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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16649: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte XIII: Bolama, uma experiência agridoce (II)


Foto nº 1 > Bolama visat de São João



Foto nº 2 > Tarrafo




Foto nº 3 > Residencial Gá-Djau.


Foto nº 4 > Praia Ofir com vacas a apascentar (1)



Foto nº 4A > Praia Ofir com vacas a apascentar (2)


Foto nº 5 > A Adelaide na praia de Ofir


Foto nº 6 > Antigo palácio do Governador, em ruínas


Foto nº 7 > Antigos paços do concelho, em ruínas


Guiné-Bissau > Arquipélago de Bolama - Bijagós > Bolama  > Outubro de 2015


Fotos (e legendas): © Adelaide Barata Carrêlo (2016), Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico 
e das notas de viagem de Adelaide Barata Carrelo, à Guiné-Bissau, em outubro-novembro de 2015 (*). 

Com sete anos, a Adelaide passou uma larga temporada (1970/71) em Nova Lamego, com o pai, a mãe e os irmãos, tendo regressado no N/M Uíge, em 2 de março de 1971. Em 15/11/1970 teve o seu "bartismo de fogo".

O pai era o ten SGE José Maria Barata, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71). Quarenta anos depois regressa à Guiné-Bissau...

É nossa grã-tabanqueira, nº 721 (membro da nossa Tabanca Grande desde 11/7/2016).



BOLAMA (II)

 Chegados a Bolama esperámos uma espécie de "tuk-tuk" que nos levou à Residencial Gá-Djau.
A primeira impressão... respira-se história por todas as esquinas, vidas que foram felizes aqui, memórias de ruas com nomes que nos pertencem (por exemplo,  "Rua de Cascais"). 

Soubemos que,  através de um protocolo com a cidade de Cascais,  foram oferecidas uma ambulância e uma viatura polivalente, bem como a doação de 55 mil livros para a biblioteca municipal da Guiné Bissau.

Casas de arquitectura puramente colonial ainda se mantém firmes como que um cartão de visita, embora desertas e desejosas para contar as suas infinitas histórias.

Almoçámos,,  no Bar "Sabor das Ilhas",  um peixe grelhado magnífico,  "ventana" (parecido com a nossa "dourada") e arroz, não faltando a magnífica banana como sobremesa.

Ainda visitámos o cemitério de Bolama onde se encontram sepulturas de alguns portugueses que lá viveram e lutaram.

Deambulámos pelas ruas da cidade, onde observámos o Palácio dos Paços do Concelho, a Igreja de S. José e os edifícios militares entregues ao passar dos anos. Espreitámos o interior do Cinema de Bolama pela bilheteira abandonada.

Nos campos de futebol adjacentes ao quartel, observámos adolescentes a treinar intensamente debaixo de um calor sufocante.

Encaminhámo-nos para o mercado municipal, e no caminho demos conta da existência de duas cabines telefónicas que hoje estão completamente mudas.

Ao regressar à Residencial esperava-nos um chá "wuarga" (espécie de chá preto muito forte com muito açúcar), servido em copos de vidro pequeninos.

Na primeira noite em Bolama, apanhámos uma trovoada depois de um anoitecer quente e pesado, debaixo de uma espécie de coreto pequeno na Residencial.

Dormir à noite... impensável, mas o cansaço era tanto que as melgas eram simples mosquinhas a bailar à volta dos nossos ouvidos.... E o calor...?

Ao nascer do dia não podíamos perder um mergulho na praia de "Ofir". Quando chegámos, a água estava mansa, como as vacas que comíam a erva junto á areia.

A água estava morna, o que nos permitiu nadar e mergulhar durante bastante tempo.

O que aconteceu depois...,  é que não esperávamos. Quando nos fomos secar nas toalhas e vestir as roupas que deixámos em cima de um muro junto à praia, fomos atacados por formigas grandes e rápidas que nos mordiam os pés e tudo o que podiam,  sem dó nem piedade. Por mais que sacudíssemos as roupas, mais elas surgiam, fugimos dali com uma sensação agridoce, mas valeu a pena!

Planeávamos ir a Cantanhez, mas,  com as chuvas e o estado das estradas, mudámos o rumo à nossa viagem.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 27 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16646: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte XIII: Bolama, uma experiência agridoce (I)

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16646: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte XIII: Bolama, uma experiência agridoce (I)







Guiné-Bissau > Região de Quínara > Travessia do rio Grande de Buba (ou, melhor do "canal do porto"), de São João para Bolama, vindo de  Fulacunda > Outubro de 2015

Fotos (e legendas): © Adelaide Barata Carrêlo (2016), Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Quínara > Carta de São João (1955) > Escala 1/50 mil > Detalhe: posição relativa de São João, Bolam, canal do porto e rio Grande de Buba.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)



1. Texto e fotos enviados em  12 do corrente. Continuação da publicação do álbum fotográfico e das notas de viagem de Adelaide Barata Carrelo, à Guiné-Bissau, em outubro-novembro de 2015 (*). 

Com sete anos, a Adelaide passou uma larga temporada (1970/71) em Nova Lamego, com o pai, a mãe e os irmãos, tendo regressado no N/M Uíge, em 2 de março de 1971.  Em 15/11/1970 teve o seu "bartismo de fogo".

 O pai era o ten SGE José Maria Barata, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71). Quarenta anos depois regressa à Guiné-Bissau...

É nossa grã-tabanqueira, nº 721 (membro da nossa Tabanca Grande desde  11/7/2016).


BOLAMA (I)

A ilha de Bolama localiza-se no arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau. É a ilha mais próxima do território continental da Guiné-Bissau, e é o nome da principal cidade, capital da região de Bolama.

A ilha é rodeada por manguezal, que é um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho, zona húmida característica de regiões tropicais e subtropicais. Associado às margens de baías, enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, onde haja encontro de águas de rios com a do mar, ou diretamente expostos à linha da costa, está sujeito ao regime das marés, sendo dominado por espécies vegetais típicas, às quais se relacionam outros componentes vegetais e animais.

Ao contrário do que acontece em praias arenosas e dunas, a cobertura vegetal do manguezal instala-se em substratos de vasa de formação recente, de pequena declividade, sob a ação diária das marés de água salgada ou, pelo menos, salobra.

Depois de passar por Fulacunda, seguimos a caminho de Bolama. À beira estrada surge-nos uns montes de argila vermelha compacta, que podem atingir os dez metros de altura e pesar toneladas, são erguidos pelas formigas térmitas ou salalé, que na Guiné se denominam por "Bagabaga".

Ao longo da estrada avistam-se braços do rio Geba onde corpos nus se banham dando conta da nossa passagem. Sempre a contornar as poças de água na estrada e em ziguezague chegámos ao fim da estrada, a S.João, onde iríamos atravessar as águas profundas para chegar a Bolama.

Alguns rapazes que se encontravam neste cais improvisado, prontificaram-se para chamar o dono da piroga para nos levar. Atravessámos as águas que se rasgavam no casco da piroga e vimos pequenos peixes saltavam brilhando ao sol.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15699: (In)citações (82): Depoimento de um antigo combatente na diáspora (José Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56) (1): As experiências humanas que a guerra me proporcionou

1. Em mensagem do dia 14 de Janeiro de 2016, o nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), enviou-nos um texto, e algumas fotos, com aquilo a que chama Depoimento de um antigo combatente na diáspora. 
Aqui fica a primeira de duas partes.


Depoimento de um antigo combatente na diáspora  

1 - As experiências humanas que a guerra me proporcionou

José da Câmara*

Muito mais que a experiência militar, o que me marcou para a vida foram as experiências humanas que a guerra do Ultramar me proporcionou viver e a influência que tiveram na condução da minha vida desde então.

