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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8092: In Memoriam (74): No dia 9 de Abril de 2011, a cidade de Matosinhos homenageou os pescadores mortos no naufrágio de 2 de Dezembro de 1947 e os combatentes da Guerra do Ultramar caídos em campanha (Carlos Vinhal)

Memorial aos mortos na tragédia de 2 de Dezembro de 1947 e aos matosinhenses caídos em campanha na Guerra do Ultramar

A juventude matosinhense em África, uma das várias figuras pictóricas, de autoria do Prof Alfredo Barros, que se podem admirar no Memorial imaginado pelo Arq Abreu Pessegueiro.

Força Militar presente na cerimónia, composta por elementos da Fanfarra do Regimento da Artilharia 5 e por um Pelotão (-) da Escola Prática de Transmissões, comandada pelo Alferes Hélder Leão

As cerimónias tiveram início com o Alferes Hélder Leão apresentando a formatura ao Ten Cor Armando José Ribeiro da Costa

As alocuções iniciaram-se com a intervenção do Mestre José Brandão, Presidente da Associação de Pescadores Aposentados de Matosinhos.

Ribeiro Agostinho, ex-combatente na Guiné (e membro da nossa Tabanca Grande),  fala em nome dos seus camaradas.

Momento em que o senhor Ten Cor Armando Costa, na qualidade de Comandante das Forças em presença e na de Presidente da Comissão instaladora do Núcleo da Liga dos Combatentes em Matosinhos, tomou a palavra.

O Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto fala aos presentes

Manuel Tavares de Sousa, ex-combatente na Guiné ao serviço da Armada Portuguesa, no momento em que declamava os poemas.

O Coro da Associação dos Pescadores Aposentados de Matosinhos que com a sua actuação encerrou a cerimónia de homenagem aos Pescadores e aos combatentes falecidos. 

Francisco Oliveira, o Porta-bandeira durante a cerimónia, acompanhado pelo nosso camarada e tertuliano António Maria.


MATOSINHOS HOMENAGEIA OS PESCADORES MORTOS NO NAUFRÁGIO DE 2 DE DEZEMBRO DE 1947 E OS COMBATENTES CAÍDOS EM CAMPANHA NA GUERRA DO ULTRAMAR

No Dia do Combatente, 9 de Abril de 2011, a cidade de Matosinhos prestou homenagem conjunta aos seus heróis do mar, os pescadores mortos no naufrágio de 2 de Dezembro de 1947, e aos seus heróis da Guerra do Ultramar, os combatentes caídos em campanha naquela guerra de África*.

A iniciativa partiu de um pequeno grupo de ex-combatentes da Guiné (António Maria, Carlos Vinhal, Francisco Oliveira e Ribeiro Agostinho) e da Câmara Municipal de Matosinhos na pessoa do seu Presidente, Dr. Guilherme Pinto, e a colaboração do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, na pessoa do senhor Ten Cor Armando Costa coadjuvado pelos senhores Sargentos Ajudantes Carlos Osório e Joaquim Oliveira, que organizou todo o programa de homenagem.

Assim, pelas 10 horas da manhã, a Igreja Matriz encheu-se de fiéis para assistirem à Missa de sufrágio pelos pescadores e militares que iriam ser homenageados dali a pouco no Cemitério de Sendim. Esta cerimónia religiosa foi presidida pelo Capelão Militar, coadjuvado pelo Pároco de Matosinhos.

Seguidamente houve deslocação para o Cemitério. Apesar do calor que se fazia sentir, os matosinhenses não deixaram de marcar presença assim como as autoridades civis e religiosas do Concelho que se associaram deste modo aos familiares dos pescadores e dos combatentes homenageados.

Com a chegada ao local do Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Dr. Guilherme Pinto, iniciou-se a cerimónia de homenagem com apresentação da Força Militar presente, pelo seu Comandante Hélder Leão, ao senhor Ten Cor Armando José Ribeiro da Costa, da Liga dos Combatentes.

