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terça-feira, 27 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13200: (In)citações (64) Nunca é demais... reafirmar o apreço pelo alto serviço prestado pela Marinha no apoio às unidades do setor de Catió... [ Manuel Lema Santos / Benito Neves / Victor Condeço (1943-2010) ]


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Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67 > 22 de fevereio de 1967 > Regresso da Op Sobreiro. Fotos do álbum de Benito Neves, ex.fur mil

Fotos (e legendas): © Benito Neves (2010). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, de 25 do corrente, de Manuel Lema Santos [,1º tenente da Reserva Naval,  imediato na NRP Orion, Guiné1966/68; membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de abril de 2006] [, foto à esquerda]:

Caro Luis Graça e restantes Companheiros Tertulianos,

Não posso passar ao lado da leitura de textos do Benito Neves (*) e outros Camaradas ou Companheiros sem que, tendo partilhado missões e vivências em cenários demolidores da razão humana, me perfile num cumprimento sentido e pesaroso pelo desaparecimento prematuro, quer do Victor Condeço quer de muitos outros camaradas. Alguns, meus amigos pessoais e que por lá deambularam comigo.

Conheci-o [, ao Victor Condeço,]  em escassas mensagens trocadas, grandes na dimensão da partilha e o inquestionável orgulho e gratidão que tanto ele como o Benito Neves reafirmaram no repetido apreço do alto serviço que a Marinha e as imortais LD, LDP ou LDM representaram na sobrevivência daquelas unidade militares sitiadas em remotos aquartelamentos "cus de judas" e outros em "nenhures". Todos lá sabemos ir sem GPS...

Benito Neves
Mais tarde, foi-me concedida a honra e o prazer de integrar o grupo
de um almoço-convívio por eles organizado num restaurante, e imagine-se, com um antigo guerrilheiro do PAIGC, também a senhora, a filha do casal e já com uma neta. A continuidade do Benito Neves no envio de documentos históricos não representa para mim uma novidade. Prefirirei saudá-lo como um necessário e aplaudido regresso. A memória histórica da região de Catió passa necessariamente por testemunhos como o dele. Obviamente que não só o dele, mas também o dele.

Mais do que alargar-me em romagens de saudade à minha memória histórica Guiné, prefiro reencaminhar antigos camaradas e companheiros para as linhas que então publiquei, suportado pelas mensagens trocadas com o saudoso Victor Condeço e o Benito Neves.

Muito grato fico pelo conhecimento que me deste! 

Abraço amigo para todos,

Manuel Lema Santos
 
PS - Vd. poste no meu blogue Reserva Naval > 2 de abril de 2010 > Nunca será demais... .as acções das LD’s, LP’s, LDP’s e LDM’s na Guiné!

Victor Condeço
(1943-2010)
Com especial destaque para a mensagem [, em comentário, de 3 de abril de 2010, ] do Victor Condeço [1943-2010]:

(...) 'Nunca é demais...' afirmar que para Catió, a Marinha foi crucial para a sua sobrevivência como localidade e como região.

A ligação a Bissau e a outras povoações fazia-se antes da guerra, como sabemos, pela estrada para Buba, que a meio percurso ligava com a de Bedanda.

O início das hostilidades na zona, em 25 Junho 1962, com o afundamento da jangada de Bedanda, abatizes nas estradas e os cortes de fios telefónicos, a vila de Catió ficou isolada.

As estradas acabariam por ser abandonadas, a partir desta altura o transporte de pessoas e bens era quase integralmente feito por via fluvial.

Até Fevereiro de 1968 a pista de aviação só permitia a operação de Helis, DO-27 e as Cessna dos TAG, só a partir desta data com o aumento da mesma, passaram ali a operar os velhos Dakotas da Força Aérea.

Foi já durante a minha comissão, entre finais de 1967 e início de 68, que foram feitos trabalhos de desmatação ao longo daquela estrada a partir do cruzamento de Camaiupa, na tentativa de a reabrir, o que nunca foi conseguido.

Esta operação mobilizava todos os dias uma enorme quantidade de meios tanto de Catió, como de Cufar de Bedanda.

Os trabalhos, foram interrompidos se não erro, após a chegada do novo CMDT Chefe Brig Spínola e nunca reatados no meu tempo.

Por tudo isto pode avaliar-se a importância que a Marinha teve na criação das condições para a manutenção desta Sede de Circunscrição, que tão disputada foi pelo PAIGC.

Com um abraço
Victor Condeço (...)
___________________

Notas do editor

(*) Vd. postes de:


24 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13189: Memória dos lugares (267): Cachil, na ilha de Caiar, a sudoeste de Catió, na margem esquerda do Rio Cobade

25 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13191: Memória dos lugares (268): Cachil, que eu conheci em julho/agosto de 1966... Suplício de Sísifo... e de Tântalo: rodeados de água, mas a potável tinha que vir de barco, em garrafões, de Catió ... (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

sábado, 24 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13189: Memória dos lugares (267): Cachil, na ilha de Caiar, a sudoeste de Catió, na margem esquerda do Rio Cobade



Guiné > Mapa da província > 1961 > Escala 1/500 mil > Pormenor > Posição de Cachil, na ilha de Caiar, a sudoeste de Catió... As ilhas de Caiar, Como e Catunco, estavam separadas do continente, a norte pelo Rio Cobade, a oeste pelo Rio Tombali, a leste pelo Rio Cumbijã, e a sul pelo oceano Atlântico... A ligação de Cachil (na margem esquerda do Rio Cobade)  a Catió fazia-se de barco, pelo Rio Cobade e depois pelo seu afluente, o Rio Cagopère (em cuja margem direita se  situava o porto exterior de Catió).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)



Guiné > Ilha do Como > 1964 > Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964)

Infografia: © Mário Dias (2005). Todos os direitos reservados


"A designada Ilha do Como é, na realidade, constituída por 3 ilhas: Caiar, Como e Catunco mas que formam na prática um todo, já que a separação entre elas é feita por canais relativamente estreitos e apenas na maré-cheia essa separação é notória.