A guerra também é uma lição de vida que se aprende nas páginas de um livro sem linhas, sem palavras. Um livro em que as páginas mais importantes são escritas com a tinta dos sentimentos.

No mundo das lutas humanas que eu vivi não há palavras que consigam transmitir a capacidade de sacrifício, abnegação, camaradagem, religiosidade, dor e alegria do soldado português e, em particular, do soldado açoriano. A ânsia da incerteza do dia-a-dia, o receio, a miséria e a dor de ver perder um camarada vive-se, mas não se consegue descrever.

Porque também passei pela particular experiência de comandar tropas nativas, tive a possibilidade de aprender que o amor a Portugal, o meu querido País, era tão igual nas suas diferentes culturas, religiões, dialetos e fisionomia do todo humano que o compunha.

Quando cheguei à Província da Guiné, encontrei uma capital, Bissau, em franco e harmonioso desenvolvimento. Avenidas largas, limpas, iluminadas, comércio e restauração florescentes, assistência na saúde, escolaridade primária obrigatória, Liceu e muito mais. Ali, na cidade, respirava-se paz, harmonia social, desafogo económico e cultural. Era evidente que aquele bem-estar provinha do grande afluxo de tropas, muitas destas acompanhadas pelos seus familiares, excelentemente aproveitado pelas autoridades civis e militares no desenvolvimento da cidade.

Mas havia uma outra Guiné, aquela que estava para além de Bissau, a do mato, como se dizia na gíria militar. Aquele era aqui e ali entrecortado por alguns aglomerados populacionais de maior ou menor importância e desenvolvimento, sendo que as chamadas tabancas estavam mesmo a séculos de distância dos padrões de desenvolvimento da capital. A guerra, um autêntico flagelo humano, não explicava tudo. Era evidente que esta outra Guiné tinha sido negligenciada pelos poderes instituídos ao longo de centenas de anos. Talvez por isso mesmo, alguns autóctones ainda enraizados em costumes e tradições seculares se mostravam renitentes em aceitar mudanças que pusessem em causa a ordem social vigente a que estavam acostumados.

Naquele mato, a pobreza das gentes era chocante, mesmo para os corações mais duros. A subsistência familiar baseada numa agricultura insípida e antiquada era insuficiente e, em alguns casos, a religião e as tradições de algumas etnias não permitiam tirar o devido partido do pouco que havia. Águas inquinadas, mosquitos e malnutrição protagonizavam constantes problemas de saúde. Como se isso não bastasse, a rede de transportes, a assistência médica e o ensino obrigatório civis eram quase inexistentes. Muitas unidades militares faziam o que podiam para colmatar algumas daquelas falhas, mas em muitos casos podiam pouco. Aquele também era o mato das minas, das emboscadas, das flagelações, dos horrores da guerra.

A pobreza

Foi na Mata dos Madeiros, uma faixa de floresta densa entre a Mata do Balengerez e da Caboiana, a seguir ao Bachile, que por imperativos de defesa era agora completamente despovoada, que a CCaç 3327 montou o seu primeiro acampamento. Como companhia de intervenção às ordens do CAOP1, com sede na Vila de Teixeira Pinto, tinha como principal missão a proteção dos trabalhadores e das máquinas que prestavam serviço na construção da nova estrada que iria ligar aquela Vila ao Cacheu.
Naquela mata, recheada de fauna e flora maravilhosas, tive a oportunidade de viver o pulsar diário dos mais nobres sentimentos humanos de mãos dadas com os tremendos esforços físico e psicológico só ali possíveis e protagonizados por uma juventude maravilhosa.

O sacrifício da Mata dos Madeiros

O nosso dia de Páscoa (1971) naquele local foi marcado por um folar diferente, o casamento por procuração do Fur. Mil. Fernando Silva. Saiu de manhã com o seu grupo em patrulhamento. A meia tarde regressou ao acampamento para uma pequena cerimónia com os seus camaradas, para de novo voltar ao patrulhamento e respetiva emboscada noturna. Os segredos da noite perfumariam o barro vermelho da mata que lhe serviria de leito nupcial. Sem um queixume, sem um gesto de revolta apenas cumpria o seu dever.

Para no dia seguinte, segunda-feira, sermos todos atingidos com o trágico acidente sofrido pelo Manuel Veríssimo Oliveira, natural da Lomba de São Pedro, Ilha de São Miguel, o qual lhe custaria a vida dias mais tarde. No cumprimento de ordem militar, prestei a assistência necessária à família do Manuel. Na correspondência que mantive com a família, vivi por dentro o sofrimento de uma mãe que perdera o filho, sem o direito de o beijar uma última vez. O tempo se encarregou de suavizar a dor daquela experiência, mas ainda não me deu a oportunidade de esquecer.

De forma marcante e inesquecível, tive a oportunidade de participar diretamente na grandeza sublime do sentimento religioso dos nossos militares. Porque, na prática, a assistência religiosa era quase nula, um pouco por toda a companhia colmatava-se aquela falta com algumas manifestações de fé cristã. Entre elas, no tríduo preparatório em honra de Nossa Senhora de Fátima, o terço era rezado diariamente por muitos. Nas emboscadas noturnas, a minha secção rezava-o em conjunto através de sinais. Ali não havia medo, mas sim um sentimento de libertação do que nos rodeava, de conforto interior.

Na noite do dia 12 de Maio de 1971, os dois grupos de combate que estavam na proteção afastada ao acampamento regressaram a este para se juntarem aos outros dois. Com a sua chegada deu-se o andamento da Procissão pelo perímetro interior do acampamento. Com a arma numa mão e a vela acesa na outra, aqueles valentes militares deram largas à sua fé entoando o Hino a Nossa Senhora de Fátima que perfumava com a sua bênção as matas da Guiné. Durante aquela manifestação de fé a defesa do acampamento esteve entregue aos Anjos do Céu.

A religiosidade

Como poderei transmitir (ou esquecer) os sentimentos que me assolaram quando, numa noite diluviana, em corrida contra ao tempo, o meu grupo de combate, a que se juntaram algumas dezenas de voluntários, teve que evacuar de Teixeira Pinto para Bissau o soldado Miranda, da CCaç 2637, natural de São Miguel, em fim de comissão, também ele vítima de um acidente? No regresso a Teixeira Pinto sabíamos que ele jazia cadáver no Hospital Militar 241. Ou ainda a visão de um furriel a chorar, na chegada de uma operação de alto risco à Mata do Balenguerez, ao encontrar morto o seu amigo de estimação, um tecelão, uma avezinha domesticada por ele?

Na guerra mata-se, morre-se. Mas também há aquela situação em que se morre ficando vivo. Foi o que senti no Destacamento de Bassarel quando recebi a notícia de que iria ser transferido para uma unidade de recrutamento guineense. Sabia e compreendia que situações dessas aconteciam, mas logo eu, o único graduado açoriano numa companhia açoriana, não fazia sentido algum. Ou fazia? Com o coração despedaçado tive que me despedir daqueles fantásticos rapazes que compunham a minha secção, irmãos nas boas e nas más horas, para mim uma família muito especial.


A saudade na partida para as tropas africanas

Como transmitir em palavras os sentimentos que me assolaram quando no Destacamento de São João fui apresentado ao meu novo Pelotão de [Caçadores] Nativos 56 e me apercebi que aquele era constituído por manjacos, felupes, balantas, mandingas, fulas, beafadas, papéis, muitos deles inimigos tribais, que pouco comunicavam entre si, alfabetizados alguns e outros que não falavam português? Ou como foi a minha integração naquele pelotão no qual o soldado mais velho tinha 52 anos de idade que, como alguns outros, andava na guerra desde o seu início? Entre católicos, muçulmanos e animistas como conciliar os seus costumes, tradições e práticas religiosas com a disciplina e os afazeres militares? Como comunicar ordens em situações de risco, ou a simples afirmação de que ali eu era apenas mais um, com responsabilidades acrescidas sim, mas que eram eles os verdadeiros protagonistas protetores dos seus familiares, das gentes e do chão da Guiné?