Iniciaram-se as alocuções com a intervenção do Mestre José Brandão, Presidente da Associação dos Pescadores Aposentados de Matosinhos, que relembrou desastre do dia 2 de Dezembro de 1947 e a desgraça que se abateu principalmente sobre a classe piscatória, onde pereceram mais de 150 pescadores, a maioria de Matosinhos, mas também alguns naturais de Aguda e da Póvoa de Varzim, todos justamente aqui lembrados, porque todos contribuíam para o engrandecimento desta (então) Vila, na altura detentora do maior Porto de Pesca de Portugal.

Seguiu-se a intervenção do ex-combatente da Guiné, Manuel José Ribeiro Agostinho, que falou em nome dos camaradas presentes, realçando o significado deste Memorial que em Matosinhos perpetua os seus filhos caídos na Guerra Colonial. Lembrou que a partir de agora vai ser tempo de pensar em algo que lembre o esforço dos matosinhenses que,  não morrendo em campanha, têm também o direito ao reconhecimento do seu esforço naquela guerra. Muitos carregam mazelas irrecuperáveis, principalmente stress pós-traumático e deficiências físicas. Que se espera uma colaboração profícua entre Câmara Municipal, os ex-combatentes e o Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes para levar a efeito esta iniciativa, apesar das condicionantes económicas actuais.
Foi ainda lançada a ideia de cada freguesia do Concelho poder homenagear os seus combatentes, assim se queira.

Tomou depois a palavra o senhor Ten Cor Armando Costa, da Liga dos Combatentes,  que realçou uma vez mais o esforço e a abnegação dos militares que participaram na guerra colonial, assim como os pescadores, também eles homenageados que de comum tiveram a coragem para enfrentar os perigos com que depararam. Que Matosinhos, a partir de agora passa a figurar entre as autarquias que esculpiu na pedra o reconhecimento a uma geração que não envergonhou a História de Portugal. Lembrou também as actuais participações das Forças Armadas Portuguesas mundo fora, num conceito bem diferente, mas levando, em acções humanitárias,  bem longe o nome de Portugal.

Para terminar as alocuções, tomou a palavra o Dr. Guilherme Pinto que salientou o sentido de heroicidade comum aos pescadores e aos militares que enfrentam perigos desconhecidos, sem vacilar, dando a vida no desempenho da sua missão, mesmo sabida de antemão, arriscada. Que neste Memorial ficam para sempre gravados os nomes destes heróis.

Discursos do camarada Ribeiro Agostinho, Ten Cor Armando Costa e Dr. Guilherme Pinto
Com a devida vénia a Mário Rêga

Aconteceram então os momentos mais altos da cerimónia quando a Fanfarra procedeu ao Toque de Sentido, seguido do Toque de Silêncio e o Capelão Militar benzeu o Memorial.

O Edil de Matosinhos procedeu à deposição de duas coroas de flores, acompanhado simbolicamente por um representante dos Pescadores, um representante dos ex-combatentes e pelo Ten Cor Armando Costa.

Seguiu-se o Toque de Homenagem aos Mortos, 1 minuto de silêncio, Toque de Alvorada e Toque de Descansar.

De acordo com o alinhamento da cerimónia, o nosso camarada Manuel Tavares de Sousa, ex-combatente da Guiné como militar da Armada Portuguesa, seguidamente leu dois poemas, um bastante conhecido, do Paco Bandeira, que deu origem a uma canção de grande sucesso e, outro, que se publica, de sua autoria escrito especialmente para este dia.


Finalmente, o Coro da Associação dos Pescadores Aposentados de Matosinhos interpretou dois temas alusivos ao mar e à sua faina.

Como foi sugerido pelo do Dr. Guilherme Pinto, convido a quem visitar Matosinhos a se deslocar ao Cemitério de Sendim para admirar aquela bonita obra imaginada por dois vultos importantes do norte ligados à arte e à arquitectura, o Prof Alfredo Barros e o Arq Abreu Pessegueiro. Verão que não dão o tempo por mal empregue.

