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terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20436: (In)citações (140): Com qualidades e defeitos, temos sido, no essencial, um povo que, como escreveu o Padre António Vieira (1608-1697), "tivemos a terra portuguesa para nascer e temos toda a Terra para morrer" (António Graça de Abreu, escritor, sinólogo e professor de historiador)

1. Comentário, ao poste P20427 (*), de nosso camarada António Graça de Abreu [ ex-alf mil SGE, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74). membro sénior da Tabanca Grande, com  240 referências no nosso blogue; foto à esquerda, em Pequim, na famosa Praça Tianamen, s/d, c. 1977/83]


Diz o Zé Belo: "Um povo que se respeite, deverá sentir orgulho na sua História, nos seus heróis, nos seus mortos." É isto mesmo, meu caro Zé Belo. ´(*)

Eu, às vezes, nem é bem uma questão de orgulho, mas depois de viver durante nove anos fora de Portugal, em três continentes diferentes, de conhecer um pouco melhor as pátrias dos outros, gosto muito de ser português. 

Sou, desde 2012, professor de História na Universidade de Aveiro, dou a cadeira Relações Históricas Luso-Chinesas, no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, Mestrado em Estudos Chineses, Universidade de Aveiro. 

Tenho também um mestrado em História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses, o nosso passado pelos quatro cantos do mundo não me é estranho. 

Reconheço que houve racismo, colonialismo, escravatura, todo um rol de práticas e fenómenos sociais que hoje, ano 2019, e bem, deploramos. Mas toda a análise histórica deve ser inserida nas mentalidades e práticas da sua época, compreendida de acordo  com os valores, ou a ausência de valores, que prevaleciam na época. 

Não gosto que sistematicamente Portugal e os portugueses do passado sejam catalogados de quase uma espécie de dejecto, de escória da espécie humana. 

Não gosto que os nossos militares em África sejam considerados criminosos, como ficámos recentemente a saber neste blogue, segundo o escritor Mário Cláudio, que afirma que na nossa Guiné "se esmagava o crânio dos meninos negros nos capôs dos Unimogs" e "se esfaqueavam negras grávidas, arrancando-lhe os filhos do ventre.", militares criminosos que, segundo Mário Cláudio, depois recebiam as mais altas condecorações nacionais.  

Estas tenebrosas fake news, como hoje se denominam, circulam pela sociedade portuguesa.

Padre António Vieira, detalhe de quadro de pintor
desconhecido do séc. XVIII
Com qualidades e defeitos, como de resto todos os povos, inclusive os que colonizámos,temos sido no essencial um povo que, como escreveu o Padre António Vieira (1608-1697) , "tivemos a terra portuguesa para nascer e temos toda a Terra para morrer", gente muitas vezes à deriva pelo mundo, que partiu de uma pátria pobre e quase isolada na Europa, mas com pessoas que, na sua esmagadora maioria, têm sido dignas do seu destino e úteis no crescimento e desenvolvimento das desvairadas terras por onde se fixaram. 

Não gosto de quem despreza o chão que o viu nascer, não gosto de quem se entretém a arrancar as suas raízes para as lançar na fossa fétida do tempo. (**)

Não tenho consciência de culpa por crimes que nunca cometi.

Abraço,

António Graça de Abreu
_________________

Notas do editor:


(**) Último poste da série  > 15 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20349: (In)citações (139): Recuperação do Monumento Português de Newport, EUA: "Pelo que tem de significado hstórico, pela sua ligação ao oceano que une portugueses e norte-americanos, pela sua importância na afirmação da Comunidade Luso-Americana, o Presidente da República saúda todos os compatriotas que asseguram a preservação do Monumento Português em Newport (excertos de carta, pessoal, enviada ao João Crisóstomo, em data de 4/11/2019)

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19657: O nosso livro de estilo (12): Atingimos os 11 milhões de visualizações na passada sexta-feira, dia 5... E comentar continua a ser fácil e necessário!... E mais tabancas e tabanqueiros são precisos!


EM 15 ANOS, 11 MILHÕES DE VISUALIZAÇÕES (1,8 ATÉ MAIO 2010 + 9, 2 MILHÕES ATÉ SEXTA-FEIRA, DIA 5

9,203,204



I. E COMENTAR CONTINUA A SER FÁCIL... SOB O SAGRADO POILÃO DA TABANCA GRANDE...



1. As opiniões aqui expressas, sob a forma de postes ou de comentários, são da única e exclusiva responsabilidade dos seus autores, não podendo vincular o fundador, proprietário e editor do blogue, Luís Graça, bem como a sua equipa de co-editores e demais colaboradores permanentes.

2. Camarada, amigo, simples leitor: Podes escrever no final de cada poste um comentário, uma informação adicional, um reparo, uma crítica, uma pergunta, uma observação, uma sugestão... (De preferência sem erros nem abreviaturas; evitar também as frases em maiúsculas ou caixa alta).

Basta, para isso, apontares o ponteiro do rato para o link Comentários, que aparece no fim de cada texto (ou poste), a seguir à indicação de Postado por Fulano Tal [Editor] at [hora], e clicares...

3. Tens uma "caixa" para escrever o teu comentário que será publicado instantaneamente, sem edição prévia, sem moderação, sem "censura prévia"(leia-se: triagem, moderação)...

Enviar um comentário para: Luís Graça & Camaradas da Guiné


1 – 1 de 1
Blogger Tabanca Grande disse...
Veteraníssimo Miranda Ribeiro: o que é feito de ti ? Não tens dado notícia. Espero que a vida e a saúde e tudo o mais estejam a correr bem. Daqui vai um abraço natalício do editor, amigo e camarada Luís Graça.
8 de abril de 2019 às 07:31
 Eliminar

Amigo ou camarada da Guiné: A tua opinião é muito importante para nós. Escreve aqui, com inteira liberdade e responsabilidade. Tal significa: respeitar as boas regras de convívio que estão em vigor entre nós; não há moderação dos comentários; limite máximo: cerca de 4 mil caracteres:



Pode utilizar alguns tags HTML, como <b>, <i>, <a>

 
 
 
 
Prove que não é um robô


No caso de teres uma conta no Google, deves usar essa identificação. Mas também podes entrar como "anónimo": põe no final da mensagem o teu nome, e facultativamente a localidade onde vives; sendo ex-combatente do ultramar, podes indicar o Teatro de Operações onde estiveste, local ou locais, posto e unidade a que pertenceste; e, se possível, evita as abreviaturas de nomes, siglas, acrónimos, pseudónimos...

Em suma, os camaradas da Guiné "dão a cara", não se escondem atrás do bagabaga...

Se voltares ao blogue, encontrarás logo a mensagem que lá deixaste. Repete as operações acima descritas para visualizar o teu comentário.

4. Escreve com total liberdade e inteira responsabilidade, o que significa respeitar as boas regras de convívio que estão em vigor entre nós: por exemplo,

(i) não nos insultamos uns aos outros;

(ii) não usamos, em público, a 'linguagem de caserna', o palavrão, etc. (a não ser textos mais literários, como um poema, um conto...);

(iii) somos capazes de conviver, civilizadamente, com as nossas diferenças (sociais, políticas, ideológicas, filosóficas, culturais, étnicas, religiosas, clubísticas,  etc., incluindo as fenotípicas - por exemplo, a cor da pele ou do cabelo);

(iv) somos capazes de lidar e de resolver conflitos... sem puxar da G3, da pistola Walther ou da catana;

(v) todos os camaradas têm direito ao bom nome e à privacidade;

(vi) não trazemos à baila (,ou seja, ao blogue) a "actualidade" (política, económica, social, ambiental, etc.)

