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domingo, 11 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15236: O Spínola que eu conheci (32): A primeira vez que comi caviar, foi com ele, em Bambadinca (Jaime Machado); um militar que eu admirava (João Alberto Coelho); em Antotinha, formámos o pelotão e batemos-lhe a pala no campo de futebol, em tronco nu: estávamos a jogar à bola, quando chegou de heli (Carlos Sousa)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > 29 de maio de 1969 > Comando e CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Visita do gen Spínola, acompanhado do cor Hélio Felgas, cmdt do Agrupamento de Bafatá. À esquerda, de pé, o ten cor Pimentel Bastos.


Foto (e legenda) : © Jaime Machado  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



Guiné > Região de Cacheu > CCAÇ 1801 (Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha, 1968/69) > Carlos Sousa e o gen Spínola no destacamento de Antotinha (que pertencia a Ingoré)

Foto (e legenda) : © Carlos Sousa  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



Três comentários ao poste P15227 (*)


1. Jaime Machado [ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852)] (*):

9 out 2015 17:34

Caro Luis

A propósito do inquérito sobre os últimos três comandantes.-chefes no TO da Guiné (*)... Só conheci o gen Spinola que,  tal como eu, prestou serviço militar na Guiné entre 1968/1970.

Vi-o em Bambadinca,  uma ou duas vezes.

Recordo perfeitamente que o vi na manhã seguinte ao ataque a Bambadinca [, 28 de maio de 1969,] e que causou mossa no Comandante, segundo comandante e comandante da CCS do BCAÇ 2852.

Julgo que visitou Bambadinca num outro momento em que lhe foi servido um lanche no qual comi caviar (!) pela primeira vez na vida, (embora fosse de conserva).

Segue foto de uma das visitas. Na foto Spinola, Hélio Felgas [. comandante do CAgrup , Pimentel Bastos [, cmdt do BCAÇ 2852]. O piloto era o Honório [não vísível na foto].



2. João Alberto Coelho (ex-alf mil opp esp/ranger da 1.ª CART do BART 6522, S. Domingos , 1972/74)

9 out 2015 19:39

Olá, camarada Luis

Fiz toda a minha comissão de serviço (21 meses) em S. Domingos.

Tivemos a visita dos dois últimos [, António de Spínola e Bettencourt Rodrigues], que estiveram connosco quase uma manhã inteira,  estando eu a comandar a companhia aquando da visita do gen Spínola.

Tive a oportunidade de constatar do enorme interesse do general Spínola em relação à "segurança" e ao bem estar dos combatentes, especialmente dos não graduados. Gostaria de ter trabalhado diretamente com ele, pois era um militar que eu admirava.

Em relação ao blogue, só peço que não desistas, pois faz-me muito bem relembrar o que se passou, para mim há mais de 40 anos... já é muito tempo!

Um alfabravo para todos
João Alberto Coelho


3. Carlos Sousa [, ex-alf mil op esp /ranger, CCAÇ 1801, Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré) 1968/69]


9 out 2015 18:00 

Caro Luís,

Não localizei onde se podem enviar fotos (neste caso do então General António Spínola).

Envio-te uma foto do general em visita de fim de ano.

Como todas das fotografias, esta também tem uma história.

Eu era alferes miliciano, comandante do destacamento de Antotinha (CCaç 1801, de Ingoré). No último dia de 1968 apareceu um helicóptero que aterrou no meio do quartel de mato. Nessa altura disputava-se um desafio de futebol entre os que vestiam camisola e os que estavam em tronco nu. É claro que o jogo parou: o campo estava agora ocupado pelo helicóptero de onde saiu, austero como sempre, o nosso general. 

Tal como estava, eu fui receber o nosso ilustre visitante, que saudou as tropas e desejou um bom ano novo.

A foto foi tirada quando, após formar a tropa (sem que alguém tivesse uma peça de farda vestida) eu acompanhava Spínola onde ele falou aos muitos habitantes do aldeamento,  que entretanto tinham aparecido no quartel.

Termino com uma referência à minha grande admiração pelo comandante militar António Spínola! (**)

O meu abraço,

Carlos Fernando da Conceição Sousa

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12707: O Spínola que eu conheci (31): A minha irreverência (ou "lata") aquando da visita do Com-Chefe a Farim: "Venho desejar ao meu comandante um resto de festas felizes em companhia de restantes familiares"... (Luís Nascimento, ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71):


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2533 (Canjambari, 1969/71) > Finais de 1970/princípios de 1971 > O Luís Nascimento,  1º cabo op cripto, junto ao monumento ao BART 733 (Bissau e Farim, de 8/10/1964 e 7/8/1966).

Foto : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem, de 30 de janeiro último, do Luís Nascimento (ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 2533,
Canjambari e Farim, 1969/71):

Assunto: O Spínola que eu conheci ...

Quando da visita, e elas foram segundo me lembro três, duas a Canjambari, e uma a Farim (esta recordo-me como se fosse hoje ) do General Spínola,,,

Havia o cuidado de,  durante a visita,  nunca se chamar por qualquer motivo o nome do macaco 33, não fosse o general levar a coisa para o sério,  pelo motivo de ser o seu número de aluno no Colégio Militar e de se saber que tinha as alcunhas copmo  "o velho" e "o caco Baldé", entre outras. 

No dia da visita a Farim foi recebido por as entidades civis e militares sob a égide do Ten Coronel Agostinho Ferreira (o "metro e oito"), mais tarde deportado para Aldeia Formosa pelo general, talvez por não dar conta do corredor de Lamel que não conseguia estancar e que nem o ronco de Cuntima o salvou (será este o segredo da deportação?) ou, então, morreu no centro cripto do batalhão ou no inspetor da Pide de então.

Junto ao comando, o general faz as despedidas e entra no jipe que o levará à pista para embarcar no heli. Nesse momento digiro-me ao general e faço a apresentação proferindo as seguintes frases, jamais esquecidas: 
– Venho desejar ao meu comandante um resto de festas felizes em companhia de restantes familiares. – Ao que ele retorquiu se eu precisava de algo, respondendo eu que não. 

Foi uma despedida em beleza, batuque, manga de ronco e o cripto a ser alvo da curiosidade do maralhau de saber notícias da faladura entre o cripto e o general.

Aqui o homem (o Cripto) pôs a boca no trombone e vai daí entra na contra informação dizendo que o general iria mandar uma DO 27 com frescos e que a 33 em breve regressaria à metrópole. Ora isto de inventar tem os seus custos e o cripto é chamado com urgência à messe de Oficiais. Protocolo debaixo do braço e entra na dita e apresenta-se:
– Vossa Senhoria, meu comandante,  dá-me licença? (Esperava fazer uma mensagem).

Mas logo pela voz do oficial superior sou surpreendido:
– Ó nosso cabo, quem é que lhe deu autorização de falar com o nosso general? 

Retorqui que,  como cabo cripto,  já tivera contactos com o general quando a minha estadia em Bissau (QG e Forte de Amura) e que seriamos velhos conhecidos. 

Foi tudo uma invenção minha que quase deu uma reunião de emergência, uma ia a conselho de guerra e a minha despromoção e a incorporação noutra comissão em Africa.

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 29 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12217: O Spínola que eu conheci (30): Em Nova Lamego, no destacamento da FAP, com o saudoso piloto Cap Rodrigues (Vitor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12217: O Spínola que eu conheci (30): Em Nova Lamego, no destacamento da FAP, com o saudoso piloto Cap Rodrigues (Vitor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)



Guiné > Algures > s/d (c. 1969) > O alf mil pil heli Al III Jorge Félix (BA 12, Bissalanca, 1968/70) e o Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)... O Jorge Félix terá sido um dos pilotos de heli, com quem o gen Spínola mais terá gostado de voar...  Releia-se  aqui um história bem humorada do Jorge Félix que um dia se lembrou "bombardear" Galomato (ou melhor, a "obsequiar" a esposa do comerciante Regala...),  com os ananases que deveriam chegar à mesa de Spínola  (*) ...


(...) Junto uma foto do Caco, com a minha pessoa nos comandos do Heli Al III, podendo ver-se no banco uma arca [, azul,] que variadas vezes o Cap Almeida Bruno [, o ajudante de campo,] transportava, e que continha alimentação para o nosso Chefe.

Segue uma mensagem que recebi, [em 14 do corrente, no Facebook,] do José Ramos, piloto que já foi falado no nosso Blog e que julgo também devem conhecer:
"Está bonito o filme, parabéns. Sempre que me lembro de ti, não posso esquecer um bombardeamento de ananases em Galomaro que ficaram a faltar na mesa do Spinola. Um abração".

O Ramos recorda-me que um dia, no regresso a Bissau levando uns ananases que deveriam chegar à mesa do Spínola, eu resolvi, numa passagem por Galomaro, "oferecê-los" à D. Maria, esposa do comerciante Regala, num estacionário "perfeito", dando liberdade ao mecânico para atirar um a um os "ananases".

