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terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)

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Guiné > Região do Oio > Mansabá > CART 2732 ( 1970/72) > Estrada (asfaltada) Mansabá-Farim > O Carlos Vinhal e o Sousa à sua esquerda, segurando uma mina anticarro detectada a tempo e levantada. Em Moçambique, chamavam-se marmitas às minas A/C, devido à sua forma redonda: veja-se a letra do Turra das Minas , um dos mais célebres fados do Cancioneiro do Niassa (1). Carlos Vinhal, nosso mui estimado e valioso co-editor, foi Furriel Miliciano de Artilharia, com a especialidade de Minas e Armadilhas, CART 2732, Mansabá (1970/72).

Foto: © Carlos Vinhal (2006). Direitos reservados.

Foto editada por L.G., alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


Mensagem de 14 de Setembro de 2007, do A. Marques Lopes (natural de Lisboa, hoje coronel DFA, na reforma, e residente em Matosinhos), com mais um texto extraído do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971:


As terríveis minas (e eu que o diga...) e outros engenhos explosivos. Fico-me por aqui esta semana. Na próxima há mais. Bom fim-de-semana
A. Marques Lopes


Comentário de L.G.:


Muitos de nós fomos vítimas de minas, armadilhas, fornilhos e outros engenhos explosivos. Eu fui, o Marques Lopes foi, o Beja Santos foi, o Luís Moreira foi, só para dar três ou quatro exemplos. Outros camaradas, por seu turno, como o Carlos Vinhal e o David Guimarães eram especialistas em minas e armadilhas... O David viu morrer um amigo seu e outro ficou cego, ao manipular um engenho explosivo (1).

Há muitas histórias trágicas destas, passadas no TO da Guiné. Todos tínhamos (e continuamos a ter) muito respeitinho por estes artefactos de morte... E somos a favor da sua proibição absoluta... É a arma dos pobres produzida pelos países ricos...

Por razões de segurança, vamos omitir alguns pormenores técnicos relativos à composição (química) de minas, nesta parte do Supintrep: não queremos que ninguém se ponha, nem a sério nem a brincar, a tentar fabricar um engenho explosivo no sótão ou na garagem... Muito embora na Net haja centenas de sítios sobre essa matéria, com instruções muito específicas, de A a Z, sobre o fabrico caseiro de minas e outros engenhos explosivos...

A nós interessa-nos apenas saber como os guerrilheiros do PAIGC aprendiam a utilizar as minas (ou marmitas, em Moçambique) e como utilizavam esses engenhos explosivos que mataram e feriram gravemente muitos camaradas nossos. Sem esquecer, obviamente, as armilhas que as NT punham à volta dos seus aquartelamentos e destacamentos, ou nos trilhos usados pela guerrilha e pelas populações sobre o seu controlo... ou ainda nas moranças que deixávamos intactas, nas zonas controladas pelo PAIGC .. A nossa guerra (de nós contra o PAIGC e do PAIGC contra nós...) teve muitas faces, não apenas duas, como dizia há tempos o Jorge Cabral: esta seguramente é uma das mais ignóbeis e horrendas...

PS - A qualidade das imagens, sobre engenhos explosivos, que constam do exemplar do Supintrep que chegou às mãos do A. Marques Lopes, é muito má. Ele e eu tentámos fazer o nosso melhor para que se tornassem minimamente legíveis...


PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI) > UTILIZAÇÃO DE ENGENHOS EXPLOSIVOS (2)


[Revisão e fixação do texto: A.M.L. / L.G.]


(1) Generalidades

Dum modo geral, o IN executa este tipo de forma de combate com três finalidades distintas: (i) interdição de itinerários ou de acessos a zonas controladas pelo IN; (ii) protecção de reacção em zonas de emboscadas; (iii) substituição de outras actividades não realizadas.

Para esse fim, usa indiscriminadamente armadilhas, fornilhos ou minas A/C e A/P, com maior preponderância destas. Muitas vezes conjuga o emprego de minas com o uso e granadas ou petardos de trotil em reforçamento da acção explosiva. Toda a gama de armadilhas, muitas delas expeditas, é conseguida pelo factor comum granada de mão descavilhada, a qual será accionada pelo deslocamento ou de arame de tropeçar ou de quaisquer ramos ou pedras que retêm a alavanca. Têm sido também verificados accionamentos eléctricos com comando à distância.

Na esperança de obtenção de bons resultados, é normal conjugarem o emprego de uma mina com outra próxima, razão da vulgaridade em se detectarem minas implantadas próximo das accionadas.

Como técnicos que são de camuflagem e dissimulação, utilizam todos os meios possíveis para procurarem esconder as minas implantadas, furtando-as assim à intensa actividade de detecção desenvolvida pelas NT.

Nos itinerários asfaltados procuram as bermas para a implantação dos explosivos e, se possível, também falhas de asfalto ou buracos para conseguirem os efeitos pretendidos.

(2) Técnicas de fabricação e implantação de minas

(a) Extractos de apontamentos de cursos frequentados no estrangeiro por elementos do PAIGC (cópia)

1. Meios de instalação e fabricação de minas

Fabricação de minas

A mina é um obstáculo explosivo.

Uma mina compõe-se de invólucro, de embalagem e instalação de fogo. Há minas anti-pessoal, anti-cavalos, anti-tanque, anti-carros blindados e as que podem destruir construções. Pode-se utilizar materiais em madeira, panela em porcelana, garrafa de vidro, caixa de ferro e bocados de pedras e de ferro para envolver minas.

Embalagem de explosivo

Mete-se 5 a 10 Kgs de explosivo nas minas anti-tanques e 50 a 200 grs na mina anti-pessoal e cavalo. Pode-se meter a pólvora negra na mina anti-pessoal e cavalo aumentando 0,5 de quantidade desejada.

Instalação de fogo

Incendiada pela pressão, pelo atropelo num fio, pela electricidade e pela instalação retardadora de minas a pressão.






(...) O contacto desta mistura [clorato de potássio e acúcar] com o ácido sulfúrico produz o fogo para explodir o detonador e explosivo.

Mina anti-tanque eléctrica e pressão


Pode-se aproveitar uma granada para fazer mina, instalando-a como o desenho indica.





Mina retardadora (...)

Minas a pressão anti-pessoa: enterra-se ao mesmo nível da terra ou entre ervas.

Mina em armadilha anti-pessoa: enterra entre as ervas. O comprimento do fio ligado a esta mina à estaca ou árvore atinge 5 a 7 m.