5. Os editores reservam-se, naturalmente, o direito de eliminar, "a posteriori", rápida e decididamente, todo e qualquer comentário que violar as normas legais (incluindo as do nosso servidor, Blogger/Google), bem como as nossas regras de bom senso e bom gosto que devem vigorar entre pessoas adultas e responsáveis, a começar pelos comentários ANÓNIMOS (por favor, põe sempre o teu nome e apelido por baixo), incluindo mensagens com:

(i) conteúdo racista, xenófobo, homofóbico, pornográfico, etc.;

(ii) carácter difamatório;

(iii) tom intimidatório, provocatório ou persucotório ("ciberbullying", por exemplo);

(
iv) acusações de natureza criminal;

(v) apelo à violência;

(vi) linguagem inapropriada;

(vii) publicidade comercial ou propaganda claramente político-ideológica;

(viii) comunicações do foro privado, sem autorização de uma das partes.

Ocasionalmemte, alguns comentários poderão transformar-se em postes se houver interesse mútuo (do autor e dos editores).

6. Além dos editores [Luís Graça (Lourinhã), Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos),  Eduardo Magalhães Rodrigues (Maia), Virgínio Briote (jubilado) (Lisboa) e Jorge Araújo (Almada)], há os colaboradores permanentes, membros seniores do nosso blogue, que recebem, automaticamente, na sua caixa de correio (e apreciam depois o conteúdo de) todos os comentários: 

Cherno Baldé (Bissau);
Hélder Sousa (Setúbal);
Humberto Reis (Alfragide / Amadora);
Jorge Cabral (Lisboa);
José Martins (Odivelas);
Torcato Mendonça (Fundão);
Mário Beja Santos (Lisboa).



O seu papel é o de ajudar os editores a cumprir e a fazer cumprir as regras do nosso blogue. Alguns deles têm, aleatoriamente, poderes de administradores, podendo eliminar, de imediato, comentários que infrinjam as nossas regras editoriais, o que só muito raramemente acontece (ou aconteceu, em 15 anos de existência no nosso blogue).

II. COMENTAR É FÁCIL... E NECESSÁRIO!

Amigos e camaradas:

Originalmente (até julho de 2012) o sistema de triagem dos comentários era pouco amigável, era muito apertado... A intenção (boa) era a de prevenir e combater o SPAM automático (correio indesejado, publicidade, etc.)... 

Alertados para os problemas que estavam a causar aos leitores, desencorajando-os de participar, foram então feitas  as alterações que se impunham às nossas definições.

Assim, podem comentar com ou sem conta no Google, com ou sem foto... Como "anónimos", terão sempre que assinar (pôr o vosso nome) por baixo da mensagem...

O Blogger também simplificou a caixa de comentários,  tornando-a mais amigável e prático... Aos anónimos o sistema estava a exigir a cópia manual de um número e uma palavra, com letras pouco ou nada legíveis... Mas às vezes o teste anti-robô: identificação de imagens... Se entrares como anónimo, mas que dizer que és uma robô...

Amigos e camaradas: continuem a alimentar o blogue com os vossos comentários. É a "seiva" (vital) do poilão da Tabanca Grande. E "tragam mais cinco"!...



PS1 - Encontramo-nos em Monte Real, Leiria, dia 25 de maio de 2019, para o XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (, espero que não seja o último!...).

PS2 - O nosso coeditor, amigo e camarada Jorge Araújo (, que vive em Almada,)  deu-me, na sexta feira passada, uma boa e encorajante notícia, às 10h38: "Estou de partida para Almeirim, para um encontro de camaradas da Guiné. Iremos, durante/fim de almoço abordar o tema do nascimento (oficial) da TABANCA DE ALMADA."
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segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19376: O nosso blogue em números (58): em 2018, tivemos 3900 comentários, uma média de 3,3 comentários por poste... Voto para 2019: recuperar a média de 2015, de 4 comentários por poste...



Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


1.  Relativamente ao ano anterior  estamos com dificuldade em apurar o número exato de comentários que forem feitos aos 1189 postes publicados. O nosso servidor só nos permite listar os últimos mil, o que corresponde aos postes publicados deste 17 de outubro último até hoje, Há um problema técnico que que ainda conseguimos resolver... 

Podíamos somar os comentários um a um, o que seria trabalhoso. Utilizámos uma amostra dos 400 primeiros postes, a que correspondem 1177 comentários, e dos 243 últimos (de 17/10 a 31/12/2018), a correspondem  935 comentários...

O número de comentários, em 2018, não terá diferido do ano passado: aplicando a regra de três simples, deu-nos um total de 3923 comentários. A dividir por 1189 postes, temos uma média de 3,3 comentários por poste.

No final de 2017, o número de comentários tinha  atingido, no final do ano de 2017 um total de 70700. Com mais 3900 em 2018, teremos um total de 74600.  O número de comentários (, tal como o número de postes)  tem vindo a decrescer desde 2010 (Gráfico 6).

O número médio de comentários por poste, em 2017, foi o mesmo (3,2) do ano de 2009 (Gráfico 7). O recorde é 6 comentários, em média, por poste, nos anos de 2011 e 2012 em que publicámos um total de 1756 e 1604 postes, com 11 mil e 10,5 mil comentários, respetivamente... Em 2018 terá uma ligeira melhoria, com um número médio de 3,3 comentários por poste.

Os 74600 comentários registados no nosso blogue estão "limpos" de SPAM (mensagens não desejadas, publicitárias e outras), que é uma das pragas com que tivemos de lidar no passado. O nosso servidor, o Blogger, tem um sistema muito eficiente de filtragem de mensagens não desejadas, na caixa de comentários, se bem que isso possa inibir ou desmotivar alguns leitores, menos familiarizados com este procedimento.

2. Qualquer leitor, mesmo não registado no Blogger ou sem conta no Google, pode comentar como "anónimo"... As nossas regras exigem, no entanto, que no final da mensagem deixe o seu nome. Como "anónimo", o leitor terá sempre que "clicar" na caixa que diz "Nâo sou um robô"... (Ver exemplo abaixo.)

O ideal é usar a conta do Google: toda a gente um endereço de @gmail... Os comentários dão mais vida ao nosso blogue!...

Recorde-se que uma parte desses comentários pode dar (e tem dado) origem a postes, por iniciativa em geral dos editores mas também, nalguns casos, por sugestão dos autores. Por outro lado, alguns leitores queixam-se de terem perdido extensos comentários, certamente por terem tocado numa tecla errada... Nestes casos, é preferível escrever o texto em word, à parte  e no fim, fazerr "copy & paste"... É mais seguro...

Em 2019, para comemorar os 15 anos de existência do blogue,  vamos aumentar a atividade dos comentadores... Esperemos que se atinja pelo menos a média de 2015, de 4 comentários por poste... Camarada, não te inibas: escreve, na caixa de comentários, só para dizer que concordas ou discordas em relação ao que foi dito... No Facebook, sabemos que é mais fácil: gostas, não gostas, é tudo instantâneo como o pudim flã...

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Notas do editor:

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19095: O nosso livro de visitas (196): Comentário de Fernando Sousa Ribeiro, antigo combatente em Angola, deixado no nosso Blogue

Mapa de Angola
Com a devida vénia a uniaonet.com

O nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro, antigo combatente em Angola, deixou este comentário no Poste Guiné 61/74 - P19087: Bibliografia de uma guerra (93): “Tu não viste nada em Angola”, por Francisco Marcelo Curto; Centelha, 1983 (1) (Mário Beja Santos):

Muito gostaria eu de ler este livro, quanto mais não fosse para comparar a experiência vivida por Francisco Marcelo Curto, no início da guerra em Angola, com a minha, quase no fim da mesma guerra e quase nas mesmas paragens. As diferenças deveriam ser muitas.

