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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19478: (In)citações (126): o facto de ter havido alguém, como o Ramiro Elias da Silva, a ter a ideia de um convívio do batalhão em Angola, por volta de 1980, à semelhança dos que fazemos em Portugal, é altamente significativo do espírito que animou os seus militares, o que muito me orgulha (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte de Zadi, 1972/74)




Angola > Dembos > Zemba > CCAÇ 3535 / BCAÇ 3830 (1972/74 ) > O aquartelamento de Zemba


Angola > Maquela do Zombo  > Ponte de Zádi > CCAÇ 3535 / BCAÇ 3830 (1972/74 ) > O aquartelamento de Ponte de Zádi


Fotos (e legendas): © Jorge Madureira (2014) [,ex-fur mil mec, CCAÇ 3535, Zemba e Ponte de Zádi, 1972/74]. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (com a devida vénia...)


Comentário do nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74), com data de 2 do corrente (*):




1. Quem ler isto poderá perguntar-se como é que eu sei o que se passou com os angolanos da companhia (pelo menos com os que eram do Huambo) depois do fim da comissão. 

Eu explico. Aí por volta de 1986 ou 1987, apareceu num convívio do meu batalhão, cá em Portugal, um angolano que tinha sido do meu pelotão: o Ramiro Elias da Silva. Embora fosse natural de Benguela, o Ramiro casou-se com uma rapariga do Huambo (antiga Nova Lisboa) e foi viver para lá. 

Em 1984, a situação militar no Huambo estava a tornar-se insuportável. A cidade estava em poder da UNITA, mas sofria cada vez mais com os bombardeamentos da artilharia do MPLA, até que toda a população da cidade fugiu. O Ramiro fugiu também. A cidade do Huambo tornou-se uma cidade-fantasma, à mercê dos encarniçados combates entre a UNITA e o MPLA, com sul-africanos e cubanos à mistura. Em 1986, o Ramiro veio para Portugal, e logo a seguir compareceu a alguns convívios do batalhão.

Tudo o que eu sei sobre o que aconteceu aos meus antigos companheiros angolanos depois do fim da comissão, portanto, devo-o ao Ramiro. Foi ele que me contou o que se passou entre o Domingos Jonas e o Mário Sessendje. Contou-me ainda que, por volta de 1980, houve uma tentativa de organizar em Luanda um convívio entre os angolanos do batalhão. Este convívio não se pôde realizar, porque a guerra estava no seu apogeu, o paradeiro de muitos camaradas tinha-se perdido, as comunicações por terra estavam completamente cortadas (as deslocações entre as cidades apenas se faziam por avião, o que era caríssimo), em Luanda praticamente não havia restaurantes e os géneros alimentícios estavam fortemente racionados. 

Mas o facto de ter havido alguém que tenha tido a ideia de um convívio do batalhão em Angola, à semelhança dos que fazemos em Portugal, é altamente significativo do espírito que animou os seus militares, o que muito me orgulha.

Após ter participado em alguns convívios do batalhão cá em Portugal, o Ramiro Elias da Silva deixou de comparecer. Provavelmente terá regressado a Angola. Se ainda estiver vivo (espero que esteja), desejo-lhe as maiores felicidades, que bem merece.


2. A minha companhia, CCAÇ 3535, esteve em Zemba, na região dos Dembos (um ano), e em Ponte do Rio Zádi, muito perto da fronteira norte de Angola (o outro ano). 

Na dependência da companhia do Zádi havia dois destacamentos, ambos situados a cerca de duzentos metros da linha de fronteira, chamados Banza Sosso e Malele. A palavra Zádi (em quicongo Nzadi) significa "rio" e não faz muito sentido, por isso, falar em Ponte do Rio Zádi, porque isso significaria falar em "Ponte do Rio Rio"... Nós chamávamos ao quartel "Ponte do Zádi" ou apenas "Zádi". O Zádi era único rio digno desse nome existente em toda a região de Maquela do Zombo, com crocodilos e tudo.

O comandante do meu batalhão, BCAÇ 3880, era Armando Duarte de Azevedo (**), que teve o posto de tenente-coronel durante o primeiro ano de comissão (em Zemba, portanto), mas foi promovido a coronel no início do segundo ano. Mesmo quando já tinha a patente de coronel, ele manteve-se no comando do batalhão até ao fim.

Um abraço,

Fernando de Sousa Ribeiro

__________


(**)  Passou pela Guiné, esteve a comandar o BCAÇ 2845:

(...) "O BCAÇ 2845 foi mobilizado pelo GACA 2. Partiu para a Guiné em 1/5/1868 e regressou a 3/4/1970. Esteve em Teixeira Pinto e teve três comandantes: Ten Cor Inf José Martiniano Moreno Gonçalves; Ten Cor Inf Aristides Américo de Araújo Pinheiro (...) ; e Ten Cor Inf Armando Duarte de Azevedo." (...) 

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19172: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulo 70: Os Extraordinários, os amigos que ficaram para sempre.


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda >3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > O Aníbal em 1º plano é o de sorriso mais aberto na foto. O Dino é o segundo a contar da esquerda.


Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à direita] (*):


Quase a chegar ao fim da sua viagem pelas memórias de Fulacunda, socorrendo-se do seu "roteiro literário-sentimental", o autor evoca aqui, no capº 70,  alguns dos seus melhores amigos, com destaque para o Aníbal, o padeiro.

Recorde-se que o  autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ] 

2.  Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Cap 70º 




70º Capítulo > OS EXTRAODINÁRIOS


Comecei por dizer que éramos números e, entretanto, fui atribuindo nomes. Baseado em passagens dispersas, pela minha correspondência, é de alguns que hoje quero lembrar.

Podia colocar mais umas dezenas, ou até a totalidade dos soldados da companhia, mas estes viveram mais de perto comigo.

O Jorge

O Jorge foi operador cripto. Creio ser o único voluntário da companhia. Nas suas conversas comigo dizia que o tinha feito para poder sair da tropa ainda novo e ir para o Brasil. Quando lhe perguntei porque não foi antes para o Brasil, em vez de ir para a tropa, disse-me que o pai não deixou. Visto a esta distância, parece ridículo, mas aproveito para mostrar que em menos de meio século o respeito pelos pais mudou muito. Hoje, a maioria dos filhos pura e simplesmente ignora as opiniões dos pais e isso não tornou os filhos melhores.

