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quarta-feira, 25 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18563: Efemérides (277): Homenagem a minha mãe, Georgina Araújo (1928-2015) e ao 25 de Abril (Jorge Araújo)



Loures > Encontro em 17 de Outubro de 2009: eu e minha mãe, Georgina Araújo (1928-2015)





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974).



MEMÓRIAS DO BAÚ DE MINHA MÃE  (1928-04-12/2015-12-27): EM SUA HOMENAGEM E DELA AO “25 DE ABRIL” 


1. INTRODUÇÃO

Foto de minha mãe, com 20 anos
Minha mãe faleceu nos últimos dias do ano de 2015. No passado dia 12 de Abril teria feito noventa anos, uma idade que gostaria de atingir em vida, já que tinha planos para esse dia,  12 de Abril de 2018. Mas não foi possível.

Em 2002, sete anos após ter ficado viúva, minha mãe encontrou uma nova companhia – a poesia – declamando os seus trabalhos em reuniões de família, convívios e outros eventos de carácter público, de que é exemplo a sua participação no projecto «Encontro de Poesia», iniciativa da Câmara Municipal de Loures, este inserido num programa mais vasto de outras actividades a que deram o nome de «Viver Outubro – Mês do Idoso».

A sua primeira participação aconteceu em 2002, com setenta e quatro anos de idade, mantendo-se ligada ao projecto durante catorze edições (2002-2015), ou seja, até aos últimos dias da sua vida.

No ano de 2014, a propósito da comemoração dos quarenta anos do «25 de Abril de 1974», escreveu um poema em homenagem a essa efeméride, onde estava implícita, também, a figura do seu filho e de todos os outros militares que combateram em África.

Nessa ocasião fez-me um pedido que só agora irá ser cumprido.

E qual foi? Uma vez que fazia questão de acompanhar a publicação das memórias dos ex-combatentes postadas no blogue, em particular as minhas, como seria normal, depois de concluído e publicado o poema de “Abril”, perguntou-me: “Jorge, filho, achas que os teus camaradas do blogue aceitariam publicar este poema, pois também a eles é dedicado? Vê lá…”

De facto, não vi. Decorridos quatro anos, e por me ter recordado desse episódio de então, aqui estou eu para lhe fazer a vontade, independentemente de ela já não puder confirmar esse seu desejo.

Descansa em paz… MÃE.


2. Homenagem ao ‘25 de Abril’


por Georgina Araújo


Graças ao ‘25 de Abril’,
Eu vi cravos a florir
Nos canos das espingardas
Desses valentes soldados,
Com o povo de braços dados
Honravam as suas fardas. 



Com elas eu vi nascer
A esperança de viver
Em plena liberdade,
Mas quarenta anos passados
Todos os lados estão minados
De traição e de maldade.

Estou prestes a chegar ao fim
E não queria para mim
Esta situação traiçoeira,
Nem para mim nem para os demais
Que lutaram por ideais
Em defesa da nossa bandeira.

Vamos à luta, meu povo,
Não deixem voltar de novo 
Para trás a nossa democracia,
Sem ela tudo acabava,
O cravo logo murchava
E a liberdade já não existia.

Georgina Araújo
Abril/2014

OBRIGADO!
Com um forte abraço de amizade
Jorge Araújo.
25ABR2018



Loures > Encontro em 17 de Outubro de 2009: a poetisa Georgina Araújo (1028-2015)


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18561: Efemérides (276): No dia 24 de Abril completaram-se 48 anos após o embarque do BCAÇ 2912, no Cais de Alcântara, com destino à Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17883: In Memoriam (306): Cadi Candé (c.1927-2017), arquétipo da mãe africana, exemplo de humildade, abnegação e coragem... Homenagem à mãe do nosso amigo e irmãozinho Cherno Baldé (Bissau)


Guiné-Bissau > Bissau >  c. 1995/1997 > Eu e a minha mãe, Cadi  Candé (c. 1927-2017) ... Aqui com c. 70 anos. A foto foi tirada depois do primeiro regresso do Chermo Baldé, de Lisboa, onde frequentou, um mestrado no ISCTE  (1993/95)


Guiné > Região de Bafatá > Fajonquito > 1973 > A mãe Cadi  Candé (c. 1927-2017),  acompanhada da minha irmãzinha,  nos trabalhos da bolanha.  Aqui com c. 46 anos

Fotos (e legendas): © Cherno Baldé (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Pela página do Facebook do Cherno Baldé soubemos da triste notícia, a morte da sua querida mãe, Cadi Candé, com cerca de 90 anos de idade:

17/210/2017

Tudo acaba.

No dia 13 de Outubro faleceu em Bissau a minha querida mãezinha, Cadi Candé (que a sua alma repouse em paz), e no dia seguinte foi enterrada na vila de Fajonquito, onde viveu a maior parte da sua vida.

A todos que nos acompanharam nessa dor, quero manifestar os nossos sentimentos de gratidão. Tudo acaba, mas a vida continua.


2. Seu neto, Braima K. Nhamadjo (, "meu sobrinho, filho da minha irmã que está numa das fotos com a nossa mae na bolanha de Fajonquito, actualmente docente na Universidade Lusófona de Bissau#.), também escreveu na sua págima do Facebook:

17/10/2017

Tudo acaba.

