Mostrar mensagens com a etiqueta Rui Vieira Coelho (médico). Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Rui Vieira Coelho (médico). Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13775: Inquérito online: Resultados preliminares (n=133): um em cada dois teve o paludismo... Mas só um um terço tomava sempre ou quase sempre a Pirimetamina, comprimido oral, de 25 mg, do Laboratório Militar (LM), como profilaxia... 40% tomava o medicamento e mesmo assim teve o paludismo

Foto; Cortesia de António Tavares (2014)
A.  Resultados preliminares da nossa "sondagem", em linha (n=133),  quando faltam dois dias para encerrar a votação (*):

SONDAGEM:  NO TO DA GUINÉ TIVE O PALUDISMO E TOMAVA O MEDICAMENTO... (Resposta múltipla. Vd. blogue, no canto superior esquerdo)


1. Não me lembro se tive paludismo  > 3 (2%)


2. Não me lembro do medicamento para o paludismo  > 7 (5%) (**)


3. Sim, tive paludismo  > 64 (48%)


4. Não, nunca tive paludismo  > 26 (19%)


5. Não,  nunca tomava o medicamento    > 2 (1%)


6. Sim, tomava sempre (ou quase sempre)  > 45 (33%)


7. Sim, tomava, mas só às vezes  > 26 (19%)


8. Tomava o medicamento e tive o paludismo  > 53 (39%)


9. Tomava o medicamento e nunca tive o paludismo  > 19 (14%)


10. Nunca tomei o medicamento nem nunca tive paludismo  > 9 (6%)


Votos apurados: 133 (até às 6h00 de hoje). Dias que restam para votar: 2




Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande  > 20 de Junho de 2009 >

Nada nos faltou, neste dia, nem o calor da Guiné (em sentido físico e figurado) nem o cheiro (inesquecível) do repelente anti-mosquito, da marca Lion Brand... Não sei quem trouxe a amostra, mas vi várias nas mãos do António Graça de Abreu e do José Casimiro Carvalho... Neste pequeno vídeo ouve-se várias vozes (Luís Graça, Joaquim Mexia Alves e sobretudo Álvaro Basto que conta aqui uma pequena história com um Lion Brand que pegou fogo aos lençóis da cama...).

Vídeo (1' 02''): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados

Mosquito Anopheles gambiae.
Foto: cortesia da Wikipedia

Como prevenção e proteção contra o temível Plasmodium Falciparum (o mais perigoso dos quatro parasitas da malária, e que era  e é endémico na Guiné-Bissau, transmitido pelo mosquito anopheles, foto à direita), usávamos várias medidas quer individuais quer coletivas, como o uso correto de vestuário (sobretudo à noite: roupas largas, calça  e camisa compridas, "à boa maneira colonial"), protetores e repelentes (ainda não havia ou não estavam vulgarizados os aerossois, pelo que usávamos pomadas LM, no mato, horrorosas, mal cheirosas...), rede mosquiteira na cama, portas e janelas fechadas ou protegidas com rede (não havia ar condicionado fora de Bissau!), fumigações, desinfeções, remoção e tratamento do lixo, etc., para além da quimioprofilaxia...

Como se sabe,  apenas as fémeas dos mosquitos se alimentam de sangue... E picam (picavam)  essencialmente durante a noite, e logo nas zonas do corpo mais frequentemente  expostas (face, orelhas, pescoço, braços e pés)... Alguns de nós, não sei porquê, atraíam mais mosquitos (fêmeas) do que outros... Havia  a crença que o álcool (gin tónico, uísque, etc.) era um "bom repelente"... Pobre fígado!... (LG)

________________

Notas do editor.

(*) Vd. poste anterior: 18 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13753: Sondagem: Quem não apanhou o paludismo, que ponha o dedo no ar ?!...

(**) Sobre a Pirimetamina (substância ativa), ver aqui a informação do INFARMED [, folheto aprovado em 13/1/2104]. Segundo alguns camaradas (e nomeadamente o dr Rui Vieira Coelho,  médico), o comprimido, do Laboratório Militar (LM), era tomado duas vezes por semana (às 5ªs e domingos, em Galomaro, em 1972/74), em doses de 25 mg, como quimioprofilaxia do paludismo. (***). Não sabemos durante quantas semanas, mas presume-se que era durante a toda comissão. O medicamento (preventivo) não era (nem é) 100% eficaz.

Sobre a doença, sintomas e tratamento, vd aqui o Manual Merck [Biblioteca médica "on line". Edição de saúde para a família]

(***) Vd,. poste de 16 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...


(...) Na Guiné pedia aos operacionais para não se esquecerem de tomar um anti-palúdico do Laboratório Militar, de nome Pirimetamina, ás quintas e domingo, para evitar as crises palúdicas, que por vezes tomavam características graves como o Paludismo Cerebral.

Por vezes sentia-me a pregar aos peixes como Santo António, pois o pessoal achava que se tomassem os comprimidos teriam alterações negativas no seu desempenho sexual. (...)

Nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate. (...) 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Guiné 634/74 - P13769: Ser solidário (168): SOS, Ébola!... Uma oportunidade única para restabelecer as melhores relações diplomáticas com a Guiné-Bissau, País Irmão (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé, 1973/74)


1. Texto de Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé [, foto à esquerda, em 1973, no Saltinho] (*)
Data: 19 de Outubro de 2014 às 20:31
Assunto: Ebola

Francisco George,  Director Geral de Saúde, deslocou-se a Bissau, juntamente com o Director do INEM [, Instituto Naciional de Emnergência Médica,] e ainda bem, pois a porta de entrada [, em Portugal,]  do vírus Ébola, será indubitavelmente através da Guiné-Bissau.

Será pois necessário criar, [em Bissau,]  uma infra-estrutura local de detecção precoce e uma zona de internamento local para Suspeitos e Contaminados. Segundo me referiram será no Hospital Militar o que também é acertado dado o local ser vigiado por elementos das Forças Armadas para permitir um isolamento eficaz.

No entanto há que proceder á instrução de todo o pessoal de saúde:

 (i) como trabalhar laboratorialmente na identificação do vírus;

(ii) como utilizar todo o Kit de protecção;

 (iii)  como vestir toda aquela indumentária;

(iv) mas principalmente como despir para não haver contágio (criação de chuveiros com anti-sépticos específicos),chuveirada anti-viíica antes de retirar a fatiota de protecção.

Tudo isto está a ser articulado com sensatez pela ministra da saúde  Valentina Mendes que juntamente com o primeiro ministro guineense vão elaborar uma Carta de Intenções e Apoio ao  Governo Português.

Será uma oportunidade única para restabelecer as melhores relações diplomáticas com este País Irmão, não esquecendo que neste momento não deverá reiniciar-se a carreira aérea da TAP,e a vigilância aeroportuária terá que ser muito mais apertada para passageiros vindos da África Ocidental.

Desde há cerca de dois meses que a "Ajuda Amiga" e outras ONG, como a Viver 100 Fronteiras,  estão a fazer uma recolha de sabão e lexívia para enviar para a Guiné para aumentar a salubridade e as condições higiénicas e também a elaborar cartazes para afixar em centros de saúde e escolares em Português e Criolo para ensinar os procedimentos a seguir.

 O que é necessário é o tamponamento da Guiné- Bissau como forma preventiva para uma eclosão do Ébola.

Um Alfa Bravo do Rui
Enviado do meu iPad

_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 18 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13756: Ser solidário (167): Diverso material carregado num contentor, no Porto de Leixões, com destino à Guiné-Bissau (Jaime Machado / José Rodrigues)

Vd. também:

15 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13737: Ser solidário (166): SOS, Ébola!... Uma epidemia que tem dIne ser levada a sério, só podendo ser prevenida e combatida por todos, a começar pelos mais ricos...