O Jorge visitou-me na primeira vez que veio a Portugal, contando-me que estava radicado em Belém do Pará, possuía uma empresa de táxis. Fico feliz por ele ter concretizado os seus objectivos. Lamento não saber da sua situação actual.

O Carvalho

O Carvalho era empregado de mesa quando foi para a tropa. Foi o homem da messe de oficiais. Que tipo fixe! Foi o primeiro que me fez um cocktail. Descrevi-o assim:

“Deita-se num copo licor Tia Maria e um pouco de Rum. Acrescenta-se um pouco de Fanta e na beira do copo chega-se um bocadinho de Capilé Abadia, como o Capilé é pegajoso, cola-se um pouco de açúcar a toda a volta e vai-se bebendo e andando com o copo à roda a cada golo”.

Quando estive doente, e isso aconteceu várias vezes, não conseguia comer a péssima comida que em certas alturas se fazia na cozinha e, como verão mais adiante, por vezes não havia absolutamente nada que se pudesse comprar para cozinhar. Para o Carvalho, isso não era problema. Preparava-me a marmita com tal requinte que o nojento esparguete com rolhas (salsichas às rodelas) transformava-se numa iguaria dum restaurante 5 estrelas.

Também não sei o que é feito desse amigo que comigo partilhou bons momentos.

O Silva de Lisboa

O Silva de Lisboa que, afinal, era de Almada e que agora é das Caldas e cujo número de telefone ainda mantenho. Foi, juntamente com o Plácido, os meus amigos intelectuais. Sabiam ler. Entre as marcas distintivas entre cada um da companhia, na minha modesta opinião, esses dois eram os mais diferentes. Distinguia-os o nível cultural. E isso dava-lhes uma enorme vantagem sobre os outros.

Um soldado, outro furriel e um cabo, nunca senti,  em nenhuma circunstância, alguma superioridade de um em relação aos outros, creio que com esses dois não foi só de cultura que aprendi, foi muito mais que isso iniciei-me na democracia.

Tanto um como outro estão aí para as curvas.

O Zé Alves

O Zé Alves não se lembra de nada de bom da tropa, excepto da massa que eu e o Leal lhe fizemos quando ele chegou da operação, cheio de fome.

Foi empregado na messe de sargentos. Escrevi sobre isso:

“Ganhei amizade com um tipo que é de São Tomé de Negrelos, Só vem buscar as coisas para a messe quando estou a escrever, vai ser outro chaga mas parece ser porreiro. Só te digo uma coisa. Quem o escolheu foi o 1º sargento que embora eu goste dele é muito militarista, parece-se como meu tio o cabo Chico de Penafiel. O Alves vai-se ver fodido com ele e com a mania que os furriéis têm”.

Enganei-me e parece que o Alves acabou por passar uma comissão razoável no serviço que lhe foi atribuído. Mantemos ainda hoje uma sólida amizade.


O Silva dos Dilagramas

O Silva da equipa de Dilagramas com quem eu fazia reforço nas noites de prevenção era o típico soldado que aceitava tudo na boa. Sem namorada, conseguiu o espectacular feito de arranjar uma em Fulacunda. Calma, foi por fotografia. Apaixonou-se pela foto e depois por ela e, por mais incrível que possa parecer, também ela se apaixonou por ele. Contava eu, na brincadeira, que a foto da garota era duma actriz de Hollywood. Casaram-se e têm uma vida excelente. 


Quanto ao Zé Leal, já me referi várias vezes a ele. Foi o meu Maior confidente.

Estes amigos encaixam nos milhares de histórias que qualquer ex-combatente escreva. Em todas as unidades espalhadas pelas províncias ultramarinas durante a guerra colonial, eles fizeram parte do nosso grupo mais reduzido. Normalmente, eram 5 ou 6 mas a 3ª Companhia do batalhão 6520 não tinha grupos com 5 ou 6. Em todos grupos, sem excepção, havia um que fez parte de todos os outros, era o elemento especial.

Vou tentar escrever para vós o melhor que puder, sabendo de antemão que não terei capacidade para vos transmitir tudo que esse homem fez e vou chamar-lhe:


ANÍBAL, O MULTIPLICADOR DOS PÃES

Podia não haver absolutamente nada, e muito menos farinha. Casqueiro havia sempre.

Sempre me referi à fome na Guiné como perda de peso. Creio que tanto a minha namorada como a minha avó nunca souberam verdadeiramente porque é que os gatos e os cães também desapareceram de Fulacunda. Se não me engano, só a gata “Penicilina” escapou.

Não faço a mínima ideia se a carne da minha festa de aniversário, em Maio de 74, foi Pacaça, Gazela ou seja lá o que for. Naquela altura, estávamo-nos nas tintas para o que comíamos. O casqueiro do Aníbal dava para acompanhar com tudo.

Algumas frases das muitas em que me referi ao Aníbal:

(...) “O barco que nos vinha reabastecer foi atacado e voltou para trás, já não éramos abastecidos há dias, se calhar vai ficar mau, os meus colegas agora gozam. Ao meio dia comemos atum com vianda e à noite vianda com atum, aqui há tempos era. Esparguete com salsichas, salsichas com esparguete. Não faz mal, temos casqueiro que o Aníbal cose todos os dias”. (...)

(...) “Sabes querida por causa de avariar o gerador fui com dois colegas fora do arame farpado buscar água. Nem sabia que havia aqui uma fonte. É onde as mulheres lavam a nossa roupa. A água é para o Aníbal cozer o pão.” (...)

(...) “Ajudei o Aníbal a fazer uma peneira na oficina para peneirar a farinha. Havias de ver, tem milhares de bichinhos pretos, temos de comer o casqueiro às migalhinhas”. (...)


(...) “Não percebo Amélia. Não há na companhia uma única grama de farinha e o Aníbal veio agora ver-me à cama e trouxe-me um bocadinho de casqueiro, disse-me para tirar os bichinhos com cuidado que a peneira é grossa e ainda passaram alguns mas ficaram assados no forno”. (...)


Em Junho deste ano de 2017, encontrei-me com o Aníbal que já não via há um tempinho. Não conseguimos conter as lágrimas. Nesse encontro, pude recordar com ele alguns episódios divertidos. É isso que normalmente gosto de fazer nos nossos encontros anuais.