Andar com fé é saber que cada dia é um recomeço. É saber que temos asas invisíveis e fazer pedido para as estrelas, voltando os olhos para o céu. Andar com fé é manter a mão estendida para dar e receber. Andar com fé é usar a força e a coragem que habitam dentro de nós, quando tudo parece acabado. Tudo finda, menos o amor, pois este sempre viverá. O amor a minha falecida avo é eterno...RIP MAMA CADI


3. Excertos do Cherno Baldé, com memórias da sua mãe (*)


(i) Amiga Felismina  (**),

Obrigado por este bonito quadro da vida portuguesa dos anos 60, pleno de doçura e de reconhecimento que me encantou sobremaneira. (...)

A descrição que fazes da tua mãe, salvaguardada a diferença do contexto, claro, corresponderia na perfeição a minha mãezinha, um pouquinho só mais alta (um metro e sessenta) talvez, inteligente e incansável no trabalho.

Ela assumia a sua condição de mulher africana, extremamente dócil e obediente, mas ao mesmo tempo, sabia mostrar os limites da tolerância, quando era necessário.

Uma vez, estalou na família uma discussão sobre se eu devia ou não continuar na escola portuguesa. A minha mãe não vacilou nem um palmo e disse na cara do meu pai:
- O meu filho vai continuar na escola.

 E aí o meu pai ficou completamente confundido: afinal o filho era dela?... desde quando?
- Desde o momento em que ele ainda vivia na minha barriga de mulher, - respondeu ela, sem pestanejar. - Não é agora, depois de tantos anos de trabalho e de pancadas,  é que ele vai abandonar, para ir onde?

A sua decisão prevaleceu diante de todos os Almames e Califas da aldeia.

As características típicas da sociedade africana com que os etnólogos europeus pintaram os africanos, onde o homem é o centro do mundo e decide tudo, não corresponde sempre a realidade destes povos, é tudo muito mais complexo e muito mais difícil de destrinçar e de catalogar.(...)

(iii) (...) Sobre a minha mãe podia dizer muito e não dizer nada, na verdade, ela nunca foi p'ra além daquilo para que tinha sido moldada, isto é, ser uma mulher de casa, camponesa activa, devota e dedicada ao seu marido e à sua família. Cumpriu a sua missão, foi uma autêntica escrava, uma máquina de trabalho, nunca teve tempo para o repouso e muitas vezes comia de pé, a andar, os restos da panela e não sabia o que era o cansaço. Era a última a dormir, quando dormia, e a primeira a por-se de pé, antes das 5 da manhã.

(...) A minha mãe, quando era caso para isso, dizia brincando que, se a cabeça da família era ele, o meu pai, o pescoço era ela e perguntava, rindo:

- Agora, digam-me lá uma coisa, entre estas duas, a cabeça que se encontra em cima, baloiçando, e o pescoço que a suporta, quem é a mais importante?

Mas isto era a brincar e em família. 

(...) Hoje, com mais de 80 anos de idade (disse-me que por volta de 1936/37, quando o pai voltou de Canhabaque, ela teria aproximadamente 9/10 anos de idade), e como se ela soubesse do futuro, é cega e sou eu e a minha esposa que cuidamos dela. A saúde e a boa disposição começam a faltar mas ainda encontra-se fisicamente bem e de sentido bem lúcido, a sua memoria é prodigiosa.  (...) 

Quero agradecer a todos os editores do Blogue da Tabanca Grande por se interessarem por uma pessoa tão simples como é a minha mãe que espero possa representar, mesmo que de forma simbólica,  a mãe africana, em particular, e as mães de todos nós, de forma geral, exemplos de humildade e de abnegação.


4. Poema de Felismina Mealha, de homenagem à sua mãe (*)

Saudade

Há sempre no fundo do meu ser
Uma saudade do passado!
Saudade de uma voz.
De um corpo querido
Que há muito partiu
e nos deixou sós!
Uma voz estridente!
Bem timbrada!
Inteligente!
Forte!
Calma!
Uma voz que me enche a alma
e me acalma…
A voz da minha mãe!..

Felismina Costa
Agualva, 26 de Março de 2006


6. Comentário dos nossos editores:

Cherno, nosso amigo e irmãozinho:

Temos dificuldade em aceitar a morte, mesmo quando somos crentes.  E, pior ainda, a morte daquela por quem viemos ao mundo,  A "mindjer grandi" Cadi Candé chegou ao km 90 da autoestrada da vida, Africana, guineense, mulher, que conhecei a violência da guerra e os tempos difíceis do pós-independência, o seu caminho foi mais o da "picada" do que o da "autoestrada", a avaliar pela evocação, tão realista e tão terna, que fazes dela.

Afinal, a mãe de cada um de nós, na Guiné, em Portugal, ou na China, será sempre, para nós, a melhor mãe do mundo... E quando ela morre, é muito de nós que também morre com ela. Daí a nossa obrigação de evocarmos a sua  memória, de fazer.lhe a devida homenagem e mostrar-lhe a nossa gratidão....

A Candi Candé terá tido grandes alegrias e profundas  tristezas, como todas as nossas mães.  Uma alegria, grande por certo, foi a de saber que o seu filho querido tinha conseguido fazer o seu percurso escolar, com sucesso,  chegando até à universidade, e diplomando-se com um curso superior. Tu e nós todos, os teus amigos,  estamos-lhe gratos por ela (e oo teu pai...) te deixar continuar a estudar na escola dos "tugas"... Isso fez toda a diferença, entre vocês, os irmãos...(Julgo que tens um outro irmão, licenciado pela Universidade de Lisboa, farmacêutico.)

Devia ser uma senhora, a tua mãe, com grande inteligência emocional, mesmo sendo analfabeta. Pelos textos que escrevestes, sobre a tua saga familiar, percebe-se que foi uma figura estruturante na tua vida, e na vida dos teus irmãos. Como tu lembras, e muito bem, se o teu pai era a "cabéça", ela era o "pescoço", se não mesmo a "coluna vertebral" da família.