1 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13454: Ser solidário (162): SOS, Ébola!... Recomendações para viajantes com destino a regiões afetadas por doença por vírus Ébola (Portugal, Diretor-Geral de Saúde)

domingo, 19 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13759: Os nossos médicos (83): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (15): Todos (ou quase todos) apanhámos o pé de atleta, a flor do Congo, onicomicoses, chatos, matacanhas... Mas o que me preocupa hoje, como amigo daquele povo, é a doença por vírus Ébola... Vamos ajudar a ONGD "Ajuda Amiga" a mandar um contentor suplementar no 1º trimestre de 2015, com sabão, sabonetes e lixívia!... NIB: 0036 0133 991 000 251 3826

1. Continuação do texto sobre doenças e cuidados de saúde no TO da Guiné, no pessoal militar e na população civil, da autoria de Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé [, foto à esquerda, em 1973, no Saltinho]] (*)


Data: 16 de Outubro de 2014 às 22:54

Assunto: Doenças na Guiné parte 3


Quanto ás doenças parasitárias, além do paludismo e da amebíase, quasi todos apanhámos o famoso Pé de Atleta nos ripados de madeira dos balneários. O agente micótico é o Tricophytum Rubrum  (Tinha dos Pés).

Nas virilhas e na face interna das coxas também éramos atacados por fungos e Candida Albicans,  o que enchia de comichões e desespero o chamado Intertrigo assim para o qual utilizávamos solução álcool iodada que pincelávamos religiosamente e todos os dias.

Por vezes toda apele do corpo era atacada por fungos, produzindo comichão acentuada e alterações da coloração (Ptiríase versicolor ), a que os guineenses baptizaram de Lica, expondo-se ás primeiras chuvas e dizendo que esta acabaria com a doença .

Por vezes as unhas também eram atingidas por fungos tornando-se quebradiças e esfareladas a que dermatologicamente corresponde a Onicomicose. O piolho púbico também aparecia com muita frequência (vulgo chatos), transmitindo-se pelas relações sexuais.

E por fim as famosas matacanhas ou nitacanhas que faziam galerias nas plantas dos pés, depois punham os ovos,  em seguida saía a larva e posteriormente aparecia uma estruturas sacular que tinha que ser removida na totalidade. Era um trabalho em que era necessãrio paciênca de chinês ,e uma agulha bem desinfectada, para não recidivar.

Isto para falar no que era vulgar tratar, quer no centro de saúde civil, quer no Posto Militar, quer na Missão de Sono.

Quanto aparatos ,só os  não conseguidos naturalmente me chegavam, que implicavam manobras por vezes difíceis como versões e por vezes atitudes cirúrgicas a fim de o parto chegar a bom porto.

Apesar de tudo isto tenho saudades destes tempos, deste povo e deste país [, a Guiné-Bissau].

A situação endémica ê agora mais preocupante com o aparecimento num país limítrofe (Guiné Conakri) de um surto de Ébola. Dadas as precárias condições de higiene e salubridade na Guiné Bissau, o eclodir de um surto de Ébola irá constituir um desastre sem paralelo e uma grave ameaça para Portugal, pela possível transposição virica.

Faço parte da  ONG "Ajuda Amiga", de apoio à  Guiné,  e há cerca de mês e meio lançamos um projecto de angariação de sabão,sabonetes, sabão em barra e lixívia tradicional para aumentar a salubridade e as condições higiênicas que contribuírão preventivamente contra qualquer surto. 

Precisamos pois da tua ajuda e de todos os camaradas da Guiné, pois vamos ter custos acrescidos para enviar um contentor suplementar para levar tudo o que já foi angariado. (*)

[V d. aqui vídeo, de 3 minutos, sobre envio de apoio à Guiné-Bissau pela ONG Ajuda Amiga]

Desde já o meu muito obrigado relembrando o NIB da Ajuda Amiga para quem quiser ajudar

NIB > 0036 0133 991 000 251 3826

E por hoje é tudo,  um alfa bravo do Rui.

Enviado do meu iPad

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 17 de outubro de  2014 >  Guiné 63/74 - P13746: Os nossos médicos (82): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (14): A mortalidade infantil tinha se vindo a reduzir drasticamente enquanto permanecemos no território, graças às campanhas de vacinação obrigatórias

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13746: Os nossos médicos (82): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (14): A mortalidade infantil tinha se vindo a reduzir drasticamente enquanto permanecemos no território, graças às campanhas de vacinação obrigatórias



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor de Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Camdamã > 1969 > Fotos Falantes III > Os meninos de Candamã... Um aspecto da tabanca em autodefesa de Candamã. O 2º Gr Comb, comandado pelo alf mil Torcato Mendonça, vindo de Mansambo, foi destacado em Julho/Agosto de 1969, para o reforço do subsector de Galomaro, incluindo as tabancas em autodefesa de Cansamba e Candamã. O Gr Comb do Torcato Mendonça voltaria a Candamã, já no final da Comissão, em Outubro de 1969, no mês em que se realizaram as eleições para a Assembleia Nacional...

Foto: © Torcato Mendonça (2012). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Alf mil med Rui Vieira Coelho.
Foto de Juvenal Amado
1. Continuação do texto sobre doenças e cuidados de saúde no TO da Guiné, no pessoal militar e na população civil, da autoria de Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé [, foto à esquerda, em 1973, em Galomaro, da autoria de Juvenal Amado] (*)


Na população africana além da malária, tinham inúmeras disenterias amebianas por inquinação da água pela Entamoeba Histolitica.

As desidratações nas crianças eram assustadoras dada a evolução rápida para estados críticos e era fundamental fazer a reposição forçada de líquidos e electrólitos . Gastávamos soros em grande quantidade principalmente polielectrolitico  e glicosado a 5 por cento.

O sarampo era outro flagelo epidémico que levava à morte muitas crianças com pneumonias pós-sarampo, mas bastava uma Penicilina de 400000 U.I intra-muscular para afastar qualquer infecção em corpos virgens de antibióticos e portanto sem qualquer resistência a este tipo de medicamentos.

Por vezes apareciam indígenas mordidos por cobras a quem lhes era imediatamente ministrado soro-antiofidico da África Ocidental,que fazia parte do arsenal farmacêutico militar.

A mortalidade infantil tinha se vindo a reduzir drasticamente enquanto permanecemos no território, graças ás campanhas de vacinação obrigatórias que foram implantadas como na metrópole.

 Hoje em dia os números voltaram a ser assustadores:

 (i) mortalidade infantil: 20 por cento das crianças morrem antes de atingirem os cinco anos de idade;

(ii) mortalidade materna  uma morte por cada 30 partos;

(iii) Indicador do PNUD [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento]: 173 lugar em 184 países; (como é isto possível???)

(iv) Esperança de vida: 50 anos. (Verdadeiramente confrangedor!!!!) (**)

Enviado do meu iPad

(Continua)

__________


(**) Vd aqui o perfil da Guiné-Bissau, de acordo com a OMS (texto em inglês, mas também disponível em francês, espanhol... e russo)

Guiné 63/74 - P13745: Os nossos médicos (81): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (13): A população militar metropolitana estava vacinada com a célebre "Cavalar", administrada na recruta, contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide, paratíficas A e B, cólera e febre amarela... Estava bem protegido!


