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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5830: Controvérsias (66): A questão colonial (II): Colonização portuguesa - Particularidades (Descolonização e Conclusão) (José Brás)

1. Segunda e última parte do trabalho do nosso camarada José Brás*, iniciado no poste 5826**, sobre o tema "A questão colonial".


A Questão Colonial (II)
Colonização portuguesa - Particularidades

José Brás

DESCOLONIZAÇÃO


- descolonização se chama com frequência à passagem da soberania portuguesa para as mãos dos movimentos de libertação que nesses territórios se bateram durante anos de armas na mão, perante a falência das suas tentativas de negociação e à intransigência de Lisboa para organizar uma saída equitativa e digna.

- e desde logo nos aparece como realidade que não pode ser escamoteada, o facto aqui assinalado das específicas condições, tempo e formas da colonização portuguesa e as diferenças que demonstra no cotejo do que foi o colonialismo de outras potências europeias.

- abusando um pouco da imagem, pode mesmo assumir-se com algum cuidado, que, afinal, portugueses em Angola, nem colonialistas foram, antes, sem prejuízo da existência de excepções, gente pobre e de fraca formação que buscava em outras terras o que na sua lhe era negado há séculos, remetidos, cá e lá, a vidas muito duras e sem horizontes, despejados em território imenso e rico mas sem preparação nem meios de explorar os seu recursos e assistindo à sua própria exploração por empresas cujas sedes se encontravam fora de Angola, algumas em grandes grupos económicos nacionais, e muitas mesmo, fora das fronteiras portuguesas.

- colonialistas seriam, portanto, outras potências que ocuparam macivamente outros territórios na América, na África e na Austrália, e aí, usando a sua superior capacidade económica e técnica, delapidaram recursos e os exportaram para as sua metrópoles, deixando tais territórios exauridos, ainda que a população local com preparação suficiente para governar.

- é um facto conhecido que… em Angola circulavam crescentemente capitais estrangeiros que iam deitando mão dos principais recursos do território, ainda que a par de algumas empresas nacionais, todas, salvo erro, com sedes em Lisboa;
na guerra que era sustentada à custa de sacrifícios extremos do povo português, jogavam papel importante potência estrangeiras com interesses locais, uns na exploração de recursos, outras pensando deitar a mão a bom bocado, outras ainda na luta por hegemonias e domínio global, estratégicos do ponto de vista político, militar e económico, algumas delas jogando papel duplo, apoiando os dois lados da contenda, às claras ou mais dissimuladamente, transformando o território num palco de operações subterrâneas pelo domínio, onde jogavam principalmente russos e americanos, bem como suecos, franceses, italianos, entre outros menores.

- Portugal que havia sido escasso colonizador, ficou no meio desse jogo, participante menor e sem a mínima capacidade de influenciar, sobretudo em Angola, jóia da coroa, dividida em três movimentos de libertação com origens e programas (ou a ausência deles) diferentes e opostos, e mesmo esses movimentos, profundamente divididos e enfraquecidos dentro de si próprios, presas fáceis desse jogo internacional que já se jogava antes de 74 e que passou a ocupar o pano todo da mesa do casino e das cartas marcadas.

- em 74, éramos em Lisboa, um país devastado pelo esforço da guerra em três frentes, crescentemente exigente em meios materiais e humanos, à beira dos limites, e em África quase só gastadores dos recursos do orçamento metropolitano, com milhares de militares do quadro cansados da guerra em comissões sucessivas, sempre afastados das famílias; muitos mais milhares de oficiais e sargentos milicianos, muitos absolutamente contrários à guerra e fazendo-a em nome dos restos da consciência de Pátria, outros recusando-a, pura e simplesmente, centenas de milhares de soldados jovens arrancados às famílias e à produção de riqueza possível no território metropolitano, e um regime despótico já com marcas claras de divisão dentro de si próprio e sustentado apenas em uns tantos ultras e na polícia política.

- é este quadro que marca cá dentro, o mesmo tipo de acção que os movimentos de libertação haviam seguido antes, igualmente sem qualquer tipo de saída política para os problemas internos do País e para a solução da questão colonial, e é neste quadro que parece legítimo ler e entender o caos que se gerou em Lisboa e o outro muito maior que envolveu os portugueses residentes nas colónias.

- a chamada descolonização não aconteceu nunca porque descolonização tem que ser entendida como um processo em que as partes acordam entre si um estatuto de preparação de quadros e regras e de transferência progressiva do poder para novas formas de organização política dos locais em descolonização.

- e o que aconteceu de facto, está muito longe de configurar processo aproximado a esse ideal. Destapou-se apenas a caixa de Pandôra e de todos os malefícios nela acumulados durante séculos, aqui e lá, no simulacro de negociações só possíveis porque os movimentos de libertação tinham pressa de tomar o poder e ajustar as suas contas, e os responsáveis portugueses tinham pressa de descascar a batata quente.

- no centro de tudo isto, sem esquecer a sacrificada população local, coloquem-se aqui os portugueses, gente engajada na vida local de uma terra que consideravam sua porque nela tinham projectado o seu futuro, gerado e feito crescer os seus filhos, amealhado o que a sua capacidade permitia em bem-estar e meios, e que de um momento para o outro, sem compreender as razões de um povo que acabava de libertar-se de 50 anos de repressão e atraso, se vê expulsa dessa terra pela ameaça suprema sobre a sua vida e a dos seus, encaixotada em aviões e barcos grandes e pequenos, e caindo quase apenas com a roupa que trazia vestida numa terra a que já não se sentia ligada.

- e a verdade de cada um é a que cada um apreendeu do quotidiano e se consolidou no hábito prolongado e não contestado, adquirindo um estatuto perene e, aparentemente, imutável.

- a verdade destes portugueses é a que lhe aparece como traição dos militares e dos políticos de Lisboa que os abandonaram sem capacidade de se defenderem das ameaças nem organização própria que suportasse uma participação em pé de igualdade com as organizações da população local, na construção dos destinos daquela terra.

- a alegada descolonização não passa, neste quadro, por parte dos colonos brancos e de muitos negros que estavam do nosso lado, de uma fuga atribulada e massiva perante a completa impotência de se opor ou de participar no crescer da realidade nova e sem esperança de reversão da situação, sobretudo a partir da derrota do exército da África do Sul e de mercenários internacionais, entre eles, alguns proeminentes portugueses, e da constatação segura de que os Acordos de Alvor, assinados pelos três movimentos angolanos com discursos de exaltação da unidade, não passavam para nenhum deles de simples compasso de espera para se prepararem e ajustar contas com o passado e com o futuro.

- em relação aos militares portugueses ainda presentes no terreno até ao dia da independência, ainda que não seja de esquecer que poderiam com um pouco de habilidade, coragem e predisposição, ter feito bem melhor, a realidade ficou muito claramente expressa a partir do momento em que se assumiu que a guerra acabara e que a volta a casa se faria quanto mais depressa melhor e que para isso era necessário entregar o poder ou os poderes, fosse a quem fosse, e é seguro que as simpatias quase generalizadas e almirantizadas, seguiam na direcção do MPLA.

- como diz João Paulo Guerra no seu livro “O Regresso das Caravelas”, fomos o primeiro Império Colonial em África e também o último.


Sintetizando…

- a colonização e a descolonização dos territórios encontrados e ocupados a partir do século XV, têm uma relação muito claramente correspondentes nas formas, nos tempos, nas densidades da ocupação e nas características culturais dos colonizadores;

- as terras mais rápida e densamente povoadas; por grupos de cidadãos entre os quais abundavam técnicos e quadros com formação mais elevada, depressa se encontraram contrastados nos seus interesses individuais e de grupo pelas exigências metropolitanas, mais rápida e eficazmente se organizaram, reclamaram e obtiveram independência total sob poder branco e, quase sempre, no massacre das populações locais;

- as terras de ocupação posterior, em zonas de África mais temperadas, obtiveram uma autonomia progressiva e negociada sob a direcção de governos dos colonos mas com tomada do poder mais tarde pelas populações locais;

- as terras da África do norte e central, como a Argélia, Angola, Quénia, Moçambique, etc., tiveram ocupação mais tardia e menos densa e por populações brancas de menor preparação e aptidão técnica que ficaram sempre numa grande dependência militar e administrativa das respectivas metrópoles, não foram nunca capazes de se organizar como força reivindicativa credível para receber a transferência de poderes, e acabaram sem influência nas acções que levaram à independência e sem lugar nos respectivos aparelhos de Estado. Exceptua-se a esta regra, o caso do Zimbabwe, que teve um governo branco num pequeno período e logo desalojado pela acção das populações negras.