Fotos: © Carlos Vinhal e Ribeiro Agostinho (2011). Todos os direitos reservados
Texto e edição de fotos: Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste da série de 3 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8039: In Memoriam (73): Cerimónia de homenagem aos Combatentes de Matosinhos caídos em Campanha em Angola, Guiné e Moçambique, dia 9 de Abril de 2011 pelas 11H15 no Cemitério de Sendim (Carlos Vinhal)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5380: Os nossos camaradas guineenses (13): Homenagem aos 53 comandos africanos fuzilados no pós-independência (Manuel Bernardo)


Lisboa > Monumento aos Mortos do Ultramar > 14 de Novembro de 2009 > Regina Mansata Djaló, viúva do Alferes graduado 'comando' africano Demba Cham Seca, apontando com o dedo o nome do seu marido, um dos 53 militares do Batalhão de Comandos Africanos, fuzilados no pós-Independência, e que passaram a figural na memorial dos Mortos do Utramar.

Fotos: © Manuel Bernardo (2009). Direitos reservados



1. Mail enviado ao nosso editor Virgínio Briote, com data de 17 de Novembro:


Assunto - Homenagem aos 'comandos' africanos fuzilados II

Caro Senhor/Amigo:


Com pedido de divulgação junto remeto o 2.º texto sobre este assunto.

Cor Ref Manuel Bernardo


2. Homenagem aos 'Comandos' africanos fuzilados clandestinamente na Guiné
por Manuel Bernardo

(…) O meu marido era o Alferes graduado 'Comando' Demba Cham Seca.


(…) Á terceira vez foi novamente detido, no dia 21 de Março de 1975, pelas duas horas da tarde. Quando, à noite, fui levar-lhe comida à esquadra de polícia de Bafatá, disseram que ele já não precisava dos alimentos. Soube, depois, que, nessa noite foi mandado para Bambadinca, onde foi fuzilado juntamente com outros. Os Tenentes Armando Carolino Barbosa e o Tomás Camará foram dois deles.

(…) Na certidão de óbito, conseguida apenas em 2000, consta: 'Faleceu de fuzilamento, por ter servido com entusiasmo o Exército Português'.

Regina Mansata Djaló, in 'Guerra Paz e Fuzilamento dos Guerreiros' (...) (2007), p 358.



Decorreu no passado dia 14 de Novembro, as celebrações do aniversário do armistício (I Guerra Mundial), da fundação da Liga dos Combatentes e do 35.º aniversário do final da Guerra do Ultramar.

A cerimónia foi presidida pelo novo Ministro da Defesa Nacional, Santos Silva, que foi acompanhado pelo também novel Secretário de Estado da Defesa Nacional [e dos Assuntos do Mar], Marcos Perestrello [...]. Estiveram igualmente presentes os quatro chefes militares e o Presidente da Liga dos Combatentes, General Chito Rodrigues.

Depois das habituais honras militares, foram homenageados os três militares falecidos na Guiné, na zona de Guidaje (cerco por muitas centenas de guerrilheiros do PAIGC a esta povoação, durante quase um mês), em Maio de 1973, e cujos corpos foram recuperados pela Liga dos Combatentes, num programa a decorrer nos três teatros de operações para esse efeito; isto é, no caso da Guiné para identificação e concentração no cemitério de Bissau em condições com alguma dignidade. Depois, os que as famílias demonstrarem interesse em serem trasladados para Portugal, julgo que tal poderá ser levado a efeito com o patrocínio de outras entidades.

Foram eles o Furriel Mil José C. M. Machado, de Valpaços, o 1.º Cabo Gabriel F. Telo, da Calheta/Madeira, e o Soldado Manuel M. R. Geraldes, de Vimioso, que depois seguiram aos seus destinos.

E ninguém falou nos 'comandos' africanos fuzilados…

De seguida, o Ministro da Defesa, acompanhado pelo Presidente da Liga dos Combatentes e do Presidente da Associação de Comandos, Dr. Lobo do Amaral, procederam ao descerramento das placas com os nomes de 53 'comandos' africanos (20 oficiais, 29 sargentos e 4 soldados), fuzilados clandestinamente a partir de Março de 1975, 'apenas' por terem combatido com honra e brio no Exército Português, no teatro de operações da Guiné, vários deles durante quase toda a guerra.

