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sábado, 22 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24495: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos). Parte V: 7, 9, 10, 12 e 13 abril de 2023



Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 2023 >  
O Rui Chamusco ao lado do condutor, o Alif (?) , da "pickup" que faz o trajeto Dili-Liquiçá-Manati-Boebau e vice versa... Ao fundo a Escola São Francisco de Assis (ESFA).


Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 2018 > Escola de São Francisco de Assis "Paz e Bem".


Fotos (e legendas): © Rui Chamusco (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de alguns excertos das crónicas que o nosso amigo Rui Chamusco (76 anos, professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã, natural de Malcata, concelho de Sabugal, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste) nos mandou, na sequência da sua 4.ª viagem àquele país lusófono (março-maio de 2023).

Esteve lá já 4 vezes, em 2016, 2018, 2019 e agora em 2023; é juntamente com a família luso-timorense Sobral um dos grandes pilares deste projeto de solidariedade com o povo timorense. É um exemplo inspirador, de amor à lusofonia e de solidariedade para com o povo de Timor Leste, que merece ser conhecido pelos mossos leitores. Além disso, há aspetos da história, da geografia e da cultura timorenses que nos são totalmente desconhecidos.


De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4ª estadia, 2023): 
crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos)

Parte V - 7, 9, 10, 12 e 13 de abril de 2023


(…) 07.04.2023, sexta feira santa - Tarde de dilúvio

Tanta chuva em tão pouco tempo. Aqui é assim. “Tão depressa o sol brilha como se diz está a chover”. E como em terras tropicais o calor não falta, vai daí que se faz destes momentos um aproveitamento e gozo incrível. 

A Adobe e o Alif aproveitaram logo este chuveiro do céu, primeiro para lavarem a pick-up, que estava bem suja desde que galgou os caminhos de ida e volta a Boebau; depois para se divertirem em banho improvisado. Eles bem se esfregavam na tentativa de ficarem brancos como o malae (que sou eu), mas nada conseguiram. 

É nisto que consiste a perfeita alegria. “E se depois de cansados os irmãos apanharem uma grande molha, e se chegando a casa não lhes abrirem a porta, escreve frei Leão, nisto está a perfeita alegria”. (Francisco de Assis, adaptação).


09.04.2023, domingo - Dia de Páscoa

Amanheceu com chuva, e sem internet. No exterior, tudo se passa igual: o despertar dos galináceos, o chilrear da passarada, a brisa matinal. Ainda não se ouvem os pregões matinais nem os aleluias pascais. Alto aí! Oiço qualquer coisa lá fora. Sim, uma criança, com um cesto ao ombro, apregoa: “Pão! Pão! Pão!...” São 7.30 da manhã.

E dou comigo a pensar: Onde está a páscoa desta criança, que tão cedo se levanta para ganhar a vida? Então as amêndoas, os ovos de chocolate, as guloseimas e outras coisas mais ignoram que também aqui há crianças que precisam desses mimos? 

Tanta abundância e tanta carência! Que mal distribuido está o pão!... Razão tinha o poeta António Aleixo quando escrevia: "O pão que sobra aos ricos / Distribuido com razão / Matava a fome à pobreza / E ainda sobrava pão.” E isto também é eucaristia.

Em dia de Páscoa, fica a minha prece: "Pannis angelicus fit pannis hominum / dat nobis coelicus figuris terminum... (tradução: ”O pão dos anjos torna-se o pão dos homens, / O pão dos céus dá fim às prefigurações". LG)

10.04.2023, segunda feira - Malária: sintomas e receita do “Dr. Eustáquio”

De manhã, pela fresquinha, o Eustáquio, que hoje se levantou mais cedo porque dormiu na tenda ao abrigo dos mosquitos, deu-me mais uma lição sobre defesas naturais dos timorenses contra picadas, dores e outras coisas mais. Ele diz que os timorenses têm mais resistência que os malaes, e que quando alguma coisa acontece eles procuram a solução nos conhecimentos naturais. 

Falou-me então dos sintomas da malária: cansaço e dores nas articulações. Qual o remédio? Casca de “ai Hanek”. procura-se a árvore, corta-se um pedaço da casca, lava-se muito bem e deixa~se ferver.

Depois de repousar e arrefecer, vai-se tomando (mas não me disse a dose). E pronto! A malária desaparece. Entretanto, levou-me a conhecer a planta “ai Hanek”. Mais uma para o meu cardápio. Quem sabe, sabe...

(…) 12.04.2023, quarta feira - Barlak e Desluto

“São costumes. É cultura.” Esta é a resposta que sempre me dão quando os questiono sobre acontecimentos em que se gastam fortunas. Aqui, em Timor é assim: o nascimento não paga imposto mas, casar ou morrer fica muito caro para esta gente. Começa com o pedido de casamento, em que a família do noivo “manefon” tem de pagar um pesado contributo à família da noiva. Tanto em dinheiro, tantas vacas (kraus), tanta cabras (bibis), tantos porcos (fahis). Tudo tem de ser negociado através de um mediador. 