Perguntei-lhe se recordava como tinha sido possível fazer tanto com tão pouco. Respondeu-me que não, que não sabia e fez tudo igual a outro qualquer.

- Não foi não, Aníbal! Não fizeste igual a outro, meu amigo. Fizeste o que mais nenhum faria!


3. Nota dobre o autor e sinopse dos postes anteriores:

3.1. Nota biográfica:

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje: que o digam mais de 150 mil portugueses!), tendo sido criado pela avó materna;

(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade no âmbito do programa Novas Oportunidades; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(iv) tem página no Facebook; é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

3.2. Sinopse dos postes anteriores:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré; o dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(v) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas da companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(vi) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(vii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe"; a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(viii) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(ix) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogramas por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(x) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xi) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xii) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xiii) começa a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;

(xiv) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. cap.º 34.º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xv) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não... no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda; manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada; em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xvi) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas; em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xvi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas; o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;

(xvii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia  (obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];

(xviii) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele;

(xix) vê, pela primeira vez, enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente da guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; manda um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...

(xx) vai de baixa médica para Bissau, mas não tem lugar no HM 241; passa o Natal de 73 e o Ano Novo de 1974 nos Adidos; conhece a "boite" Chez Toi onde vê atuar alguns elementos do grupo musical Pop Five Music Incoporated, a cumprir o serviço militar na Guiné;

(xxi) grande ataque, em 7/1/1974, ao quartel e tabanca de Fulacunda com canhões s/r, resultandodanos materiais, feridos entre os militares e a população e a morte de uma criança.

(xxii) faltam 5 meses para acabar a comissão... e há mais uma "crise" nas relações com a namorada;

(xxiii) em fevereiro de 1974, comunca à namorada que tem, já algum tempo, um pequeno negócio: venda de  uísque, tapetes, tabacos de marcas que não há na cantina, isqueiros Ronson, etc.

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Nota do editor:

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19113: 'Então, e depois? Os filhos dos ricos também vão pra fora!'... Todos éramos iguais, mas uns mais do que outros... Crónicas de uma mobilização anunciada (4): José Manuel Matos Dinis (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71)


Comentário, de 16 do corrente, do 
Magnífica Tabanca da Linha, 2012:
O Zé Dinis no uso da palavra. 

José Manuel Matos Dinis, ao poste P19106 (*)

(i) ex-fur mil at inf, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71;

(ii) nosso grã-tabanqueiro  de longa data, nosso querido amigo e camarada;

(iii) tem cerca de 220 referências no nosso blogue;   

(iii) depois do seu regresso a casa, a Cascais, em janeiro de 1972, vindo da Guiné, rumou até Angola, em maio de 1972;

(iv) viveu  e trabalhou na Lunda, na melhor empresa angolana na época, a famosa Diamang - Companhia de Diamantes de Angola, com sede no Lundo;


 
Sobre o tema [, a "cunha" na tropa](*), nunca fui de pedidos ou de obtenção de vantagens, e encarei tudo na tropa como a minha fatalidade, comum a tantas outras.

Antes de ser mobilizado, estagiava num importante hotel de Lisboa, local onde se alojava quase semanalmente um governador civil de uma cidade do Norte, homenzarrão, mais gordo que forte, que falava grosso, e era amigo do Salazar, que visitava regularmente. 

Durante as primeiras férias que aqui passei, e em visita ao pessoal do hotel, aquele senhor encontrou-me no salão e dirigiu-se-me: 
− Ó rapaz, que é feito de ti, que há tanto tempo não te vejo? 

Respondi que estava na Guiné em missão de soberania, ao que ele logo acrescentou: 
− Oh, oh, e porque é que não me disseste nada?

Fiquei a saber que, por vezes, pode valer a pena pedir qualquer coisa. Naquel altura, já era tarde, e eu já estava comprometido pela camaradagem.  (**)

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19084: A galeria dos meus heróis (9): o "Felgueiras", 1º cabo hortelão, empresário, autarca, padrinho... (1943-2017) - Parte I (Luís Graça)


Luís Graça, Contuboel, c. junho/julho de 1969
Texto, em duas partes, escrito, no fim do verão, para a série literária "A galeria dos meus heróis", do nosso editor Luís Graça.


O  "Felgueiras", 1º cabo hortelão, empresário, autarca, padrinho... (1943-2017)



1. Conhecemo-nos, por um mero acaso, num casamento em Braga, a terra dos arcebispos (um dos quais, o lourinhanense Dom Lourenço Vicente, do séc. XIV, meu conterrâneo). 

A sua história já me tinha sido contada, muito por alto, pelo pai do noivo. Antigos camaradas da Guiné, tinham estado ambos no mesmo batalhão, colocado no setor de Teixeira Pinto (hoje Canchungo), na região do Cacheu. Estavam em diferentes companhias de quadrícula, a uma distância de 20 a 30 km, um do outro, mas encontraram-se, algumas vezes, na sede do batalhão. Foram e vieram no mesmo navio: para lá no "Niassa", para cá no "Uíge"...

Por nascimento e residência, eram de concelhos vizinhos, do Norte. Conheceram-se na tropa e ficaram amigos desde então. O pai do noivo era do Marco de Canaveses, filho e neto de ferroviários, ele próprio maquinista da CP, já reformado.

Eu é que vinha do Sul e sentia-me ali um pouco deslocado, apesar dos laços afetivos que criara (e que mantinha) na região do Vale do Tâmega, desde há cerca de 40 anos, berço, juntamente com o Vale do Sousa, deste pequeno, belo, velho e cansado país que se chama Portugal.

Eu fazia parte do grupo dos convidados da noiva. Tinha sido orientador da sua dissertação de mestrado, na área da gestão em saúde, na Escola Nacional de Saúde Pública / NOVA. Acabámos por estabelecer relações de convívio e até de amizade. Conheci o Jorge, o noivo, por ocasião da discussão, em provas públicas, desse trabalho académico.

O Jorge era médico, interno de medicina geral e familiar. Não tive pretextos nem argumentos  para recusar o insistente e amável convite da Clara (e, por extensão, do Jorge) para ir a Braga ao seu casamento. 