Mais tarde informaram-me que a loja esteve uma semana semi-fechada para limpar o pó que o heli levantou e foi parar dentro da casa. Dos ananases nada se aproveitou, nem a D Maria os saboreou, nem o Gen Spinola os recebeu algum dia. (...) (*)


Foto: © Jorge Félix (2010). Todos os direitos reservados

1. Mensagem do Vitor Oliveira, enviada hoje:


Assunto: O grande Spínola

Estávamos em Nova Lamego, e eis que um dia,  perto da hora de almoço,  aparecem dois hellis em que vinha o General Spínola e o piloto era o falecido Cap Rodrigues, que nos pediu para abastecermos os helis enquanto eles almoçavam porque o iam voar novamente e que ligássemos para a messe de sargentos do exército para nos trazerem o almoço.

Assim foi, tínhamos um telefone no posto de rádio em que o radiotelegrafista da Força Aérea era o Pires. Resposta:
Os doutores,  se quiserem,  venham cá abaixo comer!

Eu disse logo:
Não vamos lá,  isto vai dar caldeirada.

Isto porque a maioria dos sargentos do exército não aceitava que fossemos os primeiros a ser servidos e, mais,  ao jantar nós íamos comer à civil e eles não.

Assim foi,  não fomos almoçar. Eis que chega o Cap Rodrigues,  juntamente com Cap Almeida Bruno e atrás vinha o Spinola com um major e o tenente coronel. Um era o 2º comandante e o outro  o 1º do quartel. Fui logo falar com o Cap Rodrigues e disse-lhe que não tínhamos almoçado. Eis que o Spinola apercebeu-se que havia merda, como se costuma dizer. e chama o Almeida Bruno e ele diz-lhe o que se passou. ele vira-se para o major e o tenente Coronel e diz-lhes para mandar o oficial e o sargento da messe para São Domingos,  era onde havia mais combates . O major e o tenente coronel só diziam:
Ó Sr. Governador,  pedimos desculpa!.. 

E o Spínola dizia:
─  Isto não pode acontecer,  os rapazes estão fartos de trabalhar! 

O abastecimento era feito com bombas manuais, a tirar de bidões de 200 litros. Depois mandaram buscar sandes e cervejas, e assim foi o nosso almoço. A partir desta cena, quando entrávamos na messe, o sargento punha logo os faxinas a servir-nos

Vitor Oliveira (Pichas)

1º Cabo Melec
(BA 12, Bissalanca.1967/69) (**)

_________________

Notas do editor:

(*) 16 de abril de 2010 >  Guiné 63/74 - P6164: O Spínola que eu conheci (13): Os ananases que não chegaram à mesa do Palácio do Governador-Geral (Jorge Félix)

(**) Último poste da série > 7 de fevereiro de  2013 > Guiné 63/74 - P11068: O Spínola que eu conheci (29): Depoimento de Jaime Antunes, ex-fur mil, CART 11 / CCAÇ 11 (Paunca, 1970/72)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11870: O que é feitio de ti, camarada ? (2): Afonso M. F. Sousa, residente em Maceda, Ovar, ex-fur mil, trms, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje, Barro, 1968/70)



Guiné > Região do Cacheu > Barro > CART 2412 (1968/70) > O Furriel Miliciano de Transmissões Afonso M. F. Sousa junto ao centro cripto, cuja entrada é galhardamente protegida por bidões de areia, pintados de branco... Na realidade, o centro cripto era uma espécie de cofre forte dos nossos aquartelamentos, o santos dos santos, o mais misterioso recôndito da pátria lusa naquele pedaço de terra onde flutuava a bandeira das quinas... Neste caso onde só entrava o Afonso e o seu cabo cripto... Mais prosaicamante ele legendou a foto nestes termos: "fotografia deste jovem de então que, como responsável pelo centro cripto, aqui se apresenta de vigília (!) a esse espaço restrito e de seguras (?) confidencialidades ou secretismos".


Guiné > Região do Cacheu > Barro > CART 2412 (1968/70) > Localização do monumento de homenagem ao 1º Cabo Enfermeiro Silva, morto em combate em Bigene, a 21 de Setembro de 1968... O monumento, sob a sombra tutelar de um enorme mangueiro, está sinalizado na foto, com seta e legenda. O  edificio que se vê à esquerda (e hoje desaparecido), era a caserna de soldados e o depósito de
géneros. Repare-se no mangueiro cuja ramagem, à esquerda, atingia toda a largura da estrada (Barro-Bigene), e à direita camuflava todo o edifício da secretaria, comando, oficiais e centro cripto.





Guiné > Região do Cacheu > Barro > CART 2412 (1968/70) > Um monumento erigido à memória do 1º Cabo Enfermeiro Silva e que foi destruído a seguir à independência .

Fotos (e legendas): © Afonso M.F. Sousa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1.  A primeira vez que se falou dos três G - Guidaje, Guileje, Gadamael  (*)- , no nosso blogue, foi há mais de 7 anos atrás, em poste (o nº 41) de 2 de julho de 2005, da autoria de Afonso M. F. Sousa , ex-fur mil trms da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70), e em que se reproduziu o texto, já sobejamente conhecido,  de Serafim Lobato, jornalista, e antigo fuzileiro especial, "Estamos cercados por todos os lados", editado no Público, 28/12/2003. 

O nosso camarada Afonso Sousa reside em Maceda, Ovar,  e foi um dos tertulianos mais ativos no nosso blogue na I Série (**). De resto, continuou  a colaborar na a II Série do nosso blogue (iniciada em 1 de junho de 2006), tendo organizado diversos dossiês. [Vd. marcador Afonso Sousa.]

Deixou, entretanto,  de dar "sinais de vida", talvez por cansaço, saturação ou desinteresse, por volta de 2010. Continua, todavia,  a ter o endereço de email válido, e mandar-nos as boas festas todos os anos. Espero que ele esteja bem de saúde, que ele continue a ler-nos com prazer  e que se sinta com vontade para voltar a sentar-se, mais vezes,  no nosso bentém, à volta do poilão da Tabanca Grande. Curiosamente, não temos nenhuma atual do Afonso Sousa,  o que pode significar que ele quer manter a sua reserva de intimidade.

Com esta nova série ("O que é feito de ti, camarada ?"), queremos procurar reatar contactos com membros da nossa Tabanca Grande que nos últimos anos têm andado mais arredios do blogue. O Afonso fazia da lista dos 111 magníficos que transitaram da I para a II Série do nosso blogue. Na altura, eram  mais conhecidos como "tertulianos", membros da nossa tertúlia, hoje Tabanca Grande.

Entretanto, reproduzem-se a seguir excertos de alguns postes que o camarada Afonso M.F. Sousa [, ou Afonso Sousa,] publicou na I Série. 

(i) Afonso Sousa, ex-fur mil trms, CART 2412 (1968/70)

A minha companhia fazia parte integrante do COP 3 (com sede em Bigene, onde fizemos o treino operacional entre 31/8/68 e 14/10/68; depois foi a partida para Binta e Guidage).

Entrámos em Guidage em 17/10/1968, a substituir a CART 1648. Mais tarde referirei os dados cronológicos respeitantes à minha CART 2412, que inclui também a sua permanência (até ao termo de missão) em Barro (que o sr. Coronel A. Marques Lopes bem conhece e aonde voltou em 1998).

Porque aqui se fala de COP 3, Guidage e Barro, achei interessante esta crónica, que vocês já conhecem, dos "relatórios secretos sobre a Guiné colonial".

Guidage tinha uma importância extrema tanto para nós como para o IN. Já tínhamos consciência disso quando lá entrámos. E aí está o que se veio a passar em 1973... com a ofensiva do PAIGC contra Guidage (no Norte)e Guileje e Gadamael (no Sul)... Os três G que, na opinião do historiador guineense, Leopoldo Amada, terão decidido "o final do império colonial"...

Publica-se a seguir um texto, do jornalista Serafim Lobato, em que se divulgam pela primeira vez os relatórios secretos sobre a batalha de Guileje e Gadamael, uma peça importante para a compreensão da história da guerra colonial e do seu fim (*). O texto esteve originalmente disponível no sítio do Publico.pt. Está também publicado no blogue História e Ciência > Relatórios secretos sobre a Guiné colonial. Algumas das notas, em parêntesis rectos, são da nossa responsabilidade (A.S., Afonso Sousa) [e/ou do editor].

(ii) COP 3

Um pelotão da CCAÇ 3 (onde também esteve, em 1968, o nosso camarada A. Marques Lopes) reforçou a CART 2412, quando esta se instalou em Guidage. Esse pelotão era comandado pelo Alferes Gonçalves.

Esta CART 2412 integrava-se no COP 3 (comando do Major Correia de Campos, em Bigene).

