Mostrar mensagens com a etiqueta madrinhas de guerra. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta madrinhas de guerra. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10444: Blogpoesia (303): Madrinha de guerra (Ricardo Almeida, o poeta da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)


1. Do nosso grã tabanqueiro e poeta Ricardo Almeida, [ ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71]

Madrinha de guerra
 

Ao regressar de Lamel,
de mais uma noite por lá passada,
fui à tabanca e comprei mel

para fazer a limonada.

Depois para espairecer
lembrei-me em escrever
alguns aerogramas,
fazendo expresso pedido
aos carteiros dessas terras
para onde foram expedidos,

E penso fintar a Pide,
com este título expedito:

à primeira moça que encontrar
o desconhecido,
um coração triste no mato,
o desiludido.

Não sei quantos passariam
porque só um mereceu resposta,
duma moça de Tondela,
mui guapa e muito bela,
que me escreve regularmente
como madrinha de guerra.

E aquela prosa tão bela
foi comida e foi bebida
p'ra alimentar minha vida
que considerava perdida
daquela moça singela.

Os dias iam passando
e agora mais dolorosos,
entre o tempo que medeia
a chegada dos aerogramas.

E assim ia pensando
ter alguém por companhia
que mesmo na sua ausência
vislumbrava sua aparência.
De lindos e nobres sentimentos
que ela me incutia,
e nalguns ásperos momentos
recorria à sua leitura.

E, desafiando o destino,
eu voltei a ser menino
nos braços daquela moça,
dando-me o aconchego então perdido,
o seu amor e o seu carinho
que o meu coração ainda preserva!

Agora era uma luta tremenda
que travava em três frentes,
sem tiros nem emboscadas,
de outras noites passadas
à espera dos aerogramas.
E a sua presença constante
com aquele sorriso sincero
saindo para o corredor
para limpar lágrimas de dor
porque eu, vê-la chorar,
não quero.

Mas outra batalha me espera,
e penso que mais prolongada
que todas as outras que encerro,
é não saber distinguir
e não saber definir
o seu amor verdadeiro.

Ao dizer isto uma lágrima
vem afagar o meu rosto
por tanta saudade sentir
daquela madrinha de guerra.

Iniciado no HM241 em Bissau
e concluido no sanatório do Caramulo.
Como hoje me encontro vivo, exponho os meus sentimentos à época neles passados.

Com um grande abraço fraternal
Marques de Almeida

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10433: Blogpoesia (302): Viva Portugal: poema de Felismina Mealha (ou Costa); voz de Fernando Reis Costa

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9938: Cartas do meu avô (5): Segunda Carta: Em Catió (Parte IV) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigo Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió

que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66, vivendo presentemente em Berlim.

B. SEGUNDA CARTA – EM CATIÓ (PARTE IV) (*)

Lichtenrade, Berlim, 14 de Março de 2012

6- Da Tormenta à Bonança

Ao cabo de uns meses, as cartas do Funchal começaram a rarear. Como é natural. Em vez delas, as de Lisboa chegavam certas.

A ansiedade pela avioneta do correio começava a crescer. Virá alguma ou não ? Sentia um verdadeiro deleite em ler cada uma que chegava.

O castelo delas ia subindo de altura, perto da cabeceira. Ia-as relendo e saboreando no intervalo de cada vinda da avioneta. Falavam-me da vida serena e pacata duma família aburguesada com os hábitos de Lisboa. As belezas de Sintra [, foto à direita, Palácio Nacional, postal antigo, fonte desconhecida, ] e Cascais que eu conhecia mal,  vinham descritas com mestria, ao contar os passeios de Sábado ou de Domingo, com os pais. Vila Franca e Salvaterra. Alcácer e Setúbal. Ficaram indelevelmente gravados na minha fantasia, como sítios onde teria de ir, uma vez regressado.

As peripécias do curso de biologia e aquele mundo imaginário da universidade, onde eu gostaria de ter entrado já. Histórias do seu gato preto, à mistura com as dos garotos da catequese. Aquelas tricas que há sempre dentro da família. A da Avó que, embora sempre “atrelada” aos passos da família, para todo lado onde fosse, ela ali estava, e no entanto, os mimos e galanteios iam todos para o tio. Que não lhe ligava um chavo…

As idas ao cinema com os pais, decididas de repente ao fim do jantar em dias de semana. Os serões que os pais faziam – ambos eram versados na arte das contabilidades – fora no Instituto Comercial que se conheceram - para darem conta das escritas dos clientes. Para ganharem mais algum. O soldo militar era religiosamente baixo. Por entendimento oblíquo do Salazar. Entendia o mago que o que faltava ao soldo, recebia-o no elevado benefício do estatuto militar… Os militares tinham a obrigação de casar ricos… Para isso usavam farda.