Uma relíquia farmacêutica: o célebre medicamento contra o paludismo, Pirimetamina, 25 mg,, LM (iniciais de Laboratório Militar)... Havia duas tomas por semana, às quintas e domingo, segundo o nosso camarada médico, Rui Vieira Coelho... A imagem é do António Tavares (ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72),


Foto: © António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]


1. Lancei ontem o seguinte desafio ao Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto à direita, em 1973, no mítico Rio Corubal, no Saltinho]

Rui: Vou fazer-te um desafio, descrever a farmácia militar de Galomaro (que devia ser igual à de Bambadinca e de tantas outras)... Quais eram os medicamentos essenciais de que tu dispunhas para acudir a uma doença aguda ou uma emergência médica... Por outro lado, havia a ação médica junto da população, os comprimidos LM, etc.

Um outro poste que te vou pedir é sobre as doenças do pessoal, do paludismo às afeções cutâneas... Um alfbravo. Luis


2. Resposta, imediata, passadas umas horas:


Data: 16 de Outubro de 2014 às 20:10

Assunto: Doenças no TO Da Guiné

 Caro Luis

Em resposta ao teu repto, aqui vai o referente às doenças mais frequentes com que o pessoal de Saúde era confrontado na Guiné.

Como Médico Militar, estava sediado em Galomaro,  na CCS do Batalhão,  e era também sub-delegado de saúde da zona de Galomaro Cossé. Tinha a cargo a saúde de cerca de 360 militares metropolitanos,  Companhia Comando e Serviços e Companhias Operacionais do Dulombi e de Cancolim;  e de Milícias Africanos que eram cerca de 400 distribuídos por 10 pelotões a 40 homens, sediados em aldeias reconstruídas, previamente atacadas pelo PAIGC e para as quais eram destinados à sua segurança.

E a acrescentar a tudo isto uma população civil que rondava, na área que me foi distribuída, cerca de 18.000 pessoas.

Tinha também a meu cargo a Missão de Sono, onde só tínhamos um doente internado com essa doença e o restante pessoal internado eram doentes tuberculosos e doentes com lepra, a fazerem tuberculostáticos (estreptomicina) e sulfonas,  respectivamente. Ambas as doenças se deviam a infestação por Mycobacterium Tuberculosis e por Mycobacterium Leprae.

A população militar metropolitana na Guiné estava vacinada com a célebre "Cavalar" que era administrada na recruta, e que era contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide,  paratíficas A e B, cólera, sem esquecer a febre amarela. O pessoal estava bem imunizado dado o carácter obrigatório para todo o Militar.

Raramente se via uma intoxicação alimentar, ou uma gastroenterite no pessoal militar metropolitano, pois também estava a meu cargo todos os dias a inspecção de alimentos. Á mínima suspeita de alimentos deteriorados ou com suspeita de infestação, mandava logo proceder a sua rejeição e queima imediata.

Comum à população metropolitana e à local o paludismo era com toda a certeza a doença que nos dava maior preocupação .

Os Guineenses não faziam qualquer tipo de prevenção anti-malária, os militares da metrópole tinham medicamentos para a fazer, mas evitavam pelas mais diversas razões, aparecendo crises agudas de paludismo.

Na região leste da Guiné,  o mais terrível era o plasmodium Falciparum, que originava uma hemólise (destruição de glóbulos vermelhos) por vezes enorme com  deposição de ferro no cérebro originando o tão falado paludismo cerebral. Também os outros dois Plasmodium existiam quer o Vivax quer o Ovale. O paludismo era recidivante e condicionava o aparecimento das chamadas febres terçãs e quartãs

Enviado do meu iPad

(Continua)
_______________

Nota do editor:

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...


Guiné > Zona leste > Setor L5 (Galomaro) > BCAÇ 3872 (1972/74 > Saltinho > O jovem alf mil med Rui Vieira Coelho no Rio Corubal, no Saltinho, em 1973. O Saltinho era o aquartelamento mais distante do Setor L5, sendo abastecido através do Setor L1 (Bambadinca)... Os abastecimentos eram desembarcados no Xime, e depois as forças do BCAÇ 3872 tinham que atravessar todo o território do Setor L1; Xime - Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho. O troço Xime-Bambadinca já era asfaltado (c. 10/12 km)... O pior eram os restantes 60/70 km...

 Foto: © Rui Vieira Coelho (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]

1. Resposta,  a um comentário de LG. (*), enviada pelo  Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto acima, em 1973, no mítico Rio Corubal, no Saltinho]


Data: 16 de Outubro de 2014 às 01:30

Assunto: Desidratação


Na Guiné pedia aos operacionais para não se esquecerem de tomar um anti-palúdico do Laboratório Militar, de nome Pirimetamina,  ás quintas e domingo,para evitar as crises palúdicas, que por vezes tomavam características graves como o Paludismo Cerebral.

Por vezes sentia-me a pregar aos peixes como Santo António, pois o pessoal achava que se tomassem os comprimidos teriam alterações negativas no seu desempenho sexual.

Enfim,  boatos que corriam em surdina entre os operacionais e que prejudicavam o desempenho da operacionalidade dos grupos de combate, das companhias e dos Batalhões .

A Maria Turra na emissão da Rádio do PAIGC utilizava por vezes o prejuízo que acarretava a toma de determinados medicamentos pelos nossos militares, explorando psicologicamente o temor fazendo com que os boatos se tornassem realidade tentando agravar a saúde psicológica e física das nossas forças. A contra-informação era uma realidade e uma arma poderosa da guerrilha também a ser explorada.

A pressão sobre os profissionais de saúde era grande e por vezes a desconfiança era a má conselheira, fazendo no meu caso pessoal com que tomasse os comprimidos na frente do pessoal na altura das refeições, para anular os boatos que pudessem persistir.

Nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate.

O meu Gin Tónico pela manhã tinha o efeito de,  além de me sedentar, desentupir a gorja e também como medicamento visto a água tónica ter Quinino,  outro anti-palúdico.

Pela noite depois do jantar lá vinha o wisky com água Perrier, para acompanhar um bom bate papo no alpendre da messe de oficiais fazendo correr o tempo até chegar o grupo de combate que diariamente saía para patrulhamento. Só depois de ter a certeza que todos tinham chegado bem,  é que eu me recolhia para dormir depressa, pois acordava sempre pelas 6 horas da manhã, seco como as palhas á espera de um novo Gin para me restaurar a esperança de que esse dia seria muito melhor que o anterior.

Um abraço do Rui Vieira Coelho

Enviado do meu iPad

____________

Nota do editor:


Comentário de Luís Graça:

Meu caro Rui:

 (...) Quanto às tuas preocupações de médico com o risco de desidratação do pessoal em operações no mato... Em Bambadinca nas messes de oficiais e sargentos, a distribuição dos pacotinhos de sal e da pastilha de quinino estava assegurada pelo pessoal de serviço que punha a mesa ... Mas as praças, será que não se esqueciam frequentemente de tomar as "pastilhas" ? Os nossos soldados tinham mesmo que se desenrascar...

Já não me recordo com que frequência se tomava o medicamento para a prolilaxia do paludismo... Já não me recordo do nome... Já quanto ao "comer sal" todos os dias ao almoço, tornou-se um hábito saudável... Hoje é um das coisas que evito, o sal, o acúcar e a gordura...

Em todo o caso, a nossa alimentação era desiquilibrada... À boa maneira portuguesa, procurávamos fazer uma boa refeição ao almoço... E o resto era petisqueira, para quem podia... O pior era quando andavámos no mato: aí rapava-se fome, mas a tensão era grande, e a preocupação com o regressar são e salvo ao quartel amigo mais próximo inibia-nos de sentir fome... Um homem pode passar vários dias sem comer, mas não sem beber... Gerir 2 cantis de água para um operação de 2 dias era dramático... Por isso fazíamos a guerra de noite e de madrugada...