No fim, quando treze meses depois regressei à minha companhia e aos Açores, deixei um amigo em cada um daqueles militares guineenses, uma amizade bem traduzida em alguns aerogramas que fui recebendo ao longo dos meses, prática que naturalmente desapareceu quando emigrei. Em São João ficara um pelotão de gente boa e dócil, agora com uma mentalidade diferente, mais receptiva, mais igual, mais amiga.

O Pel Caç Nat 56

Em fim de comissão, no dia da despedida em Brá, marchei na frente da companhia. Por ordem do comandante da companhia nas minhas mãos carregava com muito orgulho o Guião da CCaç 3327. Um gesto simples fora suficiente para esquecer a amargura do dia em que deixara a companhia. Lá mais atrás marchava a minha secção. Vinham todos, minha única honra e glória. Na companhia, infelizmente, faltava o Manuel.

A despedida da Guiné. Extracto do Jornal Voz da Guiné, 30 Dezembro de 1972, Página 13.

Um pouco mais de três anos após ter cruzado as portas do CISMI, em Tavira, tinha chegado a hora de dependurar o uniforme do exército de Portugal. Vestira-o com orgulho e dignidade. Pelo meio ficaram ainda a minha passagem pelo BII19, BII17, Santa Margarida e vários aquartelamentos na Província da Guiné. Cumprira com o meu dever de mancebo na defesa da Pátria, numa guerra justa ou injusta mas para a qual não fora chamado a decidir. O jovem que partira era agora um homem. Na bagagem, bem escondidas, trazia algumas cicatrizes internas, que o tempo se encarregaria de diluir, e muitas ilusões.

(Continua)
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Nota do autor:

(*) José Alexandre da Silveira Câmara.
Natural da Fazenda, Concelho das Lajes das Flores.
Prestou serviço militar no Ultramar como Furriel Miliciano na Companhia de Caçadores 3327, mobilizada pelo BII17 para a Guiné: partida a 21 de Janeiro de 1971 regresso a 7 de Janeiro de 1973.
Emigrou para os Estados Unidos da América no ano de 1973, tendo-se fixado em Stoughton, Massachusetts onde reside.
Encontra-se presentemente reformado.

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15552: (In)citações (81): Amigo/a, camarada, faz a tua prova de vida: Manda-nos um simples "OK! Tudo bom! Vou indo" ! ... E os editores aproveitam para te desejar o melhor ano possível em 2016, apesar das dificuldades, enfermidades, mazelas, contrariedades, problemas, sacanices, minas e armadilhas que enfrentamos, cada vez mais, à medida que o tempo... pula e avança

terça-feira, 28 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14938: (Ex)citações (287): Certa vez fui a Teixeira Pinto, e na estação dos CTT marquei dia e hora para telefonar para casa... A família reuniu-se em peso, reunida, ansiosa, à espera do telefonema... Mas eu não consegui lá voltar nesse dia e hora...A família ficou em pânico, como seria de imaginar (Leão Varela, ex-alf mil, CCAÇ 1566, Jabadá, Pelundo,Fulacunda e S. João, 1966/68)


Guiné > Região de Quínara > São João > CCAÇ 1566 (JabadáPelundo,Fulacunda e S. João, 1966/68) > "O meu pelotão. Eu, o dos óculos escuros,  entre os meus camaradas e amigos gurriéis Valente, à minha direita, e Matos, à minha esquerda. Foto tirada já em S. João, após mais uma patrulha de combate."

Foto (e legenda): © Leão Varela (2014). Todos os direitos reservados [ Edição: CV]


1. Comentário de Leão Varela ( ex-alf mil, CCAÇ 1566 (Jabadá, Pelundo,Fulacunda e S. João, 1966/68);

Carlos Amigos e Camaradas

Ainda a sondagem sobre  quem fez chamadas telefónicas da Guiné para casa. (*)

Passou-me em falso o período para responder... mas já agora ainda me atrevo a dizer que eu fiz uma e de uma estação dos CTT que não vi mencionada, Teixeira Pinto, estava eu, então, destacado no Pelundo com meu pelotão (o 1º pelotão da CCAÇ 1566).

Uma das nossas missões era patrulhar a estrada entre o Pelundo e Teixeira Pinto o que aproveitávamos para no caminho encher 2 ou 3 bidons de água para beber e tomar banho.

Certa vez, numa dessas deslocações fui até Teixeira Pinto onde alguém me informou da possibilidade de, por marcação do dia e hora, fazer na Estação dos CTT uma chamada para casa. Assim fiz. Marquei o dia e a hora...só que nesse dia - já não sei porquê - não me foi possível deslocar a Teixeira Pinto. Como em casa foram avisados de que eu ia telefonar,  toda a minha gente aguardava o telefonema, que não fiz, à volta do telefone. Parece que, ao não receberem nenhum telefonema meu,
 ficaram em pânico.

Por mim, voltei a marcar outro dia e lá consegui telefonar.. mas jurei para nunca mais pregar sustos desses à minha família.

Desta pequena história fica a mensagem de que em TEIXEIRA PINTO havia Estação dos CTT e o registo constante sobressalto com que as nossas famílias andavam por cá. (**)

Forte e amigo abraço para todos

Leão Varela

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 27 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14937: Sondagem: Resultados definitivos (n=152): cerca de 55% do pessoal nunca fez uma chamada telefónica para a metrópole... Admite-se que essa proporção fosse, na realidade, ainda maior

(**) Último poste da série > 23 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14925: (Ex)citações (286): Fiz um telefonema surpresa para o meu irmão, no dia e hora do seu casamento, em 16/10/1971, em Guimarães...Tive que marcar a chamada oito dias antes, na casa do régulo de Bula que servia de posto dos CTT... (António Mato, ex-alf mil MA, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14220: Pequenas recordações, a minha máquina fotográfica e o meu rádio (Leão Varela)

1. Mensagem do nosso camarada Leão Varela, ex-Alf Mil da CCAÇ 1566 (Jabadá, Pelundo, Fulacunda e S. João, 1966/68), com data de 27 de Janeiro de 2015:

Boa Noite Amigos Luís, Carlos e restantes Camaradas
Vinha com a ideia de escrever uma pequenina e simples história de cariz humano e que nunca mais esqueci pelo que significou para mim. Contudo, hoje vou ficar-me por vos deixar duas fotos: a da minha máquina fotográfica e a do meu primeiro rádio que só troquei na segunda vez que vim de férias e que comprei em Bissau mas que já não o tenho.
Elas aqui ficam.

Abraço-vos com amizade
Leão Varela



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Nota do editor

(*) Vd. poste de 11 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14007: Tabanca Grande (452): José Inácio Leão Varela, ex-Alf Mil da CCAÇ 1566 (Jabadá, Pelundo, Fulacunda e São João, 1966/68)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14007: Tabanca Grande (452): José Inácio Leão Varela, ex-Alf Mil da CCAÇ 1566 (Jabadá, Pelundo, Fulacunda e São João, 1966/68)

1. Mensagem do nosso camarada e, novo amigo e Tabanqueiro, José Inácio Leão Varela, ex-Alf Mil da CCAÇ 1566 (Jabadá, Pelundo, Fulacunda e S. João, 1966/68), com data de 11 de Outubro de 2014:

Caro Amigo e Camarada Luís Graça:

Descoberto pela minha filha que é Jurista no MDN [Ministério da Defesa Nacional,] e que prontamente o me sugeriu, acabo de dar uma primeira vista de olhos pelo teu Blogue "A TABANCA [GRANDE]"...

Mas que feliz iniciativa meu amigo e camarada... Além disso está tecnicamente muito bem feito ...

