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terça-feira, 1 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3008: O caso do embaixador de Portugal em Bissau (4): Não ao linchamento popular... (João Tunes / J. Mexia Alves)

1. Mensagem do João Tunes, cujo reaparecimento no nosso blogue eu só posso saudar, com amizade e apreço [O João está habitualmente no seu blogue Água Lisa (6)]:

Caro Luís,

Tenho assistido perplexo a esta guerra contra o embaixador português na Guiné. Decerto uma guerra fundamentada e justa, do ponto de vista dos seus promotores e dos indignados seguidores. Mas com uma componente emocional desbragada e uma tremenda carga agressiva nas palavras como se meio mundo desatasse, por um incidente que não testemunhou, à morteirada contra os muros da nossa embaixada em Bissau.

Claro que não ponho em causa o testemunho do Pepito nem da filha. Muito menos a gravidade da invocada falta de educação. Mas custa-me que se fuzile um embaixador português sem direito a legítima defesa, como me custaria para qualquer comum cidadão, delinquente que fosse. O MNE tem um orgão de fiscalização da actividade diplomática (não sei como se chama mas sei que o tem). Não seria mais correcto dirigir para aí a exigência da abertura de um inquérito à ocorrência e depois o apuramento das responsabilidades? Porque, como está a ser, não passa de um linchamento por justiça popular. Façam-no se o blogue para aí se voltar, mas fica aqui dito que não alinho em condenações sumárias. A mim basta-me fazer-te chegar esta declaração pois já não tenho idade para andar a dar tiros em embaixadores em incidentes que implicam no relacionamento do nosso país com países estrangeiros, o que pressupõe uma gravidade de intervenção que não se compadece com a leviandade de seguir-se a reboque da versão de uma das partes.

Abraço do
João Tunes

2. Também o Joaquim Mexias Alves nos acaba de mandar a seguinte mensagem sobre o caso do Embaixador de Portugal em Bissau:

Caro Luís e Camaradas;

Este caso do Embaixador tem andado a incomodar-me e tenho procurado palavras para exprimir o que queria dizer.

Já não preciso, pois o João Tunes encarregou-se disso, por isso, pedindo-lhas emprestadas, faço minhas as suas palavras.

É preciso saber tudo, o que aconteceu, o que pode ter acontecido, e o que já podia ter acontecido antes.

Os serviços respectivos que investiguem e decidam em conformidade, informando os interessados.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

3. De igual modo o J. L. Vacas de Carvalho, nos manda dizer: "Por mim aguardo até saber mais detalhes. Zé Luis"...


O Zé Luís, que é amigo da mulher do senhor embaixador, já nos tinha dito que ele, o senhor embaixador, era a educação em pessoa.. E eu respondi-lhe que, no mínimo, ele não fora feliz connosco, em Bissau, durante o Simpósio Internacional de Guileje (29/2 a 1/7/2008) e não parece ter sido educado para com uma lusoguineense e para com dois outros nossos amigos guineenses...

4. Comentário de L.G.:

Sou particularmente sensível às palavras do João Tunes: temos que saber gerir as nossas emoções, e nomeadamente em público, no blogue... Falei originalmente em "assobios e pateadas". Claro que estava a falar em termos metafóricos... Não quis inflamar a caserna e, muito menos, incentivá-la a pegar na G3 e no morteiro 60... Manifestei a minha solidariedade à Cristina, ao Pepito e à Isabel Miranda... Manifestei também a minha indignação (e é difícil fazê-lo sem alguma emoção, já que nenhum de nós é propriamente um animal de sangue frio...). Mas também estabeleci os meus próprios limites e as minhas regras. Retomo o que então escrevi (1):

(...) Pepito: Não conheço senão a tua versão dos acontecimentos. Todos os conflitos têm o verso e o reverso. Não creio, todavia, que tenham sido dadas quaisquer explicações (muito menos apresentadas desculpas) pelo senhor embaixador ou pela embaixada, relativamente a este incidente... Mas, conhecendo-te como te conheço, acredito na tua palavra e na tua versão dos factos. Herdaste do teu pai a verticalidade, a coragem e a honestidade intelectual. Não irias seguramente fazer deste incidente um caso público, a não ser por razões de dignidade (...).