Mina retardadora (enganadora): enterra-se nas casas e nos sítios onde o inimigo frequenta muitas vezes. Pode-se adaptar muitas formas para instalar as minas enganadoras – sobretudo com o fim de excitar e seduzir e desorientar os inimigos.


2. Cuidados a ter quando se enterra as minas

(i) É preciso pôr alguém de guarda.

(ii) É preciso guardar silêncio; não deixar nenhum sinal ou instrumento.

(iii) Estabelecer sinais conhecidos por nóa ao lado das minas.

(iv) É precisio camuflar as minas o mais possível conforma as cores do terreno. Pode-se fazer uma camuflagem falsa.

(v) Depois de ter enterrado as minas antes da chegada dos inimigos, deve-se enviar alguém para vigiar esta zona com o fim de não ferir os nossos próprios camaradas.

(vi) Quando se chegar ao ponto para enterrar minas não se deve mudar de lugar nem mexer enquanto não acabar o serviço.

(vii) Conforme as diferentes categorias e de tarefa deve-se organizar um grupo composto por 1 a 3 homens para cumprir a missão de enterrar minas. Não se deve agir comodamente na zona da mina com o fim de camuflar bem.


3. A aplicação de guerra de minas


O fim da aplicação: garantir a vitória de combate e a segurança na acção dos partidários.

Realiza-se a guerra de destruição e de minas para fazer obstáculo atrás dos inimigos, para aniquilar as suas armas modernas, atacá-los por surpresa, fazendo-lhes uma grande ameaça e paralizando-os.

Os meios da aplicação na guerra subversiva são os seguintes:

As minas devem ser instaladas numa zona possível a ser utilizada pelo inimigo na ofensiva: o pequeno caminho da floresta e da aldeia, a construção no campo de batalha, a construção importante nas aldeias, depósitos, armazéns e os sítios próximos das pontes sabotadas por nós, é mais provável impedir ou matar os inimigos se se instalar as minas nas estradas e nas florestas.

O emprego da guerra de minas:

(i) Quando o inimigo se esgota nós o batemos: trava-se a guerra de minas no lugar onde está o inimigo.

(ii) Quando o inimigo se imobiliza nós o importunamos. Pode-se enterrar minas ao lado do campo militar dos inimigos, na entrada que dá para o campo militar.

(iii) Quando o inimigo foge nós o perseguimos: pode-se enterrar minas nas estradas e todas as linhas principais de comunicação por onde o inimigo foge.

As necessidades de emprego de minas isoladas e em grupo:

As minas isoladas e em grupo dispõem das seguintes vantagens: instalação simples, prática, económica, não são limitáveis pelos caracteres do terreno.

Utiliza-se pouca mina alcançando grande vitória.

Conforme as necessidades de combate pode-se transferir facilmente as minas por toda a parte.

Deve-se escolher estradas indispensáveis à passagem dos inimigos passam e os objectos que os inimigos devem tocar para aí instalar ou enterrar as minas.

Enterra-se as minas sem que os inimigos saibam, isto é, defíceis a serem descobertas e liquidadas pelos inimigos.

Resumo:

Deve-se utilizar as minas com eficácia com o fim de aniquilar um grande número de inimigos.

(Continua)

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. alguns posts sobre este tópico (minas e armadilhas) (lista meramente indicativa):

25 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2303: Tabanca Grande (42): Francisco Palma, Soldado Condutor Auto da CCAV 2748/BCAV 2922 (Canquelifá, 1970/72)

18 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2278: Estórias do Xitole (1): A triste sorte do sapador Quaresma... morto por aquela maldita granada vermelha (David Guimarães)

16 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2270: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (9): E de súbito uma explosão, uma emboscada, um caos...

18 de Setembro de 2007>Guiné 63/74 - P2117: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (10): O terror das colunas no corredor da morte (Gandembel, Guileje)

21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os paraquedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gamparà (Victor Tavares, CCP 121)

15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1529: Belmiro dos Santos João, de Miranda do Douro, vítima de mina antipessoal em Catió (Fernando Chapouto / A. Marques Lopes)

29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1325: Mansabá: o comandante do COP6, Correia de Campos, e as Minas na Bolanha de Manhau (Carlos Vinhal)

16 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1284: A Intendência também foi à guerra (Fernando Franco / António Baia)

31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1231: Estórias avulsas (5): Rio Cacheu: uma mina aquática muito especial (Pedro Lauret)

26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P911: Uma mina para o 'tigre de Missirá' (Luís Graça)

24 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P905: A morte na estrada Finete-Missirá ou um homem com a cabeça a prémio (Luís Graça)

19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado (Luís Graça)

19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas (Eduardo Magalhães Ribeiro)

2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIX: E de súbito uma explosão (Luís Graça)

23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971) (Luís Graça)

11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXX: As heróicas GMC e os malucos dos seus condutores (CCAÇ 12, Septembro de 1969) (Luís Graça)

10 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCIX: Estórias do Xitole: 'Com minas e armadilhas, só te enganas um vez' (David Guimarães)

23 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXV: Minas e armadilhas (David Guimarães)

20 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXII: O inferno das colunas logísticas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho) (Luís Graça)


(2) Vd. último post desta série > 29 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2228: PAIGC - Instrução, táctica e logística (5): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (V Parte): Flagelações (A. Marques Lopes)

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2164: PAIGC - Instrução, táctica e logística (4): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IV Parte): Emboscadas (A. Marques Lopes)


Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968) > Os temíveis jagudis, o Grupo de Combate do Alf Mil Marques Lopes, montando uma emboscada aos guerrilheiros do PAIGC

Fotos: ©
A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.


Mensagem de 13 de Setembro de 2007, do A. Marques Lopes (natural de Lisboa, hoje coronel DFA, na reforma, e residente em Matosinhos), com mais um texto extraído do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971:


PAIGC > Instrução, táctica e logística > IV parte (1)

[Fixação do texto: A.M.L. e editor L.G]

Imagens digitalizadas por © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.

TÁCTICA > Emboscadas

(Continuação)


(4) Esquemas Representativos de Técnicas Doutrinárias

Dos cadernos de apontamentos do chefe de grupo João Landim, foram extraídos os seguintes esquemas relativos à emboscada.

(4a) Emboscada a uma coluna auto





Comentário: A figura mostra-nos uma emboscada montada nos moldes habituais.