O COP 3 constituia uma quadrícula militar de vários agrupamentos a norte do rio Cacheu, entre Barro, a Oeste, e Guidage (Farim), a Nordeste. Comportava unidades do Exército e da Marinha, estas estabelecidas na base fluvial de Ganturé (Fuzileiros navais, sob o comando de Alpoim Calvão), junto ao Rio Cacheu, cujo ancoradouro dá saída para Bigene (2,8 Km, para Norte).

O COP 3 tinha por missão fundamental a eliminação ou amputação dos corredores entre a faixa fronteiriça do Senegal e as densas (e quase impenetráveis) matas do Óio, em cujo coração se situava a base do PAIGC, de Morés.

(iii) O gen Spínola que eu conheci

Caríssimo Coronel A Marques Lopes: Foi por uma lista na Net que localizei o Alferes Gonçalves. Como se referia à CCAÇ 3, contactei-o telefonicamente, para lhe perguntar se conhecia Guidage.

Surpreendentemente a resposta dele foi esta: acompanhei a vossa companhia (CART 2412) no trajecto Binta-Guidage, quando vocês se deslocaram para lá pela primeira vez. Comandava um pelotão da CCAÇ 3 que ficou em Guidage como reforço da vossa CART.

Eu (talvez pelos 37 anos que decorreram ?!) não estou a ver a cara dele, mas o facto é que ele e eu estivemos na mesma coluna, rumo a Guidage (1968). Ainda fomos surpreendidos a pouco mais do meio do trajecto, no sítio do Cufeu, por tiros sentidos na floresta de uma e da outra banda do caminho.

Ele sabe da história da perda do nosso comandante (o Capitão Miliciano A...)  logo nos primeiros dias, naquela terra de fronteira com o Senegal. Logo no início aterrou lá de surpresa o Spínola. Depois da rápida formatura na exígua parada, saíram-lhe estas palavras dirigidas ao capitão: "O senhor é indigno de estar à frente destes militares...o senhor prepare-se e vai já comigo para Bissau".

Viria a ser castigado com despromoção (tenente) e eventualmente com outras consequências que não conheci. Isto resultou do envio, por um soldado, de um aerograma para o general Spónola, queixando-se que estavam a passar fome, visto que o capitão se esquecera de solicitar o reabastecimento. O que valia eram as minúsculas galinhas que comprávamos na tabanca.

Por acaso ainda me lembro que, após o destroçar, de forma menos formal o general Spínola me perguntou:
- Meu militar, precisa alguma coisa para transmissões ?

Ao que eu lhe respondi:
- Precisamos de substituir a antena, meu General.

Passados uns dias essa antena lá apareceu.

2. Comentário de L,G., datado de 13/3/2006, sobre as razões que terão levado a população de Barro (ou mais provavelmente as novas autoridades do país)  a destruir, em  Barro, um momento "tuga" aos seus mortos . Na altura, achávamos (e continuamos a achar) que os monumentos aos mortos (mesmo dos meus "inimigos") são sagrados e devem ser respeitados, em toda a parte e em todos os tempos (**):  

(...) " Obrigado, Afonso! Fico a conhecer o artista quando jovem... Espero, por outro lado, que o Marques Lopes, quando lá voltar [, a Barro,] dentro em breve, desvenda o mistério da destruição do vosso monumento... Simples vandalismo ? Revanchismo ? Incúria ? Estupidez ? Maldade ? Iconoclastia ? ... É sempre lamentável: são marcas da história, quer se goste ou não se goste... E que hoje podiam ter alguma mais-valia turística, museológica, cultural, para a própria Guiné-Bissau... Há tugas a fazer milhares de quilómetros só para redescobrir uma simples pedra de um monumento como este...

Creio que na Guiné ainda estão pior do que nós, quanto à(s) memória(s) do passado recente da guerra colonial (ou da guerra de libertação, como se queira)... Não há arquivos, não há escritos, tudo tem sido pilhado, destruído ou branqueado (o que às vezes ainda é bem pior)... E os que fizeram a guerra - a geração dos guerrilheiros - estão a desaparecer sem deixar testemunhos, registados em suporte de papel, digital ou áudio... Alguma coisa está a ser feita em Guileje, pela AD - Acção para o Desenvolvimento, pelo nosso amigo Pepito e pelos seus colaboradores... Nós, também, à nossa modesta escala, no nosso blogue, com o contributo de magníficos e generosos blogadores como tu e o Marques Lopes... Um grande abraço, camarada." (***).

____________

Notas do editor:

(*) Vd. I série, poste de 2 de julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael

(**) Vd. I Série, poste de 13 de março 2006 > Guiné 63/74 - DCXXV: Barro, CART 2412, 1968/70 (Afonso M.F.Sousa)

(***) Último poste da série > 23 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11140: O que é feito de ti, camarada ? (1): Jorge Canhão, Oeiras (ex-fur mil at inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11068: O Spínola que eu conheci (29): Depoimento de Jaime Antunes, ex-fur mil, CART 11 / CCAÇ 11 (Paunca, 1970/72)

1. Comentário,  de Jaime Antunes, nosso leitor (e camarada), ao poste P11028:

O nosso General Spínola  fez uma escala em Lisboa e aproveitou para selecionar os comandos para a CART 11, os quais  chegaram em Novembro de 70 a Bissau (os que embarcaram no Ana Mafalda foram os primeiros a chegar; o  Capitão que seguia a bordo conseguiu ficar por Bissau e depois surgiu, e muito bem, o Capitão Almeida). 

Não gostei de Spínola, não só por ter recorrido a Oficiais, Furriéis e Cabos Milicianos que já não estavam em lista de mobilizáveis (2 meses antes eu e o Teixeira tínhamos recusados  150.000$00 para tomar o lugar de um Furriel que era filho de um Coronel). 

E não gostava também porque era prepotente...O  facto de falar primeiro  com os soldados e depois com o Comandante... era uma treta. Por trás... 

Um aditamento, em 1970/72  a CCAÇ 11 / CART 11 esteve por toda a zona Leste. Estivemos ainda em Bafatá,  Bolama, Galomaro, Pirada (antes também éramos viajados). 

 Spínola também era de Cascais (já era meu conhecido). Na recepção à chegada a Bissau disse-me:
- Lamento mas... prometo que quando fizeres 21 meses estás a caminho da Metrópole... 

Foram 21 meses e 5 dias. 

Podia e tinha condições para ser um grande Comandante. Faltou-lhe um pouco de humildade no relacionamento com os seus Homens. Uma nota final, dou-lhe nota positiva e agradeço o Louvor recebido. 

Jaime Antunes
(Ex-Fur Mil Antunes,  CART 11 / CCAÇ 11)



Guiné > Zona leste A> Paunca > Alguns furriéis da CCAÇ 11. O único que era da Guiné, cabo-verdiano,  era o Reis Pires (em primeiro plano, ao centro).  Foto do álbum de Adriano Lopes dos Santos Neto, ex-Fur Mil da CART 3521 (Piche) e CCAÇ 11 (Paunca), 1971/74.

Foto: © Adriano Neto(2011). Todos os direitos reservados.


2. Outros comentários, anteriores, do Jaime Antunes (a quem reitero, mais uma vez, o convite para ingressar na nossa Tabanca Grande, juntando-se assim a outros camaradas da CART 2479, depois CART 11  e depois CCAÇ 11, que já aceitaram um lugar à sombra do nosso mágico e fraterno poilão, como o Renato Monteiro, o Abílio Duarte, o Adriano Neto...):

(i) 14 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9198: Tabanca Grande (311): Adriano Lopes dos Santos Neto, ex-Fur Mil da CART 3521 (Piche) e CCAÇ 11 (Paunca), 1971/74

 (...) Comentário: Olá, uns anitos passados. Li com atenção a passagem por Paunca. O meu Camarada foi um dos que contribuiu para o meu regresso a Lisboa. Fui rendido em Agosto de 72 e o regresso a Lisboa via TAP em 5 de Setembro de 1972. O jovem que me rendeu veio de uma outra Companhia e... foi literalmente "sacado" para ir para a CART 11 (CCAÇ 11 foi alteração que se verificou a meio da minha comissão),  por mim e um comerciante,  de nome João Evangelista,   radicado em Paunca na sua carrinha Toyota. Confesso que não me recordo do seu nome mas foi para me substituir no 4º Pelotão.  (...)


(ii) 23 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2377: Em busca de ... (13): Malta da CCAÇ 11, Paunca, 1970/72 (Jaime Antunes)

(...) 1. Mensagem de Jaime Antunes, a quem saudamos e convidamos a integrar a nossa Tabanca Grande:

(...) Nestas coisas da vida há recordações que sempre perduram. Como muitos dos Portugueses, na minha juventude, também estive em África. Por uma escolha do Senhor General Spínola, 25 Milicianos, no dia 20 de Novembro de 1970, embarcaram no navio Ana Mafalda com destino ao CTIG. Todos classificados nos primeiros lugares dos cursos. Esta situação levantou-nos muitas dúvidas que foram esclarecidas à nossa chegada ao QG. Tínhamos sido selecionados para integrar uma Companhia de Africanos... a CCART 11. Posteriormente e porque uma Companhia de Artilharia... não era ... uma Companhia de Infantaria... o Senhor General ... passou-nos a CCAÇ 11 para que já não houvesse reclamações quanto às constantes saídas de Paunca  para ir reforçar outras zonas.