Estou (ou estava na altura) seguramente mais preocupado com os nossos amigos guineenses e com as pequenas mazelas e sequelas que, eventualmente, este caso (algo insólito) possa (ou pudesse) ter nas relações de amizade e de cooperação entre nós todos... É fundamental que a Embaixada de Portugal em Bissau seja uma referência e um motivo de orgulho para todos nós, portugueses e guineenses. Quanto à falta de consideração e de respeito pelos antigos combatentes, a começar pelo Terreiro do Paço... bom, a isso infelizmente já estamos de há muito habituados. Não devíamos estar, mas estamos...

Resta-me dar, aqui, por encerrado este caso, a menos que os próprios serviços de relações públicas da Embaixada de Portugal em Bissau queiram - o que me parece de todo improvável - appresentar e divulgar, através do nosso blogue, a sua versão dos acontecimentos.

Não sei como funcionam os nossos representantes diplomáticos, quais são as suas regras de ser e de estar, a sua cultura profissional e institucional. Julgo que tradicionalmente cultivam o low-profile, uma vez que têm de ser discretos... A própria palavra diplomacia, pelas conotações que foi ganhando ao longo dos tempos, não parece ser compatível com a ideia de simplicidade, transparência, fairness, que esperamos hoje de uma administração pública pós-moderna... Pela nossa parte, queremos continuar a ser um blogue, aberto, emocional e socialmente inteligente, tolerante, plural, ético e friendly... Não somos seguramente um blogue caceteiro...

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Nota de L.G.:

terça-feira, 13 de maio de 2008

Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

Um exemplar do caça MiG 15, de origem soviética. Em 22 de Novembro de 1970, um dos objectivos da Op Mar Verde, era a destrição dos MiG 15 e MiG 17 estacionados no aeroporto de Conacri. Era uma ameaça real para a nossa Força Aérea e para os nossos aquartelamentos no sul da Guiné ? A siga MiG quer dizer, em russo, Gabinete de projectos aeronáuticos da URSS, que se especializou no desenho e construção de aviões de caça e de intercepção. Mikoyan e Gurevich são os apelidos dos seus dois primeiros engenheiros-chefes. O MiG 15, monolugar, com uma máxima de 1076 km/hora, tornou-se célebre durante a guerra da Coreia. O MiG 17 combateu na guerra do Vietname... O MiG 19 já era supersónico... Fonte: Wikipedia (Foto: copyleft).


1. Mensagem de Beja Santos, dirigida ao Antóno Graça de Abreu, com conhecimento aos nossos editores:

Meu prezado António Graça Abreu e prezados tertulianos:

Enviaste ao Luís Graça, enquanto eu estava de férias, uma apreciação a uma recensão que fiz a um dos livros mais tragicómicos que me foi dado a ler nos últimos anos, acerca dos fuzilamentos dos Comandos guineenses. Aí teceste considerações de elevado teor crítico ao conteúdo da minha recensão, chegando a referir que eu tinha feito declarações infelizes.

Por razões da vida profissional e que também se prendem com a conclusão do segundo volume [do meu Diário da Guiné, 1969/70], não pude responder ao azedume do teu mail. Serei breve. Por favor, estuda. Estuda o que escreveram Marcello Caetano, Spínola e Costa Gomes. Estuda os livros dos diplomatas que de 1972 a 1974 procuraram comprar armamento em Washington, Londres, Bona e Paris.

Quando um Presidente do Conselho propõe em plena sessão do Conselho Superior de Defesa Nacional, em 1973, que a maior parte do território da Guiné não é defensável, na actual conjuntura, a retirada estratégica para os territórios da península de Bissau, que guerra não está perdida?

Quando, nesse mesmo ano de 1973, o general Spínola depois dos acontecimentos relacionados com a chegada dos mísseis terra-ar e com a tentativa bem sucedida do PAIGC em atacar quartéis na Zona Norte com foguetões refere ao ministro do Ultramar que é indispensável armamento compatível sob pena de se entrar em colapso militar, qual a situação risonha de que dispunham as Forças Armadas, quando foi respondido que não havia armamento compatível?

Quando o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Costa Gomes, que se opôs à tese drástica do abandono da maior parte dos aquartelamentos, sugere superiormente a retirada de um conjunto de quartéis das Zonas Leste e Norte, que atmosfera de vitória, com que entusiasmo era possível combater?