Confesso que nunca gostei de bodas e batizados, e muito menos de funerais. Mas neste caso não consegui arranjar desculpa consistente e convincente para declinar o convite.

Mas não vou falar mais dos noivos, jovens, simpatiquíssimos e felizes, nem da festa, belíssima, que deram num hotel de charme, nos arredores de Braga, rodeado de vinhedos e de carvalhos.

A figura do padrinho do noivo, ou melhor, a sua história de vida, é que me prendeu a atenção, logo de imediato. Encorpado, de estatura meã, olho azul, verbo fácil, sotaque tipicamente nortenho, bom copo – e, no passado, "melhor garfo" −, simpático, sedutor, bem humorado, às vezes também sarcástico e truculento, pareceu-me logo à partida que ficaria bem na minha série dos "Contos com mural ao fundo".

−"Felgueiras", um seu criado! – e estendeu-me a mão, em gesto franco, amistoso e descontraído.


Gostei logo da sua apresentação, sem pompa nem circunstância. Fiquei a saber que "Felgueiras" era "nome de guerra", como de resto já o suspeitava.

−Na tropa e, depois, na Guiné, éramos conhecidos, não pelos apelidos paternos – os Silva, os Ribeiro, os Magalhães… − mas pelos nomes das terra donde provínhamos: o Alenquer, o Peniche, o Setúbal, o Paranhos… Eu era (e continuo a ser) o Felgueiras.

−Então hoje já aqui estamos pelo menos três antigos camaradas da Guiné – respondi eu, beneficiando da cumplicidade do pai da noiva que fez as despesas da minha apresentação.


No contexto festivo de uma animada, ruidosa e farta boda nortenha, o topónimo "Guiné" funcionou logo como uma espécie de senha ou palavra-passe. A par do Alvarinho que foi servido com os aperitivos, ajudou de imediato a quebrar eventuais barreiras.

−Então, à saúde dos noivos! – atalhou logo o "Felgueiras".

− À saúde dos noivos! – repeti eu. – E também à nossa, aos velhos camaradas da Guiné que, como tal, tratam-se por tu! – acrescentei logo de seguida, sabendo que o tratamento por tu, noutras circunstâncias forçado, deslocado, indelicado e até deselegante, contribuiria aqui para criar um clima propício à confidência, à desinibição, à cumplicidade e à partilha de memórias entre três veteranos de guerra.

−Então, à saúde da noiva e do noivo, e dos seus convidados!... E, já agora, à memória dos rapazes que por lá ficaram naquelas terras de Cristo! – brindou o Arlindo, o pai do Jorge, o noivo.

− Mouros e morcões, somos todos iguais, todos portugueses! – brincou comigo o "Felgueiras", visivelmente bem disposto e feliz.

Tinha-se dado o clique para, ganhando a confiança dos meus interlocutores de ocasião, poder explorar melhor (e até aprofundar) a história, algo insólita, do "Felgueiras". Um pouco de fora ficava o pai da noiva, que não tinha feito o serviço militar (ou esteve na tropa já depois o 25 de Abril), sendo mais novo do que nós os três.

Ao longo do dia, e sobretudo depois do copioso e demorado almoço, com as diversas iguarias da mesa minhota, fomos dando uns dedos de conversa, enquanto o "Felgueiras" fazia sala com o noivo e os seus convidados, como lhe competia. Mas, de tempos a tempos, vinha ter comigo e com o Arlindo, puxava-me o braço e retomávamos o fio à meada, entre uns golos de uísque velho que foi o nosso digestivo com o café.

Enfim, com o "material" recolhido nesse dia e com mais umas conversas posteriores, com ele e com informantes privilegiados que o conheciam, a começar pelo Arlindo, pude traçar um primeiro retrato-robô do "Felgueiras", de resto uma figura em tempos conhecida e até popular, na região do Vale do Tâmega. Os mais novos, naturalmente, já não se lembrarão dele.

Não confessei a ninguém, como me convinha, a minha intenção de pôr o "Felgueiras" na "galeria dos meus heróis". Para o leitor, também não preciso de justificar a minha escolha. No final, fará o seu juízo crítico. Por mim, trata-se de uma figura tão digna como as outras que lá estão, afinal seres humanos como eu, com as suas pequenas misérias e grandezas, tendo como traço de união a guerra que um dia se travou na Guiné, entre 1961 e 1974, "guerra colonial", para uns, "guerra do ultramar", para outros, "guerra de libertação" para os militantes e simpatizantes do PAIGC.

O nosso camarada tinha sido 1º cabo de infantaria e estado na Guiné, entre finais de 1966 e princípios de 1969. Passo por cima de detalhes mais concretos, porque ainda há muita gente viva desse tempo e dos lugares por onde passou o "Felgueiras" (bem como o Arlindo e demais camaradas aqui citados).

Era apontador de armas pesadas de infantaria mas, por "azar", não fora colocado num pelotão de morteiros, como ele tanto gostaria. Coube-lhe, isso sim, integrar o 4º pelotão de uma companhia de caçadores, pelotão esse que só tinha 2 furriéis. Na prática, iria comandar uma seção de atiradores, ao substituir um 2º sargento do quadro permanente que ficara em Lisboa com uma úlcera no estômago, a primeira "baixa" da companhia.

− A Dona Úlcera no Estômago foi uma boa madrinha de guerra para alguns safados − atirou o "Felgueiras".

Na realidade, o "Felgueiras" não dera as habilitações literárias corretas, aquando da inspeção militar. Não era caso virgem, outros o fizeram antes e depois dele... Apresentou apenas o diploma da 4ª classe da instrução primária e indicou como profissão a de operário fabril. Queria, intencionalmente, safar-se do Curso de Sargentos Milicianos (CSM), e de uma mais que provável mobilização para o ultramar como "furriel atirador"… 


Ainda teve a veleidade de sonhar com uma especialidade que o tirasse do mato: cripto, escriturário, ou até mesmo sacristão, mecânico ou estofador… "Condutor auto, nem pensar", por causa das colunas logísticas e das minas. "E enfermeiro, ainda pior: sempre tivera horror ao sangue". Mas orgulha-se de não ter posto cunha a ninguém, muito menos ao seu patrão, o industrial José Joaquim Gonçalves de Abreu, político de peso do regime, presidente da câmara local, futuro deputado e comendador.

