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sábado, 10 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9175: Alguns apontamentos sobre a acção da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74) (2): Tangali, Março de 1974: Senti-me mal, muito mal, quando de repente dei conta que estava ali como mero colector de impostos!... (José Zeferino)


Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > 2ª CCAÇ /BCAÇ 4616 (1973/74)  > Com o alferes Simas, à direita, da 1ª CCAÇ do 4616,de Mansambo, em Agosto de 1974. Na cambança... 
.



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > 2ª CCAÇ /BCAÇ 4616 (1973/74) > O Alfg Mil Zeferino, no Rio Corubal, na cambança,  a bordo de uma canoa.




Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > 2ª CCAÇ /BCAÇ 4616 (1973/74) > A tabanca de Cambesse, vista da picada.


Fotos: © José Zeferino (2011). Todos os direitos reservados.




1. Mensagem do nosso amigo e camarada José Zeferino, ex-Alf Mil, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/4):


Data: 7 de Dezembro de 2011 19:43

Assunto: Alguns apontamentos sobre a acção da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4616 / 73-74 na Guiné (*)

 Caro Luís:


Depois de algum tempo sem estar com os camaradas, só por visitas ao blogue, volto a propor mais um texto sobre situações vividas na Guiné. Não tendo tido grande disposição,por vários motivos, para convívios ,optei por não levar esse meu estado de espirito para a nossa Tabanca.

Espero em breve poder dar um abraço aos camaradas.

Como não concordo nem uso o "novo acordo ortográfico" – penso que a evolução de uma linguagem escrita não deve ser decretada por governantes – peço-te que não o apliques. Arranha-me a cabeça quando leio algo com essa nova ortografia.

Um grande abraço para ti e todos os camaradas da Guiné

José António dos Santos Zeferino



2. Março de 1974


Tangali era uma pequena tabanca, a sul do Xitole, de passagem para o local, no rio Corubal, onde se fazia a cambança de víveres frescos e correio provenientes, em última escala, da Aldeia Formosa. Normalmente duas vezes por mês.

A população parecia-me a menos empenhada, na nossa zona, em ter boas relações connosco. Muito diferente de, por exemplo, Cambesse, com milícia em auto-defesa, onde se vivia uma cooperação excelente.

Ao contrário da zona a norte – Ganha Balanta, Endorna, Galo Corubal e Duá – esta não nos dava grandes preocupações: alguns, poucos, patrulhamentos e ainda uma operação, a nível de companhia,  com duvidoso apoio da aviação.

Nesse dia estava o meu Gr Comb escalado para uma "acção" que pensei ser de teor psicológico junto da população. Contava com a presença do nosso capitão.

O chefe da tabanca recebeu-nos com as suas vestes compridas, brancas. Nas suas mãos uma caixa de metal, calcinada, e com cinzas no interior. Justificava, um pouco exaltado, ao nosso capitão, o não pagamento de um imposto por se terem incendiado os valores que estariam dentro da caixa!

Mais: o incêndio teria sido provocado por uma ponta de cigarro que um soldado teria lançado quando de uma passagem de ou para o ponto de cambança.

Quando me apercebi que, afinal, estava ali como um mero colector de impostos, afastei-me da discussão. 

Não sei como ficou resolvida a questão. Nem procurei saber! Lembro-me que me senti mal. Muito mal!


___________________


Nota do editor:


(*) Vd. poste de 17 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4545: Alguns apontamentos sobre a acção da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74) (1) (José Zeferino)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9170: (Ex)citações (164): Furriel, turra é preto e vaca é branca!... (Henrique Cerqueira)

1. Comentário,  de Henrique Cerqueira  (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), ao poste P9116 (*):

Caros Camaradas:

Na verdade em quase todos os destacamentos havia episódios como o do Ferraz,até porque havia por parte das populações, em especial pelos chefes de tabanca, uma regra, mais ou menos imposta pelo PAGC, para que boicotassem o mais possível o abastecimento de bens aos militares. 


Daí ser muito difícil a compra de galinhas ou outros bens alimentares. Assim sendo,  e de quando em vez, para "desenjuar" da bianda, ou do esparguete, lá se tinha que recorrer à habilidade,tal como aconteceu uma vez no Biambe.

Certo dia ao cair da noite andavam alegres vaquinhas a passear num terreno junto ao arame e um Furriel,  com a sua G3,  apontou,disparou e acertou.

Grande escândalo,  as vaquinhas nunca eram de ninguém, mas nesse dia apareceu o Abdul que era chefe de Milícia,  a reclamar.Todos foram ao Capitão e o Furriel justificou do seguinte modo:
- Ó Abdul, há dias atrás fomos atacados pelo IN,  agora estava a olhar para o arame e apareceu-me um turra e disparei...

E o Abdul, muito espantado,  responde:
-Mas..., Furriel,  turra é preto e vaca é branca!!!
- E depois?...- retorquiu o Furriel.  - Eu de noite não distingo cores.

Bom,  ele,  Abdul,  lá vendeu a vaca morta e o pessoal lá conseguiu uns bifinhos fresquinhos.

Este comentário é uma treta mas é verdadeiro por tal nem sequer é digno de polémicas ou julgamentos. Foi mais uma das nossas aventuras da Guiné. (**)

Um abraço para todos

Henrique Cerqueira

PS - Quanto à dificuldade de comprar animais lá na Guiné,  era mesmo por imposição dos elementos do PAIGC. Pois que em Bissorã e no Biambe haviam manadas imensas e,   sempre que procurávamos os donos,  eles respondiam invariavelmente que eram dum primo de Bissau... 

Mais tarde,  em Bissorã,  para comprar uma cabra,  eu dirigi-me ao administrador local e este obrigou um produtor a vender e aí o mesmo me explicou que era mesmo por imposição (clandestina,  claro) que o PAIGC fazia às populações,   ameaçando com represálias.

___________________

Notas do editor:

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9140: Recortes de imprensa (52): Revista Expresso , nº 1299 - Memórias de Alexandre Carvalho Neto, secretário de Spínola e de Marcello Caetano (Arménio Estorninho)

1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 2 de Dezembro de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal, Saudações.

