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sábado, 27 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11485: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (68): Luciana Saraiva Guerra, sobrinha do cor inf comando, já falecido, Maurício Saraiva, está a escrever um livro sobre a família, natural de Valpaços, e o tio paterno, nascido em Angola


Angola, 28/10/61 > O alferes miliciano Maurício Saraiva



Foto s/ legenda > Angola, s/d, s/l, equipa de futebol eventualmente de colégio das missões católicas (a avaliar pela presença do padre, na segunda fila, à esquerda). O jovem Saraiva  é o segundo, da primeira fila, a contar da esquerda.


Fotos (e legendas): © Luciana Andrade Guerra (2013). Todos os direitos reservados


1. Resposta da nossa leitora Luciana Saraiva  Guerra, sobrinha do nosso já falecido camarada Maurício Saraiva, cor comd ref (*):

De: Luciana Saraiva Andrade Guerra

Data: 24 de Abril de 2013,  15:38

Ok, vou acompanhar [o blogue]. Já está nos meus favoritos !

Obrigado por estas fotos ! Algumas não conhecia. (*)

No final de maio vou a Valpaços/Possacos, terra dos meus ancestrais. Estou fazendo um livro sobre a genealogia de minha avó paterna (mãe do tio Maurício), que em princípio estará pronto lá para o final do ano. Um dos capítulos será dedicado a meu tio, nessa altura entrarei em contato com o Luís, até para me dar algumas informações. Tenho comigo alguns documentos antigos, fotos e recortes de jornal, meu primo Francisco Henrique também me ajudará no que for possível.

Na altura própria terei todo o gosto de convidar esses amigos do meu tio que fazem parte da "Tabanca"...para o lançamento do livro. Faremos um almoço devidamente acompanhado pelo vinho da terra de Valpaços.

Sabe, há um tempo atrás, resolvi importar para o Brasil os vinhos daquela terra fantástica de Trás-os-Montes. Vou assim ajudar a terra, trazendo para o brasileiro mais uma opção...o primeiro container ainda não chegou, só lá para junho.

Terei também todo o gosto de receber aqui em Floripa (sul do Brasil) o Luis Graça, se algum dia pensar em visitar estas terras.

Um abraço a todos, aproveito a oportunidade para lhe enviar duas fotos mais antigas do tio,  ainda muito jovem. Na segunda foto, ele é o segundo a contar da esquerda para a direita (em baixo).

Luciana (**)
________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11457: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (66): Cap Cmd Maurício Saraiva, aqui evocado pela sua sobrinha Luciana Saraiva Guerra (Florianópolis, Santa Catarina, Brasil) e pelo nosso coeditor Virgínio Briote

(**) Último poste da série > 26 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11475: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (67): Hoje há festa no "sempre em festa" (Ritz Clube, R da Glória, 57, Lisboa), a partir das 23h, com Mamadu Baio / Super Camarinda, de Tabatô... Cinco morteiradas... Eu vou lá estar...e pago um copo ao "nosso alfero Cabral" (Luís Graça)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11457: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (66): Cap Cmd Maurício Saraiva, aqui evocado pela sua sobrinha Luciana Saraiva Guerra (Florianópolis, Santa Catarina, Brasil) e pelo nosso coeditor Virgínio Briote



Foto nº 1
 Foto nº 2

 Foto nº 3



Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6



Foto nº 7


Fotos: © Virgínio Briote (2013). Todos os direitos reservados

1. Mensagem de Luciana Andrade Guerra:

Data: 21 de Abril de 2013 à43 02:06

Assunto: Cap Maurício Saraiva


Olá a todos.

Meu nome é Luciana, sou sobrinha do Cap Maurício Saraiva !

Moro em Florianópolis,  Brasil,  há 12 anos. Sou filha do irmão mais novo de meu tio (Gustavo).

Encontrei vosso Blogue por acaso, aproveito esta oportunidade para cumprimentar a todos que conviveram com meu tio.

Eu,  quando adolescente,  costumava passar os Natais com ele e o resto de minha família. Tenho saudades.

Saudações a todos, espero que vossa "Tabanca" continue crescendo.

Sou do Sporting, tal como meu tio Maurício era ! hi hi

Luciana Saraiva Guerra


2. Comentário, de 21 do corrente,  do Virgínio Briote [foto a esquerda, ex-alf mil cmd,  1965/67], a quem pedi um comentário a esta mensagem e o envio de fotos, "para reavivar a memória" deste nosso camarada da Guiné, que foi  cap cmd Saraiva:

Caro Luís,

Tenho muito material sobre o Cor Maurício Leonel Saraiva. Fotos, documentos e memórias de acontecimentos, histórias que corriam na altura, outras de que fui testemunha e uma ou outra em que até fui protagonista. Gostaria de fazer um trabalho sobre o Saraiva (já em tempos encomendado pelo Presidente da Associação de Comandos, mas que não pude levar adiante).

Foi ele, o Saraiva, que como tenente me convidou a concorrer aos comandos e,  dois meses mais tarde, como capitão, foi meu director de instrução. Acontece que estou com uma semana algo incerta, já que ando comprometido com o Hospital de Santa Maria e não sei quando posso fazer esse trabalho. A minha sogra está internada e eu, que há cerca de um mês fui lá operado, estou na iminência de o voltar a ser, embora desta vez seja outra história. Assim não posso prometer nada. Amanhã, conforme for a evolução dos dois casos, dou notícias.

Recebe um abraço e, de passada, vou ver se insiro aqui algumas fotos do Saraiva, com ass respetivas lkegendas

bv

Fotos (e legendas):

1. Alf mil Saraiva em Angola, em 1963, aquando da frequência  do curso de Cmds;
2. Emblema de braço do grupo Fantasmas de que o Saraiva foi  cmdt;
3. Formatura em Brá dos Cmds (fase de grupos) em que se vê à frente o então tenente Jaime Cardoso, director de instrução do 1º curso de Cmds em Brá,  e vê-se o Saraiva na formatura numa extremidade de óculos escuros;
4. Aposição dos crachás, referentes ao mesmo curso, com o ten Saraiva na ponta esquerda;
5. Aqui, já como director do 2º curso (Set 65), o cap Saraiva à direita assiste à imposição dos crachás;
6. Cap Saraiva à frente da CCmds do CTIG em Set 65;
7. Na mesma data, o cap Saraiva rodeado pelo J. Parreira, Virgínio Briote  e Marques de Matos.

3. Comentártio de L.G.:

Temos já uma dúzia de postes sobre o Maurício Saraiva. Agradecemos ao Virgínio Briote as fotos  que nos fez chegar. Aproveito para lhe desejar uma boa recuperação do problema de saúde   do foro (oftalmológico) que o preocupa de momento. Vai ser operado a uma vista, muito em breve, no Hospital de santa Maria, mas eu espero poder rapidamente abraçá-lo, o mais tardar no nosso VIII Encontro Nacional«, em 8 de junho de 2013. em Monte Real. A eele e à Irene, a quem também também as melhoras da sua perninha...

Quanto à nossa leitora e amiga Luciana, espero que ela tenha aprendido algo mais sobre o seu tio e que divulgue estas fotos entre a família. Fico feliz por saber que vive em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, cidade onde tenho amigos e parentes. A nós  compete-nos a honrar a memóriua de todos  os nossos camaradas que fizeram a guerra da Guiné. Teremos muito gosto em publicar fotos, em formato digital, que estejam na posse da família do Maurício Saraiva, que foi instrutor, comadante e camarada de alguns de nós, que integram a Tabanca Grande.

Peço à Luciana que transmita à família (e em particular ao seu pai) as nossas saudações mais calorosas, e que aceite o nosso convite para integrar a nossa Tabanca Grande onde há lugar também para os familiares dos nossos camaradas já falecidos. Como vê, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11406: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (65): Carlos Afeitos encontra, em 2011, restos da CCAÇ 1422 (1965/67), no K3 / Saliquinhedim

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10406: Evocando a trágica emboscada com mina, de 28 de novembro de 1964, em Madina do Boé, que vitimou 7 camaradas da equipa de comandos Os Fantasmas, alguns dos quais morreram nas mãos do alf mil médico Luiz Goes (1933-2012) e do alf mil António Pinto


Guiné > Mapa geral > 1961 > Escala 1/500 mil > Detalhe: da esquerda para a direita, Gobije, Madina do Boé e Béli...  O Rio Gobije, afluente do Rio Corubal,  ficava a sudeste de Guileje, na fronteira com a Guiné-Conacri.


1. Excerto de um  mensagem, de 2006,  do nosso camarada António Pinto (ex-alf mil, BBCAÇ 506, 1963/65, foto de 2007 à direita), em que se fala dos 7 mortos da equipa de comandos Os Fantamas, em Madina do Boé, em 28 de novembro de 1964. Alguns destes infelizes camaradas  morreram nas mãos do António Pinto e do alf mil médico Luiz Goes (1933-2012), que foi enterrar hoje, na sua terra natal, Coimbra (*)

(...) A memória já me vai traindo um bocado, mas há momentos que jamais poderei esquecer e com certeza que me acompanharão para sempre. Guardei alguns documentos daquele tempo e, vasculhando-os, verifico que pertenci à 3ª Companhia de Caçadores, em Nova Lamego, e aos Batalhões de Caçadores, sediados em Bafatá, nºs 506 e 512 e finalmente ao Batalhão de Cavalaria nº 705.