"Na ilha não existia qualquer autoridade administrativa nem força militar pelo que o PAIGC a ocupou (não conquistou) sem qualquer dificuldade em 1963. As tabancas existentes são relativamente pequenas e muito dispersas. Possui numerosos arrozais, o que convinha aos guerrilheiros pois aí tinham uma bela fonte de abastecimento, acrescido do factor estratégico da proximidade com a fronteira marítima Sul e o estabelecimento de uma base num local que facilitava a penetração na península de Tombali e daí poderia ir progredindo para Norte.

"Não tinha estradas. Apenas existia uma picada que ligava as instalações do comerciante de arroz, Manuel Pinho Brandão (na prática, o dono da ilha) a Cachil. A partir desta localidade o acesso ao continente (Catió) era feito de canoa ou por outra qualquer embarcação. A casa deste comerciante era, se não estou em erro, a única construída de cimento e coberta a telha.

"Portugal não exercia, de facto, qualquer espécie de soberania sobre a ilha. Tornava-se imperioso a recuperação do Como. Foi então planeada pelo Com-Chefe a Operação Tridente na qual foram envolvidos numerosos efectivos, divididos em 4 Agrupamentos (...), num total de cerca de 1200/1300 homens"


Fonte: Mário Dias > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias) (15 de Dezembro de 2005)


Guiné > Região de Tombali > Carta de Catió > 1956 > Escala 1/50 mil >  Posição relativa da Catió, com os seus portos, interior (no Rio Cadime, afluente do Rio Capère) e exterior (no Rio Cagopère, afluente do Rio Cobade, que por sua vez liga(va) o Rio Tombali ao Rio Cumbijã).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).





Guiné > Região de Tombali > Ilha de Caiar > Cachil > CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil (1964/66) > Desembarque no Cachil,  a norte da iha de Caiar,  princípio de Dezembro de 1965


Guiné > Região de Tombali > Ilha de Caiar > Cachil > CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil (1964/66) >  O cais de abicagem, feito de troncos de palmeira... Na foto,  a mascote da companhia, o Toby, de raça boxer, ferido em combate. .  Fotos do álbum do ex-alf mil João Sacôto).

Foto: © João Sacôto (2011). Todos os direitos reservados



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto interior (no Rio Cadime, afluente do Rio Cagopère) > Álbum fotográfico do nosso saudoso camarada Victor Condeço (1943-2010) > Foto 1 > " Aproximação ao porto interior de Catió no rio Cadime da lancha de transporte LP2, que fazia o reabastecimento diário do pão e da água ao Cachil na Ilha do Como [1967/1968]. ".



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto interior (no Rio Cadime, e não Cadima, afluente do Rio Cagopère) > Álbum fotográfico do Victor Condeço> Foto 2 > "- Lancha do Cachil LP2, em manobra de atracação ao cais do porto interior de Catió no rio Cadime. Neste dia [11 de Julho de 1967] os passageiros eram um pelotão da CArt 1687 em trânsito do Cachil para Cufar, onde renderia por troca outro pelotão da CCaç 1621, concluindo-se assim a troca das companhias".

Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2010). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13188: Memória dos lugares (266): Cachil, o meu suplício de Sísifo durante 30 dias (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

sábado, 10 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13123: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte VII: Dois importantes depoimentos de camaradas e amigos do Mateus, o sold at cav, José Francisco Couto (Bombarral e Canadá e o ex-fur mil radiomontador Estêvão Alexandre Henriques (Lourinhã) (Jaime Bonifácio Marques da Silva)


Detalhe do cabeçalho do cartaz nº 5, de uma série de cinco, elaborados por Jaime Bonifácio Marques da Silva, e que vão ser exibidos, no próximo dia 11 de maio, no clube local da Areia Branca Lourinhã, na sessão de homenagem á memória do José Henriques Mateus (1944-1966). Aproveitámos alguns elementos de desses cartazes, na impossibilidade técnica de os reproduzir na íntegra, de forma legível, e procurando não repetir informação já aqui divulgada.  Neste poste, reproduzimos dois importantes depoimentos, de camaradas e amigos do malogrado José Henriques Mateus, que estavam com ele em Catió, em 1965/66: o José Francisco Couto e o Estêvão Alexandre Henriques... Vd. também, em poste anterior, os testemunhos dos seus camaradas da CCAV 1484, ouvidos no âmbito do processo sumário organizado na companhia  pelo Alf Mil José Rosa de Oliveira Calvário,  em 22/9/1966. (LG)

(i) Depoimento de José Francisco Couto 
[, natural do Bombarral, vive no Canadá, ex-sold at cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67]:

O soldado n.º 699/65 – S.P.M. 3008, José Francisco Couto, natural da freguesia da Roliça (Baracais), concelho do Bombarral,  foi camarada de pelotão do Mateus e seu amigo. Participou na “Operação Pirilampo”, assistindo ao desaparecimento do Mateus quando ambos atravessavam o Rio Tompar e escreveu dois Aerogramas à mãe do Mateus.

Durante a consulta do espólio do Mateus encontrei entre a sua correspondência dois aerogramas enviados à mãe do Mateus pelo José Francisco Couto. Neles, lamentava as circunstâncias da morte do filho e afirmava que a iria visitar logo que regressasse da Guiné, uma vez que eram naturais de concelhos vizinhos.

Transcrevo o segundo aerograma que enviou à mãe do Mateus em novembro de 1966:

José Henriques Mateus (1944-1966)
Catió – 8-Nov-966

Prezada Senhora

É com os olhos rasos de lágrimas que novamente me encontro a escrever-lhe sendo ao mesmo tempo a desejar-lhe uma feliz saúde a si e aos seus filhos que eu cá vou indo na graça de Deus.