Antes de mais, desejaria deixar bem expresso que este trabalho é um repositório do que já foi divulgado, sobre as memórias do ex-Tenente Reserva Naval Alexandre Carvalho Neto e que ao tempo foi Secretário do General Spínola, na Guiné e do Dr. Marcello Caetano, em S. Bento. Foi um posto de observação privilegiado dos últimos anos do anterior regime, sendo uma testemunha única no relacionamento entre estes dois governantes. Tais memórias estão insertas na Revista Expresso n.º 1299, de 20 de Setembro de 1997.

Como é princípio assente, aquando das facilidades concedidas para a partilha da informação, agora agradeço com a devida vénia, por incumbência a Srª. D. Sónia Afonso, do Serviço de Cliente Gesco S.A. “Jornal Expresso” e por inerência o Sr. jornalista Ricardo Costa, Director da Publicação Expresso, bem como o Sr. José Pedro Castanheira, jornalista autor do texto e ao Sr. Alexandre Carvalho Neto, pela utilização das suas fotos.

Após vários meses, foram concluídos os contactos achados por convenientes (agradeço também o apoio do camada ex-Ten. RN Manuel Lema Santos) e recebidas as autorizações para os fins solicitados, resolvi então organizar este trabalho e executar de forma a não alterar a essência do conteúdo do texto.

Enuncio embora sucintamente, que tendo nascido em Lisboa em 1943, o Dr. Alexandre Carvalho Neto, foi o primeiro filho de 14. Educado no Colégio de S. João de Brito, em Lisboa, fez o Curso de Direito, tendo terminado em 1966.
No ano seguinte concorreu à Marinha, obtendo a especialidade de Administração Naval, tudo indicando que o Aspirante se livraria da Guerra Colonial e ficaria na Metrópole. Um belo dia porém, foi chamado ao gabinete do Chefe de Estado-Maior da Armada, Almirante Reboredo e Silva, onde lhe comunicaram que fora escolhido para ir para a Guiné.


Memórias de Alexandre Carvalho Neto

Ao serviço do General Spínola, na Guiné e de Marcelo Caetano em São Bento

O jurista - aspirante aterrou no aeroporto de Bissalanca em Setembro de 1968. Em Bissau, o homem forte chamava-se António de Spínola, chegado à província em Maio.
 
O anterior Comandante General Arnaldo Schulz, enquanto ali permaneceu não melhorou a situação sócio-militar. A situação era absolutamente catastrófica à beira do colapso, conta Carvalho Neto. Bissau ficou a estar praticamente cercada. Durante meses ouviam-se distintamente os rebentamentos em Tite, que fica na outra margem do Rio Geba.



Guiné > Bissau > Aeroporto de Bissalanca > Março de 1970 > O Ministro do Ultramar, Silva Cunha, visita a Guiné. Acompanham-no Pedro Cardoso, António de Spínola, Almeida Bruno e Carvalho Neto.

A iminência de uma derrota militar fora constatada pelo próprio Presidente da República, Américo Tomás, na visita que fizera à Guiné em Fevereiro de 1968.
Quando o Almirante Tomás regressou a Lisboa, teve uma conversa com Salazar e disse-lhe que a guerra estava por um fio. Salazar chamou então o General Schulz à Metrópole e destituiu-o de Governador e Comandante-Chefe. Schulz ainda voltou a Bissau, para se despedir e “empacotar” várias lembranças da Guiné, trouxe-as para Lisboa. Carvalho Neto disse que o episódio foi relatado por um funcionário civil do Palácio do Governador, em Bissau, que fazia a comparação com a seriedade do Spínola.

A primeira prioridade de Spínola foi de carácter militar. Com sucesso reconhecido até pelos inimigos do PAIGC. Ao fim de seis meses, evocou Carvalho Neto: "Deixámos de ouvir explosões em Bissau. E em menos de um ano a província estava pacificada”.

O jovem Subtenente que nunca ouvira falar de Spínola, foi integrado no Gabinete Militar. "Éramos quatro da Marinha, outros tantos da Força Aérea e os restantes oitenta do Exército, a maior parte de Cavalaria, a Arma de que Spínola era oriundo".

A primeira tarefa de que fora incumbido era não só burocrática, como nada estimulante: A contabilização das baixas em combate. Da sua mórbida estatística constaram os três Majores mortos à queima-roupa pelo PAIGC, em Abril de 1970, um crime que pôs termo a uma prolongada negociação entre as forças inimigas. Antes desta matança, e durante três ou quatro meses, não houve praticamente mortos em combate, o que é um dado sintomático da espécie de tréguas que rodeou aquelas conversações.

Em Abril de 1969, Marcelo Caetano visitou a Guiné, num périplo que também incluiu Angola e Moçambique. Foi uma visita histórica, ou não fosse a primeira de um Chefe de Governo em cinco séculos! Velhos conhecidos, Alexandre Carvalho Neto cumprimentou afectuosamente o novo Presidente do Conselho. "Havia entre nós uma relação de amizade pessoal", explica. O facto não passou despercebido na pequena aldeia que era Bissau. Talvez por isso, decorridas algumas semanas o Tenente da Marinha foi destacado do Gabinete Militar para o Gabinete do Governador.



Guiné > Bissau > Salão Nobre do Palácio do Governador > Março de 1970 > Numa cerimónia presidida por Silva Cunha, Spínola e Pedro Cardoso. Carvalho Neto é o primeiro da esquerda.

O Secretário do Governador passou a lidar diariamente com Spínola e com o Secretário Geral da Província e número dois da Administração, o então Tenente-Coronel Pedro Cardoso. Spínola tinha uma capacidade de trabalho completamente maluca. Acordava pelas quatro da manhã e trabalhava no quarto até às oito. A manhã reservava-a para as funções militares, incluindo as visitas às frentes. A seguir ao almoço fazia uma pequena sesta e só então ia ao seu gabinete de Governador, onde trabalhava das três até às seis. Ao fim da tarde tinha o `briefing´ diário com as chefias militares. Normalmente voltávamos a trabalhar depois do jantar, até à meia-noite. Ele tinha uma teoria, que estava sempre a apregoar: “Não há nada melhor para descansar do que mudar de actividade”.

