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terça-feira, 1 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6515: Agenda Cultura (79): Desenho Humorístico e Caricatura no Centenário da República: A política, a guerra, as colónias... (Luís Graça)


Caricatura de Silva Mongteiro, Os Ridículos, 6 de Março de 1912 (Col Hemeroteca Municipal de Lisboa)





Caricatura de Silva Monteiro, Os Ridiculos, 22 de Janeiro de 1916 (Col Hemeroteca Municipal de Lisboa)
~


Autor e publicação: Não conseguimos identificar  (Col Hemeroteca Municipal de Lisboa).

Fotos da exposição (L.G.)


Exposição > O Jogo da Política Moderna! - Desenho Humorístico e Caricatura na I República
Local > Lisboa, Paços do Concelho, Galeria de Exposições
Data: 3 Mai a 23 Setembro de 2010
Horário: 2ª a 6ª feira: 10h00 / 20h00; Dom:  10h00/18h00
Endereço: Praça do Município
Telefone: 213 236 200

No âmbito do Centenário da República (1910-2010) está patente, em Lisboa nos Paços do Concelho, a mostra O Jogo da Política Moderna!: 

A colecção exibida (da Hemeroteca Municipal de Lisboa) "retrata um conjunto de obras, e tem como objecto uma viagem pelos últimos cem anos da caricatura e desenho humorístico nacional. Evidenciando autores e manifestações satíricas com traços mais rústicos ou mais vanguardistas, com conteúdos sociais e políticos mais ou menos explícitos, é notório o acervo documental municipal em destaque". 




Lisboa > Praça do Comércio > 30 de Maio de 2010 > Esquina do Terreiro do Paço com a Rua do Arsenal > Aqui morreram, em 1 de Fevereiro de 1908, o Rei D. Carlos e o seu herdeiro... Em 5 de Outubro de 1910, era proclamada a República, a escassas dezenas de metros, da varanda dos Paços do Concelho, na Praça do Município. 

Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados.


Numa época em que ainda não havia a rádio, muito menos a televisão, a imprensa escrita, periódica,  era um poderoso meio de modelação da opinião pública, ainda muito circunscrita às camaradas urbanas alfabetizadas, populares e burguesas. Mais de dois terços dos portugueses eram analfabetos. 

O desenho humorístico e a caricatura foram, em grande parte, um produto do republicanismo na luta político-ideológica contra a Monarquia. Mas também foram, depois do 5 de Outubro de 1910,  uma arma poderosa nas mãos dos críticos dos erros e debilidades do xadrez político do republicanismo.  De tempos a tempos, os caricaturistas e os humoristas esqueciam as suas idiossincrasias, estéticas, ideológicas, políticas, e punham o seu talento ao serviço de causas comuns, como foi o esforço de Portugal na I Grande Guerra, ditada em grande parte pela imperiosa necessidade de defender as "colónias de África", objecto do "apetite imperial" de alemães, ingleses e franceses...

Uma exposição a ver com calma, de preferência num domingo, soalheiro,  de manhã, em que Lisboa resplandece, sem carros,  sem poluição, na Praça do Município e na nova Praça do Comércio... (Nova, de facto; em contrapartida, falta-lhe a vida das esplanadas, há muito prometidas, e a animação de rua)... LG 

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4663: Blogpoesia (53): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VIII Parte): Da Monarquia Constitucional à República

Portugal > Proclamação da República em 5 de Outubro de 1910 > Alegoria (desconheço o autor)

Fonte: Página oficial da Assembleia República (com a devida vénia...)


Lisboa > Terreiro do Paço (antes do terramoto de 1755) > Azulejos (pormenor) > Casa do Alentejo > 17 de Janeiro de 2009.

Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados.


VIII parte da História de Portugal em Sextilhas, escritas pelo Manuel Maia, licenciado em História (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74). Texto enviado em 4 de Julho último (*).


Da Monarquia Constitucional à República

221-De Trás-os-Montes sai Barão Casal
a perseguir escocês, anti-liberal,
que as forças miguelistas comandava.
Centenas, lá por Braga, chacinou
chegado à Invicta, entrada não ousou
pois líder da cidade intimidava...


222-À Causa Setembrista há uma adesão
dum velho general que passa então
a comandar, nas Beiras, Patuleias.
Chegado ao Porto, Póvoas, o visado,
ficou deveras entusiasmado
ao ver no povo a força das ideias...


223-Com frota para o sul cedo zarpou,
Sá da Bandeira em Lagos aportou,
p´ra juntar forças lá p´ro Alentejo.
Ocupa a capital do rio Sado,
permanecendo ali, qual sitiado,
à espera dum levante, junto ao Tejo...