PARABÉNS por isso tudo... e obrigado por me dares esta oportunidade de reviver (pelo menos as coisas boas - como por exemplo a camaradagem e a solidariedade muito difícil de encontrar no nosso mundo civil - essa fase da minha vida há muitas luas atrás.

Apresento-me desde já... mas só este Fim de Semana irei fazer o meu registo como pedes...

O meu nome é José Inácio Leão Varela. Sou natural de Lisboa muito embora o meu sangue e o meu coração sejam Alentejanos. Moro em Algés (Miraflores). Sou Economista (Gestão),  reformado.
Para ti e restantes camaradas serei apenas o ex-Alf Mil Varela.

Estive na Guiné, entre 1966-1968, integrado na C.CAC 1566 ("PILÕES"), onde comandava o 1º Pelotão. Mas por força das circunstâncias andei destacado pelo Pelundo e Fulacunda tendo, talvez por isso mesmo, ficado como comandante do Destacamento de S. João, onde fiquei mais de um ano, enquanto a minha Companhia se fixou em Jabadá.

E para já, caro amigo e camarada, é tudo... depois e lá pelo Blogue... por certo haverá muitas mais coisas para compartilharmos.

Abraço amigo
Leão Varela


2. No dia 21 de Outubro foi enviada esta mensagem ao camarada Leão Varela:

Caro camarada José Inácio Varela:

Muito obrigado pelo contacto. Na qualidade de "relações públicas" do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné estou a dar resposta.

Como uma das práticas nesta tertúlia é o tratamento por tu, independentemente dos nossos antigos postos, idade, formação académica, profissão, etc, não vais estranhar a maneira como me dirijo.

Teremos muito gosto em te receber nesta Caserna Virtual, também conhecida por Tabanca Grande, onde o objectivo é o registo de memórias escritas e fotográficas dos combatentes que participaram na guerra colonial na Guiné.

Fizeste, e muito bem, a tua apresentação sumária, mas para fazer a tua apresentação formal à tertúlia precisávamos que nos mandasses uma foto do tempo de tropa, fardado, claro, e outra actual. Estas fotos servirão para encimar os teus futuros postes.

A joia a pagar será uma pequena história pessoal ou colectiva dos teus tempos de Guiné, que aches mais marcante. Podes fazê-la acompanhar de fotos que tenhas disponíveis. Por favor manda as respectivas legendas que datem e identifiquem o local e os intervenientes.

Fica ao teu critério acrescentar mais alguma coisa à tua apresentação, sendo que o mínimo será: nome, posto, especialidade, Companhia/Batalhão, data de ida e regresso da Guiné, locais por onde penamos e outros elementos militares e/ou civis que contribuam para nos conhecermos melhor.

Esta tertúlia é uma comunidade muito homogénea, onde, costumamos dizer, contamos aquilo que a família já não quer ouvir. Só nós nos entendemos porque vivemos, sentimos e recordamos aquela guerra que nos marcou idelevelmente, muito embora, por vezes, disso não tenhamos consciência.

Fico, eu e os restantes editores, ao teu dispor para qualquer esclarecimento adicional.
Esperamos as tus notícias.

Até lá, em nome dos editores Luís Graça, Eduardo Magalhães e eu próprio, envio um fraterno abraço.

Carlos Vinhal


3. No passado dia 7 de Dezembro recebemos esta mensagem do nosso novo Grã-Tabanqueiro Leão Varela, ex-Alf Mil da CCAÇ 1566:

Meu Caro Amigo e Camarada Carlos Vinhal

Espero e desejo que tudo esteja óptimo contigo. Desculpa o tempo que levei para cumprir com o meu "pagamento da quota", necessário, e muito bem, para ser membro de pleno direito do Blogue "TABANCA GRANDE".

Mas como mais vale tarde do que nunca aqui te deixo (não sabia ao certo para onde enviar este mail dado ser a primeira vez) para, se o achares bem e adequado ao cumprimento do devido, o partilhares no Blogue onde eu terei muito gosto e prazer em compartilhar as nossas aventuras e histórias (daquelas que as nossas famílias estão fartas de ouvir como tu dizes... e até outras que, talvez, nem elas as ouviram) por terras da Guiné.

Assim, aqui te deixo em anexos a minha 1.ª História e, não só as fotos que pediste, mas mais algumas. Umas saíram da minha velha máquina outras da máquina do Alf. Capelão do Agrupamento de Bolama, cujo nome se me varreu... era um Padre Dominicano que nos ia quase sempre esperar nas lanchas dos Fuzileiros que nos ia recolher sendo a ida sempre a corta mato.

Esperando que me faças esse favor, aqui fica um forte abraço do camarada
Leão Varela
ex-Alf Mil Inf

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O Aspirante a Oficial Miliciano Leão Varela


A MINHA PRIMEIRA HISTÓRIA

(PAGAMENTO DA QUOTA)

Uma história? Há tantas que ainda pairam na minha memória que é difícil escolher uma que seja mais adequada para o pagamento da minha quota. 

Bom… e se eu começar por uma do fim da minha comissão (1966-1968) por terras da Guiné? 
Fui ao baú e lá encontrei uma cópia de um relatório de um ataque que sofremos. Claro… vai esta mesmo pois tratava-se se uma história acontecida a cerca de um mês de voltarmos ao conforto e carinho das nossas famílias.

Já agora… o porquê desta escolha? Porque tratando-se do último e pior ataque que sofremos, achei que, antes de ter o prazer e a honra de passar a compartilhar convosco através deste magnífico e oportuno blogue, Caros e Amigos e Camaradas, seria como que prestar a minha singela mas sentida homenagem aos meus ex-camaradas, independentemente do seu posto, credo ou cor, que ao meu lado e/ou sob o meu comando sempre souberam: honrar a farda que vestiam, demonstrar em situações adversas a sua bravura e o seu espírito de sacrifício muitas vezes arriscando a sua própria vida (e aqui recordo com tristeza os dois que comigo foram e que por lá faleceram em combate) e, enfim, que desinteressadamente cultivaram a solidariedade e o companheirismo que nos uniu e que jamais esquecerei.



O meu Pelotão. Eu o dos óculos escuros entre os meus camaradas e amigos Furriéis Valente, à minha direita, e Matos, à minha esquerda. Foto tirada já em S. João, após mais uma patrulha de combate.


Aqui vai ela:

SÍNTESE DO RELATÓRIO DO ÚLTIMO E PIOR ATAQUE AO AQUARTELAMENTO DE S. JOÃO

(12 Dez 1967)

SITUANDO A HISTÓRIA

Como certamente sabem, o Aquartelamento de S. João, para onde foi enviada a minha Companhia 1566, ficava frente a Bolama, onde nessa época estava instalado o Comando do Sector do Agrupamento 1975, e inseria-se na área operacional do Batalhão ]de Artilharia] 1914,  com Comando localizado em Tite.

Era sob as directivas destes Comandos que a minha Companhia, embora sendo independente, actuava na área entre S. João - Nova Sintra e, por vezes, na de Tite.

A certa altura a minha Companhia foi transferida para Jabadá passando o Aquartelamento de S. João a ser um seu Destacamento, tendo o nosso Capitão Pala entendido confiar-me o seu Comando já que tinha tido idêntica missão durante alguns meses no de Pelundo para onde fui deslocado mal chegamos a Bissau.

Foi assim que, com o meu pelotão reforçado com o Pel Caç Nat 56 comandado pelo Alf Mil Baptista (por onde andará este meu camarada de Braga e bom e inesquecível amigo?), fiquei em S. João até ao fim da comissão (mais ou menos 15 meses) cuja defesa e missão operacional, sob meu comando, ficou a cargo de um efectivo de cerca de 70 homens.

E foi aqui, em S. João, e neste contexto, que a história em título que passo a relatar sinteticamente se passa.