Dos raros militares colocados em Bissau licenciados em Direito, Carvalho Neto fazia de tudo um pouco; secretariar o Governador, receber visitas, tratar da correspondência, etc.

Nas várias “entouranges”que o rodearam, os hieróglifos de Spínola ganharam fama. Em jeito de caricatura, o ex-Secretário gostava de dizer que Spínola tinha quatro tipos de letras: uma que toda a gente entendia; outra que só os familiares e os colaboradores bem treinados liam; outra só ele percebia; e, por último uma letra que nem ele próprio decifrava. Quantas vezes aconteceu ele ser incapaz de perceber o que tinha escrito, na sua letra típica e muito bonita, quase sempre a tinta preta, mas ininteligível!



Guiné > Bissau > Março de 1970 > Varanda principal do Palácio do Governador. Ao centro, Silva Cunha com o chapéu a corresponder aos vivas dos manifestantes; pela direita: o ex-1.º Cabo Fotocine e o ex-Ten RN Alexandre Neto.


O monóculo que caiu na sopa

Alérgico ao ar condicionado, nem por isso o General largava o aprumo enquanto trabalhava no gabinete. Entre paredes, trocava o famoso monóculo por óculos de ver ao perto. O monóculo era apenas um enfeito, não lhe servia para nada, porque não era graduado. Fora na Alemanha da II Guerra Mundial, a exemplo dos Oficiais de formação prussiana, que Spínola começara a usar o monóculo e foi um hábito que nunca perderia. Ele tinha uma boa colecção em casa, mas não eram de vidro, eram de material plástico. Uma vez, numa inspecção ao rancho de um aquartelamento, deixou cair o monóculo na sopa, que estava muito quente, e aquilo ficou empenado e até derreteu um bocado.


Guiné > Bissau > Palácio do Governador > Março de 1970 > O Ministro Silva Cunha, desceu ao pátio da entrada principal concedendo uma sessão de cumprimentos às Autoridades Tradicionais.


Pelas mãos do Tenente-marinheiro passou a correspondência trocada com o Ministro do Ultramar Silva Cunha, o titular da Defesa Venâncio Deslandes, e o próprio Marcelo Caetano. "Cheguei a tratar de alguns ofícios muito secretos sobre a preparação da Operação Mar Verde - a invasão a Conacri, em Novembro de 1970". Enquanto Spínola esteve na Guiné, as coisas correram quase sempre bem. "Ele era considerado um bom General e tinha apoio do Governo Central". Seria exagerado falar propriamente de uma relação cordial, muito menos de amizade entre ambos, mas é indiscutível que havia uma boa relação institucional. Bem melhor por exemplo do que com o Ministro do Ultramar, Silva Cunha, com quem o General não se entendia muito bem. A facilitar a articulação entre o Governador e o Chefe do Governo, estavam opiniões muito semelhantes sobre o Ultramar e por isso “falavam pessoalmente”.


Guiné > Bissau > Parque Teixeira Pinto > Março de 1970 > Encerramento da Festa do Ramadão. Os crentes seguem os movimentos do Imã. No palanque estão presentes o General Spínola, o TCor Pedro Cardoso e outras Autoridades Militares e Civis.


Finda a comissão guineense, Carvalho Neto regressou à Metrópole no início do Verão de 1970. Em Lisboa, o ex-miliciano tratou de dar novo rumo à vida. Marcelo soubera pela mãe do jovem Alexandre que este estava à procura de emprego. O Chefe do Governo necessitava de um jurista para o seu gabinete. "Aceitei o convite. Conhecia-o, era uma pessoa estimável, eu estava desempregado, porque não?"

Da janela de São Bento, Carvalho Neto assistiu de perto aos últimos dias do regime. A contagem decrescente disparou com a publicação do livro Portugal e o Futuro. O Spínola foi a São Bento, sem qualquer aviso, oferecer um exemplar ao Marcelo. Mas não era assim que este funcionava, pelo que não o recebeu de imediato. O General estava com pressa, deixou dois exemplares e foi-se embora.
"A leitura do livro deixou Marcelo sem ilusões, como ele admite do seu volume de memórias, Depoimento. Ficou de cabeça perdida depois de o ter lido, confirma o ex-Secretário, só dizia isto é o princípio do fim”.

O ex-Secretário soube que o golpe de 25 de Abril estava na rua pela rádio. Surpreendido como quase todos os portugueses, foi para a residência oficial onde permaneceu todo o dia, na companhia de quase todos os membros do gabinete.

Marcelo como se sabe, procurou refúgio no Quartel da GNR, no Carmo. A sua rendição teve momentos verdadeiramente dramáticos e não completamente conhecidos.

O último secretário do Presidente do Conselho conta que durante as horas em que esteve sitiado pelas forças revoltosas do Capitão Salgueiro Maia, Marcelo Caetano ponderou três soluções possíveis: "Ou ia para Angola, em resposta à sugestão que lhe terá sido feita, a partir de Luanda, pelo então Governador-Geral Eng. Santos e Castro; ou entregava o poder nas mãos de Spinola; ou suicidava-se".

É certo que Carvalho Neto não viveu esses momentos cruciais. "Quem lhe contou foi o Comandante Coutinho Lanhoso, que esteve no Carmo e presenciou tudo. O Prof. Marcelo pediu a pistola ao seu Adido Militar e colocou-a em cima da mesa. Se o poder não fosse entregue ao General Spínola e o Quartel fosse invadido, ele suicidar-se-ia".

O poder acabaria por ser entregue a Spínola. Foi a “condição” de Marcelo, assim sintetizada por Carvalho Neto:
"Entregar o poder a Spínola, só a Spínola e a ninguém mais que Spínola".
Esta última vontade do governante apeado é bem reveladora da confiança que, apesar de tudo, Marcelo continuava a ter no general do monóculo;
"Não me venham, portanto, dizer que os dois homens não se entendiam. E a verdade é que Spínola correspondeu em pleno, ao enviar Marcelo para a Madeira e, depois, para o Brasil, com vários políticos aos saltos".