(4b) Emboscada a uma embarcação




Comentário: A figura mostra-nos um bigrupo ocupando uma posição de emboscada contra uma embarcação. O local foi escolhido numa curva do rio, verificando-se da parte do IN uma preocupação na montagem de um eficiente sistema de segurança. De salientar a existência de locais de reunião pré-determinados.


(5) Casos reais descritos com base em relatórios elaborados pelas NT


(5a) Emboscada na estrada Bindoro-Jugudul

Nesta emboscada, realizada por efectivos da ordem de bigrupo, o IN conseguiu resultados assinaláveis mercê da técnica utilizada e da agressividade que demonstrou. Dadas as circunstâncias que antecederam o desencadear da acção, admite-se que a população possa ter colaborado com o IN, coactivamente ou de livre vontade, fixando as NT na zona de morte.

1. Descrição da acção

O IN istalou-se de ambos os lados da estrada articulando-se em dois grupos desfasados cerca de 50 metros, e utilizando como única protecção árvores de pequeno porte e o mascaramento oferecido pelo capim, com cerca de um metro de altura.

O grupo mais avançado, relativamente à testa da coluna, (a que chamaremos Grupo 1) ocupava posições distando entre 5 e 20 metros da estrada. A cerca de 30 metrops deste grupo o IN colocou uma mina que deixou a descoberto no leito da estrada.

Mais avançado, e apenas a um metro da estrada colocou o grupo de detenção à frente, em condições de bater frontalmente a viatura imobilizada, ou os seus ocupante quando tentassem a remoção da mina..

Na estrada, frente ao Grupo 1 encontravam-se alguns elementos da população que pediram boleia pelo que a viatura da testa parou para os transportar para Jugudul.

A paragem da viatura neste local colocou-a no centro da zona de morte do Grupo 1. Imediatamente após a paragem, a viatura foi atingida por um disparo de LGFog seguido de apreciável volume de tiro de armas ligeiras e lançamento de granadas de mão, colocando fora de combate a quase totalidade dos elementos das NT nela transportados.

A segunda viatura, embora fora da zona de morte, parou, sendo alvejada por disparos de LGFog, Mort 60 e granadas de mão, não tendo sido no entanto directamente atingida.

Após a neutralização do pessoal transportado na primeira viatura, aproveitando o efeito surpresa e o tempo necessário ao pessoal da segunda viatura para organizar a reacção, o Grupo 1 foi à estrada, ao assalto, levando consigo armamento (1 LGFog 8,9 cm e 5 Esp Aut G3), um emissor receptor THC736-AVP1, artigos de fardamento e equipamento, e retendo um elemento das NT e uma rapariga da população, esta posta em liberdade daí a dois dias.

Imediatamente após a acção o IN retirou, utilizando um trilho diferente do usado na aproximação.

A reacção das NT foi grandemente prejudicada pela altura do capim, pela superioridade numérica do IN, e pelo dispositivo por ele implantado no terreno. A acção dos elementos das NT, transportados na segunda viatura, mantidos debaixo de fogo do Grupo 2 limitou-se a uma reacção pelo fogo que não obstou ao assalto realizado pelo Grupo 1.

2. Procedimentos especiais a assinalar:

- Escolha de um itinerário onde o trânsito das colunas das NT constituía rotina, e portanto onde as medidas de segurança certamente teriam abrandado.

- Escolha de um local de emboscada suficientemente próximo da povoação ocupada pelas NT e portanto um local onde as NT estariam certamente em confiança.

- Aproveitamento do mascaramento oferecido pelo capim crescido, conjugado com uma instalção a curta distância da estrada, permitindo por conseguinte uma acção fulminante e a utilização eficiente de armamento ligeiro e granadas de mão.

- Colocação de uma mina, a descoberto, a cerca de 30 metros do local de etenção da coluna (admitindo-se que a mina assim a descoberto tivesse a finalidade de conseguir a imobilização da coluna dentro da zona de morte ou que o IN estivesse a proceder à sua instalação quando da chegada dos elementos da população).

- Utilização de elementos da população para detenção da coluna. (Embora esta utilização não tenha ficado perfeitamente esclarecida admite-se como muito provável que os elementos da população soubessem da presença IN, quer por se terem apercebido dos elementos emboscados a tão curta distância, quer pela presença da mina a descoberto).

- Uma boa coordenação dos grupos executantes, por forma a impedir a reacção eficiente das NT, e a cortar inclusivamente as possibilidades de envolvimento dos grupos IN.

- Retirada coordenada seguindo um grupo In não estimado por um itinerário, fazendo crer às NT ser essa direcção geral de rotina, enquanto o restante pessoal do bigrupo seguia por um local completamente diferente fazendo-se acompanhar do pessoal e material capturado.

- Utilização do E/R [emissor / receptor] capturado para, utilizando-o ou forçando o operador rádio à sua utilização, comunicar com a sede do Batalhão, dizendo não haver qualquer actividade.

- Rapidez no desenrolar da acção e retirada, não permitindo às NT prontamente saídas dos aquartelamentos mais próximos uma perseguição efectiva.

3. Conclusões

O modo como a acção se desenrolou revela, da parte do grupo executante:

- Um planeamento cuidado;
- Uma boa técnica de execução;
- Agressividade;
- Boa coordenação da acção por parte dos grupos executantes.

4. Esquema da emboscada:





(5b) Emboscada a uma coluna auto na estrada Mansoa-Infandre

1. Descrição

Em 12 de Outubro de 1970, às 12h00 uma coluna constituída por 2 viatutras saíu de Mansoa de regresso ao Infandre, donde havia saído na manhã do mesmo dia. Quando cerca das 12h30 atingiram o local MANSOA 5F8-35, local esse onde habitualmente costumavam apear com vista a tomar um dispositivo que lhe garantisse segurança sofreram uma emboscada, ficando as viaturas, que seguiam a uma distância de 80 metros, dentro da zona de morte (2).

A emboscada foi desencadeada com grande volume de fogos, tendo a viatura que seguia à frente, em virtude de o condutor ter sido logo atingido, saído o itinerário imbilizando-se dentro do mato.

A viatura da rectaguarda parou, logo que desencadeada a acção, imobilizando-se também a cerca de 90 metros da primeira.

O enorme volume de fogos atingiu a totalidde dos elementos que constituiam a escolta e de tal modo que o IN fez o assalto capturando grande quantidade de material, géneros e artigos de cantina.