 Por outro lado, estás de parabéns, tu e a tua família, e em especial a tua esposa,  por cuidares bem da tua mãezinha,  nos últimos anos de vida, na tua casa em Bissau, com tanto amor e carinho.  São valores, esses, que transmites aos teus filhos e  que se estão a perder em todo lado, a começar pela Europa. Os "velhos" hoje são apartados das famílias e  institucionalizados, nos famiegrados "lares de idosos", verdadeiros "terminais da morte", e morrem quase sempre sozinhos, sem alguém, querido,  que lhes segure a mão e lhes feche os olhos, ajudando-os a fazer a derradeira viagem.

Aceita, Cherno,  este pequena homenagem dos teus amigos da Tabanca Grande. Força para ti, para os teus filhos, tua esposa e demais família. (LG/CV/EMR) (***)
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segunda-feira, 12 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17456 (De) Caras (72): em outubro de 1972, vim de férias e uma vizinha meteu uma cunha à minha mãe para eu levar uma encomenda para o namorado da filha que era furriel e que eu não conhecia de lado nenhumm... Quando a encomenda chegou ao destino, já o namoro se tinha desfeito, como vim a saber 17 meses depois... (Juvenal Amado, autor de "A tropa vai fazer de ti um homem!"... Lisboa, Chiado Editora, 2016)

1. Texto enviado anteontem pelo Juvenal Amado (ex-1.º cabo condutor autorrodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, e autor de "A tropa vai fazer de ti um homem!... Guiné 1972/74" (Lisboa, Chiado Editora, 2016):

Não lembro de ter recebido alguma encomenda mas lembro-me de ter levado. (*)

Em Outubro de 1972 vim de férias a casa e,  mal cheguei, a minha mãe passou a ser assediada por uma vizinha com um pedido para,  quando eu regressasse, levar uma encomenda para o namorado da filha que era furriel lá num sítio qualquer. 

Escusado será dizer que este tipo de "correio", retirava do saco da TAP, já si pequeno para nós próprios, coisas que nós queríamos levar para nosso consumo e dos amigos chegados . Era pois um favor prestado a quem não conhecíamos e com quem não tínhamos relação nenhuma, dadas as diferenças sociais em que navegávamos na altura. 

Mas, pronto, o que se havia de fazer? Na data próxima ao meu regresso à Guiné, lá veio o embrulho que eu meti custo no meu saco. Chegado a Bissau, enviei-o para onde me tinham dito que devia mandar e assim foi.

Mas não querendo correr o risco de que me acusassem de ter ficado com a encomenda, lá ia perguntado à minha mãe se o tal namorado da fulana tinha recebido o embrulho. A minha mãe pareceu-me, a mim, que rodeava a pergunta e nada de concreto me dizia. 

Entretanto ainda lá passei mais 17 meses e o caso perdeu o meu interesse. Quando regresso,  eis que, ao passar no café Portugal,  vejo a jovem que me tinha feito acarretar o embrulho e de quem nunca recebi o pequeno agradecimento, em alegre cavaqueira com várias amigas. Resolvi perguntar-lhe,  directamente e a cores, se o namorado tinha recebido ou não a encomenda. Ficaram todas com cara de caso a olhar para aquele desterrado a quem a cor de terra não sairia nos próximos meses, a quem nunca se tinham dignado a dirigir palavra. Ela,  um bocado atabalhoadamente como quem é apanhado em falso, que sim, que tinha recebido e muitos obrigados finalmente.

Entretanto fui para casa, contei à minha mãe o sucedido, ela fez um sorriso meio maroto e lá me contou finalmente o que se tinha passado. "Olha,  filho,  ainda tu não tinhas lá chegado, descobriu-se que ela andava metida com outro e o namoro escangalhou-se".

Finalmente percebi o estranho silêncio de 17 meses, a atrapalhação da dita cuja e das amigas, quando eu me dirigi a ela em pleno café Portugal.

2. Comentário do nosso editor:

A propósito das nossas redes de  "contrabando de ternura"... e desfazendo dúvidas: o SPM - Serviço Postal Militar também efetuava a entrega de encomendas  (livros, roupas, mantimentos...) remetidas pelas nossas famílias, e não apenas cartas e aerogramas... Recorde-se aqui um poste do Paulo Santiago, já com dez anos (**), e de que se reproduz a seguir um excerto:

(...) "A minha avó Clementina, avó materna, resolveu enviar-me, por encomenda postal, um bolo-rei, dirigido para o SPM de Bambadinca. Como chegou após o dia 24, reenviaram-no para o SPM 3948 (era do Pel Caç Nat 53). Chegou ao Saltinho, já tinha vindo eu para Bissau. Reenviaram a encomenda para Bambadinca, acabando por receber o bolo-rei em meados de Janeiro. Estava duríssimo, mas...foi o melhor bolo-rei que comi até hoje." (...)

Também temos notícia de entrega de salpições (e outros produtos do fumeiro), via SPM, iguaria de resto muito apreciada entre a malta do Norte. Veja-se aqui, a este propósito, um saboroso poste do nosso José Manuel Matos Dinis (***).  Mas também já apareceram camaradas nossos a queixarem-se do "extravio" de encomendas enviadas pelas famílias... Não sabemos como se fazia a articulação entre os CTT e o SPM, nem temos noção das tarifas que se praticavam na época.

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Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 11 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17454: (De) Caras (78): Também eu fiz parte dessa rede de "contrabando de ternura" que permitia, aos nossos familiares, fazer-nos chegar a Bissau e ao 'mato' as suas "encomendinhas"... (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72; criado em Vila Franca de Xira e a residir hoje Setúbal)

(**) Vd. poste de 24 de dezembro de  2007 > Guiné 63/74 - P2378: O meu Natal no mato (11): Saltinho, 1972: O melhor bolo rei que comi até hoje, o da avó Clementina (Paulo Santiago)~

(***) Vd. poste de  25 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11002: História da CCAÇ 2679 (61): A vingança serve-se fria (José Manuel Matos Dinis)

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17418: Inquérito 'on line' (117): Imagens com história: a minha ida a Fátima (4/4/1965) e a minha chegada ao Cais da Rocha Conde de Óbidos (4/4/1974) (Jorge Araújo)




I. Mensagem do nosso colaborador permanente, Jorge Araújo, com data de 23 do corrente:

Caro Luís,

Com algum atraso, por dificuldades de gestão da(s) agenda(s) - a minha e a dos meus - só agora conclui a resposta ao teu apelo relacionado com a temática "FÁTIMA" e os resultados apurados no inquérito "on-line". (*)


É curta a narrativa, mas é a possível neste "Mês do Coração".

Um abraço, com saúde da boa.

Jorge Araújo.





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 Nota do editor:

Último poste da série >  18 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17375: Inquérito 'on line' (116): Fátima... Num total (final) de 84 respostas, conclui-se que : (i) todos lá fomos, pelo menos uma vez na vida, antes (44%), durante (8%) ou depois da tropa (20%); (ii) não tanto como peregrinos (20%) mas mais como turistas (55%)... A questão admitia mais do que uma resposta.


(...) O facto mais surpreendente é que todos nós, ex-combatentes, crentes ou não crentes, já fomos a Fátima, num dado momento da nossa vida, uma ou mais vezes.

A maioria (55%) respondeu que foi lá "como simples turista ou em passeio". E só um em cada cinco admitiu que foi lá como "verdadeiro peregrino ou crente" (20%).

Os que lá foram logo depois de vir do ultramar (17%) ou muitos anos depois de vir do ultramar (20%) somam mais de um terço. Nestes haverá, por certo, um nº razoável de pagadores de promessas, mas que é difícil de quantificar, talvez uns 10% ou menos dos respondentes.(**)

Faltam-nos testemunhos de camaradas que tenham ido em peregrinação a Fátima, a pé ou de carro, por razões de fé, e nomeadamente no pagamento de promessas feitas por ocasião da guerra no ultramar /guerra colonial (por ex., não ter sido mobilizado, não ter ido como atirador, não ter morrido ou não ter sido ferido, ter voltado são e salvo).

Mas este é um assunto do foro íntimo, é difícil encontrar camaradas dispostos a dar, em público, no nosso blogue, o seu testemunho sobre a sua ida a Fátima. (...)

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17323: Efemérides (249): Dia 7, domingo, dia da mãe... O Museu da Marinha oferece bilhetes às mães para a exposição "Vikings - Guerreiros do Mar", composta por 600 peças originais provenientes do Museu Nacional da Dinamarca... A não perder.


O cartaz e o convite é do Museu da Marinha, em Lisboa


A TUA MÃE É UMA GUERREIRA! SERÁ QUE TAMBÉM É VIKING? VENHAM AMBOS DESCOBRIR…

A Marinha Portuguesa irá oferecer bilhetes para o Museu de Marinha no próximo dia 7 de maio a todas as mães.
O Museu de Marinha apresenta ao público a exposição “Vikings - Guerreiros do Mar”, composta por mais de 600 peças originais provenientes do Museu Nacional da Dinamarca.

O termo Viking é habitualmente usado para se referir aos exploradores, guerreiros, comerciantes e piratas nórdicos que invadiram, exploraram e colonizaram grandes áreas da Europa e ilhas do Atlântico Norte entre o final do século VIII e o século XI.

A cultura viking tinha um carácter essencialmente guerreiro, pelo que estes “homens do norte” eram conhecidos pelas suas espadas, sendo que os mais ricos e poderosos tinham as melhores e mais belas.

Mas ficaram também conhecidos pelos seus longos e característicos navios, que também utilizaram para estabelecer rotas de comércio que perduraram durante séculos. 

Traga a sua mãe e venha celebrar o dia da Mãe connosco, venha viajar nesta Aventura Épica, no Museu de Marinha.

Oferta válida para a mãe, na compra do bilhete para o/a descendente. Deverão ser portadores de BI/CC. Os bilhetes apenas poderão ser adquiridos na Bilheteira do Museu de Marinha, não sendo possível a sua compra Online.
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17283: Efemérides (248): 25 de Abril: Um regime em conspiração (Carlos Matos Gomes, Cor Cav)

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16321: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (51): Os portugueses tiveram tendência para menosprezar o PAIGC, antes e depois da guerra... Recordando uma cilada dos "homens do mato" aos homens grandes de Sancorlã/Cambaju, ao tempo da CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Regulado de Sancorlã > Cambaju > A família reunida em Cambaju, ano de 1965/66 > Em cima: Mãe (Cadi Candé), pai (Aliu Tamba Baldé) e Aua (prima irmã). Em baixo: Tulai (minha irmã), Eu (de boina verde), Carlos (hoje médico) e Aissatu (irmã da Aua). Esta foto foi tirada por um soldado português amigo da família. (*)




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Fajonquito > 1991 > Festa de Ramadão  > El-Hadj Aliu Baldé (Tamba), o pai do Cherno > Em 1937 fez parte do grupo de jovens que saiu de Canhamina para Contuboel para receber e homenagear os combatentes de Sancorlã que participaram na última guerra de Canhabaque (Ilhas Bijagós)... 