Resta-me, portanto concluir, que tratando-se de um texto extenso fiz contenção na transcrição e adaptação de parte das memórias de Alexandre Carvalho Neto. Quem, atentamente, debruçar-se sobre o mesmo compreenderá que dizem respeito às suas funções como secretário ao serviço do General Spínola, na Guiné - 1968/70 e que no dia 25 de Abril de 1974 era secretário pessoal de Marcelo Caetano, em São Bento. Pelas suas mãos passou grande parte da correspondência entre o General e o Presidente do Conselho.

Com um Abraço para todos
Arménio Estorninho
CCaç 2381 “Os Maiorais” de Empada
Guiné - 1968/70
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8656: Álbum das Glórias (52): Ordem de Serviço N.º 43 do BCaç 2892, de 18 Fevereiro 1970 (Arménio Estorninho)

Vd. último poste da série de 16 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8912: Recortes de imprensa (51): Strela, a ameaça ao domínio dos céus do ultramar português - II Parte - Revista da FAP, Mais Alto, n.º 393 , Set / Out 2011

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9048: A minha CCAÇ 12 (20): Abril de 1970: intensificação da acção psicossocial através de contacto pop, e suspensão temporária da actividade operacional ofensiva por causa das negociações com o IN no chão manjaco (Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > CCAÇ 12 (1969/71) > Vista aérea da tabanca de Samba Juli, do Regulado de Badora.




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > CCAÇ 12 (1969/71) > Um elemento pop, do regulado de Badora, de etnia fulça, vestido a rigor. Adereços ocidentais, tais como o chapéu automátiico, eram considerados na altura como grande ronco...



Fotos: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados





Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca &gt > BART  2917 (1970/72) > A acção psiscossocial ao tempo do novo batalhão, o BART 2917... População fula do regulado de Badora. 


O régulo era o  tenente de 2ª linha, Mamadu Bonco Sanhá, que tinha uma motorizada, de 50 cm3, de marca japonesa, em vez do cavalo branco... Foi fuzilado em Bambadinca depois da independência (segundo a lista dos guineenses, militares e milícias das NT, fuzilados pelo PAIGC a seguir à independência, organizado pelo Cor Inf Ref Manuel  Amaro Bernardo)... Dizia-se, no meu tempo,   que tinha 50 mulheres, uma em cada tabanca de Badora; e alguns filhos seriam militares na minha CCAÇ 12, o que eu nunca pude confirmar, obviamente...


Na época, as autoridades militares de Bambadinca transformaram-no num mito... Veja-se por exemplo o que se pode ler na história do BART 2917 (1970-72), a seu respeito:

(...) "No Sector L1 podemos considerar duas raças (sic) distintas: para Leste da estrada Bambadinca-Xitole onde predomina a raça Fula, e para Oeste da mesma estrada onde predominam as raças Balanta e Beafada.

"A população Fula de um modo geral é nos favorável, sendo de destacar o regulado de Badora, que tem como Chefe / Régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus. Esse homem é o Tenente Mamadu, já conhecido do meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população, fortes dúvidas se tem, especialmente as dos Nhabijões, Xime e Mero" (...).


O seu notável currículo era apresentado nestes termos: 



"Régulo do Badora; vogal do conselho legislativo da Província; comandante da Companhia de Milícias do Cuor;  intitulando-se Fula, é considerado pelos Mandingas e Beafadas como Beafada, em virtude da ascendência materna; pelos seus actos de valentia é condecorado com a Cruz de Guerra; régulo justo e especialmente preocupado com a segurança das suas populações; o seu prestígio transvasa em muito para além dos limites do seu Regulado; é um excelente colaborador das NT, parece representar o movimento dos Fulas Nativos" (...).


Espantosamente não tenho/temos nenhuma foto deste homem que era presença, quase diária, no aquartelamento de Bambadinca...


Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*)
por Luís Graça

(11). Abril de 1970 intensificação da acção psicossocial através de patrulhas de contacto pop


A 5 de Abril de 1970, dois Gr Comb da CCAÇ 12 escoltam mais uma coluna logística ao Xitole (onde estava aquartelada a CART 2413). Durante a picagem do itinerário, foram detectadas e levantadas, por forças da CCAÇ 2404 (Mansambo), duas minas A/P reforçadas com barras de TNT de 2 kg cada.  Estava-se no fim do tempo seco. E no mês seguinte o BCAÇ 2852 terminaria a sua comissão de serviço no TO da Guiné, sendo substituído pelo BART 2917.

Durante o mês de Abril, verificar-se-ia de resto um acréscimo de engenhos explosivos implantados na estrada Bambadinca-Xitole, sendo levantadas, a 22,  por forças da CCAÇ 2404, mais 5 minas A/P, das quais 3 reforçadas

(11.1.) Op Pavão Real: Batida à Foz do Corubal

A 9 dá-se início à Op Pavão Real para uma batida entre a Foz do Corubal e a Ponta do Inglês, e em que participam 2 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A) e forças da CART 2520, do Xime (Dest B e C).


Do antecedente sabia-se que o IN tinha 1 brigrupo na área, actuando normalmente subdividido, e controlava importantes aglomerados populacionais. Numa das últimas operações das NT, no mês anterior, tinham sido detectados muitos vestígios de vida e destruídos vários depósitos de arroz na região de Poindon / Ponta Varela, tendo o IN reagido à acção das NT durante a Op Rinoceronte Temível.

Desenrolar da Op Pavão Real:

Enquanto 1 Gr Comb reforçado da CART 2520 (Dest C) executava uma manobra de diversão entre Madina Colhido e Gundagué Beafada, os Desta A e B saíam de Xime pelas 17h do dia 9. Em Ponta Varela, já ao anoitecer, detectaram vestígios recentes do grupo IN cuja missão era atacar as embarcações que passavam no Rio Geba.


Progredindo de noite através da enorme bolanha do Poindon, as NT chegaram ao tarrafo ao amanhecer mas seriam entretanto detectadas por dois homens que vinham em sentido contrário. Tratava-se de elementos pop uma vez que estavam desarmados. Ao avistarem as NT ao longe, deveriam ter dado imediatamente o alarme uma vez que se notou, de pronto, um movimento de fuga por parte da população que trabalhava no noutro lado da bolanha.

A progressão ao longo do Rio Geba tornava-se cada vez mais penosa até que em Xime 3A 2-46 depararam-se as NT com uma tabanca de população civil, composta por 11 casas sobre estacaria, um metro acima do solo, e 2 depósitos colectivos, com diâmetro de 3 metros, cheios de arroz (em casca), e em Xime 3 A 4-41 uma outra tabanca com 10 casas para 1 a 2 pessoas.


Foram destruídos víveres (milho e arroz) e outros meios de vida. Por sua vez, o PCV [,. Posto de Comando Volante,] detectou um possível acampamento em Xime 2E0 -69 e Xime 2B7-64. Feita uma batida à região entre a Foz do Corubal e a Ponta do Inglês, as NT detectaram ainda  vários trilhos, um dos quais (Ponta do Inglês – João Silva) apresentando indícios de ser muito utilizado pela população.

As NT passaram pelo antigo aquartelamentio da Ponta do Inglês, abandonado deste Novembro de 1968 e já completamente em ruínas, e ainda pelas tabancas destruídas durante a Op Safira Única, regressando ao Xime pelas 17h30, sem contacto.

Uma semana antes, a 2 de Abril, um grupo IN estimado em 100 elementos tinha atacado com canhão s/r, mort 82, LGFog e armas automáticas, durante 50 minutos e de várias direcções (Oeste, Sudoeste, Sul e Sudeste), o aquartelamento do Xime, causando 2 feridos, destruindo 1 abrigo e 2 paredes do aquartelamento e provocando elevados danos materiais, como resposta à acção de contra-penetração das NT.

A 7, em pleno dia (11h00) durante a montagem de segurança a uma embarcação a navegar no Geba Estreito, nas proximidades de S. Belchior, foi detectado um grupo IN, na estrada, aparentemente preparando-se para montar o seu dispositivo com vista à flagelação  do destacamento do Enxalé. Em resposta ao fogo das NT, o destacamento seria flagelado pelo IN com armas automáticas e LGFog, retirando em direcção a S. Belchior.

A 14, 3 Gr comb da CCAÇ 12 mais uma secção do pelotão da CART 2520 (Xime), destacado em Enxalé,  realizaram uma patrulha de reconhecimento à área de Enxalé, Bissilon e Foz do Rio Malafo, regressando pela estrada Portogole – S. Belchior. Junto à praia do Bissilon foi encontrado o cadável ainda em decomposição dum elemento IN, fardado, que, supõe-se, teria sido morto durante a última flagelação ao aquartelamento do Enxalé (a 7).

(11.2.) Suspensão temporária de toda a actividade operacional ofensiva no TO da Guiné


Registe-se a 10 a visita a Bambadinca, sede do Sector L1,  do príncipe Bourbon Parma, acompanhado do comandante do Comando de Agrupamento 2957 e do administrador de Bafatá.

A partir de 15, data em que foi suspensa temporariamente toda a actividade operacional de natureza ofensiva no TO da Guiné [, por causa das negociações das NT com forças do PAIGC no chão manjaco, sabe-se hoje], intensificaram-se as patrulhas de contacto pop a fim de inquirir do estado psicológico da população sob o nosso controlo, e em especial das tabancas isoladas do regulado de Badora,  e prestar-lhe assistência saniária. Dentro dessa linha directiva, os 4 Gr Comb da CCÇ 12 contactaram as populações das seguintes tabancas:

Samba Juli

Sinchã Mamadjai
Sansancuta
Dembataco (Pel Mil 243)
Sare Ade
Queroane
Queca
Aliu Jai
Sare Nhado
Iero Nhapa
Talata
Bonjenden
Sinchã Coli
Bricama
Embalocunda
Sinchã Umaru
Madina Bonco (Pel Mil 203 -)
Jana
Candembuia
Sare Iero
Mamaconon
Sinchã Infali
Dutajara
Mero
Fá Balanta
Fá Mandinga (Pel Caç Nat 63)
Bissaque (1 secção do Pel Mil 203), etc.

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Fontes consultadas:

(i) Diário de um Tuga, de Luís Graça. Manuscrito.

(ii) História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Policopiado

(iii) História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Policopiado

(iv) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (I e II Séries)

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Nota do editor:


(*) Último poste da série > 26 de Julho de 2011 >
Guiné 63/74 - P8604: A minha CCAÇ 12 (19): Março de 1970, a rotina da guerra, a visita do Ministro do Ultramar ao reordenamento de Bambadincazinho... (Luís Graça)

domingo, 18 de setembro de 2011

Guiné 63/74 – P8788: Memórias de Gabú (José Saúde) (2): Os conflitos tribais e a acção da tropa portuguesa. A “Psicó”!

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos a segunda mensagem desta sua série.

OS CONFLITOS TRIBAIS E A ACÇÃO DA TROPA PORTUGUESA

A “PSICÓ”!

A vulgar “psicó”, ou seja, acção psicológica feita junto das populações visava, sobretudo, uma aproximação das nossas tropas às tabancas situadas no mais recôndito lugar. O primeiro passo da tropa aquando a chegada ao local previamente estabelecido, passava com rigor pela presença do chamado “homem grande”, normalmente chefe da tabanca, e a partir dele seguia-se inevitavelmente uma ampla conversação com toda a rapaziada, ouvindo os seus pedidos, os seus problemas, as suas queixas, mormente físicas, e dessa troca de impressões tentava-se arranjar formas de auxílio. Lembro que o Jau, e não Géo como antes o havia baptizado, dominava os dialectos das tribos da região – fulas, futa-fulas e mandingas – apresentando-se como o cordão umbilical decisivo para o contacto próximo com as populações que viviam em pequenas aldeias dispersadas no mato. Depois da auscultação ficava a promessa para o cumprimento das “faltas” sentidas no seio do aglomerado.

