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terça-feira, 2 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21960: O segredo de... (35): José Ferraz de Carvalho (ex-fur mil op esp, CART 1746 e QG, Xime e Bissau, 1968/70): "Não matem a bajudinha!"


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74) > População sob controlo do PAIGC, no subsetor do Xime, capturada no decurso da Acção Garlopa, em 19 de julho de 1972, num total de 10 elementos.

Foto (e legenda): © Sousa de Castro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem conplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Voltamos a publicar este texto do  José Ferraz de Carvalho  (ex-Fur Mil, Op E Esp, CART 1746, e QG, Xime e Bissau, 1968/70); radicado em Austin, Texas, EUA, desde meados de 1970, tem duas dezenas de referências no nosso blogue: faz parte da Tabanca Grande desde 19 de novembro de 2011 (*); é autor da série "Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz";  tratando-se, de algum modo, de um "confissão" ou "confidência", este texto  (***) merece ser reproduzido agora na série "O segredo de..." (****)


O segredo de... (35): José Ferraz de Carvalho:
 "Não matem a bajudinha!"


Falando de acção psicossocial, de que sempre fui partidário, lembrei-me que, durante uma operação de penetração ao sul do Xime, aprisionámos 2 elementos IN.

Depois de interrogados, guiaram-nos a uma tabanca IN. Fizemos um assalto e durante esse combate ferimos uma miúda, bajuda, com um tiro por detrás do joelho que lhe destroçou a patela [ ou rótula].

− Mata a miúda...  − disse alguém.

− Não mata nada − disse eu  [, que estava a comandar o 2º  pelotão].

E ordenei ao meu pessoal para fazer uma liteira, trazendo a bajuda para o Xime de onde foi posteriormente helitransportada para o hospital em Bissau. Oxalá ainda seja viva.

Nem tudo na guerra é destruição. Talvez alguém dos meus tempos no Xime se lembre deste episódio.

Mas ainda a respeito desta bajudinha do Xime, alguém que não tenha estado nesta situação, é capaz de não perceber o que me levou a fazer o que fiz.... 

Por outro lado, se alguém que tenha estado lá comigo se lembrar [deste episódio], seguramente dirá que o tempo que levámos a preparar a liteira, deu tempo ao IN para começar a mandar morteiradas para dentro da tabanca e tiroteio de armas ligeiras como eu nunca tinha visto. De facto, poderia ter causado sérios problemas, mas graças a Deus tudo correu bem.

A minha intenção é apenas a de dizer publicamente que nós, no mato, e em situações de perigo, tínhamos coração e respeito pela vida humana, nem sempre tudo era ronco e destruição de tudo por onde pássavamos - a [alegada política da] "terra queimada".
 
PS - Curiosamente fui eu que fiz os prisioneiros... Íamos a sair da mata para uma abertura com capim talves de meio metro de altura e um trilho que cruzava essa abertura em sentido perpendicular ao nosso sentido de marcha (se bem me lembro eram dois e não um) quando nos demos conta que eles vinham na nossa direcção a conversar e, portanto, não se deram conta de nós ( ainda bem que tinha ensinado ao "pessoal balanta" os sinais aprendido em Lamego). 

Indiquei que se alapassem e eu deitei-me de costas para o chão ao lado desse trilho. Quando, eles se deram conta de mim, só talvez a um par de metros donde eu estava deitado, levanteio torso, apontei-lhes a G3 e disse: "A bo firma ai"...  Tremiam como se tivessem visto um fantasma e eu ri-me... Foram então levados para junto do comandante dessa operação,  interrogados e vocês ja sabem o resto da história. 

Também me lembro agora uma histária mais do Júlio [, o nosso "pilha-galinhas"] (*****) que, como responsável pelos dilagrams,  andava sempre ligado a mim. Quando o contra-ataque se desencandeou, ele e eu abrigámo-nos detrás de um baga baga enorme. Começámos a responder e o Júlio por um lado de baga baga e eu pelo outro tivemos que nos desabrigar. Disse-lhe para onde atirar os dilagramas e dou-me conta de que o Júlio de joelhos no chão a disparar dilagramas e cai pra frente, redondo. 