[Em rigor, foi uma expedição punitiva, contra os bijagós que se recusavm a pagar o "imposto de palhota", também conhecida por "quarta e última campanha de Canhabaque", decorrendo de 10 de novembro de 1935 a 20 de fevereiro de 1936... O pai do Cherno faleceu  em Bissau em setembro de 1999, porvavelmente com 80 anos.  Recorde-se aqui que El Hadj  é um título honorífico reservado ao crente muçulmano que, em vida, consegue ter a felidadade de fazer, com sucesso, pelo menos uma  peregrinação anual,  Hajj,  a Meca (LG)



Guiné-Bissau > Bissau > Maio de 1977 > Eu e a minha mãe (*) [Em 2011 ainda viva, embora já cega... O Chern fala dela com uma imensa ternura... Teria 80 anos de idade: disse ao filho que, por volta de 1936/37, quando o pai voltou de Canhabaque, a última batalha da "campanha de pacificação",  ela teria aproximadamente 9/10 anos de idade. (LG)]


Fotos (e legendas): © Cherno Baldé (2011). Todos os direitos reservados [Edição do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P16317 (**):


Caros amigos JDinis e MLLomba,

Aproveito esta abertura para apresentar um exemplo típico de acontecimentos que foram reais, mas que, na altura devida, não mereceram a atenção devida dos portugueses e foi assim:

Em meados de 1964/5, salvo erro, como nos contaram (***), os elementos da guerrilha que actuavam na zona Norte (eixo Cuntima-Sitato-Cambaju), confrontados com a forte resistência do regulado de Sancorlã,  apoiado por um pelotão de metropolitanos de uma companhia sediada em Bafatá (penso que a companhia do Alcídio Marinho, CCAC 412,  Bafatá, 1963/65), contactaram os grandes de Cambaju e solicitaram um encontro para conversações "entre irmãos", longe dos olhares dos brancos.  Na realidade era uma cilada.

No dia combinado, os grandes de Sancorlã desconfiados, no lugar dos homens grandes e dos régulos, resolveram enviar os filhos mais velhos para negociar, divididos em dois grupos. O primeiro grupo ia preparado para as conversações, mas na retaguarda ia um segundo grupo discretamente armado para o que desse e viesse.

Antes de chegar ao local combinado,  o primeiro grupo caiu numa emboscada dos homens do mato que sem pré-aviso abriram fogo, matando duas pessoas e ferindo outras. Nao fosse a pronta intervenção dos homens da retaguarda, provavelmente, seriam todos chacinados.

Todavia, os portugueses não tiraram as devidas ilações deste acontecimento macabro, na primeira fase da guerra,  talvez porque os mortos eram civis armados e nativos guineenses ou por outras razões que nunca saberemos,  e não se tomaram as medidas que se impunham para que não viesse a repetir-se.

E, pasmem-se, esta mesma estratégia seria utilizada alguns anos mais tarde (1970) no chão manjaco, no que ficou conhecido como a tragédia dos 3 Majores, talvez o crime que mais abalou os portugueses e a sua cúpula dirigente na Guerra da Guiné e a retaliação não se faria esperar com a invasão de Conakri, em Novembro do mesmo ano.

Para terminar, acho que, muitas vezes houve tendência de menosprezar o PAIGC e as suas forças, antes e depois da Guerra, quando, na minha opinião, devia de ser tudo ao contrário.

Um abraço amigo,

Cherno AB

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Notas do editor:



(***) 31 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15556: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (50): Na minha língua materna, o fula, não existe a expressão "Feliz Natal"... Mas felizmente que a Guiné-Bissau é um país de tolerância religiosa, em que as duas religiões monoteístas, Islamismo e Cristianismo, coexistem bem com o animismo

quarta-feira, 16 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15862: Fotos do álbum da minha mãe, "Honra e Glória" (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego e Paunca, 1969/70) - Parte I



Foto nº 1  > Capa do álbum da minha saudosa mãe, "Honra e Glória"



Foto nº  2  > O meu saudoso pai, militar do Regimento de Infantaria de Lisboa, 1943-45


Foto nº 3 >  A foto da ordem, com a farda emprestada... [A farda nº 1...]



Foto nº 4 > Recruta nas Caldas da Rainha [, em farda nº 3, no RI 5, que faz hoje 42 anos que se revoltou,...]



Foto nº 5 > Juramento de bandeira [, no RI 5, Caldas da Rainha]



Foto nº 6 > Em Vendas Novas, EPA [Escola Prática de Artilharia]



Foto   nº 7 >  Diploma do Curso de Minas e Armadilhas [, Escola Prática de Engenharia; nota, 79,8, "regular"]





Foto nº 8 >  Eu e o famoso e afamado Pechincha  [, do meu pelotão, fur mil op esp, desenhador na vida civil,,,]



Foto nº 9 > Eu [, à esquerda,]  com o fur mil Pais, numa jogatana, na nossa messe no Gabu [Nova Lamego], e o devido bioxene.







Foto nº 10 > Eu e o Pais, uns trinta anos depois






Foto nº 11 > Eu, o Pais e o Valdemar [Queiroz]


Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. L.G.]


1. Mensagem, de 12 do corrente, do Abílio Duarte [, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970]

Olá,  Luís,

Conforme teu pedido semanas atrás, aqui vão algumas fotos, que farás o favor de lhes dar o destino que entenderes, fui buscá-las a um Álbum, que a minha saudosa mãe criou com fotos que eu lhe enviava.

O interesse delas é relativo, tudo depende de quem as vê.

Nas mesmas vou pôr legendas, para melhor interpretação do seu significado.

Agradecendo desde já a tua paciência, daqui um grande abraço.

Abílio Duarte

2. Comentário do editor:

Obrigado, Abílio... Vamos publicar, numa série com o teu nome... Se quiseres, podes ir mandando pequenos textos, a partir das legendas (que são sucintas, mas nem sempre suficientes)... Quem disse que uma imagem vale por mil palavras, esqueceu-se dos cegos... São frases de senso comum, que vale pouco, como aquela, que costumávamos dizer e repetir em Bambadinca: Quem não sabe ler, que veja os bonecos... (Lembras-te, Tony Levezinho ?).

Todas estas fotos (mesmo as mais pessoais...) são preciosas, ajudando, em muito, a reconstrução do "puzzle" esburacado da nossa memória, da memória de toda uma geração que passou pela Guiné, entre 1961 e 1974... 

Mas é preciso "contextualizá-las"... Um ET, da geração dos nossos filhos, netos ou bisnetos, vai olhar para as tuas/nossas fotos como um boi para um palácio... Quem são esses gajos, em que época é que viveram, o que estavam para ali a fazer ?... Não havia telemóveis, ipads, tablets, PC, o Skype, nem sequer telefones!... Um homem podia estar (estava!) dois anos sem falar, "ao vivo", com a família e os amigos!... Tal como no tempo, 500 anos atrás, em que se ia à Índia e voltava (quando voltava!) dois anos depois... Havia, entretanto, uma coisa que se chamava "aerograma", inventada pelas senhoras do Movimento Nacional Feminino, e uma máquina montada pela tropa chamada "Serviço Postal Militar" (SPM)... Ajudaram a "encurtar" as distâncias, que o império, de dois mil quilómetros quadrados, era longe e largo...

Ao pores à nossa disposição algumas fotos que mandavas à tua mãezinha e que ela foi guardando e colando carinhosamente no seu álbum, prestas, a todos nós, um serviço altruista: ao vê-las, estamos a "avivar" as nossas próprias memórias individuais (e grupais): a tua história de vida é também a nossa. a de cada um de nós... Bem hajas!... Luís.

PS - Tens sabido do nosso comum amigo (, meu, de Bambadinca, teu, do BNU),  o José Carlos Lopes ? Ele tem um excelente album fotográfico... Fazia muitos "slides" e de boa qualidade... É meu vizinho (, eu moro em Alfragide). Mas não arranjo tempo para o ir visitar a Linda a Velha... Estive com ele cerca de 1 ano em Bambadinca... Ele, da CCS/BCAÇ 2852 (1968/70), eu, da CCAÇ 12 (1969/71)... Em tempos combinámos juntarmo-nos, eu, tu e ele... Vamos ver quando poderei ou quando poderemos juntarmo-nos, os três...

sábado, 5 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15823: In Memoriam (246): Evocação de minha mãe. Dois meses depois da sua morte. (Jorge Alves Araújo)



Lisboa (Marvila) - eu e os meus pais em 08.08.1952



1. O nosso Camarada Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494, (Xime-Mansambo, 1972/1974), enviou-nos uma mensagem em memória da sua saudosa e querida mãe. 

EVOCAÇÃO DE MINHA MÃE
- DOIS MESES DEPOIS DA SUA MORTE -

– INTRODUÇÃO 

Evocar é lembrar, trazendo à memória o que podemos recordar daquela que, com amor, nos deu a vida – a nossa mãe, sendo este o objectivo supremo da presente narrativa.

O acto da sua morte foi, por mim, vivido com uma sensação estranha difícil de descrever e de aceitar por ser uma experiência única, pessoal e irrepetível, e que certamente, com mais ou menos dificuldade, o tempo me ajudará a superar… teoricamente. 

Passados que estão dois meses após nos ter deixado fisicamente, quero neste momento reforçar o quão grato vos estou, camaradas ex-combatentes e tertulianos deste espaço plural e solidário, por todas as palavras amigas e de conforto que me fizeram chegar das mais diversas formas (contactos pessoais, telefónicos, mensagens, emails, blogue, velório e funeral), as quais foram oxigénio que me ajudaram a respirar durante o período mais febril e problemático. (a foto é de 1946).

Ao desmontar o espaço onde viveu e conviveu durante sessenta anos, pois a sua habitação em Moscavide era arrendada, e onde através dos tempos foi ordenando os seus bens, singulares e colectivos, revivi memórias antigas, desde a infância até à adolescência, e outras mais recentes, nas quais se incluem também memórias da Guiné (umas bem presentes, outras nem tanto), testemunhos que ela guardou religiosamente durante quarenta e cinco anos, e que oportunamente serão utilizados na elaboração de novos textos.


1. – ANTECEDENTES (cronologia)

Depois de ter estado no fim-de-semana de 7-8NOV2015, na Figueira da Foz, onde aproveitei essa estadia para investigar, em parceria com o camarada António Bonito (ex-Furriel da CART 3494), o paradeiro versus situação do Mário Nascimento (ex-soldado da nossa companhia), que fora ferido na Ponta Coli, em 01DEC1972, e cujas notícias anteriores nos davam conta de que se encontrava na qualidade de «sem abrigo», mas que, por via dos nossos contactos, viemos a saber que falecera em 08JUN2014, no Lar de Santo António, naquela cidade. [P-15.390].