224-Ao Porto é enviado um emissário
da quádrupla aliança mandatário
p´ra suspender a fratricida guerra.
Proposta já prevê uma amnistia
que aos revoltosos dava a garantia
de livres eleições na sua terra.


225-Recusa o Conde de Antas tal proposta,
com quatro barcos ruma junto à costa,
disposto a invadir a capital.
Travão disuasor da inglesa esquadra,
em plena Foz na altura fundeada,
levou à rendição do general.


226-De pouco ou nada valem os protestos
da junta, p´la ingerência e manifestos
que o Almirante Maitland debitava.
Os Passos combateram bravamente,
Saldanha, que avançara finalmente,
e em Grijó revolta terminava...


227-Gramido vai trazer a rendição,
dos Patuleias sob condição,
de acordo que jamais será cumprido.
Cabral ao regressar gera sarilho,
num fervilhar de ódio, qual rastilho
pois vencedor humilhará vencido...


228-Matosinhenses meios abastados,
geraram dois irmãos mui bem fadados,
mostrando p´ra política aptidões.
Nas guerras liberais estão envolvidos,
na Patuleia esforços são perdidos,
derrota sofrem manos de Guifões...


229-Brutais espancamentos e prisões,
recriam novamente as condições
p´ro eclodir de outra situação.
De novo o Porto tem papel fulcral
ao sediar revolta inicial,
que a História chama Regeneração.


230-A Invicta reclamou uma vez mais
amor à liberdade e ideais,
na rua clama o fim da repressão.
Saldanha, Regeneradores comanda,
a roda p´ros Históricos desanda,
partiu Cabral, rejubilou Nação...


231-Depois desta Maria Educadora,
o filho Pedro Quinto surge agora
p´ra um curto mas profícuo reinado.
Combóio fez rolar entre os carris,
telégrafo implantou desde a raíz,
consigo esclavagismo é extirpado...


D. Pedro V de Portugal (nome completo: Pedro de Alcântara Maria Fernando Miguel Rafael Gonzaga Xavier João António Leopoldo Victor Francisco de Assis Júlio Amélio de Bragança, Bourbon e Saxe Coburgo Gotha). Nasceu e morreu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 16 de Setembro de 1837 e a 11 de Novembro de 1861, respectivamente. De cognome, O Esperançoso, O Bem-Amado ou O Muito Amado, era o filho mais velho da Rainha D.Maria II e do príncipe consorte D.Fernando II, de origem alemã.

Reinou de 1853 a 1861. Foi o mais culto dos reis da monarquia constitucional. Foi o 32º monarca portugês. Sucedeu-lhe o irmão D. Luís.

Filomena Mónica escreveu sobre ele uma notável biografia, editada por Círculo de Leitores e Temas e Debates (2007).


Fonte: Wikipédia. Imagem do domínio público.



232-Senhor de uma cultura de invejar,
partiu p´ra Europa, dado a viajar,
na busca do melhor para o seu povo.
Mal começara as lides do reinado
enfrenta as febres, vive atormentado,
morrendo, já viúvo, moço novo...


233-Após D. Pedro vem, rei Popular,
Luis, que o Porto irá remodelar
com obras de que a urbe carecia.
A doca de Leixões, Palácio e pontes
irão rasgar, por certo, horizontes,
passando o sonho além da utopia...


234-Para obstar a crítica bem dura
de compadrio com a escravatura,
na África distante e ignorada,
a lusa Sociedade de Geografia
apoia expedição que se exigia,
em gesta mui difícil e ousada...


235-O fito foi tomar conhecimento,
fortalecer presença no momento,
da imensidão da África que estranham.
Exploradores partiram co´a intenção
de se empenharem numa ligação
terrena, entre oceanos, que a banham.


236-Projecto português intenta unir
Angola a Moçambique e permitir
a ligação das costas via terra.
Com alemães convénio é definido,
mal mapa cor de rosa é conhecido
tão logo surge atrito co´a Inglaterra.


237-Orgulho de Tendais, país profundo,
um luso, Serpa Pinto, homem do mundo,
tal como, em S.Miguel, Ivens é tido.
Soltando seus vagidos em Palmela ,
Capelo engrandeceu terra já bela,
com feito tão brilhante cometido...


238-Zarparam Serpa Pinto, Ivens, Capelo,
catando com minúcia e com desvelo,
do Zaire e do Zambeze a foz ignota.
Mau grado algum prestígio p´ra Nação,
não fôra conseguida a ligação
difícil, face aos p´rigos dessa rota...