E, no entanto, o melhor que lhe coube na rifa foi o posto de 1º cabo atirador de armas pesadas de infantaria.

−Vou ficar no quartel, pensei. Ele haverá lá um morteiro 81, um canhão sem recuo…

− Seguramente uma Breda, ou uma Browning… −acrescentei eu.

 Santa ingenuidade!, fui logo parar à 'tropa-macaca', a que saía para o mato! – lamentou-se o "Felgueiras". 

E explicou:

− Azar o meu: quando cheguei ao quartel, o morteiro 81 já tinha dono, havia lá uma secção de um pelotão de morteiros, uns gajos já velhinhos, completamente 'apanhados do clima'…

Mas lá conseguiu convencer o capitão de que tinha outras competências, da vida civil, que valeria a pena aproveitar e pôr ao serviço da companhia…

Acabou por ficar no quartel com a responsabilidade da horta e do espaldão da Browning 12.7, tendo para o efeito um abrigo "privativo", cheio de cunhetes de munições até ao teto, incluindo balas tracejantes. 

− Ainda fiz o gosto ao dedo, num dos grandes ataques ao quartel. Era um arma do carago, a Browning!... Devo ter despachado uns gajos mais cedo, com carimbo para o inferno, nesse ataque, em que eles vieram quase ao arame farpado...

Enfim, foi o início de um "período de mordomias" que ele nunca teria se fosse um simples "furriel atirador"…

Tinha de facto alguns conhecimentos (básicos) de hortofruticultura. Quando miúdo, ajudava o pai e os irmãos mais velhos na quinta que trabalhavam, de renda, na Lixa, em Felgueiras, em regime da parceria agrícola, versão moderna da servidão da gleba. O pai chegou a estar emigrado em França, onde tratava de cavalos num "château" da região do Loire.

Com as remessas de dinheiro, "suado e poupado", que mandava de França, lá conseguiu pôr o filho mais novo a estudar, primeiro no seminário menor da diocese do Porto, e depois num colégio privado em Amarante.

O "Felgueiras", "mau aluno, cábula",  não chegou a acabar o almejado 5º ano do liceu, para grande desgosto do pai que lhe desejava melhor sorte do que a de "filho de rendeiro". E este não teve outro remédio senão o de dar ordens terminantes à mãe para pôr o filho a trabalhar na Tabopan, logo que completasse os 16 anos. Tinha lá um tio materno que era encarregado e que o podia, de algum modo, proteger.

A Tabopan, na altura, era uma das grandes fábricas da região, dava trabalho a muita gente e era o sustento de muitas famílias de Amarante e arredores. Isto ainda antes da febre da indústria do calçado que, no caso do concelho de Felgueiras, irá enriquecer alguns e desgraçar muitos, sobretudo depois da entrada do País na CEE, em 1986, e da vinda de pipas de massa para a modernização das empresas… 

De facto, de um dia para o outro o pobre "sapateiro remendão" deu lugar a um "garboso industrial" que se pavoneava de Ferrari vermelho, entre Felgueiras e a Foz do Douro… As máquinas que os "sapateiros" (alguns, não generalizemos...) compraram, foram os famigerados Ferraris, que puseram Felgueiras no mapa…
 
− Por más razões...− reconheceu o "Felgueiras", quando eu abordei este tema... delicado para os felgueirenses.

Para o nosso cabo, a Tabopan foi uma das suas "faculdades da Universidade da Vida" (sic), a par da tropa e, depois, da Guiné.

−Abriram-me os olhos!

Self made man, gosta muito de evocar a "escola da vida" em que se formou e não esconde o seu desdém pelos "doutores de Coimbra".

−Mais vale um ano de tarimba do que dez de Coimbra!... Era o que se dizia até à reforma do Marquês de Pombal… − contemporizei eu.

−No meu caso, valeram mais os quatro anos de Tabopan e outros tantos de tropa, Guiné e, depois, Angola. (Fiquei a saber que ele também tinha passado por Angola, depois de vir da Guiné.)

Na Tabopan, com as boas graças do tio que procurou puxar por ele, o "Felgueiras" percorreu quase todas as secções, desde a produção à distribuição, do armazém ao escritório, onde aprendeu a escrever à máquina no teclado HCESAR.

−Quando assentei praça, já era um homem feito e vivido. Mas já que estamos aqui entre amigos e camaradas, juro que nunca fui um gajo 'putanheiro' e muito menos… 'azeiteiro'.

−O que é bem diferente de dar uma facadinha no matrimónio, de vez em quando – acrescentou, timidamente, entre dentes, o Arlindo, olhando em redor, não fossem as senhoras ouvi-lo...

−Ora… quem as não deu?! –interrogou-se o “Felgueiras”.

−Jesus Cristo, que, tanto quanto se sabe, não era casado…− galhofei eu.

Sete ou oito meses depois, lá vai o 1º cabo "Felgueiras" (mais o furriel Arlindo) no T/T Niassa a caminho da Guiné.

Mas passemos por cima dessas peripécias da pequena história pátria: não se deu mal com as novas funções que lhe foram atribuídas, a de 1º cabo hortelão da companhia (uma especiaidade que, diga-se de passagem não existe na tropa).

A horta cresceu e ajudou a equilibrar as "finanças" da companhia.

−Não sei se havia essa categoria no exército, a de 1º cabo hortelão… Não me lembro –repliquei eu.

−Os furriéis, que eram quase todos do Norte, chamavam-me o "Pencas", os alferes que eram do Sul, puseram-me a alcunha do "Couves"… Os meus camaradas, soldados e cabos, esses, tratavam-me, como sempre me trataram, desde o IAO, por "Felgueiras"… E foi essa alcunha que vingou.

− "Pencas"… mas porquê ?

− Imaginem que no segundo Natal que passámos no mato, em 1967 (e ainda haveríamos de passar um terceiro…), eu apostei com o meu capitão, que era nortenho, que ele iria ter pencas (a couve "tronchuda"…) na noite da Consoada, a acompanhar o bacalhau…~

−Meu capitão, arranje-me o bacalhau e as batatas, que eu trago-lhe as pencas. Para si, para mim e para o resto do pessoal.

Ele não acreditou e perdeu a aposta (100 pesos, ainda se lembrava o "Felgueiras"=…

−No primeiro Natal, mal chegámos, em finais de 1966, comemos uma merda liofilizada, uns grelos, um desconsolo.