As minhas cartas eram tiradas a ferros. Sentia cá uma dificuldade enorme em redigi-las. Porque, tinham de ficar muito bem construídas. A naturalidade própria da escrita epistolar era-me inacessível. Sentia muita dificuldade em deixar correr a caneta. Mas porque a obrigação “ oblige”… por vezes, ficava até às tantas … Era um parto muito doloroso.



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Vila de Catió >  Foto 16 - "Uma vista tirada da Rotunda, onde se vê uma DO-27 sobrevoando a zona do quartel, à direita a zona da antiga messe de oficiais e a antena dos Correios à esquerda".



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do nosso saudoso  Victor Condeço  (1943-2010) > Vila de Catió >  Foto 17 > " Foto tirada da torre da Igreja no sentido do Quartel, vendo-se o depósito de água deste, a torre dos Correios, em baixo a rua das Palmeiras".




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 32 > "Cerimónia militar em Fevereiro de 1968. Militares, civis da administração, correios e comerciantes. Da esquerda para a direita, [?], de costas o cap médico Morais, o comandante, ten cor Abílio Santiago Cardoso, quatro funcionários dos Correios e Administração, os comerciantes Srs. José Saad e filha, Mota, Dantas e filha, Barros, depois o electricista civil Jerónimo, e o alf mil capelão Horácio [Neto Fernandes]".






Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 3A > "Vista aérea da Rotunda e Avenida de Catió antes de 1967. O edifício à esquerda na foto era a escola primária que em 1967 já tinha sido modificado".

Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados


Ainda hoje, quando me dá para as reler, do maço em que estão religiosamente guardadas, ali na gaveta da escrivaninha, vejo bem retratado o esforço de as escrever. E lembro-me muito bem do lugar e quando as escrevi… O entusiasmo recíproco era crescente. Havia entre ambos uma empatia indiscutível. Cada um de sua parte, interrogava-se sobre o que aconteceria, após o regresso, se ele viesse a verificar-se.

A mãe dela- confessou-mo ela depois- andava tão preocupada com o entusiasmo que via nela, que lhe perguntou:
- Olha lá,  filha. E se, entretanto, te aparece algum rapaz que goste de ti?...
- Que lhe respondeste? - perguntei eu,  a brincar.
- Que isso não me preocupa. O que tiver de ser,  será.

O á-vontade entre ambos foi se firmando com os meses decorridos. A tal ponto que alguém sugeriu, não me lembro quem e como, que seria bom partilharmos uma fotografia.
Eu mandei-lhe uma em que estava vestido com um “bonito” pijama azul comprado no mercado dos sirianos [, na loja do sr. Saad].

Fiquei à espera da dela. Com muita curiosidade, como é de supor. Qual não foi o meu desapontamento, quando, certa manhã, ao abrir uma carta dei de caras com uma foto, tipo passe, via-se um pouco do tronco ao nível do peito e dos ombros, uma golita branca a sair sobre uma camisola de lã feita pela mãe, à mão, e o rosto muito vivaço duma mocita de treze ou catorze anos!..



Confesso que fiquei desiludido e desnorteado. Nunca imaginei ser isso possível.
- Pronto. Mais um pontapé que me deram à falsa fé… Só pode estar a gozar comigo…

Coincidiu com a licença que o capitão me concedeu para ir a Bissau, tratar dos dentes – um salutar pretexto bem conhecido, para se passar uns dias fora da guerra. Bissau era uma metrópole africana, segura e cosmopolita. Para se passar umas ricas férias.

Entretanto a comissão ia decorrendo. Fui toda a viagem de avioneta,  ensimesmado. A olhar para a foto, de vez em quando.
- Só pode ser uma partida. Mas se é… diz muito mal dela…- pensava eu.

Nem deu para saborear a esfusiante beleza natural do emaranhado verde das bolanhas, matas com os rios em serpente, que se vê lá de cima, durante a meia hora até Bissau.