CONCLUSÃO

Como facilmente se constata, Portugal está incluído no terceiro grupo, isto é, no caso em que os colonos não foram capazes ou não quiseram organizar-se atempadamente para reivindicar a sua autonomia política e se viu confrontado com o nascimento de movimentos emancipalistas dos colonizados e sem a participação dos europeus ou dos seus descendentes, ainda por cima, recusando a negociação e preferindo a guerra prolongada e, no caso de guerras deste tipo, sem esperanças de vitórias definitivas, e geradoras de sofrimentos e de ódios crescentes e do consequente bloqueio das saídas para o problema.

É simplista a argumentação de que não houve nem racismo nem colonialismo português, baseada apenas na circunstância de condições específicas da colonização portuguesa e dos seus agentes directos, os colonos.

É igualmente simplista o argumento de que a culpa foi do 25 de Abril em Lisboa, dos militares cobardes e dos políticos que negociaram a transferência do poder.
O 25 de Abril era inevitável, necessário e só pecou por tardio face a um poder despótico, prolongado e constrangedor da modernização do País;

Os militares portugueses contabilizaram 13 anos de guerra, 820.000 jovens mobilizados, 8.831 mortos, 30.000 feridos, 15.000 deficientes e mutilados, e uma multidão de cidadãos que ainda hoje sofrem sequelas da sua participação no conflito.

Os políticos que negociaram a transferência do poder, fizeram-no no centro de um turbilhão que envolvia os interesses internacionais em jogo, a pressão popular gerada na metrópole contra a continuação da guerra e na iminência do paradoxo que era a conquista da liberdade e da democracia em Lisboa e a manutenção da guerra contra os movimentos de libertação que, previsivelmente, iriam aumentar a sua oposição armada contra a presença portuguesa, agora ainda mais legitimamente e mais apoiada internacionalmente.

De facto, o verdadeiro culpado do drama da descolonização nas suas formas e consequências particulares e globais, na destruição de milhares de vidas organizadas em África, do prejuízo de todas as partes envolvidas e do seu futuro civilizacional, foi o regime que cegamente se fechou ao movimento da história, ao exemplo dado por outras potência coloniais e a uma visão de alcance e de futuro, desencadeando uma guerra de 13 anos e, em muito boa parte, as guerras que se seguiram nos antigos territórios coloniais.

Pretender ignorar isto e buscar bodes expiatórios naqueles que, com maior ou menor grau, foram também vítimas, não parece razoável, nem pronuncia, nesta parte, o futuro de harmonia e de calma indispensáveis a este País.

Nota:
Os quadros apresentados, bem como a motivação e alguns considerandos, são colhidos no trabalho Ideologia Nacional dos Brancos Angolanos, de Fernando Pimenta, apresentado no VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, realizado em Coimbra em Setembro de 2004, com propósitos mais detalhados sobre uma leitura do fenómeno indiciado no título desse trabalho, propósitos, como é evidente, diferentes dos que dão forma a este texto.

Aconselham-se os leitores deste trabalho a consultarem tal documento que pode ser encontrado no site http://www.blogger.com/www.ces.uc.pt/lab2004/inscricao/pdfs, ou enviado a partir do meu endereço electrónico a quem manifestar desejo de o ler.

Aconselha-se ainda a leitura do livro "Angola, os Brancos e a Independência", igualmente de Fernando Pimenta, Edições Afrontamento, “O Regresso das Caravelas” de João Paulo Guerra, Oficina do Livro, “Passagens para África”, "O Povoamento de Angola e Moçambique com Naturais da Metrópole", de Cláudia Castelo, Edições Afrontamento, e outras obras de investigação independente sobre o fenómeno aqui abordado.

JB
__________

Notas de CV:

(*) José Brás foi Fur Mil na CCAÇ 1622 que esteve em Aldeia Formosa e Mejo nos anos de 1966/68, autor do romance "Vindimas no Capim", Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura.

(**) Vd. poste de 16 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5826: Controvérsias (65): A questão colonial (I): Colonização portuguesa - Particularidades (Introdução, Colonização e Ocupação) (José Brás)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5826: Controvérsias (65): A questão colonial (I): Colonização portuguesa - Particularidades (Introdução, Colonização e Ocupação) (José Brás)

A Questão Colonial (I)
Colonização portuguesa - Particularidades

José Brás*


INTRODUÇÃO


Este texto não pretende construir-se como abordagem científica ao grande tema da colonização portuguesa em África, trabalho, evidentemente, afastado das possibilidades académicas do seu autor, do método e dos meios de que está armado e só à disposição de investigadores na área da história, da sociologia e da antropologia, dispondo de tempo, de vontade e de um projecto adequado.
Portanto, qualquer tentativa de cotejo com estudos e trabalhos existentes ou sentidos como necessários, será dispensável por perda de oportunidade, razão e lógica.

A sua organização e apresentação aparece como consequência de uma intervenção prolongada do autor no blogue luisgraçaecamaradasdaguiné, sobre caso da Guiné em particular, e, inevitavelmente, sobre a temática geral da guerra colonial, campo onde se dividem opiniões construídas, não apenas sobre a questão restrita da guerra e das forças em presença, sobre as possibilidades de vitória ou de derrota, mas também sempre que é abordado o tema particular da descolonização, nas suas formas, tempos e consequências para Portugal, para os portugueses desalojados de África e mesmo para os novos países nascidos do desenlace.

Em especial, um comentário proposto por uma participante do blogue, viúva de militar português que esteve presente no campo de guerra da Guiné-Bissau, comentário e resposta cujos textos fazem parte do post 5754** e que por isso não parece necessário que se incluam aqui.
A resposta à questão colocada pela amiga, denota a preocupação por uma realidade presente no caso cultural português, bem como por uma visão sobre a possibilidade da existência de uma verdade e de uma razão múltiplas, construídas segundo experiências diferenciadas de cada protagonista das histórias de que se compõe a história do fenómeno social, económico e politico da colonização e da chamada descolonização.

Para o autor, parece de todo impossível construir-se uma verdade significativa e una sobre a descolonização e as suas sequelas, sobre a honradez de propósitos, o patriotismo e os valores humanos dos intervenientes directos na descolonização, políticos e militares, sem termos uma visão aproximada do processo de colonização desde as descobertas e das primeiras ocupações, do desenvolvimento civilizacional, das estruturas económicas que foram sendo instaladas progressivamente, e sobre o consequente relacionamento dos colonos com a população negra e com a metrópole de onde provinham.

Neste propósito, talvez demasiado alto em relação com os meios disponíveis, o autor avança, em primeiro lugar sobre a sua visão pessoal acerca do assunto, honestamente confessado como indissociável das suas opções sociais e princípios morais, e depois, na recolha de alguns dados e informação genérica em trabalhos de mérito existentes sobre o assunto.


COLONIZAÇÃO E OCUPAÇÃO

- a história ainda não abordou completamente a questão da colonização/descolonização na perspectiva dos papeis da potência colonizadora em geral, nem do colono branco, visto individualmente ou como grupo, quer no relacionamento com os naturais –negros e mestiços, quer dos brancos entre si e no relacionamento social, político e administrativo com Lisboa.

- especialmente, não o fez de forma simplificada e organizada de modo a torná-la clara para a grande massa dos cidadãos que, de uma ou outra forma, sofreram as consequências do fenómeno social nos diversos campos envolvidos.

- um facto a reter como inegável e independente da opinião de cada um, é a existência da colonização em si própria, com todos os ingredientes da prática colonial e da história registada –ocupação e exploração da terra, subalternização da população local, formação de uma estrutura social hierarquizada no que se refere a direitos e acessos aos bens tangíveis e intangíveis, existência de racismo mais ou menos acentuado. Negar tal fenómeno ou as suas partes óbvias e inevitáveis, será sempre um exercício próximo da troca de uma imagem subjectiva pelo real.

- a despeito do início de uma ocupação permanente de Angola por portugueses ter começado relativamente cedo com a fundação de Luanda em 1576, a ocupação do território limitou-se durante os séculos seguintes à orla costeira e próxima dos aglomerados –Luanda e Benguela, só se consolidou em épocas mais avançadas e de modo significativo já no século XX após guerras de grande violência contra a população negra e com a fundação da cidade costeira de Mocâmedes, e de Sá da Bandeira nas terras altas de Huíla, no Sul do território. Só no advento de nova vaga de colonizadores, nasceram outros aglomerados no interior, como Nova Lisboa (Huambo) e Malange.