A manhã apresentava-se calma. Desbravávamos o trilho inseguro, suspeito, o capim e o mato cerrado, visualizávamos a nobreza das enormes árvores e rogávamos a todos os santinhos que nenhum dos motores dos nossos velhos “unimogues” não desse “buraco” e, sobretudo, um eventual contacto sempre indesejado com o IN. O momento impunha, naturalmente, cuidados redobrados. O pessoal, sempre feito para o facilitismo, deliciava-se com as brincadeiras dos macacos, os bandos de perdizes (galinhas do mato) que, a espaços, pintavam os nossos horizontes visuais, com a correria de uma cabra de mato, uma lebre que se havia levantado da malhada, sendo também certo que as informações previamente dadas ainda no quartel determinavam rigidez na nossa acção. Aprendi em Lamego no curso de Operações Especiais – Ranger – eloquentes formas do saber lidar com a guerrilha e a nossa firme determinação quando confrontado com o imprevisto. Por isso tentava passar a mensagem para a segurança do grupo mas… nem sempre o meu pedido era devidamente aceite.

Rodeados na densidade do capim, e com os estridentes motores dos “unimogues” a protagonizarem um ronco intenso, a dada altura pareceu-nos ouvir vozes exaltadas vindas de uma tabanca próxima. Parámos, troquei impressões com o Jau (um homem que dominava, e bem, os dialectos tribais) e partimos em direcção aos ecos que entretanto nos chegavam. A nossa reacção foi, em princípio, dúbia. Não entendíamos a razão do conflito. O Jau, atento como sempre, constatou de pronto que a desavença se prendia como uma afirmação pelo poder. Duas tribos, fulas e futa-fulas, discutiam entre si quem seria o novo chefe de tabanca dado que o anterior havia falecido. Claro que cada uma das etnias defendia a sua dama. Lembro perfeitamente o meu papel no conflito tribal. Pedi ao Jau que chamasse os dois homens grandes envolvidos na pretensa discussão, juntei-os frente a frente, e propus o fim da polémica com este dado: “A minha opinião é para acabarem de imediato com a algazarra e que atribuem o título de chefe de tabanca ao homem mais velho em idade”. E a verdade é que as partes da população envolvidas no confronto fizeram contas, penso eu, e passado pouco tempo a tabanca voltou à normalidade.

Soubemos mais tarde que a proposta foi aceite e o novo chefe de tabanca – o homem mais velho – já exercia o seu mandato.

Pormenores interessantes de um povo que vivia envolvido com a guerrilha mas nunca descurando princípios éticos herdados de gerações antecedentes!


 Foto 1 – Com a menina de Nova Lamego ao colo (FILHOS DO VENTO)


Foto 2 – No meio do conflito. Dois homens grandes – um fula e outro futa-fula – discutiam entre si qual deles seria o chefe de tabanca. Prevaleceu a minha opinião: o homem com mais anos de vida, ou seja, o mais velho (A “PSICÓ”)

Um abraço,


José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. primeiro poste desta série em:

13 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 – P8772: Memórias de Gabú (José Saúde) (1): No declinar da nossa presença em terras guineenses… A despedida!


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8681: História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74): Ilustrações (Parte III) (Jorge Canhão)




1. Mais ilustrações retiradas da História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74), unidade que foi rendida já depois do 25 de Abril de 1974 pelo BCAÇ 4612/74 (ao qual  pertenceu o nosso co-editor Eduardo Magalhães Ribero).... (Sobre esta aparente confusão de dois batalhões com o mesmo número, ler o poste do nosso camarada Agostinho Gaspar, P7414, de 10 de Dezembro de 2010).


Um exemplar, fotocopiado, da história desta unidade, o BCAÇ 4612/72,  foi-nos oferecido em tempos  pelo nosso camarigo Jorge Canhão (ex-Fur Mil 3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74).  O Jorge há havia aqui publicado uma série de postes com a história do batalhão... 

Como já foi referido anteriormente (*), este documento tem cerca de uma dúzia de interessantes (e raras) ilustrações, feitas a estilete sobre "stencil" por um ilustre desconhecido... 

Entendemos que algumas destas ilustrações (ou melhor, as imagens com melhor resolução) têm qualidade suficiente para merecerem também vir à luz do dia.

Referem-se também alguns aspectos da actividade operacional deste batalhão, no período de Outubro de 1973, com destaque para os trabalhos de reordenamento (planeamento, para a época seca, da construção de 270 casas, reconversão de 35, abertura de 10 poços com bomba, além da construção de algumas escolas, postos sanitários e lavadouros). 

Esta unidade foi rendida já depois do 25 de Abril de 1974 pelo BCAÇ 4612/74 (a que pertenceu o nosso co-editor Eduardo Magalhães Ribeiro).

Imagens: Cortesia de  Jorge Canhão (2011).
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Nota do editor:


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8655: História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74): Ilustrações (Parte II) (Jorge Canhão)




Mais três Ilustrações retiradas da História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74), unidade que foi rendida pelo BCAÇ 4612/74 (Mansoa, 1974)... (Sobre esta aparente confusão de dois batalhões com o mesmo número, ler o poste do nosso camarada Agostinho Gaspar, P7414, de 10 de Dezembro de 2010).

Um exemplar da história desta unidade, o BCAÇ 4612/72,  foi-nos oferecido em tempos  pelo nosso camarigo Jorge Canhão (ex-Fur Mil 3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74).  O Jorge há havia aqui publicado uma série de postes com a história do batalhão... (se bem que incompleta, segundo julgo crer). 

Como já foi referido em poste anterior (*), este documento tem cerca de uma dúzia de interessantes (e raras) ilustrações, feitas por um ilustre desconhecido (toca a descobrir o autor, nminha genete!), a estilete sobre "stencil"... 
 
Na minha opinião,  têm qualidade suficiente para merecerem também vir à luz do dia, pelo menos algumas que, na fotocópia, apresentação melhor resolução. 

Possivelmente depois das férias, retomaremos alguns aspectos da actividade operacional deste batalhão que foi rendido já depois do 25 de Abril de 1974 pelo BCAÇ 4612/74 (unidade a que pertenceu o nosso co-editor Eduardo Magalhães Ribero).

Imagens: Cortesia de  Jorge Canhão (2011).
 
[ Selecção / edição / legendadem: L.G.]

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Nota do editor:

(*) Vd., poste anterior da série > 5 de Agosto de 2011 >Guiné 63/74 - P8640: História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74): Ilustrações (Parte I) (Jorge Canhão)



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8575: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): Balanço da actividade não-operacional, em banda desenhada... (Santos Oliveira)


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (1965/67) > Cópia da capa da brochura da da História da Unidade (*)


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (1965/67) >  Resumo, ilustrado, da actividade não operacional do batalhão, entre Abril de 1965 e Abril de 1967.