Uma força de socorro vinda de Mansoa levantou uma mina anti-carro junto da berma da estrada, bem como uma mina A/P colocada sobre o itinerário de retirada. Encontrados ainda alguns dispositivos para armadilhamento, abandonadas por falta de tempo para a sua colocação.
Supõe-se que era intenção do IN armadilhar os corpos dos mortos.

2. Procedimentos especiais a assinalar

- O IN montou uma emboscada numa extensão de cerca de 200 metros e que implicou a utilização de elevados efectivos estimados segundo o relatório da acção em cerca de 100 elementos fortemente armados, o que se conclui pelo volume e variante de fogos desencadeados.
- A maneira como foi desencadeada a acção leva a admitir que seja intenção do In passar a utilizar efectivos elevados neutralizando totalmente as escoltas, e passando a efectuar o assalto com vista à capura de material e ao aprisionamento das NT.

- Refere-se a colocação de uma mina A/C com dispositivo anti-levantamento e ainda uma A/P implantada sobre o itinerário de retirada. Salienta-se ainda ter sido intenção do In armadilhar os cadáveres, o que não chegou a fazer por falta de tempo, ocasionada pela pronta intervenção das NT.

- A maneira como a acção foi desencadeada revela da parte do In um elevado grau de instrução.

3. Croquis da emboscada IN na região de Infandre


(5c) Emboscada a uma coluna auto na estrada Piche-Nova Lamego

1. Descrição

Em 10 de Novcembro de 1970, às 8h00, uma coluna auto escoltada por efectivos da ordem do grupo de ombate saíu da povoação de Piche com o seguinte dispositivo:

Viatura 1 – White
“ 2 – Unimog c/ 1.ª secção
“ 3 – GMC c/ civis
“ 4 – Unimog c/ bagagens
“ 5 – Unimog c/ 2.ª secção
“ 6 – Unimog c/ carga
“ 7 – GMC c/ bidons vazios
“ 8 – Unimog c/ 3.ª secção
“ 9 – White

À velocidade normal e respeitando uma distância de 50 metros entre 2 viaturas consecutivas, a coluna, ao atingir o pontão do Rio Bentem foi surpreendida pelo desencadear de fogo de LGFog e Armas Ligeiras o qual, vindo do lado direito da picada, incidiu sobre as duas primeiras viaturas. De salientar que junto ao pontão já se encontrava uma viatura das obras de estrada, a qual estava a ser carregada com areia por três civis.

A acção IN durou cerca de 20 minutos, não tendo sido possível às NT efectuar qualquer manobra de envolvimento dado não só o reduzido efectivo mas também pela dispersão em que os vários núcleos se encontravam.

A reacção das NT foi feita apenas pelo fogo, tendo sido batidos os itinerários de retirada com fogos de morteiro. Posteriormente, uma força saída da povoação de Piche constatou pelos trilhos deixados que o grupo IN seria constituído por efectivos da ordem dos 30 elementos.

2. Procedimentos especiais a assinalar:

- A actuação do In enquadra-se nos moldes habituais, sendo de salientar que a emboscada foi montada sensivelmente no local onde em tempos havia ocorrido outra.

- Os efectivos reduzidos que constituíam a escolta impossibilitaram a constituição de uma força que pelo fogo e movimento tentasse o envolvimento do grupo IN.

- A realização da coluna era do conhecimento do IN pela circunstância de se encontrar no local uma viatura civil que não foi molestada. Isso poderá provar que o objectivo do In era realmente a coluna auto.


Esquema de uma emboscada na estrada Piche -Nova Lamego a uma coluna auto das NT



(5d). Emboscada a uma coluna na estrada Farim-Jumbembem

1. Descrição

Em 14 de Dezembro de 1970, pelas 7h00, um grupo de combate saíu de Farim iniciando a picagem para Lamel no itinerário que posteriormente iria ser percorrido por uma coluna auto que transportava pessoal para trabalhos de desmatação.

No Bolumbato o grupo foi alcançado pela coluna auto, que ali ficou aguardando que a picagem prosseguisse até à ponte de Lamel onde se procederia ao encontro com forças vindas de Jumbembem. Cerca das 9h20, quando o grupo que procedia à picagem se encontrava aproximadamente a 800 metros da ponte de Lamel, os elementos que seguiam à frente verificaram a existência de pegadas na estrada e avisaram do facto para a rectaguarda. Imediatamente foram dadas instruções para se redobrar a vigilância. Então, para a rectaguarda e sensivelmente a meio do dispositivo tomado pelo grupo, deu-se um grande rebentamento acompanhado de intenso tiroteio vindo do lado norte da estrada (ver colocação do pessoal conforme o croquis).

O grupo caíra numa emboscada montada pelo IN que se encontrava instalado bastante próximo da estrada (posteriormente foram verificadas várias posições a uns 10 metros da berma). A proximidade e o forte potencial de fogo desencadeado (lança-rockets, morteiro 60 e armas ligeiras) era tal que impediu a manobra, permitindo apenas a reacção pelo fogo.

Alguns elementos do grupo IN falavam correctamente português, tendo até um soldado das NT ao avistar um elemento fardado de camuflado, perguntado se pertencia à milícia ao que o outro respondeu que sim e para pararem o fogo. Nesse momento, avistou outro IN atrás de um morro apontando um lança-rockets. Deu uma rajada nessa direcção ao mesmo tempo que se lançava ao solo. Ouviu então dizer repetidas vezes: “Avança a Secção 3”. Em face disso recuou rastejando para prevenir os camaradas do que se passava.

Passado algum tempo ouviram-se os ruídos das viaturas da coluna que se aproximava, tendo o IN feito fogo na direcção das mesmas. Com a aproximação da coluna auto o In deixou de fazer fogo e rompeu o contacto. O facto das forças da escolta terem reagido com fogo de armas ligeiras, contribuíu para que o In retirasse. O tempo que mediou entre o início da emboscada e a chegada das viaturas, foi cerca de 20 minutos.

Entretanto ouviu-se o ruído da coluna que se dirigia de Jumbembem para Lamel. Como ainda faltavam 800 metros para finalizar a picagem, prosseguiu-se e fez-se o encontro com as forças de Jumbembem, após o que a coluna se pôs em movimento. Cerca de 500 metroa a sudoeste da ponte de lamel, a viatura da frente accionou 1 mina A/C que a picagem não detectara, ficando parcialmente destruída e ferido gravemente um soldado daquela coluna. Frisa-se que este último troço de estrada foi picado novamente após o encontro até ao local da emboscada. A mina A/C accionada pela viatura, fora colocada num terreno pedregoso, que dificultava a sua detecção, pelo simples processo de picagem.