Selo de 25 réis, com a efígie de D. Carlos I, 34º Rei de Portugal. Reinou de 1889 a 1908. Foi assassinado com 44 anos, juntamente com o príncipe herdeiro Luís Filipe.

Fonte:
Wikipédia. Desenho e Gravura: Eugéne Mouchon. Print: Tipográfica, na Casa da Moeda. (Private collection Henrique Matos) (com a devida vénia...).


239-A ideia desta ligação por terra
chocava com interesses da Inglaterra,
em cuja zona intenta pôr a pata.
A prepotência gera o Ultimato,
D. Carlos cede a tal desiderato,
começa mal reinado o Diplomata...


240-Pintor sensível, fino aguarelista,
da natureza amante e desportista,
D. Carlos foi rei culto e estudado.
P´lo mar apaixonado há muitos anos,
investigou a fauna aos oceanos
a bordo do Amélia, requintado.


241-Do rei, republicanos fazem réu
com estigma de traição, forte labéu,
no Porto vai estalar revolução.
Janeiro de oitocentos, nove e um
o trinta e um virou dia incomum,
revolta só a custo tem travão.


242-Surgiram n´ultramar rebeliões ,
Mouzinho, em Chaimite, impôs galões,
ao soba Gungunhana, alta figura.
D. Carlos, portugueses quer unidos,
e p´ra pôr termo à guerra dos partidos,
forçou o João Franco e a ditadura.


243-Centúria nova, oitavo ano, fevereiro,
a tarde era do seu dia primeiro,
de volta ao paço está coche real.
Buissa despejando a sua ira,
ao rei e um infante a vida tira,
está perto a monarquia, do final.

244-Reflexo do desfecho violento,
país estremeceu, nesse momento,
face à assassina sanha ocorrida.
Republicanos vão forçar acções,
capazes de criar rebeliões,
que hão-de conduzir a nova vida.

245-Imposta a João Franco a retirada
por incapacidade demonstrada,
foi acto de pressão sobre o infante.
Nem mesmo a Acalmação vai trazer frutos
pois sete vezes surgem substitutos,
mas monarquia está agonizante...

246-El-rei D.Manuel, adolescente,
revolta quer travar mas é impotente,
e o povo extravasa, chega ao rubro.
República terá seu nascimento
um dia após proclamação de evento,
mil novecentos dez, cinco de Outubro.

Manuel Maia

[ Fixação / revisão de texto / selecção de imagens: L.G.]

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)

3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II

15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4351: Blogpoesia (47): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (IV Parte): II Dinastia (De D.Manuel, O Venturoso, até ao fim)

3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4456: Blogpoesia (48): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (V Parte): III Dinastia (Filipina)

22 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4561: Blogpoesia (49): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VI Parte): IV Dinastia (Brigantina) (até 1755)

30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4610: Blogpoesia (51): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VII Parte): De Pombal (1755) até ao regente D. Miguel (1828)

quinta-feira, 22 de março de 2007

Guiné 63/74 - P1621: Questões politicamente (in)correctas (28): Salazar, um dos últimos reis de Portugal (David Guimarães / João Tunes)


1. Mensagem do David Guimarães (Xitole, 1970/72):


João Tunes (1)...

Remetendo-nos aos escritos da época, é natural que àquela zona ainda não tivesse chegado a informação de que Portugal já era República e há bom tempo – nunca se sabe...

Estes dias ouvi na RTP1 alguém que perguntava a um jovem universitário:
- O amigo sabe quem era Salazar ? – Ele olhou, pensou e disse:
- Ele foi um dos últimos reis de Portugal, não foi ? – E não disse a brincar...

Remetendo-me ao que lemos e tu leste com atenção e à noção histórica deste estudante (eu ouvi!), bem, até nós fomos monárquicos no reinado dos generais Schulz (2), Spínola e Bettencourt Rodrigues... Mais ano, menos ano...

Um abraço – e ainda bem que existem destas gralhas e se lêem. É sinal que todos estamos atentos e vivos na caserna ... Ainda bem!

David Guimarães

2. Resposta do João Tunes (Pelundo/Teixeira Pinto e Catió, 1969/71):

Camarada David:

Só te posso agradecer esta tua reacção jovial. E julgo que dela precisamos bem para animar a malta (perdão: a blogo-caserna). Ao fim e ao cabo, se bem nos lembrarmos, era assim, foi assim, transformando o insólito de estarmos na guerra, pela chacota fraternal (uns com os outros, cada qual com a situação), numa forma lúdica de sobrevivência, quantas vezes levada ao absurdo, para nos sentirmos vivos e jovens. E não terá sido essa jovialidade curtida de humor espontâneo, forma de sobrevivência de uma juventude transformada em carne para canhão sem recuo, que nos fez mais fraternos e tão generosos que, por regra, contava menos a nossa pessoalíssima contabilidade dialéctica entre a vida e a morte que o apelo imperativo de acudir, onde necessário, quando necessário, contra o necessário, para safar um camarada que, ali, nunca era menos que um irmão?

