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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16957: Notas de leitura (920): “O fim da guerra na Guiné”, por Carlos Alberto G. Martinho, Chiado Editora, 2015 (Mário Beja Santos)

Data de publicação: Maio de 2015
Número de páginas: 220
ISBN: 978-989-51-2877-8
Colecção: Bíos
Género: Biografia
Fonte: Chiado Editora (com a devida vénia...)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Novembro de 2015:

Queridos amigos,
Carlos Martinho estagiou em Angola como alferes em 1971, em Gago Coutinho e fez a sua comissão na Guiné entre Março de 1972 a Julho de 1974, comandou Os Fantasmas da Bolanha. Manifestou-se como opositor antes de partir para a guerra, rendeu Salgueiro Maia em Guidage, fez parte do cerco ao Palácio do Governador, depois de anunciado o 25 de Abril em Lisboa.
É uma narrativa que nos deixa um travo amargo na boca, de tão esquematizado e em estilo de relatório é o seu depoimento que arranca muito bem com descrições da sua infância numa aldeia na região do Fundão. Terá tido o privilégio de ver grandes mudanças, mas o seu esquematismo é tão rígido que nem lhe deve ter ocorrido que gostaríamos de saber mais da sua passagem por Binta, Guidage e Bigene, que teríamos também curiosidade em que ele escrevesse aquela atmosfera de Bissau com algumas explosões, no primeiro trimestre de 1974, e saber também mais sobre o clima explosivo das tais unidades que queriam imediatamente entregar os quartéis ao PAIGC, di-lo mas não desenvolve. Ora ele foi um protagonista e não mero figurante, perdeu esta ocasião única de deixar um depoimento para a História.

Um abraço do
Mário


O fim da guerra da Guiné, por Carlos Alberto G. Martinho

Beja Santos

O autor, formado em engenharia mecânica pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, foi, entre 1972 a 1974, capitão miliciano e comandou a CCAV 3568, que atuou na Guiné. Chama à sua narrativa “Histórias de um capitão miliciano e do seu estágio em Angola e das suas origens em Silvares, na Beira Baixa”. Mas essencialmente “O fim da guerra na Guiné”, por Carlos Alberto G. Martinho, Chiado Editora, 2015, é um documento-relatório, que aparece esquematizado por etapas cronológicas, e onde a ênfase é posta no período de Abril de 1972 a Junho de 1974, vamos ver esta CCAV a operar no Olossato, em Quinhamel, em Binta, Bigene e Guidage.

Fala-se da sua infância em Silvares, concelho do Fundão, da pastorícia da região, da emigração da família para a Venezuela, onde ele passou uma parte da sua meninice. Depois do pai ter vendido os seus negócios em Caracas, a família instala-se em Lisboa. Conta episódios da sua juventude, do seu internamento no Colégio Outeiro de S. Miguel, na Guarda e esmiúça a vida e a situação de muita pobreza na aldeia de Silvares. Foi irregular na sua vida universitária e daí ter sido chamado para Mafra antes da conclusão do curso. Participou em manifestações contra o regime. Ainda pensou em desertar mas o pai pediu-lhe para o não fazer. Fez recruta e especialidade em Mafra, entre Outubro de 1970 e Março de 1971, e noutra fase o curso de capitães que concluiu em finais de 1971. Segue-se a descrição do estágio que entretanto fizera na região de Gago Coutinho.

Sempre minucioso na apresentação das suas sinopses, descreve a origem e a formação da CCAV 3568, a sua chegada ao Cumeré, a promessa feita por Spínola de que se acaso a sua companhia se portasse bem no Olossato, ao fim de um ano regressaria a Bissau, veremos adiante que a promessa não foi cumprida.

Estamos agora no Olossato, localidade muito próxima de Bissorã (sede de batalhão), a ligação era feita por picada, com todas as cautelas, atravessava-se um rio secundário, aí estava um destacamento na Ponte do Maqué, a cerca de 4 quilómetros. Descreve a população do Olossato e respetivas etnias. Ficamos a saber que os trabalhos agrícolas da população eram realizados principalmente na Bolanha de Fanjonquito a cerca de 3 quilómetros do Olossato. A primeira ocorrência é de índole disciplinar, o soldado Adão Teixeira embriaga-se repetidas vezes e sempre fazendo uns disparos para o ar com G3. Há também um primeiro-sargento que se mantinha diariamente alcoolizado. Ilustra a delicadeza da vida na Ponte do Maqué com as obrigações diárias de tirar e pôr minas e armadilhas. Em 18 de Maio de 1972, Marcelino da Mata e dois soldados adjuntos chegam ao Olossato vestidos e armados como guerrilheiros e partiram com as milícias para a zona de Suntuariá, regressaram cedo com dois homens, oito mulheres e três crianças. No Olossato iniciaram-se os interrogatórios. O capitão Martinho foi surpreendido com gritos e acorreu à sala do interrogatório, e explica assim a situação:

“Vi esta cena: no meio da sala, um dos homens capturados tinha o braço sobre um pedaço do tronco de uma árvore e Marcelino da Mata estava a bater com outro pau sobre este braço. Gritei imediatamente para pararem com aquilo e perguntei ao alferes o que se estava a passar. O alferes disse-me que aquele homem saberia onde estava o inimigo. Dei ordens para parar com esta situação e informei que não permitiria qualquer tortura. O primeiro-sargento Marcelino da Mata quando se despediu de mim na pista de aviação, para entrar na DO, disse-me: meu capitão, não costumo fazer estas cenas, porque nas operações que faço com os meus homens, por ordem do comando-chefe de Bissau, não trago prisioneiros”.

A população capturada foi entregue em Bissorã. Em 25 de Maio, numa flagelação ao Olossato, o capitão Martinho é ferido com gravidade, uma das mãos fora atravessada por estilhaços da RPG-7, corria o risco de perder dois dedos. Em Julho desse mesmo ano, na picada entre Olossato e Bissorã, explode uma mina anticarro numa Berliet. A cerca de 6 quilómetros de Bissorã a viatura foi pelos ares:

“Todos nós fomos cuspidos da viatura pelos ares, de tal forma que até o meu relógio e a Medalha de Nossa Senhora de Fátima que trazia ao pescoço se perderam para sempre no mato. Um dos soldados ficou gravemente ferido e foi evacuado".