Fui colocado no 4º Pelotão e ... cheguei em Novembro de 1970 e fui rendido em Setembro de 1972. 
Mantenho contacto com alguns dos elementos que estiveram nessa altura na CCAÇ 11 mas faltam outros a que perdemos o rasto. Manifesto a minha disponibilidade para conseguir reunir mais alguns camaradas (...).

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 5 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11058: O Spínola que eu conheci (28): Figura incontornável da nossa História, que respeito mas não idolatro (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, 1970/72)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11058: O Spínola que eu conheci (28): Figura incontornável da nossa História, que respeito mas não idolatro (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, 1970/72)

O SPÍNOLA QUE EU CONHECI

 por Hélder Sousa [, foto à esquerda, no seu quarto em Bissau, quando era fur mil trms TST,  nov 1970 / nov 1972]]

Esta série tem dado a oportunidade para que uma quantidade e diversidade notável de camaradas se tenham pronunciado sobre o tema.

E as intervenções têm sido desde o simples ‘conhecimento’ pelo contacto visual, pelo contacto pessoal directo, até às diversas considerações que a figura de António Spínola suscita. (*)

Eu também tenho um “Spínola que conheci”. Mas não tenho a menor dúvida em afirmar que António Spínola (aquilo que foi antes de Brigadeiro, o Brigadeiro, o General, o Marechal, o ‘caco Baldé’, etc.), é uma figura incontornável da História de Portugal e não pode, nem deve ser ignorado.

Estive perto do Comandante-Chefe do CTIG, António de Spínola, que me lembre, por duas vezes.

(i) Em Piche, fevereiro de 1971

A primeira foi em Piche e disso já dei conta num artigo que enviei para o Blogue a propósito do Carnaval. Nesse artigo relatei que, em consequência da Acção 'Mabecos’ ocorrida em Fevereiro de 1971, por ocasião do Carnaval desse ano, entre 20 e 22 de Fevereiro, o General Spínola ‘aterrou’ em Piche. E foi lá porque o que deveria ter sido o operacional responsável no terreno pela referida operação, Major cav Mendes Paulo (operação essa que correu bastante mal em termos organizacionais e também por atitudes, digamos assim, menos correctas por parte de ‘oficiais superiores’, daqueles que supervisionavam por via aérea a ‘progressão’ no terreno), quando regressou a Piche no final da referida operação, em atitude ostensiva de desagrado por tudo o que tinha acontecido, arrancou os seus galões de Major, deitou-os para o caixote de lixo que estava perto da porta do seu quarto, fechou-se nele e recusou-se a sair de lá a não ser que fosse o próprio Comandante-Chefe a ir ter com ele. Tudo isto foi visto e falado por muita gente.

E foi o que aconteceu, o General Spínola deslocou-se a Piche, não me recordo agora se foi logo no dia seguinte, mas creio que sim, dirigiu-se directamente ao alojamento do Major, conversaram, e depois o Major acabou o seu isolamento. Havia quem dissesse que o General tinha o Major de Cavalaria Mendes Paulo em alta estima e consideração e que se devia a essa estima mútua o facto das “Chaimites” terem ido para a Guiné.

Como se percebe da situação, ‘conhecer o Spínola’, nestas circunstâncias, foi só de longe, mas deu para ver e confirmar tudo aquilo que já aqui se tem dito sobre a sua pose, a sua figura, o seu carisma, a sua capacidade de suscitar a admiração e o reconhecimento por parte dos soldados.



O Capitão [Raul] Folques, até então 2º Comandante do Batalhão de Comandos, a receber das mãos de Spinola os galões de Major do Almeida Bruno. Uma cerimónia original. Foto do livro Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80, de Manuel Bernardo.  Com a devida vénia aos Coronéis Bernardo e Raul Folques e ao General Almeida Bruno. [Virgínio Briote].




Guiné > Bissau > Santa Luzia > Quartel do Agrupamento de Transmissões > 1972 > Foto do álbum do Sousa de Castro.

Foto: © Sousa de Castro (2005). Todos os direitos reservados

(ii) Na inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia [, finais de 1971 ou princípios de 1972]


A outra vez em que estive com Spínola foi aquando da inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia, [Bissau,] não me lembro agora da data.

Mas lembro-me bem das peripécias relacionadas com isso. Eu integrava a ‘guarda de honra’ e fiquei posicionado quase na ponta direita das tropas que estavam mais próximo e em frente ao palanque onde o General ia discursar. Podia assim vê-lo quase de perfil do seu lado esquerdo, a uns escassos 4 metros.

Em certa altura do discurso - parece que o estou a ouvir - Spínola diz, com a encenação habitual, ou seja, de braços abertos, dobrados pelos cotovelos, como quem está a acenar, agradecendo, com a sua voz meio rouca, meio gutural, marcando bem as pausas:

- “porque aqueles …”

- “que dizem …”

- “que o Exército …”

- “é uma máquina acéfala…”

Nisto, um ruído vindo da máquina do operador fotocine indicou que houve um problema. Fita partida? Encravamento? Já não me recordo, mas isso passou-se exactamente à minha frente pois vi claramente os olhos do nosso General faiscarem, quase fulminando o operador que estava perto de mim, em clara reprovação pelo sucedido, e manteve a pausa do discurso enquanto resolveram o problema. Breves instantes é certo, mas naquelas circunstâncias pareciam uma eternidade.

Resolvido o problema, o General retomou o ‘fio da meada’, e agora com o pingalim na mão esquerda recomeçou:

- “porque aqueles …”

- “que dizem …”

- “que o Exército …”

- “é uma máquina acéfala…”

- “em breve irão ver que assim não é!”

Reparem que esta última frase era a que faltava antes, mas ele achou por bem fazer todo o discurso.

Como disse, não tenho bem presente a data do acontecimento, inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, o qual deve ter sido no trimestre final de 1971, inícios de 1972, mas quem quiser ler nas entrelinhas pode ver já aqui, principalmente por essa frase final, a promessa/ameaça de maior protagonismo pessoal ‘em breve’…

Estes foram os dois momentos em que estive mais perto do Comandante Chefe, General António de Spínola. Entram portanto, naturalmente, na categoria do “Spínola que conheci”.

Mas há outros aspectos que podem ser chamados à consideração.

Que António de Spínola é uma figura incontornável da nossa História, disso não tenho nenhuma dúvida e até já o referi lá mais acima. Que o seu percurso de vida é controverso, também acho que esta afirmação, em si mesma, não tem contestação. Tem, quanto a mim, entre outras coisas, um grande mérito, trata-se de uma pessoa que procurou ‘ter opinião’, procurou agir no seu tempo, ou melhor, nos seus tempos e, já se sabe, só não erra quem não faz.

Agora, se me perguntarem se sou fã, como agora é moda, do Spínola, ou se sou seu detrator, o que direi?

Tenho que saber de que Spínola se trata.

Do ‘jovem Spínola’ fascinado pelas fardas, pela organização, pelas práticas do Exército Alemão dos anos 30-40? Do Spínola da Guerra Civil de Espanha? Do Spínola em Angola? Do Spínola na Guiné? Daquele que implementou a política de “Uma Guiné Melhor” procurando ganhar a população para o ‘lado’ de Portugal tentando fazer em poucos anos o que não fora feito em séculos? Daquele que implementou a “acção psicológica”, umas vezes exaltada, outras vezes rejeitada? Quantas vezes não se ouviu o “Zé Soldado” dizer “o que faz ‘isto’ é a filha da puta da psícola, agora já nem se pode dar uma chapada num cabrão dum preto”? Do Spínola que escreveu “Portugal e o Futuro” em que foi capaz de apontar caminhos que, na prática, eram contra a prática governamental que afinal tinha seguido toda a vida? O Spínola que se envolveu em conspirações?

A vida de um homem é um balanço complexo, não se pode ‘agarrar’ apenas num determinado tempo e espaço, é todo o conjunto. Tem todo o mérito de não se acomodar, de empreender uma constante evolução, de raciocinar e, pelo menos aparentemente, mudar quando entendeu dever mudar.

É um elemento de referência de uma época. Mas a minha consciência diz-me que o devo respeitar mas não o posso idolatrar.

Um abraço para toda a Tabanca!