A HISTÓRIA

Tínhamos todos acabado de jantar que começava a ser servido após o arrear da Bandeira às 18 horas. O Furriel (já não sei qual – eram quatro) que nessa noite estava de serviço já tinha distribuído os homens da sua secção reforçada pelos sete postos de sentinelas e preparava-se para, com os restantes, sair para passar ronda à volta do Aquartelamento (ainda bem que não deu tempo para o fazer como já vão ver…).

Pouco passavam das 19 horas. Tinha acabado de sair da messe dita de oficiais mas que eu transformei na messe de todos os graduados (oficiais, sargentos e furriéis) quando uma das sentinelas fez um ou dois tiros. Dirigi-me rápido, juntamente com o Furriel de serviço, ao respectivo posto onde nada observamos de anormal…
–  Ouvi barulho e pareceu-me ver qualquer a mexer além  –  disse-nos o sentinela…
–Talvez uma onça– retorquiu alguém
–   Pois, mas fiquem atentos – respondi e voltei à minha voltinha que costumava fazer pelos diferentes postos depois do jantar e antes de me deleitar com mais meia noitada de King regada com uns copos de whisky que davam boa disposição e ajudavam a adormecer (agora tomo Lorenin, brrrr).

Não tive tempo para a fazer pois, passados não mais de 10 minutos – mais ou menos pelas 19H30 – começou o “fogo de artifício” consubstanciado por fogo intenso cuspido de armamento ligeiro (ML, a célebre “costureirinha”… lembram-se?) e pesado (MP), de morteiros 82 (Mor 82) e de dois canhões sem recuo (Can  S/R).

De imediato todo o pessoal correu para os seus respectivos postos que lhe estavam previamente distribuídos (soldado Galvão e 1.º Cabo Coelho nas Bazucas; 1.º Cabo Ferreira e, acidentalmente por mim antes de conseguir sob fogo ocupar o meu posto de comando instalado num dos abrigos ao centro do quartel onde tinha instalado diversos rádios, nos Mort 60; 1.º Cabo Costa e soldado Valongueiro nas Bredas; Alferes Baptista no Mort 81 e restante pessoal com G3 distribuídos pelos diferentes abrigos.

Apesar da nossa pronta e forte reacção, durou este “festival” de fogo intenso cruzando os céus de um lado para outro – que Bolama, na outra margem, apreciava com um misto de curiosidade e de apreensão – cerca de 20 minutos altura em que o das forças atacantes foi diminuindo de intensidade até silenciar de vez ao fim de quase meia hora desde que o iniciaram.

Como rescaldo e do nosso lado registou-se, para além de diversos estragos materiais, que havia quatro feridos, um dos quais – o nosso herói da noite, Soldado Valongueiro, que mesmo bastante ferido na cabeça logo no início nunca largou a sua Breda - com gravidade que após ter os primeiros socorros dados pelo nosso enfermeiro – o incansável e sempre bem disposto 1.º Cabo Cavacas – foi evacuado para Bolama numa lancha dos nossos amigos e camaradas Fuzileiros que desde o início do ataque disseram presente com uma lancha parada no meio do rio pronta a intervir se necessário, sendo de madrugada, depois dos cuidados médicos evacuado de helicóptero para o Hospital Militar de Bissau e daqui para o de Lisboa onde foi devidamente tratado mas já não voltando à Guiné.


Eu, referenciado pela seta, e o meu pelotão a entrarmos para uma LDG dos Fuzileiro, após uma operação a nível de Batalhão algures na área operacional de Fulacunda onde estive também alguns meses como reforço da Companhia aí aquartelada, sob o comando do então Capitão Osório infelizmente, já como Major e numa 2.ª Comissão, abatido numa emboscada aquando efectuava, já no tempo do General Spínola, uma missão de Paz com uma facção do PAIGC.


Eu, o da ponta lado direito, a bordo de uma LDM dos meus camaradas e amigos Fuzileiros estacionados em Bolama, com os quais partilhamos em conjunto algumas operações e que, a partir de certa altura nos iam recolher depois de termos andado uma noite toda para cumprirmos determinada missão.

Soubemos mais tarde, por informação do Comando do Sector, que do lado das forças atacantes houve três baixas mortais – por sorte nossa os apontadores do CAN S/R – em consequência do rebentamento perto deles de uma granada do nosso MORT 81 e alguns feridos.

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E pronto… esta a minha primeira História vivida por terras da Guiné que vos deixo. Porém, não queria terminar sem deixar aqui algo que julgo traduzir o que ficou no subconsciente de todos nós (ou de quase todos) após termos terminado a nossa missão. A saber:
“Ter estado num naufrágio ou numa batalha é algo belo e glorioso; o pior é que teve de se lá estar para se ter lá estado”.
(sic, Fernando Pessoa).

Abraços do vosso camarada
Leão Varela
(Ex-Alf Mil. Inf.)


Destacado no Pelundo (área de Teixeira Pinto), à porta do que chamavam de "messe"


Preparativos da habitual "patrulha abastecimento de água" numa fonte perto de Teixeira Pinto guiando um GMC.

Fotos (e legendas): © Leão Varela (2014). Todos os direitos reservados [ Edição: CV]

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4. Comentário do editor:

Caro camarada e amigo Leão Varela:

Pouco tenho a acrescentar ao que já disse e face à tua brilhante apresentação.

Deixaste-nos uma fasquia bastante elevada pelo que a nossa expectativa é muita. Ficamos ansiosos pelas futuras histórias que não nos vão defraudar.

Resta-me, para não alongar mais este poste, deixar em nome dos editores Luís Graça, Eduardo Magalhães Ribeiro e eu próprio, um grande abraço de boas-vindas e votos de Boas Festas Natalícias com saúde, alegria e muitas prendinhas.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13875: Tabanca Grande (451): António Manuel Murta Cavaleiro, ex-Alf Mil Inf MA do BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

domingo, 8 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13257: Tabanca Grande (438): António Correia Rodrigues, ex-Fur Mil Cav da CCAV 766 (Fulacunda, S. João e Tite, 1964/66)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo, António Correia Rodrigues, (ex-Fur Mil Cav da CCAV 677, Fulacunda, S. João e Tite, 1964/66), com data de 5 de Junho de 2014:

Caro Luís Graça e camaradas da Guiné.
Desde há bastante tempo que tenciono fazer a inscrição na Tabanca Grande. Demorei tanto tempo que ocorreu no passado mês de Abril, dia 13, o 50º aniversário da nossa arriagem… a Bissau.
Digo arriagem porque o Uíge ficou ao largo! Já tive a oportunidade de interagir convosco para completar informação da companhia de cavalaria 677, da qual fiz parte.

Das muitas “estórias” e peripécias passadas ao longo de 2 anos menos 10 dias, permito-me contar a primeira.

Como atrás disse, o desembarque foi efectuado ao largo de Bissau e directamente para bordo de LDMs, que nos transportaram com destino ao Enxudé, para seguir em coluna auto para Tite.
Ainda traumatizados com a vista de Bissau, a cor das águas do Geba, a chaga da pedincha do preto que pedia “branco parte um peso…”, fomos praxados pelos veteranos com uma nota de boas vindas e recomendação contra os perigos eminentes em cada canto…

Foi-nos dito que teríamos de levar uma arma (G 3) e que para a levantar teríamos que entrar num espaço, algo mal iluminado, e mesmo à altura das nossas cabeças havia uma trave (propositadamente…) colocada à altura das nossas cabeças.
O resto da história, não tem piada porque é fácil de adivinhar!...

Assim começou a epopeia da Companhia de Cavalaria 677, que foi adstrita ao Batalhão 599.