E assim chegamos a 10 de Agosto em que Olossato sofre um ataque violentíssimo, durante cerca de 75 minutos, felizmente não houve acidente de maior. Dois militares morreram por acidente, tinha havido uma banalização dos procedimentos de minar e desminar diariamente perto de Ponte de Maqué, um furriel também morrerá mais tarde num destes tipos de acidentes. Em Maio de 1973, morre o soldado Carlos Viegas por falta de evacuação da Força Aérea, estava-se nesse momento a viver um período dramático na utilização dos mísseis terra-ar Strella. Deduz-se deste relato que a operação mais importante que esta companhia viveu foi a sua participação na Operação Empresa Titânica, entre 27 e 28 de Fevereiro de 1973, na região do Morés. Dá-se então a rendição da CCAV 3568 pela CART 6254, o capitão Martinho e os seus homens vão para Quinhamel, é sol de pouca dura, rapidamente são convocados por Spínola, têm que marchar rapidamente para Guidage.

Estamos em Junho de 1973, chega a Binta e começam os patrulhamentos e a recolha dos corpos das nossas forças, mortas em combate. Ocorre a operação “Abertura rutilante", de 16 de Julho a 17 de Agosto, para a abertura da picada Binta-Guidage. A sua companhia fica em Bigene. Descreve os factos relevantes em Bigene e Guidage. Comanda 250 homens, a sua companhia e a CCAÇ 19, formado essencialmente por tropa africana. Descreve Guidage:

“O quartel estava muito danificado. No meu gabinete tinha caído uma granada de morteiro 82 e o refeitório dos soldados também se encontrava num estado lastimável. Os soldados dormiam nos abrigos fortificados e até nas valas”. E escreve mais adiante: “Foi através dos militares da CCAÇ 19 e do pelotão de artilharia que se soube do local do enterro dos nossos militares, com a sua identificação inscrita num papel introduzido numa garrafa de cerveja. Na sequência do ataque, foi apenas improvisado um cemitério naquela localidade”.

Em Outubro saiu de Guidage e foi para Bigene, só em Dezembro é que é colocado na região de Bissau. Em 26 de Abril, é informado de que houve um golpe de Estado em Portugal. No dia seguinte, o comandante de COMBIS pergunta-lhe se aderiu ao espírito da revolução, responde afirmativamente. E diz mais: “Havia comandantes de batalhões do interior do território e capitães, sobretudo do quadro, que pressionavam para se entrar em negociações diretas com o PAIGC".

Faz parte das unidades que cercaram o palácio do governador Bettencourt Rodrigues, que não aderiu ao 25 de Abril. A sua comissão está praticamente no fim.
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Nota do editor

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16949: Memória dos lugares (357): Biombo - Ondame, um pequeno paraíso, um oásis de paz... (José Nascimento, ex-fur mil, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71)


Foto nº 1 > A praia do Biombo e o farol abandonado 


Foto nº 2 >  Praia do Biombo



Foto nº 3 > Biombo > A criançada



Foto nº 4 >  Biombo > Com elementos da população


Foto nº 5 > Biombo >  Destacamentio de Ondame > Aula de condução


Foto nº 6 >  Biombo > Na tabanca


Foto nº 7 > Biombo > Durante um passeio pela tabanca


Foto nº 8 >  Biombo, a "fisga"


Foto nº 9> Biombo > Dia de domingo

Guiné > Região de Biombo > Destacamento de Ondame > CART 2520 (1969/1)

Fotos (e legendas): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, c om data de 27 de novembro de 2016, do José Nascimento (ex-fur mil art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71):


Assunto - Biombo-Ondame Um pequeno paraíso

Caros camaradas Carlos Vinhal e Luis Graça,

No tempo em que estive na Guiné nem tudo foi mau, é o caso do Biombo, onde permaneci mais de seis meses.

É certo que as condições não eram as melhores, a iluminação era feita com candeeiros a petróleo, tínhamos de ir buscar água a mais de 500 metros a um poço insalubre, a cozinha era pouco mais do que um pequeno telheiro e as nossas próprias instalações não passavam de um barracão em alvenaria com uma cobertura em telhas de zinco, que quando chovia tocava uma orquestra verdadeiramente desafinada e ensurdecedora.

Mas graças ao nosso poder de improvisação, ao nosso espírito de sacrifício e à nossa camaradagem, as dificuldades foram ultrapassadas.

A guarnição não chegava a um pelotão, pouco mais de 20 elementos, eu era o único graduado.

Contávamos ainda com uma secção de milícia. Também havia um grupo de alguns rapazes muito jovens que,  a troco de alguma comida, voluntariamente ajudavam na cozinha e noutras tarefas e por quem nós nutríamos muito respeito e muita amizade, espero que tenham sido muito felizes, pois bem o mereciam, alguns até andavam na escolinha.

A parte boa desta estadia era a tranquilidade do local, não havia guerra, praticamente não andávamos armados, só quando nos afastávamos mais do nosso pequeno destacamento é que levávamos as nossas G3. Podíamos andar nas tabancas com total liberdade, na prática eramos como civis [Fotos nºs 6, 7, 8 e 9]. Até a minha relação com o pessoal deixou de ser como se estivessemos no mato, ficando quase de parte a componente militar.

Ainda me lembro do nome de algumas tabancas; uma era Ondame a que dava o nome ao destacamento, outra era Blim-Blim e uma outra era Blom.

O régulo deste grande aglomerado de tabancas com uma enorme população, chamava-se Mansoa e com o qual estabelecemos uma boa relação, ajudou a livrar-me certa vez de uma pequena encrenca com o capitão Maltez que um nativo criou com uma queixa no posto administrativo. 


Guiné > Região de Biombo > Mapa de Quinhamel  (1952) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de praia do Biombo, Ondame, Blimblim e Blom. Quinhamel, hoje a capital da região, ficava a norte.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)




Mapa das regiões da Guiné-Bissau. O Biombo (2) inclui os setores de Prabis, Quinhamel e Safim. Adaptado de Wikipedia, com a devida vénia.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


Já lá vão alguns anos escrevi um pequeno texto sobre o Biombo/Ondame, que tenho mantido em rascunho e que recentemente passei para o meu portátil, com algumas ligeiras adaptações.

Ora aqui vai:

Aí vêm eles, saiam daí, avisa um dos nossos militares. Não, não é necessário, porque o inimigo não ataca por mar, também não são tubarões, são apenas simpáticos golfinhos que se aproximam da praia do Biombo e nos vêm fazer uma visita, enquanto nós militares do Exército Português, elementos da CART 2520,  nos banhamos nas cálidas águas da costa da Guiné Bissau, à época Guiné Portuguesa.

A praia do Biombo ficava a escassos dez minutos do nosso aquartelamento, onde dezenas de palmeiras se baloiçavam suavemente sobre as suas águas ao sabor de um vento, quiçá português. Também não faltava um farol abondonado (como numa conhecida canção) para compor esta maravilhosa paisagem tropical [Fotos  nº 1 e 2].

