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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12583: Manuscrito(s) (Luís Graça) (17): À uma e meia da tarde quando o relógio parou, na estrada de Nhabijões-Bambadinca, no dia 13 de janeiro de 1971... Homenagem a um grande sobrevivente, António Marques

1. Passou ontem uma efeméride, de triste memória para nós, CCAÇ 12 e CCS/BART 2917: há precisamente 43 anos, no dia 13 de janeiro de 1971, a escassos quilómetros de Bambadinca, à saída do reordenamento de Nhabijões (uma das coqueluches de Spínola e da sua 'Guiné Melhor'), duas viaturas nossas, com um intervalo de 2 horas, acionaram minas A/C. Resultado: 1 morto (da CCAÇ 12) e 6 feridos graves (da CCAÇ 12 e da CCS) foi o balanço, trágico, desse dia...

Ontem às 13h30 em ponto, o meu querido amigo e camarada António Fernando Marques telefonou-me a relembrar esse momento que nunca mais esqueceremos, ele e eu... porque está-nos gravado na carne e na alma... 

Já aqui em tempos o tinha homenageado através de um poema (*) que, de resto,  quero incluir no meu próximo livro de poesia... Fiquei muito sensibilizado pelo telefonema dele, que atendi à porta do consultório do meu médico... Coincidência: ia justamente fazer um exame de vigilância médica periódica, como mandam as regras da arte da boa conservação da saúde...

Confesso que, a princípio, não estava a perceber por que é que ele me estava a dar os parabéns...Pensei cá para comigo: "Bolas, mas  eu só faço anos daqui a 16 dias, no dia 29!"... Muito delicadamente dei-lhe a entender que ainda era cedo... Mas depois fez-se o clique, quando ele voltou a insistir: "Estão a fazer 13h30"...Só então se fez luz na minha mente: ele estava a querer referir-se à mina A/C em que ambos tínhamos caído, mais as nossas duas secções, numa velha GMC do tempo da guerra da Coreia!... Há precisamente 43 anos,  às 13h30, do dia 13 de janeiro de 1971, aos 20 meses de comissão!... Nas nossas barbas, à saída do reordenamento 8e destacamento) de Nhabijões!...

Que merda de memória a minha!... Agora estava a atender!... Desculpa, camarada!... Mas, parabéns, porquê ? Por estarmos vivos, termos sobrevido!'... Só podia ser!... Dois sobreviventes, eu e ele! E ele ainda mais do que eu, que teve uma longa convalescença de 2 anos... Senti que, do outro lado do telemóvel, o Marques estava emocionado. E lembrei-me de quanta sorte tivera eu nesse fracção de segundo que podia ter ditado a minha, a nossa morte...

Pedi-lhe desculpas por não ter, de imediato, associado a sua chamada à trágica efeméride. Sou mau em datas. Esqueço-me dos aniversários de familiares e amigos.  E,  para mais, das efemérides da guerra... São coisas que a gente esquece, recalca, sublima, escamoteia, branqueia, ignora ou faz por isso...

Para, de algum modo,  compensar a sua eventual deceção face à minha involuntária  indelicadeza, disse-lhe que estava a preparar um livro de poesia para publicação e que o poema que eu, em tempos, lhe tinha dedicado, aqui no blogue , sobre a explosão da mina em Nhabijões (*), deveria ser um dos poemas elegíveis para a minha antologia...

Pois aqui fica, em homenagem a um grande, a um digno,  a um teimoso e corajoso sobrevivente, o António Fernando Marques, ex-fur mil at inf, 4º Gr Comb, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71 + 2 de hospital militar)... Extensivo à sua Gina, uma grande mulher que deixou tudo para o ajudar a recuperar e reintegrar-se quando esteve no Hospital Militar Principal... Eles são um casal que eu muito admiro e têm dois filhos maravilhosos, que eu um dia ainda hei-de conhecer: uma comissária de bordo e um comandante da aviação comercial...

Esta é  a última versão do poema, revista ontem. Comecei justamente a escrevê-lo há 43 anos, no meu diário... E ficará para sempre inacabado... É uma espécie de suplício de Sísifo... É também uma homenagem a todos os meus camaradas que um dia, na guerra, conheceram o horror da explosão de uma mina, A/P ou A/C... (**)... Não posso deixar de lembrar quanto este poema (ou melhor, este singelo texto poético, que começou como prosa...)  é devedor ao genial poema de Frederico Garcia (1898 - 1936), Llanto por Ignacio Sánchez Mejías (1935), esse sim um dos poemas mais belos e mais trágicos da história da poesia universal. (***)



2. À uma e meia da tarde...

Ao António Marques

Era uma hora e meia da tarde
quando o relógio parou,
na estrada de Nhabijões-Bambadinca.

... O sol dos trópicos desintegrou-se.
O céu tornou-se de bronze incandescente.
Mil e um pequenos sóis riscaram o ar.
O mamute de três toneladas deu um urro de morte,
ao ser projetado sob a lava do vulcão.
Uma súbita explosão…
Um trovão que ecoa até ao Mato Cão,
a norte...
E depois o silêncio.
O silêncio da morte.

...À uma e meia hora da tarde
na estrada de Nhabijões-Bambadinca.

Sei que gritaste:
– Agarrem-se que a viatura vai despenhar-se!
Sei que foste projetado ao lado do condutor,
batendo violentamente
com a cabeça na chapa do tejadilho.
Sei que conseguiste equilibrar-te
dentro do caixão de ferro.
Sei que não vias nada.
Sei que a espessa nuvem de pó, envolvente,
exalava um forte cheiro a enxofre.
Mas ainda conseguiste pensar:
– O ar está rarefeito,
milhões de partículas de pó barrento
bloqueiam-me os pulmões,
vou sufocar dentro desta maldita cabina!

... Foi quando parou o teu relógio,
à uma e meia da tarde
do dia 13 de janeiro de1971,
à saída do destacamento de Nhabijões.

… Um curto-circuito ocorreu no teu cérebro,
como se tivesses sido eletrocutado.
Ficaste rigidamente colado ao assento,
a G3 entrelaçada nas pernas,
e a estranha sensação
de que a massa encefálica te tinha saltado da caixa craniana.
O olhar vidrado
de quem mergulhou nas profundezas da terra.
O gélido terror
de quem entrou num mundo desconhecido.
A antevisão da viagem pelo Rio de Caronte.
O calafrio da morte, 
trespassando o teu corpo da cabeça aos pés.

...À uma e meia da tarde
na estrada Nhabijões-Bambadinca.

Nunca saberás ao certo
quantos segundos se passaram,
mas houve um solução de continuidade,
essa fração de tempo
em que a tua consciência esteve bloqueada,
e os pulmões falharam,
e o sangue gelou,
e o coração parou,
de puro terror,
escreve, não tenhas pudor,
de puro terror...
até compreenderes que a velha GMC
tinha acionada... uma mina!

– Outra mina, meu Deus!,
que horror!
e instintivamente agarraste-te àquela carcaça de mamute,
mal refeito da surpresa de estar vivo.


...À uma e meia da tarde,
à saída do reordenamento de Nhabijões.