Sei senhora Rosa que ao receber esta minhas notícias mais se recorda da tragédia que lhe roubou o seu querido filho, pois é com mágoas no coração que lhe respondo a tudo quanto me pergunta e peço a Deus que não a vá magoar mais com tudo o que lhe possa dizer. Pois compreendo que além da minha dor ser enorme a sua não tem palavras, pois o destino foi traiçoeiro. Sim, a Senhora pede-me que lhe explique como tudo se passou. Pois sou a dizer-lhe tudo o que sei.

Foi uma das saídas que nós tivemos, durante o dia tudo se passou da melhor maneira na graça de Deus e nós nos sentíamos satisfeitos, mas no regresso tivemos que atravessar um Rio e a corrente era enorme, como enorme era o peso que trazíamos, o que ele ao passar a corda se partiu e foi quando ele foi parar ao fundo sem mais ninguém o ver. Pois quatro camaradas nossos, mal pressentiram o que se estava a passar, atiram-se à água e mergulharam ao fundo para ver se o encontravam correndo o Rio de cima para baixo e vice versa mas o resultado foi o que Senhora já sabe. Não o conseguiram encontrar pois a corrente o arrastaria logo, foi como um balde de água fria que caiu sobre nós e todos os esforços que juntos fizemos foram negativos. Esta é apenas a verdade que podem contar à Senhora aos seus filhos. Sim, também me diz que apareceu alguma coisa dele e é certo, mas não o que a Senhora me diz. Apareceu sim o que lhe vou contar. 


Passados alguns dias nós voltámos a passar por lá, e foi nessa altura um dos Alferes encontrou uma parte da camisa e a carteira no bolso, pois a parte da camisa era só da frente e tinha o bolso onde estava a carteira, que o alferes tem para lhe enviar tudo junto que resta do seu querido filho. E a Senhora não precisa de tratar nada pois a companhia já tratou de tudo, pois também tratou dos papéis para a Senhora ficar a receber algum dinheiro que bastante falta lhe fará e assim, minha Senhora, não quero alongar mais as minhas notícias pois elas só lhe levam mágoas. No entanto, mais uma vez lhe digo, a companhia está a tratar de todos os assuntos e lhe enviará todas as suas coisas. Sem mais me despeço com muitas saudades para os seus filhos um aperto de mão para todos para a Senhora também deste que chora também a sua dor.

José Couto



(ii) Depoimemto do ex-fur mil mecânico radiomontador Estevão Alexandre Henriques ( recolhido em 23. 4.2014)

[Imagem à esquerda, guião do BCAÇ 1858, Catió, 1965/67, cortesia de Carlos Coutinho]


O Estevão foi amigo do Mateus. É natural de Fonte Lima, Stª Bárbara, cocnelho da Lourinhã,  e vive no Seixal.

Com a especialidade de Radio Montador, embarcou para a Guiné a 18 de Agosto de 1965 a bordo do navio Niassa, chegando a Bissau a 24. Fazia parte da CCS/BCAÇ 1858. [Tem página no Facebook, clicar aqui].

A sua proximidade ao Mateus advém do facto de ambos serem naturais de terras vizinhas,  o que levou o Furriel Estevão a conseguir o destacamento do Mateus para a Messa de Sargentos, uma vez que este pertencia a uma companhia, a CCAV 1484, adida ao BCAÇ 1858 e era muito amigo do cozinheiro Santos.

Na altura do acidente, o Estêvão não estava em Catió e só soube do acidente três dias depois, quando regressou de Empada onde tinha ido fazer reparações nos rádios. Pensa que,  se estivesse em Catió na altura da operação, seguramente o Mateus não teria sido nomeado para a mesma, uma vez que, no seu entender, ele já não era operacional.

O que soube em pormenor do acidente foi-lhe contado pelo cozinheiro António José dos Santos, natural das Matas (Lourinhã), amigo do Mateus e que faleceu há cerca de dois anos.


O Santos e o Mateus estão os dois na foto acima,  a preparar uma vitela para a festa de anos do Furriel Estevão a 2.9.66. Esta vitela tinha sido oferecida ao Furriel pelos responsáveis da Casa Gouveia (CUF) pelo facto de este ter feito a instalação do armazém de arroz desta empresa. Quem está de catana na mão é o Santos e ao lado o Mateus.

O Estêvão disse que as Nossas Tropas só voltaram ao local do acidente uma semana despois, altura em que encontraram, então, a camisa ou um pedaço (farrapo) da camisa pendurada (presa) numa árvore. Não sabe quem a encontrou e nunca viu a camisa. O que é certo é que na camisa, farrapo ou pedaço,  se encontrava intacto o bolso da mesma e dentro dela uma carteira em forma de ferradura contendo uma medalha da Nossa Senhora, uma moeda portuguesa furada e um amuleto de cabedal.

Foi o Estevão que entregou a carteira à mãe do Mateus. No final da Comissão o Comandante do Batalhão 1858, cujo nome não se lembra, chamou-o e pediu-lhe expressamente que entregasse a carteira à mãe e lhe apresentasse as suas condolências e do pessoal do Batalhão pela morte do filho. O Comandante nunca lhe falou das circunstâncias do desaparecimento do Mateus. Diz que foi sempre tudo um segredo bem guardado e nunca conseguiu que algum dos camaradas que participaram na operação lhe dissesse o quer que fosse sobre o acidente. Afirma, ainda, que o Mateus nunca lhe falou em fugir [, como sugere um depoimento do Couto].