Para se ter uma ideia do respeito que nos devem merecer aqueles que em 1961 partiram para a guerra no norte de Angola, pode-se chamar a atenção para o facto de que eles fizeram uma guerra para a qual não estavam minimamente preparados. Eles tinham sido preparados para uma guerra convencional, com grandes batalhas envolvendo exércitos de milhares de homens de um lado e do outro, e não para a situação caótica que foram encontrar em Angola. Tiveram que improvisar, tiveram que se desenrascar o melhor de que foram capazes. Muitos erros devem ter cometido e muitas baixas devem ter sofrido por causa desses erros. Vidas que se foram e não voltam mais. Famílias e famílias enlutadas.

O Mário Beja Santos chama a atenção para o facto de eles usarem capacetes. Capacetes debaixo do sol tropical?! Só se fosse para assar os miolos!, dir-se-á. Pois eles usaram mesmo capacetes! É verdade! A minha companhia em Angola também tinha capacetes de ferro para serem usados nas operações, mas eles ficaram sempre dependurados na parede do fundo do depósito de material de guerra, pois nós fazíamos as operações de quico na cabeça.

Eles também não empunhavam espingardas automáticas G3, mas sim espingardas de repetição Mauser, que eram muito mais pesadas e só disparavam tiro a tiro, ainda que fossem mais precisas e tivessem maior alcance do que as G3.

É preciso lembrar também que a máquina logística das Forças Armadas na guerra de Angola não existia ainda, o que implicava falhas graves no abastecimento das unidades que avançavam a caminho do desconhecido.

Não existia igualmente o dispositivo militar que acabou por ser implantado, baseado em batalhões e companhias espalhados pelo território, em sistema dito de quadrícula, o qual foi depois reproduzido em Moçambique e na Guiné. O dispositivo de quadrícula foram eles que inauguraram.

Um pormenor que nunca vi referido em lado nenhum e que eu acho importante é a má qualidade de muitas das armas e munições que foram usadas nesse tempo. Muitos mortos e feridos foram provocados, nos primeiros anos da guerra, por granadas de morteiro que explodiam logo no interior do tubo, por pistolas-metralhadoras FBP que desatavam a disparar sozinhas ao mais pequeno abanão, por granadas de mão que rebentavam logo no momento em que saltava a alavanca, etc. Os relatórios de algumas operações dos primeiros anos da guerra que eu li em Angola estavam cheios de incidentes deste tipo, com um longo e arrepiante cortejo de baixas.

Enfim, estas são as minhas primeiras impressões a respeito do livro de Francisco Marcelo Curto.
Fico a aguardar a continuação.

Fernando de Sousa Ribeiro

P.S. - Estive no norte de Angola, mas não conheci pessoalmente os locais referidos no livro.
Embora me encontrasse perto, eu estive um pouco mais a sul. Mesmo assim, posso dizer que no decurso de uma operação estive pertíssimo (cerca de 10 km) de Quipedro, onde se encontrava uma companhia de angolanos (a CCaç 104/72, se não me engano) que (dizia-se) foram transferidos para lá de castigo por terem feito um levantamento de rancho.
Se assim foi, custou muitas vidas o levantamento de rancho. Por exemplo, eles sofreram 6 mortos e um número de feridos de que não me recordo, só no "rescaldo" da operação referida.
Numa outra operação, muito mais calma, também não andei longe de Nova Caipemba, em cujas proximidades a FNLA tinha uma das suas bases mais importantes em Angola, a chamada "central do Dange".
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17868: O nosso livro de visitas (195): José Claudino da Silva, ex-1º cabo condutor auto, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74, autor do livro de ficção "Desertor 6520" (Lisboa, Chiado Editora, 2016, 418 pp.)

quinta-feira, 29 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18465: (Ex)citações (332): Comentário do historiador Armando Tavares da Silva ao Poste 18460: Notas de leitura (1052) de Mário Beja Santos



Beja Santos faz uma leitura e uma interpretação incorrectas do que está escrito em "A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)". Nunca aí se disse ter havido na Guiné “uma espécie de luta de classes entre o Governo/administração e os comerciantes”, ou mencionado algo que pudesse ser considerado uma tal “luta de classes”. Quanto a “alguns levantamentos”, faço-lhe ainda notar uma diferença que convém ter bem presente: o que “aconteceu na luta armada” é uma coisa, e o que “motivou a luta armada” é uma coisa totalmente diferente.

Mas vejamos o que está escrito na obra mencionada. O que nela se escreve, por exemplo, pela mão de Manuel Maria Coelho, é que uma “chamada política da colónia” tinha separado em dois grupos os seus habitantes, “nativos ou emigrados, quer da metrópole, quer principalmente de Cabo Verde, compreendidos os funcionários públicos e até os militares”. Podiam classificar-se “simplesmente [por] patriotas e antipatriotas”.

Acrescenta Manuel Maria Coelho:  

“Aqueles eram os que se sentiam orgulhosos por que a Guiné seja, efectivamente e inegavelmente uma colónia inteiramente portuguesa; e estes – os antipatriotas – os que se sentiam morder de raiva por a nação portuguesa, o governo, não continuarem à mercê das condescendências e das tolerâncias de quem exercia na Guiné um poder tão extenso e tão profundo, que as vidas dos cidadãos, e principalmente das autoridades, estavam pendentes das intrigas, dos ódios e das aspirações desordenadas desses ambiciosos sem escrúpulos”.

No relatório da sindicância de que tinha sido incumbido por António José de Almeida (1917), na qual que se incluía a abertura de um “rigoroso inquérito sobre a vida pública da província para assim se esclarecerem tantas e tão variadas queixas que chegavam ao Ministério das Colónias”, o mesmo Manuel Maria Coelho escreve que no decorrer dessa sindicância apercebera-se do clima de intriga política e de interesses das várias facções de que se compunha a sociedade guineense. Verificara que a presença do elemento cabo-verdiano desempenhava aí grande influência. Era o pano de fundo sobre o qual tudo se tinha passado e que em parte o explicava (as operações de Teixeira Pinto em Bissau em 1915 e o seu rescaldo, incluindo as acusações que a este foram dirigidas). Entre esta presença Manuel Maria Coelho ressalta a do secretário-geral, Sebastião José Barbosa. E escreve:  

“Sebastião Barbosa é de Cabo Verde, ilha do Fogo [...] e como quase todos os cabo-verdianos, do Fogo, principalmente, não têm o menor amor a Portugal, procurando todos os que pela Guiné se encontram, com raras excepções, tomar conta desta província, de cuja administração se apoderaram e que querem conservar em seu poder como colónia de Cabo Verde, porque a não consideram colónia portuguesa”.

Vejamos ainda o que disse o governador Oliveira Duque relativamente às operações em Bissau em 1915: para as iniciar teve de “lutar fortemente contra más vontades, que encontrei até em funcionários altamente colocados, más vontades que atribuía e ainda atribuo ao desejo de que as coisas se mantivessem no pé de soberania fictícia em que estavam, e outras provenientes de animosidades pessoais conta o capitão Teixeira Pinto”.

E sobre as acusações que a este foram dirigidas, escreve Oliveira Duque:  

“A reputação de cada um está na Guiné à mercê dos nossos inimigos Cabo-verdianos, Guineensese e também índios que, conjuntamente com alguns, raros, europeus pretendem fazer da Guiné um feudo para seu exclusivo usufruto, o que vejo com pesar que cada vez mais se aproxima do seu desiderato”.