- a colonização de Angola por portugueses, como a de outras zonas da África Central e do Norte por outras potências coloniais, diferiu significativamente da colonização na América, sobretudo pela relativamente baixa quantidade de colonos em África, comparando com o que se passou na América. Tais diferenças acabaram por determinar variações substanciais no comportamento sócio-político-administrativo dos colonos respectivos, em relação com o Poder e com a soberania dos seus países de origem.

- enquanto na América os colonos cedo fizerem sentir a sua discordância em relação às consequências económicas de uma exploração colonial que os prejudicava, e ao seu próprio desejo de expansão nos territórios e da formação de um poder local adequado aos seus interesses de grupo, interesses cada vez maiores e mais afastados dos interesses da pátria longínqua, em África isso não se fez sentir, nem tão cedo, nem com tanta veemência. Veja-se o caso do Brasil, para ficarmos apenas no âmbito português.

- mesmo em África, registavam-se diferenças importantes de caso para caso e de região para região, sendo muito maior em número e em ocupação, a presença de colonos ingleses na África do Sul do que na Rodésia, e de portugueses em Angola e em Moçambique, como se conclui no quadro seguinte, construído em evolução temporal.




- na ocupação e colonização das terras descobertas, podem também distinguir-se três períodos diferenciados e de cujas diferenças resultaram também diferentes consequências. O primeiro período envolve vagas de colonizadores portugueses, espanhóis e ingleses, na América onde os colonos conseguiram a independência dos respectivos territórios nos finais do século XVIII e início do século XIX. A segunda vaga envolveu terras de domínio britânico como a África do Sul, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, onde os colonos obtiveram formas de autonomia progressiva sob o domínio da população branca nos finais do século XIX e o início do século XX. O terceiro período abrange regiões do norte e do centro de África, entre elas Angola e Moçambique, Zimbabwe e Quénia, colonização muito mais reduzido em número de colonos brancos que pela fragilidade do seu número não consegui nunca qualquer forma de poder pela minoria branca, desembocando todos em independências conquistadas por populações locais, de forma mais ou menos violenta, exceptuando o caso especial e curto da Rodésia.

- outra diferença substancial entre as formas e o número de colonos envolvidos, bem com a dimensão das áreas ocupadas inicialmente, sendo uma limitada, como a portuguesa e espanhola na América Latina e na África central, incluindo Angola e Moçambique; outra substancial, como a inglesa na África do Sul e maciça com a eliminação quase total das populações e das culturas locais, como nos Estados Unidos, Canadá e Austrália, países que conquistaram rapidamente autonomia económica e independência política sob o domínio branco.

- outro facto que marca a realidade das colonizações inglesa e portuguesa, diferenciando-as com consequências no relacionamento local branco/negro e no relacionamento de brancos e de negros com a metrópole colonizadora. Enquanto a Inglaterra enviava para as suas colónias um número significativo de técnicos e dirigentes capacitados para tomar conta das questões ligadas à administração, à exploração dos recursos e à formação da mão d’obra local, Portugal retardou quanto pôde a emigração dos seus cidadãos para África, e quando não pôde evitá-la, enviou sobretudo gente de escassa formação técnica, e maioritariamente agricultores iletrados, saídos de vidas muito duras e pobres do nosso interior extremamente atrasado.

- tais diferenças explicam em grande parte, em primeiro lugar a forte consciência sobre a necessidade de autonomia dos colonos brancos ingleses e dos seus descendentes nascidos em África, e em segundo lugar a formação de uma consciência de nação e de reivindicação de autonomia por parte da população negra, enquanto nas colónias portuguesas foi sempre muito frágil esse fenómeno, quer da parte dos colonos brancos agarrados à santa terrinha, quer da população local, carecida dos líderes que a levassem à contestação.

- nas colónias inglesas fortemente ocupadas, a independência total com formação de novos países chegou cedo, tal como no Brasil no caso português; nas colónias inglesas não tão densamente povoadas, a autonomia foi progressiva e liderada por brancos, e nas colónias menos povoadas, foram os movimentos formados no interior da população negra, já mais educada, que reivindicaram e obtiveram a sua independência

- no caso português, é verdade que se ensaiaram alguns movimentos de colonos brancos para contestarem leis e regras da metrópole que consideravam prejudiciais aos seus interesses, e mesmo em direcção à discussão e organização de uma reivindicação mais marcada pelo desejo da autonomia e criação de governo local, porém, sempre esses movimentos demonstraram uma enorme fragilidade de organização e total incapacidade para concretizarem tal desejo em força.

- as sociedades nas colónias portuguesas sempre se mostraram fortemente divididas e hierarquizadas de acordo com conveniências e consciência de grupos distintos e de interesses também diferentes. Essa divisão, tal qual na metrópole, pôde manter o mesmo tipo de atraso e complacência perante um chefe duro, inimigo do desenvolvimento e fortemente ligado a uma religiosidade repressiva das mentes, tudo montado sobre uma ideia que punha Portugal e os portugueses como que destinados por Deus para conservarem a pureza dos costumes e a fidelidade ao céu.

- as sociedades nas colónias portuguesas estavam clara e fortemente divididas entre brancos, mestiços e negros e pela duplicidade das marcas dessa divisão, uma, apropria raça, brancos e negros, e outra, a circunstância da naturalidade que dividia ainda os brancos nascidos em África, chamados de euro-africanos, e os brancos chegados de Lisboa, considerados superiores aos naturais.

- na base dessas sociedades estavam os negros que apenas serviam de mão d’obra barata, e mesmo estes divididos em “assimilados” ou “indígenas”, pelo menos até à extinção do Estatuto do Indigenato, em 1961. Apenas os assimilados, 1% da população total, beneficiavam de cidadania portuguesa, sendo todos os outros apenas mão d’obra forçada.
Entre os negros e os brancos desenvolveu-se uma classe de mestiços que serviam de criados e noutras tarefas administrativas sob a direcção de brancos.

- os brancos superiores (brancos europeus) ficavam pelas cidades costeiras, criavam empresas de import-export, eram construtores civis, funcionários superiores de empresas cujos donos residiam fora de Angola, quadros administrativos enviado pelo governo de Lisboa.

- os “brancos de segunda” (população branca africanizada), viviam no interior, eram agricultores e comerciantes e sentiam com maior rigor a dureza das regras metropolitanas pelo choque dos interesses com os intermediários de Luanda e com o poder económico colocado fora do território.

- coisa que muitos portugueses um pouco mais evoluídos culturalmente mas apertados pelas más condições de vida que o atraso em que o regime mantinha e queria manter o País, frequentemente perguntavam quando pretendiam embarcar para Angola e lhe era negada essa possibilidade, era, porquê Portugal não fazia como Inglaterra e abria a emigração para as colónias a precisarem de desenvolvimento?

- provavelmente não sabiam que estavam com tal pergunta a contestar um dos fundamentos de um regime que se pensava nacionalista, temente a Deus, conservador dos bons e velhos costumes da obediência (manda quem pode, obedece quem deve ou se soubésseis o que custa mandar, preferíeis obedecer toda a vida), inimigo da educação escolar (mandou fechar a Escola do Magistério Público e substituiu a falta de professores por escolarizados com a 4ª classe e apregoava que um cidadão para ser feliz bastava saber fazer as 4 operações – dividir, multiplicar, diminuir e somar), defensor de um bucolismo rural profundo e de uma sociedade conduzida por cabo-chefe, regedor, presidente da junta e da câmara, tudo observado de perto pela polícia política e pelos safanões frequentes.

- não era tal política propícia ao desenvolvimento das colónias quando o não queria na metrópole As colónias seriam apenas as fotografias de um passado glorioso, invocado frequentemente não pelo seu lado mais positivo e brilhante como contributo ao desenvolvimento do mundo, mas como prova dos desígnios de um deus no verso das aspirações e dos direitos humanistas.

- daí que, exceptuando o exemplo do Brasil, envolto em razões idênticas às das colónias inglesas na América, Portugal nunca tivesse aceitado negociar, primeiro com colonos europeus, como fizeram outras potências coloniais, nem depois com os movimentos de libertação nascidos no seio das sociedades africanas negras, recusando o exemplo da criação de novos países e reprimindo com brutalidade qualquer demonstração de protesto, e mais tarde, sob a capa de invasão estrangeira invejosa da nossa grandiosidade, e da afirmação que eram apenas acções de polícia contra bandidos armados, a guerra de guerrilhas desencadeada no extremo das tentativas desses movimentos para negociar.

- de facto, para além de uma ou de outra tentativa de organização de colonos brancos com o objectivo de reivindicar mais autonomia e direitos, tentativas frágeis e esmagadas, nunca os brancos em Angola, de modo eficiente e claro, mostraram qualquer capacidade para organizar a reivindicação de tais propósitos, e menos ainda, a construção de uma qualquer ideologia e estrutura que os unisse contra a metrópole.