Atirei-me para junto dele com terrível ansiedade porque estava convencido que ele tinha sido ferido. Quando me dei conta que estava vivo a primeira coisa que me disse foi: "Furriel, os meus tomates?"... Houve mais tiroteio,  acabou o contacto, levanto-me, ajudo o Júlio a levantar-se e, quando de pé ele puxa as calças abaixo dos "tomates",  lá estava um buraco de bala, uns centimetros mais a cima e pobre pobre do Júlio!...  Disse-lhe em descarga nervosa: "Ah,  Júlio ainda bem..., senão nunca mais comíamos galinha" ...

José Ferraz

2. Comentário do editor LG:

Poderá ter-se tratado  da Op Baioneta Dourada, iniciada em 2 de Abril de 1969, na área de Poindon / Ponta do Inglês, às 0h00, com a duração prevista de dois dias, e com o objetivo de "se completarem as destruições dos meios de vida na área, executadas quando da Op Lança Afiada [8-18 de Março de 1969]".

As NT eram constituídas por dois 2 destacamentos:

(i) Dest A: CART 1746 (Xime) (a 3 Gr Comb) + CCAÇ 2314 (Tite e Fulacunda, 1968/70))(1 Gr Comb);

(ii) Dest B: CCAÇ 2405 (Galomaro) (a 2 Gr Comb) + CCAÇ 2314 (Tite e Fulacunda, 1968/70) (1 Gr Comb).

Oportunamente, poderemos publicar um excerto do relatório desta operação, em que foi capturado um elemento IN, desarmado [, o Zé Ferraz refere dois elementos]. Na exploração imediata de informações dadas pelo prisioneiro, o Dest A fez uma batida à zona, surpreendendo "9 homens sentados acompanhados de 2 mulheres" (sic). Aberto fogo, foram capturadas as duas mulheres, feridas [, O Zé Ferraz refere apenas um "bajudinha", ferida].  Os restantes elementos fugiram, com baixas prováveis.

Entretanto, "ao serem prestados os primeiros socorros às mulheres feridas, um grupo IN de efectivo não estimado flagelou as NT durante cerca de 6 minutos com LGFog, mort 60 e cerca de 6 armas automáticas", sem consequências para as NT.

(Fonte: BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70. História da Unidade. Cap II, pp. 78/79).

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9065: Tabanca Grande (307): José Ferraz de Carvalho, português há mais de 40 anos nos EUA, ex-Fur Mil da CART 1746 (Xime, 1969)

(...) Em 1965 o pai  [oficial superior da Marinha]foi nomeado para ser o Senior Portuguese Officer no SACLANT [The Supreme Allied Commander Atlantic,], em Norfolk, Virgínia. Vim então estudar Engenharia nuclear para o Virginia Politecnical Institute, mas tive que ir primeiro para o Old Dominion College para fazer estudos de habilitação.

Sempre quis fazer tropa e estava aqui com uma licença militar porque era da incorporação de 65. Lisboa nunca me reconheceu os meus estudos aqui, pelo que em vez de ir para Mafra [, COM], fui para as Caldas [, CSM].

(...) Ofereci-me como voluntário para a 16ª Companhia de Comandos com a qual cheguei a Guiné em 68 [, 16 de agosto]. No fim da fase operacional [, IAO, que decorreu em Bula, Binar e Có, em setembro] não quis ser comando e fui então destacado para a Cart 1746, Xime, onde o Capitão [António] Vaz [ 1939-2015] me responsabilizou em formar um grupo de combate com o segundo pelotão cujo alferes tinha sido enviado para Lisboa doente" (...).

O J. Ferraz de Carvalho, uma vez terminada a comissão da CART 1746, em junho de 1969, foi colocado em Bissau, no QG, e deve ter regressado à Metrópole, com a 16ª Ccmds, em 24 de junho de 1970 (**)..
.