Hélder Sousa

Fur. Mil. Transmissões TSF

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Notas  do editor:

(*) Vd. poste de 23 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3926: Efemérides (17): Piche, 22 de Fevereiro de 1971 ou... Carnaval, nunca mais! (Helder Sousa)

(...) Referência à Acção Mabecos, feita pelo Fernando de Sousa Henriques, ex-Alf Mil Op Esp, no seu livro No Ocaso da Guerra do Ultramar, obra em que retrata a história da sua Unidade, a CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, Canquelifá, 1972/74. Esta acção, em que tomou parte o BCAV 2922, em 22 de Fevereiro de 1971, é descrita como tendo sido de escolta e de segurança a forças de artilharia no trajecto Amedalai - Sagoiá - Rio Sagoiá - Rio Camongrou - Piche 4E545 - Rio Nhamprubana - Piche... As NT formavam 4 Agrupamentos, sendo o primeiro comandado pelo Major Mendes Paulo (...)

(...) As forças das NT foram comandadas pelo Major Mendes Paulo (à data oficial de operações do BCAV 2922, homem muito conceituado no seio da Arma de Cavalaria, da confiança do General Comandante-Chefe, falecido em 6 de Setembro de 2006 e autor dum livro intitulado “Elefante Dundum”), que o IN “composto por brancos e pretos sujeitou as NT a forte emboscada da qual resultou 3 mortos, 1 desaparecido (“apanhado à mão”), 2 feridos graves, 3 feridos ligeiros e a destruição de um Unimog e uma White”, sendo que é indicado terem sido infligidos ao IN 6 mortos e vários feridos. (...)

Vd. também poste de 25 de julho de 2012 >  Guiné 63/74 - P10195: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (12): O senhor Major Calixto

(...) Comentário de António J. P. Costa.

(...) Olá, Camaradas!... Conheci o major Mendes Paulo que passou à reserva a seu pedido, depois desta comissão. Creio mesmo que ainda meteu o requerimento durante a comissão. Era um homem sério e íntegro, embora tivesse "o seu feitio". Escreveu um livro e CD que se chama "O Elefante Dundum" em que relata assuntos tão interessantes como a aquisição/experiência das Chaimites, ou o uso de dois carros de combate M5A1 que estavam para ir para a sucata e que ele recuperou e usou em Angola, com certo êxito.
Enfim um livro interessante. Pena que tenha sido edição de autor, mas na BibEx existe e pode ser consultado. Um Ab.
António J. P. Costa


Quinta-feira, Julho 26, 2012 3:20:00 PM

(**) Vd. poste de 13 de setembro de 20006 > Guiné 63/74 - P1067: Morreu o major Mendes Paulo (BCAV 2922, Piche, 1970/72) (José Martins)

(...) Major de Cavalaria JOÃO LUIS LAIA NOGUEIRA MENDES PAULO, que foi Oficial de Informações e Operações no Batalhão de Cavalaria nº 2922, oriundo do Regimento de Cavalaria nº 3 de Estremoz.

Chegou à Guiné em 23 de Julho de 1970 e assumiu o sector L 4 - Piche em 12 de Agosto de 1970. Regressou à Metrópole em 20 de Junho de 1972.

É autor do livro 'Elefante Dundun', que conta as suas aventuras em Macau, Angola e Guiné. O livro é acompanhado de um DVD, que contou com a colaboração de seus filhos. (...)


(***) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2013 > Guimé 63/74 - P11043: O Spínola que eu conheci (27): Depoimentos de António Rosinha / António J. Pereira da Costa / José Martins / Augusto Silva Santos / José Manuel Dinis


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Guinmé 63/74 - P11043: O Spínola que eu conheci (27): Depoimentos de António Rosinha / António J. Pereira da Costa / José Martins / Augusto Silva Santos / José Manuel Dinis



Guiné > Algures > Maio de 1973 > Costa Gomes, Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, dá início, a 25 de maio de 1973,  a uma visita ao Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), para se inteirar do agravamento da situação militar e analisar medidas a tomar com vista a garantir o espaço de manobra do poder politico em Lisboa.   Na foto, vê-se o Gen Costa Gomes à direita de Spínola, falando com milícias guineenses. Foto do francês Pierre Fargeas (técnico que fazia a manutenção dos helis AL III, na BA 12, Bissalanca), gentilmente enviada pelo nosso camara Jorge Félix (ex-Alf Mil Pil Heli, BA12, Bissalanca, 1968/70).

Foto: © Pierre Fargeas / Jorge Félix (2009). Direitos reservados.

1. Comentários de António Rosinha ao poste P11031 (*)_


(i) Sempre houve muita inibição em falar do desempenho extraordinário de Spínola, na guerra colonial. Os oficiais superiores, até por causa do desaire da morte dos 3 majores no chão manjaco, se retraíam em o fazer.


Mas, como foi durante muitos anos politicamente incorrecto, e ainda é hoje, defender a política portuguesa para África, diferente da inglesa e francesa (e soviética / americana), talvez por isso se evite fazer um retrato real da figura de Spínola.

Mesmo aqui neste blogue quanto mais na imprensa e nos historiadores, parece que há vergonha de falar no que na realidade fez sobressair este homem de qualquer outro português da sua época.

Como militar um dia se fará o verdadeiro retrato. Mas, como Governador Geral, vai ser difícil, porque os guineenses da sua época, régulos, e homens e mulheres grandes da sua época, não sabem escrever e não "podem falar" em público.

O grande sucesso de Spínola na Guiné, foi político e social, mais do que militar. Muitos não concordarão com A J P Costa, mas vê-se que já outros o acompanham.

(ii) A diferença que este homem teve para qualquer outro português da sua geração, nunca se pode medir por mais tiro menos tiro, mais erro menos erro, (mesmo a tragédia do chão manjaco). 

O exemplo dele foi copiado em Angola por governadores de distrito, como Soares Carneiro e outros, como capitão Branco Ló, que tiveram sucessos políticos e sociais em coordenação com GE's, com resultados estrondosos ao ponto de, quando se deu o 25 de Abril, nem sinal da presença dos movimentos se sentia em regiões do tamanho de 2 Guinés.

Mas vai ser difícil um dia escrever o que foi esta guerra, até porque para calar o barulho ensurdecedor de certas claques, vai demorar muitos anos. E essas claques não permitem que se escreva a história porque eles não entram nela. 


2. Comentários de António J. Pereira da Costa ao poste P11031

Não privei com o General. Ele visitou a CArt 1692 (Cacine), em maio/junho de 68, e eu não fiquei com nenhuma foto do evento. Já contei noutro poste que foi a partir daí que o dispositivo daquele sector se começou a alterar e a história, até 1973/74, está bem documentada cá no blogue.

Foi apenas uma vez a Mansabá pelo Natal de 72, para uma curta conversa, sem consequências. Entre 68 e 73 observei-o "de longe" e conclui que "sobrevivia" bem no(s) ambiente(s), jogando com uma visão mais clara, exacta e atenta das coisas da "guerra", (por isso sabia ouvir) uma certa dose de demagogia, prática da intimidação a alguns (os famosos "pares de patins" talvez tenham sido injustos em alguns casos e necessários, mas não aplicados noutros),  promoção (às vezes discutível) de outros, à mistura com certos "ódios de estimação (artilharia, estado-maior, etc.) e ideias preconcebidas.

Quero enfatizar as suas decisões de atacar o In no estrangeiro, que não sei até quanto poderiam contar com a "cobertura e aceitação" da sua hierarquia e a tentativa de contactos com o PAIGC através do presidente do Senegal. Sabemos bem quão sacanas e hipócritas eram os políticos do seu tempo.

Os rapazes do PAIGC apareceram, agora, nos programas do [Joaquim] Furtado [, A Guerra, série da RTP,] e denegrir esta tentativa. Foi um jogo de tudo ou nada em que quiseram prosseguir. Imaginem só o que seria a obtenção de um cessar-fogo na Guiné, à revelia do governo de Lisboa. É, no mínimo, discutível a opção do PAIGC de só negociar com o governo central e não com o opositor directo. O que poderia ter sido poupado em vidas e esforço! A comunidade internacional não deixaria cair o assunto e...

Bem, isto já são hipóteses. De qualquer modo volto a repetir que o General, como todos nós, era um bombeiro que chegava atrasado ao fogo florestal com todas as condições para continuar a arder.
Posso testemunhar as grandes melhorias a nível da logística que se operaram, desburocratizando uma série procedimentos e lançando no canal de reabastecimentos tantos artigos necessários. Saliento também a aproximação (absurdamente tardia e sem nunca reverter grandes contingentes para o controlo das autoridades) às populações. Era imperiosa, mas creio que num fenómeno sociológico como aquele que vivemos era tarde para resultados mais positivos. Tinham passado mais de 500 anos entre a descoberta e o início da "guerra" e a Guiné ainda era aquilo que vimos ao chegar e deixámos para trás.

Foi uma valentia sua aceitar um último esforço para tentar fazer algo de positivo. Já tenho dúvidas na aceitação de uma "missão votada ao fracasso", e isso ele não fez. Mas isso, já são contas de outro rosário...