Sobre Madina do Boé,  estive lá no 2º ano de comissão, lembro-me que fomos os primeiros a lá chegar e montar o 1º aquartelamento que ficou ao fundo da estrada, onde havia uma escola desactivada. Os primeiros tempos passámo-los sem sobressaltos de maior até que houve o 1º ataque, não posso precisar a data. Não tivemos feridos.

Há um episódio, no entanto, entre vários, que me marcou bastante. Vou tentar resumi-lo:


Guiné > 1964 > Brá, Comandos > Equipa Os Fantasmas. "Foto do Furriel Artur Pereira Pires (ao meio, de bigode), a quem fui substituir, e da sua equipa, os Fantasmas, composta por António Joaquim Vieira Ferreira, Manuel Coito Narciso, José da Rocha Moreira e João Ramos Godinho. Foram umas das vítimas do rebentamento da mina em 28 de Novembro de 1964 [, na estrada de Madina do Boé para Contabane, a uma escassa centena de metros do pontão sobre o rio Gobige]" (JSP).

Foto: © João S. Parreira (2005). Todos os direitos reservados.

Uma tarde estávamos no Destacamento, quando, de repente, ao fundo da tal estrada vimos chegar, com grande alarido dois ou três jipes com uma velocidade inusitada e alguém aos gritos, que só conseguimos entender quando chegaram à nossa beira. Era um grupo de Comandos, chefiados pelo alferes [Maurício] Saraiva (um homem tremendamente marcado pela guerra em Angola, onde assistiu à morte de familiares seus ) . Aos berros, pediu-nos viaturas e homens para efectuar uma operação (de que eu não tinha conhecimento ) nos arredores de Madina. De tal maneira ele estava transtornado que chegou a puxar de pistola para um Furriel do Destacamento, que esta a apertar as botas, tal era a sua pressa.

O que não posso esquecer é o pedido que um dos nossos soldados fez para substituir o condutor duma viatura, salvo erro, uma Mercedes, argumentando que, sendo ele pequeno (e era-o de facto),  se uma mina rebentasse ele saltava com mais facilidade, pedindo só para deixar tirar a capota da viatura. Não me recordo do nome dele mas vejo-o constantemente...

Essa patrulha, em que não participei, pois o Saraiva não o permitiu, foi atacada, após o rebentamento de minas. Morreram vários camaradas nossos, entre eles o referido condutor, que teve uma morte horrorosa.

Alguns desses camaradas deixaram este mundo nos meus braços e nos do médico que, na altura, estava conosco e que é por demais conhecido - o Luiz Goes, que todos conhecem, com certeza, pelos seus fados de Coimbra.

Este foi um dos momentos mais dramáticos que vivi na Guiné, para além de outros, especialmente em Beli, onde fui ferido e que noutra altura relatarei. (...)

2. Nota do editor:

Trata-se do mesmo episódio, já aqui evocado pelo  Virgínio Briote [, foto à esquerda], na I Série do nosso blogue (*)

(...) "Novembro de 64, dia 28. Na estrada de Madina do Boé para Contabane, a uma escassa centena de metros do pontão sobre o rio Gobige, os Fantasmas detectaram uma mina anti-carro. Levantaram a mina e simularam o rebentamento. Ficaram emboscados nas proximidades cerca de 2 horas. Viram um grupo IN aproximar-se e afastar-se logo que deram pela presença de mulheres na estrada. Uma hora depois viram um elemento IN a fugir. Afinal, estavam em igualdade de circunstância, todos sabiam da presença uns dos outros.

"No dia seguinte voltou com o grupo ao local. Meteu-se com alguns soldados no Unimog mais pequeno à frente, e encaixou dezasseis militares no Unimog maior atrás. A 1ª viatura passou, a outra, uma dezena de metros atrás, não. Pisou uma mina. Ao mesmo tempo que em cima deles caía uma chuva de balas de armas automáticas, o Unimog incendiou-se e as munições explodiram como foguetes num arraial minhoto. Quase todos os homens foram projectados a arder. 7 mortos logo ali e três feridos graves. Tinham partido 22 de Bissau, regressaram doze. Com o grupo dizimado, poucos dias depois arrancou com os restantes para uma operação".  (...)

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)


(**) Vd. psote da I Série > 13 Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXV: Brá, SPM 0418 (3): memórias de um comando (Virgínio Briote)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9736: Nós da memória (Torcato Mendonça) (21): Aí está a segunda parte da recensão

 


1. Terceiro texto, de três, que o nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) enviou em mensagem do dia 26 de Março de 2012 para integrar os seus "Nós da memória":


NÓS DA MEMÓRIA - 21
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

Aí está a segunda parte da recensão
 
Leio. Leio o que alguns grandes Combatentes dizem e ficou escrito no livro e, aqui no blogue, com a tua escrita. Nada mais comento e, menos ainda, transcrevo. Já o fizeste e seria abusivo de minha parte acrescentar algo mais. Fiz na primeira parte. Fica a vontade da leitura do livro.

Se fosse ler todos os livros sobre a Guiné de que fazes recensões nada mais fazia. Desejo é que continues a fazer recensões e a dar assim conhecimento desses livros a nós, a mim claro. Creio que muitos outros assim pensam.

Termino com uma frase do Coronel Maurício Saraiva, que transcrevo:

- O coronel Maurício Saraiva escreve: … Para mim, como para todos esses homens, foi uma autêntica honra termos sido os primeiros Comandos da Guiné. Um comandante não é ninguém sem os seus soldados. Eu tive muita vaidade nos meus soldados. E o que eu fui, foi à custa deles, com eles e por eles

Estás de acordo com ele.
Claro que sim.
Comandar era difícil e quem comandávamos merecia-nos muito respeito.

NOTA: - Os comentários foram transcritos dos P9508 e P9528, publicados no Blogue e tiveram recensão de M.B.S. (Mário Beja Santos) ao livro "Os Últimos Guerreiros do Império".
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9725: Nós da memória (Torcato Mendonça) (20): Leio

terça-feira, 27 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6257: O segredo de... (12): O meu sobrinho Malan Djaló, aliás, Malan Nanque, o rapazito de 8 ou 9 anos anos, apanhado pelo Grupo Fantasmas, do Alf Mil Comando Saraiva, em 11 de Novembro de 1964, em Gundagué Beafada, Xime... (Amadú Djaló)


Revolta do Gueto de Varsóvia - Foto do Relatório Stroop por Jurgen Stroop para Heinrich Himmler, de Maio de 1943. A legenda em alemão diz: "Retirados à força dos covis". Pessoas reconhecidas nesta foto: (i) O rapaz da frente não foi reconhecido, algumas identidades possíveis: Artur Dab Siemiatek, Levi Zelinwarger (junto à sua mãe Chana Zelinwarger) e Tsvi Nussbaum; (ii) Matylda Lamet Goldfinger; (iii) Leo Kartuziński - recuado com um saco branco no ombro; (iv) Golda Stavarowski - também recuado, primeira mulher da direita, com uma mão levantada; (v) Josef Blösche - Soldado das SS com uma submetralhadora


 Fonte:  Foto e legenda:  Wikimedia Commons (com a devida vénia...) (*)


1. Uma das primeiras operações (a segunda, depois de uma ida ao Óio) que o Amadú fez, integrado no Grupo Fantasmas, do Alf Saraiva, foi no meu conhecido Buruntoni, no Xime, em 11 de Novembro de 1964.

Na véspera, o grupo deslocara-se de barco, de Bissau até ao Xime. A 11, andaram toda a noite, a corta-mato, com um guia local. Como era quase inevitável, nas matas do Xime, o guia perdeu-se. O objectivo era um acampamento da guerrilha. Chegaram ao Buruntoni por volta das 7h00, quando o sol já ia alto… Deparam-se, entretanto, com um “rapazito de 8 ou 9 anos” (p. 91).

“Interrogado, disse que ia para o campo de lavra dos pais. Sobre o acampamento da guerrilha que procurávamos [, em Darsalame Baio, not do V.B.], disse que ficava na outra margem do rio Buruntoni”…

O grupo seguiu até à margem, com o Alf Saraiva continuando a fazer perguntas ao miúdo que, aterrorizado (como é fácil de imaginar), não teria outro remédio senão colaborar...

E é aqui que eu leio uma das belas e sublimes páginas do livro, reveladoras da grandeza humana do Amadú, futa-fula, muçulmano, bom crente. Vale a pena transcrever (coma devida vénia ao autor e ao editor):.

(…)  Sobre o local onde costumava ficara a sentinela, o rapazito disse que ficava atrás de nós. Então, o alferes deu instruções para voltarmos atrás, para ver se conseguíamos apanhar a sentinela.