(*****) Vd. poste de 30 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9116: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (10): Júlio, o pilha-galinhas do Xime

domingo, 31 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21831: Tabanca Grande (509): Manuel Alves da Palma, ex-1.º Cabo Atirador da CCAÇ 4142/72, Gampará, 1972/74. Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 827


1. Em mensagem do dia 29 de Janeiro de 2021, o camarada Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, tertuliano n.º 2 do nosso Blogue, envia-nos a inscrição na nossa tertúlia de mais um tertuliano que se vem sentar à sombra do nosso "Poilão Sagrado":

Caros amigos,

Apresento a todos os “atabancados” à sombra da Tabanca Grande um camarada que tal como nós calcorreou as matas da Guiné.
Curiosamente para além de ser um camarada d’armas, é também um camarada de trabalho do tempo do saudoso Estaleiros Navais de Viana do Castelo, onde foi soldador, trabalhámos naquela empresa sem que nunca tivéssemos tido oportunidade de falarmos sobre as nossas guerras devido a trabalharmos em áreas e secções diferentes.

Foi através das redes sociais que descobrimos termos algo em comum, ele esteve em Gampará e eu no Xime, embora a minha CART 3494 um pouco mais antiga, as nossas companhias ajudavam-se mutuamente quando era necessário apoio de fogo.

Chama-se:
Manuel Alves da Palma, nasceu a 07JAN1951
Ex-1.º Cabo Atirador da companhia independente CCAÇ 4142/72 (Herdeiros de Gampará);
Reside em Areosa - Viana do Castelo.

A companhia começou a ser formada em Junho de 1972 no RI 1 na Amadora, depois da instrução de especialidade rumou à Guiné a 16SET1972 onde no Cumeré fez o IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional).

Finda a instrução é colocada em Gampará a 18OUT1972 onde rendeu a CART 3417 (Os Magalas de Gampará).

Finda a comissão regressaram em Agosto de 1974.

É elemento activo do Grupo Etnográfico de Areosa para além de se dedicar à pesca.

Com amizade,
A. Sousa de Castro
Janeiro, 2021


Fotos de Manuel Palma nas suas actividades lúdicas e culturais

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2. Nota de Sousa de Castro:

Fotos de Gampará do tempo do Manuel Palma, onde aparece retratada uma canoa que faz lembrar a do Poste 21822:


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3. Comentário do editor CV:

Caro Sousa de Castro, muito obrigado por apresentares o teu amigo e nosso camarada Manuel Palma à tertúlia.

Caro Manuel Palma, sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande, apadrinhado pelo teu amigo Sousa de Castro, com quem laboraste nos Estaleiros de Viana do Castelo. Como ele, também tu palmilhaste as terras cor de sangue da Guiné.

Futuramente, caso tenhas endereço de correio electrónico, poderás comunicar directamente connosco, caso contrário, contaremos com a colaboração do Sousa de Castro no papel de intermediário.
Deverás ter em conta que as fotos enviadas futuramente devem ser acompanhadas de legendas, referindo a data, o local e os retratados. Também esperamos que nos envies a narrativa de algumas das tuas memórias, as que consideres mais significativas. Podes sempre contar connosco para qualquer esclarecimento.

Ficas com o lugar virtual 827 da nossa tertúlia, onde poderás instalar-te. Navega e explora o nosso Blogue onde encontrarás inúmeras memórias fotográficas e escritas.

Recebe um abracelo da tertúlia e dos editores que ficam ao teu dispor.
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21827: Tabanca Grande (508): Joaquim Costa, ex-fur mil at Arm Pes Inf (CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74), natural de Vila Nova de Famalicão; senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 826

sábado, 12 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21635: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (6): Votos de Feliz Natal e lembrete sobre o próximo 35.º Encontro do pessoal da CART 3494 / BART 3863 (Xime e Mansambo, 1971/4), em 5 de junho de 2021, em Carapinheira, Montemor-O-Velho (António Sousa de Castro)




1. O nosso grã-tabanqueiro n.º 2, o histórico António Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), minhoto, com mais de 160 referências no nosso blogue, manda-nos o tradicional cartão de boas festas, para toda a Tabanca Grande, o que retribuímos com votos de saúde e longa vida, e um melhor ano de 2021.

Lembra, entretanto,  que já está marcado, desde o ano transacto, o 35.º encontro anual do pessoal da CART 3494: será no dia 5 de junho de 2021, na Carapinheira, Montemor-O-Velho, 

Que se vai mesmo realizar, desde que a senhora dona Covid-19 deixe as tropas abancar... 