A desidratação e a perda de peso eram dois grandes problemas com se defrontavam os operacionais como eu... Cheguei a perder 4 a 5 kg. numa só operação... Por sistema, não levava ração de combate, mas apenas fruta e às vezes um frasquinho de uísque...

Gosto de gin tónico mas na Guiné preferia a água (filtrada) com uísque ou o uisque com água de Perrier. Pequenos luxos que nos ajudaram a sobreviver. Mais difícil era o "desmame", depois de passarmos à peluda... Hoje não bebo (ou só raramente bebo) um uísque. Na Guiné tinha outro sabor, outro encanto (...)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13741: Os nossos médicos (79): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (11): A água, a água da bolanha de Galomaro, a água de Lisboa, as pastilhas de sal, a cerveja, o uísque, o gin tónico, as bajudas... e os operacionais que nos guardavam as costas









Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro > BCAÇ 3872 (1972/74 > A bolanha de Galomaro...

Fotos do álbum do ex-alf mil médico Rui Vieora Coelho, disponíevis na página do grupo (fechado) do  Facebook Galomaro, destino e passagem (Criado em 23/3/2011, e editado pelo Rui Vieira Coelho,   tem já  cerca de 90 membros, pretendendo  "convergir  pelo trato afectivo todos os ex-militares que permaneceram em Galomaro, na Guiné-Bissau, ou por lá passaram em trânsito").


Fotos (e legenda): © Rui Vieira Coelho  (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]


1. Mensagem,  enviada por IPad, do nosso camarada Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto acima, em 1973, na bolanha de Galomaro]


Data: 12 de Outubro de 2014 às 17:45
Assunto: Água


Caro Luís:

O bem mais precioso para os operacionais da Guiné. Antes de cada operação pedia aos camaradas que iam para o mato, para tomarem umas pastilhas de toni-hidratantes (cloreto de sódio,  o vulgar sal das cozinhas) e seguidamente beberem água esterelizada ou umas cervejolas que em princípio toda a malta preferia.

O sal fazia reter a água,  diminuindo a sede e portanto o consumo da mesma. Mas se a operação fosse longa, até como muito bem dizes,  " até o mijo se bebia".  Nunca vi mas em quanto permaneci no CTIG as descrições sucediam-se e não eram poucas.  Como tu gostava do meu uísque com água Perrier que vinha do Senegal, ao fim do dia e de manhã eu não passava sem beber o meu Gin com água tónica (tem sempre quinino).

Ás refeições acompanhava sempre com uma cervejola.

Mas tive o privilégio de,  como médico do Batalhão,   estar quasi permanentemente na CCS ou então nalguma companhia, em  Dulombi ou Cancolim, onde as condições,  embora não fossem das melhores, nada tinham  a ver com o inferno que todos os operacionais passaram não só pela falta de água, mas pelo isolamento, pelos perigos constantes que espreitavam de qualquer lado, pelo clima psicológico e meteriológico que os rodeavam, pelo temor de um ataque de uma emboscada, mas no fundo sempre com a esperança de um bom regresso sem qualquer mazela ou ferimento.

A chegada à base surgiam as graçolas, os risos, as anedotas, uma refeição quente após uma chuveirada para limpar o corpo e a alma das agruras passadas, parecendo já esquecidas.

Nunca me deitei enquanto não chegavam os grupos de combate das missões de patrulhamento a que diariamente estavam sujeitos, inteirando-me de qualquer situação anómala  que tivessem tido e se necessitavam da minha intervenção .

O  comandante e o major das operações igualmente assim como o capelão (Padre Nuno), o aferes das transmissões (engº Mário Vasconcelos), o alferes tesoureiro (economista Veiga), o capitão da companhia do Dulombi (eng Pires). Todos solidários com quem vinha do mato e que nos guardava as costas e a quem devemos a nossa integridade física.

Obrigado,  pois,  a todos os Operacionais  da Guiné

Rui Vieira Coelho
ex-Alf Mil Médico dos Batalhões 3872 e 4518
Galomaro, Guiné 1973/1974

_________________


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13732: Os nossos médicos (78): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (10): As recordações surgem e as saudades de todos os lugares e gentes também

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS da CCS/BCAÇ 3872 - Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72 - Mansoa, e Cumeré, 1973/74), com data de 9 de Outubro de 2014:

Do meu posto retransmissor, e por solicitação do camarada Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico, reencaminho a sua descrição sobre as colunas Galomaro-Saltinho, agora, isentas do pó e da ansiedade que sempre as acompanhavam.

Um abraço colectivo e as nossas saudações a todos.
Mário Vasconcelos



MEMÓRIAS DO DR. RUI VIEIRA COELHO*

10 - As recordações surgem e as saudades de todos os lugares e gentes também

Rui Vieira Coelho

Por várias vezes integrei a coluna de abastecimento à nossa Companhia do Saltinho. Era a mais longínqua da sede do Batalhão, a mais complexa sob o ponto de vista logístico e a mais difícil sob o ponto de vista operacional, pela quilometragem a percorrer, pela segurança às picadas por onde passávamos e pelo apoio até da Cavalaria com dois esquadrões, um das velhas Panhards e outro de Chaimites a escoltar a alternância de camiões Civis e Militares.

De Galomaro para Bafatá, lá seguia a nossa coluna por uma picada sobejamente conhecida por todos nós os da CCS onde transitavam diariamente colunas a nível de Grupo de Combate que faziam a ligação da sede com a localidade "Princesa do Geba", para trazer e levar Correio, peças e acessórios para a Ferrugem desempanar os Unimogs ou as Berliets avariadas, e para saborear um bom bife com batatas fritas no Restaurante das Libanesas regados com umas cervejolas bem geladinhas.

De Bafatá para Bambadinca e para o Xime já seguíamos enquadrados pelos Homens da Cavalaria, por uma estrada já asfaltada e o andamento era veloz e sem sobressaltos.



Um Grupo de Combate seguiu para o Xime a proteger dois camiões militares que foram carregar cunhetes de Munições e outro material militar como rações de combate, fardamento, armas, pneumáticos e material Rádio para comunicações.

O trabalho de descarga das barcaças vindas de Bissau processava-se com rapidez com as gruas do Pelotão de Intendência a transferir todo o material para os camiões, enquanto eu aguardava meditando por que razão estava naquele lugar, neste teatro de Guerra inimaginável a não ser por todos aqueles que como eu cumpriam o Serviço Militar Obrigatório.

O pior era depois de Bambadinca na picada para Mansambo, Ponte dos Fulas, Xitole, até ao Saltinho. A coluna ficava então medonhamente grande com mais camiões civis e militares carregados com mantimentos e elementos da população civil, aproveitando para se deslocar, para as diferentes Tabancas perto de Companhias e Destacamentos, dando até certo ponto um sentido de protecção e segurança de possíveis emboscadas, minas quer pessoais quer anti-carro.

A tensão visível nos rostos dos nossos camaradas e a apreensão com o imprevisto e o oculto, o inimaginável vindo de qualquer lado, com o empoeiramento vermelho do pó da picada que se entranhava por cima do fardamento, rostos e tudo o que se mexia, envolvidos por uma floresta de capim que não deixava ver um palmo à frente do nariz, o que aumentava a insegurança que todos vivíamos, uns mais que os outros. E assim fomos até Mansambo, onde alguns carros civis e militares e o Esquadrão de Panhards da Cavalaria, nos abandonaram a caminho desta Companhia do Batalhão de Bambadinca.

