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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18169: Memória dos lugares (368): A Guiné-Bissau vista por Michel Renaudeau (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Abril de 2016:

Queridos amigos,
É de salientar que estas imagens terão sido captadas aí à volta de 1977, dá para perceber que o património arquitetónico deixado pela potência colonial ainda não foi desvirtuado, as ruas estão limpas, os jardins tratados.
Este álbum terá sido encomendado para mostrar as potencialidades turísticas, o exotismo, a diversidade étnica, as potencialidades agrícolas. Tem um resumo propagandístico da história do PAIGC e da luta de libertação. Vasco Cabral, o poderoso comissário da Economia, fala de plantações de cana-de-açúcar para 60 mil toneladas. René Dumont ficou alarmado quando ouviu estes números e fez as contas, teria um preço incomportável.
É um tempo de sonhos, de fantasias e de uma ingenuidade que custou muito caro.

Um abraço do
Mário


A Guiné-Bissau vista por Michel Renaudeau

Beja Santos

Este fotógrafo francês terá recebido a encomenda do Banco da Guiné-Bissau para preparar duas obras de prestígio, para consumo externo, estamos numa fase da governação de Luís Cabral em que era reconhecida a necessidade de captar investimentos, indispensáveis quer como contrapartidas para projetos que tinham doadores, quer para outros em que não se perfilavam oportunidades. Há um livro, exatamente este, para mostrar as potencialidades do país mostrando lugares, pessoas, a agricultura, o turismo, nunca esquecendo a natureza luxuriante. O outro livro, de que se falara noutra oportunidade, é exclusivamente destinado a mostrar o que o país precisa, num quadro em que há economia planificada mas onde também se põem janelas de oportunidade para a exploração agrícola e para as pequenas indústrias.


Tenho visto lindas fotografias de Cacheu mas considero esta inultrapassável: o ângulo, a ligação do pano de muralha à água e o que dela brota, a esterilidade do interior e a floresta ao longe. É um ângulo que evita a mostra vergonhosa das estátuas arrancadas dos seus pedestais. Felizmente que se começa a repensar que o país não pode iludir a sua memória e que aqueles vultos escolhidos pelo regime colonial, goste-se ou não, são pertença da história da Guiné-Bissau, falam português e guineense, e para todo o sempre.



Primeiro o artesão, porque a panaria cabo-verdiana-guineense é de uma enorme beleza, os Manjacos dão cartas nestes panos coloridos ou a preto e branco, de uma rara harmonia, de uma intensa sensibilidade. E a seguir temos o griot, o tocador de korá, trouxe seguramente longos, prolongados recitativos com que irá homenagear quem lhe encomendou a festa. Olhei demoradamente esta fotografia, penso que este griot veio a Bambadinca, talvez em 1970. Nota-se que está bem-disposto, lança um olhar faceto ao fotógrafo como se dissesse: tira mais fotografia!



Temos agora a nostalgia de Bolama. Quando visitei a cidade, em 1991, já o Hotel do Turismo parecia um escombro e no entanto havia aqueles sinais da Arte Nova já a anunciar um certo geometrismo que preparará a Arte Deco. Sabemos que as cidades se arruínam e desaparecem, sabemos hoje que Bolama é um fantasma do que foi, creio que ainda lhe resta uma das joias da coroa, a Tipografia Bolamense, a Imprensa Nacional da região, aqueles carateres são uma obra-prima, oxalá os saibam preservar. Mesmo desfocada, a segunda imagem dá para perceber como era chegar a Bolama, hoje está tudo diferente com o assoreamento. Gostava muito de lá voltar.



Fora o Palácio do Governador, até 1941, com a presença militar em Bolama ainda houve obras de manutenção. Creio que jamais estas voltaram a acontecer. Quando por aqui andou Michel Renaudeau, o palácio convertera-se na habitação oficial do presidente do comité da região.

A segunda fotografia ainda hoje me faz estremecer, é a entrada do Bissau Velho, a casa de ocre vermelho ainda consegue olhar para o cais do Pidjiquiti, por uma nesga, e depois entrava-se numa zona de intenso comércio, onde era possível encontrar coisas extraordinárias que não havia em Portugal. Nenhum combatente que desembarcou naquele cais e que esperou alguns dias antes de ser remetido para uma alfurja da guerra deixou de por aqui andar, há aqui qualquer coisa de vila do interior, tipo Penalva do Castelo, que define o caráter português de uma pequena povoação adaptada aos trópicos, em baixos os sobrados, por cima a casa e depois a varanda. Um Bissau Velho que devia ser tratado com respeito, quando o Governador Carlos Pereira mandou derrubar, no virar para o século XX as muralhas que cercavam Amura, foi por aqui que Bissau se expandiu, aqui cresceu a azáfama dos negócios, perto do porto por onde saíam as mercadorias e entravam os mercadores. Folheando o álbum, ocorre outra leitura, tudo estava limpo, aqueles lugares pertenciam a todos, não era para abandalhar. Infelizmente, o abandono está marcado pelo desleixo e aquela terrível indiferença de viver pacificamente com o lixo e o miasma.
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18154: Memória dos lugares (367): "Guiné-Bissau e Cabo Verde", fotografia de Ulisses Rolim - Para lá do Tcheche, amor pelas gentes de Lugadjole (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18052: Os nossos seres, saberes e lazeres (243): Em Vila de Rei, um passeio em relance (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 1 de Setembro de 2017:

Meus queridos amigos,
Quem desfruta de uma vista desafogada a partir da barragem do Cabril, pode organizar passeios nas redondezas, maravilhas não faltam: a casa de Malhoa em Figueiró dos Vinhos, localidade que possui um belo centro cultural com exposição permanente de artistas naturalistas; em Cernache do Bonjardim, é possível visitar o Colégio das Missões, daqui partiram missionários para todos os pontos do império e também é possível visitar o ateliê de um grande pintor, Túlio Vitorino.
Encurtando razões, estas localidades de interior, acoitadas por falta de indústria, pela fuga dos jovens que desesperam pela inexistência de trabalho, temos aqui tributos de resistência que são as bibliotecas municipais, o cinema aos fins de semana, as casas de cultura, os festivais gastronómicos e muito belas praias fluviais.
Este passeio por Vila de Rei foi só para despertar o apetite, aqui se regressará, e de muito boa vontade.

Um abraço do
Mário


Em Vila de Rei, um passeio em relance (2)

Beja Santos

Estando o viandante exatamente no centro de Portugal, saciada a curiosidade com a visita à biblioteca municipal José Cardoso Pires, não havendo condições para desfrutar o que o município oferece entre a ribeira do Codes e o rio Zêzere, neste território que até lembra uma península, que é bastante montanhoso, e para o caso basta relembrar a Serra da Melriça onde se alberga o Centro Geodésico de Portugal, aproveita-se o tempo útil a dar umas passadas pela vila, ficará para mais tarde uma visita aos museus de Geodesia, ao municipal e ao da escola da fundada, e até mesmo a Água Formosa, aldeia de xisto muito procurada pelo caráter arquitetónico.



Logo este fontanário que corresponde a um tempo em que se azulejava com o mesmo espírito em que se acreditava que a arte deve estar à disposição do povo, assim se encheram de azulejos gares ferroviárias, nunca se esqueça a estação de S. Bento, uma catedral do azulejo. Em Lisboa, goza fama o que foi a fábrica Viúva Lamego, o edifício virado para a Avenida Almirante Reis e a esplendorosa fachada em pleno largo do Intendente. Azulejos icónicos, os fontanários perderam funcionalidade, o que é de lamentar, pois criariam outro ambiente a esta arte pública, como agora soe dizer-se. E que belos são estes azulejos, verso e reverso.


O viandante, está-lhe na massa do sangue, fareja tudo quanto é porta, portal ou portada. Esta está descorada, desprezada, talvez a aguardar uma substituta, toda metalizada. É uma relíquia do passado, a pintura está escalavrada, tem tons ferruginosos. Enfim, um mundo antigo, irrecuperável. Todos iremos perder com a substituição desta porta, neste espaço marcado por património virá talvez a modernização e a perda de caráter.


