Casa Comum
Direitos:
A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
Fonte:
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04620.104.055
Título: Comunicados [Zona 8] [Clicar aqui para ampliar]
Assunto: Comunicados assinados por Rui Djassi (Faincam): destruição de pontes e comunicações na região de Empada, ataque a agentes da PIDE, prisão de professores catequistas (entre os quais Bernardo Mango), ataque das tropas portuguesas à tabanca de Caur e à população.
Data: Quarta, 27 de Junho de 1962 - Quarta, 4 de Julho de 1962
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1960-1962 (interna). Documentos anexos a 04620.104.054.
Título: Comunicados [Zona 8] [Clicar aqui para ampliar]
Assunto: Comunicados assinados por Rui Djassi (Faincam): destruição de pontes e comunicações na região de Empada, ataque a agentes da PIDE, prisão de professores catequistas (entre os quais Bernardo Mango), ataque das tropas portuguesas à tabanca de Caur e à população.
Data: Quarta, 27 de Junho de 1962 - Quarta, 4 de Julho de 1962
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1960-1962 (interna). Documentos anexos a 04620.104.054.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
Tipo Documental: Documentos
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Fonte:
Arquivo Amílcar Cabral
05.Organização Militar
Comunicados
05.Organização Militar
Comunicados
Citação:
(1962-1962), "Comunicados [Zona 8]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40585 (2014-10-23)
(1962-1962), "Comunicados [Zona 8]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40585 (2014-10-23)
2. Transcrição, fixação de texto e revisão por L.G.:
[Folha 1/3]
30/6/1962
Da ultima hora - Empada
Destruiram pontes no dia 27-28, cortaram fios em grande quantidade. Há dificuldade [de] comunicação para vários pontos, entre os quais Bissira-Empada, Empada- Pam- Tchuma, Sacunda -Aidará.
No dia 28 [do corrente mês, junho de 1962] foi morto um comerciante europeu que está [estava] ao serviço da PIDE.
Na mesma noite meteram fogo na casa do Anso Mara [sic], também agente da PIDE.
Todos os professores catequistas daquela área foram presos sem motivo de justificação. Eis os nomes: Domingos Lopes; Mário Soares; Avelino Mendes Loes; Bernardo Mango, e mais alguns camaradas. E mais agradecia mandar relogio para José Sanhá.
a) [Rui] Djassi (FAINCAM)
[Filha 2/3]
Informação
Dia 30 de junho – Metralharam um homem de raça balanta, que se encontrava preso, com uma rajada de 10 tiros, só porque [se] levantou para fazer necessidade.
Dia 3 de julho – Em Madina de Baixo atiraram sobre um pobre homem, que andava no campo a lavrar, [e ] que logo foi morto.
Dia 4 de julho – Na madrugada, a tropa portuguesa invadiu a tabanca de Caur onde começaram a fazer fogo sobre a população. Foi morto um elemento do Partido, de nome Iaiá Camará, vários feridos e 16 prisões.
Contrariamente a outros documentos do Arquivo, ele está redigido com letra bem legível, boa caligrafia e em português quase perfeito. Recorde-se que o Rui Djassi [, nome de guerra, Faincam],fazia parte da segunda leva de militantes do PAIGC que foram enviados para a China, no 2.º semestre de 1960, para formação político-militar como futuros comandantes.
(i) Constantino dos Santos Teixeira (“Tchutchu Axon”);
(ii) Francisco Mendes (“Tchico Tê”) (1939-1978);
oficialmente terá morrido de acidente na estrada Bafatá-Bambadinca; mas também há ainda suspeitas de assassinato, em 7/6/1978; foi primeiro ministro e chefe de Estado:
(iii) Domingos Ramos (morto, em combate, em Madina do Boé, em 11 de Novembro de 1966);
tem nome de rua em Bissau; foi camarada do nosso Mário Dias no 1º curso de sargentos milicianos (CSM) realizado na Guiné, em 1959;
(iv) Hilário Rodrigues “Loló”:
comissário político, morreu em 1968, num bombardeamento da FAP, no Enxalé;
(v) João Bernardo “Nino” Vieira, nome de guerra, Marga (1939-2009)
natural de Bissau; ex-Presidente da República;
(vi) Manuel Saturnino da Costa:
será 1º ministro entre 1994 e 1997, num dos piores governos do PAIGC, na opinião do nosso saudoso Pepito (1949-2014); ainda é vivo;
(vii) Pedro Ramos:
fuzilado em 1977, às ordens de ‘Nino’ Vieira, ao que parece, no âmbito do chamado "caso 17 de Outubro"; era irmão do Domingos Ramos;
(viii) Rui Djassi:
comandante da base de Gampará, na aregião de Quínara, morreu em 1964, por afogamento na sequência de um ataque das tropas portuguesas); tem nome de rua em Bissau;
(ix) Osvaldo Vieira (1938-1974):
morreu, por doença, em 1974, num hospital da ex-URSS, e com a terrível suspeita de ter estar implicado na conjura contra Amílcar Cabral; ironicamente repousam os dois, lado a lado, na Amura; era também conhecido como "Ambrósio Djassi" (nome de guerra); tem nome de rua em Bissau; o aeroporto internacional também ostenta o seu nome;
(x) Vitorino Costa:
morto, numa emboscada em meados de 1962, antes do início oficial da guerra, por um grupo da CCAÇ 153 / BCAÇ 237, comandado pelo Cap Inf José Curto; era irmão de Manuel Saturnino da Costa: e terá sido o primeiro revés de Amílcar Cabral, no plano militar); tem nome de rua em Bissau;
30/6/1962
Da ultima hora - Empada
Destruiram pontes no dia 27-28, cortaram fios em grande quantidade. Há dificuldade [de] comunicação para vários pontos, entre os quais Bissira-Empada, Empada- Pam- Tchuma, Sacunda -Aidará.