A coluna ficava ligeiramente mais pequena, mas todos nós sentíamos-nos mais pequenos, mais sós, mais impotentes, sem nada dizer a nossa expressão tudo dizia.
Mesmo assim a coluna continuava grande e lá íamos com redobrada cautela, bem escoltados mas com "cagaço" (pelo menos eu) do que pudesse acontecer.
E por fim chegamos à Ponte dos Fulas, sobre o Rio Pulom, afluente do Rio Corubal, de vital importância para as colunas de abastecimento para o Xitole e Saltinho.

O destacamento da Ponte dos Fulas era qualquer coisa do outro mundo, um amontoado de adobes e tijolos, bidões, abrigos cavados na terra, valas, chapas de zinco, um forno de barro feito, chuveiros com bidões como depósito, um alpendre tosco que servia de refeitório, sala de convívio, mais ao lado um atrelado com depósito de água e um Grupo de Combate que o habitava, isolados, uns barbudos, outros carecas rapadas, de camisas abertas, calções esfiapados, uns com quicos, outros sem eles, calçavam uns botas outros xanatas.

Deste grupo uma secção permanecia no Torreão de vigia à Ponte, cerca de turnos de 24 horas que iam alternando com as outras secções. Milhares de garrafas vazias de cervejas encontravam-se a circundar a ponte e as margens do rio encostadas umas às outras em continuidade com um fio condutor que as segurava. Se algo, alguém ou um animal tocasse no fio ou nas garrafas, estas batiam umas nas outras e facilmente poderiam localizar o intruso pelo tilintar, tornando vulneráveis aos focos de luz direccionada para o local e às rajadas que se lhe seguem.

Este destacamento distante 3 quilómetros do Xitole, era abastecido diariamente pela Companhia mas mesmo assim era um verdadeiro inferno permanecer dois meses naquele lugar até serem substituídos por outro Grupo de Combate. Os seus sorrisos e a amabilidade demonstrada era compensada pela generosidade dos passantes que compreendiam o isolamento daqueles camaradas, e os mimavam com algumas grades de cervejas e outras necessidades evocadas em passagens anteriores.

A ponte era uma passagem estratégica no xadrez político, militar e logístico e muito se deve a todos os que permaneceram naquele lugar, contribuindo para o bem estar de todos os outros camaradas que permaneciam neste Teatro de Operações. Bem hajam pelo vosso sacrifício em prole de todos nós.

Lá seguimos mais 3 quilómetros até chegarmos ao Xitole onde fomos recebidos pelo Comandante da Companhia, um Capitão Miliciano e pela sua esposa que o acompanhou durante toda a comissão. Uma verdadeira Mulher de Armas que pelo seu exemplo arrastou para o Xitole várias outras mulheres, esposas de outros militares em comissão no local, e que deram um toque feminino aos refeitórios, messes de graduados e sala dos soldados com melhorias substanciais no rancho e outros paparicos para que todas contribuíram .

Fomos obsequiados com bebidas bem frescas, uns salgadinhos, boas palavras e boas maneiras para sedentar o corpo e a alma de todos nós.

Mais pequena ficou a coluna, mas o objectivo já estava bem perto, o Saltinho. Enquadrados pelas Chaimites e com segurança montada ao longo da picada lá chegamos ao Aquartelamento, comandado pelo Capitão miliciano de seu nome Lourenço.

O local era paradisíaco para fim de percurso e deleitei-me olhando a água revolta nos rápidos entre os rochedos, a ponte com seus arcos em betão, as piscinas naturais, a vegetação envolvente o marulhar das águas e o seu espelhado reflectindo o Sol que nos cobria de paz e sensação de bem estar e de repouso de guerreiro bem merecido.










Fotos - Saltinho: © Rui Vieira Coelho

Após uma boa refeição e alguns momentos de lazer lá tivemos o regresso, um verdadeiro filme ao contrário, todas as mesmas caras e sensações de pernas para o ar, a juntar ao medo de voltar à rotina dos dias agridoces porque todos nós passámos na Guiné.

As recordações surgem e as saudades de todos estes lugares e gentes também.

Rui Vieira Coelho
ex- Alf Mil Médico 025622/67
Guiné 1973
____________

Nota do editor

(*) Vd. poste anterior de 13 de Abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12977: Os nossos médicos (76): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (9): O PAIGC no tempo do presidente Luís Cabral, perpetrou fuzilamentos sucessivos nos "Comandos Africanos"

Último poste da série de 22 de Abril de 2014 > Guiné 63/745 - P13019: Os nossos médicos (77): Capitão médico QP António Vieira Alves, estomatologista e subdiretor do HM 241, Bissau, 1967/69 (Paulo Alves / J. Pardete Ferreira)

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13672: In Memoriam (197): Comandante Alpoim Calvão (1937-2014): o funeral realiza-se na quinta-feira, dia 2, para o cemitério dos Olivais, após a missa de corpo presente no Mosteiro dos Jerónimos


Tira da banda desenhada “Operação Mar Verde”, da autoria de A. Vassalo, uma edição da Caminhos Romanos, 2012. Na introdução, o autor, o ex-fur mil comando Vassalo Miranda, nosso camaraada da Guiné,  escreveu o seguinte, que é seguramente um grande elogio ao homem e ao operacional que foi Alpoim Calvão:

“Na Guiné, em 1964, conheci um homem incrível, que me catapultou para o imaginário. Ambos pertencíamos a unidades de elite das Forças Armadas. Eu, furriel dos Comandos,  e ele, 1º tenente, comandante do 8º Destacamento de Fuzileiros Especiais. Homem valente, altruísta, desvalorizando situações constrangedoras, animando os seus homens e, sobretudo, de uma grande humanidade tanto para os seus como para os adversários. Qualquer um de nós seguíamo-lo sem questionar. Nasceu entre nós uma grande empatia que dura até hoje. Obrigado, comandante Alpoim Calvão".




1. Mais uma  notícia, triste, que corre pelas redes sociais, e que nos chegou através do Ipad do nosso camarada Rui Vieira Coelho_

 

Data: 30 de Setembro de 2014 às 17:18

Assunto: Falecimento de Alpoim Calvão

Faleceu hoje de manhã no Hospital de Cascais o Oficial da Armada mais condecorado da Marinha Portuguesa,  Sr Comandante Alpoim Calvão.

Foi o grande estratega e o comandante operacional da célebre "Operação Mar Verde" que invadiu Conakri e libertou o piloto da Força Aérea António Lobato e mais 26 soldados das nossas Forças Armadas.

A operação foi gizada e treinada na Ilha de Soga, de onde partiu no dia 22 de Novembro de 1970. Todos os prisioneiros foram resgatados e enviados posteriormente para Lisboa.

Perante o infausto acontecimento só me resta curvar-me perante a memória deste Grande Português, deste Grande Militar e que Deus lhe de "O descanço do guerreiro" a que tem direito.

Bem haja por tudo o que fez por este país, ditoso filho desta Pátria.


Rui Vieira Coelho [, médico reformado, ex-alf mil médico,  BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74]


2. Segundo o semanário Expresso, "o funeral de Alpoim Calvão realiza-se na quinta-feira para o cemitério dos Olivais, após a missa de corpo presente no Mosteiro dos Jerónimos. Segundo disse à Lusa uma fonte familiar, o velório terá início esta quarta-feira, a partir das 17h. A missa de corpo presente está prevista para as 11h de quinta-feira e o funeral sairá às 11h45."

O nosso blogue tem cera de duas dezenas e meia de referências ao comandante Alpoim Calvão, de seu nome completo Guilherme Almor de Alpoim Calvão, 
nascido em Chaves, em 1937).