Depois acrescem as despesas do casamento, que também não são nada meigas. Mas, se de casamentos todos sabemos porque a isso estamos habituados, já o mesmo não diremos dos rituais da morte. O morto já nada diz, já nada come e nada bebe, já de nada se interessa porque “requiescat in pace”. 

Os vivos aproveitam a ocasião para comerem e beberem à vontade. Pelo menos durante uma semana há comer e beber para toda a gente. E quem vai suportar todos os encargos? A família do defunto. Por isso, o membro mais velho da família é que vai determinar o que compete a cada um trazer para o festim.

Um ano depois vem o desluto. Nova festa que dura também alguns dias. Eu conheço um senhor em Boebau que, por ocasião do desluto pela morte do sogro, foi penalizado com 5.000 dólares, mais 3 Kraus, mais 15 bibis, mais 3 Fahis. Como a sua situação económica é muito pobre, teve que vender a motorizada, que há quatro anos tinha comprado com algum dinheiro que lhe saiu no jogo, para tentar amortizar a dívida que lhe foi imposta. Por este andar, quando é que irá conseguir pagar o que deve se ele não tem fontes de rendimento?

É cultura!...E se as pessoas não tiverem meios para defender a sua cultura, o que lhes sucederá? Confesso que, do que tenho por aqui observado, tenho um pressentimento de que muita coisa irá mudar na procura de melhores condições de vida.

Há tanto estômago vazio pedindo um pedacinho de pão!...

13.04.2023, quinta feira - Encontro no Município de Liquiça

Desde que chegamos que desejávamos este encontro, para conhecer o novo Presidente do Município Sr....... e para recomeçarmos o Acordo de Colaboração assinado em Novembro de 2019 pelos então presidentes da Câmara do Sabugal - engenheiro António Robalo - e do Município de Liquiça - Sr. Domingos da Conceição.

Esta colaboração ficou praticamente em suspenso devido às restrições impostas pela pandemia do Covid 19. (…) 

 Vamos começar pela área do turismo. O município de Liquiçá ficou de elaborar um plano de ação para que eu possa ser portador para a Câmara Municipal de Sabugal. E, depois veremos a sequência.

Em quanto me diz respeito, sinto-me feliz por poder ser um elo nesta cadeia de amizade e colaboração entre estes dois territórios Liquiçá / Sabugal, entre estes dois países irmãos Timor Leste / Portugal.

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos / subtítulos: LG)

(Continua)


2. Mensagens recentes do Rui Chamusco

(i) 10/07/2023, 16:39:

Boa tarde, amigo Luís.

Conforme pedido teu, junto envio o IBAN da conta da ASTIL e algumas fotos.

Uma vez mais, obrigado pelo teu interesse por este projeto de solidariedade, que tem por objetivo contribuir para que este mundo seja um pouquinho melhor.

PS - Estas fotos reportam-se ao dia da inauguração da Escola. Depois enviarei fotos relativas a outras ações que a Astil já desenvolveu, e sobre os cinco anos já decorridos da ESFA (Escola São Francisco de Assis).

Conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4

(ii)  Quarta-feira, 00:11 

Notícia triste: a Aurora, esposa do amigo e irmão Eustáquio (João Moniz, irmão do Gaspar Sobral. que vive em Coimbra) faleceu hoje às 3:00 horas (no Hospital de Dili),

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24474: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4.ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos). Parte IV: 3, 5 e 6 de abril de 2023











Timor Leste >  Liquiçá > Manati > Boebau > Março/abril de de 2023 >  Escola São Francisco de Assis (ESFA) > Um país de belas paisagens e um povo gentil que quer continuar a falar português... Seleção de fotos de Rui Chamusca, na sua 4.ª vista à ESFA, um projeto da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste.


Timor Leste >  Liquiçá > Manati > Boebau > 2018  >  Da direita para a esquerda, Rui Chamusco (Sabugal e Lourinhã)  e João Crisóstomo (Nova Iorque) na inauguração da Escola São Francisco de Assis (ESFA) 

Fotos (e legendas): © Rui Chamusco  (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de alguns excertos das crónicas que o nosso amigo Rui Chamusco (76 anos, professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã, natural de Malcata, concelho de Sabugal, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste) nos mandou, na sequência da sua 4.ª viagem àquele país lusófono (março - maio de 2023).  

Esteve lá já 4 vezes, em 2016, 2018, 2019 e agora em 2023; é juntamente com a família luso-timorense Sobral um dos grandes pilares deste projeto de solidariedade com o povo timorense. É um exemplo inspirador, de amor à lusofonia e de olidariedade para com o povo de Timor Leste, que merece ser conhecido pelos mossos leitores.