Quando saltaste para o chão,
tinhas, sob o olhar aterrado,
os destroços duma batalha:
corpos por todo o lado,
juntamente com espingardas,
cartucheiras,
cantis,
canos de bazuca e de morteiro,
granadas,
dilagramas,
um rádio,
bocados de chapa e de borracha,
quicos,
botas,
restos de camuflado,
numa profusão indescritível.
Corpos que gemiam,
que gritavam,
ou que talvez já fossem cadáveres.

...No vulcão de Nhabijões,
a oeste de Bambadinca,
Setor L1, 
Zona Leste,
Teatro Operacional da Guiné,
África subsariana,
Planeta Terra!

Mortos! Tudo mortos!
gritava-te o puto Umaru,
os braços abertos,
o pânico estampado no seu belo rosto de efebo,
menino fula feito soldado, 
sem o seu inseparável pequeno cachimbo,
que sempre usava para lhe dar o ar
de falso Homem Grande.

E logo ali o Transmissões,
o primeiro ferido que reconheceste,
todo encolhido junto ao colosso de ferro amalgamado,
numa postura fetal, de defesa,
em estado de choque.

Abeiraste-te depois do comandante da 1ª secção,
teu companheiro de quarto, 
 o Marques,
o teu querido Marquês sem acento circunflexo,
como o tratavas,
mas ele já não reagia à tua voz
nem às bofetadas que lhe davas no rosto,
o olhar vidrado
dos passageiros do barco de Caronte.
Aparentemente não tinha qualquer fratura exposta
mas de um dos ouvidos corria-lhe um fio de sangue.
Um fiozinho, 
vermelho e negro,
rapidamente oxidado em contacto com o ar.
Procuraste desesperadamente
os seus sinais vitais,
mas sua respiração era cada vez mais fraca,
e o pulso escapava-se-te,
entre os teus dedos,
como a areia da ampulheta.

Trágica ironia!,
um minuto antes,
ao subirem os dois para a viatura,
haviam disputado amigavelmente o 'lugar do morto'.
Vais tu, vou eu, vais tu, vou eu!...

À uma e meia da tarde de um dia treze,
ao vigésimo mês de Guiné,
em Janeiro de 1971.

Acabaste por ser tu a ir para o 'lugar do morto',
ao lado do condutor.
Mas daquela vez, e para sorte tua,
a mina rebentaria sob um dos rodados duplos traseiros da GMC,
embora do teu lado.
A velha GMC do tempo da Guerra da Coreia,
que gastava cem aos cem...
e que acabava de fazer a inversão de marcha,
de regresso ao quartel,
em Bambadinca.

Outra filha de puta de mina,
não detetada pelos nossos picadores,
fora acionada, na berma da estrada,
às portas do reordenamento de Nhabijões,
a coqueluche do comando do batalhão.
Porra, camaradas, 
a escassos metros da anterior,
já fora da estrada!

… À uma e meia da tarde
de um dia 13, 
que nem sequer era sexta-feira 13,
de azar!

Estavas de piquete,
quando duas horas antes uma viatura nossa
acionara uma mina.
Um frágil burrinho, um Unimog 411.
Ia buscar o almoço para o pessoal do reordenamento.
O condutor, o Soares, teve morte imediata.
O furriel Fernandes, também da CCAÇ 12,
o alferes sapador Moreira e outro militar,
ambos da CCS do batalhão,
ficaram feridos, com gravidade…

Mas só agora reparaste no velho Tenon,
no Ussumane, no Sherifo,
mesmo ao meu lado, a teus pés,
sem darem acordo de si.
E ainda no Quecuta, no Cherno
e no Samba, teu bazuqueiro,
arrastando-se penosamente sobre os membros superiores,
como lagartos cortados ao meio.

…À uma e meia da tarde
na estrada da morte,
com as palmeiras de Samba Silate
e o Rio Geba ao fundo.

As duas secções que seguiam atrás, na GMC,
tinham sido projetadas pelo vulcão de trotil,
como se fossem cachos de bananas.
Caso se seguisse uma emboscada,
então seria um massacre.
Tu eras o único que tinha uma arma na mão,
mas inútil, inoperacional, encravada,
devido ao choque sofrido…
Não deixaste de sentir um calafrio
ao imaginar-me sob a mira certeira dos RPG
e sob o matraquear das 'costureirinhas' e das Kalash.

… Ali, à uma e meia da tarde,
em Nhabijões,
na Guiné,
longe de Saigão,
'far from the Vietnam'.

Tinhas acabado de fazer o reconhecimento das imediações,
detetando o trilho dos guerrilheiros
que, durante a noite,
tinham vindo pôr as minas assassinas…
Eles faziam a guerra deles,
tão cruel e tão suja como a nossa.
Esse trilho, mais fresco,
acabava por confundir-se
com os usados pela população de Nhabijões
que, como tu sabias,
não morriam de amores pelos tugas…
Hoje sabemos os seus nomes,
os nomes dos que nos montaram as duas minas:
Mário Mendes, chefe de bigrupo,
e Mário Nancassá, sapador.

SOS, evacuação Ypsilon,
vais a correr para o heliporto,
sem soro,
sem garrotes,
sem pensos,
sem maqueiro,
sem mala de primeiros socorros!

...Numa luta desvairada contra o tempo,
na estrada Nhabijões-Bambadinca.

Era possível, entretanto, que houvesse mais minas
pela estrada fora.
Ainda hesitaste em mandar picar o terreno,
mais alguns metros em redor,
mas não podias perder nem mais um segundo,
para logo seguires de imediato,
para os helis que aguardavam os feridos mais graves,
em Bambadinca.
Mais até do que a solidariedade
entre camaradas de guerra,
mais até que a tua amizade pelo Marques,
de repente o que te terá movido,
o que te deu força anímica,
o que te deu uma raiva de vulcão,
foi o brutal sentimento do absurdo da morte,
do absurdo daquela guerra,
a raiva contra aquela guerra,
na véspera de fazeres 24 anos!.

… À uma e meia da tarde
nessa maldita picada do inferno.

Foi uma corrida louca, aquela,
na fronteira indefinida
que separava a vida da morte
na estrada de Nhabijões.
No primeiro Unimog 404 que te apareceu à mão,
e que levava um carregamento letal de feridos.
Três deles estavam em estado de coma
e tinham como destino outro inferno:
o hospital de Bissau,
os Alouettes III, roncando como o macaréu,
sobre o Geba, largo e medonho,
a incerteza do desfecho da luta entre a vida e a morte
aos vinte e poucos anos de idade.

…No dia 13 de Janeiro de 1971,
num dia que nem era sexta-feira,
mas que foi de terrível azar,
às treze e meia da tarde,
quando o teu relógio parou
à saída da grande tabanca de Nhabijões,
finalmente reordenada
e controlada…

Luís Graça, Bambadinca, 13/1/1971 / Lisboa, 13/1/2014 
[Revisto nesta data]


[Foto à esquerda: António Fernando Marques e Luís Graça. Bambadinca, s/d, c. 1970.  Foto de L.G.]

____________

Notas do editor:

(*) vd. poste de 28 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5717: Blogpoesia (64): À uma e meia da tarde...Em homenagem ao António Marques, que sobreviveu, dois anos depois, à explosão de um vulcão (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 1 de janeiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12529: Manuscrito(s) (Luís Graça) (16): desejos

(***) Há uma magnífica tradução de José Bento:

vd.  Frederico Garcia Lorca - Antologia poética: selecção, prólogo e notas de José Bento
 Lisboa: Relógio d'Água, 1993, 421 páginas. 