O jornal Público recorda-o nestes termos, enquanto comnbatente no TO da Guiné:

(...) "Nascido em Chaves, viveu em Moçambique, cursou Marinha na Escola Naval entre 1954/57, especializando-se em mergulhador sapador e navegação submarina. Voluntaria-se como fuzileiro e desembarca na Guiné no final de 1963, como comandante do destacamento de fuzileiros onde participa em diversas operações. De regresso a Lisboa, em 1965, entra na Escola de Fuzileiros onde chega a director de instrução. Ali se mantém até 1969, quando entra em conflito com o ministro da Marinha e deixa o cargo para regressar em comissão à Guiné.

A operação Mar Verde, em Novembro de 1970, que teve em Alpoim o principal arquitecto, previa um ataque a Conacri para libertar cerca de três dezenas de prisioneiros de guerra portugueses nas mãos do PAIGC - como o sargento piloto António Lobato que esteve preso vários anos - destruir equipamento do movimento independentista e liquidar o Presidente Sékou Touré. Só os dois primeiros foram conseguidos - ainda que o segundo não totalmente. Mas também terá papel relevante noutras missões como as operações Trovão e Tridente." (...).

As nossas sentidas condolências à família, aos camaradas da Marinha que serviram sob as suas ordenas e aos demais amigos. (LG)
________________

sábado, 10 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13122: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (17): No caos de Bissau, sou destacado, como médico, para uma missão nos Bijagós, Ilha Caravela: um aeródromo de recurso, para uma eventual evacuação de emergência das NT... (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil med, 1972/74)


Guiné-Bissau > "Caravela é uma ilha do arquipélago de Bijagós, constituindo um setor da região de Bolama, na Guiné-Bissau. Localizada a 37 km da costa continental, tem 128 km² e é a ilha mais a norte daquele arquipélago, caracterizando-se por densas florestas, vastos mangais e praias de areia branca. O aeroporto tem o código ICAO GGCV." (Imagem e legenda: Wikipédia).



1. Mensagem, de 7 do corrente, enviada pelo nosso camarada, médico reformado, Rui Vieira Coelho:ex-Alf Mil Médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [,foto atual, à direita];



Assunto: Aeródromo de recurso


Na parte final da minha comissão no CTIG (comando territorial independente da Guiné) e após a entrega do quartel de Galomaro,  a um bigrupo do PAIGC, e  que era a sede do meu último Batalhão, o BCAÇ  4518, e após uma curta estadia em Bafatá.  lá segui com ordem de marcha para Bissau para me apresentar no Hospital Militar.

Como não quis ficar aquartelado nas instalações hospitalares,  aluguei um apartamento na baixa da cidade,  perto do Quartel da Amura, por um preço irrisório, pertencente à Casa Gouveia (CUF), para ter mais liberdade de movimentos e não ter que aturar a confusão instalada na cadeia de comando, com gente bastante impreparada e a gerarem um caos e uma anarquia que nos poderiam ter saído bastante caros.

Assim, todos os dias vinham buscar-me por volta das 7 horas da manhã,  levavam-me para o hospital onde fazia consulta ou dava apoio cirúrgico à Urgência, almoçava por lá e após giboiar um pouco, regressava a casa, sem antes passar pelo QG .(quartel general), para me inteirar da minha situação e receber ordens para o dia seguinte.

O clima na cidade de Bissau ia-se deteriorando, o trânsito era caótico, com numerosas viaturas militares carregadas de camaradas que regressavam do Mato, de Batalhões e Companhias aí estacionados,l  e que se amontoavam nos edifícios militares da capital, aguardando um embarque para a Metrópole.

No Caís do Pidjiguiti o movimento de mercadorias, viaturas militares, armas pesadas e homens era brutal .As LDG e LDM ajudavam no transporte de material bélico para cargueiros que demandavam o Porto de Bissau e que se encontravam fundeados ao largo.

O mesmo se passava também em Bissalanca, onde se constava que iria ser organizada uma ponte aérea para transporte rápido de dezenas de milhares de militares, e onde se amontoavam paletes de mercadorias,  malas e outros haveres. O Quartel de Adidos estava superlotado. O Quartel do Cumeré também estava a romper pelas costuras.

A desordem na cidade era grande, ninguém respeitava ninguém, havia uma grande quebra na hierarquia, com insultos à mistura aos superiores, pilhagens de tudo o que pudesse ser transportado, irritabilidade á flor da pele, escaramuças e cenas de pugilato tornavam a vivência e o clima de relação humana cada vez mais difíceis.

Os boatos e as mentiras eram demais e a tensão psicológica criada originava desacatos entre os a favor do movimento e os contrários, mas todos com um objectivo comum,  partirem o mais depressa possível daquele Inferno.

Começava a constar cada vez com mais força, à  medida que os dias iam passando, que estaria eminente um assalto final á capital. Vai daí os "inteligentes da altura", ligados ao movimento dos capitães, retomaram um projecto anteriormente delineado de que para uma evacuação rápida necessitariam de um Aeródromo de Recurso no Arquipélago dos Bijagós, mais propriamente na Ilha Caravela,  para onde seriam encaminhados todos os militares em LDG, LDM e outros vasos de guerra navais onde estariam incluídos todos os Patrulhas a operar na Guiné além de outro tipo de embarcações.

E assim sobrou para mim! Fui convocado a comparecer no QG onde me foi dada ordem para seguir em viatura militar para a Base Aérea em Bissalanca a fim de enquadrar como mêdico uma Missão de carácter confidencial.

Chegado à Base aérea foram-me reveladas mais informações da Missão e que está seria para a Ilha Caravela, para a qual já tinha partido no dia anterior uma Companhia de Engenharia.

Cerca de meia hora depois levantaram 6 helicópteros num dos quais eu segui. A viagem foi espectacular, com progressão a rasar o mar, com os 6 helis em formação agitando a água pela deslocação do ar. O barulho das turbinas e a velocidade imprimida tornaram toda esta acção digna de um filme, com banda sonora da Cavalgada das Valquireas de Wagner,  tudo em paralelismo com um Apocalipse Now. No meio daquele mar começa a vislumbrar-se a ilha verdejante no meio de um azul turquesa lambendo as areias das praias que a circundavam.

Como médico as ordens eram a de instalar uma Tenda de Apoio Mêdico, macas, suportes para soros, verificação de latrinas e fossas sépticas, iinstalação de cialiticas e geradores eléctricos, verificação do atrelado sanitãrio e farmacêutico, equipamentos cirúrgicos,

Ao meu lado instalavam-se tendas gigantes para alojar o pessoal no caso de evacuação . No terreno já se encontravam manobradores com máquinas de terraplanagem a nivelarem as terras revolvidas previamente da futura pista onde seguidamente entravam os cilindros para capacitação . Tudo trabalhava, minha gente.

A população da ilha olhava estupefacta para tudo isto. Com os seus saiotes de palha e seios á mostra as mulheres da terra com os filhos á ilharga. Os homens enquadravam-nas boquiabertos e desconfiados.

Ali fiquei de um dia para o outro conjuntamente com um furriel enfermeiro e mais dois cabos maqueiros da companhia de engenharia. Tudo foi devidamente controlado e elaborado um relatório, de prontidão e operacionalidade por parte da acção mêdica pedida.

No dia seguinte vieram -me buscar e,  chegado a Bissau, levaram-me ao [QG ?],  onde mais uma vez me pediram o máximo de confidencialidade.

