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quarta-feira, 10 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17340: Dossiê LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste - Parte I: Um documento para a história, um livro do nosso camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque)... A documenrtação original vai ser entregue dentro de dias em Dili... Uma cópia é entregue hoje, pessoalmente, ao Presidente da República Portuguesa


Capa do livro de João Crisóstomo - LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste, edição de autor, Nova Iorque, 2017, 162 pp.


Dedicatória autografada ao Luís Graça e à Maria Alice Carneiro. O autor, que está  no nosso país até amanhã, antes de regressar a casa, em Nova Iorque, e partir depois para Dili, andou numa roda vida, deixando mais de 7 dezenas de cópias do seu livro a amigos e personalidades portuguesas. A edição do livro foi inteiramente custeada por si.(*)


Nota biográfica do autor






[Excertos das primeira páginas do livro: pp. 7-9]


1. O nosso amigo, camarada e grã-tabanqueiro João Crisóstomo está de passagem por Portugal juntamente com a esposa e nossa querida amiga Vilma, tendo participado no encontro da sua Companhia, a CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), que se realizou nas Caldas da Rainha, em 29 de abril último (. falhando por isso , e com muita pena, o XII Encontro Nacional da Tabanca Grande). (*)

Português da diáspora, ex-combatente da guerra colonial, com nacionalidade americana, regressa amanhã a Nova Iorque, onde reside desde 1975 (vd. nota biográfica acima). Mas, entretanto, vai ter oportunidade, esta tarde, de ser recebido no Palácio de Belém, em audiência privada, cumprimentar o "presidente de todos os portugueses" e de  "todas as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo" e de lhe mostrar o dossiê original sobre o LAMETA  que, a pedido do Primeiro Ministro de Timor Leste, vai agora deixar, dentro de dias, em Dili no 15º aniversário da independência.

Foi o primeiro ministro timorense, a par de outras pessoas amigas e personalidades da sua vasta rede de relações, quem lhe fez ver e sentir a necessidade de transformar esse dossiê num livro-álbum para que "o papel das comunidades portuguesas dos Estados Unidos no processo da independência de Timor Leste", ao longo de seis anos,  também não caísse na vala comum do esquecimento, como acontece muitas vezes, no nosso país, com as coisas em que se metem os portugueses cá dentro e lá fora.

O João vai-se agora separar  desse dossiê, e doutros artefactos entre os quais um grande painel “Timor 1975” (4,50 X 1,20 metros) , da autoria do artista luso-americano Fernando Silva, usado frequentemente em frente às Nações Unidas, em Nova Iorque e que, pelo telefone,  o dirigente do LAMETA fez questão de oferecer a Xanana quando este saiu da prisão.

Além de mostrar o dossiê original e deixar uma cópia na Presidência da República, o nosso camarada e amigo João Crisóstomo vai, por certo, também oferecer um exemplar autografado do seu livro ao Presidente da República.

Temos uma cópia em pdf desse "book" com a autorização do autor para reproduzir, no nosso blogue, os documentos ou partes do livro que acharmos de maior interesse para os nossos leitores. É o que começamos a fazer, a partir de hoje, reproduzindo alguns excertos.

Com a independência de Timor fecha-se um ciclo de 500 anos da nossa história e abre-se outro... O João Crisóstomo, o António Rodrigues e outros mordomos de elite dos mordomos portugueses de Nova Iorque, ao serviço da elite nova-iorquina, que criaram e animaram este movimento (LAMETA), também fazem parte dessa história... Tenhamos para com eles e a restante comunidade luso-americana um palavra de reconhecimento, apreço e agradecimento. Nós, aqui, também fizemos algumas ações valiosas em defesa do direito dos nossos amigos timorense à autodeterminação. Enfim, é bom não deixar apagar-se a memória, seja em Timor, ou seja noutras partes da comunidade lusófona, da Guiné-Bissau a Macau, de Cabo Verde a Angola...