Durante mais de um ano, fomos “premiados” com sucessivas operações em toda a zona. Tite, Fulacunda, Jabadá, S. João e outras que não são tão conhecidas.
Se me for proporcionado, terei gosto em relatar outras histórias e transcrever algumas passagens escritas em livro escrito, pelo então, capitão António Luís Monteiro da Graça, que me concedeu autorização para tal.

Abraço amigo para ti caro Luís Graça e todos aqueles que abrigam no mesmo poilão e um até breve.
António C. Rodrigues


2. Comentário do editor:

Caro camarada, e a partir de hoje, amigo tertuliano, António Rodrigues. Sê bem aparecido cá na Tabanca, onde te vais sentir entre iguais.
Pois é, só nós mesmos nos vamos entendendo nesta sociedade em que os mais velhos são pouco considerados, principalmente por quem nos tem governado, por quem nos governa e por quem nos há-de governar, porque somos causa de muita despesa e rendimento nulo. O nosso passado não conta, dando a ideia de que nunca fizemos nada na vida. Mas já fomos novos, responsáveis e até participamos numa guerra que não queríamos, numa terra que não conhecíamos.

Chegados aqui, resta-nos este espaço de convívio e repositório de memórias. Os vindouros hão-de saber que existimos e fizemos parte da História de Portugal. A nossa geração assistiu ao fim do Império, não sem antes dar o seu sangue e a sua vida.

Dizes tu: "Se me for proporcionado, terei gosto em relatar outras histórias e transcrever algumas passagens escritas em livro escrito, pelo então, capitão António Luís Monteiro da Graça, que me concedeu autorização para tal"
Desculpa, caro Rodrigues, mas não só te é proporcionado, como te é pedido. Quanto mais activos formos, mais histórias deixaremos para memória futura. Contamos contigo.

Como é hábito, ficamos por aqui para qualquer dúvida que tenhas.
Sempre que nos escreveres. manda as tuas mensagens e anexos para dois endereços, ou três, para teres a certeza de que alguém te vai ler. Se nos enviares fotos, não esqueças as respectivas legendas que devem identificar pelo menos os locais e os retratados. Se possível a data e a situação.
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Fica aqui um pouco da tua 677, um trabalho do nosso camarada José Martins:

CCAV 677 - Guiné 1964/66

Unidade Mobilizadora: Regimento de Cavalaria 7 – Lisboa

Embarque: 08MAI64
Desembarque: 13MAI64
Regresso: 26ABR66

É colocada em Tite com a função de intervenção e reserva do Batalhão de Caçadores 599 em 14Mai64, com um pelotão destacado em Fulacunda.

Realizou operações nas regiões de Jufá, Bária, Budugo, Gamol, Jabadá e Brandão, e destacou pelotões para reforço das guarnições de Jabadá e Enxudé.

Assumiu, em 24Abr65, a responsabilidade do subsector de S. João.
Voltou a Tite em 06Abr, seguindo para Bissau para efectuar o regresso.
____________

Posto isto, resta-me enviar-te, caro Rodrigues, um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia em geral.

Ao teu dispor o camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE JUNHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13236: Tabanca Grande (437): Mais dados pessoais e o meu rodopío até chegar à CART 1659 - "ZORBA" (Joaquim Fernandes Alves)

segunda-feira, 25 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11312: Tabanca Grande (391): António Baldé, fula, natural de Contuboel, português, apicultor, pai do Umaro e da Alicinha, ex-1º cabo, CIM, Bolama (1966/69), Pel Caç Nat 57 (São João, 1969/70) e CART 11 (Paunca e Sinchã Queuto, 1970/71), grã-tabanqueiro nº 610

1. António Baldé, fula, nasceu em Contuboel em 1944.  [Foto à esquerda, Alfragide, 27/7/2012]

Foi educado, até aos 12 anos, pelo chefe de posto local, o português José Pereira da Silva, ainda hoje vivo (.Mora em Oeiras, é vizinho da decana do nosso blogue, a dra. Clara Schwarz, mãe do nosso amigo Pepito). 

Fez a 4ª classe e isso abriu-lhe outras portas que outros miúdos da sua tabanca não puderam abrir. Lembra-se bem da serração do Albano, que ainda existia no meu tempo (junho/julho de 1969, quando Contuboel foi Centro de Instrução Militar, donde saíram, de entre outras, as futuras CCAÇ 11 e 12).

Em 1966, foi chamado para a tropa. Fez a recruta e a especialidade no CIM de Bolama. Ficou lá dois anos. Promovido a 1º cabo, de artilharia, foi instrutor. Lá se formaram diversos Pel Caç Nat. Em 1969 é transferido para o Pel Caç Nat 56, sediado em S. João, frente a Bolama.

Em 1969 casou-se. Será o primeiro de quatro casamentos. Teve ou tem 15 filhos, o último dos quais a Alicinha do Cantanhez, filha da nalu Cadi Indjai (1985-2013).

Desse tempo, e do tempo do Pel Caç Nat 56 e 67, lembra-se com saudade dos furriéis Gil e Nuno, que gostaria de voltar a encontrar. Não faz ideia do seu paradeiro. Em São João esteve em 1969/70. Será depois transferido para a CART 11, que estava em Paunca. Esteve por lá em 1970/71. O comandante do seu pelotão era o alf mil Matos, que é de Ovar, e com quem ainda hoje convive e fala ao telefone. Já foi a um (ou mais) dos convívios da companhia. Esteve no destacamento de Sinchã Queuto ], que eu só localizo a norte de Bafatá, ea sul de Contuboel, no mapa de Bafatá].

Saiu da tropa em finais de 1970 ou princípios de 1971. A mulher tinha ficado em Bolama. Assistiu depois à independência. Não tem boas memórias de Bambadinca desse tempo. Também não teve quaisquer problemas com os novos senhores da Guiné-Bissau. Ainda antes da independência tinha começado a trabalhar nos serviços agrícolas da província. Fez formação em floricultura, se não me engano. Foi ele e outros estagiários quem fez o jardim do Bairro da Ajuda, em Bissau, no tempo do administrador Guerra Ribeiro. Depois da independência começou a trabalhar com o engº agr Carlos Scwharz, no DEPA, na região de Tombali. Tem uma grande admiração pelo Pepito e pelo trabalho dele em prol do desenvolvimento da sua terra.

No princípio deste século, veio a Portugal fazer um curso de apicultura, que é hoje a sua grande paixão. Acabou por ficar. Trabalhou como segurança numa empresa de construção, no concelho de Cascais. Entretanto, obteve a nacionalidade portuguesa. Tem um filho, de 13 anos, o Umaro Baldé, que vive com ele e que está a frequentar o 7º ano de escolaridade obrigatória, em Alfragide, e que ser informático.

De momento está desempregado. O seu sonho é voltar a Caboxanque onde tem casa, junto ao rio Cumbijã,  e desenvolver o seu projeto de apicultura no Cantanhez. Mas tem dois filhos pequenos para criar. Muçulmano, vai todas as sextas feiras à mesquita de Lisboa. É um bom crente. É uma homem afável, conhece meio mundo, e pediu-me para ingressar na Tabanca Grande. Está interessado sobretudo em partilhar os seus conhecimentos e a sua paixão como apicultor.


2. Comentário de L.G.:

[Foto à direita: Luís Graça e António Baldé, Alfragide, 27/7/2012]

Conheci o António Baldé, o verão passado, através da Alice Carneiro, minha mulher e nossa grã-tabanqueiro. Na altura escrevi o seguinte, em comentário ao poste P10213:

"A Alice, minha mulher, e nossa grã-tabanqueira, tem uma "afilhada" nalu, a Alicinha do Cantanhez. Aliás, temos. Assumo o meu papel de "padrinho". É amorosa, a filha da Cadi, que ela conheceu no sul da Guiné, em março de 2008. A Cadi é uma rapariga linda, um torrão de açúcar. Já teve um filho que lhe morreu, de paludismo, aos 4 meses. O Nuninho. Escrevi-lhe um poema. Era afilhado da Júlio e do Nunio Rubim.

