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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3605: Blogoterapia (81): Sempre gostei do meu país mas nem de todos os que cá vivem (António Santos)

1. Mensagem do António Santos (*), com data de 30 de Novembro:


Eu sou daqueles que falo pouco, observo e gosto mais de actuar, por vezes nem penso, e já sofri na pele por ser assim, inclusive monetariamente.

Fala-se tanto dos que passaram ao lado da guerra, por isto ou por aquilo, não interessa agora para o caso o porquê, recentemente veio juntar-se aquela frase escrita por um olheiro do nosso blogue - "velhos a lamentarem-se", ou coisa parecida... Não merece importância.

Bem vamos ao assunto que me leva desta vez a falar, escrever, primeiro. Há dias ouvi na Antena 2 uma entrevista com o Artur Agostinho, em que a dado momento disse "que gostava de PORTUGAL e não de muitas pessoas". Ora esta frase despertou em mim certas lembranças que passo descrever: eu também sou como o Sr. Artur, gosto muitíssimo de Portugal e não gosto de muitas pessoas, especialmente se são políticos, dou valor aos amigos do seu amigo, esses sim é que têm valor.

Tenho um tio que esteve na Guiné, em 63/65, na CCAÇ 557, companhia do nosso camarada José Colaço. Depois de regressar, passado algum tempo foi clandestino para França, a salto, como todos os outros, antes do tratado de Maastritch, e ainda la está.

Quando estava a aproximar-se a data de eu ser forçado a dar o nome para a tropa, ele apareceu e quis levar-me com ele. Pois já adivinharam que não conseguiu que eu fosse, primeiro por que gosto muito da minha terra, depois não me estava a ver viver noutro país que não o meu e na altura a Guiné, para onde acabei também por ir parar, diziam ser Portugal. Ele bem que me contou coisas da guerra da Ilha do Como e não sei mais quê, mas... não me demoveu.

Não sou herói, porque não os há, há sim indivíduos mais corajosos que outros, indivíduos que perante certas situações se transcendem e/ou se passam dos carretos, e cometem actos de bravura, mas nem sempre são os medalhados.

Tudo isto para dizer que Portugal é um país muito querido, antigo como poucos e com muita História, aqui sim com H grande.


A. Santos
SPM 2558

__________

Notas de L.G.:

(*) Ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74; membro da nossa Tabanca Grande desde 15 de Maio de 2006; residente em Caneças, concelho de Odivelas.

Vd. último poste do A. Santos > 21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3496: Hospital Militar Principal: Fazendo mini-caixões antes de ser mobilizado (António Santos)

(**) Vd. último poste desta série > 5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3566: Blogoterapia (73): Um elogio vindo da Bélgica (Soldado Carvalho / Santos Oliveira)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3496: Hospital Militar Principal: Fazendo mini-caixões antes de ser mobilizado (António Santos)


O actual Hospital Militar Principal, à Estrela, em Lisboa, instalado num antigo convento, nasceu de uma vasta rede de hospitais militares portugueses, criada no reinado de D. João IV por ocasião da Restauração, na década de 1640. Sofreu sucessivos aumentos e remodelações. Em 1961, foi criado o Centro Ambulatório de Doentes e Convalescentes, o famigerado Anexo de Campolide, por onde passaram milhares de camarados nossos , feridos graves, evacuados dos três teatros de operações da Guerra do Ultramar. Esse Centro ocupou as antigas instalações do Aquartelamemnto de Campolide, onde até então funcionava o Regimento de Artilharia nº 1.

Vd. Sítio do Hospital Militar Principal > Instituição


1. Mensagem de António Santos (*):

Camaradas e amigos da tabanca grande e pequena.

Saúde para todos.

LG/CV/VB.

O Luís escreveu no poste 3485 (**), passo a citar:

" É estranho que ao fim de 3 anos e meio de blogue ainda não tenhamos aqui o testemunho, na primeira pessoa do singular, de um camarada que tenha passado pela Estrela", fim de citação.

Eu não estou na pele da primeira pessoa do singular, mas já que o Luís puxou pelo assunto, eu vou contar o que se passou comigo, e de certeza com muitos mais camaradas.

Este é um assunto que tenho evitado contar, por motivos óbvios, porque devem compreender quando se escreve no blogue sobre estropiados, nem calculam o que se passa na minha cabeça, as recordações de muitas das situações que vi e vivi no HMP.

Ainda hoje não sei o porquê de, após o terminus da especialidade de TRMS de Infantaria, me terem enviado para o HMP em diligência. Quando lá cheguei, e talvez pela minha profissão de então (Estofador de móveis, portanto trabalhava com madeira), fui mandado para a carpintaria que na época se situava num local chamado a cerca. Era onde estavam algumas oficinas, esse local ficava mesmo por trás da Basílica da Estrela, esta descrição toda para quem não conhece o local mas, pelo menos, já viu a Basílica na TV.

Portanto, cá o rapaz, querendo ou não, tinha que ver o resultado da guerra, nas deambulações diárias pelo hospital, incluindo anexo e urgências. E embora não fosse propriamente um menino que tivesse vivido em redoma de vidro, aquelas imagens chocavam os mais fortes, eles eram de cadeiras de rodas, de canadianas, (agora), na altura eram muletas, cabeças rapadas cheias de cicatrizes, só entrava nas enfermarias quando tinha que ser, uma vez mandaram que fosse à morgue mudar uma fechadura, etc.

Como se não chegasse para pôr o bom do militar a bater mal, o meu trabalho principal na carpintaria era fazer caixas, caixões em miniatura para as pernas que os cirurgiões iam cortando. Quando tocava o telefone com origem na medicina, era certo, só havia 2 perguntas, 90 ou 1.20, isto em centímetros, e dependia por onde o cirurgião cortava.

Passados que foram 2 meses e meio de HMP, fui mobilizado para a Guiné. Não foi, não é fácil recordar situações destas.

Um alfa bravo, para todos.

AS
SPM 2558
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. os postes do nosso amigo e camarada António Santos (Recorde-se que ele foi, na outra incarnação, Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74, é membro da nossa Tabanca Grande desde 15 de Maio de 2006; mora em Caneças, mas é (ou era...) um puto reguila, alfacinha):

11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3439: Falando sobre o seu amigo Gregório (António Santos)

23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3089: Antropologia (7): As tabuinhas das escolas corânicas: tradutor de árabe, precisa-se (A. Santos / Luís Graça)

31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2393: Álbum das Glórias (36): O meu Racal TR 28-B2 (António Santos, Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74)

7 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1821: Armamento do PAIGG (2): Mísseis terra-terra Katyusha ou foguetões 122 mm (A. Santos)

23 de Maio de 2007> Guiné 63/74 - P1781: Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelo Marcelino da Mata, em Copá (A. Santos)

20 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1448: Os quatro comandantes da CCAÇ 2586 (A. Santos)

12 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1422: A derrocada do Leste e a mina que desgraçou o meu amigo de infância André, da CCAV 3864 (A. Santos)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

22 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1103: Breve historial do BCAÇ 1911 e do BCAÇ 1912 (A. Santos)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1097: Imagens chocantes do cemitério de Bambadinca (A. Santos)

4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P934: Da Casa da Mariquinhas do Gabu à Senhora Malária que me atacou seis vezes (A. Santos, Pel Mort 4574)

23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P900: O 25 de Abril em Nova Lamego (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

21 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P892: Memórias de Nova Lamego com o Pel Mort 4574/72 (A. Santos)

29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXI: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Nunca digas jamais (António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego)

(**) Vd. poste de 20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3485: Gloriosos malucos das máquinas voadoras (13): Os MAN - Mecânicos de Material Aéreo e o outro lado da guerra (João Coelho)

(...) "O João Coelho, que é um leitor atento e apaixonado do nosso blogue, e membro da nossa Tabanca Grande, é daqueles camaradas das Força Aérea que, nunca tendo estando em serviço na BA 12, Bissalanca, Guiné, esteve perto de nós, dos nossos feridos graves, recambiados para Lisboa, para esse outro inferno que era (imagino!) o Hospital Militar Principal, à Estrela, mais os seus anexos...