 De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (4ª estadia, 2023): crónicas de Rui Chamusco / ASTIL (excertos) 

Parte I - 3, 5 e 6 de abril de 2023

03.04.2023, segunda feira - Carta ao Diretor da Escola Portuguesa de Dili

Estimado Senhor

Diretor da Escola Portuguesa de Dili

Dr. Manuel Alexandre Marques

 De regresso a Dili, Bairro Pité – Ailok Laran, depois do fim de semana em Boebau / Manati, venho responder a solicitação que nos foi feita, dando a conhecer a lista de material escolar que faz falta à ESFA. 

A lista apresentada revela as muitas carências existentes mas, com certeza, não pretendemos que seja a Escola Portuguesa de Dili a colmatar todas as nossas necessidades. O nosso amigo verá o que é possível doar. Seja o que for, estamos-lhe muito gratos pela simpatia e disponibilidade com que nos tem acolhido. De nossa parte, queremos responder com as mesmas atitudes e, dentro das nossas limitações, estaremos sempre ao vosso dispor.

Também quero informar que, na perspetiva de uma visita a Boebau e à Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, o mau estado do caminho exige esforço e coragem para fazer esta viagem. Por isso, estaremos à vossa disposição para combinarmos bem essa visita e podermos ser úteis.

Qualquer contacto pode ser através do 966509086 (whatsapp) ou do nº 76083728

Com elevada estima e consideração

Prof. Rui Chamusco

03.04.2023, segunda feira - Carta ao Diretor da Educação Municipal de Liquiçá


Exmo. Senhor Diretor
Educação Escolar Municipal de Liquiçá
Dr. Carlos Lopes

Os nossos melhores cumprimentos.

A Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, ESFA, em Boebau/Manati vem por este meio informar Vossa Excelência da frequência de alunos do 1º ciclo ao longo dos últimos 4 anos.

Assim, em 2020 frequentaram 34 alunos (1.º ano); em 2021 frequentaram 40 alunos (1.º e 2.º anos); em 2022 frequentaram 49 alunos (1.º, 2.º e 3.º anos); em 2023 frequentam 59 alunos (1.º, 2.º, 3.º e 4.º anos).

Informamos também que todos estes alunos não tiveram o apoio da merenda escolar durante todos estes anos, pelo que solicitamos ao Senhor Diretor da Educação se digne proceder às diligências necessárias para que tal aconteça.

Gratos por toda a ajuda e colaboração que nos possa dispensar, subscrevemo-nos, com consideração

Boebau, 01 de Abril de 2023

P’la ESFA
João Moniz de Oliveira Sobral
Rui Manuel Fernandes Chamusco

05.04.2023, quarta feira - E esta, hein?!...


O Eustáquio, quando não tem, inventa. E vem isto a propósito de sabonete que encontrei barrado na parede em tosco na casa de banho, e que me chamou de imediato a atenção. Fui perguntar ao Eustáquio para que era aquilo. E, maravilhem-se com a explicação. “Como não chego atrás para lavar as costas, então colei sabonete na parede e esfrego as costas na parede”. E exemplificava com o corpo como fazia o esfreganço. “Eu inventa... e pronto!”

Tentei convenvê-lo a comprar uma escova de cabo comprido que existem para esse efeito, mas ele prontamente respondeu: “Não precisa...” É isto, gente desenrascada.

E se fôssemos nós a resolver esta necessidade, o que faríamos? Corríamos para o supermercado, escolhíamos a escova mais macia, pagávamos fosse o que fosse e satisfazíamos prazenterosos a coceira que nos afligia. 

Pois é! A necessidade aguça o engenho. No poupar está o ganho. Quem não tem cão caça com gato. Mas, que nos faz pensar duas vezes sobre a satisfação das nossas precisões, lá isso faz.

06.04.2023, quinta feira - Orçamento para a cozinha escolar.

Chegou aqui há momentos o Eustáquio com uma folha aonde consta a previsão de gastos para a construção da cozinha escolar - uma exgência da direção escolar municipal de Liquiçá.

Material

Qt

Preço      Unidade

Total Unidade

Total estimado

  Ferro U

16

9.50

152,00

 

Barras de Derro 8x4cm

    3

         13,00

39,00

 

  Ferro 4x6cm

10

9,00

90,00

 

  Zinco 0.45

6

22,50

135,00

 

  Blocos

400

0,50

200,00

 

  Sacos de cimento

  30

5,50

160,00

 

  Areia

    3

80,00

240,00

 

  Pedras

    3

80,00

240,00

 

  Rede metálica 1x2m

    5

12,00

60,00

 

  Parafusos de Ferro U

    4

6,00

24,00

 

  Parafusos de Zinco

    4

6,00

24,00

 

  Eletrodos

    1

12,00

12,00

 

  Transporte dos materiais

    1

140,00

140,00

 

  Transporte blocos e sacos

    2

140,00

280,00

 

  Mão de obra

.......