O Furriel Estevão regressou da Guiné em 9 de Maio de 1967 e só em junho teve a coragem de entregar a carteira à mãe do Mateus. Lembra-se que nesse momento estava presente a irmã do Mateus

Texto: Jaime Bonifácio Marques da Silva


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Foi aqui que viveu, durante 3 meses, entre 8/6/1966 (data da chegada da CCAV 1484 ao setor de Catió) a 10/9/1966 (data do seu desaparecimento) o José Henriques Mateus... 

Álbum fotográfico do nosso saudoso camarada Victor Condeço (1943-2010) > Catió - Quartel > Foto 03 > "Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [Julho de 1967]. Vista parcial da zona antiga do quartel, o primeiro edifício eram quartos, o do meio era o dos quartos do 7,5 e ao fundo a Central Eléctrica Geradora Civil do lado de lá da rua das Palmeiras que ligava à estrada de Priame. Era também a zona da capela/escola, posto de socorros/enfermaria, arrecadação de material de guerra, arrecadação de material de sapadores, oficina de rádio, etc". 


Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel >

"Foto nº 4 - Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [JUL 1967]. Vista parcial da parte nova do quartel. A parada com o cepo (raiz) do Poilão, à esquerda as casernas nº 1 e nº 2, ao centro o edifício do comando, por detrás deste as camaratas de sargentos e depois destas as novas messes ainda em construção, tal como a camarata de oficiais à direita. O telhado vermelho era a messe e bar de sargentos".  



Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Porto Interior. O José Henriques Mateus deve-se ter banhado nestas águas, matando saudades da sua Praia da Areia Branca... Mas é bom que se recorde que o seu acidente (desaparecimento nas águas do Rio Tompar, afluente do Rio Cumbijã) não foi acidente de lazer, mas em combate, com as NT de regresso a Cufar, e com o IN à perna...

"Foto nº 9 > Porto interior de Catió no rio Cadime, depois do trabalho a merecida banhoca".

Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12216: Agenda cultural (291): Livro de poesia "Baladas de Berlim", do nosso camarada J. L. Mendes Gomes: Lisboa, 2/11/2013, às 19h00, na livraria/bar Les Enfants Terribles, do Cinema King. Apresentação da obra e do autor a cargo de Luís Graça e Paulo Teia




1. Mensagem do J.L. Mendes Gomes, com data de 10 do corrente:


Assunto - Convite

Olá,  Luís!

Como vais? Oxalá bem.


O dia 14 [, data inicialmente prevista para o lançamento do livro] está à porta.

Os livros estão quase prontos.

Da Editora, perguntaram-me se eu tenho alguém que possa falar de mim...na sessão de lançamento.

Lembrei-me logo de ti... Conheces melhor que todos... Será que me podes dar esse gosto e honra ?

Envio-te o texto do livro para que possas analisar.

Um grande abraço,

Joaquim

[ O Joaquim Luís Mendes Gomes foi alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66 (**); é jurista, reformado]

2. Resposta de L. G.,  no mesmo dia:

 Joaquim:  O teu convite é um grande honra!,,, Claro que aceito... Vou ter que reler os teus poemas este fim de semana e preparar umas palavriinhas...

Diz-me só onde e quando, a que horas...

(...) Dá.me mais pormenores que é para eu fazer um poste, para a série Agenda Cultural, e divulgar o evento, interna e externamente (...)

Parabéns. Um abraço fraterno. Luis


3. Com a devida vémia ao autor e ao editor, reproduz-se aqui um dos belíssimos poemas do livro Baladas de Berlim [Lisboa: Chiado Editora, 2013 (Coleção Prazeres Poéticos), p. 27/28]:








Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico do nosso saudoso  Victor Condeço  (1943-2010) > Catió - Vila > Foto 50 > "Lagoa com nenúfares à esquerda na estrada de Catió/Priame".

Foto (e legenda): © Vítor Condeço / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2007). Todos os direitos reservados.

4. Local da sessão (*):

Bar e livraria do cinema King, "Les enfants terribles"

Telef 21 846 4556


29 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

11 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)

8 de fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

22 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

8 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

11 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar

1 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

20 novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

2 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 de outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo

sexta-feira, 15 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11254: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (63): O Benito Neves, de Abrantes, no restaurante A Lúria, S. Pedro de Tomar, com o Luís Graça, que foi ao lançamento de um livro a Tomar... Recordando com saudade o Victor Condeço (Entroncamento) e o José Henriques Mateus (Lourinhã)


Foto nº 319 > Tomar: Restaurante A Lúria, freguesia de São Pedro de Tomar, perto da Barragem de Castelo de Bode... O Benito Neves e o Luís Graça


Foto nº 310 > Tomar: Barragem de Castelo Bode, no rio Zêzere, afluente do Rio Tejo [Foi construída entre 1945 e 1951]


Foto nº 394 > Tomar: Rio Nabão: moínhos e lagares de El-Rei 


Foto nº 350 > Tomar: Parque do Mouchão e Rio Nabão


Foto mº 380 > Tomar: Parque do Mouchão e Rio Nabão



Foto nº 332 > Tomar_ Parque do Mouchão


Foto nº 323 > A antiga rua da Judiaria, onde fica a antiga sinagoga (descoberta em 1923 pelo avô do Pepito, Samuel Schwarz, e pai da Clara Schwarz, a decana do nosso blogue; hoje monumento nacional, e museu hebraico Abraão Zacuto)...No sítio oficial da Sinagoga de Tomar pode ler-se: "Em 1921, na sequência de uma visita (1920) de membros da Associação de Arqueólogos Portugueses, viria a ser classificada como Monumento Nacional. Em 1923, Samuel Schwarz, um judeu polaco engenheiro de minas chegado a Portugal seis anos antes, adquiriu a Sinagoga de Tomar, recuperando-a do estado de abandono em que se encontrava, e doou-a ao Estado Português (1939) para aí ser instalado um museu: o Museu Luso-Hebraico de Abraão Zacuto."...