Regressamos ao quartel, ao longo da estrada de terra batida,  veem-se bandos de pelicanos e flamingos de belas plumagens rosa e que procuram alimentos nos pequenos lagos ou braços de rio, onde os africanos se dedicam à apanha de saborosas ostras e apetitosos camarões.

No Biombo a nossa vida de militares decorre tranquila, não há actividade operacional e entre idas à praia e pequenas caçadas, convivemos com as populações nativas  [foto nº 4] e jogamos umas peladas de futebol. Também prestamos cuidados de saúde tais como pensos e tratamentos contra o paludismo, O nosso cabo enfermeiro é um excelente profissional. .

Hoje é dia da minha primeira lição de condução [foto nº 5],  simultaneamente sou aluno mas também instrutor. Coloco o motor da viatura a trabalhar e meto a 1ª..., à segunda ou terceira tentativa lá consigo arrancar e assim vou picada fora; a experiência adquire-se noutras lições...

Fui ao "Centro Comercial" que funciona junto à picada e resolvo comprar ostras, por pouco patacão,  a caixa do nosso Burrinho de Mato fica cheia. Foi um dia em pleno tanto para mim como para os meus soldados e ao almoço juntou-se o lanche que foi regado com umas belas "bazucas" que o nosso cantineiro fazia jus de as manter sempre bem fresquinhas.

Todos os dias a bandeira verde rubra sobe bem alto naquele mastro do quartel do Biombo içada pelos nossos dedicados milicias, vaidosa vai-se balouçando aos quatro ventos como que a murmurar; "aqui é Portugal... aqui é Portugal"... À noite repousa tranquila no meu pequeno gabinete, muito orgulhosa de ser portuguesa.

É dia de partida, vamos em breve regressar aos nossos lares, o nosso pequeno pelotão permaneceu seis meses neste local, depois de termos estado um ano na zona operacional do Xime no centro da Guiné, com uma passagem de cerca de três meses por Safim e João Landim, junto ao rio Mansoa.

Adeus,  sargento Aliu Indini, adeus soldados Quessane Quebá, Andinho Có e outros dos nossos leais milicias. Adeus professor Paulo,  da pequena escola primária do Biombo, adeus aos seus pequenos alunos; ainda hoje parece que os ouço cantar em coro [foto nº 3]

"Gira a roda, gira a roda,

Gira a roda sem parar...

Salta a bola, salta a bola,

Salta a bola sem parar"...

Adeus, meu pequeno quartel do Biombo, adeus a este pequeno paraíso por onde a guerra não passou, adeus aos mais belos tempos desta parte da minha juventude, parto para a Metrópole, mas deixo aqui o meu coração.

O Uíge levanta ferros e zarpa rumo a Lisboa, ainda no canal do Geba o meu peito contrai-se, ao longe pela última vez os meus olhos enxergam o pequeno farol abondonado a me "dizer" o seu adeus.

Adeus Biombo, adeus Guiné.

Para os meus camaradas desta aventura o meu grande abraço.
José Nascimento
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Nota do editor:

Último poste da série de 12 de Janeiro de 2017 > Guiné 63/74 - P16947: Memória dos lugares (356): A Ponte dos Três Arcos, de Leiria, por onde passava a estrada real Lisboa-Coimbra (José Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5)

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16489: Memória dos lugares (345): O destacamento e a jangada de João Landim, no Rio Mansoa (José Nascimento / Francisco Gamelas / Leonel Olhero / Alcídio Marinho)



 Guiné > Região de Cacheu > Junho de 1973 > Margem direita do rio Mansoa... Travessia  de João Landim, que se fazia em janganda. . Primeiro entravam as viaturas, depois as pessoas. Bissau ficava a cerca de quinze/vinte  quilómetros. Foto nº 51C, do álbum de Francisco Gamelas.

Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > 1965/66 > A famosa jangada que atravessava o Rio Mansoa em João Landim, ligando Bissau com a região do Cacheu

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados



1. Comentários ao poste P16486 (*):

José Nascimento [ex-Fur Mil Art da CART 2520, 
Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71); vive no Algarve]


João Landim era constituído por um barracão em madeira e que era gerido em conjunto pela Marinha, que uma jangada, e pela Engenharia, que tinha outra jangada. A outra parte era um barracão em alvenaria, se a memória não me falha, era dividido em duas partes.

As condições não eram as melhores, havia uma latrina feita em madeira construída sobre o lodaçal da margem do rio Mansoa. Havia uns bidões com um chuveiro onde podíamos tomar banho, muitas vezes tínhamos que esperar que nos touxessem água de Safim e era de lá que esperávamos que viessem as nossas refeições e que quase sempre chegavam tarde e a más horas.

Felizmente havia um gerador que fornecia energia eléctrica, mas estavam tão perto de nós que ainda hoje parece que ouço o roncar do seu trabalhar. A guarnição era constituída por uma secção e quando o alferes Marques, ainda em Safim,  me disse, "vais para lá tu,  Nascimento", só aceitei ir com voluntários. A maioria do pelotão ficou em Safim.

Com algum receio dos jacarés ainda dei uns mergulhos no rio Mansoa e também vivi alguns episódios curiosos. João Landim ficava na margem direita do rio e mal de nós se nos quisessem fazer algum mal, penso que não havia interesse por parte do PAIGC, porque João Landim era um ponto de transição entre a zona de guerra e a dita ilha de Bissau e os guerrilheiros podiam perfeitamente passar entre a população. Quem é que sabia? Quando tiver oportunidade coloco umas fotos.

PS - Caros editores: quero corrigir que João Landim ficava na margem esquerda do rio Mansoa e não na margem direita, a sua água era salgada e sofria a influência das marés (cheia/vazia) e por vezes chegava quase ás paredes do nosso barracão. Nunca me senti muito seguro neste destacamento com pouco mais do 6 gatos pingados, sendo que durante a noite estava sempre um elemento de sentinela e como é evidente o meu sistema de alarme estava sempre em alerta.



Carta da província da Guiné  (1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa do destacamento de João Landim, cujas instalações ficavam na margem esquerda do rio Mansoa, do aldo de Safim, ou seja, na ilha de Bissau, e não na margem direita, do lado de Bula. A distãncia, em linha reta, até Bissau deveria seria de 20 km.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


Francisco Gamelas [ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089
 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73): vive em Aveiro]


Sobre João Landim, tanto quanto recordo, não existiria no local qualquer destacamento. Era a malta de Bula que fazia a protecção, sempre que a jangada era utilizada. Creio mesmo que era malta de Bula que operava a jangada. Isto do lado Norte. Do lado de Bissau nunca me recordo ali existir qualquer tipo de protecção, nem recordo ter ali existido qualquer conflito com a população. As viaturas circulavam livremente. Ataques do PAIGC à jangada, no meu tempo, nunca ouvi falar.