[[Foto à esquerda: António Baldé e Alice Carneiro, Alfragide, 27/7/2012]

"A Alicinha tem sobrevivido. Conheci há dias o pai, António Baldé, fula, e nosso antigo camarada. Fez a tropa na CCAÇ 11, em Paunca. É natural de Contuboel. Tem 67 anos. Só conhece a filha de fotografia e vídeo. É um pai babado. Vive em Portugal há cerca de 10 anos. Somos nós que lhe damos notícias da mãe e da filha. Tem casa em Caboxanque na margem esquerda do Rio Cumbijã. Um dia prometo ir lá passar umas férias. É apicultor, e quer votar à sua terra. Espantoso, como o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Ele vivia na zona de Cascais, onde era segurança. A empresa fechou, o Baldé está no desemprego. Um advogado, seu amigo, arranjou-lhe casa em Alfragide. Somos, pois, vizinhos de 'tabanca'. Vou vê-lo mais vezes. Só há dias é que o conhecemos. Um homem tranquilo e sábio, que trabalhou com o Pepito muitos anos em projetos agrícolas. Foi assim que esse foi parar ao sul.

"Ajudou-nos agora a fazer sumos com os frutos secos que a Cadi nos mandou, através do nosso amigo Pepito: veludo, cabaceira, alfarroba... Os sumos são uma delícia... Mãe e filha estiveram muito doentes, no princípio do ano. Valeu-lhes a ajuda dos nossos amigos Pepito, Zé Teixeira e Tiago Teixeira a quem deixamos aqui a manifestação pública do nosso agradecimento. Muito em particular, ao Dr. Tiago Teixeira, que tem uma relação especial com o hospital de Cumura, gerido pelos franciscanos. (...)"

Este fim de semana o António Baldé veio cá casa, com o filho,  almoçar. (O Umaro está com o pai desde os 6 anos.) Conversámos longamente. O seu sonho é poder legalizar os papéis do seu casamento (tradicional) com a Cadi e trazer para Portugal a sua filhota, a Alicinha, de 3 anos, agora órfã de mãe.  Não é fácil,  quando se está longe e é preciso vencer uma dupla barreira burocrática, a do seu  país de origem (a Guiné-Bissau) e a do seu país de adoção (Portugal).

Pois, bem, António, passas a ser o grã-tabanqueiro (quer dizer,  membro da nossa Tabanca Grande) nº 610. Vais ter oportunidade de me contar mais histórias o teu tempo de Guiné e de tropa. Espero que Alá te ajude a concretizar os teus sonhos, de pai e de apicultor. Da nossa parte, já sabes, tens aqui uma Tabanca Grande, cheia de amigos e camaradas... Sê bem vindo!
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 14 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11249: Tabanca Grande (390): Ismael Augusto (ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), novo grã-tabanqueiro, nº 609

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10626: Tabanca Grande (368): José António Viegas, natural de Faro, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54 (1966/68), grã tabanqueiro nº 587




1. Mensagem de José António Viegas, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54, com data de ontem, e pedido de entrada na Tabanca Grande:

Caro Luís:
Junto alguns dados para intodução.

Nome: José António Viegas;
Nascido em Faro, em 16-11-1944;
Embarquei para o CTI da Guiné em 30 de Julho de 1966 no Uíge;

Fui em rendição individual para ir formar, em Bolama, com outros camaradas, os primeiros Pelotões de Caçadores Nativos.

Chegámos a 3 de Agosto, desembarquei no Cais do Pijiquiti com a malinha na mão e a ver qual era o meu destino, quando ouço alguém chamar pelo o meu nome e dizer "o que faz aqui,  menino?!"... Era o meu amigo Júlio, já falecido, que estava ali, dos Adidos, para levar o pessoal.

Meteu-me no Jeep o fomos fazer um roteiro turístico a Bissau para ficar a conhecer a cidade. Passados que foram 4 dias seguimos para Bolama para receber os Pelotões e fazer os treinos operacionais. O meu Pelotão foi o 54.

Depois de fazermos as apresentações, saiu da formatura um soldado mandinga, chamado José Abdulai Sissé que me disse, para grande espanto meu:
- Meu Furriel, eu quero ser o seu guarda-costas.

Perante a sua insistência aceitei. Foi um homem fiel, até à sua morte, que ainda hoje recordo com saudade.

Nos primeiros dias de treino em Bolama, numa das noites em que chovia imenso, passada noite em treinos, apanhei o meu primeiro paludismo que me deixou de rastos por uns dias. O cheiro de que estávamos numa guerra e não de férias em África, era o ouvir de rebentamentos todas as noites em S. João, que ficava em frente a Bolama, e em Tite, e logo de seguida fazer a guarda de honra a um camarada que tinha morrido no rebentamento de uma bailarina em S. João e que foi enterrado no cemitério de Bolama.

Um abraço grande a todos os que passaram por aquela terra. Alguns desses já não voltaram.
Paz às suas almas.
Um abraço.

P.S - Anexo: Foto no Uige,  1-8-1966

Na foto do Uíge [, em cima,]  sou o que estou no lado da parede com o emblema da Guiné no braço [, assinalado com cercadura a vermelho].
Nós já nos conhecemos dos lançamentos dos livros do Beja Santos em que fui com o Matos.

2. Comentário de L.G.:

Pois é, já nos encontrámos por aí, na companhia do açoriano mais algarvio da nossa Tabanca Grande, o Henrique Matos Francisco, o 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52 (1966/68). Finalmente decidiste juntar-te a esta grande família que já a nossa Tabanca Grande. Conheces os cantos á casa. Sê bem vindo, acomoda-te pro aí e senta-te à sombra do nosso poilão, disposto a contar mais histórias da fundação e da  atividade operacional dos +primeiros Pel Caç Nat. Do teu Pel Caç Nat 54 temos cerca de duas dezenas de referências. Contamos contigo para a aumentar e melhorar a informação disponível sobre a tua subunidade. Diz-me por onde andaste, desde que saíste de Bolama. Passas a ser o grã tabanqueiro nº 587.  Por outro lado, é pressuposto conheceres e aceitares as nossas regras de bom convívio. Manda mais fotos, se tiveres. Dá um abraço ao Henrique quando o vires.
 _______________

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9510: Em busca de... (185): Pessoal da companhia de São João, a que pertencia o Fur Mil Hércules de Sousa Lobo, vítima da explosão do primeiro fornilho na história da guerra, colocado no troço da estrada entre Faracunda e Nova Sintra, em julho de 1963 (Sol da Esteva, autor do blogue Acordar Sonhando)


Guiné > Zona de Quínara > Tite > BCAÇ 237 (cujos comando e CCS estiveram sediados em Tite, entre julho de 1961 e outubro de 1963) > O estado em que ficou a GMC, sinistrada devido ao rebentamento do fornilho na estrada Fulacunda, São João,  entre Nova Sintra e Faracunda...


Imagens:© Sol da Esteva / Blogue Acordar Sonhando (2011). Todos os direitos reservados

1. Sol da Esteva é um leitor do nosso blogue (e, possivelmente, também um camarada da Guiné). Tem um blogue de poesia onde já publicou pelo menos um poema (intitulado Batalha) do nosso camarada Santos Oliveira. Também dedicou uma homenagem à Manuela França, ex-cap enf paraquedista, falecida em 27/12/2011


O blogue chama-se Acordar Sonhando, foi criado em novembro de 2010, e é visitado por camaradas nossos.  De acordo com o seu perfil no Blogger, o Sol da Esteva (pseudónimo) vive em Vila de Nova de Gaia, é delegado de marketing, tem formação em Relações Públicas, Comunicação e Marketing, da Católica do R.J. [Rio de Janeiro]. É casado, tem uma filha e dois netos. A avaliar pelas canções (dos anos 60) que fazem parte do fundo musical do seu blogue, é um homem da nossa geração. 