Há uma Associação dos Amigos da Sinagoga de Tomar (AAST), criada em 28 de Junho de 2011, em Tomar. "Sem fins lucrativos, a Associação tem objectivos de carácter técnico, cultural e científico, nomeadamente preservar a identidade religiosa bem como restaurar e conservar os bens culturais que lhe estão associados (...) A Direcção da Associação é presidida por João Schwarz da Silva, neto de Samuel Schwarz [, e irmão do nosso amigo Pepito,] que doou a sinagoga ao Estado português por escritura datada de 28 de Março de 1939".




Foto nº 324 > Estátua de Gualdim Pais, o grão-mestre da Ordem do Templo, que em 1160 fundou a cidade e mandou erguer o castelo. Tomar tem um valiosíssimo património que é preciso conhecer e divulgar... As fotos acima são uma pequena amostra. faltam aqui jóias da coroa como o Convento de Cristo, por exemplo... O giro que dei, revisitando a cidade, foi curto (LG)...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


1.  Que este Mundo é Pequeno, é... Já o sabíamos. Ainda ontem, os 115 cardeais da Igreja Católica foram buscar, quase aos confins do mundo, a Argentina, o sucessor de Pedro, o novo papa Francisco I... Que a nossa Tabanca é Grande, é... Já somos 609 os grã-tabanqueiros... E estamos espalhados um pouco por todo o lado, do Minho...ao Canadá. Não disse Timor, porque não tenho a certeza.

Mas temos amigos e camaradas um pouco por todo o lado... Por exemplo, em Tomar, em Abrantes....  A prova dísso é que ontem fui fazer a Tomar a apresentação de um livro, de um antigo aluno meu, o doutor Luís Morais, e antes passámos pelo restaurante "A Lúria", para almoçar... E sabem quem é que vou encontrar na mesa ao lado ? Nada mais nada menos do que o Benito Neves, que é de Abrantes, e que estava ali com a mãe e com a esposa, a celebrar o 90º aniversário da mamã... Que bela, senhora, que bela cabeça!... Ele com 70, a mamã com 90... Que fantástico e inesperado encontro!...

Não o conhecia pessoalmente, foi aliás ele que me reconheceu... Viemos os dois ao cheiro do sável e da lampreia, pois claro. Fiquem, de resto, aqui com a referência: "A Lúria" é uma das catedrais da gastronomia da região, já lá tinha ido antes duas vezes... Tomem boa nota do sítio, do preço e dos  pestiscos (*).

Recorde-se que o Benito Neves, bancário reformado (há 14 anos, acrescentou ele) foi fur mil atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, sendo membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007.

2. Estando com o Benito, tivemos que falar inevitavelmente do nosso saudoso Vitor Condeço (1943-2010), que era natural do Entroncamento, e um dos nossos grã-tabanqueiros que a morte já levou nos seus frios e cruéis braços... O seu desaparecimento afetou-o muito, ao Benito. Éram amigos e contemporâneos de Catió. Eis o que,  já na fase terminal da doença do Victor,   nos escreveu o Benito:

(...) O Victor é meu 'amigo do peito' desde há muito tempo, inclusivé estivémos juntos em Catió. E apadrinhou a minha entrada na Tabanca Grande.

A meu convite tem participado nos almoços de confraternização da minha Companhia, que esteve adida ao Batalhão do Victor, embora não eu fizesse parte do Batalhão. Era uma Companhia independente que esteve em Catió em intervenção ao Sector.

Entre muitas vezes que nos encontramos, em finais de Abril estive com o Victor Condeço na festa de aniversário do meu "cabo pastilhas" e nada fazia prever que 30 dias depois se viesse a revelar a doença [que ele tem]. Desde que nos reencontrámos há uns anos - e foi através do blogue - que temos contactado e privado com frequência. Tornámo-nos mais amigos.

Ontem voltei a telefonar ao Victor. Atendeu-me o genro (o Victor só esporadicamente atende o telefone). O Victor apercebeu-se de que era eu e quis falar comigo (...).

Um camarada nosso, ex-Fur Mil da minha CCav 1484, é médico homeopata e também tem estado a acompanhar o Victor com a ajuda possível (...).

Há alturas na vida muito difíceis, tanto mais quando temos apenas palavras parapoder dar força num sofrimento que quereríamos ver atenuado.

Estou triste mas a acompanhar a situação muito de perto e a dar a ajudapossível. No meu intimo temo perder um amigo que ao mesmo tempo é um homem bom,mas ao mesmo tempo quero acreditar em milagres.

Desculpa este meu desabafo, mas sei que gostas de saber o que se passa com o pessoal da tua Tabanca Grande. (...) 


3. Inevitável foi também falarmos do trágico (e ainda hoje misterioso) desaparecimento do José Henriques Mateus, soldado da companhia do Benito, a CVAV 1484, que era natural do meu concelho, Lourinhã. Nascido à beira-mar, na Areia Branca, entre moinhos e dunas de areia, era muito provável que o Mateus soubesse nadar... É por isso muito estranho o seu desaparecimento no Rio Tombar, no sul da Guiné (actual região de Tombali) e sobretudo, uns dias depois, a localização da sua camisa com uma imagem da Nossa Senhora de Fátima, uma nota de 50 pesos e a sua identificação... Essa estranha e trágica história já foi contada, em 2007, pelo seu e nosso camarada Benito Neves. Disse-lhe que está prevista, para este ano, uma homenagem de gente da terra ao malogrado José Henriques Mateus.