O clima da Guiné não ajudava a criar pencas, a couve portuguesa, devido às temperaturas elevadas… Por outro lado, não fazia frio nem geada, muito menos neve, para "cozer" as "tronchudas", antes do Natal… Mas a verdade é que o "Felgueiras" conseguiu obter sementes pelo correio… mais uns "pozinhos de perlimpimpim" (sic). Em dezembro, afinal, fazia frio de rachar, à noite!... 


Com o "Paranhos", seu "ajudante de campo", conseguiu operar "o milagre das pencas" lá na região do Cacheu. Primeiro, fez um viveirinho de plantas. Depois, plantou-as e pôs, a toda a volta, no talhão das couves, uma rede em tecido camuflado para as pencas não apanharem o sol direto (ou em excesso) e evitar a passarada… 

Ninguém acreditava, até o comandante de batalhão foi lá um dia visitar a horta… 

− Sim, senhor, nosso cabo... Bela horta!

Enfim, "houve bacalhau com batatas e tronchudas na noite de Natal, se calhar pela primeira vez na Guiné!"...

− Foi uma alegria, sobretudo para a rapaziada do Norte, do Minho e do Douro Litoral… Sim, porque os gajos de Trás-os-Montes têm a tradição do polvo, e vocês, os alfacinhas, a mania do peru recheado... Com a tua licença, uma merda afrancesada...

Foi um sucesso, a horta. E as "tronchudas" ficaram na memória de todos, mesmo que nem todas vingassem. A horta cresceu e multiplicou-se para gáudio do capitão, do 1º sargento e do furriel vagomestre…

O nosso cabo tinha especial habilidade para descobrir talentos, tendo desde logo garantido o concurso do tal "Paranhos", que também trabalhara num quinta do Porto, antes da tropa.

− No tempo em que ainda havia quintas no Porto, justamente em Paranhos… Hoje o betão e o alcatrão tomaram conta de tudo – esclareci eu que ainda conheci o Porto… "rural", em 1975.

− E consegui depois arranjar mais dois ou três civis de uma tabanca próxima. Tinham em tempos trabalhado na horta das missões católicas do Cumeré, se não me engano. Eram manjacos, cristãos, falavam razoavelmente o português. Foram-me recomendados pelo capelão do batalhão, um gajo do Norte, também porreiraço. Eram pagos em patacão e em géneros. Formávamos uma bela equipa, tenho saudades deles, confesso... Chamavam-me o "irmão hortelão". O meu braço direito era o "Paranhos", que sabia muito mais de horta do que eu.

Foi aproveitada uma antiga "ponta", abandonada, que pertencera em tempos a um cabo-verdiano, da Ilha da Brava. A terra era fértil e a água doce abundante. Até tinha um poço com uma nora, desconjuntada.

− Na realidade, a "ponta", com uns bons hectares, não tinha sido totalmente abandonada. De facto, uma parte, junto à casa, continuara a ser cultivada por uma família manjaca, cristã, que trabalhava para o cabo-verdiano, ainda antes da guerra.

− O que é que lhe aconteceu, ao dono ? − perguntei eu.

− Nunca soube ao certo, contavam-se várias versões da história. Dizia-se que era compadre do Amílcar Cabral e que estaria em parte incerta. Uns juravam que tinha ido para Conacri. Outros garantiam que tinha sido morto em 1962, quando se deslocava na sua camioneta até Canchungo. Também era comerciante de arroz e mancarra.

− Não seria um tal Brandão ?

− O nome já não me lembro, nem para o caso aqui interessa. Era conhecido dos meus manjacos, e não seria mau tipo: deixou boas recordações.

Veio-se a descobrir, mais tarde, por finais de 1964 ou princípios de 1965, graças ao "trabalho de sapa" do agente da PIDE de Teixeira Pinto, que o tal manjaco, que fora empregado do cabo-verdiano, e que desde 1962 tomava conta da "ponta", fazia parte de uma "célula civil" do PAIGC… Foi acusado de ajudar (e até de abastecer) os "turras do Choquemone".

− Acho que se chamava Gomes e ainda por cima era o sacristão da igreja local, o sacana… – acrescentou o "Felgueiras" – mas isso não era do meu tempo… nem da minha conta.

Foi preso, interrogado, torturado e, com sorte, deportado, sem julgamento, para a Ilha das Galinhas, nos Bijagós. Um ano antes teria ido parar ao Tarrafal.

− Houve quem, por menos, tivesse acabado numa vala comum ou na bolanha com um balázio na testa – confidenciou o "Felgueiras"... – Pelo menos os meus manjacos contaram-me algumas merdas que a polícia administrativa  de Canchungo terá feito no início da guerra.

− A polícia ou a milícia do régulo…? Como é que ele se chamava ?

− Não me lembro, mas adiante… Disseram-me que mais tarde o Gomes foi solto, já a gente tinha acabado a comissão. Deve ter sido por volta de 1969, por ordem do Spínola.

O administrador do Canchungo acabou por tomar conta da propriedade e, em data posterior, cedeu-a à tropa. Tinha uma bela casa de sobrado, de traça colonial, que foi logo ocupadas pelos alferes.

A mulher e os filhos do Gomes foram recambiados para a ilha de Pecixe, donde eram originários. A casa e a horta foram cercados de arame farpado, passando a ser integradas no perímetro do quartel que, de resto, confinava com a tabanca.

A "ponta" sempre dera boa e abundante fruta tropical como a banana, o mango, a lima, a papaia, o abacate, o abacaxi… O nosso cabo introduziu culturas hortícolas europeias, adaptadas ao clima e ao terreno, graças a sementes que conseguiu obter da granja de Pussebé onde, por ironia, tinha trabalhado o engº Amílcar Cabral, e outras que encomendou à Intendência ou mandou vir da metrópole, pelo correio, através de um antigo colega, mais velho, do colégio de Amarante, que se formara como regente agrícola. 


Os terrenos, por sua vez,  foram lavrados e estrumados. Bosta era coisa que não faltava na "vacaria" do quartel… Como estavam de pousio, começaram logo a produzir em grande.