De regresso a Almada, o dia seguinte foi dia do meu aniversário [verdadeiro] e o que se seguiu (3.ª feira) o oficial [nasci a 9 e fui registado a 10NOV], tendo almoçado com a minha mãe, aquela que seria a nossa última refeição juntos e o último contacto físico, rumando depois para o Algarve (Portimão) no cumprimento da minha actividade profissional ou académica no ISMAT, onde permaneci até ao final da tarde de 4.ª feira, dia 11NOV.

Na 5.ª feira (12), telefonou-me pela manhã, como era habitual, para saber como tinha decorrido a viagem e se tudo/todos estava(m) bem, ao que lhe respondi afirmativamente. Prometi ligar-lhe mais tarde, após concluir as tarefas académicas a que estava obrigado na sequência das aulas da véspera.

A meio da tarde ligou-me, em desespero, dizendo: “filho… estou a ficar paralisada. A minha cabeça vai rebentar. Vou morrer”, desligando-me o telefone de imediato, sem uma palavra minha. Acabou por ser a última frase que dela gravei.

Por efeito dos seus gritos, as vizinhas do prédio foram alertadas prestando-lhe os primeiros cuidados, incluindo o contacto com o INEM, que a transportou para o Hospital de S. José – Serviço de Urgência, onde deu entrada pelas 17h42, tendo transitado para a Unidade de Neurocirurgia no dia 13, pelas 01h34 (conforme consta no boletim clínico informatizado).

Nesse mesmo dia de manhã (6.ª feira) depois de a ter localizado no referido hospital e na sequência de uma reunião com os médicos que a assistiram, foi-me dito que a minha mãe tivera uma ruptura de aneurisma e que entre as 16/18 horas iria ser intervencionada. Aguarde pelo nosso contacto… disseram-me.

No sábado, pela manhã, voltei ao hospital para saber como ela estava a evoluir. Foi com espanto que recebi a notícia de que, afinal, a minha mãe não tinha sido intervencionada, uma vez que a operação anterior à sua se tinha prolongado até próximo da meia-noite, e já não existiam condições objectivas para uma nova intervenção cirúrgica. Acresce dizer, ainda, que no âmbito desse contacto acabei por ser “enganado”, ao justificarem-me a não intervenção cirúrgica da minha mãe, no sábado 14, devido à equipa médica de serviço estar de prevenção na sequência dos atentados em Paris, na véspera. 

Como se veio a confirmar algumas semanas mais tarde, o acima referido não era verdadeiro, como foi divulgado/denunciado pelos diversos órgãos de Comunicação Social, como prova o exemplo referido no Jornal «Público» (passe a publicidade).

Deste modo, a minha mãe só seria operada na segunda-feira 16, entre as 9h30 e as 18h30, num total de 9 horas, o que diz bem da situação de altíssimo risco de vida em que se encontrava. Entre a sua entrada no hospital e o início da cirurgia decorreram oitenta e sete horas, deixando antever que eram mínimas as esperanças de sobreviver, situação que acabou por se verificar no dia 27 de Dezembro de 2015, domingo, quarenta e cinco dias após aí ter sido hospitalizada.

Lamentavelmente não foi caso único, como comprovam as estatísticas existentes no Ministério da Saúde, o de morrer por falta de apoio hospitalar ao fim-de-semana, sendo mais uma vítima justificada por razões economicistas. 

Espero que esta situação se alter em nome da VIDA, que tantos responsáveis apregoam, mesmo tendo perdido minha MÃE. 

2. – EVOCAÇÃO DE MINHA MÃE

Depois da morte de meu pai [1923.09.29-1995.03.11], com quem casou em 21DEC1947, minha mãe tinha então sessenta e sete anos, passando por esse facto a viver só. No início, ou seja há vinte anos, tinha um suporte social de alguma dimensão por via da relação de proximidade que existia entre a vizinhança, que aos poucos se foi reduzindo por razões de doença.

Em 2002 encontrou uma companhia – a poesia – que não mais a deixou, declamando os seus trabalhos (sempre com novidades) em convívios familiares ou quando surgia uma oportunidade fora deste contexto.

E uma das oportunidades que lhe surgiu tinha como possibilidade a participação no projecto «Encontro de Poesia», iniciado em 1996 pela Câmara Municipal de Loures, este inserido num programa mais vasto de outras actividades a que deram o nome de «Viver Outubro – Mês do Idoso». 

A sua primeira participação ocorreu no ano de 2002, tinha então setenta e quatro anos de idade. Desde essa data, e durante catorze edições [2002-2015], manteve a sua ligação ao projecto enviando os seus trabalhos para publicação e declamando-os em cerimónias públicas organizadas anualmente por esse Município. 

O seu primeiro poema conta o itinerário da sua vida de mais de oito décadas, e por ser verdade aqui o reproduzimos, como reconhecimento e tributo público do quanto estou grato e orgulhoso dela.


2003.10.11 - António Pereira (Vereador) e Georgina Araújo (minha mãe) durante o VIII Encontro de Poesia realizado na Sala Polivalente da Biblioteca José Saramago, em Loures.