Fotos: © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados.


Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967)  > Campanha do arroz:  Transporte, de 300 toneladas  (Abril de 1965) a 3236 (Abrild e 1967)



Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > Acção psicossocial: (i) Cuidados de saúde: De 4472 consultas a 11722; (ii) Ensino: De 1 a 6 escolas escolas (em Enxudé, Ilha das Galinhas, Jabadá, Fulacunda, Empada e Tite); de 62 a 800 alunos matriculados




Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > Construções militares: 11 (Abril de 1965); 28 (Abril de 1967); Abastecimebnto de água: 10, 2 mil metros cúbicos (Abrild e 1965); 55,5 mil metros cúbicos (Abril de 1967)... O quartel de Tite era considerado um dos melhores senão o melhor da Província...




Guiné > Região de Quínara > Tite > Região de BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > Construção de estradas e caminhos: mais 22,5 km no final da comissão; Assistência religiosa: construção de uma mesquita (muçulmana) (em Tite, onde só havia uma igreja, católica).



Guiné > Região de Quínara > Tite > BCAÇ 1860 (Tite, Abril de 1965/Abril de 1967) > População apresentada às autoridades portuguesas: 3435 (Abril de 1965);  9955 (Abril de 1967): Campanha da mancarra: Transporte:  57 toneladas em Abril  de 1967. (**)

Excerto da História da Unidade (**):







[ Edição e legendas: L.G.]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2504: BCAÇ 1860 (1965/67), o 3º Batalhão em Tite (Santos Oliveira)

(**)  Fonte: História da unidade, conforme documentos digitalizados pelo nosso camarada Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66), enviados  por mail em 2008... 

A banda desenhada parece estar assinada, mas essa eventual assinatura é ilegível...  Diga-se, de passagem, que  se trata de uma notável ilustração, feita por camarada talentoso, um trabalho tecnicamente difícil, pois era gravado e reproduzido em "stencil"...

Lista, organizada pelo Santos Oliveira, das sub-unidades do BCAÇ 1860 (Tite,  Abril de 1965/Abril de 1967)> Sub-unidade, sub-sector, período, comandante

(i) CArt 565, Fulacunda, antec /10Ago65, Cap Reis Gonçalves;

(ii) CCav 677, S. João, antec. 20Abr66, Cap Pato Anselmo, Alf Ranito, Cap Fonseca;

(iii) CCaç 797, Interv, 29Abr65/16Mai66, Cap Soares Fabião;

(iv) CCaç 1420, Fulacunda, 11Ago65/08Jan66, Cap Caria, Alf Serigado, Cap Moura; [Recorde-se que a esta infortunada companhia pertenceu, como alferes, o nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira];

(v) CCaç 1424, S. João, 11Set65/25Nov65, Cap Pinto; [Companhia que também foi comandada pelo querido amigo e camarada Nuno Rubim, de Junho a Dezezembro de 1966];

(vi) CCaç 1423, Fulacunda e Empada, 30Out66/23Dez66, Cap Pita Alves;

(vii) CCaç 1487, Fulacunda, 08Jan66/15Jan67, Cap Osório;

(viii) CCaç 1549, Interv, 26Abr66, Cap Brito;

(ix) CCaç 1566, S. João e Jabadá, 19Mai66, Cap Pala e Alf Brandão;

(x) CCaç 1567, Fulacunda, 01Fev67, Cap Colmonero;

(xi) CCaç 1587, Empada, 27Nov66, Cap Borges;

(xii) CCaç 1591, Fulacunda (treino operacional), 18Ago66/01Out66, Ten Cadete;

(xii) CArt 1613, S. João (treino op), 03Dez66/15Jan67, Cap Ferraz e Cap Corvacho; [ A esta companhia pertenceu, entre outros, o nosso saudoso  Zé Neto (1929-2007), o primeiro membro da Tabanca Grande a quem a morte levou];

(xiii) CCaç 1624, Fulacunda, 05Dez66, Cap Pereira;

(xiv) Pel Mort 912, Jabadá, antec /26Out65, Alf Rodrigues;

(xv) Pel Caç 955, Jabadá, antec/13Mai66, Alfs Lopes, Viana Carreira, Sales, Mira;

(xvi) Pel AM Daimler 807, Tite, antec/13Mai66, Alf Guimarães;

(xvii) Pel Art 8, Fulacunda, 10Fev66/03Mar66, Alf Machado;

(xviii) Pel Caç 56, Fulacunda e S. João, 31Out66, Alf Dias Batista;

(xix) Pel Mort 1039, Jabadá e Tite, 26Out65, Alf Carvalho;

(xx) Pel AM Daimler 1131, Tite, 12Ago66, Alf Antunes;

(xxi) Companhia de  Milícia 6, Empada, antec, Alf 2ª Mamadi Sambu e Dava Cassamá;

(xxii) Companhia de  Milícia 7, Tite, 05Ago65, Alf 2ª Djaló;

Estas sub-unidades foram atribuídas ao BCaç 1860 durante a permanência em Sector (desde Abr65).


[Imediatamente após a sua chegada à Guiné, o BACÇ 1860 entrou em Sector. Foi-he atribuído o Sector S1, integrado no Agrupamento Sul. Principais localidades: Tite, Fulacunda, S. João e Jabadá. Em Outubro de 1966 é atribuído ao Batalhão o Sub-Sector de Empada, enquadrando as penínsulas de Darsalame e Pobreza. Concomitantemente, passa a pertencer ao BCAÇ 1860 a CCAÇ 1423, aquartelada em Empada.]

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8258: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (14): Futebol, política e acção psico-social na guerra do ultramar...