Entretanto chegou de Farim uma força de reforço dando-se início à batida que não pudera ser feita anteriormente. Reconstituiu-se a localização do grupo de combate quando do início da emboscada iniciando-se então a batida. A uns 10 metros da estrada, foi descoberto um carreiro paralelo àquela e numa extensão que abrangia todo o grupo de combate.

Ao longo desse carreiro foram localizadas grandes quantidades de invólucros de armas ligeiras e duas posições com o terreno queimado peloa gazes expelidos dos lança-rockets. A posição do morteiro não foi localizada, mas não há dúvidas do seu emprego. Seguidos os carreiros de retirada IN foram localizados vestígios de sangue em três locais diferentes e bocados de algodõ, bem como mais invólucros de armas ligeiras, que devem ter sido utilizadas para a protecção da retirada IN. Os carreiros de retirada convergiam a cerca de 1 km da estrada e iam dar a um carreiro único, este bem batido, por ser utilizado frequentemente, e que atravessava a bolanha,dirigindo-se paraFambantã. Seguido esse carreiro e como nada mais se passou a força regressou.

3. Procedimentos especiais a assinalar

- Tratava-se de um Grupo numeroso, bem treinado e com determinação de ir ao assalto, o que é demonstrado pelas vozes de comando ouvidas.

- A zona de morte era extensa, tendo o início da emboscada sido feito com uma mina A/C, comandada e colocada não na parte superior do terreno, mas sim pela valeta como a figura demonstra: - O local de rebentamento da mina foi bem picado e observado, pois foi precisamente nele que foram verificadas as pegadas. A mina estava mesmo colocada junto à valeta e fora do rodado das viaturas. Quando foi accionada o elemento mais próximo estava a uns 4 metros e portanto sem qualquer possibilidade de ter sido accionada pelas NT. A uns 10 metros da cratera foi encontrado o travesão da mina A/C junto a uma árvore e um morro de baga-baga, lugar onde foi detectada uma posição de lança-rockets e armas automáticas; foi possivelmente desta posição que o IN fez accionar a mina.

- A mina que foi accionada pela viatura estava colocada em terreno pedregoso (escapou a uma dupla picagem) e estaria colocada para ser accionada por forças que se deslocassem naquele sentido e que viessem em nosso socorro.

- O terreno onde se efectuou a emboscada era próprio para a mesma, pois o capim era bastante alto.

- O IN, ao falar correctamente o português e vestido de camuflado, tentou aproveitar-se do facto procurando fazer com que as NT deixassem de fazer fogo.

- De salientar que este processo de implantação de minas foi já detectado no TO.


Esquema de uma emboscada a uma coluna na estrada Farim-Jumbembem:




(5e) Emboscada a uma coluna auto das NT


1. Descrição

Em 15 de Dezembro de 1970, às 6h00 saíu do destacamento X das NT um grupo de combate com a missão de manter segurança a um troço compreendido entre X e um local que designamos por Y. Meia hora mais tarde foi atingida a bolanha Z que corta o referido troço, tendo as NT feito reconhecimento pelo fogo não só porque a zona apresenta nesta altura densa vegetação mas também porque, do antecedente, o In tem escolhido esse local para montagem de emboscadas.

Transposta a referida bolanha e 1 Km após ela, o IN fez accionar uma mina A/P reforçada e comandada, após o que desencadeou a emboscada com fogos de RPG 2 e armas ligeiras automáticas. As NT reagindo pelo fogo e movimento obrigaram o In a retirar, tendo a retirada deste sido protegida com fogos de Mort 82. Feita a batida ao local, verificou-se que o IN dispunha de 30 abrigos individuais, dispostos paralelamente à estrada e a uma distância desta de 5 a 6 metros. Os abrigos foram feitos aproveitando a protecção de troncos que se encontravam caídos no local. A posição do Mort 82 encontrava-se a cerca de 1 Km a W do local onde se desencadeou a emboscada.

2. Procediments especiais a assinalar

- O In sabedor que as NT passavam a efectuar reconhecimentos pelo fogo na bolanha Z, montaram emboscada numa posição diferente da habitual, muito embora num local próximo, o que não deixa de significar a sua predilecção por determinados locais.

- A acção foi iniciada com o accionamemnto de uma mina A/P comandada por um elemento encarregado de puxar um cordel, acção essa que iniciaria a cadeia de fogo. Esse elemento estava protegido por 02 elementos armados com armas automáticas.

- O IN logo após o desencadeamento da emboscada flagelou com grande volume de fogos a cauda da coluna, com vista a impedir qualquer manobra de envolvimento.

- O IN utilizou, para proteger a retirada das suas forças, fogos de Mort 82 (16 granadas).

- O IN utilizou troncos caídos sob a protecção dos quais construiu abrigos individuais.

- Dos abrigos saím trilhos que se reuniam junto a uma árvore de grande porte, facilmente referenciada, da qual partia um trilho único que se dirigia paraa posição do Mort 82.

(Continua)
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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

22 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte): Formação e treino (A. Marques Lopes)

24 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte): Instrução militar (A. Marques Lopes)

1 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte): Deslocamentos (A. Marques Lopes)

(2) Vd. post de 7 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2162: O fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada no itinerário Braia/Infandre (Afonso M. F. Sousa)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2146: Documentos (5): PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte): Deslocamentos (A. Marques Lopes)

Recortes de imprensa > Jornal O Século > s/ data > Notícia da agência noticiosa ANI [de 11 de Junho de 1971], sobre o primeiro ataque do PAIGC a Bissau, com foguetões de 122 mm, em 9 de Junho de 1971 (1).

Imagens digitalizadas por © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.


Mensagem de 13 de Setembro de 2007, do A. Marques Lopes, com mais um texto do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971:

PAIGC > Instrução, táctica e logística > III parte (2)


[Fixação do texto: A.M.L. e editor L.G]

TÁCTICA

1. Generalidades

Os procedimentos tácticos prescritos nos regulamentos e demais documentos de doutrina, são normalmente aplicados pelo IN mormente as variações por vezes surgidas, fruto como se referiu já, não só da evolução dos processos de actuação, como também de adaptação às diferentes circunstâncias, em que o IN procura as modalidades mais apropriadas e rendosas para obtenção dos seus objectivos.

