apoio da Câmara Municipal e Junta de Freguesia da Lourinhã, bem como da Direcção Central da Liga dos Combatentes.

Esta cerimónia iniciou-se com a deposição de uma coroa de flores junto do monumento aos Combatentes, no Largo António Granjo, seguindo-se a celebração da eucaristia, na Igreja de Santa Maria do Castelo (Séc. XIV), e, posteriormente, uma cerimónia com guarda de honra no Talhão dos Combatentes.


Lourinhã > Cemitério local > 6 de maio de2012 > Lápide funerária referente ao José António Canoa Nogueira (1942-1965), o primeiro militar lourinhanense a morrer em terras da Guiné, mais exatamente em Ganjola, no dia 23 de janeiro de 1965. Era sold ap mort, Pel Mort 942 / BCAÇ 619 (Catió, 1964/66).

Era meu 3º primo, pelo lado da minha mãe. Foram vinte os meus conterrâneos, mortos na guerra do ultramar. O seu funeral, três  meses e meio depois, tocou-me muito. Na altura, eu era o redactor-chefe do    quinzenário regionalista Alvorada, e tinha 18 anos... E devo ter publicado uma das últimas cartas que escreveu (em 10/1/1965, dirigida ao diretor do jornal).


Lourinhã > Cemitério local > 6 de maio de 2012 > Lápide funerária referente ao Ludgero Henriques de Oliveira, SCH (Sargento chefe) reformado, da Marinha (1947-2011).  Foi combabente na Guiné. Fazia parte, como fogueiro, da tripulação da LDM 302.  atacada e afundada no Rio Armada, afluente do Cacheu, em 19 de dezembro de 1967 . Devido à sua morte súbita (por infecção hospitalar, suspeita-se), o Ludgero nunca me chegou a contar, com todos os detalhes, essa história dramática. 

Era meu conterrâneo, colega de escola, vizinho, amigo e camarada. Fiquei consternado com a notícia da sua morte. Aguardo que o filho e a viúva me autorizem o acesso ao seu espólio documental com vista à elaboração de uma notícia mais completa sobre a sua passagem pela Marinha e pela Guiné.



Lourinhã > Largo António Granjo > 5 de novembro de 2011 > Escultura em bronze do combatente da Guerra do Ultramar (pormenor). O monumento é da autoria do arquitecto A. Silva e da escultora A. Couto.


Fotos: © Luis Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados