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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21533: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (11): O morcego e a cria, ou um "desastre.. da caça"


Capa do livro de: Ana Rainho e Cláudia Franco - Morcegos da Guiné-Bissau: um contributo para o seu conhecimento. Lisboa: Instituto de Conservação da Natureza, 2001, 86 pp., il. (Coleção Técnica) [Disponível aqui em formato pdf] (*) (Reproduzido com a devida vénia...)



Carlos Barros, Esposende


1. Mais uma pequena história do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974; membro da Tabanca Grande nº 815, tem 14 referências no nosso blogue; vive em Esposende, é professor reformado]


O morcego e a cria…

por Carlos Barros (**)


O Comando da 2ª Cart de Nova Sintra, escalou, mais uma vez, o 3º grupo de combate para garantir a segurança da estrada Tite-Enxudé, uma via de extrema importância  uma vez que garantia o acesso, por via marítima e fluvial, à cidade de Bissau, através da utilização de pequenas embarcações.

Numa 4ª feira, o furriel Barros estava descansado, devidamente armado, no seu posto de vigilância nesse percurso e, por sinal, entretinha-se a caçar alguns pássaros com a sua arma de pressão, no meio dos cajueiros.

Num cajueiro, amarrado a um ramo, encontrava-se um morcego e o Barros, decidiu dar-lhe um tiro já que nunca tinha visto ao perto um morcego.

Um tiro certeiro e passados segundos, esse animal cai no chão poeirento do posto de vigilância e, algo de imprevisível tinha acontecido: o morcego caiu morto e tinha uma cria junto de si e o destino da cria estava traçado…

O Barros estava amarelo e tremendamente arrependido por ter morto o morcego já que nunca suspeitou que existia uma cria em amamentação pois, se soubesse, jamais atiraria ao infeliz animal.

Um dia estragado, mais um “desastre” na caçada do Barros,  e este militar, como muitos outros, andava um “pouco apanhado” da guerra que transformava os homens em autênticos “animais irracionais”…

Se houvesse, na altura uma Associação Protectora dos Animais, o Barros assumiria a culpa e suportaria as consequência e digo isto, porque o furriel, em parte, recuperou das mazelas psíquicas que a atroz guerra provocou.

A partir desse momento, a arma de pressão entrou de féria durante muito tempo…

Nova Sintra, 1972

Barros

_____________

Notas do editor:

(*) Excertos: Considerações Finais (pp. 77/78)

(...) Uma das principais ameaças que recai sobre os morcegos do Oeste africano é a falta de estudos dirigidos à conservação. Nas últimas décadas, poucos trabalhos têm sido realizados nesta região, sendo assim difícil avaliar, não só a situação das populações de morcegos, mas também os verdadeiros factores de ameaça que recaem sobre estas espécies.

Não constituindo uma excepção, os trabalhos realizados até à data, na Guiné-Bissau, não permitem obviamente, avaliar o estado das populações de quirópteros aí presentes, de modo a determinar o seu estatuto de ameaça ou a sua tendência populacional. No entanto, da análise que nos é permitida fazer aos dados de que dispomos, evidenciam-se alguns pontos que merecem ser aqui ser referidos:

(i) Constata-se que a maioria dos quirópteros encontrados na Guiné-Bissau, são espécies florestais, que utilizam estas áreas para abrigo e alimentação. É também bastante evidente que este é o habitat mais (sobre) explorado no território. Num país onde a energia eléctrica se reduz à área da capital, e mesmo aí sofre frequentes interrupções, é fácil compreender o valor do carvão como fonte de energia. 

Agravando ainda mais esta situação, existe uma política de incentivo à exploração de madeira e procede-se à eliminação da floresta para dar lugar a campos agrícolas. Assim, este habitat, onde ocorre a maioria do quirópteros conhecidos para a Guiné-Bissau, sofre uma redução considerável e continuada que é bastante preocupante. Esta situação revela a necessidade urgente da tomada de medidas prementes para o controlo da destruição desregrada da floresta. 

A estratégia de controlo da desflorestação parece quase inevitavelmente passar pela recurso a energias alternativas, nomeadamente à energia solar. Um exemplo excepcional que vai de encontro a esta estratégia é o plano da IUCN (em implantação em 1998), de divulgação de fornos solares de alto rendimento, a qual deveria ser feita, não apenas em áreas protegidas, mas também a nível nacional.

(ii) A reconversão da floresta em arrozal já desde há muito se provou ineficaz, já que os anos de produtividade são muito reduzidos, sendo estes campos geralmente abandonados após um curto espaço de tempo. O acelerar da recuperação de muitos terrenos de cultura, com plantação de espécies pioneiras, seria outra estratégia a tomar, juntamente com prévia análise e controlo das áreas a desflorestar para a agricultura. 

Também se verifica a reconversão da floresta para plantações frutícolas, sobretudo de cajueiros, resultante de uma política de incentivo à produção, tendo em vista a exportação de frutos. Neste caso, dever-se-ia tentar utilizar os terrenos já previamente desflorestados, para esta actividade.

(iii) De salientar também que, para além das áreas florestais, as savanas do tipo Guineano, do Oeste Africano, são consideradas como centros de riqueza específica (...)  ao nível africano, o que confere uma responsabilidade acrescida na preservação deste habitat no território.

(iv) Ao nível de populações de morcegos, o reduzido número de capturas e a reduzida riqueza específica revelados nas ilhas de Bubaque e Orango, justificam o estudo da capacidade de migração de algumas das espécies aí presentes e assim averiguar a viabilidade das populações de morcegos insulares.

(v) Também as grutas do Boé, cuja importância a nível nacional é inegável, deveriam ser regularmente monitorizadas, para acompanhamento das colónias que as ocupam e controle atempado de potenciais ameaças. 

(vi) Da listagem de espécies obtida para a Guiné-Bissau, 8 espécies podem ser preliminarmente consideradas como prioritárias nos estudos a desenvolver, pelo estatuto que lhe é atribuído pela UICN a nível mundial, pela falta de confirmação da sua presença ou por se encontrarem no limiar da sua área de distribuição. 

Estas são: H. monstrosos, E. buetticoferi, C. afra, H. cyclops, H. abae, R. alcyone, R. denti, H. fuliginosus, E. guineensis, C. poensis e C. beatrix.  Os estudos a desenvolver deveriam ter como fim o desenvolvimento de planos de acção para estas espécies. 

Obviamente que todos estes pontos têm subjacente o reconhecimento político e popular da necessidade de conservação dos quirópteros. Os morcegos são raramente incluídos em políticas ambientais ou projectos educacionais, sendo por isso importante garantir que os políticos e decisores sejam totalmente esclarecidos sobre a importância dos morcegos e do seu papel nos ecossistemas africanos (...).

 Este deverá certamente ser o primeiro passo a dar na conservação dos morcegos na Guiné-Bissau. Refira-se por exemplo, a propósito de projectos educacionais, que, apesar de actualmente a situação não parecer particularmente gravosa, se deveriam também realizar algumas campanhas informais de esclarecimento dos proprietários das fruticulturas sobre a importância dos morcegos frugívoros, e do real impacto que estes têm sobre esta actividade, geralmente sobrestimada. (...)

[Revisão e fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]

(**) Último poste da série > 5  de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21517: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (10): Relembrando a morte, por acidente com um dilagrama, no CIM de Bolama, em 10/7/1972, do alf mil Carlos Figueiredo

sábado, 3 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21411: Da Suécia com saudade (81): Pragmatismos escandinavos: ligar os crematórios às redes centrais de aquecimento das cidades (José Belo)



Buba, Aldeia Formosa, Mampaté e Empada,
1968/70); cap inf ref, jurista, criador de renas,
autor da série "Da Suécia com Saudadr"; 
vive na Suécia há mais de 4 décadas; régulo da 
Tabanca da Lapónia; tem  170 referências 
no nosso blogue

 
1. Mensagem de José Belo:

Date: sexta, 2/10/2020 à(s) 15:12
Subject: Pragmatismos Escandinavos
 

Caro Luís 

Já decorreu mais de uma década e, curioso, procurei saber como teria decorrido o projeto.

Ingenuamente considerei que o mesmo tivesse sido abandonado devido a "explosão" de abaixo assinados opondo-se ao mesmo. A economia, a técnica, os pragmatismos políticos demonstram mais uma vez serem mais fortes que outros valores... secundários.

Solução económica utilizada por algumas Comunas (nome dado aqui  às Câmaras Municipais) na sua busca de diminuir os elevados custos do aquecimento central, gratuito para o cidadão mas, tendo em conta os prolongados invernos com temperaturas bem negativas, extremamente onerosos para o Estado.

A Comuna da cidade de Halmstad, entre outras, apresentou como solução económica o aproveitamento das elevadas temperaturas produzidas aquando do uso dos crematórios.

Esta energia é enviada diretamente para as redes centrais do aquecimento das cidades que, deste modo, economizam avultadas somas,  tendo em conta ser a cremação a forma de funeral mais utilizado na Escandinávia.

O cidadão, confortavelmente instalado no seu sofá frente a uma TV, com temperatura caseira (gratuita) de 22 graus centígrados, deveria ser levado a meditar que tal bem-estar mais não é que o resultante da cremação da avó, pai, irmão, filho ou neto, amigo ou conhecido.

Mais do que macabro na sua simplicidade económico-funcional será o facto de seres humanos serem mais ou menos usados como "lenha" complementar.

Como seria de esperar, tanto os especialistas técnicos das redes de aquecimento como os responsáveis pela cremação, garantem que a energia reenviada desde os crematórios para a rede central mais não é que o calor resultante das altas temperaturas necessárias sendo a "comparticipação" dos corpos queimados não porcentualmente representativa.

E, muito modernamente, acabam os esclarecimentos com a indispensável referência a quanto de positivo é para o meio ambiente o aproveitamento total deste tipo de energia, diminuindo a necessidade de utilização de complementares poluentes .

Economicamente recomendável!
Tecnicamente recomendável!
Ambientalmente recomendável!

Será exagero sentir um certo "desconforto moral" quanto ao tipo de lenha secundária usada?

Um abraço do J. Belo
__________

Nota do editor:

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20108: Vemos, ouvimos e lemos..., e não podemos ignorar (1): Carta aberta ao presidente da república do Senegal: os dramáticos efeitos das barragens senegalesas de Niandouba e de Anambé, construídas na bacia do rio Kayanga / Xaianga / Geba, que vêm privando a Guiné-Bissau de valiosos recursos hídricos desde 1984 (Umaro Djau)



Fotograma do vídeo Rio Kayanga / Geba (apresentação em crioulo, por Umaro Djau) (13' 48'')






Capa da página Rio Geba, criada por Umaro Djau com o objetivo de divulgar, assinar e partilhar a carta aberta ao presidente do Senegal





I. Do cidadão guineense Umaro Djau, nascido em Pirada, jornalista,  ativista social, recebemos a seguinte mensagem; 

Assunto: Carta Aberta ao Presidente da República do Senegal, Macky Sall

Sirvo-nos da presente nota para vos informar sobre uma Carta Aberta que dirigi à Sua Excelência, o Presidente da República do Senegal, Sr. Macky Sall.

A referida carta aberta debruça-se sobre os efeitos das barragens senegalesas de Niandouba e de Anambé que vêm privando a Guiné-Bissau de valiosos recursos hídricos desde 1984.

A carta aberta foi traduzida para duas outras línguas internacionais, nomeadamente o inglês e o Francês (em anexo).

Sem mais assuntos no momento, subscrevo-me com a mais elevada estima e consideração.

Umaro Djau, MA.
Strategic Communications Specialist | Journalist & Producer | Political Analyst & Commentator
Skype: umaro.djau

Mobile: +1-404-723-7225 (USA) | +245-96-520-5911 (Guinea-Bissau)
LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/umarodjau/



II. Carta Aberta ao Presidente da República do Senegal, Macky Sall, por Umaro Djau

Agosto de 2019

A Sua Excelência
O Presidente da República do Senegal
Macky Sall

Senhor Presidente,

Chamo-me Umaro Djau e sou natural da Guiné-Bissau. Começo parabenizando-lhe, do fundo do meu coração, pela sua releição para um segundo mandato, no escrutínio de Fevereiro passado.

Estou a escrever-lhe para partilhar as minhas preocupações sobre os efeitos das barragens de Niandouba (de regulação) e de Anambé (de confluência), construídas na bacia hidrográfica do
Kayanga/Geba, da qual, a maior parte (65%) está localizada na Guiné-Bissau. De facto, o Geba, a parte jusante dessa mesma bacia, é o maior rio da Guiné-Bissau.

As barragens citadas, particularmente a de Anambé, localizada entre as áreas de Kolda e Velingara – apenas 20 quilômetros da fronteira com a Guiné-Bissau - vêm privando o meu país de valiosos recursos hídricos desde 1984, aquando da sua construção na confluência entre os rios Anambé e Kayanga. Reconhece-se, no entanto, a diminuição da pluviosidade na região, nos últimos anos, como sendo um dos factores adicionais na redução dos caudais do leito principal da bacia e dos seus afluentes.

Nenhum outro lugar mostra as consequências dessas ações (no lado guineense) mais do que os rios Bidigor, Campossa e Gambiel, todos tributários/afluentes do rio Geba/Kayanga. Assim que a estação seca começa (em Novembro), esses rios secam muito rapidamente, devido a uma diminuição drástica do caudal de água da parte montante do rio, no território senegalês. Esse fraco e debilitante fluxo de água está a afetar de forma grave e diretamente mais de meio milhão de pessoas nas regiões rurais de Gabú, Bafatá e Oio, de acordo com dados divulgados em 2009.

Hoje, um número superior de pessoas estará a ser afetado. Com base em dados disponíveis (e situações visíveis), permita-me, Senhor Presidente, citar algumas das consequências das barragens construídas no seu território:

• Alterações hidrológicas profundas na parte jusante do rio Kayanga/Geba, com a diminuição dos níveis de água na Guiné-Bissau;

• Morte lenta dos afluentes do Kayanga/Geba: Bidigor, Campossa e Gambiel;

• Escassez dramática de água que é a fonte da vida e responsável pela sobrevivência da humanidade e dos ecossistemas;

• Um impacto negativo nas atividades das populações, incluindo a interrupção da agricultura, pecuária (animais de pasto, especialmente gado) e caça;

• Degradação ambiental em geral devido a uma redução drástica da flora (perda de biodiversidade na vegetação) e fauna aquática e terrestre;

• Empobrecimento do solo, a deterioração das margens dos rios e o aumento da salinização, especialmente nas áreas costeiras da Guiné-Bissau;

• Aumento da profundidade de captação nos poços artesianos de águas subterrâneas devido ao abaixamento do nível estático dos lençóis freáticos;

• Efeitos sociais irreparáveis com a deslocação indiscriminada dos guineenses em busca de outros locais e regiões com cursos de água mais acessíveis, ou seja, a incrementação da transumância.

Sr. Presidente, é compreensível o facto do Senegal não querer desperdiçar os valiosos recursos
hídricos que atravessam o seu território (a montante) e que eventualmente não estariam a ser utilizados pela Guiné-Bissau (a jusante). Também estou informalmente ciente de que, através da
SODAGRI (Sociedade para o Desenvolvimento Agrícola e Industrial no Senegal), o seu país teria eventualmente entrado em contato com as autoridades da Guiné-Bissau nos anos 1970/80 para mantê-las a par do que pretendia fazer, ou seja, os estudos iniciais e as diferentes fases de implementação dos projectos das referidas barragens.

Sem o pleno conhecimento dos factos que cercam esse período e as respectivas concertações, a
fraqueza institucional da Guiné-Bissau é, todavia, bem documentada e conhecida entre os seus
parceiros regionais, nomeadamente as frequentes crises domésticas, a falta de recursos financeiros, a limitação no tocante ao conhecimento especializado, assim como a falta da capacidade técnica, sobretudo na primeira década após a sua independência. Todos esses obstáculos contribuíram certamente (e muito) para um comportamento pouco ou não responsivo por parte do Estado guineense.

Independentemente do que possa ter acontecido naquela época, compreendo a necessidade do Senegal de sustentar as necessidades agrícolas da sua população do sul, através da agricultura
irrigada , nomeadamente o cultivo do arroz, a prática da horticultura e a conservação da água. Assim, as barragens foram construídas e têm beneficiado grandemente o seu país, o Senegal, através de projetos nacionais ambiciosos destinados a reforçar os meios de subsistência do seu povo (a produção de energia elétrica, a captação e a acumulação de água para a agricultura, a pesca, a piscicultura, a horticultura, a pecuária, etc.).