A companhia teve este desaparecimento em combate. E outra baixa mortal, por acidente no quartel. Teve muitos feridos em combate. Procurei animar o Benito para que ele possa continuar a colaborar connosco. Sei que ele nos lê com regularidade. Falou-me do fabuloso arquivo fotográfico do Victor Condeço que seria uma pena perder-se um dia. Temos dezenas cópias, digitalizadas, que ele nos mandou em vida, mas julgo que estão longe de ser a totalidade do seu espólio. Segundo o Benito, ele tinha um laboratório de fotografia em Catió. Seria uima alegria  um dia podermos fazer uma exposição fotográfica sobre Catió, com o material do Victor, e em sua homenagem Oxalá a família queira e possa colaborar connosco. Seria também preciso encontrar um parceiro institucional que quisesse financiar e  patrocinar  a exposição... 

Enfim, ainda falámos uns longos minutos, enquanto não vinha o sável e a lampreia... Mas não me ocorreu perguntar ao Benito se o meu primo, o alf mil capelão Hiorácio Fernandes , natural de Ribamar, Lourinhã. ainda foi do seu tempo: ele esteve em Catió, na CCS/BART 1913, entre setembro de 1967 e maio de 1969.   Mas reparo agora  que ele já não deve tê-lo apanhado, uma vez que a CCAV 1484 esteve de intervenção ao setor de Catió de 8 de junho de 1966 a finais de julho de 1967... 

Benito, fiquei por feliz por te encontrar num sítio como A Lúria, na companhia da tua esposa e da tua mãe. Muita saúde, e alegrias para a família toda. Seria bom voltarmos a encontrar-nos, agora em Monte Real, no dia 22 de junho de 2013, no nosso VIII Encontro Nacional, em que vamos celebrar os 9 anos de vida do nosso blogue.

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Notas do editor:

(*) Restaurante "A Lúria" (=toca do coelho)... Era uma antiga taberna, até 1979...Francisco Rodrigues transformou-na num dos melhores, se não o melhor, restaurantes da região dos templários. Fica em Portela, freguesia de São Pedro de Tomar ( a 9 km de Tomar e a 3 da barragem de Castelo de Bode)... Tome-se a estrada de Santa Cita para o Castelo do Bode. Tudo ali é bom... Veja-se o que diz o Expresso > Escape (e eu confirmo):

(...) É um dos restaurantes mais conhecidos da região de Tomar e nas duas salas de refeição desfilam bons pratos regionais e de cozinha tradicional portuguesa. Quem diria que a velha tasca do Chico da Beca fosse transformada, pelo talento da filha, num templo de bem comer! Assim, para começar chegam umas cilercas [, cogumelos] com ovos, seguindo-se um desfilar de pratos saborosos e bem confecionados, como é apanágio da casa: polvo no forno com migas, cabrito assado no forno e magusto de carnes grelhadas com cilercas. Em época própria, a lampreia e o sável são imperdíveis. (...)

(**) Último poste da série > 4 e fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11053: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (62) ): Aníbal Silva, através da filha, procura e encontra o seu antigo comandante do 1º Pel da 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74), António Manuel Gaudêncio Nunes, ex-alf mil op esp, natural de Lisboa

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10912: O cruzeiro das nossas vidas (17): Relembrando as nossas separações e partidas...

1. A propósito da nova série "Cartas de amor e guerra" (*), está na altura de reler alguns dos postes que publicámos numa série já esquecida,  "O Cruzeiro das nossas vidas".... Só este material dava para fazer uma antologia... Recorde-se aqui os 16  postes já publicados, e os seus autores (um dos quais infelizmente já não está entre os grã-tabanqueiros vivos, mas cuja memória perdurará entre nós: Victor Condeço, 1943-2010):

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

(...) No chamado bar de Oficiais havia uma banda de música, composta se não me engano por três indivíduos de idade avançada, pelo menos para mim, o que tornava o ambiente ainda mais surreal. A mesa de pingue-pongue na varanda (não sei o termo náutico, tombadilho?), junto ao bar deixou rapidamente de ter clientes porque, julgo eu, devem ter acabado as bolas no Atlântico ao sabor das ondas.

Lembro-me ainda da excitação do pessoal quando se avistaram peixes voadores, porque tirando a experiência dos mais viajados, para a maior parte era algo que apenas pertencia aos livros de Zoologia. (...) O calor, quando entrámos no Golfo da Guiné, era insuportável, e somado ao barulho constante das máquinas do navio e ao cheiro a vomitado que tomava conta dos corredores, tornou o Natal a bordo algo de inesquecível, dando razão àqueles que, preocupados com o nosso bem estar, nos fizeram embarcar naquela data para a Guiné. (...)





19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)

(...) Embora muito me custe contrariar o Paulo Raposo, não ficaria de bem com a minha consciência se não rectificasse a observação que ele faz a meu respeito. A História não se compadece com imprecisões! Há que relatar os factos tal como eles se passaram efectivamente, sob pena de os vindouros tirarem conclusões erradas. E a rectificação é a seguinte: Eu não estava a mandar nenhuma mensagem de telemóvel, pela simples razão de que os radares do Uíge interferiam com a captação de rede do meu aparelho. Estava naquele preciso momento, no camarote onde íamos viajar, a perfurar um telex, outro aparelho muito em voga também naquela época. Fica reposta a verdade! A Bem da História!!!! (...)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)

(...) Talvez nem todos saibam que 90% do reabastecimento dos três teatros de operações [ - Angola, Guiné e Moçambique - ] nos 13 anos de guerra foram efectuados por via marítima, mas é verdade!

Talvez também nem todos se tenham apercebido que as áreas oceânicas que os nossos transportes de tropas atravessavam eram contíguas a mares territoriais de países hostis, países que, em muitos casos, tinham saído recentemente de situações coloniais. Países que assumiam protagonismo internacional crescente, que se organizavam a partir de Bandung, no movimento dos não-alinhados. Países que assumiam claramente posições agressivas contra a política ultramarina/colonial de Portugal. Países que faziam ouvir as suas vozes nas posições que as Nações Unidas iam assumindo contra a política do governo do nosso país. (...)