Curiosamente já lá vão 40 anos e nunca mais ouvi falar em aeródromo de recurso na ilha Caravela, mas podem ter a certeza eu estive lá

Um alfabravo do Rui Vieira Coelho

__________

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13110: Em busca de... (243): Comandante José [Luis] Pombo [Rodrigues], dos antigos Transportes Aéreos Civis, que operavam no CTIG... (Rui Vieira Coelho, ex-alf médico, BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74)





Guiné > s/d, c. 1972/74 > Imagens do Cessna, vermelho, pilotado pelo Comandante [José] Pombo, dos Transportes Aéreos Civis, em que o nosso camarada Álvaro Basto  [ex-fur mil enf, CART 3492, Xitole, 1971/74)  fez várias viagens enre o Xitole e Bissau, nos anos da sua comissão.

Fotos: © Álvaro Basto (2008). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico   BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74)  [foto actual à esquerda]


Assunto: Comandante Pombo

Fiz muitos percursos aéreos entre Bissau e Galomaro,  entre Bissau e Bubaque,  entre Bafatá e Bissau,,  entre Bissau e Fulacunda nos Transportes Aéreos da Guiné Bissau com o Comandante Pombo.

Alguém me sabe dizer o que é feito deste grande Comandante? Onde se encontra? O que lhe aconteceu? Qual o seu percurso de vida após a independência do território?

Alguém sabe dizer alguma coisa para satisfazer toda a minha curiosidade e passar a fazer parte da História da Guiné ? (*)

Vou aguardar. Um alfa bravo do Rui Vieira Coelho.


2. Comentário de L.G.:

Rui, essa pergunta já aqui foi feita há uns largos anos atrás (**) e ficou sem resposta... Ou melhor, há dois comentários de leitores (***) que dão algumas pistas: o Zé Pombo terá ficado na Guiné-Bissau, depois da independência,  no tempo do Luís Cabral, como piloto e um dos responsáveis dos então Transportes Aéreos da Guiné-Bissau... O que é feito dele, hoje, ninguém sabe. Pode ser que, agora, "na volta do correio", tenhas boas notícias dele e do seu paradeiro. Oxalá.

 __________

Notas do editor:

(*) Último poste da série >  30 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13072: Em busca de... (242): José Santos Nogueira Augusto, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2636, procura o seu camarada Eduardo Pires de Oliveira, ex-Soldado Radiotelegrafista, natural de Chaves

(**) Vd. poste de 6 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2411: O que será feito do Comandante Pombo e do seu teco-teco, o Cessna vermelho dos Transportes Aéreos Civis ? (Álvaro Basto)

(...) Gostava de lançar aqui um novo debate na Tertúlia sobre a importância que os Transportes Aéreos Civis tiveram na Guiné.

Acho que a sua popularidade foi por de mais constatada, já que atravessaram transversalmente várias gerações de companhias e batalhões com o seu magnífico teco-teco Cessna, que tantas alegrias nos trazia com a correspondencia fresca ou algo urgente que nos chegava rapidamente de Bissau.

Fiz muitas viagens naquele Cessna vermelho pelo mítico rio Curubal desde o Xitole a Bissau e vice-versa. O Piloto, o comandante Pombo, era homem afável e muito profissional. O respeito que inspirava a ambas as partes em conflito, era mítico. As viagens eram feitas sempre com imensa segurança, tanto quanto me lembro.

No entanto gostaria de ver aqui no Blogue relatos que outros camaradas possam ter sobre esta transportadora e que decerto iria enrriquecer a nossas memóras colectivas.

Deixava pois aqui o desafio: que terá sido feito do Comandante Pombo e do Cessna vermelho que tantas alegrias deu a tanta gente? Alguém sabe se algum dia foram atacados?

Um abraço amigo a todos,  Álvaro Basto (...)

(***) Há dois comentários a este poste anterior, de datas diferentes, de leitores que não deixaram endereço de email  ou outro elemento de contacto:

(i) 6/1/2008

O Comandante Pombo foi durante os primeiros 5 ou 6 anos da Independencia da Guiné, piloto e um dos responsáveis da TAGB, transportes aéreos da Guiné. [Septuagenário]

(ii) 30/11/2013

Estive na Guiné em 1960//63 e o Zé Pombo foi o amigo dos bons e maus momentos, fomos mantendo contacto até 1963, intermitente, é certo, até 1968. Ainda hoje o considero um grande amigo, mas gostaria que um dia, antes que seja demasiado tarde, me permita dizer quanto apreciei a sua amizade, o seu companheirismo. É bem fácil, no Skype ou no Facebook / Ana Bela [Ana Bela]

domingo, 13 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12977: Os nossos médicos (76): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (9): O PAIGC no tempo do presidente Luís Cabral, perpetrou fuzilamentos sucessivos nos "Comandos Africanos"

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS da CCS/BCAÇ 3872 - Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72 - Mansoa, e Cumeré, 1973/74), com data de 7 de Abril de 2014:

Como habitualmente venho procedendo, junto o texto enviado pelo nosso Tabanqueiro n.º 624 - Rui Vieira Coelho, ex Alf. Mil. méd. do BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, sediados, que foram, em Galomaro - Guiné.
Ele, e eu, formulamos votos de boa recuperação para o camarigo Luís Graça e de amizade para todos em geral.

Um alfa-bravo para todos.
Mário Vasconcelos


MEMÓRIAS DO DR. RUI VIEIRA COELHO

9 - Fuzilamentos sucessivos nos "Comandos Africanos"

Rui Vieira Coelho

Costumo dizer aos meus doentes deprimidos, aflitos com o desemprego e a resseção económica, com a desintegração social e familiar e que dizem estar "no fundo do poço", pois olhe que eu já passei por situações muito piores quando estive na guerra da Guiné e depois de ter estado no Inferno, tudo aqui me parece o Céu.
Depois enumero algumas situações dramáticas por que passei e que assisti no teatro de guerra e a seguir começam a sentir que os problemas por que estão a passar, não serão tão graves, comparados com as descrições que eu lhes fiz.
Por fim é necessário, após acalmarem, enumerar soluções para os seus problemas de uma maneira prática, enlevando -lhes a auto-estima, o sentido de humor e a esperança de tempos melhores que por certo acabarão por vir, não deixando de afirmar sempre o apoio, o "ombro amigo" a disponibilidade de saber ouvir e o "tempo ao dispor".

Na Tabanca dos Melros, a recordação dos tempos bons e maus da Guiné, as conversas entre nós servem de terapia e de divisão de problemas antigos de lá trazidos, as saudades de locais e gente boa que conhecemos, e para as quais algumas não há retorno, como o meu amigo Tenente Jamanca, comandante (comando africano) da CCaç 21 de Bambadinca, injustamente fuzilado e que tantas vezes nos protegeu as costas em operações quer em Galomaro, Dulombi, Cancolim e Saltinho.

O PAIGC no tempo do presidente Luís Cabral, perpetrou fuzilamentos sucessivos nos "Comandos Africanos", que iludiram dizendo que estes iriam constituir a Tropa de Elite do Novo País agora libertado. 
Ouvi isso mesmo já em Bissau quando estava de urgência no Hospital Civil, hoje denominado de Simão Mendes, no período de transição e de viva-voz do Tenente Justo e do Capitão Saiegh, que acompanhavam o Dr Bualdi, responsável pela Saúde do novo País (angolano e era casado com a Dra Niquita Bualdi que estava nomeada para Comissionária da Educação) e que veio reunir com os médicos sediados em Bissau, pedindo para ficarmos mais algum tempo, dizendo que tínhamos um dever histórico para com o Povo da Guiné.

O Tenente João Bacar Djaló rodeado de pessoal da 1ª CCmds Africanos.