Nas alíneas seguintes vai procurar-se dar a conhecer algumas actividades tipo da actuação do In, não só pela apresentação de procedimentos preconizados em diversa documentação capturada, como também pela descrição de casos reais, elaborados com base nos relatórios das NT.

Em Anexo H publica-se ainda um extracto de apontamentos de Táctica de Guerra de Guerrilhas, de cursos frequentados no estrangeiro (provavelmente China Popular), por elementos do PAIGC.

Deslocamentos; Progressões

(1). Dos elementos disponíveis referem-se em primeiro lugar as declarações de Carlos Silva, elemento IN capturado, que diz:

(a). Progressões


Durante a progressão dum bigrupo IN num trilho, os elementos são dispostos em coluna por um, constituindo 3 grupos. No primeiro e último vai um chefe de grupo indo o comandante do bigrupo no meio. Os lança granadas e as metralhadoras são distribuídas ao longo da coluna.

O deslocamento é feito por lanços sucessivos, sendo, normalmente, feitos ao anoitecer, com receio dos aviões. Só se deslocam de dia se a mata é fechada.

(b). Deslocamentos ao longo de uma estrada

Nos deslocamentos ao longo de uma estrada os elementos IN são dispostos de um lado e do outro da estrada, com a distribuição equitativa do armamento pessoal, indo num grupo o comandante do bigrupo e um chefe de grupo e no outro o comissário político e o outro chefe de grupo. A distância a que seguem da estrada está condicionada à vegetação.

Tratando-se de um grupo, ou menos, o deslocamento efectua-se dum único lado da estrada. As forças articulam-se conforme o esquema:

Comissário Político
Chefe de Grupo

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
======================
-> -> -> -> -> -> -> ->
======================
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Cmdt Bigrupo
Chefe de Grupo


(2) Esquemas Representativos de Técnicas Doutrinárias (deslocamentos com transposição de obstáculos)

Os esquemas que se apresentam foram extraídos de um caderno de apontamentos pertencente ao chefe de grupo João Landim e interpretado em função do código de sinais usado pelo IN.

(a) Passagem de uma zona estreita






Comentário: A figura mostra-nos a passagem de um grupo IN numa zona estreita. A passagem é feita por escalões, para o que, o primeiro, após a travessia da zona feita com o apoio do segundo no qual estão incluídas armas pesadas, desenvolve-se em linha instalando-se para proteger a travessia do segundo escalão.


(b) Passagem de um campo minado



Comentário: Parece ter sido detectado ou mesmo aberto um corredor através de um campo de minas por onde passa o primeiro escalão que após a travessia desenvolve em linha e instala, protegendo a passagem do segundo.

(c) Guarda de flanco a uma coluna que se desloca



Comentário: A figura mostra-nos um destacamento de guerilhas que se desloca sob a protecção de duas guardas de flanco.

(d) Progresso de um grupo de infantaria



Comentário: A figura representa a progressão de um grupo em coluna que em determinada altura desenvolve em linha, com vista ao desencadeamento e um ataque a um objectivo.

(e) Patrulhamentos
É difícil considerarem-se casos tipo pois que se caracterizam em função da zona em que se realizam. Nas regiões que o IN denomina de libertadas actua com efectivos reduzidos, isto é, grupos de 5 a 10 elementos enquanto que nas outras actua com efectivos que chegam a atingir o bigrupo.

Progride normalmente durante a noite a fim de se furtar à observação aérea, alvo nas regiões de vegetação densa onde progride à vontade mesmo de dia.
Quando progredindo em trilhos ou estradas, fá-lo com efectivos de homens, chefes e armas num dispositivo equilibrado a fim de poder reagir com eficiência. Notícias várias referam que muitas vezes o faz ao lado de trilhos como meio de evitar o armadilhamento dos mesmos.

2. Emboscadas

(1). Generalidades
É a operação clássica da guerra de guerrilhas invariavelmente caracterizada pela violência e grande volume de fogos com que é desencadeada. Conjugada muitas vezes com o uso de engenhos explosivos, a emboscada caracteriza-se ainda pela sua curta duração. Não sendo no TO da Guiné a acção de guerrilha mais usual do IN, a partir de 1970, parece ter vindo a acentuar-se a sua realização e a tendência para ser tentado o assalto como remate final para uma acção em que se verifica estarem a ser empregues efectivos cada vez mais numerosos.

Nem sempre o local de desencadeamento desta acção é o considerado ideal pois que o IN, preferindo usar da surpresa e dissimulação, actua onde melhor julga obter êxito. Quando assim sucede, realiza trabalhos sumários de organização do terreno, prepara itinerários de retirada e vai sendo normal cobrir a retirada das suas forças com fogos de armas pesadas as quais, colocadas numa base à rectaguarda da posição de emboscada, evitam assim a perseguição que eventualmente lhe seja movida pelas NT.

(2). Do estudo e interpretação de documentos capturados durante a Op Pardal Negro na área de Cubisseco extrairam-se os seguintes elementos relativos a esta operação:


"Emboscadas contra os Inimigos”


Emboscada é a principal maneira de poder derrotar os inimigos no momento de combate. Num combate há 7 espécies de emboscadas:
- Emboscada de aniquilamento
- Emboscada de contenção ou adversão
- Emboscada de impedimento
- Emboscada contra barcos
- Emboscada contra paraquedistas
- Emboscada contra helicópteros
- Emboscada para prenser prisioneiros.

Para fazer uma emboscada devemos ter uma boa informação dos inimigos, devemos conhecer o indivíduo que trouxe a informação, se ele é da população ou guerrilheiro. Devemos saber se os inimigoa andam a pé, de carro ou via aérea. Qual é a cautela que eles poderão tomar no momento da marcha para a linha de combate.

Nós devemos escolher um bom terreno onde possamos fazer fogo contra o inimigo.

Sistema de fogo – é uma cooperação de ditribuir todos os veículos no momento do combate para aniquilamento dos ocupantes.

Organização da emboscada – nós podemos recebr uma informação através dum camarada; devemos conhecer esse indivíduo, o seu nome e se ele é um guerilheiro do povo, se está em contacto com os inimigos ou não.

Camuflagem – no momento da emboscada devemos fazer abrigos individuais para cada camarada. Esses abrigos devem ser camuflados.

Realização de Exploração – devemos controlar todos os locais antes de fazermos uma emboscada e temos de saber se o terreno é favorável para nós.