"É estranho que ao fim de 3 anos e meio de blogue ainda não tenhamos aqui o testemunho, na primeira pessoa do singular, de um camarada que tenha passado pela Estrela" (...)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3439: Falando sobre o seu amigo Gregório (António Santos)


1. Mensagem do nosso camarada António Santos, ex-Soldado do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74, com data de 10 de Novembro de 2008

Saúde para todos.
Caros camaradas e amigos da tabanca.

No ultimo sábado, momentos depois do Carlos introduzir o poste em assunto na nossa tabanca, e porque eu estava online a escrever no meu blogue precisamente um texto em que relato que o Gregório vai à minha procura ao quartel novo, pois sabia da chegada dos periquitos, onde eu estava incluído mas, eu nem sequer pensava que ele estivesse naquelas paragens tão a Leste.

Precisei de dar uma espreitadela à tabanca, quando me deparo com esta notícia (*). Primeiro inundou-me uma grande alegria pois pensava ser o meu amigo a entrar em contacto, mas depois de ler, a maior tristeza com a perca deste amigo da adolescência.

Conhecemo-nos por volta dos treze anos e apesar de não estar em contacto com ele desde a Guiné, fiz varias diligências para o encontrar, mas tal não foi possível. Há vários anos, não me lembro de quantos, andava eu na labuta diária numa das ruas em Lisboa e pareceu-me ver o meu amigo a conduzir um autocarro da Carris. Foi tudo muito rápido e no meio da confusão do trânsito de Lisboa, fiquei perplexo pois se não era ele, seria um sósia, tal era a parecença. Passado algum tempo, (como a noção do tempo, agora é tão diferente da nossa adolescência), entrei em contacto com a Carris na Pontinha e foi-me dito que o seu nome não constava dos quadros da empresa!!! Por coincidência, um vizinho actual empregou-se há cerca de dois anos na mesma Carris. Claro que oencarreguei de tirar a limpo a situação mas, deram-lhe como resposta que a carris tinha mandado para a reforma a malta com 55 anos.

Que descanses em paz amigo.

Quanto ao pedido da filha do Gregório, infelizmente só posso ajudar com o envio de mais duas fotos tiradas na mesma altura em Nova Lamego, pelo que estas três fotos são o total que tenho em minha posse e curiosamente as únicas tiradas connosco e que chegaram até aos dias de hoje, (não digo o mesmo de tantas outras).

O porquê de só três? Porque o teu pai pertenceu a uma companhia de intervenção que parava pouco no mesmo local. Nas fotos aparece também o Graça, (hoje meu compadre), embora não conheças os locais, descrevo onde foram tiradas. A que já conheces do blogue é à porta do famoso cine Gabú, onde vimos alguns filmes. A do memorial, que se situava exactamente no meio do quartel velho que era a pensão onde ele morava na época e, finalmente a terceira, é dentro do quartel novo junto a uma caserna. Depois deste dia das fotos encontramo-nos varias vezes mas nunca estava o fotografo por perto. Quando foi para mais longe, só o via quando me visitava.

Carlos, se a filha do meu amigo estiver interessada nos meus contactos, estás à vontade.

PS: Aproveito o mail para enviar uma terceira foto minha que parece que é muito igual a de Farim.

Cumprimentos,
António Santos

Gabu > O trio de amigos no quartel velho

Gabu > O trio de amigos no quartel novo

António Santos junto ao momumento que assinala(va) o V Centenário da morte do Infante D.Henrique.

2. Comentário de CV

Infelizmente não temos o contacto da filha do nosso camarada Gaudêncio, pelo que fica a esperança de que ela nos leia e entre em contacto connosco. Tenho preparadas, para lhe enviar, as fotos que ficam neste poste, em tamanho ligeiramente maior.

Vamos aguardar o seu contacto. Caso queira o contacto do António Santos, será disponibilzado, segundo a sua vontade expressa.
________________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3425: O Nosso Livro de Visitas (40): A.Gaudêncio, filha do nosso camarada Gregório Gil Gaudêncio

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2564: Prisioneiros: Havia um tratamento decente, no meu tempo (António Santos, Nova Lamego, Pel Mort 4574, 1972/74)


Guiné > Zona Leste > Nova Lamego > s/d > Um guerrilheiro do PAIGC feito prisioneiro...

Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.



1. Mensagem, com data de hoje, do António Santos (ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74)

Assunto - Prisioneiro

Amigos e Camaradas.
Luís, Vinhal e Briote:

Antes de começar este pequeno texto, e porque o assunto é sondagens, gostaria de dizer porque não votei na anterior: 1º só uma vez escrevi uma carta e recebi duas de uma madrinha que me arranjaram, como foi tão esporádico achei que não devia contar como tal, mas em contrapartida o Brandão tinha umas trinta (30), passava as horas vagas a escrever.

Acabei de votar no blogue, na sondagem nº 7 e, como o que vale é o que vimos e passamos, só podia ser: CONCORDO.

Já agora será oportuno dizer e tem tudo a ver com o assunto, que nunca vi nenhuma referência no blogue relacionado com o facto de que se houvesse uma agressão de algum elemento das nossas tropas na pessoa de um civil (assuntos entre militares havia o RDM), a pena mínima era de dez (10) dias para esse militar. Pelo menos era assim no chão Fula onde vivi nos anos de 72 a 74. E penso que em toda a Guiné. Fazia parte da acção psicológica então desenvolvida.

Quanto ao tratamento dado aos elementos do PAIGC, concordo também com o Rebocho, apesar de só ter visto um prisioneiro militar e quatro ou cinco mulheres da população do outro lado, todos foram muito bem tratados (inclusive com rancho melhorado), até saírem do nosso quartel. O homem foi para Bissau. As mulheres não sei.

Para provar aqui está em anexo uma foto do militar do PAIGC, logo após ter sido feito prisioneiro depois de uma flagelação com foguetões a Nova Lamego.

Um alfa bravo

António Santos
SPM 2558
Pel Mort 4574
Nova Lamego
1972/74

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2393: Álbum das Glórias (36): O meu Racal TR 28-B2 (António Santos, Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74)

Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > O A. Santos, Op Trms, Pel Mort 4574 (1972/74)

Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do António Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74.

Carlos:

Antes de tudo desejo um bom ano de 2008 para ti e familiares, que corra tudo como esperas.

De seguida para que o pessoal da Tabanca Grande veja o que era um Racal TR 28-B2, envio esta foto tirada nas traseiras do edificio do comando em Nova Lamego.

Na imagem, podemos ver a bolsa própria do Racal (para protecção do aparelho), e que já trazia suspensórios. Isto foi só para a foto (1).

Um alfa bravo

A. Santos
Pel Mort 4574
SPM 2558
____________

Nota dos editores:

(1) Vd. post de 30 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2389: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (6): Racal (José Martins)

sábado, 20 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1448: Os quatro comandantes da CCAÇ 2586 (A. Santos)


Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > Centro de Mensagens e Central Telefónica > 1973 > O António Santos com o um chapéu de um camarad de transmissões da 38ª CCmds.
Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.