Leonel Olhero [, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec 3432 (Panhard),
Bula, 1971/73]


A protecção às jangadas em João Landim era feita pela malta do Esquadrão de Bula.

As jangadas eram operadas pela Marinha que estava aquartelada do lado de lá, na outra margem, num destacamento de barracas feito de latas. Todavia, ao fim da minha comissão 1973 (embarquei em 4/10/73),  João Landim já tinha instalações condígnas feitas em cimento e "até" bonitas.

Fui furriel das Panhards e fiz escoltas a João Landim, três vezes ao dia e sem conta. Nunca aquelas colunas foram atacadas.









Guiné > Rio Mansoa > João Landim >  c. 1972/74 > A "jangada militar"


Fotos (e legendas): © Leonel Olhero  (2012). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Alcídio Marinho [ex-fur mil inf, CCAÇ 412 
(Bafatá, 1963/65): vive no Porto]


Quando chegou o mês de abril de 1965, o meu pelotão (3º) estava destacado, desde março, ma povoação de Geba, fomos avisados que iriamos ser rendidos pela CCAÇ  557 (, do José Botelho Colaço).

Chegou o fim do dito mês de abril e rumamos a Bissau, ficando a pertencer ao BCAÇ 600.
Em Bissau fazíamos patrulhamentos nocturnos e destacamentos semanais em João Landim, a nível de secção reforçada, cerca de vinte homens.

Então, colocou-se o problema, qual dos sargentos vai comandar o destacamento? Ofereci-me, para ir.
Levei o pessoal da minha secção e mais uns voluntários, incluindo um cozinheiro.
Na aquela altura, as instalações eram apenas um barraco e cada um desenrascava-se. Levamos géneros e viveres para uma semana, quando era preciso, éramos reabastecidos

No fim da primeira semana, do pessoal os que quiseram regressar a Bissau, foram substituídos por outros voluntários. Ali não havia o problema do serviço como havia em Bissau, cada um andava de calções e á vontade.

Estive duas semanas seguidas no principio de maio. Mais tarde na última semana na Guiné, voltei e dali partimos na antevéspera do embarque (Uíge), para Lisboa (27/5/1965).

Foram umas férias bem merecidas.

A jangada era em madeira, tinha um cabo que atravessava o rio, e que passava numas roldanas que com umas manivelas fazia a travessia do rio.

A população civil era controlada à entrada de um lado e do outro.

As unidades militares eram apenas controladas pelas ordens de serviço e também era controlado o peso e o número das viaturas para não sobrecarregar a jangada.

O pessoal que manobrava a jangada eram nativos comandados por um cabo, creio que era papel (raça).
Durante o dia, quatro militares estavam no controle em terra, de cada lado do rio. Na jangada circulavam dois e às vezes três. A outra malta estava estacionada do lado de Bissau.


Guiné-Bissau > Ponte Amílcar Cabral,  mais conhecida  por  ponte João Landim. Com 785 metros de comprimento, inaugurada em 2003, tendo sido totalmente financiada pela União Europeia e construída por um consórcio espanhol  [Foto à esquerda com a devida vénia, fonte: Acciona-Engineering]


Por vezes éramos visitados por colunas da Companhia e às vezes até aparecia o Comandante da Companhia, o Sr. Tenente Azevedo

Um dia, deixaram passar um individuo com uma malinha. Ele já estava na jangada e eu mandei que saísse para revistar a mala. Dentro tinha ligaduras e outro material médico. Mandei um rádio para Bissau e vieram buscá-lo, já não passou dali.

Foram umas semanas bem passadas. Quando queríamos peixe, lá vai uma granada ofensiva para o rio 
e recolhíamos o peixe, que distribuíamos pelos nativos que apareciam por ali.

Assim conheci João Landim, não estava sujeito aos salamaleques da tropa macaca de Bissau.



Guiné-Bissau > Rio Mansoa, Ponte Amílcar Cabral > Abril de 2005 > Belíssima foto do português Carlos Galveias [Reproduzida, com a devida vénia, do seu blogue República da Guiné-Bissau > 28 de abril de 2005 > Guiné-Bissau Topur 2005 - Actualização].

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quinta-feira, 17 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15870: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (8): Quem não se lembra do antigo ditado que diz: "em tempo de guerra não se limpam armas"

1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 4 de Março de 2016:


Quem não se lembra do antigo ditado que diz: "em tempo de guerra não se limpam armas"

Esta é uma afirmação perfeitamente falsa, pelo menos no conceito de um coronel de quem não sei o nome, mas que tinha a alcunha do "Onze".

Estava eu no destacamento do Biombo, do qual guardo boas recordações, quando fui visitado por este oficial, que chegou acompanhado por vários militares armados e também por um major que mal colocou os pés no chão, a primeira coisa que fez, foi mandar formar os meus soldados, neles incluídos uma secção de milícias, tendo de seguida começado a inspeccionar as armas que lhes estavam distribuídas.

Ao encontrar a Mauser de um dos milícias, suja de pólvora, quis saber o porquê, ao que o mesmo respondeu:
- Soldado branco foi à caça.

Foi o suficiente para este coronel olhar para o lado e pretender saber o que se tinha passado. O meu militar, para quem o milícia apontou, lá tentou desculpar-se que tinha encontrado umas munições abandonadas, mas não foi o suficiente juntamente com as minhas justificações, para nos ser levantado um auto, do qual resultou uma punição de 8 dias de detenção para o soldado e de 10 de detenção para mim.

Temos de voltar ao serviço militar, porque esta "punição" nunca chegou a ser cumprida.

Alguns meses antes já havia sido visitado pelo coronel "Onze", no terceiro dia em que cheguei ao Biombo. No total das duas vezes que esteve no destacamento, não permaneceu mais do que vinte minutos, apenas pretendeu saber se estávamos bem fardados e bem barbeados. Em seu entender o barracão a que chamavam destacamento ou quartel, onde nem sequer entrou, tendo entrado apenas na nossa mini cantina, não se encontrava em perfeito estado de limpeza, porque havia algumas folhagens no chão.

Não me perguntou pelo meu estado de saúde, pois eu tinha a cara com um enorme inchaço e também estava com alguma febre devido a um problema dentário, problema este que só se resolveria completamente após o meu regresso à Metrópole e infelizmente com a raiz do dente ao sol.

Não pretendeu saber como é que nos alimentávamos e em que condições os alimentos eram confeccionados, a cozinha era um telheiro apoiado em 4 pilares e pouco mais, e a nossa mesa do "refeitório" era feita de umas quantas tábuas mal pregadas.