Fica aqui também um desafio aos nossos investigadores: a personalidade do João Crisóstomo (um homem determinado e persistente a quem o antigo Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo, chamava, quando ainda bispo, com toda a graça e propriedade, o "berbequim"!)  e a história deste processo de "lobbying" da nossa comunidade luso-americana, deviam ser objeto, na nossa academia, de um "case study" em ciência política!...

Principais capítulos do livro, de 162 pp:

1. Como tudo começou: criação da LAMETA e primeiros passos (pp. 17-29)
2. Novos aliados para Timor: D. Renato Martino, Elie  Wiesel e outros (pp. 31-43)
3. Um referendo para Timor-Leste (pp. 45-57)
4. Nações Unidas (pp. 59- 64)
5. Os meios de comunicação social (pp. 65- 70)
6. Congresso, Casa Branca, petições (pp. 71-78)
7. Portugal (pp. 79-94)
8. Jornadas de informação e outros acontecimentos públicos (pp. 95-104)
9. O filme "Death of a Nation" (pp. 105-109)
10.  Padrinhos para Timor (pp. 111-123)
11. Casos de um longo percurso e  4 contentores com ajuda (pp. 125-136)
12. Figuras inspiradoras (pp. 137- 147)
13.  E, agora, a LAMETA (pp. 149-153)
14. Alguns documentos que falam das iniciativas pró-Timor das comunidades luso-americanas ou noticiam os primeiros passos da nação por que elas lutaram (pp. 155-160)



Lourinhã > 30 de abril de 2017 > O João Crisóstomo e o Luís Graça... Infelizmente, à Vilma, por indisposição nesse dia,  não pôde vir à "capital dos dinossauros"... O João teve a gentileza de nos oferecer, a  mim e à Alice, um exemplar do seu livro, autografado.
Foto (e legenda): © Luís Graça  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17246: (De)Caras (71): João Crisóstomo acaba de publicar, em Nova Iorque, o livro "LAMETA: o desconhecido contributo das comunidades luso-americanas para a independência de Timor-Leste"...Vem a Portugal, para umas férias, no próximo dia 20, 5ª feira.

(**) Vd. poste de 3 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17102: Convívios (781): Encontro do 50.º aniversário do regresso da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017. Prazo de inscrição: 13 de abril (Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé)

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17333: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (18): os manos Agnelo e Zeca Macedo, os únicos representantes da Marinha e da diáspora...


Foto nº 1 >  O Zeca Macedo, com a dupla nacionalidade americana e cabo-verdiana....É a segunda vez que   vem oa nosso Encontro Nacional. 

O Zeca Macedo, ex-2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74), nasceu na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951; vive nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008). Foi uma alegria voltar a vê-lo connosco, a ele, à esposa,  ao irmão e à cunhada, no nosso XII Encontro Nacional.



Fotop nº 2 > Goreti, a esposa do Zeca Macedo.


Foto nº 3 > O Zeca e a Goreti


Foto nº 5 > Agnelo Macedo e Delfina (Lisboa)... Agnelo Macedo é capitão de mar e guerra, na reserva, de seu nome completo Agnelo António Caldeira Marques Monteiro de Macedo, antigo diretor do Centro de Apoio Social de Lisboa do Instituto de Ação Social das Forças Armadas (2013-2016)


Foto nº 5 > Delfina Macedo


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017

Fotos: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Foram os únicos representantes da Marinha... e da diáspora (EUA), o Zeca e o Agnelo Macedo.

Em 2016, quando nos encontrámos pela primeira vez, em Monte Real, em 2016, demo-conta, eu e o Zeca Macedo, de que já nos conhecíamos de "outra incarnação": em, 1971, o Zeca Macedo, que tinha saído da Escola Naval e aguardava a entrada em outubro na Escola de Fuzileiros Navais, trabalhou nas férias grandes no parque de campismo da Praia da Areia Branca, Lourinhã. Tinha na altura também uma prima na Lourinhã. a trabalhar na Câmara Municipal.  E penso que também foi nessa altura, tinha eu regressado da Guiné em março de 1971, que estivemos juntos ele, e outros cadetes da Escola Naval (Rafael Sardinha Mendes Calado, meu amigo, capitão de mar e guerra de administração naval, reformado;  Agostinho Ramos da Silva, vive-almirante de classe de marinha, e outros cedetes, na altura, de que já não me lembro o nome)...