Nos discursos do General Chito Rodrigues, do General CEMGFA Valença Pinto e do Ministro da Defesa esta situação de fuzilamento nunca foi referida. Nem D. Januário Torgal Ferreira, na sua oração por alma dos militares, ou o locutor de serviço o mencionou.

Assim, não podemos ficar admirados pelo facto do Correio da Manhã, na sua edição do dia seguinte tenha noticiado: “No Monumento aos Combatentes foi ainda descerrada uma placa com o nome de 53 comandos mortos na Guiné.” Nem disseram que eram africanos e guineenses, nem que foram fuzilados pelo PAIGC.

Deste modo a mensagem que passou para o público foi que os 53 militares portugueses foram agora colocados por, do antecedente, lá não estarem por qualquer lapso da organização do Memorial (**)…

Pode perceber-se o melindre desta situação, já que se trataram de crimes contra humanidade (não prescrevem), mas volto a repetir o que já disse em texto anterior. O General Nino Vieira, em Novembro de 1980 (confirmado nos meses seguintes), depois de ter tomado conta do poder na Guiné-Bissau, assumiu a autoria, por parte do PAIGC, antes liderado por Luís Cabral, dos fuzilamentos clandestinos de cerca de 500 pessoas e que foram enterradas em valas comuns de 35 a 38 pessoas. Isto veio publicado no jornal oficial do PAIGC - edições de 14 e 29-11-1980 e 18-1-1981 (in Manuel A. Bernardo, Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros Guiné: 1970-1980, Lisboa 2007, pp 119 a 127).

O combate à corrupção vai ser a sério?

Lembro o que afirmou o Ministro da Defesa Nacional: “(…) Todos os soldados mortos ao serviço da Pátria merecem momentos de reflexão e que o século XX foi duro a todos os níveis”. E mais à frente acrescentou: “Homenageamos os esforços de todos, curvamo-nos perante os que morreram e apoiamos os ex-combatentes e os deficientes das Forças Armadas. (…)”

Será que esse apoio, agora reafirmado, também tem que ver com a revisão das decisões tomadas pelo seu antecessor, que retirou aos combatentes direitos adquiridos, tal como a diminuição do quantitativo da fraca pensão anual, que um governo de maioria PSD/CDS tinha atribuído (na minha ocorreu uma redução de cerca de 75%)? Não acredito, já que, para este Governo, a crise internacional e nacional parece justificar tudo, excepto os casos de corrupção que vão proliferando ao longo dos tempos. [...]

Enfim, a Verdade dos acontecimentos, quer já de natureza histórica, como o ocorrido com os referidos fuzilamentos clandestinos dos 'Comandos' africanos, quer dos casos de corrupção que alastram por esse País, acabará por vir ao de cima. Demorar mais ou menos tempo depende de uma sociedade civil mais activa, que exerça os seus direitos de cidadania e os accione através dos mecanismos, que tem ao seu dispor numa Democracia e num Estado de Direito.

PS - Junta-se a fotografia de Regina Djaló que, em 14-11-2009, aponta para o nome do marido Demba Seca, fuzilado na Guiné e agora constante do Memorial dos Combatentes do Ultramar.


Cor Inf Ref Manuel Amaro Bernardo

16-11-2009

[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
___________

Notas de L.G.:

Sobre o Cor Inf Ref Manuel Bernardo:

"O Coronel, na situação de refoma, Manuel Amaro Bernardo cumpriu quatro comissões em Angola e Moçambique. Em 25 de Abril de 1974 encontrava-se colocado na Academia Militar. Na altura do 25 de Novembro de 1975, então no Regimento de Comandos, fez parte do Posto de Comando que coordenou as acções militares" (VB).