Mas recuemos a 1891 e vejamos o relato dos graves acontecimentos de Bissau desse ano, das diligências tendentes a compreender e explicar a sua origem e a subsequente procura da paz e harmonia, relato que está cheio de referências a “intrigas”, e procuremos a sua razão de ser. Estes acontecimentos foram precedidos e desenrolaram-se no clima de hostilidade entre as duas tribos papeis da ilha de Bissau, Intim e Antula.

Ora o governador Gonçalves dos Santos estava convicto de que estas hostilidades se deviam às ”intrigas dos habitantes da praça” , que “formando dois partidos” entre os beligerantes ”alimentavam a guerra”. O mesmo governador dirá que “o gentio branco e mulato (filhos da ilha do Fogo, principal colónia em Bissau) estão [...] mancomunados com os gentios e grumetes para nos desrespeitarem e desacatarem a autoridade; e os estrangeiros colaboram neste vil procedimento”, fim para que se serviam de “intrigas de toda a ordem”. E na procura de nomes dos instigadores do clima de desconfiança, um grumete afirma que “se fossem só portugueses e não do Fogo os que estavam na praça, não havia nunca guerra, nem com os grumetes, nem com Intim”. Pode perguntar-se: houve aqui algum “levantamento”?

A terminar mencionemos as palavras de Vellez Caroço no seu relatório de 1921-22 referindo-se aos problemas e dificuldades que teve de enfrentar para fazer “o saneamento” da província. Com a “compreensão nítida do presente” e a “visão segura do futuro” escreve Vellez Caroço:
“Cairei, prestando um serviço ao meu país, sacrificar-me-ei servindo a República, porque o embuste, a falsidade e o despotismo jamais voltarão a imperar na Guiné, e a obra metódica e persistente da desnacionalização desta rica província, que dia a dia se ia afirmando, teve aqui o seu termo. Como governador assim o espero, e como patriota assim o desejo”.

Vellez Caroço tocava aqui num ponto que outros que o antecederam já tinham sentido: a tentativa surda de afastamento da colónia da esfera de influência portuguesa. Ainda no mesmo relatório escreve Vellez Caroço:  

“Hoje já é vulgar ouvir na Guiné, entre o elemento cabo-verdiano, que nós somos estrangeiros”.

E pergunta: O que seria se “por qualquer motivo esta colónia amanhã deixasse de estar debaixo do domínio português?”

Por considerar que “a obra de desnacionalização [da] colónia era lenta, mas era contínua e persistente”, tornava-se necessário actuar para que não se continuasse a dizer que a Guiné portuguesa era “uma colónia de Cabo Verde”. E para isso era preciso mais atenção dos “compatriotas metropolitanos”, para que para a Guiné “lancem as suas vistas […] e para aqui venham trabalhar”.

E, a propósito, nota que “o nativo da Guiné tem tantos direitos como o natural de Cabo Verde, e na sua colónia, até tem mais. Auxiliemo-los, pois, nesta simpática empresa. Façamos do guineense um cidadão português com plena consciência dos seus direitos e correlativos deveres”. Era um desejo patriótico do governador, porventura difícil de atingir.

Para finalizar e voltando às considerações de Beja Santos em que refere o “projecto de independência de que Amílcar Cabral foi a bandeira”, creio poder dizer ter esse projecto terminado com os acontecimentos de 14 de Novembro de 1980. É bom perguntar-se: que motivação esteve na base destes acontecimentos e quais foram as suas consequências?

E os “grandes comentadores” que dislates é que cometem? É preciso é não ir atrás deles...

Armando Tavares da Silva

PS: Veja-se o meu Post P17819 de 3-10-2017[1] no qual estas questões são afloradas e se constata que Beja Santos nos comentários à obra acima referida resumiu a duas linhas a presença de Manuel Maria Coelho na Guiné, na prática olvidando um período de tempo e de acção reflectidos em quase dois capítulos desta obra.
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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 3 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17819: Historiografia da presença portuguesa em África (95): A intriga política na Guiné, 1915-1917 (Armando Tavares da Silva, historiador)

Último poste da série de 10 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18400: (Ex)citações (331): Os problemas no CTIG logo em 1963: memórias de cá e de lá (Jorge Araújo)

terça-feira, 26 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P16019: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (2): Dez comentários aos primeiros 1500 postes



Guiné-Bissau > Maqué > 2006 > " O mais belo poilão que conheço da Guiné" (Paulo Salgado) [. na foto, o Paulo Salgado, sentado, e Moura Marques, de pé, ambos antigos militares da  CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72].

Foto (e legenda); © Paulo & Conceição Salgado (2006). Todos os direitos reseravdos


1. Na festa dos 12 do nosso blogue (*), fizemos uma seleção (rápida de 10 comentários aos primeiros 1500 postes de um total de 16 mil já publicados desde 23/4/2004. Atenção, que passámos a ter comentários escritos a partir de  25/9/20054, ao poste P188:






Dunyazade disse...

Fiquei parva com esta história - de link em link cá cheguei. Está lá o coração todo.  E mais parva fiquei por este post não ter comentários. Os portugueses ignoram aquilo que não querem saber? Parece-me o caso. 

[20/1/2006]

4 de janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - P399: Pensando... A Guiné que eu (vi)vi (1968/70) (José Teixeira)

Anamargens disse...

Eu tive um tio na Guiné, marido e cunhado em Angola, irmão em Moçambique, na(s) Guerra(s). Nunca vi nada. Pouco ouvi de relatos. Não esqueci. E continuo a achar que não pode ser esquecido.
Aprecio que quem viveu deixe o seu testemunho. 

[6/1/2006].

Manuel Araújo disse...

Parabéns e obrigado, por despertar em mim a saudade e vontade crescente de voltar ao Olossato antes de morrer.

Regressei no dia 14 de Outubro de 1974, eram 11:45 da noite e, desde o regresso, nunca encontrei nenhum camarada do BCAV 8320/73 (2ª CCav)

Coloquei estas fotos no meu blog, para ver se "aparece" alguém:

http://manuelaraujo.blogspot.com/1999/09/guin-olossato_24.html
http://manuelaraujo.blogspot.com/1999/09/guin-olossato.html

Se alguém se reconhecer aí, entre em contacto comigo por favor...

Um abraço ao mentor deste espaço e muito obrigado.

Araújo 
(o Braga das Transmissões) 
[16/1/2007]


17 de maio de  2006 > Guiné 63/74 - P765: Foi em plena guerra colonial que nasci de novo (Padre Mário de Oliveira)

adavid disse...

Também estive em Mansoa (Janeiro de 1971-Janeiro de 1973) e a visualização da foto que ilustra este post não pode deixar de me comover. Ainda por cima servindo de suporte a um texto (magnífico) do padre Mário, por quem tenho grande apreço. É a primeira vez que passo por aqui. Irei continuar.

Um abraço. [21/5/2006].


28 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P810: Barro e Guidage, no tempo da CART 2412 (Afonso M.F. Sousa)

daniel matos disse...