Sinopese:  Esta antologia contém a tradução integral de quatro livros de García Lorca: Romancero Gitano;  Poeta en Nueva York; Llanto por Ignacio Sánchez Mejías;  e Diván del Tamarit. Integra também uma selecção de Canciones e do Poema del Cante Jondo e sete sonetos de um livro inacabado.

sábado, 12 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12142: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (1): Comunicado do comandante do setor 2 da Frente Leste, de 27/1/1971, relatando duas ações: (i) A instalação de 2 minas A/C em Nhabijões, acionadas pelas NT em 13/1/71; e (ii) Flagelação ao aquartelamento do Xime, no dia seguinte


Página de rosto do portal Casa Comum, desenvenvolvido pela Fundação Mário Soares, e de  que se transcrever a seguir uma sinopse sobre "Arquivos e Memórias:"

"Os arquivos são essenciais à Memória. Preservar e disponibilizar a documentação dos nossos arquivos é, por isso, uma tarefa de grande prioridade. Para a gradual constituição de uma comunidade de arquivos de língua portuguesa temos, a partir de agora, esta Casa Comum.

"Com este projeto, sublinhamos a importância da conservação dos documentos para as gerações futuras, a confiança que os arquivos devem inspirar em matéria de preservação da autenticidade e da fiabilidade da informação de que são guardiães e a sua relevância enquanto elementos de identidade da memória e da história individual e coletiva."


Sobre o Arquivo Amílcar Cabral, disponível na Net desde 20/1/1973 (40º aniversário do assassinato do líder histórico do PAIGC), pode ler-se o seguinte: 

"Constituído por mais de 10.000 documentos (com cerca de 27.600 páginas), incluindo 1.300 fotografias, o âmbito cronológico dos Documentos Amílcar Cabral situa-se entre 1956 e 1976, com excepção de alguns documentos posteriormente incorporados por sua Filha, Iva Cabral, que se referem a actividades profissionais de Cabral e, também, a acontecimentos posteriores à sua morte. O Arquivo Amílcar Cabral, essencialmente organizado em Dakar e em Conakry, é constituído por documentação de cariz político, militar e diplomático produzida pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e pelo seu fundador, Amílcar Cabral." (...)

1. Em 23 de setembro passado, mandeio o seguinte email para a o portal Casa Comum, ao cuidado do administrador do arquivo e biblioteca da Fundação Mário Soares, o dr. Alfredo Caldeira: 

Meu caro Alfredo Caldeira:

Antes de mais, boa saúde e bom trabalho. Como já em tempos te manifestei verbalmente, tenho particular apreço pela paixão e rigor com que foram salvos, recuperados, tratados e disponibilizados, aos estudiosos e ao grande público, os documentos (ou parte deles) do Arquivo Amílcar Cabral. Esse trabalho é mérito da Fundação Mário Soares e dos seus dedicados e competentes técnicos, sob a a tua direção.

Esse trabalho merece ser melhor conhecido e reconhecido pelos antigos combatentes portugueses, mas também pelos guineenses que têm acesso à Net. É nesse sentido, e celebrando-se amanhã a efeméride dos 40 anos da independência da Guiné-Bissau, que eu te venho pedir a competente autorização, na tua qualkdiade de coordenador do projeto, para reproduzir, de acordo com as vossas normas técnicas e legais, alguns ou a totalidade dos documentos (na a maior parte fotos, incluindo as da Bruna Polimeni) a seguir listados, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné de que, como sabes, fui o fundador, e sou o principal administrador e editor. Publica-se há mais 9 anos, tem mais de 5 milhões de visualizações, possui um espólio de dezenas de milhares de fotos e documentos. 

Se assim o entenderes, contiunua a dispor do nosso blogue para os devidos efeitos, como fonte de informação e conhecimento,

Um Alfa Bravo (Abraço),
Luís Graça

2. A resposta veio a 2 do corrente:

Caro Luís Graça,

Obrigado pela tua mensagem e, como sempre tenho referido, pelo trabalho fantástico que tens feito no blog. 

Quanto às imagens solicitadas, levantam-se alguns problemas, que temos procurado evitar. Por isso, proponho a seguinte solução:

(i) Fotografias: cedemos cópia das fotografias com 72dpi de resolução e a dimensão máxima de 400 pixels;

(ii) Documentos: podem ser referenciados com um thumbnail (dimensão máxima 200 pixels) que serve de link para o documento em www.casacomum.org.

Todos estes elementos devem ser devidamente referenciados, conforme consta do campo "Fundo" na descrição que encontra no site.

Espero que entendas a solução proposta, que resulta de compromissos e equilíbrios com outras instituições.

Um grande abraço,
Alfredo Caldeira

Administrador
Arquivo & Biblioteca
Fundação Mário Soares
Rua de São Bento, 176
1200-821 - Lisboa
Tel: (+351) 21 396 4179
Fax: (+351) 21 396 4156
www.fmsoares.pt
www.casacomum.org

3. Transcrição de comunicado do PAIGC sobre acções levadas a cabo em Nhabijões (13/1/1971) e Xime (14/1/1971), referidas no poste P12139 (*), com revisão/fixação  de texto pelo editor L.G. O comunicado é manuscrito em papel de carta, com linhas.

Comunicado


No dia 13/1/71, um grupo de 5 camarada[s] armados estalaram [instalaram] 2 minas anti-carro na estrada entre Nhabions [Nhabijões] e Bambadinca, causou os [causando aos] inimigos de grandes perdas em vidas humanas, e destruiu [destruindo] 2 viaturas cheio[as] de tropas tugas que tinham ido [iam] pra [para] Bambadinca buscar comida para aqueles que ficaram na[em] Nhabions [Nhabijões].


Os Inimigos sofreram grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos.

Por no [nosso] lado não houve nada mau.
Dirigido por [pelos] camaradas:
Mário Mendes e Mário Nancassá.

No dia 14/1/71, os nossos artilheiros bombardiaram [bombardearam] guarnição fortificada de militares tugas no Xim[e], com canhões e morteiros 82, causou os [causando aos] inimigos estagionados [estacionados ] de grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos.
Por nosso lado, não houve nada mal.

Bombardiamento [bombardeamento] foi dirigido por [pelos] camaradas:

Djambu Mané, António da Costa e Bicut Iula [ou Tula] [?]

[Assinatura ilegível]

Sector 2 da Frente Leste, 27/1/71


Fonte:

(1971), "Comunicado - Frente Leste", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40689 (2013-10-12)


Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07200.170.117
Título: Comunicado - Frente Leste
Assunto: Comunicado da Frente Xitole Bafatá sobre as acções militares do PAIGC em Nhabiam, Bambadinca e Xime.
Data: Quarta, 27 de Janeiro de 1971
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Diversos. Guias de Marcha. Relatórios. Cartas dactilografadas e manuscritas. 1960-1971.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos

4. Comentário do editor:

Segundo informação do António Duarte, nosso camarada, membro da Tabanca Grande, ex- furriel miliciano da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão".

O Mário Nancassá era, por seu turno, o chefe do grupo de sapadores do setor 2 (Xime/Xitole). Foi ele que montou as minas em Nhabijões. Foi ele que matou o sold cond auto Manuel Costa Soares, da CCAÇ 12... A guerra também tem rostos!