(3) Declarações do capturado Formoso Mendes referem:

As emboscadas tanto a colunas de viaturas como a forças apeadas são feitas da mesma maneira, isto é, o pessoal é distribuído ao longo da estrada, colocando em cada extremidade uma equipa de LGFog e ML, estando um chefe de grupo junto de cada uma. A distância em relação à estrada é em função da vegetação.

Quando as colunas de viaturas tazem segurança dos flancos, as emboscadas são montadas bastante à rectaguarda.

No caso de desconfiarem que vem tropa pela rectaguarda, colocam uma equipade LGFog e ML, bem como mais pessoal, montando uma emboscada de segurança.

Quando as viaturas ou forças apeadas atingem a zona de morte, a equipa da frente abre fogo sobre a testa da coluna e em seguida abre fogo a equipa da outra extremidade. Os elementos do meio abrem fogo retirando de seguida, o mesmo fazendo as equipas de detenção.

Por vezes as emboscadas são conjugadas com a implentação de minas, sendo a acção desencadeada simultaneamente com o rebentamento dum desses engenhos.

O esquema que se segue representa a disposição das forças em emboscada:

Cmdt Bigrupo
Comissário Político

A – Equipa de detenção à frente (LGFog, ML, chefe de grupo)
B – Equipa de detenção à rectaguarda (LGFog, ML, chefe de grupo)
C – LGFog
D – ML (Metralhadoras Ligeiras)

(Continua)
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Nota de L.G.:


(1) Vd. post de 17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1603: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (10): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte III (Fim)
(...) "Bissau é flagelada pela primeira vez com foguetões de 122 mm em 9 de Junho de 1971 A 9 de Junho, o PAIGC, por intermédio do CE 199/70 (estacionado em Morés), chefiado por André Pedro Gomes e, na artilharia, por Martinho de Carvalho e Agnelo Dantas, flagelou Bissau pela primeira vez com foguetões de 122 milímetros.
"Este ataque foi possível dado os esforços da unidade de artilharia referida, que, apoiada pelos grupos de infantaria, conseguiram penetrar para lá da linha defensiva do exército português e bombardearam as suas posições na cidade, embora tal tivesse sido possível porque também se realizaram acções simultâneas da frente Nhacra-Morés, o que permitiu proteger a retirada das unidades que atacaram Bissau" (...).
(2) Vd. posts anteriores:

22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)

24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)

sábado, 22 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte): Formação e treino (A. Marques Lopes)