Pedaços da Minha Vida

Visitei a minha terra,
E vi que nada mudara,
Estava tudo como dantes,
Até as pedras da calçada.
--
As casas eram as mesmas,
Tudo era triste e vazio,
Ao recordar o passado,
Senti-me cheia de frio.
--
A vida que lá passei,
Deixou muito a desejar,
Sem amparo do pai,
Lutei até me casar.
--
O casamento me trouxe
Um bem-estar aparente,
Vieram dois filhos queridos
E a luta foi bem diferente.
--
Fui pai, fui mãe e mulher,
Com orgulho escrevo aqui,
São recordações que ficaram,
De uma vida que vivi.
--
Trabalhei de sol a sol,
Para o sustento do lar,
Mas o destino teimava,
Em não me querer ajudar.
--
Aos filhos não se deu muito,
Pois não chegava p’ra mais,
Só o pão nosso de cada dia,
Tudo o resto era de mais.
--
Numa altura bem penosa,
O marido quis partir,
Para a vida ser melhor,
E nela poder subir.
--
Imigrante por seis meses,
Jamais consegue vencer,
Volta para a sua terra,
E vê os filhos crescer.
--
Tudo passou com os anos,
Foram bons e maus momentos,
Estava ainda por chegar,
O maior dos meus tormentos.
--
Sem esperar tudo mudou,
Nessa hora derradeira,
Meu marido adoeceu,
Fiquei sempre à sua beira.
--
Foram três anos de luta,
Entre a vida e a morte,
Confesso que esperava,
Que ele tivesse mais sorte.
--
Se foi feliz numa coisa,
Ninguém o pode negar,
Teve sempre uma esposa,
Que nada lhe deixou faltar.
--
Mas o destino cruel,
Antecipou-lhe a partida,
Levando tudo de mim,
Na hora da despedida.
--
Minha vida não foi fácil,
Para encontrar a solução,
Pois tinha que sarar a ferida,
Que ficou no meu coração.
--
Pensei bem e fui p’ra frente
Do combate… combater,
Hoje já estou bem diferente,
Lutando para vencer.
--
Em frente eu quero ir,
E não perder a esperança,
Quando acaba a tempestade,
Vem a seguir a bonança.
--
Sou teimosa e persistente,
Quero chegar à vitória,
Viver melhor o presente,
Dos fracos não reza a história.

Georgina Araújo
2002.04.04


2015.10.18 - Reunião do XIX Encontro de Poesia realizado no Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte, em Loures (que seria a sua última participação, três semanas antes de adoecer). No círculo a amarelo está a minha mãe.

Eis uma singela evocação de minha mãe e o merecido tributo que lhe é devido, dois meses depois da sua morte.

Obrigado pela vossa atenção.

Um forte abraço e muita saúde.
Jorge Araújo.
05DEC2015.
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

terça-feira, 1 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15814: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (40): A moeda relíquia e as mães dos combatentes

1. Em mensagem do dia 26 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma das suas Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

40 - A moeda relíquia e as mães dos combatentes

A minha mãe, nos tempos que antecederam o meu embarque para a Guiné, não conseguia esconder o seu enorme sofrimento, causado pela ansiedade e pelo medo. Mas há já vários anos que a ideia do meu embarque a atormentava, descrente de uma reviravolta política que pusesse fim à guerra colonial. Nas vésperas da minha partida, para minha surpresa, entregou-me uma moeda de 10$00 e disse-me que a levasse comigo para a Guiné, mas que tinha de regressar com ela, para lha devolver. Naquele momento não pude evitar rir-me da sua imaginação e do ar solene que emprestou à ocasião. Mas depois, percebendo que ela estava a tomar aquilo muito a sério, prometi-lhe que cumpriria a sua vontade. Longe de imaginar que, num futuro distante, iria valorizar com carinho a lembrança da entrega da moeda e a própria moeda, mesmo se, durante muitos anos, tivesse esquecido tudo nos recônditos da memória.

Um dia, após o seu falecimento em 2001, encontrei entre as suas coisas pessoais um papelinho muito bem dobrado a guardar uma moeda de 10$00. Foi emocionado que li o papelinho, uma pequena folha de agenda de 1965 que, no interior dizia:
“Esta moeda de 10$00 (1971) é uma relíquia. Acompanhou o António à Guiné e voltaram juntos”.

Saberia a minha mãe que outros, em tempos diversos e remotos, também se fizeram acompanhar de relíquias nas suas viagens aventureiras? É que, por absoluta casualidade, há meia dúzia de anos, ao ler uma revista de um semanário qualquer, deparei-me com uma imagem e uma legenda que me deram um sobressalto:
“São Rafael: esta imagem foi à Índia com o Gama e de lá tornou”.
Acudiu-me logo a ideia de juntar esta relíquia à minha. Digitalizei a imagem do São Rafael, procurei a fotografia que tinha feito da minha moeda e juntei as duas, como mostro a seguir.

Relíquias

Ainda guardo a minha moeda religiosamente embrulhada no mesmo papelinho, pelo que significou para a minha mãe, antes e depois do meu regresso. Quanto deve ter sofrido, ela e todas as mães daquela época... Em 1974 tinha-me a mim na Guiné e ao meu irmão José Alberto em Moçambique. Fortuna a dela e nossa que tivéssemos regressado sãos e salvos, sem as tragédias que se abateram sobre tantas famílias daquela década.

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Mulheres de Buba

Não recordo a data (1973 ou 1974) nem a razão deste evento em Buba, com grande aparato de viaturas, mulheres e militares à mistura, mas garanto que foram momentos de grande descontracção os que nos proporcionaram as mulheres de Buba, com a sua alegria, vitalidade e carácter forte. Reconheço na assistência, soldados do meu grupo de combate e de outro grupo de Nhala. No meio da roda de dançarinas, pode ver-se o Cap. João Brás Dias da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 de Buba, animando a festa. Na foto 2, estou eu, sentado num Unimog entre as mulheres.
Tudo isto é o pretexto para deixar a seguir um pequeno álbum.











Mulheres de Buba.

Fotos: © António Murta
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15784: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (39): De 1 a 24 de Agosto de 1974