Entrou-se no arco, percorreu-se nas duas direções, a da plena luminosidade e a do claro-escuro, como a claraboia a meio a lançar um jato de luz. Conferidas as imagens, foi esta que prevaleceu, do negrume se parte para a luz, só por deambular entre os arcos valeu vir a Vila de Rei.


Pediu-se respeitosamente à proprietária licença para reter esta ondulação da varanda, a senhora sorriu, agradeceu e recolheu-se. O que era mais importante não cabe na fotografia, é a elegância da varanda que altera, por ilusão de ótica, o comprimento da fachada. A despeito desse revés, compartilha-se da fruição dessa onda de mar desenhada pelo ferro.


É na subida desta rua antiga que temos mais azulejo, desta vez uns serafins rubicundos a encimar duas colunas floreadas. O viandante pôs-se a perguntar onde reside a força peculiar deste azul e branco que tudo realça, que dá um ar moçoilo a estas paisagens urbanas, tão próximas da paisagem rural, e não obtém resposta. O azul é rei em Vila de Rei.


Consta que esta porta vem de um passado muito antigo, trata-se de uma igreja sofredora, por aqui andaram franceses invasores que profanaram o templo, sabe-se lá o que pilharam, se cuspiram nas imagens ou derribaram alfaias religiosas, tabernáculos ou até mesmo esfaquearam quadros. A esta hora do dia, esses pensamentos deixam de ser contabilizáveis, o fascínio é a luz, o seu transporte, o que escurece e o que encandeia. Há um pintor português, Manuel Amado, que brinca com estes contrastes, com vigor e engenho. O que importa é que o viandante não quis perder aquele capricho de luminosidade, ele aqui fica.


Para a próxima, é por aqui que recomeça o passeio, na picota da Serra da Milriça, é o museu de geodesia, a vista é um desfrute, acreditem. Quem lá for notará duas coisas bem curiosas: a rebeldia na natureza, o verde ao cimo da terra depois dos grandes incêndios que aqui ocorreram em 1986 e 2003; e postando o olhar noutra direção a recente desolação do incêndio de 2017 que desfalcou em grande parte uma das freguesias do seu coberto florestal. Mas mesmo com terra calcinada, a panorâmica é incomparável. Só para estar aqui, com vista tão desafogada, vale a pena viajar de onde quer que seja até Vila de Rei.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18022: Os nossos seres, saberes e lazeres (242): Em Vila de Rei, à procura de José Cardoso Pires (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17321: Notas de leitura (953): "Buruntuma - Algum Dia Serás Grande - Guiné-Gabú - 1961-63", por Jorge Ferreira (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Num futuro não muito longínquo, os investigadores e todos aqueles que pretendam fazer a historiografia da nossa guerra, terão de se implicar no visionamento destas imagens e nas que se seguiram. Nas que primorosamente Jorge Ferreira organizou temos uma Buruntuma que antevê a guerra, que se fortifica, que vigia as fronteiras. São imagens de encontro, de descoberta, não há ali uma só ruga ou vinco de hostilidade, naquele ponto ermo onde em breve vai troar a artilharia e instalar-se o desassossego permanente. E temos que ter orgulho sabendo de antemão que esses historiadores terão no nosso blogue um fonte documental e imagística ímpar, sem rival. Sim, temos que ter muito orgulho no peso desta memória e no permanente cuidado em dar-lhe acrescento, luminosidade e compreensão.

Um abraço do
Mário


Buruntuma e uma leve reflexão sobre as imagens na História

Beja Santos

Ando há largos meses para ir entregar no Arquivo Histórico-Militar uma resma de fotografias de uma Companhia que andou pela Guiné entre 1959 e 1961, as fotos já estão reproduzidas no nosso blogue, registam a amenidade de uma vida militar que surpreende usos e costumes, com soldados a pescar na bolanha, até se mostra uma ponte em Teixeira Pinto que ficou inacabada, sabe-se lá porquê. Têm estas imagens importância para o estudo da História? Indubitavelmente. Era aquela a paz que havia, uma placidez que se traduzia em percorrer todos os percursos sem os bofes de fora ou o coração contrito, não se anteviam perigos, nem explosões, nem intimidações. Vejamos agora o álbum Burutuma, publicado pelo nosso confrade, com data de Dezembro de 2016, e aqui já referido. São a recuperação de memórias de alguém que viveu na região do Gabu e foi colocado em Buruntuma em 1961, integrado na 3.ª Companhia de Caçadores a comandar 20 militares metropolitanos pertencentes ao Esquadrão de Cavalaria n.º 252 e 20 soldados nativos a quem tinha dado instrução em Bolama. Vamos conhecer a Buruntuma de uma Guiné que dá sinais de efervescência, os Manjacos do Movimento de Libertação da Guiné, procurando antecipar-se ao PAIGC, flagelam S. Domingos e vandalizam Susana e Varela, em meados do ano. Afluem mais contingentes que são disseminados pela província.

As memórias de Jorge Ferreira não estão associadas a nenhuma tragédia, em Buruntuma e arredores vive-se numa relativa acalmia. Jorge Ferreira percorre Pirada, Sonaco, Bajocunda, Piche, Cabuca e outros lugares, envolve-se em ações de vigilância e abastecimento. E parte para Buruntuma, junto da fronteira com a República da Guiné. Regista o património imobiliário existente: casa do régulo, armazém de mancarra, casas comerciais, escola primária, instalações da PIDE. Só existe uma cerca de arame farpado e uns bidões cheios de areia que protegiam a única estrada, saída do armazém de mancarra que lhes servia de aquartelamento. Concebeu-se uma solução que consistiu na abertura de um “poço” no centro do aquartelamento por onde os militares acediam a um túnel que desembocava num sistema de trincheiras que circundava todo o perímetro de defesa, nos cantos puseram-se as armas pesadas. Fizeram-se postos de observação, cavalos de frisa, construiu-se refeitório e cozinha. Com uma pitada de humor fala de um problema insanável, a localização de Buruntuma. “Com efeito, estando a povoação contígua à fronteira, em caso de ataque que não pudesse ser rechaçado, a retirada estava fora de questão. Com efeito, a única que a permitiria, a estrada Buruntuma-Piche corria paralela à fronteira natural – um afluente do rio Corubal, e portanto essa retirada seria facilmente anulada através de emboscadas de guerrilheiros acantonados na margem do rio”. Dito de outro modo, Buruntuma estava entregue à sua sorte.

As ações de nomadização abrangiam o triângulo Buruntuma-Canquelifá-Bajocunda. Contava-se com a inequívoca fidelidade dos Fulas, neste caso com a colaboração do régulo de Canquelifá, instalado em Buruntuma, Sene Sane. O contingente militar fora bem acolhido, integrava vários Fulas. Buruntuma mudou de forma, ganhou outra natureza, não se descuraram as populações locais, deu-se professor à escola, melhorou-se a enfermaria, apareceu médico. Jorge Ferreira concluiu a sua comissão em Junho de 1963, altura em que a guerrilha ganhara alento no Sul, consolidara posições no Corubal e no Morés. O PAIGC terá sérios revezes junto das populações nesta primeira fase, tudo se alterará em 1969 com a retirada de Madina do Boé, de Beli e de Chéche, começarão então a exercer-se pressões sobre o Cossé, e entretanto Buruntuma passará a ser seriamente fustigada a partir da República da Guiné. Como escreve Jorge Ferreira logo em 1964 em vez do seu escasso efetivo vão aparecer 250 homens. Naquele fim de mundo deixava de haver paz.

A paz e os preparativos para a guerra dominam este álbum que tão carinhosamente Jorge Ferreira organizou: a majestade do régulo Sene Sane, a Buruntuma tal como foi encontrada à chegada, a construção das trincheiras, os marcos da fronteira, as ações de nomadização, a preparação de refeições, as viaturas atascadas, os jogos de futebol, os batuques, o fascínio das bajudas, os veneráveis homens grandes, as crianças de sorriso aberto, tecelões, djilas, tocadores de Korá, caçadores, dançarinos, rapazes Papéis, lavadeiras, bajudas Balantas com saia Bijagó.