Em 2017, eu e o Zeca Macedo voltámos, muito brevemente,  ao passado. Com a dupla nacionalidade, cabo-verdiana e americana, conhece e é amigo de diversos combatentes e dirigentes do PAIGC contra os quais combateu no TO da Guiné. Seria o caso, por exemplo, do antigo presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires. Mas não gostam de falar do passado, o que se entende... já que a guerra colonial / guerra de libertação foi uma fractura muito grande na nação cabo-verdiana...E ainda há feridas por sarar...

Foi bom também o Zeca Macedo ter trazido, além da simpatiquíssima esposa Goreti, outro casal, o mano Agnelo e a cunhada Delfina. Os quatro bisaram, e esperamos tê-los cá de novo, para o ano, no nosso XIII Encontro Nacional, a realizar-se em Monte Real, na 1ª quinzena de abril de 2018 (a confirmar).

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sábado, 15 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17246: (De)Caras (63): João Crisóstomo acaba de publicar, em Nova Iorque, o livro "LAMETA: o desconhecido contributo das comunidades luso-americanas para a independência de Timor-Leste"...Vem a Portugal, para umas férias, no próximo dia 20, 5ª feira.















Recorte, com a devida vénia, de notícia do jornal Luso-Americano, 12 de abril de 2017, p. 57

1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada da fiáspora, Joao Crisostomo, com data de ontem:

 Caro Luís Graça,

Chegamos aí na 5ª feira, dia 20 , que é por coincidência o 4º aniversário [do nosso casamento]…
E…Depois do Primeiro Ministro de Timor Leste me dizer que não sabia o que era a LAMETA [acrónimo em inglês do Movimento Luso-americano para a Autodeterminação de Timor-Leste, ], …. tive de dar a mão à palmatória…. Aqui vai a notícia que saiu no jornal ‘Luso Americano”.

Boa Páscoa para ti, tua esposa e teus queridos,
João e Vilma

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17215: (De) Caras (70): A lavadeira Miriam e o furriel Mamadu... Comentários: da misogenia ao levirato, da tragédia da infertilidade feminina ao sexo em tempo de guerra...

quarta-feira, 1 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17093: Parabéns a você (1217): Vilma Kracun, esposa do nosso camarada da diáspora João Crisóstomo (Nova Iorque): Congratulations, happy birthday / Félicitations, joyeux anniversaire / Čestitke, vse najboljše

Vilma e João

1. Vilma (Kracun, de solteira) no dia do seu casamento com o nosso camarada João Crisóstomo, em Nova Iorque, em 21 de abril de 2013.  


Para ambos, é o segundo casamento. Vilma, de origem eslovena (, nascida na antiga Jugoslávia) vivia em França desde 1979. Profissão; enfermeira. O João, nascido em Portugal, Torres Vedras, vive em Nova Iorque desde 1975, exercendo a profissão de mordomo. Reformou-se há pouco tempo. Conheceu Vilma em Londres no início dos anos 70. O casamento, interreligioso, concelebrado com um rabino judeu e um padre católico, teve na altura o devido destaque na coluna social do New York Times e no LusoAmericano (*).

2. A Vilma, que é a simpatia em pessoa, faz hoje anos. O João Crisóstomo está felicíssimo com esta “prenda do céu” que lhe coube nesta fase da sua vida, agora menos ativa.

Ele tem uma grande ternura pela sua bela Vilma, que veio da Suíça dos Balcãs, a Eslovénia. Os amigos mais chegados dizem que eles foram feitos um para o outro. São um casal cativante, e cultivam, como  ninguém, a amizade... O João gosta de ir à Eslovénia tal como a Vilma gosta do nosso Portugal. Ela está a aprender português e depressa... Daqui a um mês eles cá estarão. 