Os primeiros dias de Bissau foram soturnos. À procura duma explicação plausível. Não a encontrava. Só descansei quando resolvi deitar tudo para trás das costas e aproveitar bem aqueles parcos dias de libertação.
– Vou deixar de escrever-lhe e pronto. Ela, se estiver interessada, há-de explicar tudo muito bem.

Voltava de novo ao ponto de partida. Foi o que fiz melhor. 

Quando regressei a Catió, tinha umas duas ou três cartas. Numa delas vinha uma fotografia. Essa sim. Duma moça viçosa, duns vinte e tal anos. Um rosto duma beleza de linhas, fora do trivial, muito expressiva. E o corpo também. Não era uma boneca banal e estilizada. Tinha garra. Sinceramente agradou-me.
- Então porque mandou a outra, mais que ultrapassada?

A explicação vinha numa das cartas seguintes, à que trazia a foto. Como eu não dava sinal de mim, ela viu-se na necessidade de explicar. Aquilo fora uma reacção sua à minha ideia extravagante de eu ter mandado uma fotografia em pijama…

Na realidade, eu havia-o feito sem qualquer intenção. Não me passou pela cabeça a confusão que iria causar. Caí em mim, aceitei a reacção e pedi-lhe desculpa.

Tudo se recompôs a partir daí. Leviandades de quem é novato…mas não haviam de ficar por aí.

Em Catió havia um posto de correio público. Era vulgar ver por lá a gente nativa em altos berros a falar ao telefone com os faseus familiares doutras regiões da Guiné. Certo dia, deu-me a triste ideia de pedir uma ligação para Lisboa. Ela tinha-me dado o número não sei porquê. Ficava-se à espera tempos infindos que as ligações estivessem feitas.
Mal pensava eu enquanto esperava, o sarilho que havia desencadeado em casa dela…
- Uma chamada da Guiné? - Perguntou a Mãe, à pessoa dos telefones que a fez anunciar.

A Mãe ficou estarrecida. Se calhar há más notícias. O moço morreu. E agora? Chamo ou não chamo a A.T.?... Depois de uns instantes de intensa comoção, chamou-a. Ali apareci eu,  todo prazenteiro e descontraído, pelo menos em relação ao temporal que, sem dar conta, causara naquela casa.
- Apeteceu-me ouvir a sua voz!...- foi a ingénua explicação.

Só mais tarde, quando cirandávamos a namorar pelas ruas de Lisboa,  ela relatou o pesadelo que eu lhes tinha dado…

(Continua)
_____________

Nota do editor:

(*) Vd. último poste da série > 16 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9910: Cartas do meu avô (4): Segunda Carta: Em Catió (Parte III) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9848: Cartas do meu avô (1): Primeira: No Cachil (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Como, Cachil e Catió, 1964/66)

 A. Mensagem, datada de 25 de abril último, do nosso camarigo Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, que esteve na região de Tombali (Como, Cachil e Catió) nos anos de 1964/66 e que, agora, com todo o tempo do mundo, passa a vida entre Algés, Aveiro, Ovar e Berlim...


Caros Co-Editores: 


Com um grande abraço e , mais uma vez,  a confissão da minha admiração pelo vosso esplendoroso trabalho, aqui vos trago a continuação das minhas Cartas (*) que, em tempos, aqui foram partilhadas... se assim o entenderdes fazer. Joaquim Luís Mendes Gomes.


B. Nova série, dando seguimento à anterior,  Cartas, para os netos, de um futuro Palmeirim de Catió (*).  



CARTAS DO MEU AVÔ
por J.L. Mendes Gomes [Berlim, Alemanha]
__________________


Índice

PRIMEIRA - Tempos da Guerra 

I - No Cachil II - Em Catió III - Em Bissau 


SEGUNDA - Regresso ao Continente 
I - Chegada II - Primeiro Emprego e Casamento III - Universidade IV - Quadro Técnico 

TERCEIRA - Em Aveiro 

I - Azurva II - Quintãs 


QUARTA – De novo para Lisboa 
I – A Frustração do CEJ II - O Calvário do Contencioso III – A Aposentação 