O Alferes Saraiva passou para a frente e fomo-nos aproximando do local, onde julgávamos que ela estava. Vimo-la numa árvore. O alferes abriu fogo e ele caiu imediatamente. Corremos para ele, e quando lá chegámos já estava moribundo. Com a arma do sentinela nas nossas mãos, continuámos a marcha para o Xime, até que demos com uma tabanca abandonada que se chamava Gundagué Beafada. Perto deste local encontrámos a tropa de Bambadinca que estava com a missão de nos recolher. Encontrei alguns companheiros da minha incorporação e, quando estava a abraçá-los, vi o alferes, de arma ao ombro, e o menino com a mão na nuca, de olhar fixo no alferes. Cheguei-me para junto do alferes e ele disse-me:
- Amadú, que vamos fazer ao puto ?
- Levá-lo, meu alferes ?!
- Ele é turra, Amadú!
- O meu alferes tem mais formação e conhecimento que eu, mas parece-me que com esta idade, o menino não é inimigo nem amigo.
- Então, por que vivia no mato, Amadú ?
- Porque que os pais vivem no mato, meu Alferes!
- E tu, o que queres fazer com ele, Amadú ?
- Deixamo-lo no quartel de Bambadinca.

O capitão da companhia de recolha estava junto de nós. O alferes perguntou se eles queriam ficar com o miúdo. Negativo, respondeu o capitão. O alferes ficou a olhar para mim e eu disse:
- Levamo-lo connosco para o quartel. Se o meu alferes não quiser que ele fique no quartel, eu fico com ele na minha casa.
- Não tens mulher, como é que vais tomar conta dele ?
- A minha irmã toma conta!
- Tens a certeza, Amadú ? Fica à tua responsabilidade.
- Inteiramente, meu alferes.

Agarrei no menino e começámos a andar até ao Xime e depois para Bambadinca. (…) (pp. 91/93)…

Enquanto regressam, ainda nesse dia, a Bissau, tomando um barco que estava prestes a partir, por volta das 18h, e chegando a Brá já depois da meia-noite, o Amadú escreve:

(…) Eu estava muito satisfeito comigo próprio e com o alferes. Assim que ele aceitou o meu pedido de ficar com o miúdo, que se chamava Malan Nanque, um companheiro europeu do meu grupo, o Mendes, que tinha apanhado uma maleta com cortes de fazenda, ofereceu-ma para fazer roupa para o rapazito. Quando chegámos a Bissau, levei-a ao alfaiate, e os cortes de tecido deram para 3 calções e 2 camisas. Ainda lhe comprei um par de sapatos e uns chinelos.

Agora que estou a escrever e a a recordar este episódio, tenho os olhos húmidos. Estou a ver o miúdo à frente da arma com a mão na nuca, a tremer todo, a olhar para o matador. Ele, o menino, tinha acabado de ver o alferes matar a sentinela e devia pensar que agora era a vez dele (pp. 93/94).

Em nota de pé de página, é contado o desfecho, mais ou menos feliz, desta história de compaixão humana, que merece figurar numa antologia de histórias de guerra:

O rapazito, Malan Nanque, beafada, mudou de apelido para poder frequentar a escola. Passou a ser meu sobrinho e viveu com a minha família em Bafatá. Durante muitos anos ninguém, da nossa família soube que o Malan Djaló tinha sido capturado pelos Fantasmas, numa manhã de Novembro de 1964. (**)

Anos depois, em 1973, levei-o a ver a mãe, em Bissau. Mas Malan continuou a viver na nossa casa. Uns anos mais tarde, já com, a Guiné independente, deu aulas de português em quartéis do PAIGC. Casou, teve um filho, adoeceu e morreu pouco tempos depois no hospital de Batafá. O único filho que teve, uma menina, também sobreviveu pouco tenpo. Morreu, ainda não tinha dois anos. (Nota 59, pp. 93/94).

Extractos de: Amadu Bailo Djaló - Guineense, comando, português. Lisboa: Associação de Comandos. 2010. (***)

________________

Notas de L.G.:

(*) A foto da ignomínia... Uma das fotos mais tristemente famosas da II Guerra Mundial... de todas as guerras. Lembrei-me de imediato desta foto, ao ler a história (comovedora) de que o Amadú foi protagonista num sítio que eu conheci muito bem (eu, o 1º Cabo Galvão, e outra malta da CCAÇ 12, da CART 2520 e do Pel Caç Nat 63),  Gundagué Beafada:

Vd. poste, da I Série, 10 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970)

(**) Vd. último poste da série >18 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5670: O segredo de... (11): Um ataque a Bissau, uma bravata do Hoss e do Django (Sílvio Fagundes Abrantes, BCP 12, 1970/71)

(***) Sobre o Mauricio Saraiva (1939-2003) e o seu Grupo Fantasmas, vd. o poste do Luis Rainha, de 31 de Marco de 2010, no blogue Comandos Guine 1964 a 1966

(…) Não querendo menosprezar ninguém, até porque sou Comando CENTURIÃO, quero aqui afirmar que o GRUPO FANTASMAS foi de todos os Grupos formados e existentes na Guiné que mais louvores e condecorações teve. Teve um Chefe excepcional, que foi um belissimo condutor de HOMENS, um guerrilheiro fantástico e um exímio estratega.

Foi ele, Capitão Maurício Leonel Sousa Saraiva, dos militares Portugueses mais condecorados de todos os tempos e quiçá dos tempos vindouros. Este Homem, de H grande, grande Português e grande Patriota, ainda estava para sofrer os horrores da guerra não convencional. (…)  [Era] um homem tremendamente marcado pela guerra em Angola, onde assistiu à morte de Familiares seus. (…)


Sobre o seu comandante, com quem esteve nove meses  (até  Maio de 1965),  e por quem nutria respeito, admiração e afecto, o Amadú Djaló é parco em pormenores, nomeadamente sobre aspectos, eventualmente mais controversos, do seu comportamento como homem e militar.  Aliás, ele é, quase sempre, de uma grande discrição e até deferência em relação aos seus "companheiros europeus" (sic). Só é crítico quando vê "europeu" a tratar, com menos respeito, bajuda e mulher grande... Perante umn capitão manifestamente racista, que ele conheceu no CICA/BAC, em Bissau, em 1962 ("Preto é como tartaruga, só quando lhe chegamos fogo ao cu, é que tira cabeça!", p. 41), Amadú é condescendente, compreensivo e caridoso: "Pela minha parte, ele era um diabo, não era um ser humano. Um homem com tanta cultura, oficial do Exército Português, não deveria trata deste modo os subordinados", p. 41).

Vd. poste de 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6210: Os gloriosos malucos das máquinas voadoras (21): Meu tenente, eu e o Tomás Camará não vamos com o Honório! (Amadu Djaló)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6210: Os gloriosos malucos das máquinas voadoras (21): Meu tenente, eu e o Tomás Camará não vamos com o Honório! (Amadu Djaló)


Guiné > Brá > Comandos do CTIG > Junho de 1965 > Cap Mil Comando Maurício Saraiva > Idolatrado por uns, odiado por outros, foi um mal amado, diz o Virgínio Briote... O Amadu Djaló, por sua vez,  foi um dos oito "negros" (sic) - a par do Marcelino da Mata, do Tomás Camará e outros - a participar "no 1º curso de quadros para os Comandos do CTIG", que teve início em 3 de Agosto de 1964  (Amadu Bailo Djaló - Guineense, Comando, Português. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, p. 82). O seu primeiro comandante, no Grupo Fantasmas, foi o Alferes Saraiva (entretanto promovido a tenente e depois capitão).

Foto: © Virgínio Briote (2006). Direitos reservados


1. A leitura do livro de memórias do Amadu Djaló tem sido, para mim,  uma verdadeira surpresa. Mesmo já conhecendo, superficialmente, o autor, e sabendo, por alto, algumas das peripécias da sua vida como pessoal e militar (tem "treze anos de serviço militar"), através do Virgínio Briote, dou-me agora conta de que é um testemunho humano, singelo, mas  de valor, com bastante interesse, do ponto de vista sócio-antropológico, para um melhor conhecimento do passado da  Guiné-Bissau e em especial do período da guerra colonial,  como para a construção do presente e até do futuro. 

O título do livro pouco tem a ver com o conteúdo. É claramente um título, forçado pelo marketing, com o objectivo de vender, o que no caso do Amadu até é um objectivo relevante, sabendo-se que ele tem 10% sobre o preço de capa e é um homem pobre e doente. Guineense, comando, português é claramente uma concessão aos  brancos ou europeus (como ele nos chama, quase sempre) e, muito naturalmente, ao gosto da Associação dos Comandos que editou o livro, na colecção Mama Sume (é o 2º título, depois de 25 de Novembro de 1975: Os comandos e o combate pela liberdade, de Manuel Amaro Bernardo, Francisco Proença Garcia e Rui Domingues da Fonseca).

Se um homem é sempre ele próprio mais as suas circunstâncias (, logo determinado pela historicidade), o Amadú é uma espécie de Sancho Pança guineense, servindo diversos Dom Quixotes, do Saraiva ao Spínola, mas também poderia ter sido o Nino Vieira ou o Amílcar Cabral, como ele próprio admite, quando a páginas 30/31 evoca a tentativa de aliciamento, para ingressar nas hostes do PAIGC, em Julho de 1961, por parte de Adulai Djá,  "un colega meu de Bissau" (que, tendo militado nas fileiras do PAIGC, chegaria a ser 2º comandante da base principal do Morés; mais trade morto num ataque de Comandos helitransportados, em data não especificada pelo Amadu, p. 30, nota de rodapé).