Contacto: António Bonito (, nosso grã-tabanqueiro):  telem 96 352 97 64 / telef 233 920 441.
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de dezembro de  2020 >
Guiné 61/74 - P21631: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (5): De Nova Iorque, Queens, "Merry Christmas" para todas as tabancas e tabanqueiros de boa vontade (João e Vilma Crisóstomo)

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21056: Tabanca Grande (494): Edgar Tavares Morais Soares, ex-Fur Mil Op Especiais da CCS/BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), 808.º Grã-Tabanqueiro da nossa tertúlia

1. Por intermédio do camarada Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, tertuliano n.º 2 do nosso Blogue, chegou até nós esta mensagem de Edgar Tavares Morais Soares, ex-Fur Mil Op Especiais da CCS/BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), com data de 28 de Abril de 2020, que, apadrinhado pelo Sousa de Castro, passa a partir de hoje a figurar entre os antigos combatentes da Guiné sentados à sombra do nosso poilão sagrado. 

Edgar Soares passa a ser o 808.º Grã-Tabanqueiro do nosso Blogue e escreveu o texto abaixo em memória do Tenente Graduado Comando Abdulai Queta Jamanca, Comandante da CCAÇ 21.

Carísimo! 

Escrevi este texto no dia 25 de abril em respeito à memória de um bravo homem, Tenente Jamanca da CCAÇ 21, fuzilado como todos os homens da sua Companhia, com quem partilhei várias situações de “desprezo” pela vida em defesa de uma causa que no fundo nos empurrava para aquela situação de sobreviver, “matando para não morrer”, em nome da Pátria…

Edgar Soares
Ex-Fur Mil Op Esp


Edgar Soares em Bambadinca


Edgar Soares na actualidade


Bambadinca: messe de sargentos


Uma festa em Bambadinca na messe de sargentos


Bambadinca: Equipa de futebol

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Hoje, 25 de abril, de 2020, também a mim me apetece contar algumas histórias das minhas vivências da época.

Como todos os Portugueses de boa memória, é obvio e natural que rejubilei com os acontecimentos e princípios que presidiram ao 25 de abril de 1974. Todavia, existe um passado que se torna sempre muito recente no meu ego, que me persegue muito profundamente e, como tal, não posso mais calar.


1.º Cabo Comando Jamanca
Como à data, 1974, denunciei, fui militar na Guiné, durante 27 meses e meio, com términos da comissão a 04 de abril de 1974, data de desembarque em Lisboa. Na Guiné, estive integrado no BART 3873, sediado no setor Leste, na região de Bambadinca. 

Do nosso Batalhão, faziam parte as Companhias CCS, CART 3492, CART 3493 e CART 3494, que ocuparam os aquartelamentos, respetivamente, de Bambadinca, Xitole, Mansambo e Xime. Em Bambadinca, tínhamos um centro de formação de tropas nativas, e, afeta à CCS, uma Companhia de Intervenção nativa, a CCAÇ 12, comandada pelo Capitão Bordalo,  ranger, que viveu os seus últimos anos em Lamego, sendo os mais graduados do continente. 

Posteriormente, a CCAÇ 12, foi rendida por uma outra companhia de nativos, na sua totalidade, a CCAÇ 21, comandada pelo magnifico Tenente Jamanca.

Ainda como tropas nativas, tínhamos múltiplos pelotões de milícias, em autodefesa, nas zonas de Mato Cão, Amedalai, Finete, Fá Mandinga, Missirá, Enxalé, no reordenamento de Nhabijões, etc…

Durante o Comando-Chefe do General Spínola, na Guiné, foi desenvolvida toda uma Acção Psicológica, junta das populações nativas e até das nossas tropas, onde destaco a máxima “Guiné de Hoje Guiné Melhor”, e mal daquele que agredisse, fisicamente ou verbalmente, um nativo… 

Mais se dizia nessa “Psico”, “juntem-se a nós, porque quando a independência chegar, vocês serão os futuros detentores do poder que vier a ser constituído”.