......................

.....................

 

                                                          Valor estimativo:

2.790,00

3.000,00


06.04.2023, quinta feira - Votos de Boas Festas

É Primavera com certeza! É Páscoa! É Ressurreição!

Que estes sinais da vida que se renova sejam os meus e os votos da Astil de Boas Festas de Páscoa para todos os sócios e amigos.

Desde Timor Leste, terra do sol nascente (Loro sa’e) um forte abraço.

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos / subtítulos: LG)

(Continua)
___________

Nota do editor:

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24309: Notas de leitura (1581): A economia guineense em 2017: oportunidades de import-export do lado português (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
Encontrei na Feira da Ladra este dossier da Câmara Agrícola Lusófona que aporta um conjunto de elementos sobre os mercados guineenses até 2017. Graças aos dados mencionados, verifica-se que a alimentação guineense, sobretudo em meio rural, cobre uma boa parte das necessidades nutricionais, a despeito de um conjunto relevante de carências. É preocupante a tendência para a monocultura do caju, havendo quebras acentuadas em arroz e leguminosas, por exemplo. A inexistência de infraestruturas capazes não permite a exportação de frutas ou a sua industrialização, é um setor cheio de potencialidade. O dossier faz uma serena caraterização tanto da agricultura como do funcionamento dos mercados guineenses, desenvolve o setor produtivo e o consumo alimentar e deixa a sugestão para importantes oportunidades de exportação do lado português. Mais não seja, este dossier dá-nos informação de como estão os mercados em tempos de incerteza política.

Um abraço do
Mário



A economia guineense em 2017: oportunidades de import-export do lado português

Mário Beja Santos

Este dossier de mercado da Guiné-Bissau é da responsabilidade da Câmara Agrícola Lusófona, os dados apresentados, embora não seja clara a data desta publicação, vão até 2017, é importante este elemento cronológico, algumas das informações dadas estão seguramente desatualizadas. Logo no enquadramento se diz que a Guiné-Bissau estava a viver um período de crescimento económico, sendo as previsões de 4,8% para 2017 e de 5% para 2018, por exemplo. Houvera dois bons anos agrícolas mesmo num período de governação incerta. A fileira do caju é a principal fonte de receitas do país. Em 2015, o caju representou 82% com 210 milhões de euros num valor total exportado de 257 milhões. O dossier tem uma ficha-resumo do país, carateriza a população (o estrato etário dos 14-65 anos representa cerca de 56% da população total); metade da população encontra-se em áreas rurais. Segue-se a caraterização geral do país e dá-se conta de que os hábitos alimentares da população foram influenciados pela cultura gastronómica lusa, o que se reflete nas importações da cerveja, vinho, águas, alimentos processados, entre outros. As bebidas constituem assim a maior parte do valor das exportações portuguesas para a Guiné-Bissau.

O dossier não esquece a caraterização geográfica, é minucioso na observação dos solos, dá-nos depois uma caraterização económica e financeira. Assim chegamos ao setor produtivo e ao consumo alimentar, abre-se a porta para o que se consideram as oportunidades para o agro-negócio na Guiné-Bissau. A maior parte da população da Guiné-Bissau (58%) vive nas zonas rurais, temos os pequenos produtores camponeses e os “ponteiros”, os primeiros são responsáveis por cerca de 90% da população agrícola do país e os segundos resultam das 2200 concessões de terras, estando cerca de 1200 em atividade; as concessões correspondem a cerca de 9% da superfície total do país e às melhores terras. O caju veio absorver muito do tempo de trabalho anteriormente devotado às culturas alimentares, nomeadamente o arroz e o amendoim. Em termos de segurança alimentar, as consequências desta mudança foram evidenciadas em anos de menor sucesso na comercialização do caju, ficando as famílias desprovidas da sua principal fonte de alimento.

Embora as condições agro-climáticas da Guiné-Bissau favoreçam a existência de uma grande quantidade de frutas, a exportação de tais produções não tem sido possível, tudo por falta de instalações de conservação ou transformação, ou de circuitos de comercialização eficazes e também devido ao facto de as perdas de produção serem grandes no processo pós-colheita. A produção de arroz tem vindo a reduzir; a produção de cereais nos agregados cobre as necessidades alimentares de apenas oito meses do ano. O resto do consumo provém essencialmente do mercado, onde são comprados graças aos rendimentos monetários ou graças à troca principalmente por caju. O arroz cobre em média cinco meses das necessidades, enquanto os outros cereais cobrem em média dois meses. O amendoim e a mandioca são, a seguir ao arroz, as duas culturas anuais mais importantes. A produção média do amendoim em casca é estimada em 250 quilos por família.