Cotejando as versões dos acontecimentos, do nosso lado e do lado do PAIGC, é óbvio que eram diferentes as preocupações de rigor factual, bem como a literacia dos combatentes de um lado e doutro.  Mas fica aqui, para informação e conhecimento dos nossos leitores, o que sobre nós diziam e escreviam os homens que. no passado, foram nossos inimigos e contra os quais combatemos,

______________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 11 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12139: A minha CCAÇ 12 (29): 1 morto e 6 feridos graves em duas minas A/C, no reordenamento de Nhabijões, Bambadinca, em 13/1/1971, aos 20 meses de comissão (Luís Graça)

Resumo: Em 13/1/1971, às 11h24, na estrada Nhabijões-Bambadinca um Unimog 411 que ia buscar a comida para o pessoal do destacamento, accionou uma mina A/C, causando um morto e 3 feridos graves.

O gr comb da CCAÇ 12, que estava de piquete em Bambadinca,  dirigiu-se de imediato ao local... No regresso, duas horas depois, cerca das 13h30, a GMC que transportava duas secções,  accionou outra mina A/C, não detectada, na berma da estrada, a 10 metros da anterior. As NT sofreram mais cinco feridos graves, de imediato evacuados para o HM 241. 

No dia seguinte, em 14/1/1971, o IN flagelou o Xime, da direcção de Ponta Varela, com morteiro 82, "à distância,  sem consequências".

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12139: A minha CCAÇ 12 (29): 1 morto e 6 feridos graves em duas minas A/C, no reordenamento de Nhabijões, Bambadinca, em 13/1/1971, aos 20 meses de comissão (Luís Graça)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca >  CCS / BART 2917 (1970/72) > Janeiro de 1971 > Cemitério de viaturas de Bambadinca... O estado em que ficou o "buirrinho", o Unimog 411, conduzido pelo sold cond auto, da CCAÇ 12, Manuel da Costa  Soares, que teve morte imediata, aoaccionar uma mina A/C, à saúda de Nhabijões,  aglomerado populacional, em fase de reordenamento, e que era de maioria balanta, com parentes no "mato", sendo considerado sob "duplo controlo"... A sua proximidade ao Rio Geba e à grande bolanha de Sambasilate davam-lhe um valor estratégico...

Foto:  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. (Editada e legendada por L.G.)













Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Nhabijões > CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Um grande aglomerado populacional, de maioria balanta, com parentes no "mato", e que era considerada sob "duplo controlo"... A dispersão das diversas tabancas (1 mandinga e 4 balantas: Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe), sua proximidade ao Rio Geba, fazendo ponto de cambança para a margem direita (Mato Cão, Cuor...) e as duas grandes bolanhas (um delas a de Samba Silate, uma enorme tabanca destruída e abandonada no início da guerra), foram motivos invocados para começar a construir, a partir de novembro de 1969, um dos maiores reordenamentos da Guiné no tempo de Spínola. A aposta era também a conquista da população, fugida no mato e sob controlo do PAIGG, vivendo ao longo da margem direita do Rio Corubal (desde a Ponta do Inglês até Mina/Fiofioli)

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)




Guiné > Zona leste < Setor L1 > Carta de Bambadinca (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa  dop agloemrado populacionalde Nhabijoes, a oeste de Bambadinca

Infografia: Blogue Luís Graça & camaradas da Guiné (2013)

1. Em homenagem (póstuma) ao sold cond auto Manuel da Costa Soares, da CCAÇ 12, morto; em homenagem ao Luis R. Moreira (da CCS/BART 2917), ao Joaquim Fernandes, ao António Fernando Marques, felizmente todos vivos e membros da nossa Tabanca Grande; ao Ussumane Baldé, ao Tenen Baldé, ao Sherifo Baldé, ao Sajuma Baldé (todos da CCAÇ 12, soldados do recrutamento local, provavelvelmente já falecidos); e ainda ao soldado cond da CCS/BART 2917, Ribeiro Silva... todos eles gravemente feridos em duas minas anticarro que explodiram no dia 13 de Janeiro de 1970, à saída de Nhabijões (um dos reordenamentos que era a menina dos olhos de Spínola).

Eu também nunca mais esquecerei aquela data e aquele topónimo, Nhabijões. Nunca mais esquecerei a correria louca que fiz com um Unimog 404, carregado de feridos, pela estrada fora, de Nhabijões até Bambadinca, até ao nosso aeródromo aonde nos esperava o helicóptero para uma série de evacuações ipsilon.

Ainda hoje não sei explicar por que fui eu, além do condutor, o único do meu gr comb (, o 4º que estava de piquete,) que fiquei praticamente incólume mas inoperacional: umas contusões na cabeça (por projecção contra a parte inferior do tejadilho da GMC), e na perna direita; a G-3 danificada; tonto e cego de tanta poeira; etc.

Nhabijões era considerado um centro de reabastecimento do IN ou pelo menos da população sob seu controle.  Iam a Bambadinca, mas calmas, fazer compras... As afinidades de etnia e parentesco, além da dispersão das tabancas, situadas junto à  bolanha que confina com a margem esquerda do Rio Geba, tornavam impraticável o controle populacional, pelas autoridades administrativas e milçiatres.

Impunha-se, pois, reagrupar e reordenar os 5 núcleos populacionais, dos quais 4 balantas (Cau, Bulobate, Bedinca e Imbumbe) e 1 mandinga, e ao mesmo tempo criar "polos de atracção" (sic) com vista a quebrar a muralha de hostilidade passiva para com as NT, por parte da população que colaborava com o IN (desde o início da guerra, em 1963).

A partir de nvembro de 1969, um  gr comb da CCAÇ 12 passou a patrulhar quase diariamente as tabancas de Nhabijões cujo projeto de reordenamento estava então em estudo, a cargo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

A CCAÇ 12 participaria diretamente neste projeto de "recuperação psicológica e promoção social" (sic)  da população dos Nhabijões, fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelo alf mil op esp António Manuel Carlão, fur mil Joaquim A. M. Fernandes, 1º cabo at Virgilio S. A. Encarnação e sold arv Alfa Baldé que foram tirar o respetivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969;  e ainda 2 carpinteiros, ps 1º cabos aux enf Fernando Andrade de Sousa [, vive na Trofa], e Carlos Alberto Rentes dos Santos [, vive em Amarante].  E indiretamente,  criando as condições de segurança aos trabalhos.

Numa primeira fase fez-se  a desmatação do terreno, a fabricação de blocos (de adobe) e a construção de cerca de 300 casas de habitação e 1 escola. Durante este período a CCAÇ 12 realizou  várias ações, montando nomeadamente linhas descontínuas de emboscadas entre os 5 núcleos populacionais de Nhabijões, além de constantes patrulhas de reconhecimento e/ou contacto pop.

A partir de janeiro de 1970 seria destacado um pelotão da CCS/BCAÇ 2852 a fim organizar a autodefesa de Nhabijões. Admitia-se a possibilidade do IN tentar sabotar o projeto de reordenamento, lançando acções de represália e intimidação contra a população devido à boa colaboração prestada às NT.

A partir de abril de 1970, o reordenamento em curso passou  a ser guarnecido por 1 gr comb da CCAÇ 12. Na construção de novo destacamento estiveram empenhados o Pel Caç Nat 52 e a CCAÇ 12, a 3 gr comb, durante vários dias.