Mensagem do nosso camarada A. Santos, Ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74:

Luis, amigos e camaradas.

Sobre o post 1446 (1), posso esclarecer, se isto ajudar, que a CCAÇ 2586 teve como comandantes 4 capitães, que passo a descrever:

1 - Evaristo Ramalhinho Duarte, Cap Inf;

2 - João Carlos Carvalho de Castro, Cap Mil Inf (Também foi comandante da CCAÇ 13);

3 - Rui Fernando Alexandrino Ferreira, Cap Mil Inf (Também foi comandante da CCAÇ 18) (2);

Guiné > O Cap Ferreira, o nosso querido camarada de tertúlia, hoje coronel na reforma Rui Alexandrino Ferreira, autor do livro de memórias, Rumo a Fulacunda. 2ª ed. (Viseu: Palimage Editores. 2003) (2)


4 - Eugénio Batista das Neves, Cap Inf (Também foi comandante das CCAÇ 1438 e 2404, da CCS BCAÇ 2834 e da CCS BAÇ 2852).

Com isto talvez o Cap João Godinho, se recorde de qual deles comandou a CCAÇ 2586, no dia 21 de Abril de 1970. de má memória.

Um alfa bravo para todos.

A. Santos

SPM 2558

PS - Aproveito para enviar uma foto captada na parte de fora do centro de mensagens e central telefónica do Batalhão de Nova Lamego. Uma curiosidade: o chapéu pertencia a um telegrafista da 38ª Companhia de Comandos, do nosso camarada Amílcar Mendes.

_________

Notas de L.G.:


(...) "Acabo de falar com o Cap João Godinho. É muito terra-a-terra. Forneceu-me as seguintes informações: (i) Quem procedeu ao levantamento dos corpos, na manhã seguinte, [21 de Abrild e 1970,] foi a CCAÇ 2586, comandada por um capitão de que já não se recorda o nome (companhia teve 4 ou 5 comandantes)" (...)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1422: A derrocada do Leste e a mina que desgraçou o meu amigo de infância André, da CCAV 3864 (A. Santos)

Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > O António Santos no seu posto de rádio, acompanhado de dois camaradas. Operador de mensagens, por ele passavam muitas notícias da guerra. Ele acompanhou, à distância, a progressiva derrocada militar da região de Gabu.
Foto: © António Santos(2006). Direitos reservados.


Mensagem do nosso camarada A. Santos, Ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74:

Camarada, Luís Graça.

Boa saúde.

Os posts P1409 e P1410 em que se faz a recensão do livro de Benigno Fernando (1), tem referências a acontecimentos (verídicos) que se passaram na Zona Leste, sector L6. Este assunto a que se refere este post do Beja Santos, é só a confirmação do que te falei no nosso primeiro encontro, na tua faculdade (2).

Nessa altura referi também outra localidade que acabou por ser o alvo que mais embrulhos sofreu, Canquelifá, que pertenceu ao Sector L4. Já fiz uma abordagem ao tema no post 1216 (2).

O Cap Cruz, cmdt da 1ª companhia do BCAV 8323, de seu nome Angelo César Pires Moreira da Cruz (não sei se posso ditar o nome completo, mas aqui está, conforme é referido nos canhenhos da guerra) foi substituído pelo Cap Fernando Loureiro.

Isto tudo traz-me à memória um outro caso em tudo idêntico, que eu tenho feito por não lembrar desde 1973. Durante algum tempo penso ter conseguido, mas periodicamente vêm ao de cima, tento de novo esquecer mas em vão, este post do Beja Santos veio definitivamente obrigar-me a não esquecer.

No Batalhão anterior ao BCAV 8323, dois elementos que o compunham, são rapazes da minha infância, um na CCS outro na CCAV 3864, o André. Durante os 6 meses finais de 1972 e o ano de 1973 quase todo, quando passavam por Nova Lamego os meus amigos vinham ter comigo para a confraternização da praxe, conversar sobre a vidinha, e beber umas cervejas. Isto aconteceu repetidas vezes, até que um dia quando eles faziam 22 meses de comissão, o meu amigo André pisou uma maldita mina, num maldito trilho, que o desgraçou para todo o sempre, nunca mais foi o mesmo.

No nosso almoço, na Ameira, distribuí um CD onde no ficheiro em formato Excel com o título lista_unidades na célula H-773, está a palavra Sissaucunda a vermelho. Não foi por acaso, esse vermelho simbolizava o azar do nosso camarada e meu amigo de escola, das brincadeiras de há 50 anos.

Como ja contei, o Leste nesta fase terminal da guerra estava a ser muito apertado, outra nova, amigo Luís, Nova Lamego nesse tempo foi sobrevoada à noite por diversas vezes e os aviões não descolavam de Bissalanca.

Desculpa ter tomado algum do teu tempo, mas o post P1410 teve este efeito em mim, porque normalmente sou mais de ler do que escrever ou falar, talvez defeito da passagem pelas trms.

Um Alfa Bravo

A. Santos
SPM 2558

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Notas de L.G:

(1) Vd posts de:

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá (Benigno Fernando)

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1409: Bibliografia de uma guerra (16): Pirada, Bajocunda, Canquelifá, Copá: o princípio do fim (Beja Santos)

(2) Vd. post de 27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

(...) Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

"A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Mort. 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

"Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos Helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!" (...).

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

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Guiné > Zona Leste > Sector L3 >Nova Lamego > O António Santos no seu posto de rádio. Operador de mensagens, por ele passavam muitas notícias da guerra. Era também ouvinte frequente da Rádio do PAIGC, localizada em Conacri, a que as NT chamavam a Maria Turra (1).

Texto e foto: © António Santos(2006). Direitos reservados. Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Mensagem do A. Santos, com data de 23 de Outubro:

Amigo Luís e caros tertulianos:

Eu já tinha abordado este assunto, embora superficialmente com o Luis Graça, mas com a questão actual sobre Guidaje ele veio ao de cima: todo o tempo passado na Guiné foi mau, penso que para todos e em qualquer sector, independentemente do ano em que por lá passámos, mas o ano de 73 e os últimos meses de 74, foram péssimos. Tenho a certeza que para isso contribuiu e muito a morte de Amílcar Cabral: o PAIGC ganhou mais força e apoios e o resultado estava-se a ver.

Eu ouvia com muita assiduídade a Maria Turra, embora os homens de Bissau empastelassem a frequência rádio, e sei que tudo o que nos prometeu, após a morte de Amílcar [,em 20 de Janeiro de 1973], cumpriu-se, acho até se aquilo dura mais uns tempitos, teríamos que fazer as malas com antecedência.

Um Alfa Bravo para todos.

A. Santos
Ex-Sold Trms
Pel Mort 4574/72
Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,
1972/74


2. Texto do A. Santos


Camarada, Luis Graça.

Estou há muitos anos a guardar na minha memória vários acontecimentos que se passaram na Guiné. Penso que isso acontece com todo o pessoal. Vivi à distância os acontecimentos de Guidaje e Guileje, mas a guerra passava-me pelas mãos, porque em Nova Lamego fui sempre operador de mensagens e não transmissões que de facto foi a especialidade que me despejaram em Campolide - Lisboa.

Acho que chegou o momento para contar um deles. Além de Guidaje e Guileje/Gadamael houve uma terceira ofensiva forte, levada a cabo pelo PAIGC no final da guerra, mas desta vez no Leste, no início do ano de 1974, mais precisamente no sector L4 e L6. Alvos preferenciais: Bajocunda, Copá, Mareué e Canquelifa, sem esquecer outros.

Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Mort. 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos Helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!

Isto foi só em Nova Lamego porque em Piche não soube, nem quis saber e não sei o que se passou.

Um Alfa Bravo

A. Santos
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Nota de L.G.:
(1) Maria Turra era a locutora de serviço da Rádio do PAIGC, localizada em Conacri: vd. artigo do jornalista Joaquim Vieira, na edição do Expresso de 21 de Abril de 1984 > Como os rapazes viveram a paz e a guerra
(...) "Os tempos da fraternidade estavam afinal mais próximos do que alguém podia imaginar no batalhão. Onze dias depois da Páscoa, na manhã de 25 de Abril, começaram a chegar a Sedengal notícias de um golpe de Estado em Lisboa. As primeiras informações foram recebidas através das emissões em português de Rádio Conakry. Alguns soldados não sabiam o que era um golpe de Estado, e procuraram informar-se. Algumas horas depois, a locutora - que os portugueses tratavam por Maria Turra - anunciou a prisão de Américo Tomás e Marcelo Caetano. A gaja está mas é maluca, houve quem comentasse" (...).
Por Maria Turra também era conhecida, entre as NT, a viúva de Amílcar Cabral: Vd. também post de 21 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCIV: Eu estava lá, na entrega simbólica do território (Mansoa, 9 de Setembro de 1974)(Magalhães Ribeiro)

(...) O Eduardo [Magalhães Ribeiro] diz que ficou famoso pela sua foto a arriar a bandeira verde-rubra , em Mansoa, na presença da Maria Turra (sic), como era conhecida entre os tugas - com o sentido de humor, que é típico da caserna, mas com respeito e até carinho - a viúva do Amílcar Cabral, que assistiu com outros destacados dirigentes do PAIGC a este momento histórico" (...).

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1097: Imagens chocantes do cemitério de Bambadinca (A. Santos)

Beja > 1971 > O António Santos na recruta.

Foto: © António Santos (2006)


Mensagem do António Santos, ex-soldado trms, Pel Mort 4574/72 (Nova Lamego, 1972/74) (1)

Amigos e camaradas tertulianos:

Nós que estivemos na Guiné, estamos de luto, enquanto este País, ou quem manda nele, não repatriar os nossos mortos, que é o dever de todas as nações. Já não estamos no século das descobertas, nesse tempo sim, não havia meios, mas hoje!, até se faz turismo (rico) no espaço.

Antes de entrar no blogue, nem se quer me passava pela cabeça que algum dos nossos camaradas mortos, estivesse enterrado na Guiné. Sempre pensei que todos os que caíram regressassem como seria normal, mas afinal parece que foram muitos os que ficaram por lá.

Fiquei chocado com tudo o que vi ontem [no progama Em reportagem, da RTP1], mas as imagens de Bambadinca!... Nunca esperei que fizessem casas em cima de um cemitério, é incrível.

Se houver algum movimento de solidariadade para com os nossos mortos, estou presente.

Um Alfa Bravo

A. Santos
Pel Mort 4574/72

__________

Nota de L.G.

(1) Vd. post de 29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXI: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

sábado, 8 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P946: Destacado no Gabu, em Cansissé, de Julho de 1973 a Setembro de 1974 (Américo Marques)

1. Mensagem do A. Santos (ex-soldado de transmissões, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74), para o Américo Marques:

Boa tarde:
Estou a transmitir para o teu posto, depois de o Luís Graça e o Sousa de Castro me falarem de ti. Por eles sei que estiveste em Cansissé mas dizem que estiveste lá em 72/74. Gostaria de saber se possível mais pormenores, pois, pelo que sei, Cansissé só tinha um grupo de combate e pertencia à CCAV 3405/BCAV 3854 de Nova Lamego (1971/73)... Aqui está qualquer coisa que não se encaixa.

Por meu lado, tirei a especialidade em Campolide - Lisboa, no BCAÇ 5, de 2 de Janeiro a 10 de Março de 1972 e marchei para Bissau em 15 de Julho de 1972.

Fico aguardar as tuas noticias um grande alfa bravo [abraço]


2. Resposta do Américo Marques, ex-soldado de transmissões da 3ª CART do BART 6523, com sede em Nova Lamego (Gabu), destacado em Cansissé (Julho de 1973 / Setembro de 1974):

A. Santos:
Não bate certo e com razão! Eu fui formando de transmissões no primeiro trimestre de 1973 no BC5, em Campolide. E embarquei para a Guiné no verão desse ano. Ou já se esqueceram dos meus dados? No texto último (A Estibordo do Niassa) estão referências a datas (1).

Américo
___________

Nota de L.G.

(1) Vd. posts referentes ao Américo Marques e a Cansissé:

23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P901: De Viana do Castelo a Cansissé (Américo Marques)

21 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P891: Recordando o Xime do Sousa de Castro (A.Santos)

12 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXVI: Américo Marques, o último soldado do Império (Cansissé, 1974)

terça-feira, 4 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P934: Da Casa da Mariquinhas do Gabu à Senhora Malária que me atacou seis vezes (A. Santos, Pel Mort 4574)


À esquerda: A. Santos (ex-soldados de transmissões, Pelotão de Morteiros 4574/72, Nova Lamego, 1972/74), 1972/74).

À direita: O António Santos, hoje, fundador da empresa Noprodigital - Comércio Equipamentos Escritório Lda, com sede em Caneças.

Texto e fotos: António Santos (2006)


Guiné> Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > Os maus caminhos da vida de caserna...


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego >O posto de rádio da CCS do BCAV 3854 (1971/73). Na foto, o António Santos, de serviço.


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAV 3854 (1971/74 > O edifício do comando.


Camarada Luís:

Antes de mais, quero dizer-te que tive um enorme prazer em conhecer a tua pessoa, ao vivo e... a cores.

Junto um pequeno texto, mas com muitos adereços... Conforme a nossa conversa aqui vão 2 fotos da minha tábua das rezas, em árabe, vê se está perceptível para o Mr. Argelino [um médico, de origem argelina, conhecido de L.G.] traduzir, senão tiro fotos com outra máquina que tem mais definição.

Junto tambem as fotos antes e depois para a fotogaleria: demorou um pouco, mas a culpa é do fotógrafo, pois tirei a foto actual no baptismo da neta mais nova no dia 13 de Maio de 2006 e só hoje ma entregou.

As outras fotos são do edificio do comando e dentro do posto rádio.

Um abração

A. Santos

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Camarada, Luis Graça:

No dia seguinte (1), começou a sobreposição, que durou uns quinze dias já não recordo bem, os trms [transmissões] e condutores foram emprestados à CCS [do BCAV 3854, Nova Lamego, 1971/73] para entrar na escala de serviço da mesma, assim como já era feito pelo pelotão [de morteiros] que fomos render.

Nós, os trms, fomos apresentados ao Alf Mil Trms, Pinto Ferreira, que se veio a revelar um excelente chefe: confiava nos seus homens e não precisava de puxar pelos galões.

Eu fui para o posto de rádio mexer em aparelhos que na especialidade nunca tinha visto, o AN/PRC-10 para fonia e o AN/GRC-9... Este era utilizado quase sempre em grafia, mas também era muito bom para fonia, principalmente para ouvir notícias e relatos da bola.

Dois ou três dias depois ao chegar ao posto de rádio para mais umas lições, fui enviado para o centro de mensagens, em substituição doo camarada Vasco, que estivera lá mas não se adaptou às cifras e códigos... Fui e acabei por ficar até receber o meu pira.