Não há uma só crispação nestas imagens, a guerra é uma possibilidade mas ainda não se experimentou, daí a expressão de leveza em todos os rostos metropolitanos, à cautela, Jorge Ferreira leu uma obra estimulante “Os Fulas do Gabu”, de Mendes Moreira, ainda hoje uma referência obrigatória para o estudo dos Fulas, anota que há um islamismo impregnado de práticas animistas e feiticistas, descreve a sua habitação, vestuário, enfeites, atividades produtivas. É um lugar ermo, uma fronteira recente, porosa, se bem que exista aquela fronteira natural, um afluente do Corubal que Jorge Ferreira captou em dia de bruma. Estamos perante uma Buruntuma que ainda não viu o ferro e fogo, um punhado de homens, brancos e pretos, ali vivem amistosamente e deixaram o seu largo sorriso para uma posteridade em que os contemplamos com o mesmo agradecimento que endereçamos a Jorge Ferreira que lega este álbum aos seus entes queridos, aos seus camaradas da Guiné, lembrando a todos que naquele terrunho se moldou o seu caráter e se fez homem.

Também enternecidos, agradecemos-lhe a ampla riqueza que é o tesouro destas imagens.


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Nota do editor

Último poste da série de 1 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17301: Notas de leitura (952): Guerra da Guiné: Os atores, a evolução político-militar do conflito, as revelações surpreendentes - Apresentação dos três volumes alusivos aos aspetos operacionais na Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974 (3) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16892: Memória dos lugares (353): Destacamento de São João, localizado em frente a Bolama (José Câmara)

Localização do Destacamento de São João

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 26 de Dezembro de 2016, a propósito do Poste 16719, foram publicadas fotos do destacamento de São João como sendo Bolama.

Mano Carlos,
Desde ontem, espero que tudo esteja bem convosco. E desde já agradeço as vossas simpáticas palavras[1].

Na nossa conversa falámos um pouco sobre o Destacamento de São João e de algumas situações.
No Post P16719[2] havia algumas dúvidas sobre se de facto o Destacamento referido como de Bolama não seria São João. De algumas fotos não tenho dúvidas que foram tiradas em São João. Junto outras duas para serem confrontadas com as que foram publicadas.

Assim, a tirada no Porto de São João, posso confirmar que aqueles postos, já muito carcomidos pelo tempo, ficavam cobertos quando a maré estava cheia. Seguindo os postos em linha recta para o outro lado tínhamos o Porto de Bolama.

Destacamento de São João
Foto: © Luís Mourato Oliveira (P16719)

1 - Destacamento de São João - Repara na foto que agora de mando e a floresta (tarrafo) é consistente com a foto publicada no Post referido. 
Foto: © José Câmara

2 - São João - Na foto, ao fundo da estrada, como que apenas se vê o firmamento e assim é. No fim do arvoredo estava precisamente a Porta de Armas do Destacamento de São João. Assinalada com a seta amarela.
Foto: © José Câmara

3 - Um facto que me chamou a atenção quando lá estive, essa estrada que começava no porto de São João e que vai dar à Porta de Armas do Destacamento passava por dentro deste e seguia para Nova Sintra através do "cavalo de frisa". 

Destacamento de São João
Foto: © José Câmara

4 - Destacamento de São João - Na foto do poço repara na "evolução" desde quando eu lá estive, aquele tanque de água. 
Foto: © Luís Mourato Oliveira (P16719)

5 - Outro reparo, vê a limpeza que nós tínhamos e compara com o matagal da foto publicada. 

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Isto complementa parte da conversa que tivemos ontem. Muitos de nós que andamos dizer mal de tudo e de todos fomos os grandes culpados de muito do que nos aconteceu.
Não havia frescos, mas nada nos impedia de termos as nossas hortas.
Não havia carne, mas nada nos impedia de termos os nossos animais para abate.
Não havia limpeza, mas nada nos impedia de sermos limpos.
Éramos atacados ao arame farpado, mas nada nos impedia de andarmos lá fora.