E o posto médico? Simplesmente não existia e havia apenas um armário de madeira, que felizmente estava razoavelmente apetrechado com medicamentos, porque a CArt 2520 tinha uma excelente equipa de enfermeiros comandada pelo Furriel Enfermeiro Augusto Costa e da qual fazia parte o Cabo Silva que nos acompanhou durante os seis meses em que permanecemos naquele destacamento. Mesmo assim, quantas vezes fomos pedir medicamentos a uma Missão Anglicana que existia lá perto de nós. Também cooperávamos com esta Missão.

A água, se é que era potável, íamos buscá-la em bidões de gasolina vazios, a um poço existente a mais de quinhentos metros das nossas instalações, de qualquer modo não estava envenenada porque esta seria a primeira habitação de dezenas de rãs que por lá moravam.

E como é que nos defenderíamos se porventura o inimigo quisesse organizar connosco uma "excursão" a partir do Biombo até um sítio qualquer do Senegal ou da Guiné Conacri? Ou, o mais certo seria não haver interesse por parte do PAIGC em nos molestar, porque a zona do Biombo/Ondame era "colónia" de férias dos seus militantes?

Para a iluminação existiam um ou dois "petromax". Eu próprio adquiri um candeeiro a petróleo daqueles que as carroças usavam antigamente, para ter luz nos meus "aposentos".

Gostava de poder dizer ao "meu" coronel que não gastámos 3 munições abandonadas numa prateleira. Gastámos sim, mas foram mais de 3 mil e já não faziam parte da dotação da Companhia, foram trazidas por prevenção quando deixámos o Xime.

A nossa permanência no Biombo foi quase um caso de sobrevivência, os mantimentos não eram nem em quantidade nem em qualidade suficientes para alimentar diariamente quase um pelotão de militares e muitas vezes tivemos que nos socorrer da caça para nos alimentarmos.Também comprávamos por imposição aos nativos das tabancas, cabritos ou galinhas ao preço que nós próprios estabelecíamos, mas nunca roubámos. Algumas vezes também comprávamos uma ou duas pernas de vaca quando havia "choro", cerimónia fúnebre em que os nativos matam os seus animais para as celebrações.

Sempre se procedeu à limpeza de armas, mas não era regra, normalmente era de acordo com a convicção de cada um e até me recordo de um soldado ter disparado acidentalmente um tiro enquanto cuidava da sua G3, foi por pouco que não houve graves consequências, o que contradiz o ditado: "Em tempo de guerra não se limpam armas".

Foi muito ingrato quase no fim da comissão e depois de tantos sacrifícios, de tanto sofrimento, de tanta luta e de tantos perigos passados, ter recebido como recompensa uma punição registada na caderneta militar. Felizmente esta detenção não chegou a se concretizar e acabou por ser ultrapassada. Tenho a perfeita consciência de que fui uma peça importante para a CArt 2520, principalmente para o 3.º Pelotão. Cheguei a ser durante muito tempo o único graduado deste grupo de combate e também o seu comandante, com a certeza de que conduzi os meus homens nas matas do Xime, tão bem quanto o saudoso Alferes Joaquim da Costa Marques e com absoluta confiança dos combatentes deste Pelotão.

O tempo já apagou a ira e a raiva que ficaram dentro de mim, mas quando me recordo deste episódio ainda sinto alguma revolta e essa jamais me abandonará.

Para que não haja dúvidas aqui vai a respectiva transcrição da caderneta militar.

"...e na verificação do estado de limpeza e conservação do material e munições do destacamento de que é comandante, dando lugar a que embora na sua ausência, uma praça metropolitana utilizasse munições que se encontravam abandonadas numa prateleira da cantina e, com uma espingarda Mauser distribuída a um milícia fosse à caça dos pássaros".

Para todos os amigos da Tabanca Grande, aqui vai também um grande abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15742: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (7): O Soldado João Parrinha, natural de Cabeça Gorda, Beja

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15742: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (7): O Soldado João Parrinha, natural de Cabeça Gorda, Beja

O José Nascimento no cais do Xime,
que foi construído no tempo da CART 2520
1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 3 de Fevereiro de 2016, com uma pequena homenagem a um Soldado do seu Pelotão.


O Soldado João Parrinha


O João Parrinha era um rapaz tipicamente alentejano. Natural de Cabeça Gorda, nas proximidades de Beja, bonacheirão, muito simples e humilde, sem qualquer instrução, quando lhe perguntei por que razão não sabia ler nem escrever, pois no tempo em que eu fui para a escola primária, já o era obrigatório, ele respondeu-me:
José Nascimento, foto atual
- Obrigatório sim, mas como poderia eu ir à escola se ela ficava a mais de 20 quilómetros de onde eu morava?

Passado algum tempo de estarmos na Guiné, apercebi-me da sua proximidade, mais do que qualquer dos outros elementos do meu pelotão. Quando saíamos para o mato,  ele procurava estar sempre perto de mim e até quando fazíamos segurança à ponte sobre o rio Udunduma, os nossos colchões eram colocados no chão ou em cima de algumas chapas de zinco e o nosso tecto eram as estrelas, eu dormia entre os soldados e normalmente o Parrinha era o que ficava mais por perto.

Certa vez quando houve uma pequena escaramuça com elementos do PAIGC, na zona de Madina Colhido, o Parrinha foi ferido por um estilhaço dum rocket e logo gritou por mim:
- Meu furriel,  estou ferido!

Fui ver o que se passava, foi de imediato tratado pelo nosso enfermeiro. Felizmente era um ferimento ligeiro nas costas e sem qualquer gravidade.

Por coincidência ou não,  ele fazia anos na mesma data que eu e numa das nossas deslocações a Bambadinca, cruzámo-nos com um nativo que transportava um pequeno porco e logo ali fez negócio e o animal seria para fazer um petisco no dia do nosso aniversário.

Levado o bicho para o Xime, o Parrinha construiu uma pequena pocilga e com os restos da cozinha lá ia alimentando o nosso bácoro, que foi comprado a meias.

Mas,  para nosso descontentamento,  os "turras" resolveram estragar-nos a nossa planeada festa de aniversário e numa noite qualquer atacaram o quartel do Xime. Felizmente para o 3.º pelotão estávamos no Udunduma.

O que aconteceu é que a improvisada pocilga foi pelos ares e o nosso pitéu passados alguns dias deixou de o ser em consequência do incidente.

De vez em quando o Parrinha pedia-me dinheiro emprestado e logo se prontificava a pagar,  assim que recebia o seu modesto vencimento.