Concordo, em absoluto, com o José Júlio Nascimento ["Se o General Spínola fosse norte-americano e tivesse estado no Vietname, talvez já fosse êxito de bilheteira numa qualquer saga heróica, mas como é Português"...](*).  Era uma boa oportunidade para se criar um branqueamento em que os "maricanos" são especialistas. Fabricam heróis quando têm necessidade deles e querem actuar sobre a mentalidade do seu povo e do estrangeiro. Eles hoje até estão convencidos que ganharam no Viet-Nam... Para mim, os homens têm qualidades e defeitos e o branqueamentos das suas personalidades e acções só os diminui à medida que a poeira da História assenta. É a verdade da vida dos homens bem divulgada que faz deles grandes.

Um Ab.
António J. P. Costa


3. Comentário do José Marcelino Martins [, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, foto à esquerda] ao poste P11028:

Com Spínola só falei duas vezes:
Como General, na visita que fez às tropas empenhadas na Operação Lacoste, no Burmeleu, a sul de Canjadude e muito próximo do rio Corubal. Teve de "arrancar" rapidamente devido à "saída de um morteiro In".

Como Marechal, falei com ele no Hospital da Ajuda, quando estava em tratamento e eu visitava o meu genro que estava internado.  Nessa altura falamos longa e amigavelmente, facto que foi notado por muitas das pessoas presentes.

Falamos da Operação Lacoste e falamos do meu genro e a razão por que estava internado. Já falava muito devagar e parava, porque a saúde já não ajudava. Não deixou de manifestar apreço por o ter abordado e deixou votos para as rápidas melhores "do rapaz".

Pouco tempo depois, foi ao encontro das "suas tropas celestes".

 4. Comentário de Augusto Silva Santos [, foto atual à direita,] ao poste P11028:

Curiosamente, fui eu quem lhe fez a última guarda de honra no Depósito de Adidos em Brá, antes de ele, General Spínola, sair da Guiné e ser substituído pelo General Bettencourt Rodrigues. Fui destacado para o efeito por castigo (facto que consta da minha apresentação ao blogue e que me escuso agora de repetir), mas confesso que na altura foi para mim uma honra por ser um militar e pessoa da minha admiração e respeito. Anos mais tarde viria a encontrá-lo a almoçar na Casa do Alentejo em Lisboa, e não pude deixar de me dirigir a ele e de o cumprimentar, relembrando-lhe esse facto, algo que muito o sensibilizou. Na oportunidade falei-lhe também sobre a minha passagem por Jolmete, algo que sempre mexeu muito com o Gen. Spínola, pela morte dos 4 oficiais no Chão Manjaco, perto daquele aquartelamento. Cumprimentou-me e deu-me um abraço desejando-me felicidades. Não sei se seriam muitos os oficiais generais deste país a ter tal comportamento.


5. Comentário de José Manuel Dinis  [, foto atual à esquerda, ]ao poste P11028:


Já aqui me referi ao nosso General por algumas vezes. Foi uma figura controversa, muito controversa.
Ambicioso, fazia o culto da imagem e do poder, e para o efeito utilizava como ninguém os meios de comunicação social, que davam eco às suas iniciativas. Estudioso da situação portuguesa, publicou, e as suas obras foram sempre pedradas no charco, agitando a quietude da água. Como soldado, era ousado, e preocupava-se em saber sobre as circunstâncias da tropa, tanto em acção, como na rotina aquartelada.

Onde é que terá falhado? Arrisco algumas impressões:

(i) Como estratega, parecia impulsivo, recuou e avançou com posições no terreno, que causavam alguma estupefacção à tropa (abandono e reocupação de áreas, a invasão de Pirada), além de ter tido iniciativas contraditórias e/ou que não controlou (ao nível do estabelecimento de negociações, e sobre Conakry);

(ii) Como gestor de uma organização, faltou-lhe o controle sobre os meios, o que seria relativamente fácil de implementar se tivesse criado um quadro de auditoria e controle, o que manteria melhores níveis no moral das tropas, além da poupança que incidiria no erário público;

(iii) Como discipinador, teve atitudes de punição e promoção, suscetiveis de critica severa, principalmente no que respeita às punições públicas; alternava com atitudes de tolerância, designadamente no que ao atavio dos militares e das unidades podia respeitar;

(iv) Relativamente à sua ambição política, no âmbito do confronto de posições (mais do que ideológico) com o governo, lembro-me do discurso de despedida, em que referiu: Fala-vos um soldado velho... e adiantou, os traidores estão na retaguarda. Ainda acrescentou com ar paternalista, que estaria sempre ao nosso dispor.

Foi uma figura fascinante. E ao passar revista à tropa, fez um desvio à trajectória, colocou-se à minha frente, observou-me o cabelo, o patilhame, a mosca, o ar malandro, e quando eu já imaginava que iria mandar-me para fora da formatura, virou costas e prosseguiu.
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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11031: O Spínola que eu conheci (26): Talvez só um dos melhores generais dos exércitos europeus do seu tempo (António J. P. Costa / José Carlos Lopes)

Foto nº 41



Foto nº 42

Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 42: O gen Spínola possivelmente em março de 1969, por ocasião da Op Lança Afiada (8-19 de março de 1969), em que o com-chefe se empenhou muitissimo, tendo estado inclusive com as NT no final, na Foz do Rio Corubal, na Ponta do Inglês (*) ...  Em, segundo plano, à esquerda o ten cor Manuel Pimentel Bastos (o Pimbas), até então comandante do BCAÇ 2852 (de óculos, careca, virado para o fotógrafo)... Será um das vítimas da ira de Spínola depois do ataque a Bambadicna, em 28 de maio de 1969...  Fotos do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil reabastecimentos (, aqui, junto ao helicanhão, foto nº 41). 

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)

1. Comentário do nosso camarada Tó Zé [António J. Pereira da Costa, cor art ref] ao poste P11024:

O Caco Baldé acaba por ser um nome carinhoso para materializar a popularidade o prestígio de um chefe. Sabemos bem que essa alcunha casa o monóculo (Caco) com um apelido frequente na Guiné (um espécie de Silva ou Oliveira) e nada mais.

Creio que realizou uma aprendizagem e aproximação lúcida à vida do seu tempo. O sue modo de pensar terá evoluído desde o 345 até à Guiné73 que só poderia desembocar no 25 de abril.  Tenho para mim que era um dos melhores generais dos exércitos europeus. Ele tinha mais de 30.000 homens sob o seu comando e mais de meio milhão de civis à sua responsabilidade.

Se tomarmos como referência os países da NATO não vejo nenhum que tivesse algo para lhe ensinar, na prática (bem entendido). Exceptuando os americanos que, riquíssimos em meios, perdiam a guerra do Viet-Nam e os franceses que também não ganharam a da Argélia, todos andavam a "brincar aos soldados" em cenários hipotéticos em que o "insidioso, ardiloso e mauzinho In" vinha de Leste a correr pela Europa fora com uma foice numa mão, um martelo na outra e uma estrelinha no alto da cabeça.

Enquanto que ele tinha operações todos os dias (de todos os tipos e formas); logística (má e insuficiente) todos os dias; gestão de pessoal (insuficiente) todos os dias e todo o resto... e era tudo par ter efeitos ontem, porque amanhã já era outro dia com novos problemas. Depois veio o período mais conturbado que nenhum dos estrangeiros atravessou, mesmo os que poderiam ter tido intervenção na condução da política dos seus países. Andou mal. Poderia ter andado melhor. Talvez, mas os homens que não fazem asneiras normalmente também não fazem mais nada.

Um Ab.

António J. P. Costa (**)
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Notas do editor

(*) Vd. I Série > 14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

(...) Publica-se a quarta e última do extenso relatório da Op Lança Afiada, que decorreu entre 8 e 18 de Março de 1969, na região compreendida entre a linha Xime-Xitole e a margem direita do Rio Corubal, até então considerada como um "santuário do IN".

A operação, comandada pelo coronel Hélio Felgas (o patrão do Agrupamento 2947, mais tarde comando operacional de Bafatá, COP 7, se não me engano), coadjuvado por dois tenentes-coronéis, Jaime Banazol (liderando o Agrupamento Táctico Sul, com mais de 500 homens que partiram do Xitole e de Mansambo) e Manuel Pinto Bastos (comandante do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), que encabeçava o Agrupamento Tático Norte (com cerca de 750 homens, que partiram do Xime). Ao todo 1300, entre soldados metropolitanos, milícias e carregadores...

Foi uma das últimas grandes "operações de limpeza", realizadas no primeiro ano de Spínola, enquanto Governador Geral e Comandante-Chefe (que fez questão de estar presente, junto das NT, no Dia D + 9, ou seja, 17 de Março de 1969, partilhando inclusive o transporte naval que levou os nossos esgotadíssimos camaradas da Ponta Luís Dias à Ponta do Inglês, no regresso ao Xime. (...)


Guiné 63/74 - P11030: O Spínola que eu conheci (25): "Na Guiné nada acontece por acaso", Com-chefe dixit... (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479/CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Paúnca, 1969/70)

1. Mensagem, com data de hoje, de Abílio Duarte, ex-fur nil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente a CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paúnca”) (Contuboel, Nova Lamego e Paúnca, 1969/70):

Assunto: General António Spinola - Caco Baldé.