O João é um dos organizadores do encontro do convívio do pessoal da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) bem como dos Pel Caç Nat 52 e 54 e ainda um Pel Mort 81 que com eles estiveram na Guiné, nos mesmos sítios (regulados do Enxalé e Cuor). 

O evento, já  anunciado por nós, vai realizar-se a 29 de abril de abril, nas Caldas da Rainha… Alguns dos camaradas já conhecem a Vilma.

O João tinha preparado, para hoje, dia de aniversário da "sua Vilma", "algo muito especial “ (...) "até o próprio Embaixador português nas Nações Unidas tinha aceitado o meu convite para aparecer”… mas teve de cancelar a festa por causa das agendas de outros convidados, e em especial de um dos filhos do João, do primeiro casamento.

3.  João e Vilma: todos os dias são bons para celebrar o milagre da vida e a alegria do amor. Mesmo à distância (mas ao alcance de um clique), aqui estamos nós, o pessoal da Tabanca Grande, com destaque para os camaradas e amigos do Oeste, para  mandar à Vilma a aquele xicoração (tem tradução em inglês ?), apertado e fraterno, que ela merece, que vocês merecem...

Como a gente gosta de dizer, em linguagem a tropa, boa continuação, para ti, Vilma, e para o teu João, da viagem pela “picada da vida fora”… O João, seguramente, vai-te ajudar a detetar e neutralizar as “minas e armadilhas” que nos vão pondo pelo caminho… Não só os nossos inimigos mas também alguns amigos da onça… Como diz o provérbio português, que “Deus me proteja dos meus inimigos, que dos meus amigos cuido eu”.

Parabéns, feliz aniversário / Congratulations, happy birthday /  Félicitations,  joyeux anniversaire / Čestitke, vse najboljše. (**)
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16993: Camaradas da diáspora (15): Um belo e perfeito soneto, "Hibernação", datado de Bissau, abril de 1965... (Augusto Mota, Brasil)

1. Augusto Mota, ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, QG, CTIG, 1963/66); viveu em Bissau até 1974, e depois no Brasil, até hoje; natural do Porto, tem a dupla nacionalidade: é o nosso grã-tabanqueiro nº 726, desde 6/9/2016] (*): 

Mandou-nos, com os votos de boas festas, este belíssimo e perfeito soneto, escrito em Bissau no já longínquo abril de 1965, e guardado no "baú das velharias".

Recorde-se que o soneto é um género poético obrigatoriamente com quatro estrofes: (i) as duas primeiras são quartetos (estrofes de quatro versos); e (ii)  as duas últimas são tercetos (três versos, cada um).

 Todos os versos são decassílabos (têm dez sílabas métricas). Camões e Bocage, por exemplo, foram grandes mestres do soneto. Mas também Antero de Quental ou Florbela Espanca... (LG)


HIBERNAÇÃO

por Augusto Mota

Na penumbra de um quarto ruvinhoso,

entre quatro paredes glaciais,
despidas, enervantes, espectrais,
nunca beijadas pelo sol fogoso...

Na penumbra, dizia, nem sinais
do mundo em que vivi, vão, tumultuoso,
onde perdi o filtro milagroso
de gostar como todos os mortais.

Aqui nada acontece de visível.
O tempo passa quase indescritível,
E eu cansado da longa caminhada...

Se alguém assume à porta é o carteiro.
Traz notícias do dia rotineiro
que, compiladas, dão de soma: NADA!

Bissau, Abril de 1965.

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Nota do editor:

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16888: Camaradas da diáspora (14): Amigos, por aqui, aos trancos e barrancos mas metendo o peito... (Augusto Mota, Brasil)

1. Mensagem de Augusto Mota, com data de 22 do corrente:



[foto à esquerda: ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, QG, CTIG, 1963/66); viveu em Bissau até 1974,  e depois no Brasil, até hoje; natural do Porto, tem a dupla nacionalidade: é o nosso grã-tabanqueiro nº 6«726, desde 6/9/2016] (*)

Amigos, por aqui, aos trancos e barrancos mas metendo o peito.