Tudo isto está documentado, é público, é acessível a quem quiser ir às livrarias. O que ainda falta saber são duas coisas: a primeira, tem a ver com a documentação de chancelaria entre o Governo, as embaixadas e os representantes pessoais que dirigiram missões para adquirir armamento, essa documentação só estará disponível dentro de décadas; a missão secreta, em Londres, em Janeiro de 1974, entre representantes de Marcello Caetano e uma delegação do PAIGC continua por desvendar, por ambas as partes.

As guerras não se ganham nem se perdem quando as forças em contenda têm equilíbrio no que pensam e na força de que dispõem. Qualquer história da civilização explica como um avanço tecnológico pode levar à derrota de uma das forças em presença. A armada turca era muitíssimo mais forte que a frota de Afonso de Albuquerque. Só que este tinha as bombardas e a frota inexpugnável dos turcos foi desbaratada à entrada do Mar Vermelho. O mesmo se sabia em Lisboa do que representaria a entrada em cena dos MiG, era uma questão de meses (2).

Se subsistirem dúvidas sobre os livros que aqui refiro, posso levá-los para Monte Real. Aceita os melhores cumprimentos do

Mário Beja Santos.
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Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 30 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

(2) Já em 22 de Novembro de 1970, aquando da temerária invasão de Conacri, um dos grandes objectivos era a destruição da frota de MiG 15 e MiG 17, de origem soviética, que constituíam uma potencial ameaça às NT no CTIG. O PAIGC nunca teve aeronaves, ao que parece. Mas o regime de Sékou Touré, um dos aliado da União Soviética em África, poderia decidir em quakquer altura pô-los ao serviço do PAIGC... Felizmente, para nós, que nunca o fez. Também, ao que parece, nunca teve pilotos devidamente treinados. É possível que os MiG de Conacri não passassem, na época, de um tigre de papel... No entanto, a não-destruição dos MiG terá levado o comandante Alpoím Galvão a alterar os planos e a regressar à base, de imediato, depois de conseguida a libertação dos prisioneiros portugueses, a destruição das lanchas do PAIGC e de outros objectivos menores.

Vd. Fórum Armada: Fórum Não-Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa > Operação Mar Verd- 2ª Parte- A decisão e a preparação
(...) "Mas em Lisboa surgiram dúvidas quanto à validade da operação, nomeadamente da parte do Ministro do Ultramar, Joaquim da Silva Cunha. Ao mesmo tempo, em Bissau, Spínola e Calvão mudavam de planos quanto à operação. Alpoim Calvão propôs que já que se fazia um incursão a Conakry, se devia aproveitar a ocasião para libertar os militares portugueses feitos prisioneiros pelo PAIGC (cerca de vinte) e que eram mantidos na cidade. Spínola concordou e os planos para a operação foram sendo feitos.

"No entanto, começaram a ser equacionados outros objectivos. Se para a Marinha existiam as lanchas Komar e P6, para a Força Aérea existiam os caças MiG-15 e MiG-17 da Guiné-Conakry que, se pilotados por soviéticos devidamente treinados (como acontecia frequentemente em países aliados da URSS) poderiam tirar partido das limitações da Força Aérea Portuguesa, cujos Fiat G-91 não estavam vocacionados para o combate aéreo. Destruir os MiG da mesma forma como se destruiriam as lanchas eliminaria esta ameaça à supremacia aérea portuguesa" (...).

Vd. Fórum Armada: Fórum Não-Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa > Operação Mar Verde > 3ª Parte - A operação
(...) "A esta mesma hora é comunicado desde as equipas em terra que, segundo os soldados feitos prisioneiros, os Mig foram enviados para o aeródromo de Labé no dia 20, devido a uma remodelação ministerial. Uma falha da intelligence.

"Este é um grave revés para a operação já que a segurança das forças será seriamente comprometida pela possível entrada em acção dos MiG. As únicas armas anti-aéreas disponíveis são os canhões Bofors de 40mm que equipam as lanchas. Num espaço aéreo limitado como é o caso, com 10 canhões até há razoáveis hipóteses de atingir os aviões, mas os navios são alvos fáceis para um ataque aéreo. Alpoim Calvão dá ainda ordem à equipa SIERRA para destruir a pista antes de retirar, mas já não têm o morteiro e as minas de fragmentação para o poder fazer. A equipa reembarca na Hidra pelas 04h15.