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > A ida à bolanha, ver as as bajudas lavar a roupa e o corpinho, era um dos poucos passatempos a que se podia dar ao luxo o Zé Tuga , nas horas vagas... Foto: © José Teixeira (2006)



A velhice lá partiu de regresso às suas vidas, e nós ficamos a contar os dias e a entrar na rotina do dia a dia, serviço 8 horas seguidas, algum descanço, futebol, ida quase diária à bolanha, ver as bajudas a lavar a roupa e o corpo, a visita quase obrigatória à casa da mulher grande, que ficava aí a uns 200 metros da igreja (foto enviada há dias), muita das vezes era só para inspeccionar o material e divertirmo-nos um pouco...

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Nova Lamego > A casa da mariquinhas do Gabu ficava a 200 metros da capela...

Quando havia patacão (2) bebia-se a bica e/ou a cervejinha, ou meio wiskey, o que era um luxo: não é que fosse caro, o problema eram mesmo os pesos, eram sempre muito poucos.

Cópia de uma nota de cem escudos da Guiné (ou pesos), emitida pelo BNU (Banco Nacional Ultramarino), em circulação antes da independência. A nota ostenta a efígie do Nuno Tristão, o primeiros dos nossos camaradas a morrer na Guiné, "país de azenegues e de negros" (sic), no já longínquo ano de 1446, "varado por azagaias envenenadas" (sic), como se pode ler algures no Portugal dos Pequenitos, em Coimbra (se nunca lá foram, aproveitem para ir com os netos um fim-de-semana destes).

Foto: © Jorge Santos (2005)


Cópia de nota de 50 escudos (pesos) da Guiné. Frente. Imagem gentilmente enviada à nossa tertúlia pelo Sousa de Castro. Com uma verdinha destas, um cabo dava um queca, nos áureos tempos de 1972/74... (Na minha zona, dizia-se "mudar o óleo em Bafatá")...


Foto: © Sousa de Castro (2005)
Finais de Agosto de 1972, o primeiro e o mais terrível paludismo dos seis que me tocaram, mais terrível porque a ignorância de pira achou que fosse uma gripe, e por isso andei até ao limite das forças. Os camaradas - não me lembro quem - tiveram que pegar-me ao colo e levar-me para a enfermaria, ainda no quartel velho.

Ministraram-me tudo e mais alguma coisa, ainda assim, às 3 horas da madrugada, o enfermeiro de serviço chamou o médico e espetaram mais umas agulhas. Ao fim de quatro dias já estava a dar conta do recado, e fui transferido com outro soldado africano, únicos hóspedes, para a enfermaria do quartel novo, que era um luxo em relacção a anterior. Permaneci mais dois ou três dias e fiquei fino até a próxima.

Com esta aprendi que não se podia brincar com a malária, qundo aparecia ou atacávamos logo ou ela dava cabo de nós. As outras cinco vezes não foi nada parecido, inclusivé cheguei a fazer stock no meu armário dos quininos utilizados para esta maleita.

O centro de transmissões ficava no primeira divisão na ponta direita do edificio do comando, (junto foto, captada da porta de armas): ao centro do mesmo, os gabinetes do Comando e ao lado das trms a acção psicológica.


A. Santos

Ex-Soldado Transmissões
Pel Mort 4574, 1972/74

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Notas de L.G.
(1) Vd. posts anteriores do António Santos, relativos às suas memórias de Nova Lamego:
8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Nunca digas jamais (António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego)
29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXI: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)
21 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P892: Memórias de Nova Lamego com o Pel Mort 4574/72 (A. Santos)
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P900: O 25 de Abril em Nova Lamego (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

(2) É caso para perguntar ao A. Santos, puto reguila, alfacinha, transmissões, qual era a cotação, em 1972/74, das meninas da Casa da Mariquinhas do Gabu... Essa é uma informação preciosa para os futuros historiadores da guerra da Guiné, 1963/74... e que infelizmente não vem em nenhum documento oficial das NT... Sobre o custo de vida do mulitar da tropa, nesses tempos já longínquos, vd post de 28 de Junho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXIX: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (1)

(...) "Há dias o Jorge Santos mandou-nos uma nota de cem escudos da Guiné (cem pesos). Ou melhor: uma nota digitalizada, uma imagem em formato jpeg. Puxem pela memória e digam lá, para a gente poder explicar isso aos filhos e netos, bem como à cara metadade, o que se podia comprar/pagar com uma notinha destas, no vosso/nosso tempo…

"Eu tenho ideia que era manga de patacão, pessoal ! Eu já não me recordo quanto pagava à lavadeira, em 1969/71, mas se fosse serviço extra, era capaz de lhe dar uma nota destas. A minha não fazia favores sexuais, mesmo em dias de festa: não era cristã nem animista, era uma fula, recatada e virtuosa… Mas em Bissau ou em Bafatá, uma queca (como os nossos filhos e as nossas tias dizem agora, 'tás-a-ver...) podia custar uma nota (preta) destas... Já não me lembro das cotações no lupanário em tempo de ocupação e de guerra... As verdianas do Pilão, essas, podiam ser até mais caras…

"Com uma nota destas, ó tuga, tu compravas duas garrafas de uísque novo (disso lembro-me bem…). O Old Parr (uísque velho, muito apreciado lá e cá) já custava mais: 130 ou até 150 pesos, se não me engano… Além do pré (6oo pesos/mês), os meus soldados africanos (que eram praças de 2ª classe!) recebiam mais, creio eu, cerca de 25 pesos por dia pelo facto de serem desarranchados. Nunca joguei à lerpa, mas o Humberto pode dizer quanto ganhava ou quanto perdia numa noite de insónias e de rodadas de uísque" (...) (L.G.)

Opinião (douta) de outro transmissões, do Alto Minho, o nosso querido camarada Sousa de Castro:

(...) "Puxando um pouco pela memória, eu como 1º cabo radiotelegrafista ganhava 1.500$00, sendo 1.200$00 por ser 1º cabo e mais 300$00, de prémio de especialidade.A dita queca, se a memória não me trai, creio que era assim: para os soldados cinquenta pesos; para os cabos sessenta pesos; a partir daqui não me lembro quanto pagavam os mais graduados... Quanto às cabo-verdianas, a coisa era de facto mais cara, em final de comissão paguei cento e cinquenta ou duzentos pesos, isto em Fevereiro de 1974" (...).

Comentário de L.G.:

Ó Sousa, isso foi mesmo uma queca imperial, para a despedida, não da Guiné mas do Império!
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quinta-feira, 29 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P922: Memórias do Pel Mort 4574 (A. Santos): O mauzão do Hitler de Nova Lamego


III parte da história do nossa fotogaleria... Resumindo: estás óptimo, embora de cabelos já grisalhos, para um homem que há seis anos iam morrendo (e matando a mulher), debaixo de um camião TIR... Pois, o António é um grande lutador, um excelente contador de estórias, um grande conversador, um grande depositário das memórias do Gabu... Fico à espera que ele arranje tempo e disposição para nos contar as peripécias dramáticas que ocorreram na região do Gabu nos últimos meses antes do fim da guerra e que levaram, por exemplo, ao abandono de Quanquelifá por parte das NT... Nunca esteve no mato, em actividade operacional - segundo pecebi - mas pelos seus seus auscultadores passaram
muitas notícias classificadas... Esses tempos de Nova Lamego deixaram-lhe os nervos em franja... Há uns anos atrás senti necessidade de pedir apoio psicológico, considerando-se vítima de stresse pós-traumátcio de guerra... Apesar de referenciado pelo seu médico de família, chegou á conclusão que o processo é pouco ou nada amigável: é preciso arranjar testemunhas presenciais que testemunhem as situações relatadas, etc. Conclui, em suma, que é mais fácil a um camelo entrar no buraco da agulha do que um desgraçado de um cacimbado da Guiné obetrr psicológico por parte do Serviço Nacional de Saúde ou dos Serviços de Saúde Militares, ao abrigo da Lei nº 146/99, de 16 de Junho de 1999, que veio instituir o “apoio às vítimas de stress pós-traumático de guerra”.