No destacamento do Biombo [,, quando fomos para Quinhamel], onde a actividade era mínima, andava quase sempre desenfiado, até chegava a dormir nas tabancas e eu fazia que não sabia de nada.

Já na Metrópole,  e passados alguns anos após o nosso regresso da Guiné, numa passagem por Cabeça Gorda,  fui à procura do Parrinha, e qual não é a minha surpresa quando me dizem que ele estava no Algarve, até me disseram em pormenor onde ele morava.

Assim que tive oportunidade lá fui a Olhão, ao Bairro dos Pescadores, onde encontrei este antigo militar. Conversa puxa conversa, em determinado momento ele me diz:
- Quando fomos para a Guiné,  ia com a ideia de lhe dar um tiro.
- Porquê? - indaguei com alguma admiração.
- É que,  quando estávamos em Torres Novas, você deu-me um pontapé no traseiro.

Recordei-me que,  durante a instrução,  lhe dei um pequeno toque, sem qualquer intenção de o magoar, tipo sacudir o pó dos fundilhos das calças, como que a lhe dizer "vamos lá, você é capaz de fazer este exercício".. Ficou melindrado.


Fiquei então a perceber o porquê da sua proximidade na nossa passagem pela Guiné... Conversámos por mais algum tempo e saí da sua casa com vários quilos de peixe de primeira qualidade e com a convicção que o ódio (se é que existiu) se transformou em amizade.

Infelizmente já não voltei a falar com este rapaz que foi a minha sombra na Guiné. O coração do João Parrinha resolveu pregar-lhe uma partida e deixou de bater precocemente, ele já não pertence ao número dos vivos.

Adeus,  João Parrinha, até à eternidade!... E para o pessoal da Tabanca Grande um enorme abraço.

José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15490: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (6): A Bandeira

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15413: Expedição Porto-Dakar, integrada na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 (Abílio Machado, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) - II (e última) Parte




Porto-Bissau... Expedição >  21 de abril de 2016...Dia 17 > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira da Silva > O tão desejado avião da TAP...


Porto-Bissau... Expedição >  21 de abril de 2016...Dia 17 > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira da Silva...

O que restou de Portugal, na Guiné-Bissau, por comparção com a herança inglesa (na Gâmbia) e francesa (no Senegal) ? O que resta de Portugal na Senegâmbia ? Fomos os primeiros europeus a chegar a esta vasta região da Africa sariana e subsariana... A pergunta (e a provocação) é do Abílio Machado, que a percocorreu, de jipe, entre 26 de dezembro de 2013 e 9 de janeiro de 2014,,, Ficou de nos mandar fotos, que não mandou... Socorremo-nos de outras, mais antigas, da expedição Porto-Bissau, realizada em abril de 2006, por alguns camaradas nossos (o Xico Allen e o A. Marques Lopes) e onde o Hugo Costa, filho do Albano Costa, se integrou.

Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


II (e última) parte da crónica do Abílio Machado


[foto atual à direita; Abílio Machado,  ex-alf mil, contabilidade e administração, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; e também um dos fundadores do grupo musical Toque de Caixa; vive na Maia; publicou recentemente o Diário dos Caminhos de Santiago, Porto, 2013]


Porto-Dakar - Parte II

por Abílio Machado

[, integrado na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 ]


Um fim de dia global : na Mauritânia estamos, no Hotel Emira, camaronês, dormimos, no restaurante Huzur, turco, comemos. Bem. Na companhia do grupo espanhol. Boa.


Porto-Bissau, expedição. 10 de abril de 2006. Dia 6.
Rua de Nouakchott, capital da Mauritânia.
Foto: © Hugo Costa (2006)
Quarto triplo : 127 euros. A cotação está alta ou a oferta baixa e muita a procura…


Nouakchott [, a capital], uma cidade em terra batida, onde mal adivinhas um centro, se o há, um chafariz monumental, sem água, em cada multibanco um guarda, o Islão impera, homens de vestes islâmicas, as mulheres de cabeça coberta, algumas emburqadas.

Emborcar é coisa que não farás, se o não trazes, aqui não o compras, não há uma pinga de álcool à venda… Nem cães, não se vêem cães na Mauritânia…

Vê-los-ás de novo no Parque Nacional de Diawling, e verás tucanos, pegas, da azul e da negra, abutres, perdizes, javalis, esquilos, ginetos, e mais pelicanos e garças, uma explosão de vida selvagem, não, não é um safari, embora se veja por aqui muito bicho selvagem, o homem que é o pior de todos, e algumas mulheres…

Porto-Bissau, expedição. 12 de abril de 2006. Dia 8. 

 Viagem de Tambacunda (Senegal) até à Guiné-Bissau... 

Babuínos(ou macacos-cães). 
Foto: © Hugo Costa (2006)
Há algo de diferente hoje : o ar quente, há mais acácias, e mais verdes, ali um embondeiro, capim, enfim a savana… Entramos na África negra : mais escura a cor da pele, a roupa é um revoltear de cores vivas, há um aroma de luxúria, na mulher e na vegetação…

Senegal, cidade de Saint Louis, La langue de Barbarie : ao lusco-fusco, as ruas fervilham de agitação, uma correria de gente e carroças, jumentos amestrados transportam os donos a casa e aos negócios, fazem-se ofertas, vendem-se os últimos produtos…

O Senegal é um mercado só, tudo é uma venda e todos vendedores, até o que julgas ser um favor é um negócio e tem um preço, a polícia de trânsito é o exemplo, a extorsão pratica-se às claras, uma multa - não importa se legítima - é regateada como uma venda, 18.000 fr. cfas podem num ápice reduzir-se a 11.000, nunca mostres o dinheiro que tens, levam-to todo, tiram-to da mão, a venalidade e a corrupção começam de cima, quem os ensinou?...

Da África negra direi : a pobreza, a sobrevivência, as crianças “cadeau, cadeau”, o lixo plástico, os jumentos, os mercados, tangerinas, caju, telemóveis e acessórios, panos, água em sacos, gelo, bolos, doces fritos na hora, bolachas à unidade, melancias, feno, lenha, mancarra, carne, moscas e pau de Cabinda, não sei se me entendem… mas também das acácias vivas, das mangueiras, dos embondeiros, aquela flor do embondeiro lembrou-me a declinação latina “ rosa-rosae”, das palmeiras, dos rios, graves, pachorrentos, das árvores que não florescem como se a flor lhes exigisse demasiado esforço e energia.

Direi mais : dos jovens, deitados, apáticos, sem destino e sem futuro, a fome entristece, a pobreza enlouquece, do calção roto, do pé descalço, também do telemóvel, da parabólica à porta da cubata de adobe.