"Falhada a destruição dos MiG, subsistia ainda a esperança de se encontrar Sékou Touré" (...).

domingo, 6 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2726: Fórum Guileje (13): Não foram as Forças Armadas Portuguesas que perderam a guerra (Paulo Santiago)


Mensagem do Paulo Santiago, de 25/03/2008


Após a leitura do P2679, escrito pelo camarada Mexia Alves, existem algumas questões que importa esclarecer. Comecemos pela frase A guerra da Guiné estava perdida.



Vou socorrer-me do livro Contra-Insurreição em África, de John P.Cann, oficial-aviador da Marinha norte-americana.
Cito da pág 255 do livro referido.

Numa análise final, enquanto Portugal lutava numa campanha imaginativa a fim de conservar as suas colónias numa época anti-colonial, não havia fibra militar que conseguisse superar o problema político da legitimidade de Portugal em África.

Devido a esta circunstância, Portugal perdeu a guerra e finalmente as suas colónias, apesar dos enormes sacrifícios feitos (…)

Em 1970, o General Spínola refreara o ímpeto do PAIGC e originara um impasse através de uma liderança enérgica e do seu progama social 'Uma Guiné Melhor'.

Este impasse começou a desaparecer em 1973, à medida que o exército compreendia que a solução política necessária não estava à vista (…) as forças militares não poderiam pôr fim à guerra.

Nenhuma espécie de campanha imaginativa conseguiria fazê-lo. O general Spínola e todas as forças armadas portuguesas estavam cientes deste facto. Contudo, os líderes políticos de Portugal permaneceram sem visão e afastados da realidade.

No post anunciado acima vem também a frase A política fez a guerra, a política acabou a guerra, e esta é a verdade.

Concordo com a primeira parte, foram de facto os políticos, a partir do Terreiro do Paço, que 'fizeram' a guerra, mas não foram eles que a acabaram, e volto ao livro referido, pág.256:




Administrou (o exército) habilmente a utilização das vidas e dos bens. Quando os políticos não conseguiram providenciar o necessário apoio complementar, foi o exército que interveio a 25 de Abril de 1974 e ofereceu a solução política que não só libertou as colónias mas libertou também Portugal e tornou possível a transição para a democracia.

Penso que não está a haver um endeusamento do PAIGC e um apoucamento das Forças Armadas Portuguesas, estas com os poucos meios disponiveis bateram-se arduamente sempre à espera da solução política que nunca apareceu.

Para terminar, façam o julgamento, pondo de um lado o Cor Coutinho e Lima que retirou de Guiledje, levando 800 pessoas, militares e civis, do outro o Cor Castro Lemos e o Lourenço que mandaram para o matadouro (Paulo Malu dixit) do Quirafo os militares, milícias e civis que nós sabemos.

Abraço
Paulo Santiago


_________


Fixação de texto da responsabilidades de vb.


Artigos relacionados em:



5 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2722: Fórum Guileje (12): Bombas de napalm e outras curiosidades da nossa visita ao Cantanhez (Nuno Rubim)


4 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2718: Fórum Guileje (11): Relembrando a velha Guileje do Zé Neto e do Eurico Corvacho, onde perdi 2 soldados em combate (Idálio Reis)


25 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2679: Fórum Guileje (10): Não ao endeusamento do PAIGC e ao apoucamento das Forças Armadas Portugueses (Joaquim Mexia Alves)


19 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2666: Fórum Guileje (9): O Simpósio foi uma festa, uma grande festa! (Carlos Silva)


18 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2662: Fórum Guileje (8): O nosso património histórico comum (Leopoldo Amado)

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2649: Fórum Guileje (7): A importância do Caminho do Povo (Paulo Santiago)


15 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2645: Fórum Guileje (6): Antes que se esgote... Gandembel (Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av Al III, BA12, Bissalanca, 1968/70)


15 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2642: Fórum Guileje (5): Que sentido dar a esta vaga de fundo ? Da guinefobia à guinefilia (Hélder de Sousa / Luís Graça)