Nos termos deste diploma, o conceito de “deficiente das Forças Armadas” passa a ser alargado ao cidadão português, militar ou ex-militar, que seja “portador de perturbação psicológica crónica resultante da exposição a factores traumáticos de stress durante a vida militar” , quer no teatro de guerra, quer no desempenho de missões humanitárias e de paz ou de acções de cooperação técnico-militar no estrangeiro.

Ao Estado cabe a criação de uma “rede nacional de apoio” às vítimas de stress pós-traumático de guerra, em no âmbito do Serviço Nacional de Saúde e do Sistema de Saúde Militar, em articulação com as organizações não governamentais (ONG). A essa rede incumbe “a informação, identificação e encaminhamento dos casos e a necessária prestação de serviços de apoio médico, psicológico e social”. Essa rede foi entretanto criada pelo D.L. nº 50/2000, de 7 de Abril, vindo a Portaria nº 647/2001, de 28 de Junho, estabelecer os termos do respectivo financiamento. (LG)


Texto do António Santos, com data de 24 de Junho de 2006:


No dia seguinte, começou a sobreposição, que durou uns quinze dias já não recordo bem. Os transmissões e os condutores foram emprestados à CCS do BCAV 3854 para entrar na escala de serviço da mesma, assim como já era feito pelo pelotão que fomos render.

Nós, os transmissões, fomos apresentados ao Alf Mil de Trms, Pinto Ferreira, que foi um excelente chefe: confiava nos seus homens, nunca o vi valer-se dos galões... Eu fui para o posto rádio mexer em aparelhos que na especialidade nunca tinha visto, como o AN-GRC-9, por exemplo: era utilizado quase sempre em grafia, mas também era muito bom para fonia principalmente para ouvir notícias e relatos de futebol.



Guiné > O Rádio AN-GRC-9 Foto: © Afonso Sousa (2005)
Dois ou três dias depois ao chegar ao posto de rádio para mais umas lições, fui enviado para o centro de mensagens, porque o camarada Vasco, que estivera lá, não se adaptou às cifras e códigos... Fui e fiquei até receber o meu pira, sim!.. Dois meses e uma semana depois de acabar a comissão e já depois do 25 de Abril, ainda recebi rendição, exactamente no dia 24 de Julho de 1974 , portanto faz hoje 32 Anos.

A velhice lá partiu de regresso às suas vidas e nós ficámos a contar os dias e a entrar na rotina. Faltava-nos conhecer o mauzão de Nova Lamego, o 2º comandante do BCAV 3854... Tinha que ser de cavalariam, viemos depois a saber o seu nome: Martins Ferreira, de alcunha Hitler... embora o comandante, esse, é que tinha (tem) nome a atirar para o alemão, de seu nome completo António Malta Leuschner Fernandes, Ten-Cor de Cavalaria... Era um tipo completamente diferente, tinha os seus dias mas na maioria deles era bastante calmo... O Hitler berrava com toda a gente, só não berrou com o actual Coronel Marcelino da Mata, mas isso é história para mais tarde.

Após a formatura e o blá blá para os praxados, sempre os mesmos, lá fomos para um palacete com pouco tempo de construção mas vazio, sem camas, situação que se manteve por uns dias. Aí chegados apareceu o bendito do homem encarregue do SPM e aquilo é que foi um distribuir de cartas, acumuladas, situação que nunca mais se repetiu durante os dois anos que se seguiram.

Estava eu de costas viradas para a porta sentado em cima de um dos meus chouriços (saco com parte da mobilia), a ler com sofriguidão as notícias que as primeiras cartas em solo Guinéu me davam conta do meu pessoal em Portugal, que nem prestava atenção às notas de cem escudos que vinham por entre a correspondência e que eu, parvo ou talvez inocente, na resposta dizia que não era preciso enviarem dinheiro porque era tudo muito bom, a comida era do melhor e não nos faltava nada (tenho a certeza que a grande maioria do pessoal dizia o mesmo)... Então não é que acreditaram e muito raramente chegava uma notita!... E a falta que elas vieram a fazer, tanta bazuca que ficou por ser bebida... Pelo que nos tempos que se seguiram quando recebia uma, o Rei fazia anos.

Nisto ouvi uma voz que me pareceu conhecida:
- Está aqui alguém de Lisboa ? - Olhei para trás, porque de Lisboa ou eu ou o Graça, e era o Gregório Gil Gaudêncio, um amigo de alguns anos, que eu nem sabia estar por ali, pertencia à CCAÇ 3565, que foi uma companhia de apaga-fogos, fogueiras e até incêndios, e talvez o maior, em 1973, que foi construir de raíz, do nada, um destacamento em pleno Cantanhez, foi obra.

Acto contínuo grande abraço e convite a largar as cartas, pois tinha muito tempo para as ler, experiência de velhinho com 3 meses daquelas andanças... Lá fomos conhecer os cantos à cidade, leia-se, cafés e afins, beber umas cervejas, estava no início e ainda não era artilheiro com especialidade para bazucas, mas ganhei experiência rapidamente.

Nova Lamego, escrevo sempre assim, porque na época Gabu Sara era a zona administrativa, funcionava como espécie de Distrito, da qual Nova Lamego era a Capital, o administrador era Cabo Verdiano, de seu nome Salomão, embora a região do Gabu, muito mais ampla, já existisse antes dos Portugueses chegarem aquelas paragens, e é o nome actual, como todos sabemos.

Nova Lamego ao tempo era um terra pequena embora fosse considerada como a 3ª mais importante da Guiné, depois de Bissau e Bafatá. Tinha um hospital civil, um cinema, uma cadeia, uma igreja católica, e uma mesquita tudo à dimensão da terra.

Guiné > Zona Leste > Nova Lamego > 1972 > No Cine Gabu, da esquerda o Gregório Gil Gaudêncio, o António e o Graça (mais tarde seu compadre, padrinho do seu filho Pedro).
Guiné > Zona Leste > Cine Gabu > O preço do bilhete de cinema era, na época, de 10 pesos... segundo o António Santos... Tal equivalia a quatro maços de tabaco, de tipo SG Filtro (que custava 2$50 cada maço)...
Foto: © Afonso Sousa (2005).

No entanto em termos militares era o inverso, ao sector L3, estavam atribuídos na época: Caop 2, Pmc, a CCS do BCAV 3854, com as suas 3 Companhias de Cavalaria (3404, 3405 e 3406), a CCAÇ Independente 3565, a CCAÇ5, 1 Pelotão de Obuses, 1 Pelotão de Rec Daimler, 1 Pelotão de Morteiros, 1 Pelotão AAA, 8 Pelotões de Milícias e, em 1973, 3 Pelotões de GE Milícias, estes treinados em NL pelos homens do então Alferes graduado Marcelino da Mata. E mesmo assim os turras escorregavam por entre os dedos do pessoal.