Foi então naquele contexto militar, e já com o General Bettencourt Rodrigues a render o General Spínola, que ali permaneci com os meus camaradas de armas. Após 15 dias do regresso, por términos de comissão, aconteceu o 25 de Abril, estando eu nesse mesmo dia, por coincidência, no Quartel do RAP 2, em Gaia, quando chegou a notícia que estava a haver um levantamento militar em Lisboa…

Muito rapidamente, notou-se o Povo a começar a vir para a rua e então logo se começaram a ouvir alguns gritos, que se foram tornando muitos: - “liberdade, abaixo o fascismo, morte à Pide…” e muitos outros slogans que as circunstâncias impunham…

Lembro-me de estar no meio de um tiroteio, na Av. Rodrigues de Freitas, frente à biblioteca, em S. Lázaro e ter socorrido uma jovem que, ao fugir tropeçou, bateu com a cabeça na berma do passeio e desmaiou. Os tiros vinham da esquadra da PSP e de uma viatura da mesma polícia que, entretanto, estava a ser apedrejada pelos populares…

Sim! Sim! Sim! Viva o 25 de Abril, enquanto movimento de uns tantos militares, “os capitães de abril”, em luta pela liberdade intelectual e moral de um Povo amordaçado no falar, no dizer, de pensamento condicionado pela censura, com toda a sua juventude refém de acontecimentos inopinados, motivados pela obrigatoriedade do cumprimento do serviço militar…

Entretanto, decorridos os primeiros entusiasmos, eis que o poder, depois de ter passado pela rua, “MFA/POVO/POVO/MFA”, é entregue aos supra interesses “manipulados e manipuláveis” dos emergentes políticos, que, com retóricas, quais as mais iluminadas, perante um povo vazio de doutrinas ideológicas, mais preparado para um seguidismo fácil, e foi assim que vimos o processo a evoluir, abruptamente, com vários ziguezagues, até ao ponto aonde eu agora quero chegar... A descolonização.

Com aquele processo de descolonização, das nossas então províncias ultramarinas, surgiu, quanto a mim, uma das maiores vergonhas da nossa história… Após guardarem os CRAVOS, eis que se fez jorrar o SANGUE dos “mártires portugueses agora anónimos” do 25 de Abril…

Sabiam que de um momento para o outro, àqueles portugueses, tropa nativa, que sempre estiveram na linha da frente, ao nosso lado, a lutar tal como nós, por ideias e ideais um tanto desconhecidos de muitos, mas que nos eram impostos, ao serviço da PÁTRIA, lhes foram retiradas todas as armas e mais elementos de defesa, pessoal e coletiva?

Sabiam que aqueles autênticos guerrilheiros foram deixados ficar para trás, pela sua Pátria de então, entregues única e exclusivamente às suas sortes, acabando, na sua grande maioria, foragidos nas matas?

Sabiam que os nossos políticos outorgantes da Independência ao PAIGC, os deixaram sem qualquer obrigatoriedade de indulto impositivo, para não terem de enfrentar os pelotões de fuzilamento, do inimigo de outrora?

Sabiam que todos aqueles que estiveram identificados como nossos tropas ou aliados, foram passados a bala, em fuzilamentos individuais e coletivos, sem qualquer possibilidade de defesa, vindo a ser sepultados uns e enterrados outros, quais campos nazis, em balas comuns, quantos deles, soldados sargentos e oficiais, “Tenente JAMANCA”, com condecorações múltiplas por atos e atitudes de distinção ao serviço da PATRIA? 

Pois tudo isto se passou e muito mais, o que considero a vergonha do “25 de ABRIL” …

Mas, reparem os comentadores e nossos historiadores, que não foram só os nossos soldados, sargentos e oficiais nativos que enterramos ingloriamente!!! Que havemos de pensar e dizer de todos aqueles que um dia também daqui partiram com os mesmos propósitos militares, ao serviço da PÁTRIA, e lá tombaram, ou regressaram, com problemas de natureza múltiplas, outros tantos com as mesmas condecorações, pelos mesmos atos de distinções??? 

Não estará na hora de nos perguntarmos, portugueses, se tudo pelo que passamos, os de cá e os de lá, valeu a pena?...