Devo confessar que, da última vez que passei pelas áreas de Tabendo e Kounkane, fiquei encantado com a sua paisagem. A ponte de Kounkane e os seus arredores estão repletos de água proveniente do reservatório de Waima que já mudou todo o ecossistema local, criando oportunidades económicas substanciais nessas áreas. Waima e outros dois reservatórios (Niandouba e Confluência Anambé) são tidos como depósitos essenciais de todas as águas da bacia, estimadas em mais de 130 milhões de metros cúbicos.

Sr. Presidente, a bacia hidrográfica Kayanga/Geba é um curso de água transfronteiriço que nasce nas montanhas de Fouta Djalon, perto da aldeia de Labé, na República da Guiné-Conacri. Este curso natural de água atravessa o território do Senegal, antes de se desembocar na vila de Xime (perto de Bambadinca, na Guiné-Bissau), onde Kayanga/Geba se cruza com o rio Koliba/Corubal.

Durante séculos, os nossos ancestrais comuns - das terras altas de Fouta Djalon (Guiné-Conacri) ao sul do Senegal e até à Guiné-Bissau - compartilharam e desfrutaram pacificamente desses recursos cruciais hídricos fornecidos por este rio de cerca de 550 quilômetros em extensão.

O mesmo senso comum, as mesmas relações e os mesmos princípios ancestrais não regulamentados levaram à coexistência pacífica entre os nossos povos, superando todos os obstáculos de comunicação, nas eras de impérios e doutras chefias que reinaram por muitos séculos, em toda a nossa Costa Ocidental da África.

Para preservar ainda mais o compromisso ancestral entre países - agora na era da regulamentação
e de interesses nacionais – a Organização para a Valorização do Rio Gâmbia (OMVG) nasceu em
1978 com os objetivos de promover e coordenar ações conjuntas, por forma a garantir o uso racional e durável dos recursos dessa importante Bacia Hidrgráfica, com realce para os domínios de conservação e de desenvolvimento, realçando especificamente os componentes de “estudos, planeamento e infraestrutura, agricultura e ambiente, bem como outras tarefas de desenvolvimento dos recursos dos rios Gâmbia, Kayanga-Geba e Koliba-Corubal nos territórios dos estados membros”,  nomeadamente a Gâmbia, o Senegal, a Guiné-Conacri e a Guiné-Bissau, tendo este último se juntado ao grupo em 1983.

É importante salientar que o Rio Kayanga/Geba já ganhou um estatuto internacional e todas as suas obrigações legais estão em vigor e sob à gestão da OMVG, sublinhando, neste particular, a existência de uma Convenção para a gestão desta Bacia já aprovada no Conselho de Ministros da organização, faltando apenas a sua promulgação pelos Chefes de Estado.

Sr. Presidente, embora eu lhe esteja a lembrar detalhadamente sobre alguns princípios legais baseados em convenções, acordos, e declarações internacionais e regionais, deixe-me também afirmar que não sou um advogado e nem estou a tentar produzir um argumento legal contra o seu país nas suas decisões soberanas. Mas, permita-me informar-lhe que hoje, os nossos dois países podem confiar em várias diretrizes e estruturas institucionais nacionais, regionais e internacionais que podem servir de guia para a produção de melhores e mais adaptadas medidas e políticas no tocante às águas transfronteiriças, a saber:

1. Declaração de Madrid sobre o Regulamento Internacional relativa à Utilização dos Rios Internacionais para Fins Distintos da Navegação (1911) adverte contra alterações unilaterais dos fluxos de rios e lagos - contíguos ou sucessivos - sem o consentimento de um Estado co-ribeirinho. Essa Declaração recomenda a criação de comissões conjuntas de água.

2. A Declaração de Montevidéu (1933) argumenta que nenhum estado pode, sem o consentimento do outro Estado ribeirinho, introduzir em cursos de água de caráter internacional quaisquer alterações que possam ser prejudiciais aos outros Estados interessados, mesmo para os efeitos da exploração industrial ou agrícola (artigo 2).

3. As Regras de Helsínquia (1966) recomendam o equilíbrio entre as necessidades variantes (económicas e sociais) e as demandas das nações fronteiriças, aplicando o princípio de “uma parcela razoável e equitativa” nos usos benéficos das águas de uma bacia de drenagem internacional, excepto onde existem outros acordos (Capítulo 2, Artigo 4, 5), sem causar danos substanciais a um estado de co-bacia.

4. A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito dos Usos Não Navegacionais dos Cursos de Água Internacionais - adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1997 e que entrou em vigor em 17 de Agosto de 2014 - defende os princípios fundamentais de “utilização equitativa e razoável” e a “obrigação de não causar danos significativos”. Esta Convenção foi ratificada pela Guiné-Bissau desde o ano de 2010.

Como podemos concluir, muitas dessas regras, declarações e convenções recomendam uma forma “razoável e equitativa” de usar as águas transfronteiriças e obrigam as partes a evitar a alteração dos fluxos naturais dos cursos de água, cujas ações podem levar a “danos significativos” num dos países.

Apesar de toda a minha explicação, factos e argumentos até aqui apresentados, o objetivo desta carta não é culpar o Senegal por ter optado pelas políticas que considera corretas para o seu povo, mas sim fazer com que a Sua Excelência esteja consciente sobre os efeitos dramáticos dessas medidas (as barragens de Niandouba e Anambé) sobre o povo da Guiné-Bissau.

Sr. Presidente, nasci em Pirada, uma pequena vila perto da fronteira entre a Guiné-Bissau e o Senegal. Na verdade, quando era criança, o meu pai ocasionalmente me levava para as localidades vizinhas de Nianao e Wassadou, para o mercado semanal, conhecido por "Lumos". Durante a minha infância, confesso que não via muita diferença entre os dois lados da fronteira, devido à minha inocência da criança. De facto, as proximidades e as semelhanças geográficas, sociais, étnicas e culturais fazem com que as localidades fronteiriças do Senegal e da Guiné-Bissau sejam difíceis de diferenciar e dividir.

E ainda durante essa época - no final dos anos 1970 e início dos anos 80 - pequenos agricultores
e pastores de gado na região de Gabú costumavam contar com as dádivas do rio e dos riachos que desciam da fronteira norte pelo país adentro. Os campos de arroz, ou seja as “bolanhas”, permaneciam verdes o ano inteiro, cheios de vida e de esperança. A abundância em água satisfazia quase todas as necessidades, de homens e animais.

Infelizmente, os corredores da água e outras reservas hidrográficas já se evaporaram há muito tempo devido, em parte, às barragens construídas no Senegal. Estou, todavia, ciente doutras condições climáticas e humanas que têm tido impactos negativos em toda a região do Sahel, mas todas as áreas transfronteiriças da Guiné-Bissau estariam significativamente melhores em termos hidrográficos, se o seu país gentilmente mantivesse a circulação regular da água doce de montante para a parte jusante, através do Rio Kayanga/Geba.

Sr. Presidente,

Como a Sua Excelência deve saber, grande parte do mundo depende da água dos rios que percorre de uma nação para outra. Por exemplo, o vital recurso hídrico do Senegal, o rio com o mesmo nome, nasce das maravilhas de Semefe e Bafing (na Guiné-Conacri e no Mali, respectivamente) com as bênçãos dos rios Faleme (também da Guiné-Conacri) e do Gorgol (Mauritânia). Seria desconcertante para o seu país se as necessidades humanas nesses três países os obrigasse a mudar os cursos daqueles fluxos naturais de água, assim como os seus padrões geológicos. Do mesmo modo, o próprio Rio Gâmbia,  o fulcro do projecto OMVG, nasce nas montanhas de Fouta Djalon, percorrendo uns 1.200 quilómetros de distância.

No mundo de hoje, equilibrar as necessidades económicas e humanas é um dos grandes desafios
- seja na África ou noutros lugares. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação (FAO), existem mais de 3.600 tratados relacionados com os recursos hídricos
internacionais e que incluem os aspectos da navegação, da demarcação de fronteiras, do uso, do
desenvolvimento, da proteção e conservação de recursos naturais.

Outros dados indicam que também existem mais de 260 bacias hidrográficas (entre rios e lagos)
transfronteiriças no mundo e elas cobrem quase a metade da superfície terrestre. Em quase todas as circunstâncias, os países a montante têm o dever moral e ético de partilhar os recursos hídricos
com os seus vizinhos a jusante. De facto, há muitos exemplos interessantes, encorajadores e inspiradores dessas práticas em todo o mundo. Aqui passo a transcrever alguns deles:

• Camboja, Laos, Tailândia e Vietnã têm compartilhado o Rio Mekong desde 1957, mesmo durante a Guerra do Vietnã;

• Israel e a Jordânia têm compartilhado o Rio Jordão desde 1955, mesmo sob constantes ameaças de conflito regional;

• Índia e o Paquistão têm compartilhado o Rio Indo, apesar das duas guerras entre os dois países;

• Mais de 160 milhões de pessoas de pelo menos 10 países africanos têm compartilhado o Rio Nilo, assim como outras cinco bacias - Congo, Níger, Nilo, Zambeze, etc.;

• Rio Danúbio ainda serve mais de 10 nações da Europa Central e Oriental;

• Rio Colorado é uma fonte vital de água para mais de 40 milhões de pessoas, tanto nos Estados Unidos como no México.

Sr. Presidente,

Reconheço ser difícil conseguir um consenso global sobre os problemas da água no mundo, mas gostaria de lhe pedir respeitosamente que considere as seguintes observações e recomendações de muitos especialistas da Guiné-Bissau e internacionais com os quais abordei as minhas preocupações:

• O Senegal deve estabelecer uma regra do jogo justa em relação ao nosso curso de água comum, o que levaria à partilha dos seus benefícios para um desenvolvimento sustentável em ambos os países;

• O Senegal e a Guiné-Bissau devem capacitar a sua Comissão Conjunta de Gestão de Recursos Hídricos, através da Comissão Hidrológica, para se reunir periodicamente para avaliar o comportamento da bacia Kayanga/Geba, bem como para testemunhar as descargas e represas periódicas das águas para garantir o seu fluxo apropriado de um lado para o outro, o que não acontece desde o ano 1998. As tais descargas regulares e suficientes da parte superior da bacia podem permitir a recuperação de alguns afluentes, bem como recarregar as águas subterrâneas, fontes de abastecimento de água para a população local nos dois países;

• O Senegal e a Guiné-Bissau devem envidar esforços para mitigar os impactos negativos mencionados anteriormente, através de atividades de reflorestamento, recuperação de terras e formação pública sobre questões ambientais;

• O Senegal e a Guiné-Bissau devem reconhecer que revisões periódicas são necessárias para sustentar o curso de água, protegendo assim os ecossistemas e atendendo às necessidades humanas e um equilíbrio justo entre os dois países;

• O Senegal e a Guiné-Bissau devem rever todas as disposições existentes sobre o monitoramento, a avaliação, a execução, a pesquisa e o desenvolvimento, o intercâmbio e o acesso à informação para uma partilha mais equitativa e adequada do rio Kayanga/Geba e as suas bacias;

• O Senegal e a Guiné-Bissau devem conduzir mais consultas para encontrar um quadro aceitável no âmbito da OMVG ou bilateralmente para implementar mecanismos que levem à cooperação através da celebração de acordos específicos e/ou criação doutros órgãos conjuntos.

Sr. Presidente,

Já deve estar claro para a Sua Excelência de que acredito piamente em princípios como a “partilha justa” de recursos. Nesse sentido, estou particularmente atraído por uma iniciativa específica da ONU conhecida como "Águas Compartilhadas, Oportunidades Compartilhadas". Esta iniciativa defende a ideia de que “fomentar as oportunidades de cooperação na gestão transfronteiriça da água pode ajudar a construir o respeito mútuo, a compreensão e a confiança entre países e promover a paz, segurança e o crescimento económico sustentável”.

De facto, o respeito mútuo, a compreensão e a confiança podem e servir-nos-ão bem, pois o Senegal e a Guiné-Bissau têm certamente procurado assegurar e construir um futuro melhor para os seus cidadãos que estão ansiosos em permanecer bons e indivisíveis vizinhos hoje e nos séculos vindouros.

Assim, compartilhar amigavelmente os recursos que nos foram dados pelo poder divino seria o
primeiro passo em direção a esse objetivo. Na verdade, a promoção do uso equitativo desses recursos hídricos comuns ajudaria a sustentar o nosso clima regional, combater a pobreza e estimular o desenvolvimento económico em ambos os países.

Sr. Presidente, estou esperançoso de que possa haver um futuro para o Rio Geba se o seu país, o
Senegal, puder gentilmente e regularmente ter em mente que doutro lado da sua fronteira, há um
vizinho que está igualmente carenciado e sedento pelo curso de água do Kayanga. Seria desnecessário lhe reiterar que este recurso hídrico transfronteiriço é também a nossa herança
comum que devemos todos valorizar, compartilhar, cuidar e preservar.

Sr. Presidente,

Reconhecendo que as barragens aqui mencionadas alteraram dramática e negativamente os modos de vida da população na Guiné-Bissau, é necessária uma forte vontade política para forjar uma compreensão mútua e cooperação entre o Senegal e a Guiné-Bissau, no quadro propício da OMVG, em prol de uma partilha consistente e fidedigna de benefícios num futuro próximo.

Sr. Presidente,

Embora eu não represente o Governo da Guiné-Bissau, gostaria de ter a oportunidade de me encontrar com a Sua Excelência para discutir esta questão vital. Mais importante ainda, encorajaria a Sua Excelência para se aproximar das autoridades da Guiné-Bissau para discutir as medidas urgentes que são necessárias para começar a abordar as questões e as preocupações expostas nesta carta aberta, podendo posteriormente com as autoridades que envolvem os dois estados, mandatar os peritos especializados em matéria de hidrologia, meio ambiente e desenvolvimento durável, a elaboração de uma proposta técnica concreta e viável, que poderia servir de roteiro para a atenuação da situação vigente.

Sr. Presidente,

Hoje, pela importância e valor dos recursos hídricos na luta contra a pobreza e como uma garantia de
tranquilidade e paz social no mundo, é aconselhável institucionalizar a hidrodiplomacia e a
hidrossegurança, como abordagens apropriadas para resolver a escassez de água e conflitos hídricos,
através da cooperação, gestão e desenvolvimento sustentável, como recomendado pelas muitas iniciativas globais e regionais, nomeadamente o Fórum Mundial da Água de Brasília, Brasil (Março de 2017).

E, por outro lado, se a Sua Excelência também achar necessário, por favor, não hesite em entrar
em contato comigo pelo telefone +1-404-723-7225 ou através do meu e-mail pessoal:
umarodjau@gmail.com.

Obrigado, Sr. Presidente, por ter reservado este valioso tempo para ler esta carta aberta que destaca uma questão de extrema importância para as populações da Guiné-Bissau, na medida em que tentam lidar com os dramáticos efeitos das barragens de Niandouba e Anambé no Rio Kayanga/Geba, ações que acabaram por influenciar negativamente os afluentes Bidigor, Campossa e Gambiel.

Que Allah/Deus lhe proteja e lhe dê forças e coragem para continuar a servir não só o Senegal, mas também toda a humanidade, a começar pela própria sub-região.

Sinceramente,
Umaro Djau

Um obrigado especial para as seguintes individualidades:
Eng. Inussa Baldé e Eng. Justino Vieira

Com o conhecimento das seguintes instituições e dignitários:
Presidente da República da Guiné-Bissau, José Mário Vaz
Presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá
Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes
Ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, Suzi Barbosa
Ministro dos Recursos Naturais e Energia, Issufo Baldé
Bancada Parlamentar do PAIGC na ANP
Bancada Parlamentar do MADEM G-15 na ANP
Bancada Parlamentar do PRS na ANP
Bancada Parlamentar da APU-PDGB na ANP
Partido União para a Mudança, UM
Partido da Nova Democracia, PND
Embaixada da República do Senegal na Guiné-Bissau
Embaixada da Guiné-Bissau no Senegal
Secretário-geral das Nações Unidas
Assembleia Geral das Nações Unidas
Missão Permanente

III.  Nota do editor:

Declaração de interesses:

(i) parafraseando a nossa grande poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, há realidadades que "não podemos ignorar", sobretudo depois de  "vermos, ouvirmos e lermos"... 

(ii) esta carta aberta do guineense Umaro Djau, filho do Gabú, e de que certamente por lapso não foi dado conhecimento ao Governo Português, à CPLP e à União Europeia, merece o devido destaque no nosso blogue, até por todas as razões e mais uma, de natureza afetiva: muitos de nós conhecemos o leste da Guiné-Bissau, as regiões de Bafatá e de Gabú, antes e depois da independência, e  o passado, o presente e o futuro dos nossos amigos da Guiné-Bissau não nos são indiferentes: de resto, só há uma terra, uma casa comum da humanidade, e a hidrossegurança é um requisito fundamental para a paz e o desenvolvimento;

(iii) o rio Geba (ou Xaianga, segundo a preciosa cartografia militar portuguesa) também é meu, também é nosso; temos cerca de 90 referências no nosso blogue a este rio que tanto amámos e odiámos durante a guerra colonial (1961/74);

(iv) o documento parece-nos bem elaborado, do ponto de vista técnico, e escrito em bom português, tendo tido a colaboração de especialistas guineenses em recursos hídricos  e geologia, como o engº Inussa Baldé, quadro superior do Ministério de Recursos Naturais, engº Justino Vieira, antigo secretário-geral da Organização para a Valorização do Rio Gâmbia (OMVG), ou Orlando Cristiniano da Silva, geólogo guineense com residência no Brasil:

(v) não discutimos aqui questões como a oportunidade da sua divulgação que alguns  vão querer associar ao recente lançamento, na Guiné-Bissau,  de um novo partido, o Movimento Guineense para o Desenvolvimento (MGD), fundado e liderado por Umaro Djau;  julgamos que esta causa é transversal, e deve mobilizar todos os guineenses e todos os seus amigos e os seus vizinhos;

(vi) depois de ler este notável documento, eu não posso assobiar para o lado e dizer que, de acordo com as nossas regras editoriais, o nosso blogue não se pode imiscuir nos assuntos de Estado e na atualidade política e social;

(vii) Umaro Djau é um conhecido jornalista, que se formou, viveu e trabalhou  nos Estados Unidos;

(viii)  o editor do blogue não conhece o Umaro Djau, tendo no entanto recebido deste,  em 13 de fevereiro de 2007,  no seu endereço pessoal, a seguinte mensagem:  (,,,)" Chamo-me Umaro Djau e fiquei deveras surpreendido com o seu maravilhoso blog. Sou guineense e Jornalista. Resido nos EUA há mais de 11 anos. Trabalho para a cadeia da TV mundial, CNN. Gostaria de poder corresponder consigo".

(ix) o nosso coeditor Carlos Vinhal convidou-o, em 2008,  para integrar a Tabanca Grande, convite que não teve resposta até hoje (*).

(x) apoio a petição mas não consigo assinar, devido a erro informático... LG
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Nota do editor

sábado, 24 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19228: Convívios (883): "Bosque dos Avós", hoje, todo o dia, na serra do Marão, Aboadela, Amarante (José Claudino da Silva)



Página do Facebook Bosque doa Avós


In:

José CLaudino da Silva, Lixa, Felgueiras
FLOR DO TÂMEGA > “DE LONGE A LONGE” > BOSQUE DOS AVÓS versus BOSQUE DO CENTENÁRIO

por José Ckaudino da Silva

[ ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)]

Recentemente, encontrei o meu amigo Zé que toda a vida foi carpinteiro e fomos beber um copo com o Silva, um dos melhores marceneiros que conheci. 

Agora que estamos todos reformados, a conversa girou sobre a maneira, como passamos o nosso tempo livre. O Zé ajuda a filha que tem um restaurante, e o Silva colabora num clube de veteranos. Pela minha parte, expliquei-lhes que andava envolvido nas florestas e que tinha ajudado a criar o Bosque dos Avós. 

Estranharam que um antigo chapeiro de automóveis andasse a plantar árvores e eles que sempre trabalharam em madeira não o fazerem, aliás, confessaram-me que nunca na vida deles, tinham plantado uma, no entanto tinham destruído milhares nas suas profissões. Creio que os meus amigos nunca, até à nossa conversa, tinham sequer pensado nisso.

Embora se fale muito na reflorestação das áreas ardidas a verdade é que a maioria das pessoas está à espera que sejam os outros a fazer essa reflorestação.

É pois com satisfação que no próximo dia 24 de novembro, dia seguinte, ao dia mundial da árvore autóctone que se comemora no dia 23, os organizadores do Bosque dos Avós e do Bosque do Centenário, vão proporcionar a quem quiser colaborar, a satisfação de participar num evento saudável e preponderante, para que no futuro, os carpinteiros e os marceneiros, possam ver as árvores crescer e dar vida ao planeta e tenham madeira para usarem nas suas profissões, mais que isso, que os escultores que usam madeira nas suas esculturas e que, também eles, não plantam árvores, as possam ter no futuro, para construírem as suas obras de arte. (*)

José Claudino da Silva (**)

[Excerto reproduzido com a devida vénia e votos de bom convívio... Telemóvel para contacto:965 804 597 ]
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sexta-feira, 16 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18426: Fauna & flora (14): quando os animais emigram para o vizinho Senegal... (Cherno Baldé)


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > A caminho de Djufunco > 9 de maio de 2013 >  O deserto do Cacheu

Foto (e legenda): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cherno Baldé, Bissau
1. Comentários de Cherno Baldé, nosso colaborador permanente,  ao poste P18410 (*):

Caros amigos,

É muito triste, mas é verdade, torna-se cada vez mais difícil encontrar animais selvagens, de um modo geral e em particular macacos, no território da Guiné-Bissau. O caso dos babuínos deve ser mais evidente mas não é único.

Para além das razões apontadas por Luís Graça no seu comentário ao poste anterior, com os quais concordo plenamente, deve-se ter em conta, também, a emigração dos mesmos para os territórios vizinhos, nomeadamente para o vizinho Senegal (Casamança, Parque Niokolo-Koba e outros) onde foram criadas condições favoráveis para a vida dos animais selvagens, com infraestruturas de retenção de águas da chuva bem como poços equipados com painéis e outros equipamentos (sistemas solares) de água,  disseminados em vários pontos do território inclusive na savana. 

A propósito deve-se dizer que o Senegal é um pais com uma visão económica e política virada para o futuro e que trabalha com uma estratégia de longo prazo desde os anos 70/80. Mas, ao mesmo tempo e paradoxalmente, são algumas dessas realizações (construção de barragens e pontos de retenção das águas fluviais e das bolanhas) aliadas à incúria e à ausência de Estado digno desse nome no país que se chama República da Guiné-Bissau,  é que estão a contribuir para aniquilar a vida selvagem (fauna e flora) das terras baixas mais ao sul das suas fronteiras e os efeitos são por demais evidentes e cada vez suas consequências serão mais alarmantes.

2. No passado mês de Fevereiro, o antigo Presidente do Senegal [Abdoulaye Wade,]  publicou uma carta aberta sobre a questão da construção de uma barreira de proteção  na zona marítima da cidade de St. Louis, antiga capital do Senegal, ameaçada de destruição pelas vagas marítimas que já consumiram parte importante da velha cidade. A publicação da carta tinha sido feita na sequência da visita do presidente francês, Emanuel Macron,  que prometeu o financiamento do empreendimento com largos milhões de euros a fim de recuperar e proteger a antiga capital.

A carta foi publicada no site senegalês www.seneweb.com, tendo sido alvo de muitos comentários a nível do Senegal. Na altura e aproveitando a deixa, inseri um comentário mostrando a incoerência das autoridades do Senegal relativamente aos argumentos postos em relevo para mostrar as sua preocupações ecológicas e dos cuidados a ter em relação à natureza a nível planetário quando na verdade nem se preocupavam com os vizinhos mais próximos, como é o caso da Guiné-Bissau, cujas regiões do Norte e do Leste sofrem as consequências de ações humanas realizadas no outro lado da fronteira, cujo conteúdo vou copiar em baixo seguido da sua tradução em português.