Vd. alguns dos postes que já publicados sobre o livro de Manuel Bernardo (e não Bernardes, como às vezes por lapso foi publicado no nosso blogue):

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)

31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2711: Notas de leitura (6): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de M. Amaro Bernardo (Mário Fitas)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2713: Notas de leitura (7): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Resposta a um Combatente (M. Amaro Bernardo)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5376: Os nossos camaradas guineenses (12): Os 53 comandos africanos mortos... Fuzilados, corrige o velho Issumane Baldé (Francisco Costa / Lusa)


1. O nosso camarada Fernando Costa (ex-Fur Mil Trms da CCS do BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, 1973/74) ) mandou-nos há dias cópia de notícia da Lusa, sobre a cerimónia da Liga dos Combatente, do dia 14 do corrente, com o seguinte comentário:  "O Velho Baldé foi o único que disse a verdade"

[Reprodução, com a devida vénia]


Defesa: Santos Silva descerrou placa com 53 militares comandos mortos na Guiné


Lisboa, Portugal 14/11/2009 19:19 (LUSA)

Temas: Política, Defesa, governo, Sociedade

Lisboa, 14 Nov (Lusa) - O ministro da Defesa Nacional descerrou hoje uma placa com 53 nomes de militares comandos mortos na Guiné, numa cerimónia inserida nas comemorações do 91º aniversário do Armísticio de 1918 e no 86º  aniversário da Liga dos Combatentes.

Após receber honras militares no Monumento dos Combatentes, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, Augusto Santos Silva participou também nas condecorações a membros da Liga dos Combatentes e na condecoração, a título póstumo, com a Grã Cruz da Medalha de Mérito Militar, do major general Carlos Manuel Costa Lopes Camilo.

O ministro, que esteve acompanhado do secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrello, assistiu também à cerimónia que assinalou a transladação dos restos morrtais de três soldados mortos na guerra da Guiné.

"Curvemo-nos perante os três corpos dos militares tombados na Guiné e pelos 53 soldados portugueses cujos nomes passam a figurar numa placa hoje descerrada", disse Santos Silva, ao intervir na cerimónia que contou com a presença dos diversos chefes militares, incluindo o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Valença Pinto.

Na ocasião, o ministro enfatizou o importante papel da Liga dos Combatentes não só no apoio e solidariedade para com os seus associados mas também na promoção e difusão dos valores e símbolos que fazem a identidade nacional.

Santos Silva considerou "excepcional" a ideia da Liga dos Combatentes de englobar também nestas comemorações o 35º  aniversário do fim da guerra portuguesa em África (Moçambique, Angola e Guiné), um palco de conflito armado em que "as tropas portuguesas deram o seu melhor, executando as missões que lhe foram confiadas" pelo poder político vigente na altura - a ditadura.

Pela guerra em África passaram "mais de um milhão de portugueses", referiu o ministro, que falou também do cruzamento de civilizações e do encontro de culturas subjacente aquele "destino português".

Quanto ao presente e ao futuro, o ministro apontou as importantes missões que as Forças Armadas Portugueses têm na imposição e manutenção da paz e em acções humanitárias, num quadro das alianças a que pertencem.

Quanto à placa hoje descerrada com os 53 nomes de militares comandos mortos na Guiné, já o ministro tinha abandonado o local e ainda ali permanecia um idoso, de nome Issumane Baldé, que assegurou à Lusa que, apesar de não ter sido dito na cerimónia, aqueles soldados naturais da Guiné tinham sido "fuzilados" após o regresso das tropas portuguesas.

FC.
Lusa/Fim

[ Revisão / fixação de texto / título / bold e sublinhados: LG]

___________

Nota de L.G.:

Vd. os últimos postes desta série:

 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4582: Os Nossos Camaradas Guineenses (11): Ernesto… procuro saber algo sobre este meu Amigo guineense (António Matos)

 14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4526: Os Nossos Camaradas Guineenses (10): Bodo Jau, mais uma história de miséria, que nos revolta (Carlos Silva)

25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4411: Os Nossos Camaradas Guineenses (9): O que (não) sabemos sobre os comandos africanos (Virgínio Briote)

13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4332: Os Nossos Camaradas Guineenses (8): Braima Baldé, ex-Alf Cmd Graduado, BCA (1938-1975) (Amadu Djaló / Virgínio Briote)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4818: Dia 8 de Agosto de 2009, Lavra presta homenagem aos seus ex-combatentes (Carlos Vinhal)

No passado sábado, dia 8 de Agosto, a Freguesia de Lavra, do Concelho de Matosinhos, prestou homenagem aos mortos em campanha na Guerra Colonial que estão sepultados no cemitério local, e ao descerramento de um memorial no jardim em frente ao edifício da Junta de Freguesia, lembrando todos os Lavrenses que participaram naquela guerra.