No dia 28 [do corrente mês, junho de 1962] foi morto um comerciante europeu que está [estava] ao serviço da PIDE.
Na mesma noite meteram fogo na casa do Anso Mara [sic], também agente da PIDE.
Todos os professores catequistas daquela área foram presos sem motivo de justificação. Eis os nomes: Domingos Lopes; Mário Soares; Avelino Mendes Loes; Bernardo Mango, e mais alguns camaradas. E mais agradecia mandar relogio para José Sanhá.
a) [Rui] Djassi (FAINCAM)
[Filha 2/3]
Informação
Dia 30 de junho – Metralharam um homem de raça balanta, que se encontrava preso, com uma rajada de 10 tiros, só porque [se] levantou para fazer necessidade.
Dia 3 de julho – Em Madina de Baixo atiraram sobre um pobre homem, que andava no campo a lavrar, [e ] que logo foi morto.
Dia 4 de julho – Na madrugada, a tropa portuguesa invadiu a tabanca de Caur onde começaram a fazer fogo sobre a população. Foi morto um elemento do Partido, de nome Iaiá Camará, vários feridos e 16 prisões.
O povo já está em revolta, porque os colonialistas declararam já guerra contra o povo.
[Folha 3/3]
E estes juraram de que se a tropa repetir, vão morrer todos mas têm que defender[-se].
Agora em todas as tabancas homens e mulheres estão preparados para qualquer contratempo.
Por aqui termino esperando da sua resposta e palavra de ordem o mais rápido possível.
Djassi (Faincam)
Informação do bijagós [sic]–
O Pereira está insuportável lá. Gastou todas as balas dele e dos camaradas. Atira sobre macacos, gazelas, etc. Anda sempre na bebedeira. Vendeu a roupa dos camaradas que tinham ido para serviço nas outras ilhas
Para lhe substituir, recusou. Portanto, mandei-lhe chamar para voltar, porque com ele não posso trabalhar. Quanto aos outros, estão a trabalhar bem.
Agora em todas as tabancas homens e mulheres estão preparados para qualquer contratempo.
Por aqui termino esperando da sua resposta e palavra de ordem o mais rápido possível.
Djassi (Faincam)
Informação do bijagós [sic]–
O Pereira está insuportável lá. Gastou todas as balas dele e dos camaradas. Atira sobre macacos, gazelas, etc. Anda sempre na bebedeira. Vendeu a roupa dos camaradas que tinham ido para serviço nas outras ilhas
Para lhe substituir, recusou. Portanto, mandei-lhe chamar para voltar, porque com ele não posso trabalhar. Quanto aos outros, estão a trabalhar bem.