Nessa altura, o Amadu ouvia, em Catió, na casa de um cipaio,  a rádio de Conacri e confessa que chegou a estar "hesitante" (sic) (p. 31), entre aderir ou não aderir ao PAIGC, numa altura em que "toda a gente falava de um tal Nino Vieira que tinha fugido da prisão da administração de Catió", ajudado por um cabo cipaio, por sinal cunhado do João Bacar Jaló) (p. 30)...

O Amadú acabou por ir para a tropa portuguesa ("tropa era uma obrigação"), depois de um série de peripécias que meteram o pai, os primos do Senegal (militares do Exército francês), o administrador de Bafatá, o tenente Carrasquinha, do BCAÇ 238 (que tinha um fraquinho pela prima, bonita, Aua Djaló)... Em suma, o Amadú poderia estar hoje no Senegal ou até em França, como poderia ser hoje  um grande Combatente da Liberdade da Pátria, vivo ou morto. É um ponto (controverso) da vida do Amadú, a que poderemos voltar em breve. (De resto, ele confessa como,  naqueles tempos,  "era difícil ser bom português", p. 14; "nós, Povo da Guiné, antes da guerra, mal conhecíamos o Povo Português", p. 15)...

O que eu agora quero sobretudo sublinhar é o talento narrativo do Amadu. Como bom africano, ele é um homem da cultura oral e, logo, um grande contador de histórias. E essa oralidade,  espontânea (mesmo em português que não é a sua língua materna...), perpassa por todo o livro, graças ao talento de outro homem, o Virgínio Briote, à sua paciência, perserverança, bom senso, bom gosto, sentido de ética e camaradagem.

Há, ao longo do livro, uma mão cheia de boas histórias: umas  dramáticas, pungentes e reveladores da  grande nobreza humana do Amadu, das suas crenças, superstições e valores morais (como a cena, passada em Gundagé Beafada, no Xime, em que ele salva o menino turra, Malan Nanque, leva-o às costas para Bambadinca e adopta-o como filho: vd. pp. 91/93); outras, cómicas, burlescas e divertidas, como esta que aqui se reproduz... (com a devida vénia, e como aperitivo para os que ainda não compraram ou não leram o livro).

2. O meu adeus à guerra dos Fantasmas
por Amadu Bailo Djaló

Em [6] de Maio de 1965 fomos para Cacine com o objectivo de executar um golpe de mão a um acampamento em Catunco. Era a última operação do grupo Fantasmas e, por isso, o tenente [Maurício Saraiva, comandante do grupo] pôs-lhe o nome de Ciao.

Em Brá tivemos a manhã para preparar tudo. Depois, fomos em viaturas para o aeroporto de Bissalanca, onde estavam quatro avionetas à nossa espera. O tenente dirigiu-se ao Furriel Morais,  que já tinha acabado o tempo de comissão [, e que haveria de morrer umas horas depois, na madrugada do dia seguinte, no ataque ao acampamento de Catunco, e onde o próprio Amadú seria ferido], e disse-lhe:
– Vocês esperam pelo Honório, que parece que ainda não está pronto.
 – Meu tenente, eu não vou no avião do Honório! Custa-me muito faltar à operação, mas eu não vou! – disse eu.

O Tomás Camará [, futuro tenente comando graduado, da 1ª CCmds, do Batalhão de Comandos, mais tarde fuzilado pelo PAIG, ] disse também que, com o Honório, não ia. Então o tenente [ Saraiva] disse que as avionetas que os iam levar, regressavam para depois levar o resto do grupo. Visto que um dos pilotos concordou, eu e o Tomás Camará ficámos a aguardar. As três avionetas levantaram com o pessoal e, passados dez minutos, vimos o Furriel Honório a dirigir-se para a sua Dornier. Virou-se para nós e disse:
– Vamos ?

O Furriel Morais e um soldado europeu foram ter com ele.
– Só vão vocês os dois ?
– É, eles dizem que não vão na sua avioneta!
– Mas, porque não ?

Saiu da avioneta e dirigiu-se para nós. Cumprimentou-nos e perguntou:
 – Por que é que vocês não querem ir comigo ?

Olhámos para o lado, nenhum de nós deu resposta. Ele disse:
– É, pá, isso é uma grande vergonha para nós! Eu sou preto. Levo brancos, que têm confiança em mim e vocês, que são meus patrícios, não querem ir na minha avioneta ? Vamos embora, pá, não há problemas!
– Eu não gosto de manobras no ar e o Tomás também não !
– Eu não faço nenhum tipo de manobras!

Depois pegou nos nossos equipamentos e disse:
 – Vamos embora!

Não havia outra maneira! Muito contrariados, embarcámos na avioneta. Tomou altura, virou para o sul e o voo correu muito bem até ao campo de Cufar. Aí o Honório viu um homem a andar sozinho, apontou o dedo e disse alto:
–Vou assustá-lo.

Eu já não sabia onde me meter. Ele baixou a avioneta e passou por cima do homem, que continuou a andar com calma.
– Ai, ele não fugiu ? Então, vou acertar-lhe com a asa da avioneta!

E baixou outra vez e ainda mais, parecia que ia atrerrar ali. O homem viu aquilo, que não era nada normal, e saltou para junto de uma árvore. Mas agora, para retomar altura,  é que me parecia mesmo muito difícil. Ao homem, a árvore tinha-lhe salvo a vida e a nós, pouco faltou para perdermos as nossas.

A partir deste incidente, nenhum de nós abriu mais a boca, até chegarmos a Cacine. Esta pequena vila fica junto ao rio. O piloto parou o motor e mergulhou, mergulhou. Só víamos água à nossa frente. Naquela altura, eu disse para comigo, até aqui foi brincadeira, mas agora ele não vai poder controlar a avioneta e vamos morrer todos. Era só água que eu estava a ver, tapei a cara para não ver mais nada e gritei com força. Ouvi o Tomás também aos gritos. De um momento para o outro, senti o estômago na boa, o avião estava a levantar, outra vez, a pique. Mesmo assim vi os morangueiros bem perto e, logo depois, entrou directo na pista e aterrou.

Saltou cá para fora, abriu a porta a cada um de nós e, quando sem qualquer tipo de fala, lhe virámos as costas, ele apalpou-me o rabo, para saber se eu tinha borrado as calças (…).

___________________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 4 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5935: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (20): O Honório e o 2º Sarg que dizia que se aguentava (Vítor Oliveira)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6191: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (4): Intervenção do Cor Inf Ref Manuel Bernardo


1.O nosso Camarada Manuel Bernardo, Cor Inf Ref, amável e prestimosamente enviou-nos, para divulgação,  o texto da sua alocução no lançamento do livro do Amadú Djaló, Guineense,  Comando, Português,  informando-nos ao mesmo tempo, que quem quiser pode consultar as fotos do evento no site Guerra do Ultramar:




Livro “Guineense, Comando, Português; Comandos Africanos 1964-1974”, 1.º volume

1. Cumprimentos

- Dr. Lobo do Amaral
- Cor. “Cmd” Raul Folques
- Dr. Nuno Rogeiro
- O autor Amadú Djaló
- Cmd Virgínio Briote

- Todos os presentes…

Não tenho os dotes oratórios dos camaradas e amigos que me antecederam e muito menos dos do professor e ilustre comentador da SIC, que é o Dr. Nuno Rogeiro, pelo que vou limitar-me a ler um texto que elaborei para esta ocasião.

Agradeço o amável e honroso convite que me foi formulado pelo Presidente da Associação de Comandos, Dr. Lobo do Amaral, com quem já colaborara na edição de um outro livro sobre o 25 de Novembro e também incluído nesta colecção Mama Sume, da Associação de Comandos.

Para quem não me conhece e não compreende a minha presença neste acto solene de apresentação do livro do Alferes graduado Amadú Djaló, adiantarei que me envolvi com a Guiné e com os guineenses, quando fui solicitado por um grande amigo e camarada do meu Curso de Infantaria, o Coronel José Pais, pouco tempo antes de falecer, para que eu denunciasse os crimes contra a humanidade praticados na Guiné, no pós-independência, contra os seus militares, e outros, que incluía os designados “comandos africanos”.
Apesar de nunca me ter deslocado a este território, fiz questão de cumprir a promessa feita.

Assim, nesse sentido, em 2007 publiquei o livro Guerra Paz e Fuzilamento dos Guerreiros; Guiné 1970-1980, onde, além dos 53 “comandos africanos”, na grande maioria oficiais e sargentos, identifiquei 182 elementos, que igualmente foram fuzilados clandestinamente pelas autoridades guineenses, depois de serem detidos, sem ser oficialmente formulada qualquer acusação.
Nesta cerca de duas centenas de vítimas estão incluídos 34 militares do Exército, 14 fuzileiros especiais e 14 milícias, além de vários régulos e cipaios.

Quero lembrar aos presentes que os nomes daqueles 53 “comandos” africanos mandados fuzilar clandestinamente pelo PAIGC, se encontram desde Novembro do ano passado inscritos nas paredes do Memorial dos Combatentes do Ultramar, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, depois de uma porfiada campanha nesse sentido feita pela Associação de Comandos.
Pena foi que nesse acto não tivessem tomado a posição de esclarecer as pessoas, e nomeadamente os combatentes,  dessa vergonhosa afronta e dos crimes praticados e consubstanciados nesse tipo de actuação.