Presidiram a estes actos, o Presidente da Junta de Freguesia de Lavra, senhor Rodolfo Maia Mesquita; Presidente da APVG (Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra), Prof. Doutor Augusto Jesus Oliveira Lopes Freitas e em representação do Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, o Dr. António Fernando Correia Pinto.

No cemitério local, no Panteão ali existente, foi descerrada um lápide com os nomes dos militares ali sepultados e depositada uma coroa de flores.

Nomes inscritos na lápide:

Fernando de Jesus Nogueira
José Gonçalves dos Santos
Albino Dias de Sousa
Manuel Azevedo Carvalho
Januário Joaquim Silva Santos
Sebastião Gomes de Matos

O sacerdote que se ocupou da parte religiosa da cerimónia, terminou com uma alocução onde salientou os malefícios da guerra, lembrando que acabada esta, os políticos bebem champanhe, enquanto os ex-combatentes são relegados ao esquecimento.

Viveram-se momentos tocantes quando se procedeu à chamada dos camaradas falecidos, ali evocados, com a assistência a responder PRESENTE. Um Bombeiro Voluntário, ali presente, interpretou o Toque de Silêncio, seguido do momento de recolhimento que a ocasião impunha.

Falaram seguidamente o Presidente da Junta de Freguesia e o Presidente da APVG, lembrando ambos o esforço que a guerra exigiu a uma geração, quase em fim de vida, a quem nunca foi feita justiça.

No jardim frontal ao edifício da Junta de Freguesia, foi descerrado e benzido um Memorial lembrando o esforço de todos os Lavrenses que participaram na Guerra Colonial. Como Memorial, convenhamos que é muito discreto, mas fica registada a iniciativa.

Seguiu-se uma cerimónia mais formal no Salão Nobre da Junta de Freguesia, sendo a Mesa da Presidência ocupada pelas mesmas entidades.

Começou por falar o Presidente da APVG que numa longa intervenção fez um historial da acção dos militares desde o princípio da guerra colonial até ao 25 de Abril, terminando, batendo na mesma tecla do esquecimento a que os ex-combatentes foram votados.

Falou das iniciativas da APVG em prol dos ex-combatentes que atravessam momentos menos bons da vida, e que são muitos. Atacados pela doença, alcoolismo, stress pós-traumático, abandono por parte da família e consequente vivência na rua, há imensos ex-combatentes muito carenciados. Tudo se faz para colmatar estas necessidades a alguém que já não sabe o rumo, nem consegue viver com normalidade.

Seguiu-se a intervenção do senhor Presidente da Junta de Lavra, que também na qualidade de ex-combatente em Angola, falou das cerimónias realizadas naquele dia e dos combatentes em geral. Retive uma frase relacionada com o esquecimento a que nos remeteram - "Se o povo anda distraído, os combatentes não". Atrevo-me a perguntar se o nosso camarada, permita-se-me este tratamento, se se referia ao Povo propriamente dito ou aos seus legítimos representantes.

Lembrou Rodolfo Mesquita os nossos camaradas sepultados por tudo quanto foi teatro de operações, em cemitérios abandonados, e cujo regresso ao chão pátrio é da mais elementar justiça.

Propôs que o dia 8 de Agosto, em Lavra, fosse doravante dedicado aos ex-combatentes Lavrenses.

Por último, o Dr. António Fernando Correia Pinto, em representação do Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, tomou a palavra, começando por dizer que não sendo ex-combatente, sentiu de perto, tragicamente, os efeitos da guerra colonial, na pessoa de um familiar muito chegado, que veio a falecer em resultado de sequelas contraídas como militar.

Mantendo a tónica dos oradores anteriores, salientou o esquecimento e o abandono a que os ex-combatentes foram sujeitos pela sociedade.

Seguir-se-ia uma palestra versando o tema stress pós-traumático a que já não assisti pelo aproximar da hora de almoço.