E terás toda a razão. O Capitão Canchungo (adoptando a nomenclatura actual), sem jornais, nem TSF, nem telenovelas, nem internet, nem blogues, metido em brios de torre e espada a subordinar balantas (pobres balantas que, além de se subordinarem aos fulas, sem contar com os mandigas, ainda tiveram que se subordinar aos portugueses), devia ter regressado da Guiné sem saber que a Carbonária espetara, há anos, uns balázios no Dom Carlos. E se o distinto militar Canchungo amava a pátria, encharcado nas bolanhas a enfiar balázios em pretos reguilas, como poderia imaginar que, por cá, na sede do reino, se andava aos tiros aos coroados, a mudar de bandeira e a fazer a vida difícil aos curas de sotaina que, lá, lhe abençoavam os feitos?

Já menos desculpa terá, pelo erro, o prof familiar do Canchungo e lhe usa o apelido que entrou tão abespinhado por causa de um mapa em que notou falta do viço da reverência para com os nossos antepassados e, depois, troca as mãos pelos pés ao situar historicamente a época das façanhas colonizadoras do seu antepassado. Mas, se foi erro por revivalismo monárquico, por mim está desculpado. Ou pelo que seja (pressa panegírica, por exemplo).

Grande abraço, camarada David. E, mais os necessários, para os restantes que alimentam esta tertúlia aberta à memória e à alegria de continuarmos vivos.

João Tunes

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1619: Questões politicamente (in)correctas (27): Teixeira Pinto, a Coroa e a República (João Tunes)


(2) Shultz ou Schultz ? Eu costumo escrever Schultz... Ora, não é uma coisa nem outra. Na página da Fundação Portugal-África, Universidade de Aveiro > Memória de África, encontrei as seguintes referências bibliográficas relacionadas com o antigo Governador da Guiné (1965-1968):

[58735] SCHULZ, Arnaldo
A cavalaria na Guiné / Arnaldo Schulz
In: Revista da cavalaria. - (1965), p. 7-12
Cota: 1204BIBEx.

[37947] Deputados à assembleia nacional visitaram a província da Guiné
Deputados à assembleia nacional visitaram a província da Guiné / (colab.) Arnaldo Schulz ...[et al.]
In: Boletim geral do Ultramar.- vol. 42, nº 489 (Mar. 1966), p. 31- 49
Cota: 89ISCSP.

[56695] Governador da Guiné
Governador da Guiné. - Visita do general Arnaldo Schulz (governador da Guiné) à Metrópole
In: Boletim geral do ultramar.- Ano 44, nº 514 (Abril 1968), p. 131- 135
Cota: G/A 1008ISEG.

[37988] CORREIA, Peixoto
Novo governador da província da Guiné / Peixoto Correia, Arnaldo Schulz
In: Boletim geral do Ultramar.- vol .40, nos 467- 468 (Maio- Jun. 1964), p. 85- 96 (il.)
Cota: 89ISCSP.

[152631]SCHULZ, Arnaldo
Todos Juntos, vamos continuar Portugal / Arnaldo Schulz. - Bissau : Centro de Informação e Turismo, 1965. - 29 p. ; 22 cm
Cota: 325.3(469:665.7-5)"1965"BPINEP.

Guiné 63/74 - P1619: Questões politicamente (in)correctas (27): Teixeira Pinto, a Coroa e a República (João Tunes)



Qual era a bandeira do Capitão João Teixeira Pinto, o pacificador da Guiné (1912-1915)? A verde-rubra, da República, ou a azul e branco, da Monarquia ?

Mensagem do João Tunes:

Caro Luís,


No post P1615 (1) lê-se: “o capitão Teixeira Pinto (na qualidade de chefe do Estado Maior da Guiné entre 1912 e 1915) conquistou o Ôio, contrariando as instruções expressas do governador e também comandante militar da Guiné. Entrou depois no chão dos Balantas e dominou-os, submetendo-os à Coroa Portuguesa.”