Questões prévias

Antes de me debruçar sobre este livro do Amadú Djaló, permitam-me que, aproveitando estar junto de tantos militares e amigos, tente esclarecer dois assuntos, que foram referidos em livros publicados recentemente.

O primeiro tem a ver com a crítica feita pelo meu amigo Cor Brandão Ferreira, no seu último livro (Em Nome da Pátria) em relação à maneira como deviam ter sido solucionadas as guerras subversivas que enfrentávamos em Angola, Guiné e Moçambique. Ele não concorda com o princípio, que eu defendo, de que “a solução para este tipo de guerra deve ser política, através de negociações para a paz, e de preferência em posição de força.”
Julgo que, genericamente, o princípio deverá ser este. Recordo ter sido o utilizado pelo General De Gaulle, na Argélia… E lembrava igualmente ter ocorrido, em 1972, a última oportunidade perdida pelo anterior regime de iniciar um processo negocial na Guiné, como foi proposto a Lisboa pelo então General António de Spínola, na sequência de um encontro com o Presidente do Senegal, Leopold Senghor.

O segundo diz respeito a uma referência errada à minha actuação antes e pós 25 de Abril, em relação ao falecido Marechal Spínola, feita pelo Professor Luís Nuno Rodrigues, na biografia deste oficial, publicada recentemente e lançado na semana passada, em Lisboa.

Afirma o referido autor, com base na transcrição de um livro meu (Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975) em relação a um passo significativo para a reintegração de Spínola na sociedade portuguesa, o seguinte:

“(…) Os “fiéis” de sempre voltam a cerrar fileiras em torno do Velho. Em 1977, um grupo de oficiais, entre os quais Manuel Monge. Manuel Amaro Bernardo e Caçorino Dias, solicitaram ao CEME, General Rocha Vieira, que resolvesse a sua situação remuneratória (…). Meses depois, a 27-2-1978, Spínola foi finalmente reintegrado nas FA (…).”

Daquilo que conheço apenas o Manuel Monge poderá ser considerado um “fiel de sempre”, pois o Caçorino Dias apenas o terá conhecido em 1973, numa visita à Guiné, a propósito da contestação desencadeada ao Congresso de Combatentes e eu nunca o tinha visto, contactado ou trabalhado com ele até essa altura (1977). Apenas tive ocasião de lhe falar pela primeira vez, quando pedi uma entrevista, em 1993, para um trabalho universitário, depois publicado no livro Marcello e Spínola; a Ruptura (…)”.

E dos cinco oficiais, onde eu me incluo e que tomaram essa atitude de solidariedade castrense, os dois não transcritos do meu texto – os então Major José Pais e Capitão Ribeiro da Fonseca –, poder-se-iam considerar muito mais ligados ao Marechal desde os tempos da Guiné, onde prestaram serviço e comandaram companhias em operações.

Lembro ainda que imediatamente antes dessa afirmação, no livro Memórias da Revolução (…), eu frisava que apenas tinha conhecido António de Spínola depois de ele regressar do exílio, pós-11 de Março de 1975.

Mas eu já estou habituado que façam más transcrições dos meus livros, como aconteceu, com o Dr. Almeida Santos, para o seu Quase Memórias. Mas terão sempre que me ouvir em relação aos erros cometidos…, pois estou no meu direito de tentar restabelecer a verdade dos factos.

Um grande “comando” guineense”

Entrando na análise desta obra, começaria por dizer que o seu autor foi um militar perseverante e distinto, que percorreu as funções das três classes atribuídas aos combatentes: praça (soldado e cabo), sargento e oficial, ao longo dos 11 anos que durou a guerra na Guiné.
Amadú Djaló, com o Curso de Comandos, que frequentou em 1964, seria transformado de um jovem comerciante independente, na vida civil, num grande combatente.
Para tudo na vida é preciso ter sorte e ele teve-a com os militares que foram seus instrutores e, depois, com o Alferes Maurício Saraiva, comandante do seu grupo (Os Fantasmas) e que foi considerado como um dos melhores combatentes da Guerra do Ultramar.

A este propósito lembro que os instrutores e monitores deste Curso de Comandos foram militares muito valentes, quer na Guiné, quer nos outros teatros de operações.
Quatro deles viriam a ser galardoados com a mais alta condecoração, a Ordem Militar da Torre Espada, do Valor Lealdade e Mérito, em 1969/70: Tenente Jaime Abreu Cardoso, 2.º Sargento Ferreira Gaspar, 2.º Sargento Marcelino da Mata e Capitão Maurício Saraiva. Dos restantes, sete seriam condecorados com a Cruz de Guerra (alguns com mais que uma).

Aliás, durante a guerra da Guiné, e por feitos praticados em operações foram condecorados com a Torre Espada mais quatro oficiais dos comandos: Major Almeida Bruno, Capitão Ribeiro da Fonseca, e os guineenses Cherne Sissé e João Bacar Jaló.  Pena foi que o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, o Coronel Raul Folques (aqui presente e também na capa deste livro), que já se distinguira em Angola e condecorado com uma terceira Cruz de Guerra em 1973, não tivesse merecido da hierarquia militar a ambicionada Torre Espada.



Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Os nossos camaradas, membros do nosso blogue, João Parreira (de costas) e Mário Dias, ex-comandos do CTIG (1964/64), em conversa com o comandante Apoim Calvão (em segundo plano, entre os dois).

Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados


Quanto ao conteúdo da obra poder-se-á dizer que se trata de uma história triste, contada na primeira pessoa ao logo destas 300 páginas, como tristes e dramáticas serão todas as histórias de guerra.
Nela se descrevem as acções onde as nossas tropas sofrem feridos e mortes de camaradas, que com eles conviviam no dia-a-dia. Essas são marcas que ficarão para sempre na nossa memória. O autor fez bem em salientar, em anexo, os nomes de todos eles.
Na fase inicial de combate, no Grupo Fantasmas do então Alferes Maurício Saraiva já se nota, muitas vezes, uma mistura dos guerrilheiros com as populações, por conivência ou ameaças sobre elas, o que dificulta a actuação, sem os designados danos colaterais.
No entanto, o bom senso e a experiência do Amadú foram factores importantes para o bom andamento das operações. A sua actividade nos “comandos” manteve-se após a saída deste oficial, com a sua integração no Grupo Centuriões do Alferes Luís Rainha.

Após a intensa actividade operacional entre 1964 e 1966, nesses grupos de “comandos”, Amadú sentiu a necessidade de descansar para “recarregar as baterias”, voltando à sua condição de condutor. Assim, durante três anos passou pela CCS/QG e por vários batalhões: o BCav 757, o BCaç 1877, o BCav 1905 e BCaç 2856, que estiveram sedeados em Bafatá.

Com a ordem de regressar aos “comandos” em 1969, com vista à formação da 1.ª CCmds Af., Amadú, tal como os seus antigos camaradas Braima Bá e Tomás Camará, regressou às lides operacionais, agora (1970) sob a liderança do Tenente João Bacar Jaló, um figura mítica e muito considerada pelas gentes da Guiné.

Mas, antes,  ainda teve que frequentar um curso acelerado com o então Capitão “Comando” Barbosa Henriques, um militar que, depois do 25 de Abril, prestaria serviço comigo no Tribunal Militar.

Recordo a manifestação sentida dos “comandos” guineenses residentes na área da grande Lisboa, com os seus trajes típicos maometanos, no dia do seu funeral, há alguns anos, no cemitério do Alto de S. João. Despediram-se do seu amigo com o habitual grito “Mama Sume”

Grandes operações nos países vizinhos

Além das mais variadas operações feitas em todo o território e nomeadamente nas matas de Morés ou da Cobaiana, saliento as duas efectuadas em território estrangeiro.
A Mar Verde, na Guiné-Conacri, em Novembro de 1970, em que previamente surgiram dúvidas nos elementos da 1.ª CCmds Af. sobre a sua participação naquelas condições e onde actuaram juntamente com elementos dissidentes daquele país.
Os principais objectivos acabariam por não ser conseguidos, devido a falhas dos serviços de informações em relação à localização dos aviões e do presidente Sékou Turé, mas ocorreu o notável feito da libertação de 26 portugueses, que o PAIGC mantinha em prisões na capital do país.
Nesta operação a companhia de Comandos teve uma baixa de peso, pois o Tenente Januário Lopes desertou e entregou-se com o seu grupo de 24 homens. Esta não é porém a versão de Marcelino da Mata, com acção de comando importante à frente do seu grupo, após a morte do alferes na fase inicial, e que diz terem-nos deixado para trás por falta de coragem em os ir lá buscar na retirada.
O facto é que nas declarações à comissão da ONU, dias depois, Januário afirmou ter de facto desertado e acabaria por ser fuzilado com os seus homens no mês seguinte.