Como estive 22 dias cercado em Guidage (Maio/Junho de 1973) gostaria de deixar também um testemunho. Tal como o posto de transmissões, nas fotos referidas também não aparece o abrigo do obus, destruído a 25 de Maio, onde me encontrava no momento do rebentamento da morteirada, com mais 15 camaradas, metade dos quais que ali se refugiaram durante um ataque do IN. Desses, morreram logo 6 (que dias mais tarde fui incumbido de enterrar nas imediações) e apenas eu não fui ferido (todos os outros se feriram com diferentes gravidades). A maioria pertencia à minha companhia (CCAÇ Ind 3518, Marados de Gadamael), que ali viu retidos 2 pelotões durante um abastecimento de cibe vindo de Bissau, fazendo segurança à coluna que inicialmente se destinava apenas a Farim. Não percebo por que razão esta Companhia nunca aparece referenciada nos acontecimentos de Guidage e nos efectivos que lá permaneceram nesses dias fatídicos. Aliás, o número de mortos em combate que muitas vezes é mencionado, parece-me incorrecto. Lembro-me de enterrar camaradas envoltos em lençois, por já se terem esgotado os caixões... Cordiais saudações

Daniel de Matos (ex-Furriel Miliciano) [23/8/2006]



7 de setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1055: Estórias do Zé Teixeira (12): O Balanta que fugia do enfermeiro

Anónimo disse...

Os jornalistas perguntaram a Holden Robertode Angola (fnla), logo a seguir ao 25 Abril de 1974, porque ao fim de 13 anos de luta de libertação, as populações quase nunca aderiram: Ele, que tinha sido educado numa missão protestante americana, respondeu: "Parecem coisas diabólicas, difíceis de explica"... 
Como eu vivi o antes, durante e depois da guerra quase sempre em África, (tenho quase 70 anos), faço como que um passatempo, tentar compreender como aguentámos 13 anos aquela guerra, e como o Holden Roberto, quase digo que são coisas diabólicas...Mas não digo: (Atenção que há 30 anos as minhas leituras são quase só referentes ao assunto), o que digo é que o "sucesso" se deveu aos milicianos e rasos, que foram "os senhores da não guerra" (e o Salazar sabia disso) e aos comerciantes que não arredavam pé...E ao inssucesso de todas as "falsas independências africanas" então, que vemos agora o resultado com os milhões de africanos a fugir para as Canárias. 

António Esteves Rosinha, Alverca [7/9/2006]


17 de setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1082: Notícias da CCAÇ 2402 e do BCAÇ 2851 (Raul Albino)

João Gomes disse...

Em primeiro lugar desejo saudar todos os que tem visitado e deixado impressões sobre a Guerra do Ultramar, em especial da Guiné-Bissau. O meu nome é João Gomes Bonifácio e fui Furriel Miliciano do SAM e pertenci à CCAÇ  2402 / BCAÇ 2851. Desejo enviar os meus parabéns ao ex-alferes Miliciano Raul Albino, e dizer-lhe que tenho tentado ler este magnífico blogue, mas muito devagar. Tambem eu gostaria de participar, mas a verdade é que por razões que ignoro, vejo muitos oficiais e poucos sargentos a enviar fotos e a comentarem. Espero que mais apareçam e falem das suas "guerras" para que todos saibamos como passaram a comissão de serviço, e ao mesmo tempo aprender mais sobre nós próprios, já que somos os únicos que compreendemos os nossos sacrificios passados em Có, Mansabá ou Bafatá.
Estou motivado para participar, tal como estou a fazê-lo na edição do segundo livro sobre a CCAÇ 2402, que será uma amostra não so desta Companhia, mas que também pode ser de qualquer outra Companhia e de qualquer ramo das FA.
Atualmente vivo no Canadá, numa cidade a cerca de 60 kms de Toronto.
Os meus cumprimentos para todos vós, em especial para o Autor deste blogue. Alguém tinha de fazer algo de bom. Parabéns. 

[24/11/2006]

5 de outubro de 2006 >  Guiné 63/74 - P1152: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (3): Braimadicô, o prisioneiro que veio do céu

Seringas do Jol disse...

Olá amigos!
Hoje 5 de Outubro, lá estive e pela 1ª vez, na  Mealhada,  no almoço anual da malta ! Correu muito bem e o "leitão" estava uma delícia !

Parabéns por este blog.
[5/10/2016]

António Ramos de CARVALHO - Lousã/Coimbra
(Furriel Enfermeiro 70/72 em Jolmete - Pelundo)


7 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1570: Convívios: Almoço-convívio de camaradas de Matosinhos (Albano Costa / Carlos Vinhal)


Cada vez que aqui venho, entre o muito que aprendo e o muito que me emociono, fico sempre com uma certeza outra: a da imensa dignidade da vossa camaradagem e da vossa ausência de ressentimento.
Aqui se destaca com grande evidência a generosidade, a sabedoria e a inteligência do papel das Forças Armadas...
Infelizmente... os mandantes de hoje parecem sofrer todos de memória de grilo!

Os melhores cumprimentos, Senhor e Senhores 


[7/3/2007]

8 de março 2007 > Guiné 63/74 - P1573: O Victor Tavares, da CCP 121, a caminho de Guidaje, com uma equipa da TVI (Luís Graça)

Osvaldo Tavares disse...

Para dedicar ao meu pai, Victor Tavares

A presença remota do passado, 
Nos sentidos, ainda tão vibrante, 
Questiona o que se tem apressado 
E contido neste peito infante! 

O passado é potencial tão presente 
Mas passível de transformação, 
Naquilo que hoje se sente 
Bem no fundo do coração! 

Num desenrolar de emoções 
Vão passando como um filme na mente 
As lembranças que fazem reviver 
A ascenção de uma vida tão ardente 

São belas recordações que inundam 
Com miragem o poder da fantasia 
As saudades de um tempo que não volta 
Mas invadem a alma de alegria 

Lembranças que abrem o caminho 
Como luzes que brilham com ardor 
E acalentam um grande sonho 
De viver um futuro com amor

 [18/3/2007]

________________________
Nota do editor:

(*) Último poste da série > 26 de abril de 2016 >  Guiné 63/74 - P16018: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (1): Heróis de uma guerra que nunca existiu e que por isso, vão não ficar para a história: o Paranhos, o Pimentel, o Peniche, o Pinto e eu (Luís Graça)


(...) 12 (doze!) anos é idade maior na Net (que nasceu no início dos anos 90 do século passado). Com menos disso, já muitos blogues morreram.

12 (doze!) anos é "manga de tempo", dava para fazer 6 (seis!) comissões na Guiné, desde o princípio ao fim da guerra (1961/74).

12 (doze!) anos é cerca de um sétimo da esperança de vida (média) de alguém como eu que, nascido em 1947, tinha aos 65 anos em 2012...

Camaradas (e amigos/as): 12 (doze!) anos é "manga de tempo"!... Por isso, o 12º aniversário do nosso blogue merece ser comemorado, por muito cansados que estejamos da guerra e da vida!... (...)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15590: O nosso blogue em números (38): O nº médio de comentários, por poste, foi de 4, em 2015, menos 2 do que em 2011 e 2012... Estamos a comentar menos, talvez o nosso filão se esteja a esgotar... mas por outro lado o sistema de filtragem do Blogger (para impedir o SPAM) é agora mais desmotivador para os nossos leitores: para se comentar tem que se dizer (e mostrar) que não se é nenhum robô!


Gráfico - Nº (médio) de comentários por poste e por ano: em 2015 foi de 4.


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)



1. O número de comentários atingiu, no final do ano de 2015, um total de 61400, mais 5730 do que no ano anterior... Em média por ano e por poste estamos agora nos 4 comentários (Gráfico supra).

Estamos a comentar menos do que nos anos anteriores, o que é normal: em 2011 e 2012, o nº médio de comentários por poste era de 6...  Também é sintoma de algum cansaço e de menos interesse pelo blogue, apesar de termos vindo a aumentar o nº de membros da Tabanca Grande. Muito provavelmente a "velhice" vem agora cá menos vezes do que a "periquitagem"...