No dia seguinte, no local do quartel novo de NL, lá vou para o reforço, posto de vigilância que ficava no canto direito junto à estrada alcatroada e as moranças a 100 metros ou pouco mais do arame farapado ... Soube mais tarde que foi uma partida do Hitler, ele gostava de pregar cagaços aos piras, mas esta podia ter-lhe saído caro (pelo menos, moralmente), como se verifica mais à frente...
Mas tambem não é menos verdade que quem se lixa é sempre o mexilhão... Eu que não tinha nenhuma experiência de reforços, nunca antes os fizera - idem para os dois camaradas designados para o posto - chegada a hora lá fomos, os três trms, todos porreiros... Digo fomos porque entretanto convenci o Graça a fazermos os dois turnos seguidos, porque ele estava a passar um mau momento psicológico e com a companhia um do outro a coisa passava melhor...

Conversámos durante algum tempo, não me lembro hoje do quê, até que o amigo Graça adormeceu e lá fiquei sozinho a olhar para o arame e para as moranças, não fosse sair de lá algum turra, tudo isto iluminado por holofotes alimentados por um gerador... Junto ao posto tínhamos uma vala e um abrigo com uma Breda, nas paredes da vala estavam embutidos bidões, ou parte deles, com cunhetes de munições, granadas de vários tipos, enfim uma fartura a constratar com a falta de balas de G-3 na viagem de Bissau para NL (1).

No arame farpado havia aqui e além garrafas de cerveja penduradas aos pares, ainda não tinha percebido bem para quê, mas não demorou muito pois um esquilo saltou para o arame, as garrafas tinlitaram, assustei-me, saltei para a vala e agarrei na Breda pois o instinto dizia-me que aquilo não era assunto para a minha G-3... No meio disto tudo tive calma suficiente para tentar perceber o que se passava e acabei por não carregar nos botões da Breda... Mas que esteve quase, esteve!.. E pronto foi... o meu 3º cagaço! (1)

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:


8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Nunca digas jamais (António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego)

29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXI: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)


24 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P892: Memórias de Nova Lamego com o Pel Mort 4574/72 (A. Santos)

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P892: Memórias de Nova Lamego com o Pel Mort 4574/72 (A. Santos)


Guiné > Zona Leste > Gabu > Estandarte do Pel Mort 4574/72 (Nova Lamego, 1972/74)


Texto e fotos: António Santos (2006)


Camarada Luís,

Este é o 3º folhetim da minha história e de parte do pessoal do Pel Mort 4574/72 (1)

Desta vez junto mais umas fotos, a começar pelo nosso estandarte, já velhinho.



(1) Ainda em Bissau, em Brá, nos adidos, antes de rumar a Nova Lamego, já tinhamos ído ao shopping.


(2) Em Nova Lamego, no Cine Gabu, os caramelos são: da esquerda o G.G.G., eu e o Graça.


(3) A capela de Nova Lamego: pela mesma ordem, Graça, Cunha e eu.


(4) E a última por hoje, o café do Jacob, onde passei bons momentos, a ordem continua: eu, um amigo de Pirada, o Graça e um dos cabos criptos do BCAV 3854.


Um abração para ti, extensivo aos tertulianos.

A. Santos
Ex-Sol Trms
Pelotão de Morteiros 4574/72 (Nova Lamego, 1972/74)

_________

Notas de L.G.

(1) Vd. posts de:
8 de Maio de 2006
> Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Nunca digas jamais (António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego)

29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXI: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

Guiné 63/74 - P891: Recordando o Xime do Sousa de Castro (A.Santos)

Texto do António Santos (ex-Soldado de Transmissões, Nova Lamego, Zona Leste, Sector L3, , 1972 a 1974, incorporado no Pel Mort 4574/72, para render o Pel Mort 2267/70).

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime

Foto: © António Santos(2006)



Amigo Castro (1), as casernas eram todas parecidas, quando as fotografias fossem captadas de perto como foi o caso da minha que enviei para o blogue (2).

Já que te referes ao teu Xime, não resisto em juntar uma foto para veres se reconheces o teu quartel, mas em 24 Junho de 1974, que está por trás destes dois marmanjos...

Estou abrir uma excepção, pois a minha ideia é enviar as fotos cronologicamente em relacção ao que for escrevendo, porque quanto ao teu chão também tenho uma história para contar mas passou-se no dia 27 de Fevereiro de 1973 e ainda lá estava a tua CART [3494].

Quanto ao Américo Marques, como deves calcular não me recordo do nome, porque na minha fornada saíram à volta de 250 TRMS, mas se ele entrou no turno de 2 Janeiro de 1972 para o BCAÇ 5 então conhecemo-nos. Devo acrescentar, pelo que sei, mais de 50% desta recruta foi para a Guiné.

Ainda mais uma nota: na tua CART [3494] esteve um Cabo enfermeiro que, na época, quando foi para a tropa, morava no Areeiro-Lisboa, que era a minha zona de trabalho na altura.

Um abração

A. Santos
_________

Notas de L.G.

(1) O Sousa de Castro há dias tinha mandado a seguinte mensagem:

"Santos: Por momentos pensei que tivesses tirado a especialidade no Porto. Pois a foto que está publicada no blogue (2) é muito parecida com a caserna do Quartel de TRMS, de Arca D`Água, Porto.

"Para além disso, depois de ler o teu texto inserido no blogue, fiquei deveras impressionado com a descrição que fazes quando chegaste à Guiné: é exatamente aquilo que senti quando em 27 de Janeiro de 1972 pisei solo Guinéu...

"Só que eu fui para o Xime de avião, no Dakota, de Bissau para Bafatá e daí para o Xime com paragem em Bambadinca para mudança de viatura Unimog, onde me juntei à CART 3494, a minha compnhia.

"Se calhar conhecerás o Américo Marques que também foi TRMS Infantaria, tal como tu. É de Viana do Castelo, esteve em Cansissé - Nova Lamego (1972/74).

"O endereço de e-mail dele é: americom@envc.pt ou setras@iol.pt

"Sem mais de momento, grande abraço. Sousa de Castro"


Sousa de Castro (ex-1º cabo de transmissões da CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)


(2) Vd post de 29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXI: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P812: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

Beja > 1971 > O António Santos na recruta. 
Foto: © António Santos (2006)


Mensagem do António Santos, Pel Mort 4574/72 (Nova Lamego, 1972/74)

Amigo Luís Graça.

Todos os dias vou à caserna e nota-se que a participação é cada vez mais agitada, no bom sentido, de dia para dia as visitas vão aumentado, o contador aumenta vertiginosamente, ninguém pára a malta da Guiné. Tens um belo site. Desta vez além do texto junto a primeira foto do recruta.

Um grande abraço.
A. Santos
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Caro camarada, Luis Graça.

Agora que estou na caserna (1), é minha obrigação continuar e prometo, sempre que me for possível, voltar para acrescentar algo.

Bissau 15 de Julho de 1972, 12h20.

O avião dos TAM [Transportes Aéreos Militares] imobiliza-se na placa, o pessoal prepara-se para sair, um a um lá se vão aproximando da porta. Quando foi a minha vez, tive a sensação de que estava à porta de um forno, o ar estava abafado e o céu nublado. De imediato foi um despir blusões, arregaçar mangas de camisa, desapertar gravatas por todos os lados, mais parecia um campeonato de strip-tease sem que ninguém desse o tiro de partida.

Após os procedimentos legais - tais como contar o pessoal por exemplo, não tivesse fugido algum pelo caminho -, saltámos para as Berliets e nisto começa a chover e a trovejar, parecia inverno na minha Lisboa, mas diferente porque estava muito calor, o que me fez muita confusão porque nenhum meteorologista explicou como era (é) o tempo na Guiné . Também foi chuva de pouca dura, como começara acabou, uma novidade a juntar a tantas outras que comecei por coleccionar desde aquele momento.