De súbito, nesta viagem, La Grande Mosquée de Thiamène…um marco nesta viagem, a ela acorrem muçulmanos de todo o Senegal.

Porto-Bissau, expedição. 13 de abril de 2006. Dia 9. 
  Guiné-Bissau: Quinhamel.Foto: © Hugo Costa (2006)
 

Guiné-Bissau

A passagem pela Guiné foi - não o escondo - um dos motivos maiores que me trouxeram a esta expedição. E a aventura, que sempre me estimula. A oportunidade de rever amigos e voltar a um território onde, por força da guerra, gastei dois anos da minha juventude, tornavam esta jornada mais que aliciante.

A entrada da fronteira fazia-se pelo leste da Guiné, a região a que pertence Bambadinca, o quartel onde cumpri o serviço militar. Aí tive as primeiras emoções, direi melhor, decepções.

Em Bafatá, a segunda cidade da Guiné, a degradação das antigas casas comerciais é escandalosa, é chocante ver algumas delas, hoje edifícios públicos, ao abandono, os funcionários à porta, desocupados.

Porto-Bissau, expedição. 16 de abril de 2006. Dia 12. 
Mansoa, ponte (portuguesa) sobre o rio
Foto: © Hugo Costa (2006)
Na avenida que conduz ao cais serpenteia-se por entre buracos. A alguns kms de Fá-Mandinga, onde Amílcar Cabral realizou as suas primeiras experiências de agronomia, Bafatá quis lembrá-lo e implantou um busto do libertador, olhando o Geba… Abandonado e sujo está o pai da Nação, os novos líderes esquecidos da sua herança.

No aeroporto que usei tantas vezes, a caminho ou no regresso de Bissau, já não aterram aviões, desde fins dos anos 90 é uma avenida urbanizada, com um hotel/discoteca, algumas tabancas e casas inacabadas.



Porto-Bissau, expedição. 18 de abril de 2006. Dia 14. 
Saltinho, a ponte (portuguesa) sobre o rio Corubal
ainda lá estava, rija, de pé.
Foto: © Hugo Costa (2006)
Manhã cedo, rumamos a Bambadinca, ao encontro das emoções. Revi amigos, abracei-os, o tempo não corrói a amizade, mas altera as feições, não os reconheceria ao fim de tantos anos. Na face de alguns, algumas, a miséria escreveu rugas e decrepitude, mulheres sós, mortos os maridos, lutam pela vida numa sociedade que lhes é madrasta; a outros, outras, a fome ou a doença derrotou-os.

O pequeno aeródromo que servia o quartel é hoje ocupado por um mercado - é assim em toda a Guiné- onde, como no país vizinho, tudo é vendável.


Porto-Bissau, expedição. 18 de abril de 2006. Dia 14. 

O mítico  rio Corubal,no Saltinho. Foto: © Hugo Costa (2006)
Do quartel - fui recebido pelo 2º Comandante, dois dos seus subordinados acompanharam-me numa visita às instalações - recuso falar : a degradação total, destruídos os bares, as messes, os quartos, só alguns gabinetes são usados.

De pé e a funcionar, a igreja e a escola missionária S. José : para os alunos, na pessoa do director e professores, deixamos o que levávamos de ajuda humanitária : óculos de sol, roupas, bolas, livros, cadernos, mochilas, canetas. A alegria das crianças guineenses, como em toda a África, é contagiante : nada têm, mas na face um sorriso cativante, sempre, que se transforma em dança, saltos, cabriolas à mais pequena dádiva, um pequeno saco de caramelos solta alegrias, às vezes lutas…

Bissau é a praça da Independência, o Hospital e a Assembleia Nacional Popular…tudo o resto é um cartão de visita calamitoso que o país apresenta ao visitante.

A avenida que conduz ao cais do Pidjiguiti, e as ruas adjacentes, estão tão esburacadas como a credibilidade interna e exterior dos seus lideres políticos.

O país é isto : uma jovem mãe, mulher apreciável, um Mercedes novo, vidros fumados, aguarda o abastecimento de combustível. Descasca uma laranja com os dentes, cospe a casca e depois as pevides, pela janela… Quando aproxima o carro da bomba de combustível, a sua educação mede-se pelos restos cuspidos da laranja, não pelo rasto dos pneus.

Porto-Bissau, expedição. 18 de abril de 2006. Dia 15. 
 Empada, escola Foto: © Hugo Costa (2006)
De resto, um país bloqueado, instituições paradas, projectos cancelados, ONG’s em fuga, bolanhas ao abandono, o gado mais nutrido que as pessoas, uma pequena lavra, por vezes…

E como tudo isto contrasta com o belo da natureza : mangueiras abrigam as povoações, mamoeiros, palmeiras, bagabagas, o tarrafo, os rios Geba, Mansoa e Cacheu espraiam e arrastam suas águas turvas rumo ao mar…

Mas há um aroma no ar, ou uma cor, a cor do dinheiro : chegada a expedição a Bissau, as propostas para compra dos jeeps são insistentes, qual o preço, quer vender?, a uma farmácia aonde vais em busca de álcool o dono da farmácia pergunta primeiro o preço do carro…

1 queca : 5.000 fr. cfas.

Apresento-vos a Gâmbia, mais que um país é um rio, do mesmo nome, à volta dele se faz a vida das suas gentes.

Transcrevo da Wikipédia : “…comerciantes árabes criaram uma rota comercial, que comercializou escravos, ouro e marfim. No século XV, os portugueses herdaram este comércio estabelecendo uma rota de comércio do Império MaliEm 1588, António, Prior do Crato, vendeu os direitos de exclusividade de comércio na região do rio Gâmbia aos ingleses, direitos … confirmados pela rainha Elizabeth I ”.

Um pouco de história, da nossa história não aborrece e ajuda a fazer, no ferry, a travessia do rio. A língua é a inglesa, encravada entre o português da Guiné-Bissau e o francês do Senegal, já o trânsito é continental, circula-se pela direita.

Vi um tractor na Gâmbia e um anão negro…

Transpostas as fronteiras, é a hora de uma breve comparação entre estes países. De colonizações diversas, o que se vê, o que ressalta do que ficou?