A segunda fase do reordenamento (colocação de portas e janelas, cobertura de zinco em todas as casas, abertura de furos para obtenção de água, etc.) começou  quando o BART 2917 passou a assumir a responsabilidade do Setor L1 (em 8 de junho de 1970), após terminar a comissão do BCAÇ 2852.

A partir de julho de 1970, a CCAÇ 12 deixou de guarnecer o destacamento de Nhabijões, tendo-se constituído um pelotão permanente da CCS/BART 2917 enquadrado por graduados da CCAÇ 12. Passei lá algumas "boas noites", com os gajos do PAIGC a comer e a beber nas nossas barbas,,, Nunca se atreveram a atacar-nos, à malta do destacamento à noite... mas no dia 13/1/1971 deixaram-nos dois "presentes envenenados", à saída no destacamento, na estrada (de terra batida) para Bambadinca, que ficava a escassos quilómetros... 

A. Continuação da séria A Minha CCAÇ 12, por Luís Graça (*) (**)... Estávamos com cerca de 20 meses de Guiné, e de intensa atividade operacional, desde que na segunda metade do mês de julho de 1969 tínhamos sido colocados em Bambadinca, como subunidade de intervenção ao serviço do comando do BCAÇ 2852 (até maio de 1970) e depois do BART 2917 (a partir de junho de 1970)... Éra previsível que,  a partir de fevereiro/março, começasse - para os quadros especialistas metropolitanos, pouco de mais de meia centena, que formavam a extinta CCAÇ 2590 e anova CCAÇ 12 - a tão desejada rendição individual.




Fonte: Excertos da História da Unidade - CCAÇ 12/CCAÇ 2590 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), cap II, pp. 44/45.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11077: A minha CCAÇ 12 (28): Dezembro de 1970: Flagelação ao pessoal e às máquinas da TECNIL, na nova estrada em construção, Bambadinca-Xime (Luís Graça)

(**) Vd. postes relacionados 

13 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10936: Efemérides (115): Nhabijões, 13 de Janeiro de 1971, morte na picada (Luís Rodrigues Moreira)


22 de janeiro de 2011> Guiné 63/74 - P7655: A minha CCAÇ 12 (11): Início do reordenamento de Nhabijões, em Novembro de 1969 (Luís Graça)

terça-feira, 30 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11508: Blogoterapia (227): Nhabijões: dois anos, dois pedaços de vida que muito valem (Francisco Santiago, ex-1º cabo trms, CCS/BART 3873, Bambadinca, 1972/74, e monitor do Posto Escolar Militar, nº 69)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > 1971 > CCS/BART 2917 (1970/72) > O estado em que ficou o burrinho, o Unimog 411, depois de accionar uma mina anticarro à saída do reordenamento de Nhabijões, em 13 de Janeiro de 1971, por volta das 11h25. Duas horas depois, era acionada outra mina A/C por uma GMC. Balanço: um morto e seis feridos graves. Estes brutais acontecimentos já aqui foram narrados em verso (*).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Mensagem, com data de 28 de abril,  de Francisco Santiago, membro recente da nossa Tabanca  (nº 614) (**), ex-1º cabo trms, CCS/BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), ex-monitor do Posto Escolar Militar nº 69, no grande reordenamento de Nhabijões (1972/74):

Amigo Luís Graça:

Meus agradecimentos pelo comentário ao P11460 (*), na verdade a Guiné fará sempre parte das nossas vidas, por isso a vivemos desta forma...

Sobre a mina à porta de Nhabijões, devo dizer que senti um arrepio, lendo o sucedido, por alguém que viveu essa tragédia, pois visitei o buraco proveniente desse rebentamento...é como se tivesse vivido o momento !

Abrimos uma capelinha, feita no tronco do primeiro mangueiro, com imagem de uma santa oferecida pelo Capelão, julgo ter essa foto algures...

Nhabijões foi o que foi e não tenho razão de me queixar. Foram dois anos, dois pedaços de vida que muito valem... Mesmo sobre o acidente no Xime que ceifou a vida a três militares, já no nosso tempo, nos enchem de emoção intensa..

Renovo meus agradecimentos.

Os melhores cumprimentos, um até sempre pela admiração do vosso trabalho. (***)

Francisco Santiago
________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5717: Blogpoesia (64): À uma e meia da tarde...Em homenagem ao António Marques, que sobreviveu, dois anos depois, à explosão de um vulcão (Luís Graça)

À uma e meia da tarde...

Era uma hora e meia da tarde
quando o meu relógio parou,
na estrada de Nhabijões-Bambadinca. (...)


(**) Vd poste de 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11460: Tabanca Grande (405): Francisco Alberto Cardoso Santiago, ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BART 3873 (Nhabijões, 1972/74)

(...) Francisco Santiago:  Sê bem vindo,camarada!... Muito me contas: então foste

 'desterrado"' quase dois anos para Nhabijões... Estou curioso em saber as tuas recordações, boas e más, desse tempo...

No meu tempo (1969/71), a malta dizia que era um aglomerado populacional 'turra', sob duplo controlo... Depois fez-se o reordenamento, quase 300 casas, juntando os vários 'Nhabijões' num só...

Em 13 de janeiro de 1971, caímos em duas minas A/C à saída do reordenamento. Já aqui escrevemos muita coisa sobre este trágico evento... Também dormi lá, no destacamento, algumas boas noites (várias semanas)...

Enfim, temos que pôr a conversa em dia!...  Luis Graça (...) 


(***) Último poste da série > 10 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11368: Blogoterapia (226): Aos 60 regressam em força as amizades, principalmente entre combatentes (Joaquim Mexia Alves)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11460: Tabanca Grande (395): Francisco Alberto Cardoso Santiago, ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BART 3873 (Nhabijões, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Francisco Alberto Cardoso Santiago, ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BART 3873, Nhabijões, 1972/74, com data de 20 de Abril de 2013:

Amigos Luis Graça e Carlos Vinhal:
Com um singelo pedido para que me aceitem ou abriguem no seio desta prestigiante tertúlia, identifico-me então:

Francisco Alberto Cardoso Santiago
Ex-1º Cabo Trms
CCS/BART 3873 - 1972/74
Monitor Escolar Militar
PEM 69
Nhabijões
Naturalidade Teixoso - Covilhã
Nasc. 12.04.1950

Camaradas tertulianos:

Depois de me tornar há muito leitor assiduo deste extraordinário convivio que é a vivência deste bloggue, venho trazer algumas imagens, para quem e não foram poucos, passaram por aqui.

Fui destacado logo no inicio para Nhabijões [, reordenamento do setor L1, Bambadinca], na formação de uma equipa de reordenamentos, nas quais me cabiam a responsabilidade não só das transmissões mas também a de Monitor Escolar, esta, no seio da população, e por vontade própria.

Devo dizer aqui que, para quem tinha apenas o ensino primário, foi uma experiência tão grata para as crianças, mas muito mais para mim.

Tive assim a possibilidade de ter permanecido destacado em Nhabijões todo o tempo da comissão, facto que limita, em parte,  a existência de histórias, por outros camaradas de armas.

Quero saudar todos cordialmente, em especial os que fazem parte desta Familia, pois assim se deixa a história, não esquecendo os que fizeram parte do estágio escolar realizado em Bissau, creio em 73, pois a história também se fez convosco.