Será que o "filão da Guiné" está-se a esgotar ?

Mas é bom não esquecer que agora é muito mais difícil comentar do que há um ano, apesar de continuarmos a funcionar sem moderação: o nosso servidor tem um sistema de filtragem que nos obriga a dizer (e a mostrar) que não somos nenhum robô... O objetivo (louvável) é impedir o SPAM nos comentários aos nossos postes... Mas o controlo pode ser maçador (e desmotivador) para alguns dos nossos leitores... O ideal é cada um de nós estar registado no Blogger, isto é, ter uma conta no Google...

Camaradas e amigos, aproveitem para dizer da vossa justiça, comentando este poste e estes números. LG
 ___________

Nota do editor:

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15147: Inquérito online: resultados preliminares, num total de 110 votos, 1 em cada 5 nunca teve férias; 3 em cada 4 veio à metrópole, uma ou mais vezes... Encerramento das "urnas": 2ª feira, 28/9/2015, 14h05


Guiné > Bissau > Bissalanca > Transportes Aéreos Portugueses  > Avião Super Constellation. Foto do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO), o primeiro à direita... Cortesia do seu blogue JERO > 10 de dezembro de 2009 > Lisboa-Bissau em nove horas. (Foto editada e reproduzida por LG, com a devida vénia).

A. Resultados preliminares da nossa sondagem desta semana, quando faltam 4 dias para fechar as "urnas"... Nº de votos apurados (até às 14h00): 110


SONDAGEM: "DURANTE A COMISSÃO, NUNCA VIM DE FÉRIAS À METRÓPOLE"


1. Vim uma vez  > 37 (33,6%)


2. Vim duas vezes  > 39 (35,5%)



3. Vim três vezes  > 6 (5,4%)



4. Fiz férias em Bissau  > 6 (5,4%)


5. Fiz férias nos Bijagós > 0 (0%)

6. Fiz férias no interior > 0 (0%)

7. Nunca tive férias  > 22 (20,0%)



Votos apurados: 110
Dias que restam para votar: 4 (até 28/9/2015, às 14h05)

Comentário do editor: mais uma vez se comprova que os leitores deste blogue (ou, pelo menos, os que votam neste tipo de sondagem digital) não representam (nem têm a veleidade de representar) o universo dos nossos combatentes que passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974...

Os resultados finais deste tipo de  "sondagem" dependem sempre da oportunidade e vontade do leitor (ou visitante) em responder... Por outro lado, nunca sabemos quem responde (e quem não responde): por exemplo, posto, arma, especialidade, ano em que foi mobilizado, etc.   Nem podemos garantir que não haja duplicações, ou até votações feitas com má fé (por ex., leitores ou visitantes que não foram combatentes no TO da Guiné, durante a guerra colonial).

No caso da licença de férias, no TO da Guiné, podemos partir de uma hipótese (meramente teórica): só 1 em cada 5 muito provavelmente estava em condições (nomeadamente financeiras) de ir passar férias à metrópole... Não esquecer que as passagens áereas custavam, na época, 4 contos, o que era o pré de 4 meses para os nossos soldados...

Numa companhia (grosso modo, 150 homens), estamos a falar de um máximo de  20% de elegíveis (ou sejam, 30, incluindo 1 capitão, 4 alferes, 15 furrieis e sargentos, e mais uns tantos cabos)... Ora esta sondagem sugere um resultado inverso: 3 em cada 4 de nós (75%) fomos de férias à metrópole... A explicação só pode ser esta: a amostra dos "graduados" (oficiais e sargentos) está sobrerrepresentada em relação às "praças" (soldados e cabos)...

Posso estar a "ver mal" o problema,. já que a minha companhia (CCAÇ 2590/ CCAÇ 12) só tinha um máximo de 60 quadros e especialistas metropolitanos, sendo os restantes (uma centena) soldados do recrutamento local,,, Não sei se a totalidade (ou a grande maioria) dos meus camaradas metropolitanos da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 vieram de férias à metrópole em 1970...

Desafiamos os nossos leitores a comentar os resultados preliminares desta "sondaem" que, à partida, estarão "enviesados"...  LG


B. Comentários dos nossos camaradas (*):



21 set 2015 14:44 

Nunca tive férias e nunca pensei vir à Metrópole.
Mas tive conhecimento de camaradas que vieram cá e já não voltaram à Guiné.

21 set 2015 16:16

Lamentando muito, sinceramente, quem não pôde vir e,
como já contei numa das minhas estórias no blogue (P4675),
vim à metrópole 3 vezes (30 + 5 dias cada).

21 set 2015 16:24

Fui para a Guiné em fins de Outubro de 1971 e vim de férias à Metrópole no dia dos meus anos, 21 de Maio de 72. Em Fevereiro de 73 voltei novamente de férias, na altura do carnaval. Sabendo o que me esperava na Guiné, foi preciso ter alguma coragem para voltar ao "local do crime", mas nunca me passou pela cabeça em dar à sola. Vim duas vezes de férias em avião da força aérea, beneficiando do facto de ser furriel paraquedista. Os soldados mais valorosos geralmente vinham uma vez de férias pela força aérea. Neste aspecto éramos uns privilegiados,mas também se pode dizer que éramos os mais sacrificados, não acham?

21 set 21015 16:26

Camaradas, esta pergunta para mim torna-se amarga, vim cá à metrópole uma vez, por morte do meu pai, faleceu em Novembro de 1967. Estava eu há sete meses na Guiné, como tinha direito à viagem gratuita pela força aérea, concorri e foi abrangido para vir cá em Março de 1968, estive cá um mês, de formas que foram uma férias amargas que nunca mais esquecem.

21 set 2015 16:29
Vim de Férias Em Outubro de 1971 para o casamento do meu irmão de quem fui padrinho.
Foi na TAP num Boeing 727 que vim e que regressei.
Penso que já existiam ou estarei enganado?
De Bafatá para Bissau vim nessa altura num JU.

21 set 2015 16:34

Vim 2 vezes, em Janeiro de 1970 e Janeiro de 1971.
O curioso é que, só agora me lembrei,
me falta pagar metade da segunda viagem...  

21 set 2015 19:23 

Não vim nenhuma vez, por motivos de ter sido ferido
e também por não ter disponibilidade financeira.

Carlos Vinhal
 21 set 2015 19:56 

Não sei se era norma oficial, mas na minha Companhia só se podia vir de férias após completados 6 meses de comissão, uma vez em cada ano civil, e toda a gente tinha que estar presente na época do Natal e Ano Novo.  Como chegamos à Guiné em 17 Abr 70, só depois de 17 de Outubro é que a malta pôde começar a vir à Metrópole. Como eu era o furriel mais novo (NM 19551569) só me tocavam 15 dias em Dezembro. Optei por vir só em Fev 71 (mais ou menos a meio da comissão), não tendo possibilidade de vir mais vezes, já que a nossa comissão acabava oficialmente em 17 Jan 72. Regressámos a 19 Mar 72.

Luís Graça
21 set 2015 21:45

Dá para perceber, pela tendência de voto, ao fim de quase meia centena de votações, que passar férias no interior (na tabanca, no quartel, no destacamento onde se estava colocado...) é uma hipótese meramente teórica... Mesmo Bubaque, nos Bijagós, devia ser um luxo, já nessa época...
Mas também havia, sim, senhor, quem fizesse férias [, de páscoa, por exemplo, ] em Bubaque...
A malta que estava em Bissau, podia tirar uns dias e dar um salto aos Bijagós...
Quem estava no mato, queria mas era ir a casa..