Olá,  Luis Graça,


Sobre a tertúlia do momento (*), quem era o Gen  Spinola, tenho que dar o meu testemunho.(**)

Nunca esperei, ao ir para o Ultramar, ter tantas vezes contactos e próximos com o Com-Chefe, que até parecia que estava em todo o lado. Talvez por essa proximidade, e sem qualquer preconceito, me despertou uma grande admiração pela pessoa, como militar e Comandante. É evidente, que ele não podia agradar a todos, mas quem andava no mato, sentia a sua liderança.

A primeira vez que o vi, ao vivo e a cores, foi nos adidos em Bissau, onde ele foi fazer a recepção aos militares, que tinham chegado, no Navio Timor, onde estava a minha CArt 2479 / CArt 11 / CCaç 11.

Estávamos nós alinhados, na Parada, e subindo ele a pé desde a Porta de Armas, com os seu Estado Maior, onde se destacava o Cap Almeida Bruno, o General parecia um manequim da Casa Butler. Onde raio foi ele arranjar aquele camuflado?. Foi logo o nosso comentário.

Foi nesse primeiro discurso, pois ouvi vários, que ele, ao falar aos militares, entre várias frases de alento e incentivo, para as  dificuldades que nos esperavam, teve aquela qu,  na nossa Companhia, foi sempre referida por todos, " Na Guiné nada acontece por acaso ", e assim foi. Nada acontecia por acaso.

Depois visitou a nossa CArt em Contuboel, onde estávamos a dar instrução aos militares de origem guineense, por três vezes, incluindo um dia que estavámos a fazer instrução de tiro algures no mato e o General apareceu lá,  sem mais nem menos, e aquilo, quer queiram ou não, impunha respeito.Vi-o depois em Bissau, aquando do Juramento de Bandeira dos militares que iriam  formar a CArt 11 e a CCaç 12. Outro discurso, de envolvimento, em que o pessoal reconhecia a sua capacidade de oratória.

A prenda que tivemos, nesse dia à noite, foi que em vez de nos prepararmos para regressar ao Leste (Contuboel), fomos de prevenção fazer a segurança próxima ao Hospital Militar, pois constava que estava lá um ferido importante, chegou a correr o boato que era o General, mas não, era o cubano Capitão Peralta, e por isso ficamos quase uma semana em Bissau, ao monte nos Adidos.

Atravessei-me com ele novamente em Bissau, no Hospital Militar, quando lá estive para me tratar de doença tropical. Aparecia sempre. Depois ainda o vi mais duas vezes, em Pirada e Nova Lamego.

Há uma coisa, que lhe reconheço, e ninguém pode negar, ele foi comandante Militar numa Guerra, mas também o principal protagonista para o fim da mesma, ao escrever o livro "Portugal e o Futuro", e a controvérsia  que esse livro criou, ajudou a acabar com a mortandade da juventude portuguesa, e não só. Por isto tudo, terá sempre a minha admiração e respeito.

Abílio Duarte
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11028: Facebook...ando (22): O Spínola que eu conheci... Opiniões e depoimentos de Francisco Palma, Torcato Mendonça, J. Pardete Ferreira, José Basílio Costa, Bernardino Cardoso, Armando Ferreira Martins, Armandino Oliveira, Manuel Reis, João Guerreiro, José Tavares, Francisco Gomes

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11024: O Spínola que eu conheci (24): Alcunha, antonomásia, apodo, cognome ou epiteto... "Caco Baldé"... Qual a origem ? (Cristina Allen / Luís Graça / Jorge Cabral / Carlos Fabião / Cherno Baldé)


Alcunha  (do árabe al-kunia, sobrenome) s. f. > Epíteto, geralmente fundado nalguma particularidade física ou moral do indivíduo ao qual ele se atribui.
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O Velho, o Bispo, o Homem Grande de Bissau, o Aponta Bruno, o Caco, o Caco Baldé...

De todas estas alcunhas  já ouvimos falar, a propósito do homem que foi o comandante chefe de muitos nós, e em relação ao qual há (ou havia) uma estranha relação de amor-ódio: António de Spínola, ou Spínola, simplesmente. [, foto à esquerda]

Admirado por uns, idolatrado por outros, temido por muitos, odiado por outros tantos, caricaturado por alguns... Morreu como marechal do exército português, pertence agora à história, e como tal merece-nos o respeito de todos aqueles que da lei da morte se foram libertando.

Não sei como o PAIGC o tratava, em Conacri, na Rádio Libertação, por que alcunha (se é que a tinha, como devia ter,  já que todos na guerra têm alcunha, e por mais razão ele, objeto de especial ódio de estimação por parte do IN).  De qualquer modo, estamos ainda em  tempo de averiguar (ou simplesmente especular) sobre a origem da alcunha, antonomásia, apodo, cognome ou epíteto por que era mais conhecido, Caco Baldé,  não só entre os tugas como entre os fulas e outros grupos da população guineense que Spínola (re)conquistou com a sua política Por uma Guiné Melhor...

Fomos desencantar postes dos muitos que a ele se referem (são já cerca de 150)  como figura incontornável (quer se goste ou não) do cenário de guerra na Guiné, e nomeadamente durante o seu consulado (1968/73). Aqui vão alguns excertos. A amostra é de conveniência, não aleatória, logo não representativa...

Caco Baldé (ou simplesmente Caco)  era a a alcunha por que era mais conhecido o General Spínola entre os seus soldados. O Velho, era como ele era tratado entre o seu estado maior.  O Bispo era nome de código, e era assim  que o tratavam os nossos camaradas da FAP.

Caco Baldé... Caco queria referir-se ao vidrinho ou monóculo que ele usava... Baldé era um dos apelidos mais vulgares entre os fulas, aliados de Spínola... Esta é explicação commumente aceite por todos nós...Mas há outras teorias, como a do Cherno Baldé... 

2. Cristina Allen [, a ex-esposa de Mário Beja Santos, foto à direita, c. 1970]

(...) Dançando o tango com o Caco Baldé (...)

(...) Apressava-me, na saída, não fosse encontrar Spínola, que, diariamente, visitava os seus doentes. Atrasei-me três vezes e três vezes me aconteceu encontrá-lo à porta de armas (chamava-se assim?) do hospital. Andávamos, ao que parecia, cronometrados…

Havia um toque (A recolher? Por causa dele? Nunca perguntei). Mas via aquele homem passar para a mão esquerda o pingalim, encostá-lo firmemente à perna, pôr-se em sentido, crescer, enchendo o peito de ar, o ventre liso, o braço direito, o cotovelo, a mão, na mais perfeita continência que jamais vi. Ficava desmesuradamente imenso, desmesuradamente rígido, só o monóculo coruscava.

Estarrecida, não sabia que fazer dos pés, das mãos, da mala, da mini-saia, parava, cruzava as mãos, endireitava-me (postura por postura, não baixaria a cabeça, olhava-o nos olhos, ou, melhor dizendo, no olho e no monóculo). Acudiam-me ideias bizarras – que o meu avô materno fora lanceiro e, certamente, teria sabido fazer aquilo mesmo; que ele, Spínola, escorregara em Missirá, numas cascas de batata e fora ao chão, pose, pingalim, monóculo e tudo, soltando palavrões… que aquele homem era o… “Caco Baldé”! Apertava os lábios para não me rir: este é o Caco, Caco Baldé…

Mas este era apenas o primeiro acto desta farsa. O segundo, começava com a questão “Passas tu ou passo eu?”. No terceiro, resolvia eu recuar, só então ele passava e, perfeito cavalheiro, punha-se de lado e cumprimentava: “Muito boas tardes, minha senhora”. E eu respondia-lhe: “Muito boas tardes, Senhor Governador”. Afinal de contas, era fácil dançar o tango com Spínola. Dobrado contra singelo, diria que, em seus tempos, o teria dançado na perfeição, sem pisar os pés do par…

Deixemos, por ora, o Mário na sua cama, entre dois outros perturbados, que, continuamente, discutiam…

Quando, escassos anos volvidos, leria atentamente Portugal e o Futuro, fecharia o livro, e, olhos cerrados, para mim mesma o interpelava: “Então, meu Caco, só agora?!”

Para todas as coisas há o seu tempo. Nos anos de brasa que decorreriam, e, mais ainda, nos outros que vieram, ele seria, talvez, uma das mais contraditórias e inquietantes personagens.

Recordo, hoje, os quatro majores que, num gravíssimo erro de cálculo – ou num quase infantil erro de cálculo – ele enviou para o martírio e penso em tantos jovens anónimos que perderam suas desgraçadas vidas. Nos estropiados, nos cegos, nos perturbados, nas nossas lágrimas.

E, todavia, ele, feito Marechal António de Spínola, será sempre, para mim, a mais trágica figura do braseiro que outros atearam, sem ele, com ele, ou em seu nome.