Um alfa bravo para todos
Francisco Santiago

Com os alunos do PEM 69 Nhabijões. (Por onde andarão e como passam estes meninos ?)

Vista do destacamento de Nhabijões, em 73/74, diferente de quando cheguei. Ao lado esquerdo havia uma tenda de lona onde dormi as primeiras noites entre africanos

Junto do PEM, Nhabijões

Nhabijões: Dias de festa e competição balanta, cheguei a presenciar a mesma competição entre bajudas.

Nhabijões: Dança balanta

2. Comentário do editor:

Caro camarada Francisco Santiago, sê bem-vindo à família.

Instala-te o melhor que puderes e começa a contar-nos a tua experiência como Monitor Escolar.  Nem só de tiros e emboscadas vive o Blogue. As nossas memórias são diversas, cabendo aqui todas, independentemente do Posto, Especialidade, local e funções onde cada um as exerceu.

Já reparei que tens belas fotos, pena que as cores não estejam tão próximas das da natureza como seria desejável. Mas não te coibas de as mandar porque despertarás a memória de quem passou por Nhabijões antes e depois de ti.

Os teus meninos serão hoje uns cinquentões, ou quase, porque afinal não éramos assim tão mais velhos do que eles. Que éramos nós se não meninos retirados à família e enviados para a guerra?

Julgo que te enganaste na útlima foto porque a legenda que mandaste não condiz com a imagem. Já agora, se tiveres outra foto da qual eu possa fazer uma tipo passe, fardado, por favor envia-ma porque a que fiz não está muito apresentável.

Julgo que não precisas de mais esclarecimentos, a não ser que deves enviar a tua correspondência para o editor Luís Graça (luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com) e para um dos editores, o Eduardo Magalhães Ribeiro (magalhaesribeiro04@gmail.com) ou Carlos Vinhal (carlos.vinhal@gmail.com). Toma nota, és o tabanqueiro nº 614.

A terminar deixo-te o habitual abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

O editor de serviço
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11452: Tabanca Grande (394): Agostinho Valentim Sousa Jesus, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCS/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74) e Carlos Alberto Simões Órfão, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCS/BCAÇ 4610/72 (Bissorã, 1972/74)

domingo, 13 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10936: Efemérides (115): Nhabijões, 13 de Janeiro de 1971, morte na picada (Luís Rodrigues Moreira)

1. Mensagem do nosso camarada Luís Rodrigues Moreira (ex-Alf Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2917 e BENG 447, Bambadinca e Bissau, 1970/72), com data de hoje, 13 de Janeiro de 2013, lembrando este mesmo dia de 1971, quando o Unimog em que seguia fez accionar uma mina anticarro, provocando a morte do seu condutor e ferimentos graves nos restantes ocupantes.


NHABIJÕES, 13 DE JANEIRO DE 1971

RECORDAR, PORQUE ESTAMOS VIVOS

Passam hoje quarenta e dois anos sobre aquele fatídico dia em que, no destacamento dos Nhabijões bem no centro da Guiné-Bissau e cerca das 11,25 horas, faleceu um jovem pai de seu nome Soares, condutor auto da CCAÇ 12, destacado naquele reordenamento juntamente com outros camaradas da mesma companhia e ainda alguns camaradas sapadores da CCS do BART 2917 e eu Alf. Mil. Sapador do mesmo Batalhão que comandava aquela força há pouco menos de um mês, vítima de uma mina anticarro quando nos conduzia, a mim, ao Furriel Fernandes da CCAÇ 12 e ainda a um jovem africano com menos de 10 anos de idade e não me recordo se mais alguém, à sede do Batalhão em Bambadinca onde eu iria almoçar e presumo que o mesmo iria fazer o Fernandes, regressando depois o Soares com o Unimog 411 que lhe estava distribuído e o almoço para os restantes camaradas que aguardavam no destacamento.

Não tenho nenhuma memória dos factos que se sucederam exceto daqueles que me contaram os camaradas que nos socorreram e, saiba-se lá porquê, das últimas palavras que o Soares proferiu: vamos fazer gincana, meu alferes.

E explico a razão das suas palavras. A estrada por onde circulávamos era de terra batida como a maioria das estradas da Guiné naquele tempo. No lado esquerdo da estrada e no sentido em que seguíamos, portanto em contramão para nós, havia um enorme buraco, em diâmetro, não muito fundo mas que todas as viaturas que por ali passavam evitavam até porque a maioria delas passava carregada de bidões de água que iam buscar à Ponte do Rio Udunduma, a alguns quilómetros de distância, e não convinha partir alguma peça da viatura ou perder alguma da água com os solavancos. Ao dizer estas palavras o Soares desviou a viatura do trajeto normal para descer e subir aquele obstáculo.

Foram as suas últimas palavras já que dentro do buraco estava dissimulada uma mina anticarro que rebentou sob o rodado do lado do condutor, deixando o Unimog 411 reduzido a um monte de escombros como se pode ver na foto que foi publicada neste Blogue.


Guiné &gt; Zona Leste &gt; Sector L1 &gt; Bambadinca &gt; 1971 &gt; CCS/BART 2917 (1970/72) &gt; Cemitério de viaturas militares &gt; Em primeiro plano, pode ver-se o estado em que ficou o burrinho, o Unimog 411, depois de accionar uma mina anticarro à saída do reordenamento de Nhabijões, em 13 de Janeiro de 1971, por volta das 11h25. Duas horas depois, era accionada outra mina A/C por uma GMC (parecida com a que está visível ao fundo, na imagem, mas com um maior grau de destruição). (Legenda: Luís Graça)

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados


Eu seguia ao lado do condutor Soares no local onde, na foto, está um dos pneus da viatura e os restantes ocupantes nos bancos da caixa da viatura. A partir desse instante não tenho memória dos factos até ao momento em que, no dia seguinte, fui abordado pelo General Spínola no SO do Hospital Militar 241 em Bissau onde estava internado.

Mas antes de ser evacuado para o hospital e ainda em Bambadinca soube que os camaradas que nos tinham ido socorrer tinham sofrido novo acidente com o rebentamento de uma segunda mina anticarro quase no mesmo local, que fez vários feridos ficando o hoje meu grande amigo Fernando Marques em estado muito grave. Vi-o alguns dias depois numa maca num corredor do hospital e dirigi-me a ele, mas um enfermeiro acabou por me dizer que não estava em estado de me ver ou ouvir sequer e que iria ser evacuado nesse dia para o hospital militar em Lisboa. Não mais soube dele durante décadas até ao momento em que ouvi chamar pelo meu nome em frente à Basílica da Estrela no dia em que os Deficientes Militares organizaram uma manifestação daí até à Assembleia da República para defesa dos seus direitos.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Destacamento e reordenamento de Nhabijões > Finais de 1970 > O Alf Mil Moreira, sapador, pertencente à CCS / BART 2917, destacado no reordenamento de Nhabijões, aqui fotografado junto a uma velha GMG . Evacuado para o HM 241, em Bissau, por ferimentos graves em 13 de Janeiro de 1971, passaria depois aos serviços auxiliares e terminaria o resto da comisão - os 15 a 16 meses que lhe faltavam! - no BENG (Batalhão de Engenharia) 447. (Legenda: Luís Graça)

Foto: © Luís Moreira (2006). Direitos reservados

Aí estava ele são e salvo e com o seu ar jovial de sempre acompanhado pelo Gabriel Gonçalves que foi quem me reconheceu e chamou. É indescritível a sensação e a alegria que tive naquele momento ao vê-lo ali e ao saber que foi um lutador incansável ao longo de vários anos para recuperar a sua vida normal.