21 set 2015 23:19 

Vim duas vezes de férias.

22 set 2015 00:56

Vim uma vez, no mês de Maio de 1962,
um ano após a minha chegada.


Luís Graça
22 set 2015 06:02

Vim de férias em meados de 1970, uma ano depois do início da comissão, se a memória me não falha... Lembro-me de o avião da TAP fazer escala na ilha do Sal... Uma a duas horas... A TAP não podia, por razões "políticas", sobrevoar o continente africano...  O avião ia por "nossa" conta... Ver as pernas às hospedeiras de bordo estava "incluído" no preço... E tenho ideia que o consumo de bebidas a bordo era "generoso"... Começávamos as férias na "desbunda"... De Lisboa até casa (70 km) fui de táxi... Vir de férias, da guerra, era um luxo que não tinha preço!...

Carlos Silva
carlospintazevedo@gmail.com
22 set 2015 07:43

Férias,  nunca as tive ! ... Mas passei bons momentos em Bedanda, e outros menos bons como tudo na vida, nunca me arrependi do tempo que passei lá,  conheci nova gente com outra maneira de vida. Gente Humilde e tambem com sabedoria, sempre aprendi algo . Direi sempre não à guerra.

Vasco Pires [Brasil]
22 set 2015 13:13  

Vim duas vezes de férias. No GAC 7 permitiam um mês de férias por ano.  Lembrei-me que nas primeiras férias encontrei [ o ...], aliás, ele me procurou. A companhia dele embarcou, ele conseguiu uma licença pois havia o nascimento iminente de um filho; como soube que eu conhecia o quartel onde estava a companhia dele, queria saber como eram as coisas por lá.  Procurei fazer um relato realista,  não sei se foi pelo meu relato, mas ele resolveu cumprir a comissão
nas "bolanhas"... de Paris. 

___________________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 21 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15137: Sondagem: "Durante a comissão nunca vim de férias à metrópole"... A responder até ao dia 28

Vd. também:

sábado, 1 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14956: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (49): Relativamente ao desaparecimento do Alferes Leite, trata-se de um caso do qual ouvi falar desde a minha infância (Cherno Baldé)

1. Comentário do nosso amigo tertuliano Cherno Baldé, deixado, em 24 de Julho de 2015, no Poste 14922 do nosso camarada Virgínio Briote:

Amigo V. Briote,
Relativamente ao desaparecimento do teu colega Leite1, trata-se de um caso do qual ouvi falar desde a minha infância, pois o homem que lhes servia de interprete e facilitador era o meu tio Samba Baldé - vulgo Samagaia - (ver Guiné 63/74 - P4679: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (6): Uma gesta familiar, de Canhámina a Sinchã Samagaia, aliás, Luanda).

O meu tio, confrontado com problemas de uma Guerra de sucessão, após a morte de Branjame seu tio, afastou-se da zona de Canhámina e foi viver em Sare-Bacar, onde teria entrado em contacto com o comandante do pelotão estacionado no local. Foram presos na localidade de Kumakara, escassos quilómetros de Sare-Bacar (uma bolanha separa as duas localidades) e o objectivo da missão, aparentemente, seria o de promover a paz entre os guineenses e convencer a população deslocada a regressar com todas as garantias de segurança.

Enfim, o relato é o mesmo que acabas de escrever. A única diferença é que na versão que conhecia, não seria só uma mas seis pessoas, das quais 4 soldados metropolitanos e dois civis guineenses (um dos quais o meu tio), que em Dacar estiveram presos em celas separadas. Pouco mais de um mês depois, seriam soltos na fronteira perto de Sare-Bacar conforme tinham solicitado, acompanhados do Governador da região de Casamança.

Na verdade, entre outras causas, é de prever que o Senegal, mesmo não estando interessado em ajudar abertamente a guerrilha dirigida por Amílcar Cabral, também não estaria interessado no regresso para o território português (?) das populações refugiadas numa região de Casamanca, quase despovoada.
De notar que entre os refugiados contavam-se ganadeiros e chefes religiosos importantes que nenhum país inteligente pode dispensar de ânimo leve.
O meu tio acabaria por juntar-se aos outros e levar toda a família para a área de Kolda, na pequena vila (prefecture) de Dabo com um estatuto especial de refugiado de guerra.

Com um abraço amigo,
Cherno
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Nota do editor:

1 - Recordemos Virgínio Briote no P14922: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (VII Parte): Clara; Apanhado à mão e Entre eles

 O Leite era companheiro das mesmas lides desde há anos. De baixa estatura, magro, enfezado, aparência tímida e muita lábia, via-se que era desenrascado há muito. Estiveram no mesmo curso em Mafra, seguiram juntos no navio “Carvalho Araújo” para os Açores e separaram-se no cais de Ponta Delgada.

Encontraram-se, de novo no mesmo navio, no regresso ao continente.

Mobilizados para a Guiné, apanharam o comboio em Santa Apolónia, para o norte, para gozarem os dias de licença a que tinham direito e reencontraram-se em Campanhã para o regresso a Lisboa. Passaram os dias na capital, despedindo-se da vida boa que lá se vivia, até embarcarem no “Alfredo da Silva”. Na véspera do embarque fizeram questão de mandar vir lagosta e champanhe francês, no “Solmar”, ali nas portas de Santo Antão.

Davam-se, nem sempre ligavam às mesmas coisas, nem eram muito parecidos mas entendiam-se bem. O acaso fizera com que se juntassem nesse percurso. Já em Bissau, com o Capitão Marques, o Black e outros companheiros da viagem, separaram-se, até um dia destes.

Numa dessas visitas ao QG soube que o Leite tinha desaparecido.

A comunicação oficial era confusa, não se sabia ao certo se tinha desertado ou sido apanhado. Certo é que tinha sido levado para Dacar.

O Leite estava a comandar um pelotão reforçado em Sare Bacar, no norte, um pouco a leste de Cuntima, encostado ao Senegal, uma zona calma. O PAIGC, na altura, servia-se das fronteiras do Senegal como corredores de passagem para o interior que o Shenghor, problemas já tinha que chegassem.

Levava uma vida tranquila, mantinha boas relações com a população local. Terá sido abordado pela polícia, em território senegalês, quando, sentado a uma mesa, defrontava um frango de chabéu que lhe tinham preparado. Puseram-lhe as algemas e meteram-no num jeep a caminho de Koldá.

Depois de ouvido foi para a cadeia de Ziguinchor e por lá ficou umas semanas, enquanto se desenvolviam negociações, por intermédio da família, que o Estado Português não se meteu. A Igreja interessou-se, a Cruz Vermelha Internacional intercedeu, levaram-no para Dacar, onde foi presente a um juiz que decidiu recambiá-lo para Lisboa. Mas ele não queria, temia represálias, queria voltar a Sare Bacar. Semanas depois, acabou por ser entregue na fronteira às autoridades militares portuguesas. Soube isto da boca dele, dois ou três meses depois, na esplanada do tal Bento, momentos depois de ter sido chamado ao Governador-geral.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14660: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (48): Avião amigo ou inimigo!?

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10513: (Ex)citações (199): Nunca me considerei, não fui, não sou nem pretendo ser um “valentão” (Belmiro Tavares)

1. Mensagem do nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), com data de 10 de Outubro de 2012, com um esclarecimento dirigido a José Manuel Silva Estanqueiro que comentou o Poste 10476:

Caro Senhor José Manuel
Acabo de receber o seu comentário* ao meu texto sobre factos concretos e verídicos que eu vivi intensamente na famigerada guerra da Guiné.