Pouco depois cheguei a um quartel, que vim a saber mais tarde chamar-se Depósito [Geral] de Adidos e a localidade Brá [a noroeste de Bissau] onde no dia 16 ao almoço vi a coisa que para mim talvez tenha sido a mais chocante em toda a minha vida. Miúdos, no refeitório (do lado de fora, porque nem sequer os deixavam entrar), com recipientes de vários tipos e feitios a mendigarem uns restos de comida, e o que mais me custou ver foi camaradas ditos velhice a misturarem tudo como: restos de sopa, espinhas, batatas e ainda por cima pouco satisfeitos, juntavam restos de fruta, cascas de banana por exemplo, tudo o que era lixo para darem as crianças.

Mais tarde pude verificar que o defeito era desta unidade que juntava pessoal de todas as zonas, o que, em situações como esta, é propicio a juntar sempre pouca coisa boa, mas muita, muitissíma coisa má.

A colecção felizmente também foi de coisas boas que ainda hoje recordo e, uma delas na parte a que toca à linguagem, começou por: machimbombo, porque era necessário para chegar a Bissau, já dentro deste, aprendi a palavra catinga, manga dela, depois foi peso, patacão, bazuka, aquela que gostávamos que estivesse sempre perto de nós, de preferencia fresquinha.... e por aí fora..

Dia 20 de Julho de 1972, como era da praxe, tambem tivemos a recepção de boas vindas, como se fosse necessário... O Com-Chefe deu um pulinho até Brá e lá discursou uns poucos minutos, onde disse “conheço-os a todos”, acho que devia ser uma frase feita, porque ao filho da minha mãe ele nunca tinha visto em lado algum... Seguiu-se a revista em parada da praxe.... Ainda se fala dos praxados nas escolas!

Dia 22 de Julho, às 4 horas, embarque no cais de Bissau na LDG Bombarda, destino Xime... Mais uma de entre as milhentas viagens desta embarcação, mas para mim era a primeira vez e lembrei-me do dia “D”, pela semelhança do navio... Lá fui rio acima ouvindo histórias da velhice que estava de regresso às respectivas unidades após férias, consultas externas, etc.

Uma que recordo bem:: "somos sempre atacados na ponta do Inglês"... O pior foi quando vi os Fusileiros colocarem-se nas laterais da ponte, do navio, com morteiros 60 apontados às margens, aí pensei: "Queres ver que isto é mesmo a sério?!"... Mas não houve nada, foi o primeiro cagaço.

Entretanto lá chegamos ao Xime, eram para aí umas 9 horas, o “ baile do costume” dado pela velhice que fomos render e outros a subir para as Berliets e arrancar para o desconhecido... Primeira paragem: Bambadinca. Deixámos aí o Pel Mort 4575/72, para render um outro.

À entrada da picada de Xitole, estava uma placa colocada ali só para a ocasião, em sentido contrário ao qual seguíamos, que dizia "LISBOA 3.000 Km", acho que estavam mal medidos mas que deixou cá o rapaz de rastos, deixou.

Segui-se Bafata, parámos, ainda hoje não sei porquê, talvez fosse obrigatório. Na época, manga de cidade bonita, finalmente lá seguimos para Nova Lamego, 54 Km de estrada alcatroada que era uma beleza, só que para um periquito, unico militar em cima de uma Berliet, os restantes companheiros eram civis, naturais da terra e para os quais eu sorria com um sorriso muito amarelo, com uma G-3 na mão e carregadores vazios.

Foram 54 Km de ânsia, ataques que esperava ver surgir e que imaginava a qualquer momento vindos do mato e árvores que ladeavam a dita, e lá se passou o segundo cagaço, também sem problemas. Chegamos a Nova Lamego por volta das 13h00.

Junto a primeira foto da recruta.

Muito obrigado ao A. Marque Lopes, pelas fotos do nosso chão.

Um abração, extensivo a todos os tertulianos.
António Santos
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Nunca digas jamais (António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego)

(...) "Chamo-me António Santos, ex-Soldado de Transmissões, em Nova Lamego, Sector L3,[Zona Leste,] de 1972 a 1974, incorporado no Pel Mort 4574/72, para render o Pel Mort 2267/70".

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P734: Tabanca Grande: António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego

Mensagem do nosso camarada António Santos

Caro amigo, Luis Graça.
Em anexo envio um documento que pretende ser a minha primeira participação no Blogue-fora-nada.
Aguardo notícias para continuar.

Obrigado,
António Santos


Caneças, 15 de Maio de 2006

Caro camarada Luis Graça.

Peço desculpa de, no primeiro contacto, estar tão íntimo mas tomo a liberdade após entender que no blogue-fora-nada é mesmo assim.

Ando há cerca de um mês a espreitar o teu blogue cujo tema é a Guiné, e a vontade de entrar na conversa vai aumentando todos os dias e, como alguma vez tem que ser a primeira, cá vai.

Essa terra que, apesar de independente, com todo o direito, sinto que é hoje mais nossa do que o foi há 34 anos, (para o meu turno), quando fui (fomos) brindados com uma viagem de ida e talvez volta, felizmente que a volta o foi para a grandissíma maioria dos camaradas.

Tenho reparado que o pessoal da zona onde fui parar [Nova Lamego], não aparece para desabafar o muito que tem para contar

Data: 1 de Agosto de 1974, 12 horas; local: aeroporto de Bissalanca, Guiné-Bissau... Saímos aproximadamente 4 horas depois do previsto, porque o avião estava a ser reparado na ilha do Sal em Cabo Verde de uma pequena avaria, mas a pressa era tanta em regressar que ninguém se importou em embarcar.

O Boeing 707 dos TAM começa a sua corrida para levantar voo com destino a Lisboa e, no preciso momento em que as rodas deixaram de tocar na pista, alguém disse alto e bom som:
- Nunca mais volto a esta terra!

... Pois passados 32 anos sobre esse dia, esse alguém está com uma vontade louca de voltar (vontade que não é de agora, já dura há alguns anitos). Voltar à Guiné só tem acontecido em sonhos e muitos, pois já fui mobilizado umas quantas vezes.

Voltar não só para visitar Nova Lamego (Gabu Sara), terra de mim, mas também outros locais de que tanto ouvi falar por variadíssimas razões, e que o blogue-fora-nada veio recordar.

Esse alguém é quem está a escrever, como já percebeste. Chamo-me António Santos, ex-Soldado de Transmissões, em Nova Lamego, Sector L3, de 1972 a 1974, incorporado no Pel Mort 4574/72, para render o Pel Mort 2267/70.

Mas voltando ao início, como tudo começou:

- 19 de Outubro de 1971: Recruta no RI 3, Beja;
- 2 de Janeiro de 1972, especialidade no BCAÇ 5, Campolide, Lisboa;
- 13 de Março de 1972, pronto, Amadora: nesse dia, guia de marcha para uma diligência no HMP na Estrela Lisboa;
- finalmente, 31 de Maio de 19 72, a (não desejada)mobilização pelo RI 15 em Tomar, com destino à Guiné.

Por agora fico por aqui, para não se tornar uma grande seca. Estou a digitalizar uma série de fotos que, se estiveres de acordo, vou enviando, conforme for escrevendo.

Cumprimentos

Depois disto tudo, se me é permitido envio um abração para toda a tropa.

Comentário de L.G.:

Nunca digas... jamais, seca, dá-me licença, meu comandante... Nem peças para entrar: a caserna é grande e é nossa... O blogue é teu, camarada.