Telefonou-me hoje a recordar esta data que a minha memória teima em olvidar. Obrigado caro Fernando. Hoje infelizmente não deu para almoçarmos juntos mas fica a promessa de no próximo ano o fazermos, talvez juntando ao grupo dois dos sobreviventes destes dois acidentes, o Luís Graça e o Fernandes.


Oeiras > Livraria-Galeria Municipal Verney / Colecção Neves e Sousa > 19 de Janeiro de 2010 > 4.º Encontro do 2.º Ciclo de Colóquios-debates Fim do Império - Olhares Civis > Os dois antigos camaradas da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), caídos numa mina anti-carro, em 13 de Janeiro de 1971, à saída do destacamento e reordenamento de Nhabijões, Sector L1 (Bambadinca), zona leste... (Legenda: Luís Graça)

Foto: © JERO (2010). Direitos reservados

Os factos aqui descritos estão muito melhor documentados e retratados pelo autor do Blogue Luís Graça &amp;amp; Camaradas da Guiné no poste P5717* de 28 de Janeiro de 2010 em que homenageia o Fernando Marques.

Hoje apenas tive a intenção de os recordar e mais uma vez fortalecer os laços de amizade e camaradagem que me unem a estes camaradas de infortúnio bem como a muitos outros que combateram numa guerra em que não queriam estar e que hoje se revêm em múltiplos encontros que se desenrolam ao longo do ano por este País fora.

Um grande Bem Haja a todos vós por fazerem parte do meu círculo de CAMARIGOS.
Luís Moreira
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 28 DE JANEIRO DE 2010 > Guiné 63/74 - P5717: Blogpoesia (64): À uma e meia da tarde... Em homenagem ao António Marques, que sobreviveu, dois anos depois, à explosão de um vulcão (Luís Graça)

Vd. último poste da série de 25 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10864: Efemérides (114): 22 de dezembro de 1971, partida para o CTIG do BART 3873, no N/M Niassa (António Bonito)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10826: A minha CCAÇ 12 - Anexos (II): Quem se lembra destes camaradas guineenses da 1.ª Secção do 3.º GComb? (António Mateus / Luís Graça)


Foto nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > junho/julho de 1969 > uma secção do 3º Gr Comb da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), em frada nº 3, durante a instrução de especialidade do pessoal de recrutamento local. (*)

Em primeiro plano, na foto nº 1, da esquerda para a direita,  os 1ºs cabos Carlos Alberto Alves Galvão [, vive na Covilhã, foto nº 2], que  irá integrar mais tarde a 1ª secção ; e  António Braga Rodrigues Mateus [, durante muito tempo sem morada conhecida, hoje sabemos que vive em Guifões,  Matosinhos] , que irá pertencer à 2ª secção (**).

A 1ª secção era comandada pelo saudoso Fur Mil Luciano Severo de Almeida, natural do Montijo, enquanto a 2º secção tinha comandante o nosso querido amigo Arlindo Teixeira Roda [, natural de Pousos, Leiria; professor em Setúbal, reformado, e grande damista, e um dos nossos fotógrafos de Bambadinca ]... A 3ª estava entregue ao madeirense, fur mil José Luís Vieira de Sousa.

O comandante do 3º Gr Com era o alf mil inf Abel Maria Rodrigues, Passei por este grupo de combate, como aliás passei por todos, tapando "buracos" (feridos, doentes, desenfiados, de férias...). Mais pelo 3º e pelo 4º do que pelo 1º e pelo 2º. Eu era o furriel "pião das nicas", dizia-me o capitão, e eu nunca soube se, na boca dele, a expressão  era elogio, se era gozo... Foi no 2º Gr Comb que tive o meu batismo de fogo (setembro de 1969), e no 4º que apanhei com uma anticarro (janeiro de 1971). Enfim, não vem ao caso, agora, a minha história...

Os soldados africanos das fotos acima reconheço-os a todos, mas tenho dificuldade, de momento, em identificá-los pelos nomes. Uns eram mais putos e brincalhões, outros mais sérios e reservados, com mais dificuldade em falar português. Tenho hoje uma pena enorme de não ter muitas mais fotos dos nossos camaradas guineenses (da CCAÇ 12 e de de outros unidades africanas), e de não poder identificá-los um a um. O mais provável é que apenas um destes seis meus camaradas guineenses estejam ainda vivo,  talvez o mais jovem (o terceiro a contar da esquerda, na foto nº 2), ainda com cara de criança, jovial, alegre, reguila, de quem me lembro tão bem, e com saudade. Seria o Sambel ?

Os que constam das fotos acima (vd. em detalha, as fotos nº 2 e 3) parecem-me ser os da 1ª secção que era constituída pelos seguintes elementos (***):

Fur Mil Luciano Severo de Almeida [, viva no Montijo, já falecido]
1º Cabo 02920168 Carlos Alberto Alves Galvão [, vive na Covilhã]
Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula)
Sold 82108569 Sambel Baldé (Fula)
Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (Fula)
Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (Fula)
Sold 82109169 Malan Baldé (Fula)
Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (Fula)
Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (Fula)
Sold 82109969 Malan Nanqui (Mamdinga)


O 1º cabo.metropolitano,  da secção era o Carlos Galvão, que eu vejo desde 1992, e que não nos lê... nem nos ouve. O mesmo se passa com o Arlindo Roda (que vive em Setúbal). Talvez o nosso camarada e grã-tabanqueiro, transmontano, Abel Rodrigues, ex-Alf Mil, e comandante deste 3º Gr Comb nos possa dar uma ajuda...

 Quanto ao Carlos Galvão, já tem sido aqui por diversas recordado como o homem que cometeu a proeza de ser ferido duas vezes no decurso da mesma operação (Op Boga Destemida, Fevereiro de 1970). Penso que não haverá muitos casos destes ao longo da guerra...


Já aqui apresentei, em abril passado, o meu camarada da CCAÇ 12, António Mateus , de seu nome completo António Braga Rodrigues Mateus, de quem não tinha notícias desde 1971... Depois de ter estado emigrado em França. fixou-se em Guifões, Matosinhos onde é vivizinho do Albano Costa, e tem hoje o seu negócio próprio.  [, foto à esquerda].

Nasceu em 18 de novembro de 1947. É casado com a Laura, tem uma filha. E fez-nos chegar, através do email do seu genro, Emanuel Azevedo (mais conhecido por Tito), as fotos da praxe, bem como as que publicamos acima.

O António Mateus foi gravemente ferido na Op Pato Rufia, em 7 de setembro de 1969, e evacuado para o HM 241. No meu caso, foi o meu batismo de fogo. Eu estava perto dele.



Já falei com o António ao telefone, duas ou três vezes, recordando os nossos velhos tempos da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, e finalmente pude revê-lo e abraçá-lo em Monte Real, no dia 21 de abril de 2012, no nosso VII Encontro Nacional.