 21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)

(...) O material digitalizado que junto em anexo, pode ajudar a ilustrar esses mesmos cruzeiros e o Luís usará como lhe aprouver se neles reconhecer algum interesse. Trata-se da ementa do primeiro jantar de regresso da Guiné a bordo do NM Uíge e do programa de distracções para os cinco dias previstos da viagem, que afinal acabaram por ser seis. Os passageiros eram os militares dos BART 1913 e do BART 1914.

São portanto, recordações desse cruzeiro, iniciado a 26 de Abril de 1967, quando na Rocha do Conde Óbidos embarquei no Uíge com destino à Guiné. 
Já tinha quase vinte meses de tropa, já nem contava de ser mobilizado, mas fui, infelizmente todo o pessoal do meu curso foi contemplado com um destes cruzeiros. (...)


11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)

(...) O TT Niassa, em Maio de 1969 e conforme reza a Ordem de Transporte nº 20 do ME, transportou a CCAÇ 2590 e também as Unidades indicadas no seguinte quadro, com o itinerário e horários que mais abaixo se discriminam. (...) Tratou- se de uma dupla viagem Lisboa–Bissau–Lisboa–Funchal–Bissau–Lisboa. teve início a 5 de Maio, em Lisboa, e terminou, novamente em Lisboa, a 13 de Junho de 1969. (...)- Transportou de Lisboa, na totalidade, 52 oficiais, 187 sargentos e 1299 praças além de 1727 toneladas de carga, depois de corrigidos alguns desvios de última hora à previsão acima feita e conforme a seguinte listagem do quadro abaixo. (...)


 
15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1953: O cruzeiro das nossas vidas (6): Ou a estória de uma garrafa, com o SPM de Mansoa, que viajou até às Bahamas (Germano Santos)

(...) Já não me recordo muito bem, mas nesse dia de Natal ou no dia a seguir, alguns de nós - talvez uns quatro ou cinco - decidimos carpir as nossas mágoas com alguém que estivesse noutras paragens, e do mar nos quisemos servir como meio de comunicação. Vai daí, lançámos ao mar algumas garrafas com as mais variadas mensagens. A minha era tão só um cartão de visita, no qual acrescentei o SPM do Batalhão ou do local para onde íamos (Mansoa).

O tempo foi passando e a guerra também. E surpresa das surpresas. Em finais de Janeiro de 1972 (um ano e pouco após ter deitado ao mar a garrafa), recebo uma carta proveniente dos Estados Unidos da América, mais concretamente de Milwaukee, datada de 19 de Janeiro desse ano e assinada por uma Senhora de nome Lillian Drake, dando-me conta de ter encontrado a garrafa com o meu cartão. (...)



3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)


(...) Penso que, tal como tantos outros que partiam com a “alma a sangrar” mas em navios cheios de militares, tive sorte com a viagem para a Guiné. Em pleno verão, 10 de Agosto de 1966, com mar chão, saiu de Lisboa o “Rita Maria”, navio misto de carga e passageiros, que nesta viagem levava poucos militares sendo a maioria dos passageiros civis, nomeadamente estudantes, com destino a Cabo Verde. Ainda foi a Leixões só para meter carga, depois Mindelo e Praia com paragens curtas e finalmente Bissau. (...)


13 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2044: O cruzeiro das nossas vidas (8): Porto de Lisboa, Cais de Alcântara (Luís Graça)

(...) Foi daqui que todos partimos (...) . Todos ou quase todos (os das ilhas adjacentes, partiam do Funchal ou de Ponta Delgad). Vocês ainda se lembram ? A Administração do Porto de Lisboa comemora 100 anos. No vídeo (promocional) O Porto de Lisboa há uma escassa referência ao passado. Mas não se pode ignorar ou escamotear os anos de brasa da guerra colonial... Há uma odisseia, há quase um milhão de homens a partir e a chegar. E depois de 1974, há mais meio milhão de homens, mulheres e crianças que retorna de África, com os seus parcos haveres. Por ar e por mar. Uma formidável muralha de contentores irá separar Lisboa e o Tejo, irá cortar o contacto visual dos lisboetas com o seu rio... Passei há tempos por lá... Muita coisa mudou... O edifício, arquitectura do Estado Novo, é o mesmo... As infraestruturas portuárias e toda a envolvente é que mudaram... Hoje é um pomposo terminal de cruzeiros de luxo, por onde passam os maiores navios do mundo, como o Queen Mary II... Sentimentos contraditórios assaltam-nos quando voltamos ao passado.(...)



15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2050: Cruzeiro das nossas vidas (9): Do Funchal para Bissau no Ana Mafalda (Carlos Vinhal)

(...) Entretanto o tempo foi passando, e no dia de saída para a Guiné, 13 de Abril de 1970, já a bordo do navio “Ana Mafalda”, o sargento Rita veio ter comigo e com o Carneiro para nos dizer que não precisávamos de procurar alojamento a bordo, pois iríamos no camarote deles que tinha quatro beliches.

Ficámos contentes, pois ficaríamos mais bem instalados que os restantes camaradas furriéis. Os camarotes dos oficiais e, dos sargentos do quadro, eram no casario superior do navio enquanto que os furriéis iam nos camarotes do casco, junto à linha de água. Já agora, diga-se que os soldados e cabos iam nos porões, instalados de qualquer maneira. Para piorar a situação, o navio já trazia dos Açores uma Companhia açoriana com o mesmo destino que o nosso, a Guiné. (...)