A pecuária tem potencialidades para o desenvolvimento dos seus efetivos. Nos últimos dez anos o aumento mais significativo tem sido no gado caprino e ovino. A Guiné dispõe de recursos florestais consideráveis, com cerca de 2 milhões de hectares de superfície florestal e reservas em madeira estimadas em 48,3 milhões de metros cúbicos. Infelizmente, esta riqueza natural enfrenta um conjunto de problemas como a exploração económica abusiva ou as queimadas.

Cerca de 5% dos agregados familiares rurais têm um consumo alimentar pobre, 15% têm um consumo alimentar moderado e 81% têm um consumo alimentar aceitável.

A balança comercial da Guiné apresenta um saldo negativo, no domínio dos produtos agro-alimentares o saldo tem sido positivo nos últimos anos graças às boas campanhas de produção e comercialização do caju. A Índia é o principal cliente da Guiné-Bissau, adquiriu em 2016 a totalidade do valor exportado em caju com casca. As principais importações da Guiné devem-se a combustíveis minerais, cereais, preparados à base de cereais, equipamentos elétricos, bebidas, veículos automóveis, preparações alimentícias diversas e ferro e aço. A balança comercial agro-alimentar da Guiné-Bissau em relação a Portugal é inequivocamente favorável a Portugal. Em 2016, enquanto Portugal exportou para a Guiné-Bissau 21 milhões de euros em produtos agro-alimentares, esta apenas exportou para Portugal 6 mil euros em sucos e extratos vegetais. As exportações agro-alimentares portuguesas com destino à Guiné-Bissau são bebidas, laticínios e ovos, carne e miudezas, preparação de cereais, gorduras, preparações vegetais e frutas, enchidos e conservas, admite-se uma maior potencialidade exportadora, será o caso do agro-alimentar em preparações caldos e sopas, trincas de arroz, preparações para molhos, massas alimentícias, laticínios, entre outros. Já se referiu o peso que têm a cerveja, o vinho e as águas minerais nas exportações portuguesas. O dossier põe ênfase nas carnes frescas e refrigeradas, nas preparações à base de cereais, mas não deixa de referir que as taxas aduaneiras são altamente punitivas tanto para as gorduras vegetais como animais.

O documento da Câmara Agrícola Lusófona foca-se no agro-negócio e as pescas como motores de crescimento, mas está tudo dependente de um ambiente político e de orientações estratégicas que sejam favoráveis a infraestruturas, ao ambiente de negócios, ao desenvolvimento humano e à biodiversidade. Sendo o porto de Bissau a grande porta de entrada e de saída das trocas comerciais procede-se à sua minuciosa caraterização a que se segue a da rede rodoviária.

A última fase do dossier prende-se com o regime de investimento e os respetivos incentivos fiscais e dá-se uma relação de contatos úteis. Para saber mais sobre a Câmara Agrícola Lusófona e as suas atividades, sugere-se que se consulte o site https://www.calusofona.org/.

Praça dos Heróis Nacionais, Bissau, na atualidade
Leguminosas da Guiné-Bissau
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24298: Notas de leitura (1580): "Rumo à Revolução, Os Meses Finais do Estado Novo", por José Matos e Zélia Oliveira; Guerra e Paz, Editores, 2023 (3) (Mário Beja Santos)

sábado, 6 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24291: A língua que nos une: alguns dados (segundo o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. ): (i) quarta mais falada no mundo como língua materna; (ii) a quinta mais utilizada na Internet; (iii) a terceira ou a quarta mais usada no Facebook...


Fonte: CPLP  -Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (2023) (com a devida vénia)

1. Dados sobre a Língua Portuguesa, segundo o Camões, IP:

(i) É uma língua falada por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes, em 2050 serão quase 400 milhões e em 2100 serão mais de 500 milhões, segundo estimativas das Nações Unidas;

(ii)  As projeções para o final do século apontam que será no continente africano que se registará o maior aumento do número de falantes. Estima-se que Angola tenha uma população superior a 170 milhões de pessoas e Moçambique uma população superior a 130 milhões de pessoas; 

(iii) É a língua mais falada no hemisfério sul; 

(iv) 3,7% da população mundial fala português; 

(v) É a quarta língua mais falada no mundo como língua materna, a seguir ao mandarim, inglês e espanhol (observatório da língua portuguesa). 