Cerimónia religiosa junto ao Panteão do cemitério de Lavra

O Panteão. Do lado esquerdo, a placa com os nomes dos militares mortos em campanha e a coroa de flores depositada momentos antes.

O Presidente da APVG no uso da palavra após o descerramento do pequeno Memorial a todos os Lavrenses ex-combatentes da Guerra Colonial

Vista do Memorial localizado no Jardim em frente do edifício da Junta de Freguesia

Pequeno e discreto, no meio do Jardim.

O Presidente da APVG no uso da palavra, no Salão Nobre da Junta de Freguesia

Pormenor da assistência, no Salão Nobre da Junta de Freguesia

Fotos: © Ribeiro Agostinho e Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3987: Recortes de Imprensa (14): Soldados mortos na guerra colonial terão memorial no Porto, JN de 5/3/2009 (Jorge Teixeira)

1. Mensagem de Jorge Teixeira com data de 5 de Março de 2009:

Caros amigos
Leiam esta notícia. Pelo menos a minha cidade vai ter um Memorial recordando os nossos mortos.

Ao Carlos Vinhal, se achar por bem, pode colocar lá na Tabanca Grande um poste.
Na nossa de Matosinhos já lá está.

Um abraço de amizade para todos.


2. Com a devida vénia, transcrevemos uma notícia inserida no Jornal de Notícias de hoje, 5 de Março de 2009




Porto

Soldados mortos na guerra colonial terão memorial no Porto.
Os 167 militares do Porto que morreram em combate nas ex-províncias ultramarinas portuguesas vão ser recordados num Memorial que será construído nas imediações do Castelo de S. João da Foz, revelou Miguel Lencastre, um dos promotores da iniciativa.

"Na cidade do Porto não há nenhum memorial que recorde os combatentes que nasceram neste concelho", frisou Miguel Lencastre, acrescentando que "alguns camaradas de armas desses combatentes não se conformaram com a situação e propuseram-se a reparar a omissão",

Nesse sentido, em meados de 2008, foi criada a Associação para o Monumento de Homenagem aos Militares do Porto que Combateram no Ultramar, cujo único objectivo é a construção do Memorial.

O projecto deste monumento, da autoria do arquitecto Rodrigo Brito, vai ser apresentado publicamente a 12 de Março, numa cerimónia que terá lugar no Castelo de S. João da Foz.

"O monumento não será majestático nem sumptuoso, mas será digno", salientou Miguel Lencastre, da direcção da associação promotora da iniciativa.

O Memorial, basicamente constituído por placas de bronze onde serão gravados os nomes dos militares portuenses que morreram em combate nas antigas colónias portuguesas, será instalado num local situado no exterior das muralhas daquele castelo, situado junto à Foz do Douro.

Segundo dados oficiais do Estado-Maior General das Forças Armadas, são 167 os militares naturais do Porto que perderam a vida na guerra colonial.

Miguel Lencastre salientou que a associação não recebeu qualquer promessa de apoio das entidades oficiais que contactou, pelo que vai contar com a solidariedade dos portuenses para reunir os fundos necessários para a construção do monumento.

"Acreditamos que será uma questão de honra para os portuenses contribuir para este memorial, que pretende homenagear os que se sacrificaram pela Pátria", afirmou.

A Associação para o Monumento de Homenagem aos Militares do Porto que Combateram no Ultramar conta como membros dos órgãos sociais, entre outros, o coronel António Feijó de Andrade Gomes, que é o presidente da direcção, e o tenente-general Carlos de Azeredo, que preside à mesa da assembleia-geral.


3. Comentário de CV

Ainda bem que o concelho do Porto vai perpetuar a memória dos seus ex-combatentes da guerra do ultramar.

Esperamos (espero) que este exemplo se multiplique pelos concelhos do País onde ainda não existe um memorial lembrando o esforço da nossa geração.