- e se não o foram capazes entre si, divididos profundamente e digladiando interesses diversos e diferenciados, que atitude poderiam apresentar perante uma população negra que conservavam iletrada e forçada, senão a da postura de superioridade racial e o tratamento da gente apenas como mão d’obra fácil e subjugada?

- evidentemente, tratando-se de um quadro global, isto não invalida as relações amistosas e humanas de um caso ou outro, individual e isolado, consequência de postura cultural e humana individual e sempre olhada com reprimenda por vizinhos e pelo sistema.

- aliás… que deverá chamar-se ao envio de negros moçambicanos, embarcados como gado em vagões de comboio, para trabalharem nas minas da África do Sul, de onde uma parte nunca voltaria, embora tivessem dado grossos capitais em ouro ao regime e ao Estado na metrópole?
Que deverá chamar-se à utilização de milhares de negros em Angola na exploração algodoeira na baixa do Cassange, reprimidos brutalmente pela aviação portuguesa perante protestos no limite do suportável?

- colonialismo e racismo não poderiam viver um sem o outro e, apesar das aparências de uma observação empírica e directa poderem fazer crer o contrário, não era menos colonialista nem menos racista o colonialismo português, antes pelo contrário, porque imposto por brancos menos preparados do ponto de vista académico e profissional que deixavam ao negro apenas as tarefas mais duras e menos exigentes do ponto de vista do saber.

(Continua)
__________

Notas de CV:

(*) José Brás foi Fur Mil na CCAÇ 1622 que esteve em Aldeia Formosa e Mejo nos anos de 1966/68, autor do romance "Vindimas no Capim", Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura.

Vd. último poste de José Brás de 13 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5808: Lembrando um dia duro, obrigado e fortíssimos abraços a todos (José Brás)

(**) Vd. poste > Guiné 63/74 - P5754: (Ex) citações (52): Falando de descolonização com Filomena Sampaio (José Brás) de 13 de Fevereiro de 2010

Vd. último poste da série de 8 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5791: Controvérsias (64): Os efeitos colaterais da guerra (Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519)

domingo, 15 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5275: Controvérsias (53): Polémica M. Rebocho / V.Lourenço: Por mor da verdade e respeito por TODOS os camaradas (A. Graça de Abreu)

1. Texto do António Graça de Abreu (na foto, à esquerda, na apresentação, na Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella, Memórias Literárias da Guerra Colonial, 2 de Outubro de 2008, do seu Diário a Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, Guerra e Paz Editores, 2007) (*)

O coronel Vasco Lourenço em caso polémico, quer reacção do Exército
por António Graça de Abreu


“Com as descolonizações, os povos criaram uma memória nacional por oposição aos colonizadores. Criou-se a ideia de que a expansão fora algo infamante, exigindo-se mesmo assunções de culpa. Ora, em meu entender, isso é tão disparatado como a glorificação desses colonizadores.”

Vitorino Magalhães Godinho, em Jornal de Letras nº 984, de 18 de Junho de 2008, pag. 13

A notícia vem no Diário de Notícias, há já mais de um ano, a 21 de Junho de 2008, pág. 16, da autoria do jornalista Manuel Carlos Freire. Agora, Novembro de 2009, quando o nosso Manuel Godinho Rebocho edita a sua tese em livro (**), talvez valha a pena recordá-la.

O coronel Vasco Lourenço (***), por quem não tenho especial simpatia, critica a ofensa feita aos oficiais do quadro permanente de “fugir à guerra colonial (1961-1974)”, sobretudo nas terras da Guiné, que surge aparentemente fundamentada na tese de doutoramento, “aprovada com distinção”, defendida pelo sargento-mor pára-quedista Manuel Godinho Rebocho, na Universidade de Évora e agora, Novembro de 2009, publicada em livro.

O Manuel Rebocho é um dos nossos, ainda há uns bons tempos atrás o tivemos no blogue a explicar que os restos mortais, as ossadas dos três pára-quedistas mortos e enterrados em Guidage, provavelmente ficariam na Guiné e jamais regressariam a Portugal, à Pátria, boa ou má, onde nasceram. Felizmente tal não veio a acontecer. O Manuel Rebocho também explicou, creio que muito bem, que o tenente-coronel pára-quedista Araújo e Sá era “um grande comandante” de homens, um militar que honrou as tropas pára-quedistas.

No nosso blogue, temos tido alguns defensores da tese da derrota militar na Guiné, da incapacidade das nossas tropas, não só os oficiais do QP, mas também os oficiais milicianos, sargentos e soldados, “sem meios”, vítimas do “colapso militar”,
“irremediavelmente batidos”, incapazes de responder à “supremacia militar” dos guerrilheiros do PAIGC.

Ora, segundo a tese de Manuel Rebocho, se os oficiais do exército do QP “fugiam à guerra colonial (1961-1974)”, imagine-se o que sucedeu na Guiné nos anos 1973/74, com os oficiais do QP a “fugir” e “os oficiais milicianos e os sargentos do QP a aguentar”. Em tão estranha situação, que não conheci, era inevitável a derrota militar.

Ou será que, como diz o coronel Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril e antigo combatente na Guiné, o sargento Manuel Rebocho “deturpa (de forma malévola) o que então se passou na Guiné”? São palavras do Vasco Lourenço.

Vamos ao texto publicado a 21 de Junho de 2008 no Diário de Notícias.

“A tese de doutoramento aprovada com distinção (2005) na Universidade de Évora, acusando a generalidade dos oficias do quadro permanente (QP) do Exército de fugir à guerra colonial (1961-1974), está a gerar uma onda de indignação em diversos círculos castrenses. Dois factos ocorridos este mês tiraram a tese da penumbra: no passado dia 4, o tribunal de Évora absolveu o presidente da Associação 25 de Abril (Vasco Lourenço) num processo movido pelo autor da tese Manuel Godinho Rebocho (sargento-mor pára-quedista na reforma) por causa de críticas feitas pelo coronel Vasco Lourenço. A 10 de Junho, o coronel Morais da Silva terminou a análise da tese, concluindo que, pelos “erros e conclusões sem fundamento bastante, não dignifica a Universidade de Évora.”

Na origem da polémica está a tese de doutoramento sobre a “A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975”. O autor sustenta que os oficiais do quadro permanente fugiram da guerra, a qual se aguentou devido aos oficiais milicianos e aos sargentos do quadro permanente.[1]

Entre outras afirmações polémicas, diz: “Porque os oficiais dos anos 60 fugiram da guerra, não reuniram as características das elites. (…) Em função disso, o Exército desmoronou-se; a cadeia de comando partiu-se; o Exército venceu-se a si próprio, a Academia Militar falhou na selecção e na formação psicológica das futuras elites militares, as quais não desempenharam as suas funções aos valores próprios e exigíveis a um Exército.” (pág 488).

Vasco Lourenço, referido directamente na tese, insurgiu-se quando Manuel Rebocho o convida para a defesa da tese (19 de Setembro de 2005):

“Não me ouviu, deturpa o que então se passou na Guiné, e convida-me?”, contou ontem ao Diário de Notícias o presidente da Associação 25 de Abril. Além de escrever ao autor, Vasco Lourenço transmitiu também o seu protesto à Universidade de Évora e ao júri[2], observando que “talvez não tivesse sido ouvido previamente por o doutorando (Manuel Godinho Rebocho) ter noção da malévola deturpação do que se passou na Guiné.”

Manuel Rebocho que o DN não conseguiu contactar, considerou-se ofendido e apresentou queixa em tribunal contra Vasco Lourenço, que foi absolvido, O presidente da Associação 25 de Abril vai agora pedir ao Exército e à Academia Militar que condena “por uma tese destas, sem suporte científico, seja aprovada.”

Este ponto surge como pilar central da crítica do coronel Morais da Silva cujo passado militar o fez sentir-se “enlameado” com a tese, que leu para “desmontar” os argumentos do autor. “Caracterizar um universo de centenas de capitães do QP (…) a partir do desempenho de dois elementos desse universo, mostra que o autor nada conhece da teoria da amostragem e, portanto, as conclusões a que chegou não têm a menor validade científica”, escreveu aquele oficial.


Este o artigo do Diário Notícias. O jornalista conclui lembrando que “Vasco Lourenço foi o comandante das forças que anularam a sublevação do 25 de Novembro, iniciada pelas tropas pára-quedistas e em que Manuel Rebocho participou”.

Repito, o que é que isto tem hoje a ver connosco, estarei a misturar alhos com bugalhos?