Quero apenas agradecer a paciência que tiveram comigo ao longo do ano que agora se vai.
FELICIDADES para vocês no ano que se avizinha.
Dos alforges em um velho baú, mando alguns rabiscos...

Um abraço para todos! (**)
Mota

O SERTANEJO

por Augusto Mota

Lá na casa de taipa onde nasceu,
grosseira, velha,
triste,
poeirenta,
parida pelo chão seco,
nativo...

Nada de pilão.
Pau-a-pique nu,
suado
por mãos calejadas,
rudes,
duras,
sofridas,
mãos cansadas...

à porta, dizia,
dessa casa miserável,
isolada,
espraia o olhar pela imensidão
despida,
aguardando a noite

- ASSUSTADORA!

Pavorosa!
Noite de preces,
de murmúrios,
de silêncios que
gritos esfrangalham,
arautos da morte
e sua corte,
clamores desvairados
de impotência,
brados de insanidade,
uivos de agonia...

Naquela condição de
alma perdida,
aborto inesperado,
assustador,
submisso ao cansaço,
à desilusão,
pensa e repensa
em seus pedaços perdidos
por entre duendes,
relíquias,
fantasias,
orgasmos desvairados.

                                         - TUDO EM VÃO!

Ali
sepultou o pai, amargurado,
ali, também,
aquela a quem rasgou o ventre minguado...


- MAS MINHA MÃE, DEUS!
SUBLIME, ABNEGADA...
QUANTOS PECADOS DELA,
SIM!...
SÃO SEUS?...


Mais além,
naquele mato ressequido
de pontas para o céu
vermelho brasa,
jaz o filho famélico,
mirrado,
que o sol inclemente despia,
enlutava os olhos desmedidos,
quebrava a pele,
escravizava,
dominava...
até quedar de mãos abertas,

- SUPLICANTES!

apanágio desta terra madrasta de seus filhos.

A mulher o sepultou,
muda e mecânica,
guardando a dor no olhar
desesperado,
desvairado,
acusador...

Olha as gretas no solo
como veias...
são toalhas rendilhadas no capricho
por bruxas que pululam sorridentes.

- AQUI SATÃ FESTEJA SEUS DELÍRIOS
E DEUS RECOLHE AS PRECES DOS FINADOS!

Tudo quanto é vivo se apressa neste
satânico terreiro
onde mirabolantes vultos dançam,
pulam, festejam um
momento derradeiro...

Morreu a plantação
já faz tempo.
tinha um bode que vendeu,
chorou o jumento...
a léguas a caveira da vaquinha...

Xiquexique não tem mais.
Macambira,
Mandacaru,
Palma,
qualquer raiz...
a seca matou rato e urubu,
calango,
porco espinho e tatu...
restou sua loucura para alimentar
a teimosia
e a boca de palavras entupida.
Dizem velhos vizinhos de infortúnio:


- DEUS ASSIM O QUER.
                                          É NOSSO DESTINO.

                                          - QUE JUSTIÇA GRANDIOSA SERÁ ESSA
                                          QUE DÁ VIDA,
                                          QUE MATA,
                                          FAZ SOFRER?!...

QUE PAI É ESSE DE UM FILHO INOCENTE
QUE AFINAL NEM PEDIU PARA
NASCER?!...
QUE SÁDICO IMPRESTÁVEL
SE SATISFAZ
SOBRE A BRUTA NATUREZA?!...

Ao despertar,
sol matinal,
cenário de Dali.
Tela grotesca,
mágoa ,

- HUMILHAÇÃO.