Espero que os autarcas do Concelho de Matosinhos resolvam a curto prazo homenagear os seus munícipes ex-combatentes, enquanto ainda vivos, porque já são volvidos 35 anos após o fim da guerra e nós não duraremos muitos mais.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste de 14 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3738: Recortes de Imprensa (13): A minha Guerra - José Paulo Pestana, Correio da Manhã, de 4/1/ 2009 (José Martins)

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Guiné 63/74 - P706: Aqueles que não constam do Memorial dos Mortos do Ultramar (Jorge Cabral)

Mensagem do nosso camarada Jorge Cabral:

Amigo Luís,

Oxalá tenhas passado umas boas férias. Gostaria de deixar claro que a reflexão publicada expressa apenas a procura do significado da Guerra na minha vida, a qual obviamente só ganhará sentido se assentar na análise de uma vivência muito própria. Evidentemente que éramos diferentes, passámos experiências diferentes e somos diferentes.

És o dono e administrador do blogue, que transformaste numa ampla e livre tribuna, na qual muitos colaboram, da forma e do modo que desejam. Por mim optei desde o início por contar estórias…, até porque não gosto de recordar tristezas. E fá-lo-ei enquanto mo deixares. Diz o Carlos Marques dos Santos, para quem envio um abraço, que não tem estórias para contar porque viveu sempre “entre quatro arames farpados”. Claro que discordo… mas não discuto.

Fui a semana passada visitado pelo Reitor da Universidade Amílcar Cabral de Bissau, Prof. Doutor Idrissa Embaló, de quem sou amigo. Levei-o a visitar o Memorial dos Mortos no Ultramar, e tivemos ocasião de constatar o grande número de soldados africanos mortos na Guiné, quase todos fulas. Ele comoveu-se, até porque lá encontrou o nome do tio, falecido no desastre do Cheche (2).

Também há poucos dias apareceu no meu escritório um guineense. Conversa puxa conversa, então não é que o homem foi soldado do Pel Caç Nat 58 que era comandado por um meu amigo e colega ?! Esteve preso e foi torturado, tendo assistido à execução de alguns comandos meus conhecidos, tendo-me descrito como foi morto o Ten Jamanca, em Bambadinca (3).

Parece que, quer queira quer não, continuo ligado à Guiné. Todos estes homens morreram por terem pertencido ao Exército Português. Então porque não constam os seus nomes do Memorial?

Envio uma estória-relato das peripécias da minha chegada e das vicissitudes da minha partida, ocorridas nos distantes anos de 1969 e 1971, respectivamente, e como sempre

Um Grande, Grande Abraço
Jorge
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Notas do editor

(1) Vd. post 12 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCXCVIII: Reflexão de Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63): recordar ou esquecer a Guiné ? E qual delas ?

(2) Vd post de 3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins)

Da lista dos 47 mortos no desastre do Cheche (elaborada pelo José Martins), constam os seguintes, naturais da Guiné:

3 Soldados:

Alfa Jau, natural da Guiné – CCAÇ 1790
Judite Embuque, natural de Guiné – CCAÇ 1790
Tijane Jaló, natural de Piche – Gabu, Guiné – CCAÇ 1790

1 Civil: Um caçador nativo não identificado.

(3) Pertenceu à 1ª Companhia de Comandos Africanos: vd post de 11 de JUlho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri . Participou ´na Op Mar Verdade (invasão da Guiné-Conacri, em 22 de Novembro de 1970).

(...) "O estranho e inexplicável rebate de consciência do supervisor da 1ª CCA (o então major Leal de Almeida) que inicialmente se teria recusado a participar na Op Mar Verde; o momento de hesitação do capitão graduado comando e herói Bacar Jaló; e, mais tarde, a deserção do filho da puta do tenente graduado Januário e dos seus homens, além da forma bizarra como actuou no terreno a equipa do alferes graduado Jamanca (as expressões em itálico não são minhas, mas do comandante Alpoim Galvão) não deixam, entretanto, de pôr em causa a tão proclamada eficácia, eficiência, disciplina e espírito de corpo dos comandos, sendo factos reveladores desta verdade tão simples e comezinha: mesmo os profissionais da guerra, mesmo a tropa de elite, por muito máquinas que sejam, não deixam de ser tão livres, responsáveis, vulneráveis e… até mortais como os outros homens, civis ou militares". (...)