3. Comentário de L.G.:
Rui Djassi fazia parte destes 10 futuros destacados dirigentes do PAIGC, hoje todos desaparecidos, uns em combate outros na "voragem da revolução" (com exceção de Manuel Saturnino da Costa, irmão de Vitorino Costa)… Aqui vão, mais uma vez os seus nomes, por ordem alfabética:
(i) Constantino dos Santos Teixeira (“Tchutchu Axon”);
(ii) Francisco Mendes (“Tchico Tê”) (1939-1978);
oficialmente terá morrido de acidente na estrada Bafatá-Bambadinca; mas também há ainda suspeitas de assassinato, em 7/6/1978; foi primeiro ministro e chefe de Estado:
(iii) Domingos Ramos (morto, em combate, em Madina do Boé, em 11 de Novembro de 1966);
tem nome de rua em Bissau; foi camarada do nosso Mário Dias no 1º curso de sargentos milicianos (CSM) realizado na Guiné, em 1959;
(iv) Hilário Rodrigues “Loló”:
comissário político, morreu em 1968, num bombardeamento da FAP, no Enxalé;
(v) João Bernardo “Nino” Vieira, nome de guerra, Marga (1939-2009)
natural de Bissau; ex-Presidente da República;
(vi) Manuel Saturnino da Costa:
será 1º ministro entre 1994 e 1997, num dos piores governos do PAIGC, na opinião do nosso saudoso Pepito (1949-2014); ainda é vivo;
(vii) Pedro Ramos:
fuzilado em 1977, às ordens de ‘Nino’ Vieira, ao que parece, no âmbito do chamado "caso 17 de Outubro"; era irmão do Domingos Ramos;
(viii) Rui Djassi:
comandante da base de Gampará, na aregião de Quínara, morreu em 1964, por afogamento na sequência de um ataque das tropas portuguesas); tem nome de rua em Bissau;
(ix) Osvaldo Vieira (1938-1974):
morreu, por doença, em 1974, num hospital da ex-URSS, e com a terrível suspeita de ter estar implicado na conjura contra Amílcar Cabral; ironicamente repousam os dois, lado a lado, na Amura; era também conhecido como "Ambrósio Djassi" (nome de guerra); tem nome de rua em Bissau; o aeroporto internacional também ostenta o seu nome;
(x) Vitorino Costa:
morto, numa emboscada em meados de 1962, antes do início oficial da guerra, por um grupo da CCAÇ 153 / BCAÇ 237, comandado pelo Cap Inf José Curto; era irmão de Manuel Saturnino da Costa: e terá sido o primeiro revés de Amílcar Cabral, no plano militar); tem nome de rua em Bissau;
Neste comunicado acima transcrito, o Rui Djassi parece sobretudo querer "mostrar serviço" ao secretário geral do Partido que está em Conacri. Mesmo com a habitual imprecisão factual (em relação a topónimos, nomes de pessoas, datas, circunstâncias, etc.) fica.-se com a ideia (grosseira) de que terá sido na região de Quínara, e em especial Empada, que se acendeu o rastilho que infelizmente daria origem a uma guerra estúpida e inútil, que poderia ter sido evitada por ambas as partes.
Esta época continua mal conhecida e pior documentada, em grande parte também por falta de testemunhos dos militares portugueses que atuaram na região, ainda em missões mais paramilitares do que militares (como foi o caso do cap inf José Curto). na medida em que se estava ainda na fase preliminar da "guerra subversiva".
Recorde-se que a guerra só começa oficialmente com o ataque a Tite, em 23 de janeiro de 1963. E como descreve o nosso Zé Martins, "nessa madrugada em que se deu o combate de Tite tombou o primeiro militar português, desconhecendo-se se por causa do fogo inimigo ou fogo amigo, sendo ele Veríssimo Godinho Ramos, Soldado Condutor Auto Rodas nº 834/59, do Batalhão de Caçadores nº 237, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 6, no Porto, solteiro, filho de Joaquim Ramos e Ricardina Joaquim Godinho, natural da freguesia de Vale de Cavalos e concelho de Chamusca. Faleceu no dia 23 de Janeiro de 1963 durante o ataque a Tite, vitima de ferimentos em combate, Foi inumado no Cemitério de Vale de Cavalos." (...)
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Recorde-se que a guerra só começa oficialmente com o ataque a Tite, em 23 de janeiro de 1963. E como descreve o nosso Zé Martins, "nessa madrugada em que se deu o combate de Tite tombou o primeiro militar português, desconhecendo-se se por causa do fogo inimigo ou fogo amigo, sendo ele Veríssimo Godinho Ramos, Soldado Condutor Auto Rodas nº 834/59, do Batalhão de Caçadores nº 237, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 6, no Porto, solteiro, filho de Joaquim Ramos e Ricardina Joaquim Godinho, natural da freguesia de Vale de Cavalos e concelho de Chamusca. Faleceu no dia 23 de Janeiro de 1963 durante o ataque a Tite, vitima de ferimentos em combate, Foi inumado no Cemitério de Vale de Cavalos." (...)
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Nota do editor:
Último poste da série > 5 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13103: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (11): Comunicado de Osvaldo Vieira, sobre a atividade operacional do PAIGC, nos dias 30 de junho e 1, 2, 3, 5, 6 e 10 de julho de 1963, na região do Oio, incluindo Bissorã, Dandu, Olossato e Fajonquito, em que se contabilizariam... 116 mortos entre os soldados portugueses, quase 3 vezes e meia mais do que o total dos nossos mortos em combate nesse ano (n=34)...
Último poste da série > 5 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13103: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (11): Comunicado de Osvaldo Vieira, sobre a atividade operacional do PAIGC, nos dias 30 de junho e 1, 2, 3, 5, 6 e 10 de julho de 1963, na região do Oio, incluindo Bissorã, Dandu, Olossato e Fajonquito, em que se contabilizariam... 116 mortos entre os soldados portugueses, quase 3 vezes e meia mais do que o total dos nossos mortos em combate nesse ano (n=34)...