Eu nem queria acreditar nas respostas sobre o inquérito "batota". Nem respondi, teria que desancar (em ferro frio). Desculpa mano, eu também não era perfeito. Acredito que na minha Companhia também havia falhas, mas repara na foto 4 e terás uma ideia daquilo que se fazia em matéria de acção militar.




Na Mata dos Madeiros foi bem pior que isso. Dois grupos constantemente fora, 24 horas por dia, 7 dias por semana, 30 dias por mês. E o resto que se juntava, a saber: a picagem diária da estrada nova por um dos grupos que regressava, a lenha, a água, o correio, as evacuações e, se a memória não me falha, 12 postos de sentinela com três elementos em cada posto. Podes imaginar!!!

No Destacamento de São João tentei, sempre sem sucesso, levar os nossos alferes a criarem as condições acima referidas. A resposta que sempre tive foi que não valia a pena porque apenas ali estaríamos algum tempo e não iríamos desfrutar as colheitas. A tal atitude de quem quem venha atrás que feche a porta.

Sabia e compreendia que as coisas para terem sucesso tinham que ter continuidade. Mas foi nessa falta de confiança que andamos sempre a dar tirinhos nos nossos pés e a culpar os outros. Maneira típica da nossa maneira de ser.

As fotos são para serem usadas como muito bem te aprouver, incluindo uma achega ao tal Post. Fica contigo.

Grande abraço do mano José
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Notas do editor:

[1] - O José Câmara teve a gentileza de telefonar ao seu editor, a partir dos EUA, para desejar, não só a ele mas como a todos os camaradas da tertúlia, um Santo Natal.

[2] - Vd. poste de 14 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16719: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-al mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (2) - Bolama, Centro de Instrução Militar (parte II)

Último poste da série de 9 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16818: Memória dos lugares (352): Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta, região do Cacheu: um local muito bonito onde, para o ano, quero vir passar umas férias (Patrício Ribeiro, Bissau)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15769: Álbum fotográfico de Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAÇ 3846 (Susana, 1971/73): Parte VIII: Susana, tabanca e arredores (2)


Foto nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3 


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Guiné > Região do Cacheu > Susana > CCAV 3366 (Susana, 1971/73) > A tabanca de Susana.


Fotos: © Armando Costa (2016). Todos os direitos reservados.


1. Oitava (e última)  parte da publicação de uma seleção de fotos do álbum que o Armando Costa (ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAV 3846, Susana, 1971/73)  pôs generosamente à nossa disposição. É pena que as legendas sejam lacónicas...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15411: Memória dos lugares (323): Biambe em 1969, fotos de José Maria Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCAÇ 2464

 

1. Fotos enviadas ao Blogue pelo nosso camarada José Maria Claro, DFA, (ex-Soldado Radiotelegrafista de Engenharia da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969) referentes à sua curta estadia na Guiné. 
Lembremos que o José foi evacuado para a Metrópole por ter sido vitimado por uma mina antipessoal, que lhe causou a perda de um dos membros inferiores. Vd. última foto.



Biambe, 1969 - À entrada da Tabanca

Na fonte do Biambe

Biambe, 1969 - No campo de futebol

Biambe, 1969 - Com camaradas

Biambe, 1969 - Junto à pista dos aviões

Na parada do Biambe

 Biambe, 1969 - Com um camarada do rolo de peso


Biambe, 1969 - Com o Xico

Biambe, 1969 - Na bananeira

Biambe, 1969 - A ler a correspondência

Biambe, 1969 - Ao "telemóvel"

Biambe, 1969 - Na parada com o portátil

Parada do Biambe

No HMP de Lisboa (Claro, o segundo a partir da esquerda)
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 11 de setembro de 2014 Guiné 63/74 - P13601: Tabanca Grande (444): José Maria Pinto Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista de Eng.ª da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Biambe, 1969)

Último poste da série de 11 de outubro de 2015 Guiné 63/74 - P15233: Memória dos lugares (322): Porto Gole: mulheres balantas apanhando "cacri", na bolanha, junto ao rio Geba. O "cacri" (espécie de bocas) era, também para nós, um petisco saboroso que acompanhávamos com a célebre cerveja São Jorge (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)