(vi) O português é a língua oficial dos 9 países membros da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – e em Macau. As 9 economias da CPLP, em conjunto, valem cerca de 2,7 biliões de euros, o que faria deste grupo a sexta maior economia do mundo, se se tratasse de um país (FMI); 

(vii) Os países de língua portuguesa representam 3,6% da riqueza total do mundo, 5,48% do global das plataformas marítimas, 16,3% de disponibilidade global de reservas de água doce, 10,8 milhões de km2; 

(viii)  A Língua Portuguesa é língua oficial e/ou de trabalho em 32 organizações internacionais (...):

(ix) Há 56 universidades na República Popular da China que ensinam o português como língua estrangeira e aproximadamente 5000 alunos que frequentam esses cursos; 

(x) O português é a quinta língua mais utilizada na internet, teve uma taxa de crescimento de quase 2000 % entre 2000 e 2017, é a terceira ou a quarta mais utilizada no Facebook

(xi) Na área da ciência, embora o inglês seja a língua dominante, a língua portuguesa tem conseguido criar os seus espaços próprios de comunicação e publicação científica.

 O Brasil criou a Scientific Eletronic Library Online, amplamente participada por países de língua portuguesa e espanhola. 

As revistas e cientistas de língua portuguesa também vão tendo presença crescente em outras bases de revistas científicas de alcance global, como a SCOPUS e a Web of Science. 

Há também vários repositórios académicos e portais de conhecimento de acesso aberto online, designadamente no Brasil, Cabo Verde e Portugal...

Fonte: Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. (Camões, I.P), Dia Mundial da Língua Portuguesa, 5 de Maio de 2023

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23701: Lembrete (42): Amanhã, dia 13 de Outubro, pelas 17h00, apresentação do livro "Rua do Eclipse", de Mário Beja Santos, a levar a efeito no Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo de São Luís, em Lisboa




A todos aqueles que puderem dar-me companhia nesse dia e àquela hora:

Estava previsto este lançamento para 15 de setembro, por razões muito ponderosas a que não me devo furtar, houve que alterar a data, tive a compreensão da Comissão Portuguesa de História Militar, a data foi alterada para 13 de outubro, pelas 17 horas. Terei uma satisfação enorme em falar-vos desta paixão luso-belga onde se irá imiscuir, por indiscutíveis razões do coração e dos rotores da memória, acontecimentos de uma guerra que ocorreu nalguns lugarejos da então província da Guiné, e só uma imaginação descabelada é que pode encontrar pilares de consistência entre uma guerrilha e contra-guerrilha que as novas gerações praticamente ignoram e o encontro de dois cinquentões que se entregam à mais arrebatada epistolografia. Se esta temática de algum modo vos acicata a curiosidade e a minha companhia não seja de desmerecer, prometo não defraudar-vos sobre esta história que começou num breve encontro, corria o ano 1999.

Com a muita cordialidade,
Mário para muitos (ou Mário Beja Santos para todos)

********************

Em Bruxelas, um breve encontro entre cinquentões, temos paixão e guerra na Guiné

Apresentamo-nos, há aperto de mão, ela chama-se, percebi bem, Annette Cantinaux. E desabridamente pergunto-lhe se podemos almoçar juntos, ocorreu-me, imagine-se, a ideia de um romance, trata-se e alguém que combateu na guerra da Guiné, que ama uma belga, os dois não podem por enquanto, por razões profissionais, viver juntos, telefonam e escrevem muito, ele procura todas as oportunidades para regressar a Bruxelas, para estar junto da mulher amada, ela é intérprete profissional, vive em Bruxelas, na Rua do Eclipse.
Annette Cantinaux, vejo-lhe bem na face, está arrelampada com o pedido que lhe faço, mas acede, iremos almoçar juntos e falar-lhe-ei do que me está a passar pela cabeça, este estranhíssimo rompante de alguém que tem tanto que fazer e que recua 30 anos, até ao tropel de uma guerra. Pasmo-me com a resposta dela: “Parece que me reservou um papel que me assenta bem, na vida real, sou uma mulher divorciada, com filhos a singrar na vida, até me posso de dar ao luxo de me embeiçar por um português, vamos vivendo juntos à experiência e no entretanto damos um ao outro elementos para o seu romance”.
Assim começa uma espiral de palavras cruzadas, de encontros em Bruxelas e em Lisboa, ela às vezes sente-se uma anti-Penélope, vai coligindo e montando uma trama à volta de uma estranhíssima história que tem a ver com uma guerra de guerrilhas que ela totalmente desconhecia, junta as peças, telefonam-se, ele envia-lhe montanhas de correio, até o correio eletrónico é fervente, e ela dirá, sempre radiante que aquele título de romance, Rua do Eclipse, que começou num inesperado encontro, é o galvanizador das suas vidas, como aconteceu.