Guiné > PAIGC > 1970 > Algures, numa zona libertada. Guerrilheiros e população. A guerra de libertação teve muito pouco de romântico. Os militares portugueses que combateram o PAIGC na Guiné, sabem quão duras eram as condições de vida, tanto dos seus combatentes como da população sob o seu controlo, nas regiões libertadas, ou seja, dentro das fronteiras do território da antiga província portuguesa da Guiné (TN - território nacional, reclamavam as autoridades portugueses)... A foto é do húngaro Bara István (n. 1942). Foto: Foto Bara (com a devida vénia...) Foto: © Fundação Mário Soares (2007) (com a devida vénia...) Continua ainda hoje a ser muito difícil encontrar, disponível na Net, documentação fotográfica sobre Amílcar Cabral, a sua vida e a sua luta, o PAIGC e a sua organização política e militar, a luta de guerrilha no interior da Guiné-Bissau, etc. Na Fundação Mário Soares pode ser consultado o importante Arquivo Amílcar Cabral. Infelizmente, essa documentação não é do domínio público, estando sujeita às leis do copyright. É de reconhecer, no entanto, o excelente trabalho que está a ser feita por esta fundação em cooperação com a Fundação Amílcar Cabral. No sítio da Fundação Mário Soares, pode ler-se a seguinte apresentação do Arquivo Amílcar Cabral: O acesso público ao Arquivo Amílcar Cabral, disponibilizado em Bissau, na Cidade da Praia e em Lisboa, constitui um passo decisivo na conservação e transmissão da nossa memória colectiva recente, o que foi viabilizado pelo recurso às novas tecnologias de informação. Ainda falta muito trabalho, que se prevê concluir no prazo aproximado de um ano. Mas o que já foi feito representa uma experiência pioneira de cooperação internacional em matéria de preservação e tratamento de arquivos. Considera-se ainda que o Arquivo Amílcar Cabral pode, e deve, receber outros acervos documentais que o enriqueçam e completem, ao mesmo tempo que importa incentivar o estudo, a investigação e a edição, com referência aos Documentos Amílcar Cabral. Prosseguindo este caminho, a cooperação entre a Fundação Mário Soares e a Fundação Amílcar Cabral contribuirá, seguramente, para o melhor conhecimento da nossa História comum, estreitando laços e construindo projectos de interesse mútuo. 
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 Primeira parte de um conjunto de textos que o nosso amigo e camarada, o Coronel DFA, na reforma, A. Marques Lopes, nos começou a enviar, em 13 de Setembro de 2007: Caros camaradas: Envio-vos um primeiro texto que é o começo de uma explanação sobre a instrução ministrada pelo PAIGC aos seus militantes e guerrilheiros, sobre a forma como accionava as suas forças no terreno e sobre todo o esquema logístico que apoiava a sua acção. Este, e os que farei chegar ao vosso conhecimento depois, foram extraídos do SUPINTREP nº 32 (1), um documento distribuído em Junho de 1971 aos Comandos das unidades do CTIG. É, pois, uma visão que se tinha, menos de três anos antes do 25 de Abril, do tipo de guerra em que andávamos envolvidos e das perspectivas da sua evolução. Nessa altura e nos anos seguintes estavam na Guiné muitos dos principais intervenientes na preparação e no desenlace do 25 de Abril de 1974. Talvez por isso, porque começaram a ter uma visão mais clara da situação. Os textos (não na totalidade, por haver aspectos que considero de pouco interesse, e dada a sua grande extensão) são transcritos ipsis verbis, limitando-me eu, num caso ou noutro, a fazer um comentário pessoal (devidamente assinalado como tal). PAIGC > Instrução, táctica e logística > I parte [Fixação do texto: A.M.L. e editor L.G] SITUAÇÃO GERAL [...] Considera-se vital para a vida do PAIGC o substancial apoio que tem disfrutado quer da parte dos países limítrofes, quer da maior parte das potências de ideologia comunista, bem como das Organizações Internacionais, apoio esse que, considerado nos mais diferentes aspectos, lhe é indispensável para a manutenção do seu esforço de guerra. Assim, nos países limítrofes da República da Guiné e da República do Senegal, mercê das facilidades concedidas, montou o PAIGC toda uma “máquina de apoio” às forças que no interior do TN [território nacional] e junto à linha de fronteira, mantêm e incrementam luta armada. Dos restantes países e organizações internacionais, o apoio concedido e já referido, materializa-se por: - Instrução de quadros, quer políticos quer militares, na Rússia, China Popular, Argélia e Cuba; - Fornecimento de material de guerra da parte da Rússia, China Ppular e Cuba; - Instrutores e Conselheiros Militares de Cuba [,além de médicos, L.G.]; - Fornecimento de bolsas de estudo com vista à formação de técnicos, médicos, advogados, engenheiros agrónomos, civis e de máquinas bem como outras licenciaturas na Rússia, China Popular, Alemanha de Leste e Bulgária; - Auxílios em dinheiro quer dos países já referidos, quer da Suécia e numerosas Organizações Internacionais. Para esta situação, tal como se definiu, nada permite antever qualquer alteração no que respeita aos países do bloco comunista. Quanto aos países limítrofes há a considerar para já a diferença entre o apoio incondicional e o apoio com determinadas restrições concedidos respectivamente pelos governos da República da Guiné e República do Senegal, os quais, aliás, mantêm entre si acentuado antagonismo. Assim, só uma mudança do actual regime político da República da Guiné, não previsível mormente os graves problemas de política interna com que se debate, conduziria a uma quebra que se adivinha muito significativa no apoio que este país concede ao PAIGC e que levaria muito provavelmente o governo senegalês, tradicionalmente mais moderado, a impor um maior número de restrições à liberdade de acção de que o PAIGC goza em todo o Casamance. [Expressa-se aqui uma certa mágoa pelo falhanço da Operação Mar Verde, em Novembro de 1970 - A.M.L.] GENERALIDADES No quadro da organização geral do PAIGC, ressalta a absoluta necessidade da criação de elites para enquadramento dos diferentes sectores da vida do Partido, já que, face ao avanço da luta, se torna necessária a obtenção de dirigentes qualificados. Em função dessa necessidade e aproveitando as numerosas bolsas de estudo obtidas dentro do quadro geral de apoio que pelos países do bloco comunista é concedido ao PAIGC, o Partido tem enviado com regularidade elementos seus para o estrangeiro a fim de se especializarem nos diferentes ramos de actividade da Guerra de Guerrilhas e para a frequência de cursos superiores e técnicos. Assim, tem sido referenciada a ida de “bolseiros” do PAIGC para a Rússia, Checoslováquia, Alemanha de Leste, Bulgária, China Popular, Cuba, Marrocos, Argélia, Ghana, Argélia, Senegal e Guiné, países estes onde está referenciada a frequência dos seguintes cursos e especializações: (1) Cursos e especializações de Carácter Militar e Político (a) Os cursos e especializações de Aeronáutica são ministrados na Rússia; (b) Os de Marinhagem e Fuzileiros (tropas de assalto) estes últimos a incluir a especialização de minas aquáticas e transposição de cursos de água, são ministrados na Rússia; (c) As especializações de Política e Guerra Subversiva são obtidas na China (Instituto Popular de Política Estrangeira, em Pequim, e na Universidade Política Militar, em Nanquim) e ainda na Rússia; (d) A preparação militar dos futuros quadros do Exército Popular é ministrada na Rússai, China Popular, Argélia, Marrocos e CubaA. (2). Cursos e especializações civis (a) Na Rússia são ministrados: Cursos de Medicina e Agronomia (Universidade Patrice Lumumba, em Moscovo); Direito Internacional (Moscovo); Medicina e Enfermagem (Kiev) [Kiev é a capital da Ucrânia, que pertenceu à União Soviética, a Rússia, como se lhe chamava. A.M.L.]; Geologia, Pedagogia, Sindicalismo, Cursos Comerciais e Mecânica Auto (Kiev); (b) Na Checoslováqui os alunos do PAIGC cursam Engenharia d Minas, Máquinas e Civil; Medicina e Sindicalismo (controle dos bens do Estado); Espionagem, Higiene e Profilaxia Social; (c) Na Alemanha do Leste, Electricidade e Máquinas; (d) Enfermagem e Sindicalismo na China Popular; (e) Na Bulgária, Agronomia e Medicina, Medicina Veterinária, Enfermagem, Pesca e Indústria Conserveira; (f) Na Hungria, Engenharia e Minas e Economia; (g). Transmissões e Enfermagem em Cuba; (h). Serviços de Vacinação no Senegal; (i). Sindicalismo na República da Guiné. É possível que, além destes cursos e especializações cuja duração vai dos três meses aos cinco anos, existam outros funcionando nestes ou noutros países, o que de momento se desconhece. A instrução militar geral e a instrução literária é também ministrada nas bases de instrução que o IN mantém nos países limítrofes e nas escolas do Partido[...]. INSTRUÇÃO POLÍTICA Os elementos que assumem responsabilidades no âmbito da organização do Partido, são, na sua maioria, recrutados entre caboverdeanos e nas etnias mancanha e papel em virtude de serem estas as que apresentam um maior grau de evolução. Uma vez seleccionados, os futuros quadros políticos vão para o estrangeiro nomeadamente Rússia e China Popular, sendo conhecidos neste último país, o Instituto de Política Estrangeira, em Pequim, e a Universidade Político-Militar de Nanquim, estabelecimentos estes já frequentados por inúmeros quadros do PAIGC. Estes, após o regresso, são submetidos de tempos a tempos a estágios de aperfeiçoamento, denominados Seminários de Quadros, tendo-se conhecimento que o último foi realizado em Conakry, de 19 a 24 de Novembro de 1969. Os quadros inferiores e combatentes treinados nos campos de instrução dos países limítrofes, recebem também educação política a qual consiste em conhecimentos elementares sobre a história da Guiné, sobre os dirigentes do Partido, o Partido e seus programas, situação política e económica da Guiné e Portugal, aprendendo ainda como fazer a propaganda da luta de Libertação Nacional entre as populações. Igualmente as populações são educadas politicamente, função esta principalmente a cargo dos Comissários Políticos dos diferentes escalões da estrutura político-administrativa, o mesmo acontecendo com os alunos das escolas do Partido [...]. (Continua) ___________ Nota de L.G.: (1) SUPINTREP: Do inglês, Supplementary Intelligence Report, ou seja, Relatório de Informação Suplementar.