Vamos apenas para recordar que Vitorino Magalhães Godinho que cito no início deste texto, o coronel Vasco Lourenço, e já agora eu próprio, não são gente da direita nostálgica de qualquer passado colonialista.

No que a mim diz respeito, - e porque de direitista a esquerdista, já me colaram éne rótulos -, está tudo no meu Diário da Guiné, 1972/74, inclusive a referência ao meu processo na PIDE/DGS, com a cota dos documentos sobre mim elaborados pela PIDE, a partir de 1967. Quem quiser pode ir à Torre do Tombo consultá-los.

O que é que me tem levado a alinhar tantas páginas, às vezes um tanto magoadas, no blogue?

(i) O gosto pela verdade histórica;

(ii) O respeito imenso pelos meus camaradas de armas, meus irmãos na Guiné, agora também pelos oficiais do quadro permanente que conheci em Teixeira Pinto, em Mansoa, em Cufar, não propriamente no ar condicionado de Bissau, com quem convivi muito de perto durante 22 meses;

(iii) O respeito também pelo “inimigo”, os guerrilheiros do PAIGC.


Aprendi a respeitar o rigor da informação e a seriedade na análise histórica. Cometo naturalmente alguns erros, já escrevi, e não estou a ser original ao afirmar que cada homem é um mundo. Mas procuro olhar e entender a História (e estamos a falar da História Contemporânea de Portugal e da História da Guiné–Bissau), a nossa História, a partir de “uma investigação séria e rigorosa, como uma construção científica capaz de nos ajudar a compreender quem fomos e quem somos”. Estou outra vez a citar Vitorino Magalhães Godinho

Um abraço a todos os tertulianos, a todos os camaradas e amigos.

António Graça de Abreu

11 de Novembro de 2009

Ano do Búfalo

António


2. Comentário de L.G.:

"Sério, sereno, justo mas não justiceiro, tomando partido pela busca da verdade e do rigor historiográfico, sem deixar de ser caloroso e fraterno" - é um elogio que eu gostaria de poder fazer a todos os que escrevem no nosso blogue. Eu sei que há divergências de leitura, análise e interpretação, entre nós, no que diz respeito à guerra colonial e ao seu contexto histórico - nos planos estratégico, político, militar, social, económico e cultural... Não quero nem posso escamotear essas diferenças... Nem sempre é fácil sermos "calorosos e fraternos" quando não concordamos... Mas podemos ser "sérios, serenos e justos" na crítica...

Este contributo do António (que, tal como eu, ainda não leu o livro) é também um convite para olharmos, de vez, para o nosso passado, sem falsos saudosismos nem miserabilismos, mas também com frontalidade, verdade, orgulho... E sobretudo continuarmos a 'fazer pontes' com os outros povos (às vezes, parece que continuamos a 'fazer a guerra'... Ora o PAIGC foi, objectivamente, o 'nosso IN', no passado; mas war is over, a guerra acabou)...

No própximo dia 17, na ADFA, em Lisboa, o nosso camarada Manuel Rebocho vai apresentar o seu livro e nós vamos lá estar para o ouvir, a ele e aos seus convidados, com a mesma abertura de espírito com que estamos, estivemos e estaremos em eventos semelhantes (por exemplo, na apresentação do livro do Coutinho e Lima sobre a retirada de Guileje em 22 de Maio de 1973). São dois camaradas nossos, membros da nossa Tabanca Grande, que divergem na apreciação de muitas coisas, directa ou indirectamente relacionadas com a guerra colonial da Guiné.

O Manuel Rebocho é hoje doutorado em sociologia dos conflitos, por uma universidade pública portuguesa, a Universidade de Évora, e a sua tese, agora em livro, deve ser conhecida e lida, antes de alguém vir para a praça pública utilizá-la como se fora uma G3.

Não ignoro que o tema (as elites militares e a guerra colonial) é, em si, polémico, como o são, aliás, todos os temas de história contemporânea: não temos ainda a distância efectiva e afectiva para julgar o "nosso tempo"...

Eu ainda não conheço a tese (não está acessível, 'on line') nem ainda comprei nem li o livro. Não tenho por hábito e formação usar a G3 para impôr os meus pontos de vista. Na nossa Tabanca Grande a G3 é hoje, de resto, uma peça de museu. Quem a trouxer, se há quem ainda ande com ela, deve deixá-la lá fora. (Obviamente, isto é uma metáfora).

Todos os pontos de vista, devidamente fundamentados, sobre o livro do Manuel Rebocho - incluindo os aspectos mais académicos, teórico-metodológicos, de investigação científica - serão bem vindos e terão lugar no nosso espaço, que é livre, plural e aberto. Mas, desde já devo dizê-lo, não aceito que se diabolize ninguém. Controvérsias, sim, duscussão livre, franca e aberta, sim. Se possível, serena, calorosa e até fraterna, melhor ainda. Mas transformar o nosso blogue numa tribuna panfletária, não. Decididamente não.

[Revisão / fixação do texto / bold a cores / título: L.G:]

________________

Notas do A.G.A.:

[1] Será que Manuel Godinho Rebocho se esqueceu dos furriéis milicianos e dos nossos cabos e soldados?

[2] O júri era constituído pelo prof. Adriano Moreira, Joaquim Serrão (será o prof. Joaquim Veríssimo Serrão, antigo presidente da Academia Portuguesa da História. Se é, não posso acreditar!), Maria José Stock, antiga presidente do Instituto Camões, e que vai apresentar agora o livro do Manuel Rebocho, Maria Colaço Baltazar e o professor da Academia Militar coronel Nuno Mira Vaz, autor de um interessante livro Guiné 1968 a 1973, soldados uma vez, soldados sempre, Lisboa, Tribuna da História, 2003.

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3276: Memórias literárias da guerra colonial (3): O poder na ponta das espingardas, segundo A. Graça de Abreu (Luís Graça)

(**) Vd. postes de:

10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5243: Controvérsias (52): Elites militares, estratégia e... tropas especiais (L. Graça / A. Mendes / M. Rebocho / S. Nogueira)

29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5180: Agenda Cultural (39): “Elites Militares e a Guerra de África”, de Manuel Rebocho: 17 de Novembro, às 18h00, sede da ADFA - Lisboa


Sobre o Manuel Rebocho, vd. postes dele ou sobre ele:

27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

4 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1150: Carta a Pedro Lauret: A actuação do NRP Orion na evacuação das NT e da população de Guileje, em 1973 (Manuel Rebocho)

5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

17 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1187: Guidaje: soldado paraquedista Lourenço... deixado para trás (Manuel Rebocho)

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1453: Ninguém fica para trás: uma nobre missão do nosso camarada ex-paraquedista Manuel Rebocho

27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3674: Em busca de... (59): Ex-combatentes do BCAÇ 4616/73 (Manuel Rebocho)

16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)


(***) Sobre Vasco Lourenço:

Vasco Lourenço (à esquerda, em foto da capa do livro Vasco Lourenço do Interior da Revolução, entrevista de Maria Manuela Cruzeiro, Lisboa, Âncora, 2009):

" Nasceu em Castelo Branco em 1942. Ingressou na Academia Militar em 1960. Pertenceu à Arma de Infantaria. Combateu na Guerra Colonial, tendo cumprido uma comissão militar na Guiné de 1969 a 71. No dia 25 de Abril de 1974 era capitão nos Açores. Membro activo do Movimento dos Capitães, pertenceu à Comissão política do MFA. Nesta condição foi nomeado para o Conselho de Estado (24 de Julho de 74), passando mais tarde a integrar a estrutura informal do Conselho dos Vinte e a partir de 14 de Março de 75 tornou-se membro do Conselho da Revolução, funções que manteve até à extinção (1982). Passou à Reserva no posto de tenente-coronel a 20 de Abril de 88. Pertence desde a sua fundação aos corpos gerentes da Associação 25 de Abril" (Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra).

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4576: Bibliografia de uma guerra (49): Lista de 77 autores de obras sobre o fim do Império (Mário Beja Santos / Manuel Barão da Cunha)

1. Lista gentilmente enviada pelo nosso camarada Beja Santos, da responsabilidade de Manuel Barão da Cunha. Cor Cav Ref e escritor:

ALGUNS AUTORES DE OBRAS SOBRE O FIM DO IMPÉRIO (77) (versão 15) (a):


[Revisão / fixação de texto / notas adicionais entre parênteses rectos: L.G.]


* Afonso, tenente-coronel Aniceto: “O Meu Avô Africano”, a acção decorre no norte de Moçambique imediatamente antes do 25 de Abril; aniceto.afonso4@gmail.com, 963 047 043.