Amadú aquando dos preparativos para esta operação afirma no livro:
“(…) A nós, o PAIGC não nos poupava. Que me lembre não me recordo ver alguns dos nossos matar os feridos. Nem deixávamos nenhum ferido do PAIGC na terra de ninguém. Se estivesse ferido, pedíamos a evacuação para o Hospital Militar. Certamente que alguns de nós, brancos ou negros não se comportavam assim tão dignamente, mas não eram a maioria. E se fossemos apanhados pela tropa do Sékou Turé, de certeza que não haveria nenhum sobrevivente. (…)

A segunda, a operação Ametista Real,  foi realizada em Maio de 1973, à base de Cumbamori, no Senegal, em que seria empenhado todo o Batalhão de Comandos Africano, sob o comando do então Major Almeida Bruno.
O objectivo, desta vez, foi conseguido, pois levou à destruição dos depósitos de armas e munições e numerosas baixas no PAIGC, tal como seria parado, pouco tempo depois, o cerco a Guidaje, que já durava havia três semanas.

O Batalhão de Comandos também sofreu bastantes baixas e a retirada do Senegal para o território da Guiné foi deveras penosa e feita com grandes dificuldades. Seria mais uma vez a grande experiência do Amadú e o apoio eficiente dado pelos aviões da Força Aérea a resolver a situação no final da operação. O autor descreve o sucedido, nas pag. 253 e 254:
“(…) Continuámos a retirar em direcção à fronteira. Não podíamos forçar muito, porque o Jamanca (tenente e comandante da companhia) só podia andar com o apoio de alguém e o Capitão Folques, com a perna ferida também tinha muita dificuldade em andar e estávamos ainda longe de Guidage.
“Pedimos apoio á aviação, mas recusaram. Que estavam a a voar muito alto e era difícil localizarem-nos. (…) Perguntei ao soldado que transportava o morteiro se tinha alguma granada de fumo. (…) O Capitão Folques transmitiu para os aviões (…). Disparei com o morteiro para sinalizar o local a partir do qual os aviões podiam bombardear.
“Uma grande bola branca de fumo já tinham visto dos aviões, ouvimo-los dizer. A partir deste momento, o Capitão Folques disse sueste do fumo, a sul, a sudoeste e a oeste, arrasar tudo, tudo! (…) Essa granada de fumo ajudou-nos muito. (…)
“Chegámos junto do arame farpado de Guidage entre as 18 e as 19H00, mortos de sede e fome. Em Guidage não havia nada para comer. Nem medicamentos. (…)

Como se vê, foram tempos dramáticos e de grande sofrimento os passados nessa altura… E pelas transcrições feitas julgo que ficarão de algum modo elucidados sobre o conteúdo desta obra.

Antes de terminar apenas quero fazer duas pequenas observações.
A primeira em relação ao editor, por na contra-capa não ter colocado outra fotografia do autor, em que no fundo estivessem nomes de guineenses (talvez os fuzilados e colocados recentemente no Memorial do Bom Sucesso) e não os que se encontram nessa foto.

A segunda por o autor não fazer qualquer referência à actuação do Marcelino da Mata naquelas grandes operações, atrás referidas, onde ele teve desempenho brilhante e relevante.
Lembro ainda o facto de ele ter sido o militar mais condecorado do Exército Português em toda a Guerra do Ultramar. Mas o Amadú Djaló, na pág. 243 do livro, esclarece a sua atitude em relação a este oficial:

“O ambiente entre nós nem sempre foi o melhor. Havia rivalidades étnicas que se cruzavam com os problemas que ocorriam em qualquer unidade militar. “

A terminar, quero elogiar o autor por esta significativa e importante obra hoje foi aqui lançada e que acabou por ser publicada mercê da sua persistência de vários anos.
De assinalar igualmente o trabalho meritório do “Comando” Virgínio Briote, que contribuiu bastante para a execução deste projecto, tal como na sua eficiente divulgação.
Elogio igualmente o editor, Dr. Lobo do Amaral, Presidente da Associação de Comandos, por numa altura de crise geral e editorial, nomeadamente em relação aos livros de ensaio ou memórias, se ter abalançado na sua publicação.

Muitas felicidades para os três, para o Coronel Raul Folques e para o Dr. Nuno Rogeiro, assim como para todos os presentes.

Muito Obrigado!

Manuel Bernardo
Lisboa, 15-04-2010
_________

Nota de MR:
Vd. último poste da série em:

18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6180: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (3): Intervenção do Cor Cmd Ref Raúl Folques

sábado, 19 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2458: Os sulcos... e as estrias da G3 (Mário Dias / Virgínio Briote)



Em S. Vicente, no regresso a Bissau, depois da Op Atraca, no corredor de Canja. Setembro de 1966. Ou como não se devia transportar a G3, como ensinou vezes sem conta, o nosso Furriel Mário Dias.

Foto: Virgínio Briote (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Mário Dias sobre a G3, a propósito dos sulcos que eu, quarenta anos depois e ainda instruendo, confundi com as estrias. Assim se vai fazendo a história dos aprendizes (*). Claro que pensei duas vezes, antes de perguntar ao Mário se ele estava a falar das estrias da G3. Tal como o conheci, fiel a ele próprio, minucioso e delicado como naqueles tempos, o Mário passa por cima. Grato, meu Furriel, por mais esta lição.

Caro Briote

Obrigado pelo reparo que fizeste sobre as estrias da G3 que são realmente 4, helicoidais, e enrolam no sentido dextorsum. (Ainda me recordo deste palavrão).

Mas, no meu texto, não me refiro às estrias propriamente ditas que se situam no cano. Falo de uns sulcos em linha recta, longitudinais, existentes na câmara da arma e que se destinam a fazer com que o cartucho não fique totalmente "colado" às paredes da dita câmara.

Esses sulcos, ao receberem os gases da explosão, permitem que o invólucro do cartucho seja extraído com maior facilidade. Se esses sulcos ou ranhuras estiverem obstruidos com qualquer sujidade a extracção pode não se realizar. Deves estar recordado que era um dos pontos que nós fazíamos questão de inspeccionar introduzindo o dedo mínimo na dita câmra para ver se o retiravámos limpo ou sujo. Alguns, eu por exemplo, até brincavamos com isso dizendo que era uma operação semelhante à que se faz para ver se as galinhas estão ou não prestes a pôr um ovo. Continuo com a dúvida se esses sulcos ou ranhuras era ou não 6. Creio que eram. No entanto, peço ajuda aos camaradas da Tabanca com a memória mais fresca que esclareçam esta dúvida.

Um grande abraço para toda a Tabanca, especialmente aos editores.

Mário Dias


__________

Nota de vb:

(*) O cano da minha G3

"As reclamações do costume, uma das mulheres do Tomás Camará à porta de armas, que marido, não dava dinheiro há que tempos, tinha que pagar arroz, ele não dá dinheiro, nosso alfero!



Tomás Camará. Na estrada Ingoré-Barro em Set 1966.

E porque vens falar comigo, eu não sou teu marido, fala com o Camará! Mas, nosso alfero, ele não vai a casa, meninos não têm que comer, eu não tem que dar! Como te chamas, qual é teu nome? Binta? Nome lindo, quantos pesos bó precisa?

Um dia igual a tantos outros. Aplicação militar de manhã, banho, carreira de tiro, almoço, uma sorna a seguir. Lá para as quatro, frente a Brá, exercícios com as equipas, progressão das parelhas por lances, projécteis nos troncos das palmeiras quando mostravam o quico, eles outra vez aos ziguezagues, granadas para cima, reunir as equipas para o regresso. No caminho em direcção ao aquartelamento, alguns mais descontraídos, já relaxados, a conversa a alargar-se, uma granada ofensiva para cima, para lhes lembrar que nas guerras não há descansos. E nove deles para o hospital, dar trabalho ao pessoal de enfermagem, como se eles já não tivessem que chegasse, para retirar-lhe um a um, os pequenos estilhaços que lhes tinham calhado na brincadeira.

À noite, cross até à entrada de Bissau, pelas margens da estrada, a cantarem, eu vi a BB na avenida marginal, a andar de lambreta, mas que lasca bestial…toda nua, nua, nua, toda nua…volta à rotunda, para trás até Brá. Para o quarto de banho, para o chuveiro, para onde há-de ser? E depois, tens alguma ideia? Ideias, não me fales em ideias, Vilaça, às vezes são tantas que até atrapalham.

Um dia, curso terminado nem há uma semana, tinha tido uma que, passados meses, ainda o moía. Fora até uma carreira de tiro que tinham improvisado, dois ou três kms para lá da base aérea. Pegara na G3, um cunhete ainda fechado, jeep na esgalha, como de costume. Mirara os alvos, garrafas de cerveja, de uísque, latas e mais latas, umas pelo chão, outras penduradas nos arames, umas atrás das outras. Do cunhete sobrara a caixa de madeira, pisava cápsulas, pelo chão mais de cinco mil de certeza, as que tinha gasto mais as que por lá tinham ficado de sessões anteriores. Depois, mais calmo, com o final da tarde a aproximar-se, sentara-se no jeep, arma com o cano a deitar fumo no banco de trás, ouvidos a zunirem, de regresso a Brá, uma brisa a dar-lhes.

Arma no quarteleiro, para limpeza completa. No dia seguinte, acordara com a voz esganiçada do Sany, nosso alfero, capitão Saraiva quer falar com o senhor.

Encontrou o capitão no gabinete às voltas com um relatório. Os bons dias amigáveis que dera não tiveram resposta, se calhar não ouviu, embrulhado com a papelada, nada que fosse da especialidade do Sariava.