1º - Antes de mais, pretendo informar que não tinha conhecimento que os não combatentes e/ou ex-combatentes doutros TO “ eram mal aceites” neste blog. Acontece que este é um blog de ex-combatentes da Guiné (apenas) e tem as suas regras como tudo na vida. Na verdade, cada um vê as coisas um pouco de acordo com a sua vivência dos acontecimentos e o seu interesse. Pretendo dizer que sendo a guerra da Guiné diferente – pior – das outras duas, nós vivemos os temas e reproduzimo-los de modo dissemelhante. De qualquer modo, uma coisa será ser “mal aceite” (a sua opinião), outra será ser proibido de entrar.

2º - Gostaria que o Sr. José Manuel me informasse:
a) Se é ex-combatente;
b) Se afirmativo, em qual TO participou
c) Qual o posto
d) Em que arma esteve inserido.

3º - Não compreendo que, em termos práticos, não distinga entre um oficial do QP e um do SG. Permito-me não explicar

4º - Se tem dúvidas que um castigo em OS prejudicava tremendamente o ex-militar (de novo na vida civil), apenas direi que um furriel miliciano da minha companhia – a gloriosa CCaç 675 – era funcionário das Finanças em Ponte de Lima; foi punido na Guiné e, quando chegou ao seu antigo posto de trabalho, foi informado que já não era funcionário público. Basta!

5 – Meu caro Sr: nunca me considerei , não fui, não sou nem pretendo ser um “valentão”; tenho, porém, duas pernas e dois braços (estes com uma mão no extremo de cada um) que, na defesa de superiores interesses dos meus subordinados (ou mesmo que sejam já ex-combatentes), seria capaz de usar, sujeitando-me à resposta do visado. Cumpre-me esclarecer que o alferes a quem transmiti o “tal” aviso era mais antigo do que eu. Ciente que esta situação era gravemente penalizadora para mim, eu não fugi à questão – a defesa intransigente dos meus Homens; em primeiro lugar os do meu pelotão… mas dos outros também. E valeu a pena! Que eu saiba nunca mais fez o mesmo.

6º - Não consigo, Sr. Estanqueiro, entender a expressão: “se fosse de Infantaria também mencionava?” não posso deixar de informar que a minha CCaç 675 – a gloriosa – era uma unidade independente; inicialmente adimos a um batalhão de Cavalaria – o célebre batalhão de Como; na parte final dependíamos de um batalhão de Artilharia. Tivemos um bom relacionamento com o Ten. Coronel de Cavalaria e também (quase o mesmo) com o Ten. Coronel de Artilharia. Com os capitães dos dois batalhões não nos demos bem nem mal, antes pelo contrário; com os subalternos tudo correu sempre sobre esferas. Pior foi a minha convivência – e a CCaç 675 também, com um ten./Cap./major que até me ameaçou com prisão… porque eu me recusei a caminhar… para o suicídio, o meu e o do meu pessoal. Ele, porém, não teve a coragem de pôr em prática as suas ameaças!

7º - Quanto aos seus considerandos sobre comandantes e chefes, meu caro Sr. José Manuel, apenas direi que um graduado tem de dar e transmitir ordens (não é o mesmo) e acima de tudo cumpri-las e fazê-las cumprir. Quanto às consequências apenas e especialmente me interessa o que os meus soldados pensaram de mim, na Guiné, e os seus juízos de valor durante os 46 anos que se seguiram ao nosso regresso, para já. Desde o nosso regresso, organizei “apenas” 46 confraternizações anuais e um sem número de “minis” que ocorreram em Lisboa e de norte a sul do País. A maior das minis ocorreu em Fermentelos (Águeda) com a participação de mais de 50 ex-combatentes – já não era propriamente uma mini!

8º - “Por isso ocorriam desastres”. Penso, Sr. Estanqueiro que entendi onde pretende chegar, mas afirmo categoricamente que nunca receei que tal acontecesse comigo; nunca pensei nisso; eu confiava plenamente nos militares à minha guarda e sempre senti que o contrário também era verdadeiro. Aliás nunca tive conhecimento efetivo – nem lá nem cá – de casos desses mas… diz-se muita coisa. O meu comportamento não mudava com a hora, e a temperatura ou o local onde nos encontrávamos; em Évora, em Bissau, em Binta ou no meio das matas mais cerradas ou mais abertas, nas viaturas ou em num barco, armados ou não, eu agi sempre do mesmo modo – eu era sempre o mesmo quer em combate quer a beber uns copos. De qualquer modo, Sr. Estanqueiro, só pode tentar beliscar-me quem teve a mesma vivência que eu e acima de tudo quem eu entender que tem capacidade moral, para agir como tal – até rima mas é verdade! A melhor resposta a tudo isto é dada pelos meus soldados – aqui incluo todos os da Companhia- não só os do meu pelotão. Permita-me Sr. José Manuel, parafrasear o estafado lema mas em sentido diferente do usual: “o povo é quem mais ordena”!

9º - Quanto ao agredir os empregados, Sr. Estanqueiro, aconselho-o (aceite se quiser) a não misturar alhos com bugalhos; não são compatíveis.

Para terminar:
Meu caro Sr. José Estanqueiro, alvitro que leia os meus textos no blog em que falo da gloriosa CCaç 675 – a família e seus componentes – e já são vários – e creia, caro senhor, que são puras verdades; não necessito inventar o que quer que seja (nem romancear) sobre o tema.

Última nota:
Aceito, perfeitamente, que trate por “senhor” quem não conhece. Como poderá o senhor, Estanqueiro, em sã consciência, tentar emitir juízos de valor sobre quem não conhece… minimamente?!

Por aqui me fico, aguardando os esclarecimentos solicitados, bem como qualquer réplica que o tema possa merecer.

Mui respeitosamente
Belmiro Tavares
10.10.2012
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Notas de CV:

(*) Comentário de José Estanqueiro ao poste > Guiné 63/74 - P10476: (Ex)citações (197): Carta aberta a Tony Borié (Belmiro Tavares) de 3 de Outubro de 2012:

Sr Belmiro 
Sei que neste blog são mal aceites todos os que não combateram na Guiné, mesmo sendo combatentes noutros TO. Pelo menos é a conclusão daquilo que vou lendo de cada vez que aqui venho. Mesmo assim não resisto em expor a minha opinião. 
Não concordo minimamente coma as suas teorias sobre disciplina. Não é preciso agredir ninguém para fazer cumprir as normas e regulamentos. E não me venha com a teoria que que os castigos à ordem prejudicava a vida civil.
O sr agredia soldados e ameaçava camaradas de igual posto por ser oficial e se achar um valentão. E teve a sorte de apanhar oficiais que não o puseram em sentido. 
Não percebi a referencia () ser do serviço geral. Se fosse de infantaria também mencionava? Também agride os e empregados do hotel?. 
Francamente, um chefe, líder não usa métodos desses. A diferença entre comandante e chefe está exactamente na capacidade de se levar os outros a fazerem o que nós queremos sem recurso a violência.
Os (co)mandantes esses recorrem a ela. Infelizmente à época havia muitos Belmiros. Por isso por ocorriam "desastres". 
Como não pertenço ao clã e sou penetra, trato-o por sr, pois foi assim que aprendi a tratar quem não conheço. 
Atenciosamente 
José Manuel Silva Estanqueiro

Vd. último poste da série de 9 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10508: (Ex)citações (198): O termo “batalha” pela ocupação da mata de Cufar Nalu poderá ser uma “figura de estilo”, à luz dos conceitos da ciência militar (Manuel Lomba)