Mário Beja Santos
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Nota do editor

Vd. poste da série de 4 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23668: Agenda Cultural (813): Convite para a apresentação do livro "Rua do Eclipse", de Mário Beja Santos, a levar a efeito no próximo dia 4 de Outubro de 2022, pelas 17h00, no Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo São Luís, 11, em Lisboa


Último poste da série de 20 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23372: Lembrete (41): 37º Encontro Nacional do Pessoal do BENG 447, Brá, Bissau, sábado, 25 de junho, Restaurante O Paraíso do Coto, Caldas da Rainha: há autocarros a partir do Porto e de Lisboa

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23676: Agenda cultural (817): doclisboa'22- festival internacional de cinema, 6-16/10/2022: Retrospectiva - A questão colonial: 35 filmes - Parte I: Lugares: Guiné-Bissau, Senegal, Argélia, Angola, dias 6 e 7


Fotograma do filme "J'ai huit ans" (França, 1969, 10'). Cortesia de doclisboa2022


1. Aí está o nosso querido e aclamado doclisboa, na sua 20ª edição. Um  slogan que já se tornou um ícone: "Em Outubro todo o mundo cabe em Lisboa"... É uma referência a nível mundial este festival do cinema (documental). Organização notável da Apordoc - Associação pelo Documentário. Palmas para eles e elas que fazem estas coisas acontecer na nossa terra. 20 edições é obra. E a continuidade sem quebra da qualidade...

Das diversas secções (são 12), destacamos, para os leitores do nosso blogue, a Retrospectiva > A Questão Colonial. 

Vão passar, só nesta secção 35 filmes de curta, média e longa metragem.  Todos os filmes são legendados em português. Com a devida vénia, selecionámos os filmes que vão ser exibidos hoje e amanhã, na Cinemateca Portuguesa e no Cinema São Jorge.   

Eu, que sou fã do doclisboa, desgraçadamente, vou estar, durante a semana, na Lourinhã, a fazer fisioterapia... Espero que alguns dos nossos cinéfilos possam lá dar um salto e escrever duas linhas (críticas) sobre um ou mais destes filmes... Alguns, seguramente, serão polémicos...

Vamos apresentando, ao longo dos dias, a programação relativa a esta secção. Destaque para o filme "Mortu Nega" do realizador Flora Gomes (Guiné Bissau, 1988, 93’), considerado o filme "fundacional" da cinematografia guineense. Passa hoje, dia 6 de outubro, às 15:30, na Cinemateca Portuguesa,  Sala M. Félix Ribeiro.

Quem não puder vê-lo na sala de cinema, tem-no aqui, no You Tube. Falado em crioulo, com legendas em inglês e em português. Versão integral. 

Flora Gomes nasceu em Cadique, em 1949. Ver aqui sinopse, enquadramento histórico, ficha artística e técnica do filme "Mortu Nega", que em português quer dizer "morte  negada"). 

2. O texto  e as imagens, a seguir, são extraídos do programa do doclisboa'22, incluindo as sinopses dos filmes que aqui se reproduzem para mera informação dos nossos leitores. Como não os vimos, a não ser alguns excertos do "Mortu Nega", não podemos ter opinião sobre eles:

Parafraseando Sartre, algumas reflexões sobre a questão colonial… no cinema. No caso, cingimo-nos à história recente, ao continente africano e às antigas colónias portuguesas e francesas. 

O ponto de partida é o fim da Guerra da Argélia – simbolizando o fim das colónias francesas, habilmente mantidas sob o jugo neocolonial – que coincide com a decisão do Estado Novo de avançar para a guerra colonial. 

Rapidamente, a revisitação dos materiais das “colecções coloniais” revela-se desajustada, condicionada à recontextualização, que reduz o cinema ao documento. 

A viagem deriva, então, para os cineastas solidários e sobretudo o nascimento dos cinemas africanos. Resta saber se, como Ousmane perguntava a Rouch, quando houver muitos cineastas africanos, os cineastas europeus deixarão de fazer filmes sobre África.

Dois momentos fundacionais do cinema guineense e da colaboração de Flora Gomes e Sana na N’Hada, gestos híbridos entre ficção e reconstrução, em busca da imagem de um país e de um povo. O funeral de Amílcar Cabral, finalmente realizado com honras de Estado após a independência, simboliza o nascimento da nação e "Mortu Nega" o seu nascimento cinematográfico.

06 Out — 15:30 / 117’
Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro




O Regresso de Amílcar Cabral
Djalma Fettermann, Flora Gomes, José Bolama, Josefina Crato, Sana na N'Hada
1976/Guiné Bissau, Suécia/32’

Primeira produção de cineastas guineenses após a libertação do colonialismo português em 1974, O Regresso de Amílcar Cabral documenta a transferência dos restos de Amílcar Cabral de Conacri (onde foi assassinado em Janeiro de 1973) para Bissau em 1976. Uma cobertura intrigante do evento solene, gravações de canções guineenses e [...]