Cap Maurício Saraiva, idolatrado e odiado. Um mal amado em Brá.1965

Viu-o levantar-se, o olhar de poucos amigos, e o que ele tinha para lhe dizer. Uma G3 na mão, o capitão disparou, quem foi o asno que fez esta merda?

Olhei para a arma, era a minha. Um pequeno lanho na ponta do cano, sem tapa chamas. Não foi um asno, fui eu, a arma é a minha, não, não há dúvida, é mesmo a minha, admitiu depois de ter passado os dedos pela racha.

Ora bem, os olhos do cap dentro dos óculos, como é que o alferes quer resolver isto?

Vou pagar, tem que ser, olhos nos óculos. Pagar vai, isso está fora de dúvidas, agora vamos ver como quer pagar, não é? Claro que há, aqui há sempre alternativas, responde o capitão.

A expulsão ou um par de chapadas, a escolha é sua!

Chapadas, expulsão?"



Guiné > Brá > 1965 > Os 4 Grupos de Comandos, sob o comando do Cap Nuno Rubim.

A expulsão é pública, sabia-o bem, já a fizera a um cabo. Os grupos formados em sentido, o clarim, o cabo em frente a tremer todo, escolta ao lado, a nota de expulsão em voz alta, o chefe de equipa a arrancar-lhe o crachá, os distintivos, o lenço, a entrega da guia de marcha para o QG, a escolta a conduzi-lo à porta de armas, esta a fechar-se, tudo seguido.
O par de chapadas devia ser em privado, mas mesmo assim, chapadas? Na cara?

Não sabia o que fazer, as alternativas não eram fantásticas. Vou pensar, meu capitão. Boa ideia, mas aqui e agora, alferes. Ficamos aqui os dois, até se decidir.

Ao lembrar-se como tudo terminara saiu-lhe uma gargalhada. O nariz a ferver, um abraço e o convite para jantar no Grande Hotel." (...)


Texto e fotos: Tantas Vidas, Blogue de Virgínio Briote, Lisboa

sábado, 15 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P961: No dia em que fui ferido pelos homens de Pansau Na Ina (João Parreira, Gr Cmds Fantasmas, Catungo, Maio de 1965)

Lisboa > Terreiro do Paço > 10 de Junho de 1965 > O Almirante Américo Tomás a condecorar o Ten Saraiva, comandante do Grupo de Comandos Fantasmas, com a Medalha de Valor Militar com Palma.

Guiné > Brá > 1965 > Guião do Grupo de Comandos Fantasmas.



Guiné > 1965 > Tita Sambo (Camjambari) > O Grupo Fantasmas. Final da operação Ebro, em 26 de Março. Para completar os intervenientes da Ciao, falta apenas a presença
do Cap Nuno Rubim que acompanhou o Grupo. Em pé: Cmdt Grupo Ten Saraiva, 5º da esq. e eu o 9º. O Fur Mil Morais está em frente do Saraiva e o Soldado Amadú à minha frente
(JP)


Guiné > Bissau > 1965 > Foto tirada no dia 11 de Junho, em frente ao Hotel Portugal, e por várias razões: Era o dia dos meus anos; fui a Bissau buscar o 2º Sgt. José Cabedo e Lencastre que vinha para o Centro de Instrução de Comandos; foi um dia depois da condecoração e promoção do Saraiva; os sapatos de pala castanhos que calçava atravessaram algumas bolanhas; de tarde saímos para instrução e à noite fui ai cinema UDIB ver o filme “Noites de Casablanca”, com a Sara Montiel (JP)

Texto e fotos: © João Parreira (2006) (ex-Furriel Miliciano Comando, Brá, 1964/66) (1)

Julgo que vale a pena deixar escrito alguns eventos, durante o período de 6 de Maio a 11 de Junho 1965, alguns deles relacionados com a operação Ciao na mata de Catungo, em Maio de 1965.

Na carreira de tiro dos paraquedistas, alguns dias antes tinha perdido uma aposta com o Morais, pelo que me competia em qualquer altura pagar-lhe um almoço no Grande Hotel.

Como alvo, daquela vez, foram escolhidas 3 garrafas distanciadas umas das outras (também havia quem preferisse latas e até granadas). A aposta consistia em, virados de costas para cada uma delas, e por 3 vezes consecutivas, dar um salto, enfrentá-las e, instintivamente com a
G-3 em patilha automática, dar apenas uma rajada de 3 tiros e, por sequência, acertar nas que ainda se encontrassem intactas.

Como não me foi dito que havia saída para o mato nesse dia, resolvi então convidá-lo para ir almoçar uma vez que faltavam poucos dias para ele regressar à Metróple.

Depois do almoço num ambiente calmo e agradável encontravámo-nos a beber whisky, a observar o que nos rodeava e a falar de coisas triviais, quando vimos o Tenente Saraiva dirigir-se para nós pelo que pensámos que se ia sentar connosco.

Desde o meu primeiro dia que senti que iria ter boas relações com o Ten Saraiva e assim aconteceu quer em Brá quer nas nossas deambulações por Bissau ou em operações. No mato admirava o seu empenhamento, a sua descontração e o seu à-vontade.


Guiné > Brá > O 1º Guião dos comandos em 1965 cujo lema, retirado da Eneida, de Virgílio, é Audaces Fortuna Juvat (2)
Afinal tinha acabado de chegar do Gabinete do Governador e Comandante-Chefe, onde tinha ido receber informações sobre uma operação e sabendo por alguém que me encontrava com o Morais no Grande Hotel, foi ter connosco e disse-me para regressar a Brá o mais depressa possível a fim de me equipar para dentro de poucas horas partir para uma operação no Sul da Província, tendo o Morais, que já tinha acabado a comissão de serviço, dito que também ia.

Então, foi-nos comunicado nessa altura que, dado o pouco tempo disponível, nos daria pormenores durante o trajecto.

Já em Brá vários camaradas dos outros dois grupos, ao saberem que o nosso grupo ía sair, insistiram com o Morais para não ir mas ele foi peremptório e disse:
- Já fiz tantas operações com o grupo que uma a mais não me faz qualquer diferença.

Progredindo silenciosamente por aqueles trilhos do mato naquela noite, escura como breu, em que à distância de um braço já não se via o camarada da frente, G-3 na mão e dedo no gatilho, 4 carregadores à cintura e nenhuma granada... (Aqui abro um parêntesis, para confessar que fiquei com uma certa aversão ao lançamento de granadas, que aliás todos nós as sabemos lançar, alguns porém só em teoria, desde que durante um tiroteio, numa das operação da CART 730 em que, para não largar a arma, resolvi utilizar só uma mão, pegando assim na granada com a mão esquerda e, sem pensar, uma vez que quer em treinos no CIOE, quer num dos combates já as tinha utilizado, daquela vez não sei o que é que me passou pela cabeça, o certo é que tentei imitar, talvez em desespero, o que via fazer em filmes de guerra, pelo que tentei puxar a argola com os dentes e o resultado foi óbvio, não só não consegui como fiquei com a ponta de um dente partido, tendo depois, como é natural, achado prudente ficar caladinho).


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CART 730 > 1965 > O João Parreira, antes de ingressar nos comandos, era furriel miliciano da CART 730... Ei-lo aqui com o Furriel enfermeiro Zaupa da Silva junto à tabuleta Olossato-Farim. Distâncias: Olossato: 11 km; Farim: 43 km.

Continuando a progressão, e com todos os sentidos em alerta para aquela operação que se afigurava espinhosa e tentando não perder o camarada da frente, dois pensamentos iam-me constantemente martelando a cabeça:
- o que é que eu ando para aqui a fazer no meio do mato nesta noite tão escura, sujeito a perder-me, levar com um balázio que me pode deixar incapacitado para toda a vida ou matar-me, quando ainda não há muito tempo me encontrava bem instalado e livre de perigo ?

E o outro:
- Anda para aqui um gajo a dar o corpo ao manifesto enquanto muita malta nova na Metrópole anda neste momento a divertir-se em bares e em boites, e outros mais expeditos piraram-se do país, quando...

Já estávamos tão perto do acampamento que quase de repente esbarrámos com um sentinela que foi mais lesto a detectar-nos, pelo que começou a fazer fogo, seguindo-se logo fogo cerrado dos seus camaradas.

Reagimos ao fogo até conseguirmos calar as armas do IN tendo depois entrado no acampamento que, segundo as informações que nos tinham sido dadas, era ocupado por cerca de 80 homens comandados por Pansau Na Ina.

Excitados com o êxito do golpe de mão em que não sofremos feridos e em que foram causadas baixas que não foi possível estimar, depois da debandada e a subsquente destruição do acampamento, seguimos carregados com todo o material abandonado pelo IN para junto de 1 Pelotão que nos aguardava a alguns quilóemtros de distância.