É bem capaz que os maiores culpados dos acontecimentos supra, sejam os do velho regime, “Fascismo”, até por não terem sabido ou querido resolver os problemas da independência a seu tempo!!! Na realidade, cada um por si, se me afigura que o socialismo e as outras ditas ideologias, democráticas, também não estiveram em nada melhor na gestão daquela “herança”, e bem pior, desonraram-se e desonraram historicamente todo um Povo... “Por negligência agnóstica?” Não acredito. Com certeza, outros valores que a razão ainda quer desconhecer, estiveram por detrás de todos aqueles acontecimentos…

Uma coisa é certa, toda uma geração, que também é a minha, terá que ficar com a amargura dos factos da história não contada, desvirtuada no nosso desempenho de serviço à dita PÁTRIA, ficando-nos sem dúvida, como maior consolação, as muitas amizades que ao tempo fomos acumulando, lá e cá, e que vamos alimentando nos momentos que promovemos dos sãos convívios dos velhos “guerrilheiros”…

Como dizia o Camões, para o bem e para o mal:
- “…DITOSA PÁTRIA QUE TAIS FILHOS TENS” (?)…

“Glória aos vencedores, honra aos vencidos”!...
Descansa em Paz,  JAMANCA e Todos Aqueles que te acompanharam na dita e na desdita!...

Alvarenga 25 de abril de 2020
Edgar Soares

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2. Comentário do editor:

Caro Edgar Soares, bem-vindo à nossa Tabanca Grande e à sombra do nosso poilão.

Como não temos lugares marcados, que estão todos de acordo com as normas de afastamento e segurança nesta época de COVID, podes entrar e sentar-te onde quiseres. Prepara os teus textos e fotos, que partilharás connosco na cadência que te convier, para que possas contribuir com as tuas memórias de guerra. 

Quem sabe, não estaremos a fazer história e a deixar aos nossos vindouros registos na primeira pessoa para que se possa fazer a história da guerra na Guiné.

O BART 3873 tem 189 entradas no Blogue, muitas delas graças ao Sousa de Castro, julgo eu, mas, como sargento da CCS, terás outras perspectivas e outras vivências a contar-nos.
Estamos ao teu dispor em luis.graca.prof@gmail.com e/ou nos endereços dos outros dois editores, Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães, que encontrarás na aba esquerda da nossa página.

Em nome da tertúlia e dos editores, deixo-te um abraço de boas-vindas. Carlos Vinhal,
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20900: Tabanca Grande (493): José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã, ex-alf mil inf, CCAÇ 2753, "Os Barões do K3" (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába, 1970/72): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 807

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20485: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (11): Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1971/74)





NATAL 2019


Mensagem de Boas Festas para todos os antigos combatentes, em especial para o pessoal da CART 3494. 


Faz 48 anos (Dezembro 1971/2019) que o BART 3873 (Bambadinca, 1971/74),  composto pela CCS, e pelas CART 3492, 3493, 3494, bem como uma companhia independente, a CART 3521, celebraram a consoada em Alto-Mar, a bordo do N/M NIASSA, a caminho da Guiné.



Foi numa comissão ao serviço do Estado Português que se prolongou durante 27 meses e alguns dias. O regresso aconteceu a 3 de Abril de 1974.

Sousa de Castro


PS - Aproveito para lembrar que o  35º encontro do pessoal da CART 3494 é em Montemor-o-Velho, em 6/6/2020, estando a organização a cargo do ex-fur mil Bonito. Contactos: telef 233 920 441 / telem 963 529 764

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Nota do editor:

terça-feira, 30 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19730: Convívios (890): XXXIV Almoço/Convívio do pessoal da CART 3494/BART 3873, dia 1 de Junho de 2019, na Carapinheira - Montemor-o-Velho (Sousa de Castro / António Bonito)

1. Em mensagem de 29 de Abril de 2019, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos para publicação o anúncio do XXXIV Almoço/Convívio do pessoal da sua Companhia, a levar a efeito no próximo dia 1 de Junho, na Carapinheira - Montemor-o-Velho.