Porque o rigor também é uma forma de respeitar as nossas figuras históricas e o depoente sobre a publicada evocação histórica de Teixeira Pinto é seu parente e professor universitário, gostaria que me esclarecessem como foi possível que o capitão Teixeira Pinto, tendo estado na Guiné entre 1912 e 1915, submeteu os Balantas à “Coroa Portuguesa”, se a República foi instaurada em Portugal (sem recaídas monárquicas até ao momento) em 1910?

Abraço do João Tunes (ex-Alf Mil Transmissões, Pelundo/Teixeira Pinto e Catió, 1969/71).

2. Comentário do editor do blogue:

Meu caro João: Em princípio, trata-se de um lapsus liguae. São pequenas imprecisões, que acontecem a quem escreve para o ciberespaço, como tu e eu. É como dizer soba em vez de régulo. Mas, naturalmente, é ao autor do texto, A. Teixeira-Pinto, professor da UTAD (e não da Universidade da Beira Interior, como eu por lapso o apresentei no post, lapso de que peço desculpa ao meu colega mas que já foi corrigido) que cabe fazer a devida errata ou esclarecer melhor o seu pensamento.

Em termos lógicos e cronológicos, o Capitão João Teixeira Pinto, o pacificador da Guiné (como dizem os nossos historiógrafos militares) fez a campanha do Oio (e a primeira de quatro campanhas miliares, entre 1913 e 1915), sob a bandeira verde-rubra (2)... Não sei se ele era monárquico, nem para o caso isso aqui interessa. Há um excelente texto de Carlos Bessa sobre a sua figura e acção na Guiné, de que transcrevo os seguintes trechos (valerá a pena fazer, oportunamente, a transcrição integral do texto, para conhecimento dos nossos amigos e camaradas da Guiné). Uma coisa parece certa: a Guiné-Bissau, em termos territoriais e populacionais, não seria o que é hoje, sem a visão estratégica e a acção destemida, enérgica e sangrenta do Capitão Teixeira-Pinto, ao serviço de Portugal e da República:

Teixeira Pinto, pacificador da Guiné, "enclave" unificado
por Carlos Bessa

Proclamada a República, a administração portuguesa continuou a impor-se cada vez mais segura, ora aos comerciantes, ora a régulos poderosos e interesseiros como Adbul Injaí. Quando necessário usava a força contra as etnias animistas. Os Franceses não se conformavam com o perdurar do "enclave" da Guiné, tropeço para a expansão na Senegâmbia.

Até que, em 23 de Setembro de 1912, chegou um oficial diferenee. Nascera em Moçâmedes, bebera o saber de guerras no sertão de militares coloniais como João de Almeida, de cuja coluna fez parte nos Dembos, aprendendo a estudar primeiro o inimigo e o meio e só atacar depois. Não era um teórico. Cuidava do pormenor. Beneficiou de os governadores lhe darem carta branca, embora tendo de enfrentar os assimiliados da Liga Guineense, criada após a república para fins escolares e educativos, mas buscando com o tempo crescente influência política.

O novo chefe do Estado-Maior concentrou esforços entre Cacheu e o Geba para evitar o choque com os Frnaceses e encurtar linhas de comunicação. Dispondo de poucas tropas, apoiou-se em chefes mercenários nem sempre modelares, como Abdul Injaí e Mamadu Cissé, ou no administrador e oficial de segunda linha Calvet de Magalhães, que soube captar o régulo Monjur e fazer dos fulas do Gabu aliados fiéis. Quadros militares de carreira queria poucos e dispensou-os. Elegeu como objectivo liquidar as bolsas animistas, apoiado nos islamizados, que utilizou também contra os grumetes. Dentro desta ordem de ideias organizou quatro campanhas: a do Oio, por onde começou, por ser a região mais adversa, de Abril a Agosto de 1913, na transição do cacimbo para a época das chuvas; a dos manjacos e papéis de Cacheu, de Janeiro a Abril de 1914; contra os balantas de Mansoa, de Maio a Julho de 1914; e contra os papéis de Bissau, de Maio a Agosto de 1915 (...).

____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1615: O Capitão Diabo, herói do Oio, João Teixeira Pinto (1876-1917) (A. Teixeira Pinto)

(2) Carlos Bessa - Guiné. Das feitorias isoladas ao 'enclave' unificado. In: Manuel Themudo Baraa e Nuno Severiano Teixeira, ed. lit - Nova Históriaa Militar de Portugal. Vol. 3. S/l: Círculo de Leitores. 2004. 257-270.

Leia-se também o próprio Teixeira Pinto, em livro de memórias que eu não conheço > João Teixeira Pinto - A ocupação militar da Guiné. Lisboa: Agência Geral das Colónias. 1936.