Depois de regressar do hospital, em data que já não posso precisar (talvez finais de 1969, princípios de 1970), o António Mateus foi integrado na força que defendia o destacamento do reordenamento de Nhabijões, composto por militares da CCAÇ 12, da CCS do BCAÇ 2852 (e depois do BART 2917) e outros. Creio que ficou lá o resto da comissão.

Estava lá quando acionámos duas minas A/C à saída de Nhabijões, no fatídico dia 13 de janeiro de 1971.

Fotos: © António Mateus (2012). Todos os direitos reservados.
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Notas do editor

(*) Primeiro poste da série > 3 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10615: A minha CCAÇ 12 - Anexos (I): Sansacuta, tabanca fula em autodefesa no sul do regulado de Badora, onde estive em março de 1970 e onde um dia recebi, do vaguemestre, um lata 5 kg de fiambre dinamarquês... que tive de consumir e repartir pelos putos em escassas horas (Luís Graça)

(**) 20 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9775: Tabanca Grande (331): António Mateus, de Guifões/Matosinhos, ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), nosso tabanqueiro nº 550

(***) 21 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6447: A minha CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (1): Composição orgânica (Luís Graça)

(...) 2ª Secção
Fur Mil 07098068 Arlindo Teixeira Roda [, natural de Pousos, Leiria; professor em Setúbal]
1º Cabo 17625368 António Braga Rodrigues Mateus [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82108369 Mamadú Jau (Ap Dilagrama) (F)
Soldado 82109369 Malan Jau (Ap Mort 60) (F)
Sold 82100769 Amadú Candé (Mun Mort 60) (F)
Sold 82108869 Quembura Candé (F)
Sold 82109769 Sherifo Baldé (F)
Sold 82115369 Ussumane Jaló (FF)
Sold 82110169 Madina Jamanca (F)

3ª Secção
Fur Mil 06559968 José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, agente de seguros]
1º Cabo 12356668 José Jerónimo Lourenço Alves [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82108469 Sajo Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (F)
Soldado 82109669 Cherno Baldé (Mun Metr Lig HK 21) (F)
Sold 82109469 Sanuchi Sanhã (Ap LGFog 3,7) (F)
Sold 82109269 Sori Jau (Ap Dilagrama) (F)
Sold 82110569 Mamadu Embaló (F)
Sold 82110769 Chico Baldé (F)
Sold 82115169 Demba Jau (F)
Sold 82108669 Cutael Baldé (F)

domingo, 9 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10777: Álbum fotográfico de Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12 (Bambadinca, 196971) e de Luís R. Moreira, ex-alf mil, sapador, CCS/BART 2917, e BENG 447 (Bambadinca e Bissau, 1970/72): A famosa autogrua Galion...



Foto nº 1 



Foto nº 1 - A




Foto nº 1 - B


Foto nº 2 



Foto nº 2 - A

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Estrada Xime-Bambadinca > 23 de novembro de 1969 > A famosa autogrua Galion (*), desembarcada no Xime, em LDG,  e fornecida pela Engenharia Militar para operar no porto fluvial de Bambadinca... Atascada, no final da época das chuvas... junto à bolanha de Samba Silate, antes de Nhabijões, dois topónimos de má memória para muitos de nós que andámos por aquelas paragens...

Na primeira foto, em segundo plano (foto nº 1), aparece o Tony Levezinho, sem a camisa do camuflado, de óculos de sol, de mezinho ao peito... Ainda na mesma foto (nº 1-A, pormenor), vê-se um capitão em cima da Galion (o Humberto diz que o Figueiras, da CCS). E ao fundo, uma nesga da famosa estrada (!) Xime-Bambadinca (Mais tarde, será construída uma nova, alcatroada)... E no foto nº 1-B (pormenor), surge de costas, um major, de boina camuflada (!), que eu não consigo identificar (seria o 2º comandante do BENG 447, que trouxe a "encomenda" ?... Será que veio mesmo em coluna auto por aquelas bandas mal afamadas?... De qualquer modo, sabemos que o 2º comandante do BENG 447 esteve em Bambadinca por essa ocasião).

Na  foto nº 2 , temos em grande plano uma das rodas da Galion atascada,,, E,  em segundo plano, aparece o Humberto Reis, de cigarro na boca, óculos de sol, lenço ao pescoço, impecavelmente fardado, como mandava... a puta da sapatilha!. (Foto nº 2-A, pormenor; os outros militares, não os consigo identificar, não eram gente da CCAÇ 12, que montava a segurança à coluna).

A Galion veio para substituir as pequenas autogruas de marca Fuchs (segundo oportuno comentário do nosso camarada Vasco Ferreira (*), e que eu creio que eram duas, pintadas de azul),   existentes até então no cais de Bambadinca , por ocasião do início do ambicioso projecto de reordenamento de Nhabijões, um dos maiores da Guiné naquele tempo (cerca de 300 casas).

Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 (1970/72) > Cais de Bambadinca, 1970... A autogrua Galion a (des)carregar vacas...Fotos do álbum do Luís FR. Moreira, ex-alf mil sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), que viria a ser gravado ferido em mina A/C em 13/1/1971, à saída do reordenamento de Nahbijões. É um dos nossos grã-tabanqueiros mais antigos.
Fotos: © Lusi R. Moreira (2005). Todos os direitos reservados.


1. A propósito destas duas fotos do Luis R. Moreira, escreveu o Humberto Reis, em 20 de setembro de 2005, na I Série do nosso blogue:

(...) A Galion a carregar vacas no cais fez-me lembrar o episódio dela no percurso do Xime para Bambadinca. A Galion veio numa LDG [ Lancha de Desembarque Grande] desde Bissau até ao Xime. E daí para Bambadinca ia pelos seus próprios meios. Passou bem pelo destacamento da Ponte do Rio Undunduma, mas quando chegou a meio da bolanha a estrada não aguentou o peso e cedeu. Resultado, a Galion desequilibrou-se e ficou meio enterrada na bolanha.

Julgo que isto se passou em 23 de Novembro de 69 (, na véspera do aniversário do Tony) Tenho este episódio documentado mas, como era hábito naquele tempo, está em diapositivo e não em fotografia. (...)

(...) Lembro-me que foi dos primeiros episódios a que assistiu o nosso amigo, na altura capitão periquito da CCS [do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70], o Figueiras, (co-organizador do habitual almoço anual que este ano que teve lugar na ria Formosa) que alguns conheciam como tenente da carreira de tiro de Tavira. (..:).


E o Tony Levezinho acrescentou o seguinte, no mesmo poste: (...)

(...) Foi todo o dia 24 [ou 23 ?]  de Novembro [de 1969] na tentativa desesperada de desatascar a Galion antes que a noite caísse. Os esforços revelaram-se infrutíferos e assim não tivemos outra alternativa que não a de convidar a mosquitada da bolanha a juntar-se a nós para comemorarmos todos (em silêncio, como a situação de emboscada impunha) o meu 22º aniversário [, a 24].

À falta de Champanhe serviram-se rodadas de Repelente que, a julgar pela sua ineficácia, funcionou como uma iguaria de entrada para os mosquitos, antes que estes chegassem à nossa pele, já depois de perfurarem até aquela capa de borracha que, creio, chamávamos ponche. (...) Recordo este episódio apenas porque se tratou da celebração mais picante que eu alguma vez tinha experimentado ao longo de toda a minha carreira. (...)

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