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Nota do editor

Último poste da série de 9 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19661: Convívios (889): XXXVI Encontro do pessoal da CCAÇ 2317, dia 1 de Junho de 2019, no Restaurante Ramirinho II - Marecos - Penafiel (Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf)

quinta-feira, 14 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19584: Em busca de... (296): O ex-1.º Cabo At Alberto de Aparecida Couto do Pel Caç Nat 54 já contactou com o seu camarada José Augusto da Silva Dias, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BART 3873 que o salvou de morrer afogado no rio Geba (Sousa de Castro)

1. Em mensagem do dia 12 de Março, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) dá-nos notícia do reencontro entre o ex-1.º Cabo Atirador Alberto de Aparecida Couto e o Soldado José Augusto da Silva Dias da CCS do BART 3873.

Boa noite, 
Caros amigos, em anexo a notícia de que ao fim de 46 anos, dois camaradas se encontraram (por via telefónica) recordando uma quase tragédia passada em Bambadinca em 1973. 

Saudações veteranas, 
Sousa de Castro


Foi com muita emoção que Alberto D’Aparecida Couto, ex-1.º Cabo Atirador do Pel Caç Nat 54 [foto à esquerda], conseguiu encontrar na zona do Barreiro, o amigo José Augusto da Silva Dias, a quem procurava há quarenta e seis anos.
Aconteceu hoje, dia 11 de Março de 2019. Não foi o encontro pessoal como gostaria, foi pelo telefone, através do qual recordaram esse momento quase trágico, com a promessa de se encontrarem em data a designar.

Recordo que o José Dias integrou a CCS do BART 3873 com a Especialidade de Soldado Maqueiro. Foi o homem que no dia 30 de Abril de 1973 salvou o 1.º Cabo Couto de morrer afogado na travessia do rio Geba em Bambadinca quando se virou a canoa que os transportava juntamente com outros camaradas. Quando se apercebeu de que um deles não sabia nadar, lançou-se de imediato à água, conseguindo arrastar para terra o 1.º Cabo Couto.
Esta ação valeu-lhe um louvor pelo Comandante do BART 3873.

Conseguimos!... Foi com esta frase que Susana Couto, filha do 1.º Cabo Couto, exprimiu toda a alegria, satisfação por conseguir que seu pai pudesse agradecer uma vez mais ao seu salvador.

Esta ação foi desencadeada devido à sua persistência, quer através das redes sociais, contactos familiares e outros e, acima de tudo, muita teimosia em atingir objetivos a que se propôs.

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2. Algumas palavras do telefonema entre o Alberto Couto e o José Dias.

Conta a sua filha Susana na sua página do Facebook.
Dia 11 de Março de 2019 ás 14,55 horas

A procura acabou! O dia que nunca será esquecido das nossas memórias!
Alberto: Oh Dias! És tu Dias?! Onde é que tu estás? Há 46 anos que te procuro! Onde é que tu estás Dias?!
Foram palavras que nos deixaram em lágrimas quando o meu pai ao telemóvel falou com o camarada que tanto queria encontrar! O camarada, o anjo que lhe salvou a vida há quase 47anos!

Hoje mais que nunca agradeço a Deus e a muita gente que ajudou nesta procura (vocês sabem quem são) cada um terá sempre todo o meu respeito e carinho, nunca me vou esquecer de todo o apoio e ajuda nesta procura que acabou hoje.

Muito obrigada de coração!
Susana Couto

A. Castro,
Ex-1.º Cabo Radiotelegrafista
CART 3494/BART 3873
Guiné JAN72/ABR74
Xime, Bambadinca e Mansambo
11MAR2019
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Notas do editor:

Vd. poste de 25 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19529: Em busca de... (294): O ex-1.º Cabo At Alberto de Aparecida Couto do Pel Caç Nat 54 procura o seu camarada José Augusto da Silva Dias, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BART 3873 que o salvou de morrer afogado no rio Geba (Sousa de Castro)

Último poste da série de 27 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19537: Em busca de... (295): SOS, Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11, LMPQF, Angola (1971/73)... Procuro o ex-fur mil Morgado, natural da região de Santarém, partilhámos o mesmo camarote no N/M Vera Cruz, trabalhámos juntos, não nos vemos há 46 anos... (António Mário Leitão, Ponte de Lima)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19529: Em busca de... (294): O ex-1.º Cabo At Alberto de Aparecida Couto do Pel Caç Nat 54 procura o seu camarada José Augusto da Silva Dias, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BART 3873 que o salvou de morrer afogado no rio Geba (Sousa de Castro)

1. Em mensagem do dia 22 de Fevereiro de 2019, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) enviou-nos para publicação este apelo do ex-1.º Cabo Atirador Alberto de Aparecida Couto que procura o Soldado José Augusto da Silva Dias da CCS do BART 3873.