14 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2638: Fórum Guileje (4): Minas aquáticas em Bedanda (Ayala Botto)


13 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)




12 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2626: Fórum Guileje (1): E Cameconde ? Cabedu ? E a nossa Marinha ? (Manuel Lema Santos / Jorge Teixeira / Virgínio Briote)

terça-feira, 25 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2679: Fórum Guileje (10): Não ao endeusamento do PAIGC e ao apoucamento das Forças Armadas Portugueses (Joaquim Mexia Alves)

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guiledje, 1-7 de Março de 2008 > 4 de Março de 2008 > Painel 1 (Guiledje e a Guerra Colonial / Guerra de Libertação). Moderador: João José Monteiro (Reitor da Universidade Colinas do Boé) > 16h30-17h00: Comunicação de Coutinho e Lima (Coronel do Exército Português na reserva e ex-comandante do COP 5 ): Factores considerados para tomar a decisão da retirada das forças armadas e da população, do aquartelamento de Guiledje: relato histórico do ex-comandante do COP 5. Vídeo com o final da comunicação (4' 54'').

Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes



1. Por merecer um outro destaque, volta a publicar-se o comentário do Joaquim Mexia Alves ao poste de 23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2678: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (2): A dolorosa decisão da retirada de Guileje

Vd. anteriores postes desta série Fórum Guileje (1):

Não tenho elementos para rebater a justeza desta tomada de decisão, outros os têm, mas até pelo que aqui está escrito, não concordo com ela e com o panegírico que dela se faz.

Tenho lido, esta é a minha opinião, alguns dos últimos textos colocados aqui na Tabanca Grande, com algum desconforto, algum desagrado.

Assisto, volto a repetir que é a minha opinião, a um endeusamento do PAIGC e a um apoucamento das Forças Armadas Portuguesas, mitigado pela concessão de algumas benesses, como que a apaziguar vozes discordantes.

A reconciliação, que eu quero, desejo e abraço, faz-se pelo respeito mútuo e não pela tentativa de engrandecer um e diminuir o outro.

Se reconheço com toda a facilidade a superior organização do PAIGC (sobretudo em comparação com Angola e Moçambique), bem como a sua bem delineada e executada diplomacia e propaganda no estrangeiro, cheia de sucesso, e sobretudo a tenacidade, heroicidade, sacrifício dos seus combatentes, personificados nessa figura que é Nino Vieira, o agora tão atacado Presidente da Guiné (o que faz a politica?!), não deixo de reconhecer a tenacidade, heroicidade, espírito de sacrifício, do português anónimo lançado numa guerra longe da sua casa, da sua terra, em condições tão adversas como um clima insuportável e uma estratégia que envolvia o enquadramento de populações e ocupação de espaço, contra uma guerra de guerrilha que se baseia no atacar e fugir.

Já o disse uma vez e volto a repetir: A frase A guerra da Guiné estava perdida, é apenas, no meu entender uma frase que nem por ser muitas vezes repetida se torna verdade. Foi usada por todos com diferentes finalidades: (i) O PAIGC muito bem na sua propaganda no estrangeiro;
(ii) Os altos comandos tentando obter mais homens e meios e também numa visão mais longínqua querendo levar a uma mudança de política em Portugal.

O PAIGC, muito bem, fez um esforço de guerra em dois ou três pontos bem escolhidos do território e conseguiu algum ascendente que soube muito bem explorar, mas a verdade é que no resto do território, sobretudo no chamado Leste, a guerra era muito esporádica e a estrada vital Xime/Nova Lamego fazia-se sem qualquer problema, por exemplo.

A política fez a guerra, a política acabou a guerra, e esta é a verdade!

Volto a repetir que a política é uma coisa e a guerra outra, embora estejam umbilicalmente ligadas.

Sou contra a guerra, contra esta guerra, contra todas as guerras, que não haja dúvidas, mas os homens com quem combati, portugueses e guineenses, de um e do outro lado merecem o respeito devido à sua memória.

Não podemos querer que um abandono de uma posição, Guilejee, se transforme na vitória de uma guerra, como nunca transformaríamos a destruição de tantas bases do PAIGC ao longo da guerra, numa outra vitória.