A produção de frutas e legumes dava para abastecer não só a companhia como o pessoal da CCS  e a outra unidade de quadrícula que estava em Teixeira Pinto. Para gáudio do médico do batalhão que, logo de início, alertara o comando para as insuficiências nutricionais que os militares iam sofrer ou já estavam a sofrer. Havia muita falta de "frescos", frutas e legumes, as companhias eram abastecidas, com alguma irregularidade, quer por colunas terrestres quer por avioneta (que também trazia o correio).

Com os restos do rancho e com as sobras da horta, o nosso cabo montou uma pocilga (uma "corte") e um galinheiro. Passados escassos meses, a companhia já era autossuficiente em galinhas, frangos, ovos e até leitões.

Quando o furriel vagomestre foi evacuado
 para o Hospital Militar 241, em Bissau, e dali para a Metrópole, com uma hepatite (o raio de uma doença que "toda a gente queria apanhar", já  que dava, na altura, direito a evacuação imediata para o Hospital Militar de Belém, especializado em doenças infecto-contagiosas…), o capitão, por sugestão do 1º sargento, achou que o "Felgueiras" era o homem certo para o lugar certo. Para já, não havia nenhum sargento ou furriel disponível para o lugar de vagomestre e, quanto ao substituto, já pedido, só viria lá para as calendas gregas. 

Interinamente, o nosso cabo, "até porque tinha estudos", ficaria a desempenhar o cargo de vagomestre. Como, de resto, ficou, até ao fim da comissão, "a contento de todos".

− A ganhar como 1º cabo, estás a ver?!

Por outro lado, o 1º sargento ia também, muito em breve, deixar a companhia para frequentar, em Águeda, a Escola Central de Sargentos. Tratava o "Felgueiras" de modo algo paternal, e os dois sempre tiveram uma boa relação desde a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional). De resto, a companhia irá ficar sem sargentos: um outro 2º sargento do quadro permanente,que era operacional, teve um problema disciplinar, e acabou por ser colocado em Bissau. O 1º sargento não chegou a ser substituído em tempo útil. Na prática, foi o capitão quem assegurou o serviço de secretaria com o 1º cabo escriturário.

O "Felgueiras", que sabia escrever à máquina, e era voluntarioso, também ajudou a montar a secretaria da companhia e até chegou a fazer alguns trabalhos, a "stencil", quando o "escritas", o 1º cabo escriturário, não dava conta do recado. E os dois, o 1º sargento e o "Felgueiras" lá se entendiam com a "contabilidade criativa" da horta e da pecuária, incluindo a vacaria que tinha sempre meia de dúzia de cabeças de gado vacum, que o "Felgueiras" ia comprar aos fulas de Sonaco.

− Foi um pai e um mestre, para mim! – disse-me o "Felgueiras", já no fim da tarde, quando os mais novos, na festa do casório,  se divertiam ao som de uma banda de música rock… − Nunca mais o vi. Pena que t
enha morrido, cedo, com o posto de capitão SGE, ao que me disseram. 

Para o comandante da companhia, capitão de infantaria, miliciano, 33 anos, solteiro, "homem bom", antigo seminarista, professor de português num colégio particular, a "horta", a "corte", a "vacaria" e o "galinheiro" da companhia foram uma bênção do céu. Resolveram uma grande parte dos problemas de abastecimento e de segurança alimentar da companhia (e até do batalhão). 


O capitão ficou, por outro lado, bem visto pelos seus superiores hierárquicos, pelo empenho e apoio que deu a estas iniciativas. E até os comandantes das companhias em redor não lhe regateavam elogios. Mas "ninguém mexeu uma palha para seguir o seu exemplo"...

Por outro lado, com a "contabilidade criativa" do 1º sargento, a companhia passou a ter um "histórico superavit". Não cabe aqui contar, neste espaço, como é que o capitão reinvestiu esse patacão em obras para a melhoria do bem-estar dos militares (camaratas, casas de banho, campo de futebol…) e da população civil (posto escolar, centro médico, chafariz…), juntamenente com o patacão que vinha do batalhão para a "psico-social". Até deu para fazer obras de ampliação e beneficiação da pequena igreja local, para contentamento do capelão.

− Um homem com H, um grande capitão, mesmo que já não tivesse grande jeito (nem idade) para alinhar no mato e comandar tropas… 

− Voltaste a encontrá-lo ?

− Sim. Estivemos, pelo menos,  em dois encontros, em convívios anuais da companhia, que eu organizei por aqui perto, um em Fafe, e outro no Marco de Canaveses. 

− No Marco ?

− Sim, na tua terra... Ainda hoje, vinte e tal anos depois, a malta fala da grande almoçarada que eu proporcionei: a vitela assada à moda de Fafe, em Fafe, num ano; e logo, a seguir, num outro ano, o anho assado com arroz de forno,  lá no Marco… Até convidei o Ferreira Torres, de quem eu era amigalhaço, mas o homem nessa data tinha outros compromissos. Mas, mesmo assim, foi lá de propósito só para me dar um abraço e saudar a rapaziada.

− E essa história da padaria e dos leitões assados, de que me falou aqui o nosso camarada (e teu compadre) Arlindo ?

− Foi a cereja no bolo, camarada! – respondeu o "Felgueiras", orgulhoso. − Vim no "Uíge", fizeram-me uma festa de despedida, fui car
regado em ombos… Até parecia que eu era um herói de guerra, carago!

− Conta lá como isso foi, camarada. Se me deres licença, quero tomar boa nota dessa história.

− Pois, foi assim … Quando substitui o vagomestre (que Deus nosso Senhor o tenha em bom descanso!), havia muitas queixas das nossas praças, em relação ao pão que era servido às refeições. Até então, andava tudo de bico calado… Quando eu assumi funções, não houve cão nem gato que não reclamasse. "O casqueiro está uma merda, ó Felgueiras!"… 

− O costume, dá a mão ao vilão, morde-te logo a mão! − atalhou o Arlindo que estava a seguir a conversa.

− Bom, tive que tomar providências imediatas. O capitão deu-me carta branca. Arranjei um rapaz do Carregado, o "Alenquer", que andava a coçar o cu pelas tabancas, e promovi-o a ajudante de padeiro. Já era padeiro na vida civil. Em contrapartida, o padeiro da companhia era um básico, que nasceu sem jeito para nada a não ser para a sornice. Melhorámos a mistura das farinhas, fizemos obras no forno, começamos a fazer pão com chouriço e torresmos ao fim de semana… E às tantas um leitãozinho. E não é que a coisa pegou ? 