Segue arquejando
pelo caminho imenso
tal braseiro inclemente,
tenebroso.
Sobraçando a enxada,
ossudo,esquálido,
esfarrapado,
sujo, 
débil,
pálido,
busca um local onde cavar.
Não a última morada de seus ossos
mas uma cova de onde brote
a vida.
Um barreiro milagroso
em que gente e bicho
comunguem na terra.

Pertinho dum juazeiro paladino,
senhoril,
seco mas imponente,
majestoso,
que ninguém sabe como ali nasceu...
vovô dizia:
- aqui corria um rio...

lança o ferro ao solo.
Cava, esburaca,
fura sem parar.
Ao lado,
de olhar mortiço,
lazarento,
o cachorro.
Um amigo da infância,
fiel até nas desventuras.
Alimenta-se com a própria fome...

enquanto o sol
hercúleo, vil, gigante,
aquele mesmo que mata e consola,
que nos alegra,
humilha,

- VIOLA...


brutal e fero cobre suas costas...


- NERO RESSUSCITOU NESTE SERTÃO!


desfere golpes, golpeia a terra
seca.
Há labaredas no aço da enxada...

Esta terra que tanto tem de valioso,
petróleo,
ouro,
turmalina,
água-marinha,
feldspato,
lítio e diamante ,
não tem, afinal, nada.
Não tem da vida o mais

- IM – POR – TAN – TE!!!...

E quando o desalento
o toma de loucura,
desnorteia
a mente conturbada,
surge então uma gotinha
que a terra sorve,
pingo de suor,
sangue,
até de lágrimas...
num frenesim de raiva,

- DESVARIO,

Cava mais forte,
cava mais profundo,
teimoso
sem parelha neste mundo,
quando então, o barreiro

- NASCE,
CHORA!

Por entre aquela terra
calcinada,
aparece uma sombra de umidade
que lentamente veste a cor do barro.

Cai de joelhos
e, molhando a boca
sôfrega, gretada,
aquele herói
surrado do sertão
apenas balbucia:

- Á G U A ! ! !


augusto mota
Vertentes do Lério

11/1990 
_______________

Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

6 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16452: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, grã-tabanqueiro nº 726... Especialista em material de segurança cripto (Quartel General, CTIG, Bissau, 1963/66), gerente comercial da Casa Campião em Bissau, agente do Totobola (SCML), agente e correspondente do "Expresso" e de outros jornais e revistas, livreiro, animador cultural, português da diáspora a viver no Brasil há mais de 40 anos...

8 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16465: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, nascido no Porto, a viver no Brasil há mais de 40 anos, grã-tabanqueiro nº 726: "Não fui Cabo Cripto, fui sim do Grupo de Material e Segurança Cripto: éramos cinco a trabalhar num 'cofre' [bunker], no Quartel General, em Bissau (1963/66)... Já não me lembro do nome desses camaradas"... (E, depois como civil, até 1974, foi o homem dos sete ofícios!)

12 de setembro de 2016 >Guiné 63/74 - P16477: História de vida (11): Augusto Mota: nasceu no Porto, começou a trabalhar aos 10 anos, foi 1º cabo do Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, 1963/66), foi homem dos 7 ofícios em Bissau, como civil, foi para o Brasil em 1974, tem hoje dupla nacionalidade, tendo-se formado em ciências económicas... Trabalhou como gerente de empresas, foi empresário, entrou por concurso para a função pública, está reformado...

7 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16570: Blogpoesia (473): Peregrinação (Augusto Mota, camarada da diáspora no Brasil; ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripo , Bissau, QG, CTIG, 1963/66)

(**) Último psote da série > 23 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16874: Camaradas da diáspora (13): O ativista João Crisóstomo (EUA) visitou a nossa Tabanca Grande... e já tem causas para o ano de 2017... Um delas é a continuação das celebrações dos 225 anos do Consulado Geral de Portugal em Nova Iorque... Para ele e a Vilma, desejamos "Merry Christmas and Happy New Year".. Mas também para o Eduardo Jorge e a São que desta vez foram consoar para Londres...(O que os pais fazem pelos filhos, camaradas!)