* Arouca, Manuel: “Deixei o meu coração em África”. [...]

* Bernardo, cor. Infantaria Manuel Amaro: “Timor: abandono e tragédia; a descolonização de Timor (1974-1975)” c/ Morais e Silva, “Prefácio”,2000, 271pp; “Combater em Moçambique – guerra e descolonização, 1964-75”, “Prefácio”, 2003, 452pp; “Memórias da Revolução, Portugal, 1974-1975”, “Prefácio”, 2004; “Guiné 1970-1980”, com prefácio de Ricardo Durão, ed. Prefácio, 2007, 410pp.

* Beça, coronel Carlos Gomes: “Angola – a luta contra a subversão e a colaboração civil -militar”, 1977.

* Brito, António: “Olhos de Caçador”, Sextante Editora, 2007,407 pp, capa com foto de Fernando Farinha, a acção decorre no norte de Moçambique, sendo o narrador o soldado Zé Fraga, compelido a ir para a guerra por ter estado preso e que acaba por ser ferido e ficar deficiente; romance bem escrito mas que beneficiaria com a diminuição de referências “merdosas”.

* Cabrita, Leonel Pedro ( Pedro C. ): “Os Capitães do vento”. [...]

* Cadilhe, Gonçalo: “África acima”. [...]

* Calvão, capitão de mar e guerra Guilherme Alpoim: “Contos de guerra”, com Sérgio A. Pereira, 1994.

* Caan, J. P.:”Contra a insurreição em África (1961-74)”, Ed. Atena, 1998.

* Cardoso, cor. Inf. Mário Vargas: …, inédito.

* Castilho, Rui de : “O Capitão do Fim”, “Prefácio”, 2002, 476 pp. Muito interessante, a acção decorre no norte de Moçambique, no final da guerra, sendo a personagem principal um oficial miliciano que acaba por ser graduado em capitão.

* Correia, majgeneral Pedro Pezarat: “Descolonização de Angola – a jóia da coroa do império português”, 1991.

* Cruz, Pompílio da: “Angola, os vivos e os mortos”, Intervenção, 1976.

* Cunha, cor. Cavalaria Manuel Barão da : “Aquelas Longas Horas”, 1968; “Tempo Africano”; “A Flor e a Guerra”; “Radiografia Militar”, “Na 23ª Hora do MFA”; “Tempo africano – aquelas longas horas em sete andamentos”, 2008.

* Faria, Joaquim: “Boinas Verdes, os soldados sempre tiveram voz”, ed. do autor, 2005.
* Fernandes, tencor Álvaro Henriques: “Kianda, o rio da sede”, 1996.

* Ferreira, coronel piloto aviador Amadeu (+): “Catana, canhangulo e arma fina”, 1964.

* Ferreira, Antunes: “Morte na Picada”, Via Occidentalis, 2008.

* Ferreira, Manuel Ennes: “Angola – Portugal, do espaço económico português às relações pós-coloniais”, Escher, 1990.

* Gomes, cor. Cav. Carlos Matos ( Carlos Vale Ferraz ) : “Nó Cego”, 1982; “Soldadó”, 1988; “Moçambique-1970”, Prefácio; (matosgomesCnetcabo.pt, 964 018 979 ).

* Gouveia, Daniel: “Arcanjos e bons demónios- crónicas da guerra de África 1961-1974”, “Hugin”, 2ª ed. 2002, a acção decorre em Angola. [...]

* Gueifão, dr. Carlos : “Mata Couros ou as guerras do capitão Agostinho”, Universitária Editora, 1998,177pp, o autor foi capitão miliciano, decorrendo a acção em Mafra, Lamego e Angola.

* Guerra, Álvaro(+): “O Capitão Nemo e Eu” [...]

* Guerra, João Paulo: “Memórias das Guerras Coloniais”, Afrontamento, 1993.

* Lavado, Ana Paula: “Vozes ao vento” ( 253 964 095, 962 642 975 ). [...]

* Lima, Coutinho e: “A Retirada do Guileje”.[2008]

* Lobo, Domingos: “Os Navios negreiros sobem o Cuando” e “As Lágrimas dos Vivos”, Veja, 2005.

* Loja, António: “As Ausências de Deus no labirinto da guerra colonial”, ed. Notícias, 2001.

* Lopes, tencoronel Rui de Freitas: “Manguços e outros, recordações de Angola”, 114 pp A4, inédito; “Quadros da minha tropa, 1ª série”, 95 pp A4, inédito.

* Lourenço, cor. Inf. Vasco : “No regresso vinham todos”, 1975.

* Machado, tenente cororonel António José de Melo: “Entre os Macúas de Angoche”, 1970.

* Machado, gen. Ernesto : “No sul de Angola”, 1956.

* Magalhães, Helena Pinto: “Mousse de Manga”, ed. “Oro Faber”, 2008.

* Magalhães, Júlio: “Os Retornados. Um amor nunca se esquece.”,A Esfera dos Livros, 2008.

* Maia, tenente-coronel Cav., dr. Fernando Salgueiro (+): “Capitão de Abril: histórias da guerra do ultramar e do 25 de Abril”, 1994

* Marcelino, cor. Inf. Rui : “Guerras da minha guerra”, inédito; ( rapmarcelino@netcabo.pt ).

* Martelo, David: “As Mágoas do Império”, Europa-América. [...]

* Martins, ten.cor. Inf. José Lomba, José Aparício (aparjose@gmail.com, 919 012 674, 217 597 965 ), cor.José Parente ( rparente@ndr.pt, 964 124 640, 217 270 017 ), ten.gen. Silvestre Martins, cor. Tir. António Botelho e outros 16 : “A Geração do fim - Infantaria 1954-2004”, “Prefácio”, 2007, 356 pp.

* Mata, Inocência e Laura Cavalcante Padilha (organização): “A Mulher em África, vozes de uma margem sempre presente”, Colibri, 2007.

* Matias, Abel: “Angola, paz só com Muxima”, Edições Ora & Labora, 1996, 1993, 267 pp.

* Mc Queen, Norrie: “ A Descolonização da África Portuguesa”, Ed. Império, 1998.

* Melo, general da FA Carlos Galvão de (+): “Um militar na política”, ed. Shinton Investments, 3ª ed. 2002, 235 pp.

* Mendes, ten.gen. do Ex. Reynolds : [...]

* Mendes, Abílio Teixeira: “Henda Xala”, com prefácio de Vítor Alves, Ulmeiro, Lisboa, 1984, 235 pp, o autor é médico e a acção decorre em Angola. [ autor já morreu].

* Mensurado, cor. Inf. Pára - quedista Joaquim Manuel : “Que nunca por vencidos se conheçam”,1993: “Os Páras na guerra”.

* Metzner, Leone: “Caso Angoche. Mais um crime”, Intervenção, 1979.

* Miguel, Ruy: “Os Últimos heróis do Império (1961–1974)”.

* Morais, cor. Cav. Carlos Alexandre de (+): “A queda da Índia portuguesa”. [...]

* Mourão, coronel Piçarra: “ De Guiné a Angola – o fim do Império”, Quarteto, 2004.

* Nunes, ten.coronel Art. António Lopes Pires : “Angola 1961, da Baixa do Cassange a Nambuangongo”; “Angola 1966-74, vitória militar no Leste”; “Operações em Angola (1961-1964), prémio Ministro da Defesa 1999; “Operações em Angola (1964-74)”.

* Ornelas, cap. Ayres de (+): “Carta de África – campanha do Gungunhana”, 1895.

* Passos, Inácio de: “Moçambique, a escalada do terror”, Literal, 1977.

* Paulo, ten. cor. (?) Cav. João Mendes (+): “Elefante Dundum” ( jou-canavarro@clix.pt, 917950000)

* Pais, cor. Inf.José C. (+): “Coisas de África e a Senhora da Veiga”. [...]

* Pinheiro, Pedro: “A Última Crónica da Índia”, Editorial Escritor, 1997.

* Pires, maj. gen. do Ex. Mário Lemos(+) : “Descolonização de Timor: missão impossível”, 1991

* Ribeiro; Margarida Calafate: “África no Feminino”. [...]

* Rocha, gen. Vieira da(+): “Acção da Cavalaria portuguesa no sul de Angola em 1914/15”, 1936.

* Rodrigues, tenente- general do Ex. Joaquim Chito : “Moçambique, anatomia de um processo de paz”, 2006.( chitorod@gmail.com ).

* Santos, cor. Carlos Afonso dos ( pseudónimo Carlos Selvagem ) (+): “Império ultramarino português”, 1920.

* Santos, dr. Mário Beja : “Na Terra dos Soncó”, ed. Círculo de Leitores, 2008, e “Tigre Vadio”, ed. Temas e Debates, 2008.