Mortu Nega

Mortu Nega
Flora Gomes
1988/Guiné Bissau/93’

Mortu Nega cobre o período entre Janeiro de 1973, durante os meses finais da guerra contra os portugueses, até à consolidação de uma Guiné-Bissau independente, em 1974 e 1975. O filme começa no mato com um transporte na rota de abastecimento de Conacri para a frente. A heroína, Diminga, e [...]

06 Out — 19:00 / 86’
Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro



Africa on the Seine

Afrique sur Seine
Mamadou Sarr, Paulin Soumanou Vieyra
1955/Senegal/21’

De acordo com o Decreto Laval dos anos 1930, os projectos de filmes estavam sujeitos a censura prévia. Neste contexto, os realizadores não obtiveram autorização para filmar em África e, em vez disso, fizeram esta curta sobre as vidas de africanos em Paris. O filme revela questões de estudantes sobre [...]


La Noire…
Ousmane Sembène
1966/França, Senegal/65’
Diouana, uma jovem de uma aldeia senegalesa, deambula por Dacar todos os dias à procura de trabalho. Apesar da enorme oferta de mulheres desempregadas, dada a sua subserviência, é “escolhida” para ama de uma família francesa rica. Quando tem autorização para se mudar para França para viver com eles, parece [...]



07 Out — 16:45 / 68’
Cinema São Jorge Sala 3

Nestes filmes, rodados por cineastas militantes e solidários que desafiaram a censura em França, condensam-se os anos de violência da Guerra da Argélia – vividos no presente e na frente de combate em Algérie en flammes ou nas imagens que dela trazem as crianças exiladas na vizinha Tunísia em J’ai huit ans – e a força de esperança do país no Ano Zero da independência.


J'ai huit ans

J'ai huit ans
Olga Baïdar-Poliakoff, Yann Le Masson
1962/França/10’

Crianças argelinas, sobreviventes da Guerra da Argélia e refugiadas em campos tunisinos, mostram os acontecimentos trágicos que viveram através de desenhos que elas próprias fizeram. Banido em França durante 12 anos e apreendido 17 vezes, o filme foi sobretudo exibido clandestinamente.


Algérie en flammes

Algérie en flammes
René Vautier
1958/França/23’

Primeiro filme rodado no maqui do Exército de Libertação Nacional em 1956-57. O objectivo destas imagens da guerra, filmadas na zona de Aurès-Nementcha, era manifestar apoio popular à organização armada e encorajar o diálogo para a paz. O filme circulou imediatamente pelo munto inteiro, excepto em França, onde foi exibido [...]

Algérie, année zéro

Algérie, année zéro
Jean-Pierre Sergent, Marceline Loridan-Ivens
1962/França/35’

Seis meses após o fim da guerra, o filme esboça um retrato comprometido de uma Argélia recém-independente a braços com a enorme tarefa de reconstrução social e económica. O país é retratado pelas suas vozes rurais e urbanas, carregando as cicatrizes do colonialismo e a ameaça do terrorismo da OAS [...]


07 Out — 19:30 / 68’
Cinemateca Portuguesa Sala Luís de Pina

Uma sessão no limiar da história de Angola, entre a independência duramente conquistada e a ameaça da guerra civil, num breve momento de esperança no futuro da jovem nação. A passagem da câmara das mãos dos camaradas cineastas europeus para os jovens cineastas angolanos acontece também neste momento que o futuro não concretizou.


Nascidos na Luta, vivendo na Vitória
Asdrúbal Rebelo
1978/Angola/18’
Retrato das crianças nascidas ainda durante a guerra, membros dos Pioneiros – a organização juvenil do MPLA. Como o título prenuncia, o filme é feito num momento em que, no rescaldo do trauma da Guerra de Independência, se vive um momento de esperança no futuro de Angola e da revolução.


Guerre du peuple en Angola

Guerre du peuple en Angola
Antoine Bonfanti, Bruno Muel, Marcel Trillat
1975/França/51’´

O filme centra-se na situação vivida em Angola em Junho de 1975, quando a declaração de independência desencadeia uma guerra civil. Os cineastas, que aí se deslocaram para formar jovens angolanos, regressam com este filme, apresentando de forma inequívoca a guerra como a luta das pessoas e do seu movimento [...]

(Continua)

[Seleção / revisão / fixação de texto / subtítulos / negritos / itálicos, para efeitos de edição deste poste: LG. ]
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Notas do editor:

Último poste da série > 5 de outubro de  2022 > Guiné 61/74 – P23675: Agenda cultural (816): "Despojos de Guerra", mini-série da SIC, a ir para o ar nos próximos dias 6; 13; 20 e 27 de Outubro, no fim do Jornal de Noite. No dia 20, o episódio é dedicado aos nossos camaradas Giselda e Miguel Pessoa, "o casal mais strelado do mundo"