Que Deus e a História sejam clementes para com este homem. (...)
cionário Priberam de Língua Portuguesa


3.  Luís Graça [, foto à esquerda, Bambadinca, 1970]

(...)  Excertos do Diário de um Tuga (L.G.)

Ponte do Rio Udunduma, 3 de Fevereiro de 1971

De visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime, esteve aqui de passagem, com uma matilha de cães grandes atrás, Sexa General António de Spínola, Governador-Geral e Comandante-Chefe (vulgo, o Homem Grande, o Caco Baldé). Eu gosto mais de chamar-lhe Herr Spínola, tout court. De monóculo, luvas pretas e pingalim, dá-me sempre a impressão de ser um fantasma da II Guerra Mundial, um sobrevivente da Wermacht nazi.

Mas o que é que faz correr este velho soldado, como ele próprio gosta de se chamar ? É difícil adivinhar-lhe a sua paixão secreta, o seu móbil, sob a sua impassibilidade de samurai (ou de figura de cera?): a mitomania, o culto da personalidade ou, hélàs!, a presidência da república ?

Há qualquer coisa de sinistro na sua voz de ventríloquo, no seu olhar vidrado ou no seu sorriso sardónico: talvez seja a superioridade olímpica do guerreiro.

Cumprimentou-me mecanicamente. Eu devia ter um aspecto miserável. Eu e os meus nharros, vivendo como bichos em valas protegidas por bidões de areia e chapa de zinco. O coronel (?) que vinha atrás do General chamou-me depois à parte e ordenou-me que, no regresso a Bambadinca, cortasse o cabelo e a barba…

A visita-surpresa do Deus-Todo-Poderoso foi o meu único monumento de glória em toda esta guerra… Ao fim de vinte meses!... Só quero regressar, são e salvo, a casa, daqui a um mês e, se possível, levar comigo a barba que deixei crescer… na Guiné, longe do Vietname. (...)

4.  Jorge Cabral [foto à direita, Xime, c. 1971]

(...) Quando Sexa o Caco, em Missirá, ia perdendo o dito...

Poucos dias faltavam para o Natal, e a tarde estava quente. Todo nu no meu abrigo, fazia a sesta, quando sou despertado por enorme algazarra misturada com os ruídos do helicóptero.
-Alfero, Alfero, é Spínola! - gritam os meus soldados.

(Estou tramado, o quartel está uma merda. Que visto? Apresento-me em estado de nudez? Não há tempo a perder. O pássaro já poisou e o General avança. Enfio uns calções antigamente verdes, umas chinelas, e claro uma boina, para poder fazer a devida continência).

Eis-me assim, garboso Comandante, apresentando a tropa, e os milícias, todos eles mal fardados, como era habitual. Sua Excelência, pede um intérprete, pois vai botar discurso. E começa:
- Debaixo desta bandeira… - e aponta o braço na direcção onde pensava que a mesma existia. Fica-lhe o braço no ar, mas continua:
- ... A Pátria… - , e notando a atrapalhação do tradutor, pergunta-lhe:
- Sabes o que é a Pátria?
- Não - responde aquele.

(Lixei-me! Vou ser despromovido, talvez preso. Dentro de mim um turbilhão de maus presságios começa a fervilhar. Mentalmente preparo réplicas. Não é necessária bandeira, pois a Pátria está dentro de nós, e por isso, meu General, é indefinível, responderei).

Mas o Caco nada me pergunta. Vem acompanhado de três majores e um capitão. Querem ver tudo. Primeiro a Escola. Onde funciona?

(Escola? Qual Escola? Pensa rápido, Jorge! Inventa!)

- Sabe, meu Major, estas crianças também frequentam o ensino corânico, que decorre ao ar livre. Por isso considerei que a nossa escola não devia ser enclausurada, pois tal podia traumatizá-las.
- Ainda assim…- começou o Major, impedido de continuar por um olhar do Com-Chefe.
- E o Heliporto? - indagou um outro Major - Parece muito atrasado.
- É que, meu Major, faltam os materiais e também operários especializados.
- Operários especializados? Então e os seus soldados?!
- Todos homens de Fé, meu Major. Tirando a actividade operacional, dedicam-se à reflexão.

Nem respondeu este Major. Logo outro se adiantou, interrogando o Amaral, sobre as povoações mais próximas. Em sentido, sério, calmo, respondeu o Amaral:
- Mato a Norte, mato a sul, mato a leste, mato a oeste, meu Major.

(Ah! Grande Amaral, vais fazer-me companhia na porrada!)
Mas o pior estava para vir! Sua Excelência queria testar o plano de defesa:
- Qual o sinal, nosso Alferes?
- Uma granada - improvisei eu.

Tendo-me dirigido à arrecadação não encontrei nenhuma granada ofensiva. Peguei então numa defensiva, e zás, lancei-a. Tudo tremeu! Manteve-se de pé o General, mas o caco caiu. Entretanto os meus soldados, querendo mostrar heroicidade, encostaram-se ao arame, de peito descoberto, alguns mesmo sem arma.

(Agora sim, está tudo perdido! Que vergonha! E logo eu, neto de um herói de Chaimite).

Recomposto o Caco, olhou-me uma última vez e disse:
-Já vi tudo!.

Ao encaminhar-se para o helicóptero, ainda lhe ouvi comentar para a comitiva:
-Porra, que não é só o Alferes! Estão todos apanhados!

Deve porém ter ficado impressionado, pois três dias depois voltou. Eu não estava. Tinha ido a Fá, buscar uma garrafa dewhisky, prenda mensal do Capitão João Bacar Djaló (3). Contou-me o Branquinho (4) que quando o informaram da minha ausência, Sua Excelência exclamou:
- Ainda bem! (...)


5. Manuel Lucena / Carlos Fabião [, foto à esquerda, c. 1971/73, quando era comandante do Comando Geral de Milícias, na sua 3ª comissão no TO da Guiné]

(...) Manuel de Lucena: O general Bettencourt Rodrigues disse-me uma vez que tinha as mais vastas dúvidas sobre isso da popularidade do general Spínola na Guiné e estava a falar das populações. Um grande
chefe, mas …

Coronel Fabião: O Caco Baldé! [, Alusão irónica ao monóculo (caco …) do general e ao apelido mais comum na Guiné (Baldé), como se fosse «Silva»]. (...)



6. Cherno Baldé [, foto atual, à direita]

(...) “Caco Baldé” tem origens no meio e língua fulas, é uma alcunha bem conseguida e duplamente interessante. Caco,khaco ou haco, originalmente, quer dizer cor castanha (a cor das folhas secas), na língua fula, e servia inicialmente para designar a cor da farda das autoridades administrativas e/ou da tropa colonial.

Mais tarde, para simplificar, este termo seria simplesmente utilizado para designar, de forma disfarçada e caricatural, as autoridades coloniais ou seus representantes.

O apelido Baldé seria lindamente encaixado em acréscimo, certamente, seguindo a lógica da brincadeira muito habitual entre grupos que se consideram primos por afinidade (sanguínea ou territorial) - “Sanencuia”.

Por exemplo, os Djaló são primos dos Baldé por afinidade sanguínea, da mesma forma que o grupo fula, na sua generalidade, é primo do grupo etnolinguístico mandinga que abrange Saracolés, Soninqués, Bambaras etc., por afinidade territorial.

Também é bastante lógico se tivermos em conta que a maior parte dos chefes tradicionais fulas (régulos) e colaboradores das autoridades coloniais, no chão fula, ou pertenciam a esta linhagem ou tinham este apelido, de modo que é uma homenagem e, ao mesmo tempo, uma caricatura dirigida a linhagem dos Baldé, na minha opinião bem conseguida, por um primo, resultante da brincadeira entre grupos de afinidade, usando a figura da maior autoridade portuguesa, de então, no território da Guiné.

Não tenho a certeza e trata-se de uma conjectura da minha parte como pista para uma pesquisa mais aprofundada. (...)

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Nota do editor:

Último poste da série 30 de janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7697: O Spínola que eu conheci (23): No serviço de estomatologia, no HM 241, e eu a segurar-lhe o monóculo (Mário Bravo)

(...) Aproveito para contar um episódio ocorrido com o Marechal Spínola [, na altura general]. Como todos sabemos, o Marechal usava de modo constante um monóculo que era a sua imagem de marca. Um dia teve necessidade de consulta de Estomatologia e lá foi ao Hospital Militar. Era sempre um momento de alguma confusão e eu lá estava a tentar aprender a tirar dentes.

É evidente que quem o tratou foi o Chefe, mas havia necessidade que alguém tomasse conta do monóculo e logo me tocou a mim. É engraçado que senti aquele receio de ser o fiel depositário de tão solene objecto. Mas consegui não o deixar cair !!!

O Hospital Militar de Bissau, era na época um exemplo fantástico de modernidade e eficácia. (...)