A herança francesa é visível no Senegal :

(i) identificação e organização das comunidades rurais,
(ii) poste de santé,
(iii) escolas,
(iv) universidade em Ziguinchor,
(v) mais limpeza e sanidade, algumas povoações esmeradas, mesquitas, sinalização e indicativos de velocidade…

A Gâmbia não esconde a colonização inglesa:

(i) estradas em bom estado,
(ii) sinalização e identificação das aldeias, há rails numa das estradas,
(iii) campos cultivados,
(iv) um dos ferries em bom estado e um cais novo em construção,
(v) ruas mais limpas, mercados mais cuidados, polícias, muitas mulheres polícias, todos bem fardados…

Da Guiné-Bissau, valha a verdade,

(i) as estradas do interior estão em bom estado,
(ii) pontes foram construídas sobre os rios,
(iii) os espaços Galp bem arranjados, mesmo se as bombas estão vazias…

Anda há quatro anos fugido à crise, não dorme em hotéis, toca viola, estuda temas da música fula e mandinga, vai de família em família, como as famílias se estendem por países, vai de país em país, fala francês, inglês, espanhol, vimo-lo, o grego errante, perdido, como Ulisses, quase um andrajo, magro, mochila vazia, contente de nada ter

Enfim, a chegada ao Lac Rose…e a estadia no Hotel Campement Lac Rose. O sol escondeu-se, não pudemos ver a reverberação rosa nas águas do lago…

O regresso, apressado ou económico, segundo as opiniões - em 5 dias fizemos o que na ida fizéramos em 14?? - foi feito sem incidentes de maior.

Ao contrário, alguns rallystas da African Race - passaram por nós a toda a brida, motos, buggies, camiões, no parque natural de Diawling - tiveram seus contratempos, rebocados alguns, a nossa Elisabete Jacinto dialogava com os colegas a melhor forma de socorrer um dos camiões, mais atascado que javali na lama.

Agora chama-se Sahara Desert Challenge e vai na 4ª edição...Inscrições ainda abertas!...  Arranca de Coruche no próximo dia 27 de dezembro... (LG)


Do regresso direi mais :

(i) do canto dos muezzins, às seis da manhã, em Nouakchott,
(ii) da raposa tresnoitada a caminho da toca,
(iii) dos ciclistas, sós, algures entre Nouadhibou e Nouakchott,
(iv) do almoço com Maité e Tomás no deserto mauritano, jamon, pão com tomate catalão, conservas, paio português,
(v) do cabo Boujdou (Bojador), “ quem passa além do Bojador, passa além da dor “ [, Fernando Pedssoa],
(vi) do azul do mar sarauhi,
(vii) da chuva, hélas, chuva no deserto, do vento quase um tornado, dos polícias ou soldados que em todas as povoações te obrigam a parar, o Sahara um país ocupado…

Direi dos kms do regresso :

1º dia : Dakar – Nouakchott : 600 Kms
2º dia : Nouakchott – Dakhla : 850 Kms
3º dia : Dakhla – Agadir : 1200 kms
4º dia : Agadir – Jerez de la Frontera 890 kms
5º dia : Jerez – Porto 900 kms

Quem vem e atravessa o rio… Ah, meu Porto sentido, lar, doce lar… Ah cama boa!!!

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Nota do editor:

Vd. poste anterior > 24 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15405: Expedição Porto-Dakar, integrada na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 (Abílio Machado, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) - Parte I

terça-feira, 2 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14690: Cartas de amor e guerra (Renato Monteiro, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego e Piche, 1969/70; e CART 2520, Xime, 1970) (Parte II): anti-herói





Guiné, 28 de agosto de 1970, teu [Re]Nato... [Nesta altura, já em Quinhamel, na CART 220, ou no Hospital Militar, em Bissau, o HM  241]




"Para Guidita, Piche, 6 de agosto de 1969. Renato José"





"Para Guidita, Piche, 6 de agosto de 1969. Renato José"





"Para Guidita, Piche, 6 de agosto de 1969. Renato José"





Local ilegível [Piche, ] 6 [?] de agosto de 1969...[Folha 2]


Fotos: © Renato Monteiro (2015). Todos os direitos reservados (Edição: LG]


1. Segundo (e última parte) do pequeno lote de cartas (*) que recebi, para publicação, do nosso grã-tabanqueiro, o Renato Monteiro. o "homem da piroga", ex-fur mil, CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego e Piche, 1969/70); e CART 2520 (Xime e Quinhamel, 1970) (**); natural do Porto (n. 1946), vive em Lisboa; é professor do ensino secundário, reformado... Publicou, juntamente com Luís Farinha, uma pioneira Fotobiografia da Guerra Colonial (Lisboa: D. Quixote, 1998). 

E um homem do(s) olhar(es) e da(s) palavra(s). A sua grande paixão, hoje, é a fotografia (a preto e branco). É um talentoso, compulsivo e apaixonado fotógrafo da vida, do quotidiano, do trabalho, dos lugares, de Lisboa e do Tejo, do seu país, das suas gentes... Tem vários blogues de fotografia que merecem uma visita: (i)  Fotografares; (ii) Quero Lisboa; e (iii) Fotografares do Tejo... Tem publicado livros e feito exposições de fotografia.


Como ele me explicou, são "cartas destinadas à namorada [Margarida, hoje esposa], pouco convencionais, a dispensarem o aparo da Pelikan, compostas na sua maior parte por colagens de palavras e frases curtas de jornais e revistas encontrados casualmente nos aquartelamentos de Contuboel (...) e de Pitche. (...) Mensagens que, recorrendo ao nonsense através de expressões fragmentadas e sentidos descontínuos, nem por isso deixavam de traduzir uma certa amargura, ironia, desespero; momentos de medo e de calados desejos; surdas revoltas causadas pela forçada expatriação que nos obrigara à separação do outro amado." (*)




Espinho > c. 1968 > CART 2479 (futura CART 11 e depois CCAÇ 11)  > ainda em Espinho, na IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional > 

Na 4ª fila, fila. de pé o Valdemar Queiroz (1) e á sua direita o Bento (4).

O Cândido Cunha está no centro da foto (3) [, "na segunda fila, de pé, facilmente identificado por ser o que se está a rir, se calhar por todos os outros estarem tão sérios". 

Na 3ª fila.  à esquerda do Cunha, o Renato Monteiro (2). O segundo, a contar da direita, na 1ª fila é Abílio Duarte (5). O Renato, o Valdemar e o Abílio são membros da nossa Tabanca Grande.  (***)

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. L.G.]




Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Xime > CART 2520 (1969/70) > c. 1970 >  "No regresso de uma operação no subsetor do Xime" (RM) (**)... 

Uma máscaraa de sofrimento... Esta foto também vem reproduzida na pág. 215 do livro de que é coautor (Renato Monteiro e Luís Farinha: Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: Círculo de Leitores / Publicações D. Quixote. 1990. 307 pp). (LG).


Foto (e legenda): © Renato Monteiro (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]

(**) Vd. poste de 6 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12684: Memória dos lugares (263): O Xime, ao tempo da CART 2520 (1969/71), comandada pelo cap mil António dos Santos Maltez, natural de Aveiro (Renato Monteiro)