* Santos, Nicolau: “Jacarandá e mulemba”. [...]

* Santos, cor. Nuno Valdez dos : “O desconhecido Niassa”, 1964.

* Sena, tenente- coronel de Cav. João Sena ( pseudónimo Bernardino Louro) : “O Caçador de brumas” 2 vols, 3ºvol. inédito ( jose26do6@gmail.com )

* Schneidam, A. W. : “Confronto em África”, ed. Tribuna. [....]

* Silva, cor. Pil. Av. José Morais da : “Timor: abandono e tragédia”, com Manuel Bernardo, 2000:*Silva, tenente-general Mário Jesus da (+): “O Sortilégio da cobra”. [...]

* Silva, dr. Rui Neves da : “Milicianos – os peões das nicas”.

* Silveira, António (+): “Morto em combate”, recomendado pelo Júri do Prémio Caminho 1989, Ed. Caminho, 1990, 8000 ex., 191 pp.

* Simões, cor. Cav. Joaquim Ribeiro : “Adeus Goa, adeus Lisboa”, 1986; “Os Sinos de Bafatá”. [...]

* Soares, coronel Alberto Ribeiro : “As Mulheres na Guerra”, ed. Gráfica Combatente. [...]

* Spínola, marechal António de (+) : “Por uma Guiné melhor”, ed. Agência Geral do Ultramar (AGU), 1970, 400pp; “Linha de Acção”, AGU, 1971, 502pp; “No Caminho do Futuro”, AGU, 1972, 438pp; “Por uma Portugalidade Renovada”, AGU, 1973, 640pp.

* Teixeira, Armando Sousa: “Guerra Colonial, a memória maior que o pensamento”, Ed. Avante; comentário de Mário Beja Santos. [...]

* Vaz, cor. Cav. doutor Nuno Mira : “Opiniões públicas durante as guerras de África 1961/74”; “Chão de ventos”. [...]

* Verdasca, cap. Inf. José: “Memórias de um capitão – guerrilha em Moçambique”, Universitária Editora, 2003.

* Viana, Manuel: “A Balada do Pidjiguiti”, Editorial Escritor, 2001.

* Vouga, cor. Cav. Fernando Costa Monteiro (nome literário Costa Monteiro ): “Caminhos perdidos na madrugada”, romance, “Escritor”, 1999

Oeiras, 2009.01.26 a 06.24

Manuel Barão da Cunha, com a colaboração de: coronéis Manuel Bernardo e José Parente, drs. Carlos Gueifão e Mário Beja Santos e outros.
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Nota de L.G.:

(a) É uma lista bibliográfica em construção... Faltam-lhe muitos outros autores, incluindo membros do nosso blogue. Eis, a título meramente exemplificativo, mais alguns autores já referenciados no nosso blogue, em especial na série Bibliografia de uma Guerra (temos mais de 150 referências com a palavra-chave Bibliografia) (**):

Abreu, António Graça de - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, 2007.

Aguiar, Cristóvão de - Braço Tatuado - Retalhos da Guerra Colonial, 2ª ed. Lisboa: Dom Quixote, Lisboa (Colecção: Autores de Língua Portuguesa). 2008.

Antunes, José Freire - A guerra de África (1961-1974), 2 volumes. Lisboa: Temas e Debates, 1996.

Bacelar, Maj Gen Sérgio Augusto Margarido Lima - A Guerra em África, 1961-1974: Estratégias Adoptadas pelas Forças Armadas. Porto: Liga dos Amigos do Museu Militar do Porto, 2000.

Bastos, Manuel - Cacimbados: a vida presa por um fio. Babel Ed, 2008, 142 pp.

Brandão, José - Cronologia da Guerra Colonial: Angola-Guiné-Moçambique 1961-1974. Lisboa: Prefácio, 2008.

Branquinho, Alberto - Cambança, 2ª ed. [2009]

Cabral, Luís - Crónica da Libertação. Lisboa: O Jornal, 1974.

Chabal, Patrick - Amílcar Cabral: Revolutionary Leadership and People’s War. Trenton, NJ: Africa World Press, 2003.

Fernando, Beningno - O Princípio do Fim. Porto: Campo das Letras. 2001. 78 pp (Campo da Memória, 6).

Fraga, Luís Alves de - A Força Aérea na Guerra em África: Angola, Guiné e Moçambique 1961-1975. Lisbon: Prefácio, 2004.

Henriques, Fernando de Sousa - No Ocaso da Guerra do Ultramar: Uma Derrota Pressentida [...]

Lobato, António - Liberdade ou EvasãoO o mais longo cativeiro da guerra. Erasmos Ed. [...]

Loureiro, João - Postais antigos da Guiné. Lisboa: João Loureiro e Associados. 1997. 143 pp.

Melo, João de - Os Anos da Guerra, 1961-1975: Os Portugueses em África; Crónica, Ficção e História. Lisbon: Publicações Dom Quixote, 1988.

Monteiro, Fernando Amaro; Rocha, Teresa Vasquez - A Guiné do século XVII ao século XIX: O testemunho dos manuscritos. Lisboa: Prefácio, 2004.

Nóbrega, Álvaro - Luta pelo poder na Guiné-Bissau. Lisboa: ISCSP, 2003.

Oliveira, José Eduardo Reis de - Golpes de mão's: memórias de guerra. Prefácio de Alípio Tomé Pinto, Ten Gen [2009] [...]

Rei, Abel de Jesus Carreira - Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá. Memórias da Guiné (1967/68). (?): (?). 2002.

Reis, António - A minha jornada em África. Ed. Ausência [...]

Rodrigues, Luís Nuno - Marechal Costa Gomes: No Centro da Tempestade. Lisboa: A Esfera do Livro, 2008.

Rosa, António Júlio - Memórias de um prisioneiro de guerra. Porto: Campo das Letras.2003.

Spínola, Gen António de - Portugal e o Futuro. Lisboa: Arcádia, 1974.

Traquina, Manuel Batista - Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné. (?): Palha. 2009 (?). 230 pp., 70 fotos [Contactos do autor, ex-Fur Mil da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70: Telefones: 241 107 046 / 933 442 582; E-mail: traquinamanuel@sapo.pt]

Vicente, Mário - Pami Na Dono, a guerrilheira. Prefácio de Carlos da Costa Campos, Cor. Edição de autor. 112 pp. Estoril, Cascais. 2005

Vd. também:

A primeira série do nosso Blogue (Abril de 2005 / Maio de 2006)

Ver também as valiosíssimas página dos nossos camaradas:

Jorge Santos > Guerra Colonial > Bibliografia (com centenas de referências, de A a Z!!!)

António Pires> Guerra do Ultramar: Angola, Guiné, Moçambique > Livros

Vd. ainda no nosso blogue os postes de:

27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4430: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (3): Parte III (Bibliografia)

19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4380: Bibliografia de uma guerra (45): Entre o Paraíso e o Inferno, de Abel de Jesus Carreira Rei (CART 1661, 1967/68)

12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4330: Bibliografia de uma guerra (44): Memórias de um Prisioneiro de Guerra, de António Júlio Rosa (M. Beja Santos)

25 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3936: Bibliografia de uma Guerra (43): 14.º Volume da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (V. Briote)

4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3563: Bibliografia de uma guerra (40): Venturas e Aventuras em África, de Cristina Malhão-Pereira (Beja Santos)

28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3536: Bibliografia de uma guerra (39): Nó Cego, de C. Vale Ferraz. (Cor Matos Gomes)

18 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3478: Bibliografia de uma guerra (37): Cacimbados, de Manuel Correia Bastos: CART 3503, Mueda, Moçambique, 1972

10 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3430: Bibliografia de uma guerra (36): No ocaso da Guerra do Ultramar, de Fernando Sousa Henriques. (Helder Sousa)

26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3520: Bibliografia de uma guerra (38): Tempo Africano, de M. Barão da Cunha. (Beja Santos).

19 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3331: Bibliografia de uma guerra (35): Desertor ou Patriota, de David Costa: da brincadeira ao pesadelo... (V. Briote)

17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3907: Bibliografia de uma guerra (42): Escritor Combatente: "A Geração do Fim" (Mário Beja Santos)

27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2136: Bibliografia de uma guerra (19): Guiné-Bissau e Cabo Verde, uma luta, um partido, dois países (Parte III) (V. Briote)

28 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1323: Bibliografia de uma guerra (15): Os Mastins e o Disfarce, de Alvaro Guerra (Beja Santos)

(**) Vd. também as séries do nosso blogue:

Notas de Leitura
Memórias Literárias da Guerra Colonial
Agenda Cultural
A literatura colonial

terça-feira, 8 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2734: Guileje, colónia penal (1): Em 1897 havia um posto militar fronteiriço, português, em Sare Morsô (Nuno Rubim)

Mapa do Sul da Guiné no Final do Séc XIX, segundo Pélissier ( vd. René Pélissier - História da Guiné: Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936. 2ª ed. Lisboa: Editorial Estampa. 2001. 2 volumes).