Ao alvorecer foi possível olharmos com mais atenção para esse material, que a seguir descrevo:

Pist Met PPSH >3 ;
Carregadores p/ Met PPSH > 10;
Bolsas lona p/ carregadores PPSH > 8;
Espingarda semiautomática M-52 > 1;
Esp Mosin-Nagant > 1;
Pistola CESKA > 2;
Carregador p/Pist. Ceska > 1;
Aparelho pontaria p/Mort. 60 > 1;
Granada Mort. 60 > 4 ;
Capas lona p/Mort. > 3;
Mina A/P PMD-7 > 3;
Granada de mão defensiva DEF F-1 > 7;
Granada de mão ofebsiva RG-4 > 4;
Cunhetos p/Gr Mão Of RG-4 > 1;
Sabre p/esp. Mauser > 1;
Carr. p/ ML RPD > 4;
Carr. p/PM 25 > 2;
Cunhetos metálicos p/mun. > 2;
Lâminas carregadores p/esp. Simonov > 23;
Estojo limpeza p/esp. Simonov > 1;
Cartuchos cal. 7,62 > 1.262;
Cartuchos cal. 7,65 > 39;
Cartuchos cal. 7,9 > 773;
Cartucheiras diversas > 13;
Detonadores pirotécnicos > 27;
Disparadores para minas > 11;
Disparadores tipo MUV > 10;
Petardos > 4;
Cordão neutro > 4 mts.;
Bornais lona > 15;
Suspensórios lona > 23;
Bolsas lona p/carr. Degtyarev > 3;
Bolsas lona p/acessórios > 3;
Almotolias > 3;
Capecetes aço > 1;
Calças caqui > 8;
Camisas caqui > 7

Outro material: Vários livros e documentos. Material sanitário diverso: pensos individuais; ligaduras; algodão; comprimidos de sulfamidas; embalagens de penicilina; frascos de Sanergina; pinças; tesouras; tesouras de laquear; seringas; agulhas para injecções e ligaduras elásticas.

Pela razão já anteriormente descrita, foi dito ao Morais e ao Amadú para, a título voluntário, regressarem ao acampamento juntamente com outros que os quizessem acompanhar.

Andávamos descontraídos dentro do acampamento à procura de mais material, tendo por isso substimado a estratégia do IN, pelo que passado não muito tempo fomos todos nós (eramos 10) repentinamente atingidos por aquela bem orientada e por isso maldita granada de LGFog, ao que se seguiram durante algum tempo rajadas de várias armas.

(Em suma: O grupo que devido às circunstâncias foi muito sacrificado, era composto no início por 30 homens. Em 28 de Novembro de 1964 uma explosão no regresso de uma operação causou 8 mortos e 2 feridos que foram evacuados para o HMP, em Lisboa. Tendo sido interveniente em mais operações, só no início de Fevereiro de 1965 foi recompletado com um Furriel (!!!). Em 20 de Abril de 1965, na região do Inscassol ficámos 4 feridos com estilhaços de granada.)

Não sei como, mas o certo é que apesar de feridos em Catungo ripostámos e aguentámo-nos como pudémos até que com alívio vimos a chegada dos restantes elementos do Grupo que, ouvindo o tiroteio e pensando que estávamos em apuros, foram em nosso socorro e assim afastaram o perigo.

Depois de se certificarem que o IN tinha desaparecido ajudaram-nos a chegar até junto do Pelotão que nos aguardava, onde foram então feitos tratamentos sumários aos feridos, tendo o Grupo regressado a Cacine e daí para Bissau, com excepção de dois que de Cacine foram directamente de heli para o Hospital (3).

No Hospital durante uma visita da D. Beatriz Sá Carneiro, ela perguntou-me o que é que eu precisava e lembrei-me então de lhe pedir um Monopólio para a caserna dos nossos praças, tendo ela satisfeito o solicitado.

Por ironia do destino, em 22 do mesmo mês de Maio o Ten Maurício Saraiva, deslocou-se a Lisboa a fim de no dia 10 de Junho, no Terreiro do Paço, ser promovido a Capitão por distinção e condecorado com a Medalha de Valor Militar com Palma.

No dia em que o Ten Saraiva estava a ser agraciado fomos para terrenos perto da Base Aérea fazer treinos de saltos de helicópteros e um dos instruendos que ia no meu atrapalhou-se de tal maneira que ao saltar bateu com toda a força com a G-3 num dos vidros que o partiu.

Passados vários meses, o Alf Rainha (4) para se vingar dos danos infligidos aos seus camaradas do Grupo extinto, foi, estòicamente, com o seu recém-formado grupo Centuriões, no qual tinham sido integrados dois ou três dos feridos da Op Ciao atacar o mesmo acampamento.

No jornal Os Centuriões, oferecido em 21 de Agosto de 1965 pela Centuria em Brá
ao Centro de Instrução de Comandos cuja abertura foi dedicada aos velhos Fantasmas pode ler-se.

"Nós os Centuriões, sucessores dos famosos Fantasmas, dedicamos-lhes este terceiro número do jornal como prova de admiração pelos seus feitos e faremos o possível para os igualar e superar se a isso, como diz Camões, “não nos faltar engenho e arte” (ser comando é uma arte).

"Queremos aqui deixar também a nossa homenagem aos nobres soldados de Os Fantasmas, caídos no campo da luta em defesa do torrão Pátria e garantir aos vivos que faremos todo o possível para vingar as suas mortes" (...)


E a seguir, do Jornal dos Comandos do Grupo Fantasmas no Asilo em Brá, de 19 de Outubro de 1964:

HERÓIS DA NOSSA HISTÓRIA

Relato da estória passada com o 2º. Cabo indígena BARO BALDÉ em 1935-1936 nas operações militares que se realizavam nessa altura nos Bijagós:
Nas operações militares de Canhabaque (Guiné) em 1935-1936, foi louvado pelo Governador, Major CARVALHO VIEGAS, que as dirigiu, o 2º cabo africano BARO BALDÉ, do Corpo de Polícia, “pela forma disciplinada e corajosa como se portou durante as operações, principalmente no combate de Inhoda, onde, vendo cair ferido, inanimado, o 1º. Cabo europeu FARIA VENTURA, cobriu-o com o seu corpo, tomando conta da metralhadora que este manejava, e não deixando o inimigo aproximar-se, quando tentou apoderar-se do referido cabo europeu para o levar como troféu, segundo o costume gentílico”.
A Cruz de Guerra, cuja concessão o mesmo Governador propôs para BARO BALDÉ, teria assentado bem no peito deste bravo e dedicado Soldado da Guiné, cujas virtudes militares fariam inveja a muitos soldados europeus.
____________

Nota de L.G.

(1) Vd. posts anteriores do autor (ou a ele referentes):

3 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74- CCCXXX: Velhos comandos de Brá: Parreira, o últimos dos três mosqueteiros

6 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLI: O 'puto' Parreira, do grupo de comandos Apaches (1965/66)

13 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXIII: O baile dos finalistas do Liceu de Bissau de 1965 (João Parreira)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXI: Comandos: a equipa dos Fantasmas (1964)

20 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLIII: Com a CART 730 em Bissorã e Olossato (1965) (João Parreira)

06 > Guiné 63/74 - DCCLXXVII: O Justo foi fuzilado (Leopoldo Amado / João Parreira)

23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)

12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P868: Diabruras dos comandos (João Parreira)

13 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P872: A minitertúlia do 10 de Junho de 2006

19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)

30 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P929: Felizmente falharam os tiros no heli (João Parreira)
(2) Expressão latina que quer dizer: A sorte (fortuna) protege (juvat) os audazes (audaces)

(3) Vd também o blogue do nosso camarada Virgínio Briote > Tantas Vidas > post de 18 de Fevereiro de 2006 > Nino ? Sentido > 14. Capitão Manilha

(4) O Rainha já uma vez nos contactou mas agora reparo que o seu nome não consta na lista dos membros da nossa tertúlia... Reproduzo aqui o post de 4 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXVII: Com imensas saudades daquela terra maravilhosa (Luis Rainha)

1. Recebi um e-mail de mais outro camarada dos velhos comandos de 1964/66: trata-se do Luis Manuel Nobreza D'Almeida Rainha, hoje com sessenta e quatro anos:"Serve esta para vos dar a conhecer um ex-comando da Guiné e que foi comandante do Grupo de Comandos Centuriões. Fui camarada de Virginio Briote que já é vosso conhecido. Tenho imensas saudades daquela Terra maravilhosa onde passei bons e maus momentos, mas nos quais sobressaem os bons.

"A minha presença naquelas paragens foi um amealhar de recordações, e hoje tenho uma saudade enorme dos meus antigos Camaradas (...).

"A minha actual direcção vai aqui:

Luís Rainha
3ª Travessa da Rua Quinta do Grou, 4 - r/c Esq. Casal da ROBALA
3080-398 FIGUEIRA DA FOZ

2. Comentário do Virgínio Briote:O Luís Rainha foi o comandante dos "Centuriões", um grupo que deu que fazer ao Pansau Na Ina, um dos adjuntos do Nino. Um dia, ou uma madrugada não sei, entrou-lhe tão sorrateiro no acampamento que teve tempo de apanhar o boné que o Pansau tinha trazido de Pequim. E a pistola também, uma bela arma, nacarada, que, pelo que sei, muitos anos depois lhe veio a trazer problemas. Nem a cruz de guerra o salvou!

Um abraço,
vb

Comentário de L.G.:

Virgínio e João:
Não conseguem trazer o Raínho à nossa tertúlia para ele nos contar esta estória do boné do Pansau Na Ina que deve ser de antologia ? E, já agora, também a estória dos dissabadores que a pistola do famoso guerrilheiro lhe trouxe, mais tarde, em Portugal...