Se alguma coisa me faz dizer que não perdi dois anos da minha vida numa guerra, foi o facto de ter conhecido um povo e um país que amo, a Guiné, e de ter tido o privilégio de ter combatido com homens portugueses e guineenses que deram o melhor de si, se excederam em generosidade e entrega e merecem portanto todo o meu respeito, por isso, com frontalidade, mas muita amizade, escrevo o que agora escrevi.

Enquanto não formos capazes de deixar de lado a política, o politicamente correcto, e nos abraçarmos olhos nos olhos, com o respeito mútuo de quem reconhece que ganhámos todos e ninguém perdeu, a não ser aqueles que por lá ficaram e a quem presto a minha homenagem, poderemos descansar os nossos corações e as nossas vidas, pacificando o passado e abraçando o futuro.

Com um abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves
Ex-Alf Mil Op Esp,
Dez 1971 / Dez 1973

CART 3492 / BART 3873 (Xitole / Ponte dos Fulas),
Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão),
CCAÇ 15 (Mansoa )

2. Comentário de L.G.:

A publicação, no nosso blogue, da comunicação do Cor Art na Reserva Coutinho e Lima, apresentada no Simpósio Internacional de Guileje, Guiné-Bissau, Bissau, em 4 de Março de 2008, não implica da parte dos editores qualquer manifestação de concordância ou discordância em relação à decisão que ele tomou, na sua qualidade de então comandante do COP 5, de abandonar Guileje, em 22 de Maio de 1973...

Coutinho e Lima teve na altura (e continua a ter ainda hoje) os seus apoiantes e os seus detractores. Não nos compete, enquanto editores do blogue, fazer um juízo de valor sobre o comportamento deste oficial superior, diabolizado por uns, endeusado por outros. Como novo membro da nossa Tabanca Grande, ele tem o direito de apresentar o seu ponto de vista, privilegiado, já ele que foi actor dos acontecimentos de que fala...

Propositadamente não fizemos nenhum preâmbulo à sua comunicação. Não o quisemos sequer comparar com ninguém nem evocar situações eventualmente análogas, como a do General Vassalo e Silva (1899-1985), o último Governador-Geral do Estado Português da Índia. Compete à História julgar os homens que fazem a guerra e a paz.

Qualquer um de nós é livre de ter uma opinião, serena, desassombrada, objectiva, sobre os acontecimentos da guerra da Guiné, incluindo a dramática decisão de retirar uma posição estratégica como Guileje, à revelia das ordens do Comandante-Chefe. É importante também deixar ouvir e saber escutar o ponto de vista (unilateral) dos protagonistas dos acontecimentos, sejam eles de um lado ou de outro da barricada. Guileje, como muitos outros episódios ou batalhas da guerra colonial / luta de libertação da Guiné-Bissau, não se pode resumir a um ponto de vista unilateral. Coutinho e Lima apresentou-se no Simpósio não na qualidade de historiador, de cientista social que não é, mas sim do antigo comandante do COP 5 que, para o bem ou para o mal, ponderados os prós e os contras, actuou como um cabo de guerra numa situação-limite, com plena consciência das consequências que, a nível pessoal e profissional, acarretaria uma decisão tão grave como a de abandonar Guileje, cercada por três corpos do exército do PAIGC.

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Nota de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores desta série:

12 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2626: Fórum Guileje (1): E Cameconde ? Cabedu ? E a nossa Marinha ? (Manuel Lema Santos / Jorge Teixeira / Virgínio Briote)

12 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2628: Fórum Guileje (2): Nunca uma guerra foi feita de uma só batalha (Mário Fitas)

13 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)

14 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2638: Fórum Guileje (4): Minas aquáticas em Bedanda (Ayala Botto)

15 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2642: Fórum Guileje (5): Que sentido dar a esta vaga de fundo ? Da guinefobia à guinefilia (Hélder de Sousa / Luís Graça)

15 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2645: Fórum Guileje (6): Antes que se esgote... Gandembel (Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Av Al III, BA12, Bissalanca, 1968/70)

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2649: Fórum Guileje (7): A importância do Caminho do Povo (Paulo Santiago)

18 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2662: Fórum Guileje (8): O nosso património histórico comum (Leopoldo Amado)

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2666: Fórum Guileje (9): O Simpósio foi uma festa, uma grande festa! (Carlos Silva)