A maior parte de nós recusou o "convite" pois não estávamos em condições psíquicas, no fim da comissão de permanecer no território até à reorganização dois serviços de saúde.
Lembro-me de dizer ao Capitão Saiegh e ao Tenente Justo, que se fosse a eles, viria para a Metrópole, pois não me acreditava na ilusão criada pelo PAIGC e abarcaria com ambas as mãos a oferta de integração plena no Exército Português. Foi a última vez que os vi.

Posteriormente já cá, soube das atrocidades contra todos eles cometidas. A todos os massacrados do Batalhão de Comandos Africanos curvo-me com todo o respeito e rezo à minha maneira.

O Inferno que vos criaram, trará o CÉU para todos vós.  
Benditos sejam.

RVC
____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12953: Os nossos médicos (75): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (8): Colegas meus

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12953: Os nossos médicos (75): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (8): Colegas meus

1. Em mensagem do dia 23 de Março de 2014, o nosso tertuliano Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), mandou-nos mais uma memória dos tempos em que exerceu medicina na Guiné:


COLEGAS MEUS

Braima era ferreiro, curandeiro, feiticeiro de Galomaro, a quem eu jocosa e pomposamente chamava de "Meu Colega", já que ambos procurávamos tratar das maleitas dos doentes, com armas diferentes e processos também .
As mésinhas, beberagens, infusões e rezas eram as alternativas aos processos médicos clássicos e à terapêutica medicamentosa e cirúrgica estabelecida.

Invariavelmente quando não surtiam efeitos, nos doentes locais, os procedimentos utilizados, lá vinha o "Meu Colega"e o paciente na procura de um diagnóstico e de uma terapêutica diferente que lhe pudesse aliviar o sofrimento que a doença produzia.
É um princípio basilar médico, quando não se sabe envia-se a quem possa saber e resolver a situação, pois uma "vida não tem preço".  O que era um facto é que cada vez mais gente da população local recorria aos serviços de saúde militar e civil, provavelmente devido à confiança de procedimentos implementados por todos os meus antecessores e pela melhoria das instalações e atendimento.

Também enquanto estive em Galomaro consegui que o Chefe de Posto da Administração local me desse uma habitação degradada que eu juntamente com os maqueiros Santos e André, que sabiam de construção civil, recuperámos e a transformámos na Maternidade de Galomaro com três camas para parturientes e com instalações sanitárias e sala de partos e acomodações para uma Enfermeira-Parteira que veio no fim da minha comissão.

Em Galomaro também existia uma Missão de Sono com internamento e tratamento de doentes com tuberculose e lepra predominantemente, com doença de hansen (Sono) só um.
A malária, a desenteria amebiana a desidratação eram debeladas com relativa facilidade. No campo da saúde pública o programa de vacinação já estava bastante avançado: tuberculose, cólera, difteria, tétano e tosse convulsa assim como poliomielite estavam implementados como na metrópole, em toda a população. A hepatite, essa era endémica.

A higiene e a salubridade da população local eram muito reduzidas, dado não haver esgotos nem saneamento nem fossas sépticas. Os únicos seres que tratavam dos restos alimentares dos dejectos, ratos, cobras, animais mortos e lixeiras eram os Jagudis que eram. os guardiões da saúde pública na Guiné, pois limpavam o terreno de uma maneira exemplar e que estavam protegidos por lei que impediam de os molestar ou matar.
Para quem não sabe, os Jagudis são uma espécie de abutres, verdadeiros (Colegas) dos médicos de Saúde Pública.

Guiné > Região de Bafatá > Saltinho > Fevereiro de 2005 > O abutre ou jagudi (corruptela do crioulo jugude). 
Foto: © João/Paulo Santiago (2006). Direitos reservados.

O aquartelamento de Galomaro era relativamente novo e tinha instalações sanitárias adequadas, com esgotos cobertos e fossas sépticas.
Como "Colegas" tínhamos também os milhares de Morcegos que todas as noites, quando se ligavam os focos de iluminação para o exterior do aquartelamento, se alimentavam de milhões de insectos que se dirigiam para a luz.

Morcego, mamífero da ordem das Chiroptera e da família das Megachiroptera
Com a devida vénia a CulturaMix.com

A todos eles o meu agradecimento sincero.
Aos Morcegos, aos Jagudis e principalmente ao meu amigo Braima, todos eles "Meus Colegas"que me ajudaram durante a minha comissão a debelar muitas enfermidades e a preservar a saúde dos meus camaradas de armas e da população que me estava confiada por ser Delegado de Saúde da Zona de Galomaro-Cossé.

Alfa bravo do
Rui Vieira Coelho
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12832: Os nossos médicos (74): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (7): "All you need is love" - as Berliet's rebenta-minas e os nossos picadores no trajecto entre Galomaro e Dulombi

sábado, 22 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12881: Blogpoesia (384): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XV): Manuel Sampaio / Artur Conceição / Rui Vieira Coelho



[, representado no nosso blogue por Filomena Sampaio, viúva do nosso camarada Manuel Castro Sampaio, ex-1.º Cabo TRMS que pertenceu à CCS/BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73]



Poema de Manuel Castro Sampaio, enviado pela viúva, Filomena Sampaio, nossa grã-rabanqueira


************



[ex-Sold Trms Inf e Cond Auto, CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembém(1965/67]


Não tenho o mínimo jeito ...mas uma quadra sempre se arranja...
Um abraço, Artur Conceição


Viva o dia da Poesia
e o dia da Primavera,
Haja Paz,  haja alegria,
Aqui e em toda a Terra.


************



[ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho,  BCAÇ 3872 e 4518, Galomaro, 1973/74]

Caro Luís
Conforme a tua sugestão,  aqui vão uns versos feitos no sentido de identificar o lugar de reunião dos camaradas da Guiné na região do Porto,  Gondomar, mais propriamente a Tabanca dos Melros.


A todos vós, "Guinéus", .
Nessa terra d'adopção, 
Juntar Pátria,  Amor e Deus,
Unir sonho e coração.

Alguns foram vã glória, 
Outros persistem viver
Unidos pela memória, 
P'rá amizade de rever. 

Rever gentes e lugares, 
Melros de tantas tabancas
Atravessaram os mares,
Com ondas pretas e brancas,

No fundo de todos nós,
Com muita amizade e sorte
P'ra nunca ficarmos sós
Nem nunca perder o Norte.

Um grande alfabravo do Rui Vieira Coelho
______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 21 de março de 2014 >  Guiné 63/74 - P12879: Blogpoesia (383): O Dia Mundial da Poesia, 21 de Março de 2014, na nossa Tabanca Grande (XIV): Pensa meu soldado cansado, pensa... (Mário Vasconcelos)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12832: Os nossos médicos (74): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (7): "All you need is love" - as Berliet's rebenta-minas e os nossos picadores no trajecto entre Galomaro e Dulombi

1. Em mensagem do dia 11 de Março de 2014, o nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 3872), a quem não é demais agradecer a sua disponibilidade e colaboração, fez chegar até nós mais memória do ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho [foto actual à esquerda] que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), dedicada ao belo Arquipélago dos Bijagós:

As minhas cordiais saudações a todos: editores, leitores e camaradas em geral. 
Um pouco, no cumprimento do meu antigo cargo, volto às transmissões, enviando o texto/conto, da autoria do nosso ex-Alf. Mil Médico, Dr Rui Vieira Coelho, tabanqueiro n.º 624, BCAÇ 3872 e 4518. 

Um alfa-bravo encriptado com amizade. 
Mário Vasconcelos


____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12717: Os nossos médicos (73): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (6): Em Bubaque, como subdelegado de saúde