Comentário inserido no site www.seneweb.com, a propósito de uma carta aberta de Abdoulaye Wade, antigo Presidente do Senegal, sobre os problemas ecológicos na nossa sub-região e no mundo:

"Le sage conseil de M. Abdoulaye Wade, ancien Président du Sénégal, semble refléter une préoccupation écologique d'une grande dimension humaine et universelle, mais il oublie que des importants barrages de rétention d'eau ont été construites le long de la frontière sud du Sénégal, en Casamance, qui ont déjà des effets qui se font sentir durement sur le territoire de la Guinée-Bissau, avec la mort des rivières et bas-fonds, causant de grands dommages à la nature, la faune et la flore qui meurent lentement à cause de l'insuffisance de l'eau qui, du territoire sénégalais (Casamance), en route jusqu'à la mer, alimentait en chemin toutes les espèces de vies qui habitaient ces territoires, et qui aujourd'hui sont simplement obligés d'aller tres loin pour trouver les éléments vitaux qui constituent le base de leur survie.

Les effets combines des barrages d’Anambé et de Ndiandouba sont en train de tuer la vie naturelle au-delà de la frontière et je ne crois pas qu’ont été effectué des études scientifique d'impact environnemental sérieux, comme il tente de nous démontrer, et non plus de préoccupation humanitaire légitime par rapport au partage équitable des eaux afin de sauvegarder la vie animale, forestière et humaine de l'autre côté.

Tout ça pour démontrer que le discours de l'ancien président du Sénégal dans sa lettre ouverte ne peut qu'être hypocrite et populiste, imprégné d'un faux humanisme qui n'a en réalité rien. D'ailleurs, je ne crois pas que leurs préoccupations soient partagées avec les autres pays, notamment occidentaux, qui ont déjà fait mille et une constructions le long des côtes de l'Atlantique sans se préoccuper des effets qui pourraient en résulter dans les côtes africaines et autres.


3. Tradução em português:

"Os sábios conselhos do Senhor Abdoulaye Wade, ex-Presidente do Senegal, parecem reflectir uma preocupação ecológica de uma grande dimensão humana e universal, mas o mesmo esquece que foram construídas importantes barragens de retenção de águas ao longo da fronteira sul do Senegal, nomeadamente em Casamança, cujos efeitos já se fazem sentir duramente no território da Guiné-Bissau, com a morte dos rios e correntes de água das bolanhas, causando grandes prejuízos à natureza, à fauna e à flora que estão a morrer lentamente em consequência da insuficiência de água que, do território senegalês (Casamança), corria para o mar, alimentando no caminho todas as espécies de vidas que habitavam naqueles territórios e que hoje, simplesmente, são obrigados a deslocar-se para longe a fim de encontrar os elementos vitais que constituem a base da sua sobrevivência.

As barragens de Anambe e de Ndiandouba estão a matar a vida natural do outro lado da fronteira e não creio que tenham sido efectuados estudos científicos sérios de impacto ambiental, como ele tenta demonstrar, nem da legítima preocupação em relação à repartição equitativa das águas de forma a salvaguardar a vida animal, florestal e humana do outro lado. 

Isto para demonstrar que o discurso de antigo presidente do Senegal na sua carta aberta só pode ser hipócrita e populista, imbuído de um falso humanismo que na realidade não tem nada. Para além de que, não acredito que as suas preocupações sejam partilhadas com os países ocidentais que já fizeram mil e umas construções ao longo das costas do Atlântico sem que tivessem a mínima preocupação com os efeitos que daí poderiam advir."
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 13 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18410: Fauna & Flora (13): De Cassumba, na ponta mais a sul de Quitafine, até Bissau, em 300 km, de um lado e do outro da estrada, não encontrei um único macaco-cão... Até há poucos anos atrás, era capaz de encontrar meia dúzia de bandos, alguns com dezenas de indivíduos (Patrício Ribeiro, Bissau)

terça-feira, 13 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18410: Fauna & Flora (13): De Cassumba, na ponta mais a sul de Quitafine, até Bissau, em 300 km, de um lado e do outro da estrada, não encontrei um único macaco-cão... Até há poucos anos atrás, era capaz de encontrar meia dúzia de bandos, alguns com dezenas de indivíduos (Patrício Ribeiro, Bissau)

Patrício Ribeiro, empresário
[Impar Lda, Bissau]
1. Comentário de Patrício Ribeiro ao poste P18407 (*):


Boas, Boa tarde.
Tenho más noticias,
Já não há "cabrito pé de rocha", na Guiné, nome do bicho já cozinhado, para não se falar o verdadeiro nome [macaco-cão]...

Cheguei há poucas horas da praia de Cassumba, no ponto mais ao Sul da Guiné [, região de Quitafine, a sul de Cacine],  por onde andei vários dias. 

Na viagem de mais de 300 km, para cada lado, não vi um único macaco, coisa impensável até há poucos anos. Nessas nossas viagem, encontrávamos meia dúzias de bandos, alguns dos quais com umas dezenas de animais.

Más noticias para os apreciadores...

Abraço

2. Comentário do editor LG:

Boas, Patrício. Más notícias para a Guiné-Bissau. para a conservação do babuíno da Guiné, para a preservação da biodiversidade, para o turismo, para a economia, para a ciência, para todos nós, afinal.

Há uns anos atrás, em 2009,  colaborámos com a bióloga Maria Joana Silva (**), que estava a fazer o seu doutoramento.numa universidade inglesa. A tese de doutoramente tinha justamente como tema a genética do babuino da Guiné. Não temos tido notícias dela, mas gostaríamos de ter acesso pelo menos ao resumo da tese e algumas das suas principais conclusões... Pode ser que ela nos leia, e satisfaça a nossa curiosidade...

À nossa modesta escala, gostaríamos de poder contribuir para a preservação deste magnífico primata que só existe num nicho ecológico da Africa Ocidental, relativamente restrito, e que inclui a Guiné-Bissau. É uma tremenda responsabilidade, para todos nós, o risco da sua extinção... Até aos anos 90, ninguém se preocupava com o seu futuro...

E a propósito de Cassumba, diz-nos o nosso amigo Cherno Baldé (*): "Cassumba, aldeia situada nos confins do Sector de Cacine (zona marítima), tem uma das praias mais lindas da Guiné-Bissau, mas que, exceptuando umas poucas pessoas que conhecem os segredos do país [, como é o caso do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro], ninguem conhece e é pouco frequentada. Merecia constar da rota do turismo se tivesse acesso facilitado, que é o grande quebra-cabeças".

PS - Disse há dias (*) que o babuíno não existe em Angola e Moçambique, o que é falso... O vocábulo vem do  francês "babouin".. É o nome comum  os "antropoides cercopitecídeos" do género Papio...Algumas das características mais evidente deste Macaco do Novo Mundo (, não existindo portanto no Novo Mundo): (i) focinho pontudo (como o cão...), (ii) caninos grandes, (iii) bochechas volumosas, (iv) calosidades nas nádegas, etc. Pertence à ordem dos primatas, como nós, é  semi-quadrúpede, pode medir 1, 2 metros de  comprimento, vive em África, de preferência em    campos abertos (savana arbustiva, pastagens, terrenos rochosos...).

Há cinco espécies do género Papio, em África, uma delas é o Papio papio que, essa, sim, é que vive na África Ocidental (Guiné-Bissau, Guiné, Senegal, Gâmbia, sul da Mauritânia e oeste de Mali). É vulgarmente conhecido como "bauino da Guiné" ou "macaco-cão"...
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Nota dp editor:

(*) Vd. poste de 12 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18407: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (26): Os "animais, nossos amigos"...

(**) Vd. poste de 10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

(...) O meu nome é Maria Joana Silva e sou uma aluna de doutoramento da Universidade de Cardiff (Reino Unido). O meu projecto de doutoramento é acerca da genética do babuíno da Guiné (mais conhecido na Guiné-Bissau por macaco Kom).

Tenho-me deslocado à Guiné-Bissau, mais propriamente a Cantanhez, onde comecei por fazer uma recolha de amostras biológicas exploratória. Logo percebi que a história demográfica desde primata está intimamente ligado à história daquele local. Fiz algumas entrevistas a antigos caçadores da tropa portuguesa que me falaram do tempo da guerra, do facto dos babuínos terem sido caçados principalmente por tropas do PAIGC e que durante o tempo da guerra era relativamente fácil encontrar babuínos. (...) 