Boa noite, 
Caros camaradas, em anexo um apelo que gostaria ver publicado no nosso Blogue. 

Saudações veteranas, 
Sousa de Castro 
CART 3494 - Guiné


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19445: Em busca de... (293): O sobrinho do Marinheiro Radarista Ademar da Silva, natural de Matosinhos, pede que o ajudem a esclarecer as circunstâncias do desaparecimento de seu tio, em 24 de Junho de 1968, assim como do 2.º Sargento Ricardo Manuel Serpa Bettencourt, natural de Angra do Heroísmo (Artur Santos)

sábado, 22 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19320: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (9): Faz hoje 47 anos que parti para o CTIG, com o meu BART 3873, e a minha CART 3494 (António Bonito, ex-fur mil)


Lisboa > 22 de dezembro de 1971 > Partida do N/M Niassa para a Guiné


Bissau > Chegada do N/M Niassa, a 29 de dezembro de 1971

Fotos (e legendas): © António Bonito / Sousa de Castro  (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



 2. Nota complementar do Sousa de Castro:
Excerto do livro "BART 3873: HISTÓRIA DA UNIDADE"  >  Mobilização


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Nota do editor:

Último poste da série  > 22 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19317: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (8): Ainda ando por cá no reino dos vivos (Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19311: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (6): António Sousa de Castro, o nosso histórico tertuliano nº 2, ex-1º cabo radiotelegrafista, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74)


Cartão de boas festas 2018



Guiné > Região de Bafatá > Setor L1  (Bambadinca) > CATT 3494 (1971/74) > Xime > 1972: Feliz Natal e Próspero Novo... O postal de Natal da praxe, que se mandava aos familiares e amigos. O pessoal da CART 3494 e do respetivo batalhão (BART 3873) passou 3 Natais for de casa (um no N/M Niassa, o 1972 no Xime e o 1973 em Mansambo).

Fotos (e legendas): © Sousa de Castro (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar]


Está vivo e recomenda-se o nosso tertuliano nº 2, um histórico do nosso blogue, [António Sousa de Castro, foto à esquerda, 15 anis mais novo, em 2003]:

(i) ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, 1971/74;

(ii) esteve no leste, no setor L1 (Xime e Mansambo);

(iii)  está reformado como trabalhador  dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo

(iv) vive em Vila Fria, Viana Do Castelo, Portugal

(v)  é natural de  Caminha; e faz anos a 15 de dezembro;

(vii) tem mais de 150 referências no nosso blogue; o seu primeiro poste foi pubicado em 22/4/2005;

(viii) tem página no Facebook desde dezembro de 1971;

(ix) foi  p fundadior, em maio de 2008, e é o  administrador e edita do sítio CART 3494 & Camaradas da Guiné;

A CART 3494, colocada no setor L1 (Bambadinca), no subsecor do Xime, foi transferida em Março/73 para Mansambo; fez parte do BART 3873, que veio render o BART 2917; era omposto pelas unidades da CCS  (Bambadinca), CART 3492  (Xitole9 e CART 3493 (Mansambo, transferida em 1 de abril de 1973 para Cobumba, ficando operacionalmente subordinada ao COP 4; unidade mobilizadora: Regimento de Artilharia Pesada 2 (RAP 2) Vila Nova de Gaia; embarque  a 22/12/1971no  N/M Niassa, regresso 3/4/1974 (por via aérea).

Teve 3 comandantes: Cap Art Victor Manuel da Ponte Silva Marques; Cap Art António José Pereira da Costa (Agosto de 1972); Cap Mil Luciano Carvalho da Costa (Novembro de 1972).

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezemrbo de 2018 > Guiné 61/74 - P19310: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (5): Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); entrou para o nosso blogue há um ano.