Tudo indica que o nosso poeta tenha estado na Guiné, a avaliar pelas imagens que nos acaba de mandar, e que têm a ver com o poste P9507 (*) em que se pediam informações sobre a companhia do Fur Mil cabo-verdiano Hércules de Sousa Lobo, vítima do primeiro fornilho usado pelo PAIGC na Guiné. O Sol da Esteva acrescenta, na legenda das fotos: "Não possuo ou lembro (sic) outras informações"...

A informação que nos mandou, por mail, esta manhã é a seguinte:

"Várias Baixas, na Companhia de S. João, pelo acionamento de mina/fornilho, na Estrada de S. João (Jul 63), entre Nova Sintra e Faracunda, mais a sul. As baixas foram deslocadas para Tite (BCac 237) e depois remetidas para o Hospital Militar, pelos meios adequados. 

"Não havia nenhum bidão de combustível, na viatura. Apenas a gasolina que a GMC tinha no depósito. Doutro modo acabaria calcinada, e pode ver-se que não, pela imagem abaixo feita já no quartel de Tite. A coluna fazia o patrulhamento habitual (demasiado rotineiro) que lhe era cometido, até ao cruzamento de Nova Sintra."


2. Comentário do editor:


Ficamos a saber que:


(i) O Fur Mil Hércules de Sousa Lobo pertencia uma força que fazia um patrulhamento de rotina na estrada São João - Fulacunda;


(ii) A GMC onde ele ia acionou um engenho explosivo (fornilho), colocado no troço entre Faracunda e Nova Sintra, antes portanto do cruzamento para Tite;


(iii)  Essa força vinha de São João e devia pertencer à companhia lá sediada. 


Temos, portanto,  que saber que companhia (ou pelotão) estava estacionada em  São João, nessa época (julho de 1963). Pede-se a colaboração dos nossos leitores. Um abraço de reconhecimento e apreço  para o Sol da Esteva.
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Nota do editor:

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8575: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): Balanço da actividade não-operacional, em banda desenhada... (Santos Oliveira)


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (1965/67) > Cópia da capa da brochura da da História da Unidade (*)


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (1965/67) >  Resumo, ilustrado, da actividade não operacional do batalhão, entre Abril de 1965 e Abril de 1967.

Fotos: © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados.


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967)  > Campanha do arroz:  Transporte, de 300 toneladas  (Abril de 1965) a 3236 (Abrild e 1967)



Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > Acção psicossocial: (i) Cuidados de saúde: De 4472 consultas a 11722; (ii) Ensino: De 1 a 6 escolas escolas (em Enxudé, Ilha das Galinhas, Jabadá, Fulacunda, Empada e Tite); de 62 a 800 alunos matriculados




Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > Construções militares: 11 (Abril de 1965); 28 (Abril de 1967); Abastecimebnto de água: 10, 2 mil metros cúbicos (Abrild e 1965); 55,5 mil metros cúbicos (Abril de 1967)... O quartel de Tite era considerado um dos melhores senão o melhor da Província...




Guiné > Região de Quínara > Tite > Região de BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > Construção de estradas e caminhos: mais 22,5 km no final da comissão; Assistência religiosa: construção de uma mesquita (muçulmana) (em Tite, onde só havia uma igreja, católica).



Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > População apresentada às autoridades portuguesas: 3435 (Abril de 1965);  9955 (Abril de 1967): Campanha da mancarra: Transporte:  57 toneladas em Abril  de 1967. (**)

Excerto da História da Unidade (**):







[ Edição e legendas: L.G.]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2504: BCAÇ 1860 (1965/67), o 3º Batalhão em Tite (Santos Oliveira)

(**)  Fonte: História da unidade, conforme documentos digitalizados pelo nosso camarada Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66), enviados  por mail em 2008... 

A banda desenhada parece estar assinada, mas essa eventual assinatura é ilegível...  Diga-se, de passagem, que  se trata de uma notável ilustração, feita por camarada talentoso, um trabalho tecnicamente difícil, pois era gravado e reproduzido em "stencil"...

Lista, organizada pelo Santos Oliveira, das sub-unidades do BCAÇ 1860 (Tite,  Abril de 1965/Abril de 1967)> Sub-unidade, sub-sector, período, comandante

(i) CArt 565, Fulacunda, antec /10Ago65, Cap Reis Gonçalves;

(ii) CCav 677, S. João, antec. 20Abr66, Cap Pato Anselmo, Alf Ranito, Cap Fonseca;

(iii) CCaç 797, Interv, 29Abr65/16Mai66, Cap Soares Fabião;

(iv) CCaç 1420, Fulacunda, 11Ago65/08Jan66, Cap Caria, Alf Serigado, Cap Moura; [Recorde-se que a esta infortunada companhia pertenceu, como alferes, o nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira];

(v) CCaç 1424, S. João, 11Set65/25Nov65, Cap Pinto; [Companhia que também foi comandada pelo querido amigo e camarada Nuno Rubim, de Junho a Dezezembro de 1966];

(vi) CCaç 1423, Fulacunda e Empada, 30Out66/23Dez66, Cap Pita Alves;

(vii) CCaç 1487, Fulacunda, 08Jan66/15Jan67, Cap Osório;

(viii) CCaç 1549, Interv, 26Abr66, Cap Brito;

(ix) CCaç 1566, S. João e Jabadá, 19Mai66, Cap Pala e Alf Brandão;

(x) CCaç 1567, Fulacunda, 01Fev67, Cap Colmonero;

(xi) CCaç 1587, Empada, 27Nov66, Cap Borges;

(xii) CCaç 1591, Fulacunda (treino operacional), 18Ago66/01Out66, Ten Cadete;

(xii) CArt 1613, S. João (treino op), 03Dez66/15Jan67, Cap Ferraz e Cap Corvacho; [ A esta companhia pertenceu, entre outros, o nosso saudoso  Zé Neto (1929-2007), o primeiro membro da Tabanca Grande a quem a morte levou];

(xiii) CCaç 1624, Fulacunda, 05Dez66, Cap Pereira;

(xiv) Pel Mort 912, Jabadá, antec /26Out65, Alf Rodrigues;

(xv) Pel Caç 955, Jabadá, antec/13Mai66, Alfs Lopes, Viana Carreira, Sales, Mira;

(xvi) Pel AM Daimler 807, Tite, antec/13Mai66, Alf Guimarães;

(xvii) Pel Art 8, Fulacunda, 10Fev66/03Mar66, Alf Machado;

(xviii) Pel Caç 56, Fulacunda e S. João, 31Out66, Alf Dias Batista;

(xix) Pel Mort 1039, Jabadá e Tite, 26Out65, Alf Carvalho;

(xx) Pel AM Daimler 1131, Tite, 12Ago66, Alf Antunes;

(xxi) Companhia de  Milícia 6, Empada, antec, Alf 2ª Mamadi Sambu e Dava Cassamá;

(xxii) Companhia de  Milícia 7, Tite, 05Ago65, Alf 2ª Djaló;

Estas sub-unidades foram atribuídas ao BCaç 1860 durante a permanência em Sector (desde Abr65).


[Imediatamente após a sua chegada à Guiné, o BACÇ 1860 entrou em Sector. Foi-he atribuído o Sector S1, integrado no Agrupamento Sul. Principais localidades: Tite, Fulacunda, S. João e Jabadá. Em Outubro de 1966 é atribuído ao Batalhão o Sub-Sector de Empada, enquadrando as penínsulas de Darsalame e Pobreza. Concomitantemente, passa a pertencer ao BCAÇ 1860 a CCAÇ 1423, aquartelada em Empada.]