13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)

(...) O Velho Niassa... Foi este o navio que nos transportou à Guiné, e também de regresso a Portugal. Antes tinha sido um cargueiro, farto de cruzar oceanos, tal como o Uije, o Alfredo da Silva e outros. Foi no inicio da guerra colonial adaptado ao transporte de tropas. (...) Além dos enjoos e das noites mal dormidas a bordo, recordamos também que tinha uma agradável sala de jantar, destinada apenas a oficiais e sargentos. Já do alojamento para os soldados o mesmo não se pode dizer, em todos os cantos do porão tinham sido improvisados dormitórios, as condições eram deploráveis. A comida era razoável, no entanto a sopa, embora fosse a mesma todos os dias, no menu tinha todos os dias um nome diferente... O bar onde se bebia whisky, cerveja e se jogava à lerpa, dispunha de um pequeno conjunto musical que à meia tarde tocava sempre os mesmos trechos musicais, enfim o seu repertório não era muito vasto (...).

21 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3338: O cruzeiro das nossas vidas (11): Viagem para a Guiné em época de Carnaval (Jorge Picado)

(...) Uma vez que o embarque era na segunda-feira de Carnaval, dia 9 de Fevereiro de 1970, tive de abalar para Lisboa no dia anterior onde pernoitei. As despedidas ocorreram no almoço desse domingo em minha casa onde reuni toda a Família mais chegada. Afinal, ainda que não manifestássemos, não sabíamos se voltava-mos a rever-nos.

Chegada a hora e depois de todos fazerem das tripas coração como se costuma dizer, para não haver fracos, meti-me no carro dum tio de minha mulher (que por ironia do destino até fazia parte do colégio que elegia então o Presidente da República... por isso vejam lá com que prazer ele levaria o sobrinho que ia defender aquilo em que ele acreditava!!!), juntamente com o meu sogro e os meus 2 rapazes de 6 e 5 anos (já que o de 2 anos ainda era muito novo) e abalámos para Lisboa. (...)


23 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3345: O cruzeiro das nossas vidas (12): Uíge, 5 de Fevereiro de 1969, destino Guiné (António Varela)

(...) No dia 5 de Fevereiro de 1969, depois das despedidas da família e do desfile militar, fui ainda contemplado pelo Movimento Nacional Feminino com um livrinho sobre a Guiné, uma imagem religiosa e um maço de tabaco (Três Vintes). O cais da Rocha de Conde de Óbidos estava apinhado de gente para o último adeus, emocionado.

O navio que me transportou e ao BART 2865 foi o Uíge, fomos colocados oficiais e sargentos nos camarotes e os soldados no porão. Com o navio todo inclinado para o lado do cais, num último adeus sentido, com muitos lenços brancos a acenarem para os filhos, maridos, irmãos, namorados, que se afastavam agora a caminho do mar largo, com destino à Guiné. (...)


15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3894: O cruzeiro das nossas vidas (13): S.O.S., fogo a bordo do Carvalho Araújo (Luís F. Moreira)

(...) Dia 25 de Novembro de 1970, cerca das 10.00 horas, tudo a postos para embarcar mais uma carga para a Guiné. Todas as cerimónias habituais, ninguém ligou nada. Portaló colocado ao navio e começaram a entrar os militares que pertenciam às Companhias, em seguida aqueles que iam em rendição individual, (era o meu caso), e quando toda a gente pensava que íamos seguir viagem, começaram a chegar carrinhas militares, mas celulares.

Imediatamente surgiu um boato, constava que tinha havido distúrbios a bordo e que os tropas envolvidos já não iam seguir connosco, mas iriam presos. Passado algum tempo tudo se clarificava, as carrinhas começaram a encostar ao navio e a descarregar os presos que transportavam, eram militares que iam de facto para a Guiné de castigo e com a indicação de serem colocados em locais de maior porrada. (...)


10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5248: O cruzeiro das nossas vidas (14): Queremos o Uíge (António Dias)

(...) A grande maioria de nós viajou para as Áfricas de barco. Durante 2 anos (menos os 2 meses de férias) ouvi os meus camaradas soldados (a sonhar/dormir) - "QUERO O UÍGE"! Em especial nos destacamentos pois era ali que estava mais perto deles naquelas noites tropicais.

Ainda tenho o folheto da "Última Ceia" no Uíge a caminho da Guiné para os que viajaram em 1.ª classe, gostarei de partilhar com aquele pessoal. (...)

24 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5703: O cruzeiro das nossas vidas (15): O dia do embarque (José Marques Ferreira)

(...) E lá entrei no barco, qual carga de gado vivo, que se chamava «Sofala». Como era preciso cumprir as ordens de Salazar (porra, sempre este nome a vir à baila, quando falamos da nossa juventude toda ela passada sob o síndrome da guerra colonial), que dizia «rápido e em força». Nem que fosse preciso tratar as pessoas como meros animais, que entravam num cargueiro sem condições para transportar o que quer que fosse, quanto mais pessoas!!! Ele eram porões e mais porões, num cargueiro enorme, “carregado” de milhares de homens uniformizados militarmente, qual quantidade enorme de carne para canhão, ali metidos, tendo ainda, por baixo desses porões, uma quantidade enorme de outros soldados com viaturas, armamento, máquinas e munições… muitas munições. (...)

29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6274: O cruzeiro das nossas vidas (16): Uma viagem calma no Carvalho Araújo a caminho da Guiné (António Tavares)

(...) Ao meio-dia de 24.04.70 e após o terceiro apito arrastado, o mais longo dos anteriores, zarpou o “paquete” Carvalho de Araújo, adornado a estibordo, com o BCaç 2912 e alguns tropas individuais a bordo, num total de 500/600 militares.

À medida que o barco se aproximava da barra os choros e gritos lancinantes dos familiares, na Gare Marítima de Alcântara, iam sendo inaudíveis. Fomos almoçar, a comida era razoável… nunca tinha comido tanta marmelada e queijo à sobremesa como naqueles dias... ainda era a doçura do mel… o fel viria dias depois! (...)


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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 8 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10910: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (1): A separação e a partida