(**) Último poste da série >  18 de janeiro de  2009 > 18 de janeiro de 2009 >  Guiné 63/74 - P3755: Fauna & flora (12): Respondendo às perguntas sobre o macaco-cão (Pedro Neves / Alberto Branquinho)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18296: E as nossas palmas vão para... (14): José Claudino da Silva, nosso grã-tabanqueiro, que teve a ideia de criar o "Bosque dos Avós" na serra do Marão, com o apoio da União das Freguesia de Aboadela, Sanche e Várzea, do concelho de Amarante




Cartaz do projeto "Bosque dos Avós". O autor da ideia é o nosso camarada José Claudino da Silva. E tem o apoio da união das freguesia de Aboadela, Sanche e Várzea, do concelho de Amarante. Cortesia de José Claudino da Silva.


José Claudino da Silva
 1. Com a devida vénia à agência Lusa e ao Jornal de Negócios, de 2 do corrente, publicam-se aqui alguns excertos da notícia sobre a criação do "Bosque dos Avós":



"Avós de vários países criam bosque no Marão com árvores baptizadas com nomes dos netos"


Lusa / Jornal de Negócios , 2 de fevereiro de 2018 às 19:22

"José Claudino Silva, de 67 anos, de Amarante, explicou que, actualmente, estão inscritos dezenas de avós residentes na Austrália, Suíça, França, Espanha e Moçambique, entre outros países, que representam cerca de 180 netos, mas esse número, previu, deverá aumentar nas próximas semanas.

"Por cada neto, o avô aderente à ideia plantará uma árvore, anotou, referindo haver casos de avós com 10 netos e que, por isso, terão de plantar uma dezena de exemplares na serra do Marão."

A ideia do "Bosque dos Avós",  surgiu na sequência de um passeio que o nosso camarada e membro da Tabanca Grande (, conhecido por Dino, entre os amigos),  deu pelo Marão. "Na época de fogos andei a visitar o Marão, vi aquilo tão despido e achei que poderia fazer algo", contou à agência Lusa.

E acrescenta a Lusa:

"José Claudino deseja 'criar um bosque, num terreno baldio', que 'toque nas pessoas', que 'possa ser visitado e que não permita que alguém lhe chegue o fogo', daí a ideia de se batizar cada árvore com o nome de um neto, para se criar uma maior ligação à comunidade.

"A campanha em curso para dar corpo à ideia chama-se 'Vamos plantar o Bosque dos Avós, porque os nossos netos merecem um mundo + verde' e tem envolvido cada vez mais pessoas.

"As redes sociais têm ajudado a promover a ideia e a permitir o contacto entre os que desejam associar-se à dinâmica do projecto. (...)

"As árvores vão ser sinalizadas com um número e registadas por sistema GPS. 'Os meus netos e os netos de outros participantes vão saber onde está a respectiva árvore', explicou.

"A acção de plantação vai decorrer a 24 de Março e conta com o apoio da União de Freguesias de Aboadela, Sanche e Várzea [, do concelho de Amarante], que irá coordenar a atribuição das árvores e o seu ordenamento no baldio. As árvores serão disponibilizadas pelo Parque Florestal de Amarante.

"José Claudino Silva deseja que ações de plantação ocorram todos os anos no 'Bosque dos Avós', porque o terreno baldio tem espaço para muitas árvores. 'Pretendemos que todos os anos haja avós, pais, tios, padrinhos, para plantar árvores com nomes dos familiares', concluiu."


2. O nosso camarada tem página no Facebook. E estamos a publicar no blogue a sua série "
"Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)

O "Bosque dos Avós" já tem também página no Facebook.

Para participar, ligar para:

Telef 255 425 009

Telem 965 804 597


https://www.facebook.com/bosquedosavos/



Merece também as nossas palmas o avô Dino. E os nossos leitores merecem também conhecer uma das tunas do Marão que tocam e cantam a Serra do Marão [clicar no tema 2:
Tunas do Marão,  por José Alberto Sardinha, Sons da Tradição,  Vol. 2, 2005]
Bravo, Dino!!!... Juntos vamos fazer a serra do Marão outra vez linda...ou ainda mais linda!...

Como diz a Tuna de Ansiães, "A nossa serra é linda, / Como ela não há igual! / Ela é a quarta serra / Mais alta de Portugal!"
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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de abril de  2017 >  Guiné 61/74 - P17235: E as nossas palmas vão para... (13): Mário Leitão, farmacêutico reformado, ex-fur mil, Farmácia Militar de Luanda, delegação nº 11 do Laboratório Militar, autor de "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012, 295 pp, mais de 500 fotografias), um homem de causas, agora empenhado em resgatar da "vala comum do esquecimento" os 52 bravos do concelho de Ponte de Lima que morreram na guerra do ultramar, 11 dos quais no CTIG

(**) Postes anteriores da série >

10 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16189: E as nossas palmas vão para ... (12): Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas", empresário em Bissau, português com P grande, que esperamos um dia destes ver condecorado no 10 de junho pelo presidente da República Portuguesa de todos os portugueses

1 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15694: E as nossas palmas vão para... (11): Catarina Gomes, a nossa amiga jornalista do "Público" que venceu o Prémio Rei de Espanha, na categoria imprensa escrita, com o trabalho "Quem é o filho que António deixou na Guerra?"... (Trata-se da segunda parte de um trabalho, iniciado em 2013, sobre os "Filhos do Vento")

30 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14420: E as nossas palmas vão para... (10): João Crisóstomo e António Rodrigues, amigos da causa de Aristides de Sousa Mendes (Parte II)

30 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14419: E as nossas palmas vão para... (9): João Crisóstomo e António Rodrigues, amigos da causa de Aristides de Sousa Mendes (Parte I)

17 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13299: E as nossas palmas vão para... (8): Nuno [José Varela] Rubim, autor de vasta obra sobre a nossa história militar, com destaque para "A organização e as operações militares portuguesas no Oriente, 1498-1580"

7 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13252: E as Nossas Palmas Vão para... (7): José Carmino Azevedo, autarca de Vila Frechoso, Vila Flor, que quis doar à Tabanca Grande 0,5% do seu IRS de 2013... Que gesto magnânimo!!!... Infelizmente não temos estatuto jurídico...nem sequer número de identificação fiscal (NIF) e, como tal, não existimos face ao Estado Português...

26 de março de 2013 > .Guiné 63/74 - P11315: E as Nossas Palmas Vão Para... (6): A banda musical portuguesa "Melech Mechaya", nomeada para os "Independent Music Awards" (IMA), 12ª edição anual, para a categoria de "Melhor Álbum Instrumental"

1 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11176: E as Nossas Palmas Vão Para... (5): Daniel Rodrigues, 25 anos, português, fotojornalista, que ganhou o "óscar" da melhor fotografia, na categoria "Vida Quotidiana", do concurso de 2013 da "Word Press Photo", com um belíssima foto de uma jogatana de futebol entre miúdos de Dulombi, março de 2012 (Luís Dias)

18 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6424: E as Nossas Palmas Vão Para... (4): O Município de Vila Nova de Famalicão no Dia Internacional dos Museus, a que se associaram dez museus, públicos e privados, incluindo o Museu da Guerra Colonial

24 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5005: E as Nossas Palmas Vão Para... (3): Medalha de Prata de Serviços Distintos, com Palma (José Martins)

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2316: E as Nossas Palmas Vão Para... (2): Os que lutam, na Guiné-Bissau, contra a Mutilação Genital Feminina (MGF)

17 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2273: E As Nossas Palmas Vão Para... (1): Sara Peres Dias e o seu microfilme Dizer a Guiné-Bissau em Três Minutos

terça-feira, 11 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17235: E as nossas palmas vão para... (13): Mário Leitão, farmacêutico reformado, ex-fur mil, Farmácia Militar de Luanda, delegação nº 11 do Laboratório Militar, autor de "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012, 295 pp, mais de 500 fotografias), um homem de causas, agora empenhado em resgatar da "vala comum do esquecimento" os 52 bravos do concelho de Ponte de Lima que morreram na guerra do ultramar, 11 dos quais no CTIG

 

Capa do livro


Dedicatória manuscrita ao editor do nosso blogue


Ficha técnica












Contracapa


Dedicatória de Mário Leitão ao nosso editor:


"Ponte de Lima, 28/3/2017: Ao prof doutor Luís Graça com a minha homenagem pelo seu incansável trabalho pela conservação das memórias da guerra do Ultramar! Com um abraço do Mário Leitão".