E depois, já com um brilhozinhonos olhos, o "Felgueiras" arrematou:

O Schulz, não, mas o Spínola, ainda "periquito", chegou a lá ir atrás do cheiro, ainda em 1968. Ele adorava o nosso pão… O leitão, às tantas, não chegava para as encomendas. Começámos também a "trabalhar para fora", até para restaurantes em Bissau… A rapaziada fazia umas "horas extraordinárias", mas todos comíamos da 'gamela'… 

− Queres dizer... ?

− Isso mesmo, ao fim do mês, havia mais patacão para cada um poupar ou gastar… Tudo com o "ámen" do capitão que nestas coisas tinha vistas largas... Pergunta ao "Paranhos", se um dia o encontrares lá nessa tal Tabanca de Matosinhos, de que me falaste, e que eu não conheço, mas um dia ainda tenho mesmo que lá ir… Almoço à quarta-feira, é isso ?

− Sim, vou-te dar os contactos e as coordenadas... Vais adorar, há lá malta do teu tempo e da região do Cacheu.

(Continua)




Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Missirá> Pel Caç Nat 52 > c. 1973/74 > A horta,  Não havia quartel ou destacamento que não tivesse a sua horta... E hortelãos diligentes e trabalhadores, na maior parte dos casos mal aproveitados...

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18949: A galeria dos meus heróis (8): os seminaristas (Luís Graça)

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19039: Convívios (875): Paradas Party, do João Crisóstomo: 16 de setembro de 2018... Foi bonita a festa, pá!


Foto nº 1 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João Crispim Crisóstomo e Vilma Kracun,  casados em segundas  núpcias em 2013... Ele, luso-americano, ela, eslovena.


Foto nº 2 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 3 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 4  > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 5 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 6 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Vilma.


Foto nº 7 >  Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e familiar.


Foto nº 8 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e  e familiar.


Foto nº 9 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  Amigo do João, o António Rodrigues, mordomo reformado, de Nova Iorque, hoje a viver em Aljubarrota, Batalha. Companheiro de causas, como Foz Coa, Timor, Aristides Sousa Mendes... "O meu braço direito"...


Foto nº 10 >  Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  Três grandes amigos: João, Rio Chamusco e António Rodrigues.


Foto nº 11 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  O Rui, exímio tocador de acordeão,  exibindo um recorte de jornal onde se fala da recente homenagem dos correios israelitas ao João Crisóstomo, o português nascido em Bombardeira, A-dos.Cunhados, Torres Vedras, em 1943...


Foto nº 12 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João e Rui, tocando e (en)cantando.


Foto nº  13 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João cantando.


Foto nº 14 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > João  cantando em grupo. Na ponta, direita, a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro.


Foto nº 15 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > Dois camaradas da Guiné: no lado esquerdo, o régulo da Tabanca de Porto Dinheiro, Eduardo Jorge; no lado direito, um camarada de Achada, Mafra que esteve com o João no Enxalé e 1965/67  (, pertencia ao Pelotão de Morteiros, era 1º cabo apontador do morteiro 81; um grande contador de histórias, a quem já convidei para integrar a Tabanca Grande; de seu nome completo, Manuel Calhandra Leitão; não se lembrava do nº do Pel Mort, que estava sediado em Bambadinca; falou-me de homens "lendários" como o Luís Zagallo e Abna Na Onça).


Foto nº 16  > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > O camarada do Enxalé,  o Manuel Calhandra Leitão, o "Ruço" (, será o organizador do próximo encontro, em Mafra, da malta que esteve no Enxalé, entre 1965/67,  incluindo o seu Pel Mort e a CCAÇ 1439)... Ausente, com pedido de desculpas, foi a nossa amiga Helena Carvalho (mais o marido, Álvaro), a nossa Helena do Enxalé...


Foto nº 17 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  A esposa do Eduardo, a São, que viveu parte da infância e adolescência na Guiné, filha do chefe dos correios de Bissau.


Foto nº 18 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  O nosso camarada Carlos Silvério, próximo grã-tabanqueiro nº 783.


Foto nº 19> Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  O Carlos Silvério, ao centro, a esposa Zita, do lado direito, a Alice, do lado esquerdo.




Foto nº 20 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 >  Uma festa de família a que não faltaram crianças, aqui a dançar, sob o olhar ternurento do tio-avô ou tio-bisavô João... (Como estão de costas, na foto, fica protegida a sua identidade.)



Foto nº 21 > Portugal > Torres Vedras > A-dos-Cunhados > Paradas > 16 de setembro de 2018 > Uma amiga do João, que veio de propósito de Leiria... Não fixei o nome. Sei que trabalhou em tempos no CIDAC e na causa de Timor... Está deliciada a comer caracóis com o Eduardo...Estes "moluscos gastrópodes terrestres", muito nutritivos e ecológicos, foram trazidos da Achada, Mafra, pelo "Ruço"...

Fotos: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Paradas Party: 
Soneto da amizade e do amor

É a lição da festa de cada ano:
Não há passaporte para a amizade,
Diz o João, o luso-americano,
Nem fronteiras para a liberdade.

Não se escolhe ser Kacrun ou Crispim,
Nem a terra onde se vai nascer,
Mas é bom ter uma família assim,
Bem como estes amigos poder rever.

Querido João, estás em casa em toda a parte,
Na Eslovénia, nos States, em Timor,
E sabes repartir com engenho e arte,


Com a Vilma, que é doce e querida,
O tempo da amizade e do amor.
Prós dois, muita saúde e longa vida!

Paradas, 16 de Setembro de 2018,

Festa da família Crisóstomo e Crispim e amigos

Luís Graça
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Versão em inglês, livre:

Paradas Party: Sonnet of Friendship and Love

It is the lesson of the feast of each year:
There is no passport for Friendship,
Says João, the Portuguese-American,
Neither frontiers for Freedom.

You don't' choose to be Kacrun or Crispim,
Neither the land where you’re  going to be born,
But it's good to have such a family,
As well as these friends to welcome.

Dear John, you are at home everywhere,
In Slovenia, in the States or in Timor,
And you know how to share with hard work and art,

With Vilma, a darling, sweet lady,
The time of Friendship and Love.