Guiné-Bissau > Bissau > s/d (pós-independência > Campo de jogos de Bissau > Um jogo de futebol, sob a bandeira da nova República, duas equipas locais, com equipamentos de clubes... da antiga potência colonial, os tradicionais grandes, até então, Benfica e Sporting. Foto de autor desconhecido.
Imagem: Gentilmente cedidas por Nelson Herbert / Maria da Conceição Silva Évora


1. Mais um texto do nosso camarada e amigo António Rosinha, enviado em mensagem do dia 4 de Fevereiro de 2011


Caderno de notas de um Mais Velho -14

O Futebol, a Política, a Acção psico-social na guerra do Ultramar e similitudes com o Barcelona e Real Madrid

Amigos editores,
Como sempre, hoje também digo para não publicarem se acharem excessivo para o blogue.

Mas penso que, ao analisarmos e interpretarmos acontecimentos a que assistimos com os nossos olhos, não fugimos do carácter deste blogue.

Quando certas constatações são de um indivíduo apenas, é difícil ser aceite por um colectivo. Quem poderia acreditar naquilo que não se documenta? Quantas vezes pomos a nossa imaginação a trabalhar demais?

Tudo o que vou relatar foi vivido e foi público, a interpretação dos resultados é apenas minha e quiçá de muita gente mas que se cala.

O assunto é sobre aquela arma,  a Acção da Psico-social, que foi usada no ultramar pelo nosso governo, em diversas circunstâncias da guerra e da política ultramarina.

Mais ou menos vi nascer a Acção Psico-social logo em 1961.

Segundo a minha memória, ficou popularmente divulgado na tropa de Luanda,  logo em 1961, que um capitão de nome Mendonça iniciou a prática da psico, com sucesso, a norte de Luanda (Tentativa e Caxito).
Esse capitão ficou com a alcunha de Capitão Rebuçado.

Isto eram coisas de conhecimento geral de quem andava na tropa. E o que tem o futebol a ver com a psico?
Como todos sabemos,  havia o Sporting, Benfica e outros de Bissau, de Luanda, de Benguela, Lourenço Marques, etc. E, tal como na metrópole, nas colónias havia o mesmo entusiasmo por esses dois clubes.

Mas em Angola, como havia muito desporto em todas as cidades, começaram a aparecer clubes indígenas com características a puxar para um nacionalismo disfarçado de caseirismo.

Foi o caso,  em Luanda, do ASA (Atlético Sport Aviação) que era uma agremiação formada pelos funcionários da empresa das Linhas Aéreas de Angola, DTA,  depois TAAG, e que ainda hoje continua com as mesmas características.

Este clube formou e vendeu dois jogadores muito célebres em Portugal, que foi o Dinis para o Sporting e Selecção Nacional, e Inguila para o Benfica, que não teve o mesmo sucesso de Dinis, mas era um jogador extraordinário.

Mas onde entra a Psico-social? O Barcelona e o Real?

Quero esclarecer que,  das minhas actividades profissionais, passei 1967/68/69 na DTA, portanto fui por gosto e caseirismo assíduo do clube,  só não jogava, mas estava lá.

Ora, como não havia nada maior que Benfica ou Sporting, estes eram os lógicos campeões, até porque todos os militares que fossem da metrópole e jogassem nalgum clube ofereciam-se imediatamente a esses grandes, e ninguém mais fazia frente a esses grandes.

Até que, e aqui entram coisas de bruxedo, um clube com treinador sem grande nome, sem adeptos numerosos, sem camisolas apelativas, entra em campo a fazer frente aos grandes e,  a partir de certa altura, já se faziam apostas, por quantos é que o ASA ia ganhar ao Benfica, Sporting,  etc.

E foram, os ASA,   tetracampeões, ganharam quatro campeonatos seguidos, sem espinhas e o Sporting e Benfica sem descobrir a maneira de dar a volta: o entusiasmo e as vitórias do ASA eram galvanizantes e, com as derrotas consecutivas,  até clubes com melhores jogadores e treinadores acabavam por baixar os braços.

Goleadas de 4, 5 e 6 golos era frequentíssimo. Durante 3 anos, acompanhei semanalmente os jogos do ASA. O Benfica com Eusébio e Coluna e Toni ganhavam mas com aplicação.

Uma coisa aprendi em desporto, eu que só sou bom à bisca e à sueca, é que vitória atrai vitória e derrota atrai derrota. Vi jogadores inferiores superiorizarem-se e superiores inferiorizarem-se.

Mas, tudo isto foram noticias de jornais, e não há novidade nenhuma, e aqui é que, eu penso e  ninguém mais suspeita,  que aparece, não um Capitão Rebuçado, mas um provável Sargento Rebuçado.

Havia a associação de árbitros de Luanda (ou Angola?), em que um dos seus membros era um Primeiro Sargento do meu tempo de furriel, no RIL. E esse sargento, que era o antigo meu 1.º Sargento Caixeiro, aparece de camisa e calções pretos a arbitrar um dos jogos do meu ASA, em que saiu uma goleada de 7-0.

E um certo comportamento estranho do meu 1.º Sargento deu-me uma inspiração que me acompanhou até hoje. Claro que muitos companheiros da minha cor política e clubista e da boémia luandense, também ficaram com a pulga atrás da orelha. E hoje, para mim, eu não tenho dúvida que havia muitos distribuidores de rebuçados.

Por duas vezes o ASA disputou a eliminatória para a Taça de Portugal, sendo que uma dessas eliminatórias foi com o Benfica com Eusébio, nos Coqueiros, e outra vez foi na metrópole com um clube que não me recordo. E sendo um clube genuinamente angolano, o efeito era mais objectivo do que se fosse uma filial de um clube de Lisboa. Era a globalização pois que o campeão de Moçambique também disputava a Taça de Portugal.

Penso na minha ideia que não foi com armas, mas com ideias que conseguimos disputar internacionalmente uma guerra tão grande e durante tantos anos.

E, esta cena da nossa guerra veio-me à ideia agora, com a luta dos últimos anos do milionaríssimo Real Madrid sem títulos, perdendo teimosamente para o Barcelona.

E o nosso Mourinho a perguntar porquê?
- Yo no credo en Brujas, pero que las hay, las hay...

Mas será que bascos, galegos, e catalães também dão tirinhos?

PS. O historial do ASA é do conhecimento de muita gente que acompanha de perto este blogue.

Um abraço,
Antº Rosinha
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7917: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (13): Emigração para as Colónias, só com Carta de Chamada