1. Mensagem do António Mário Leitão, um limiano de alma e coração, com data de 6 do corrente:

Caro Luís:

As minhas renovadas felicitações pelo V. magnífico trabalho! São incontáveis as buscas bem sucedidas que realizo no vosso  Blog para os meus livros. Obrigado!

Como não encontro o teu nº telefónico, queria saber se recebeste o meu livro sobre as Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d'Arcos, que enviei para a tua Universidade.

Um abraço!

Mário Leitão


2. Resposta do nosso editor LG, na volta do correio:

Querido amigo e camarada, recebi (e estou maravilhado com) o teu trabalho. Obrigado pela dedicatória. Prometo fazer uma recensão do livro, agora nas "férias" da Páscoa, que vou passar ao Norte, como de costume.

Quando voltar a Ponte de Lima, apito. Amanhã, telefono-te. O meu nº de telemóvel é o (...).

Tínhamos combinado, há uns tempos atrás,  se bem me recordo, que irias integrar a nossa Tabanca Grande (*). Acho que só faltavam as tuas duas fotos da praxe, uma do antigamente e outra atual. O convite continua de pé. Será uma honra ter-te cá, ao pé dos camaradas da Guiné, sentado sob o poilão mágico e sagrado da nossa Tabanca Grande.

Um, alfabravo, Luís


3. Comentário de LG:

O Mário Leitão já me mandou, entretanto,  todos os elementos para eu o poder apresentar, condignamente,  à Tabanca Grande como o grã-tabanqueiro nº 741.

O Mário Leitão não esteve na Guiné, esteve em Angola. Tem três ou quadro referências no nosso blogue. É  farmacêutico reformado. Foi furriel miliciano na Farmácia Militar de Luanda, delegação n.º 11 do LMPQF - Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, Angola, 1971/73.

O que é que ele tem feito, em prol da nossa causa comum, que justifique a sua entrada, pela porta grande da Tabanca Grande, honra essa que só é devida aos combatentes que passaram pelo TO da Guiné, de 1961 a 1974 ?

Muito simplesmente, o Mário Leitão é um homem de grandes causas: tem estado empenhado nestes últimos anos em honrar e preservar a memória dos 52 camaradas limianos que morreram (em combate, acidente ou doença) nos três teatros de operações, em África, seis dos quais ainda por resgatar (*).

Este homem, este camarada, farmacêutico reformado, antigo director técnico da Farmácia Lopes, em Barroselas, Viana do Castelo (, à frente da qual estão agora os seus dois filhos), podia estar quietinho nas suas tamanquinhas,  a "viver dos rendimentos", na sua bela terra, Ponte de Lima... Mas não, não é dessa têmpera, é um minhoto, é um limiano, é um poço de energia, tendo-se abalançado agora a resgatar da vala comum do esquecimento os seus camaradas que morreram na guerra do ultramar.... Ele está a recolher elementos para um livro e é, no que respeita ao TO da Guiné, um leitor apaixonado do nosso blogue... Quer, em outubro próximo, fazer uma grande homenagem aos bravos limianos, entre os quais se contam os nossos malogrados camaradas da Guiné:

António da Silva Capela (que morreu no decurso da Op Ostra Amarga),
Armando Ferreira Fernandes,
Celestino Gonçalves de Sousa,
Damásio Manuel Fernandes Cervães,
João Alves Aguiar,
João da Costa Araújo,
João Fernandes Caridade,
João Vieira de Melo,
José Pereira Durães,
José Rodrigues Barbosa,
Júlio de Lemos Pereira Martins.

Last but not the least, por fim e não menos importante, o Mário  Leitão é autor de um  livro  de referência, "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (Ponte de Lima: Lions Clube de Ponte de Lima, 2012, 295 pp.), de que se fizeram mil exemplares, e está hoje praticamente esgotado. Ele teve a gentileza de mandar um exemplar autografado, sabendo da minha admiração por esse rincão maravilhoso da nossa terra que é o concelho de Ponte de Lima e a Área Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d' Arcos

O que muita gente não sabia (incluindo eu próprio) é que o nosso camarada Mário Leitão foi um dos pioneiros (se não mesmo o mais antigo) dos estudiosos daquela que é hoje uma Paisagem Protegida,
reconhecida nacional e internacionalmente como um importante zona húmida, rica pela sua biodiversidade, "ponto de partida para o lançamento de um grande projeto de conservação da natureza, de construção social, desenvolvimento rural e territorial, que nasceu das possibilidades dum espaço singular, mas também da visão e do esforço coletivo de diversos agentes, na sua relação próxima com a população e proprietários locais"...

O Mário Leitão teve, neste projeto, uma quota-parte do grande mérito, eu acho que ele merece uma estátua, na sua terra, pelo trabalho excecional que fez, ao longo de duas décadas e meia, e ele toda um equipa de gente jovem, apaixonada pela ciência e pela natureza, incluindo o levantamento, a a identificação e a caracterização da fauna e flora, bem como a educação ambiental das populações.

Por tudo isso, e não é pouco, o Mário Leitão merece que a gente lhe tire o quico!... As nossas palmas desta vez vão para ele! (**)... Num próximo poste iremos apresentá-lo como o nosso novo grã-tabanqueiro, como o nº 741.

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Notas do editor:

(*)  Vd. postes de:

26 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17180: In memoriam (281): João Vieira de Melo, 1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro da CCAV 1485, falecido, vítima de ferimentos recebidos em combate, no dia 20 de Fevereiro de 1966, um herói limiano que tarda em ser homenageado (Mário Beja Santos / Mário Leitão)

15 de fevereiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15749: (De)Caras (29): Tentativa, frustrada, de criação do Dia do Combatente Limiano... Assembleia Municipal de Ponte de Lima chumbou a proposta (Mário Leitão, farmacêutico, ex-furriel mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do LMPQF - Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, Luanda, 1971/73)



(**) Postes anteriores da série >

10 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16189: E as nossas palmas vão para ... (12): Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas", empresário em Bissau, português com P grande, que esperamos um dia destes ver condecorado no 10 de junho pelo presidente da República Portuguesa de todos os portugueses

1 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15694: E as nossas palmas vão para... (11): Catarina Gomes, a nossa amiga jornalista do "Público" que venceu o Prémio Rei de Espanha, na categoria imprensa escrita, com o trabalho "Quem é o filho que António deixou na Guerra?"... (Trata-se da segunda parte de um trabalho, iniciado em 2013, sobre os "Filhos do Vento")

30 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14420: E as nossas palmas vão para... (10): João Crisóstomo e António Rodrigues, amigos da causa de Aristides de Sousa Mendes (Parte II)


17 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13299: E as nossas palmas vão para... (8): Nuno [José Varela] Rubim, autor de vasta obra sobre a nossa história militar, com destaque para "A organização e as operações militares portuguesas no Oriente, 1498-1580"

7 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13252: E as Nossas Palmas Vão para... (7): José Carmino Azevedo, autarca de Vila Frechoso, Vila Flor, que quis doar à Tabanca Grande 0,5% do seu IRS de 2013... Que gesto magnânimo!!!... Infelizmente não temos estatuto jurídico...nem sequer número de identificação fiscal (NIF) e, como tal, não existimos face ao Estado Português...


1 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11176: E as Nossas Palmas Vão Para... (5): Daniel Rodrigues, 25 anos, português, fotojornalista, que ganhou o "óscar" da melhor fotografia, na categoria "Vida Quotidiana", do concurso de 2013 da "Word Press Photo", com um belíssima foto de uma jogatana de futebol entre miúdos de Dulombi, março de 2012 (Luís Dias)

18 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6424: E as Nossas Palmas Vão Para... (4): O Município de Vila Nova de Famalicão no Dia Internacional dos Museus, a que se associaram dez museus, públicos e privados, incluindo o Museu da Guerra Colonial

24 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5005: E as Nossas Palmas Vão Para... (3): Medalha de Prata de Serviços Distintos, com Palma (José Martins)

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2316: E as Nossas Palmas Vão Para... (2): Os que lutam, na Guiné-Bissau, contra a Mutilação Genital Feminina (MGF)