Foto: Nuno Rubim (2008).


1. Texto do Nuno Rubim, Cor Art Ref, especialista em história militar, nosso prezado amigo e camarada:

Caro Luís

Aqui há tempos foi publicado no blogue um pequeno texto meu sobre a questão de Guileje ter sido considerado, de facto, uma espécie de "colónia penal" (1). Hoje trago à liça mais uns elementos que consubstanciam essa tese.

Porque vem de longe ... Pélissier, no 2º volume da sua obra sobre as guerras na Guiné, escreve, na página 191 (2):

"Em 1916, um dos tenentes de Abdul Injai, Alfa Modi Saidou, foi convidado a instalar-se em Guileje com 300 a 400 indígenas franceses provenientes dos bandos de Abdul Injai. As mulheres seriam exclusivamente prisioneiras feitas durante a campanha de 1915." (os sublinhados são meus).

Ora isto sucede numa altura em que já tinham terminado as negociações entre Portugal e França que tinham [definido] as fronteiras na região (1906). (Vd. Mapa, acima).

Cabe aqui abrir um parêntese. Toda a região a Leste de uma diagonal traçada no eixo do rio Cacine, para NE até perto do Rio Balana, pertencia à Guinée, colónia francesa [, hoje Guiné-Conacri]. Por isso aparecem no mapa supra as designações de Poste Français [, posto francês,] em Caconda e Cacine. Aquando da delimitação de fronteiras, essa região passou para o domínio português, por troca com a zona do Casamansa no Senegal.

Pormenor do mapa (ou carta) de Guileje (escala 1:50000): no quadro das Convenções, pode ler-se que há um símbolo que representa as aldeias abandonadas, como é o caso de Sare Morsô... Só um estudioso como o Nuno Rubim é capaz de ter olho clínico para estes detalhes que escapam à vista desarmada do leigo... (LG).

Mas a anterior linha fronteiriça era praticamente inexistente, não se sabendo realmente as áreas que pertenciam a cada país. Ora constatei, com surpresa, que, segundo Pélissier / vol. II, pp 60- 69, os portugueses instalaram em Sare Morsô, em 1897, um posto militar, a que deram o nome de Posto de D. Maria Pia (como era uso na altura, em quase todas as colónias portuguesas, nomes de rainhas ou princesas ) e que só foi desguarnecido cerca de 1901.

Surge essa designação, como tabanca abandonada, na carta 1:50000 da Guiné. Quando agora passei pelo chamado cruzamento do corredor [da morte ou de Guileje] ainda tive esperanças de lá poder dar uma saltada (cerca de 2,5 km do cruzamento ), mas infelizmente não tive tempo.


Segundo algumas informações o PAIGC teria ali instalado uma base durante a guerra.

(A continuar )

Um abraço

Nuno Rubim

____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 10 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1830: Guileje, uma espécie de colónia penal militar até finais de 1969... (Nuno Rubim)

(...) "Durante anos, após a minha permanência lá, ouvi referências sobre o facto de serem enviados para Guileje militares punidos ou indesejados de outras unidades do CTIG [Comando Territorial Independente da Guiné].

Apesar de ter tido uma experiência pessoal que parece ter confirmado este facto, só agora descobri, no AHM [Arquivo Histórico Militar], um documento oficial que esclarece totalmente a questão !

Mensagem Com-Chefe, Guiné, Dezembro 1969.

Retransmitido pelo Batalhão de Artilharia 2865, reponsável pelo Sector S3 (nessa altura em Catió), que englobava o sub-sector de Guileje. (AHM )

Por determinação superior “…

Considerada a situação de Guileje, cancelamento de mais transferências por motivos disciplinares para aquela guarnição” !!! (...)

(2) Vd. poste de 7 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P944: Historiografia das guerras de África: colaboradores, precisam-se (Nuno Rubim)

Sobre o historiador René Pélissier, ver ainda os seguintes postes:

27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2586: A História de Portugal em África vista pelo Prof. René Pélissier (I). (Virgínio Briote)

14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2266: Quem conhece o Inácio Maria Góis, autor de O meu diário, CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66) ? (René Pélissier)

sexta-feira, 21 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2670: Fez-se História em Guileje (Nelson Herbert)

Mário Soares, Presidente da República de então, presta a Homenagem de Portugal aos Militares do Exército Português caídos no solo guineense.

Foto: © Nelson Herbert (2008). Direitos reservados.

É de facto no culto dos seus mortos que as sociedades humanas, procuram tradicionalmente os mais delicados símbolos da sua coesão e identidade. Era assim entre os antigos gregos. Nas sociedades tradicionais africanas, a homenagem aos entes e antepassados mortos assume igualmente um notável destaque nas práticas rituais. A convicção de que os antepassados podem ter influência sobre a vida de gerações, constitui uma arreigada tradição nessas sociedades.


Cícero dizia que os antepassados quiseram que os homens que tivessem deixado esta vida fossem contados no número dos Deuses. Nesta perspectiva seria de facto natural que nas relações Estado-a-Estado, a maturidade dos homens, dos outrora inimigos, pudesse incluir com toda a dignidade, o culto dos respectivos mortos. Mas alguns episódios demonstram o quão de facto ínvio e difícil foram, por vezes, os trilhos dessa desejável catarse.


Mário Soares recebido à porta do cemitério de Bissau por uma manifestação pacífica e silenciosa de antigos combatentes da luta pela libertação da Guiné e integrada por outras igualmente vítimas dessa guerra, nomeadamente antigos soldados nativos que combateram sob a bandeira portuguesa.

Foto: © Nelson Herbert (2008). Direitos reservados.


Estes últimos, o mesmo grupo cujos direitos os governos portugueses teimam há décadas, a ignorar. "Render Homenagem aos criminosos da guerra colonial é ofender a dignidade dos Heróis guineenses e portugueses”, lê-se no cartaz.

Na foto é visivel o jornalista Nelson Herbert, a escassos passos da retaguarda da comitiva.



Ladeado pelo então secretário de Estado da Cooperação Durão Barroso e por representantes dos principais partidos portugueses, Mário Soares quis na altura dignificar esse capítulo da História comum, que alguns sectores, de um e outro lado das outroras diametralmente opostas trincheiras, teimavam em fazer calar na Memória colectiva dos dois Povos.

De facto, quando em 1953 Felicien Challaye escrevia "a colonização talvez seja a instituição que mais lágrimas fez correr", vinha ainda longe a Guerra na Guiné.

A guerra colonial ou de libertação teve no caso concreto da Guiné (eu catraio, na altura, indiferente e inocente aos acontecimentos) um dos seus cenários mais brutais e que acabou por deixar cicatrizes e, provavelmente, algumas cravadas na alma que só o tempo e a maturidade dos homens acabariam decerto por enjeitar.

E hoje, praticamente concluída que está a primeira fase do processo de exumação dos restos mortais dos militares portugueses de Guidaje (que consistia na definição dos limites das sepulturas, na identificação e exumação das ossadas com o apoio de técnicas geofisicas) e perante o eloquente sucesso que foi o Simpósio de Guiledje...de trincheiras irmanadas (a globalização estendendo também por aí os seus tentáculos?) curvo-me em reverência, para louvar a maturidade dos outrora inimigos.

E assim fez-se História!

Quartel da Amura, em Bissau > 7 de Março de 2008 > Guarda de honra a apresentar armas na homenagem dos antigos combatentes portugueses aos Heróis Nacionais da República da Guiné-Bissau, junto ao mausoléu de Amílcar Cabral.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

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Notas de vb:

Texto de Nelson Herbert

Voice of America
Washington, DC

1. Notícia do Vítor Tavares:

Hoje regressam os técnicos que estiveram em Guidage, na exumação dos restos mortais dos nossos camaradas, que já se encontram em Bissau onde aguardam os exames periciais. Pelas escassas imformações que tenho correu tudo bem.

2. ver artigos de

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2652: Guineenses da diáspora (3): Nelson Herbert, o nosso Correspondente nos EUA (Virgínio Briote)

14 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2639: O Simpósio de Guiledge na Voz da América (Virgínio Briote)

14 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2639: O Simpósio de Guiledge na Voz da América. (Virgínio Briote)