QUINTA - Como Saltimbancos entre… 
I - Algés  II - Aveiro III -Ovar IV - Berlim 


 SEXTA – O pior estava para vir… 
I – Clínica de Coimbra II – O neto Tomás 


13 Março 2012, 3ª Feira 
_____________________

Lichtenrade, em Berlim – 5 de Março de 2012- terça-feira



PRIMEIRA  - NO CACHIL, ILHA DO COMO

1. Fazia nesse dia exactamente um mês que a companhia [, a CCAÇ 728,] se instalara no Cachil [, na ilha do Como]. Em rendição da CCaç [ 557] que restou da grande e histórica operação Tridente. Esta fora a empresa suprema das altas chefias militares de então para extirpar de vez o cancro da autopropagandeada independência que os turras da Guiné estavam a espalhar por toda a parte. Com todos os meios militares disponíveis, dizia-se. Mas foi empresa falhada. Pois que o que se conseguiu foi, apenas, implantar, no fim, uma companhia, naquele ilhéu do sul, a marcar presença. Como quem diz:
 - Quem manda aqui… somos nós.- Nada mais. 


Extenuada pelas duras refregas que sofrera, durante os três meses que durou aquela operação, as forças que sobraram aos homens da 557, deram só para erguer o tosco quartel, murado de troncos de palmeiras justapostos, em quadrilátero com uns 150 m de lado, e umas escassas casernas e barracos, dentro, feitas com o mesmo, mais as chapas de bidões, como cobertura. 
 - Mais um pouco e teríamos de ser todos evacuados de exaustão - exclamava-me, de olhos esbugalhados, quando ali chegámos, o jovem e esquálido médico, que os assistira desde o início. 


 Nós tínhamos arribado uns três meses atrás à Guiné. Fizéramos a ambientação à guerra, ao terreno e ao clima, com emboscadas e golpes de mão semi-fictícios,( tudo podia acontecer…) de dia e de noite, ali à volta de Bissau. Uma zona calma, entre Nhacra e Mansoa. Em Bissau, não se ouvia falar doutra coisa, senão do terror do Sul, para as bandas de Catió. Mal sabíamos que essa seria a prenda que nos estava reservada. A muito breve trecho. 


 2 - Prenda de Natal,  24 de Dezembro de 1964 


Era a hora do jantar. Os soldados já tinham ido à cozinha com suas marmitas buscar o jantar e tinham-se espalhado por onde dava jeito, pelas casernas e outros recantos, a comê-lo. Meia dúzia de batatas cozidas, com bacalhau, azeite e feijão frade, um casqueiro e um caneco de vinho tinto do barril. 


Era a véspera de Natal. Estava escuro como breu. Ouvia-se, apenas, o ronronar surdo do gerador de gasóleo que não parava, não podia parar, noite e dia. Essencial, sobretudo, durante a noite. Para lá duns 300 metros, ficava a orla das sinistras matas densas que convinha ter bem à vista das três sentinelas de serviço. Era o serviço mais rigoroso e responsável que havia no quartel. No alto das suas guaritas, o melhor reforçadas possível. Sobretudo daquele lado. Porque dos outros, era muito improvável qualquer aproximação que nos pusesse em risco. Eram o lado das bolanhas e do emaranhado de ramos afluentes do rio Cacine (?).  A essa hora, era hora de maré-cheia. Dava para que a lancha pudesse atracar ao cais tosco, lá ao fundo, a uns 1000 metros mais ou menos. No quartel não havia água que se pudesse beber ou cozinhar. Vinha toda em barris de Catió. E tinha chegado mesmo, porque, de repente, fez-se o silêncio geral no quartel. 


 Toda a gente saiu das casernas e veio pespegar-se, sofregamente, à volta da tenda do nosso Primeiro, onde era habitual fazer-se a chamada para o correio. O nosso, vieram trazê-lo à mesa comprida, de 6 ou 7 longas tábuas corridas, debaixo dum toldo, onde ficava a sala de jantar dos oficiais e sargentos. Ali, debaixo dum embondeiro gigantesco. Eram cinco oficiais e uns vinte e tal sargentos. 


Eu também fui prendado com uma carta de avião. Um envelope comprido de papel fino e leve, debruado com as cores da bandeira nacional. Vinha de uma tal A.T. De Lisboa. Fiz as minhas contas, de imediato. Nada esperava, e, daquelas bandas, de Lisboa, com aquele nome, nada constava na minha memória. A letra era redondinha e elegante. Os iis tinham todos uma bolinha redonda em cima, em vez da pintinha, simples. Um toque que me pareceu simpático, bem como o nome que ela tinha. Fez-me lembrar alguém da minha infância, a cobiçada Doroteia, filha mais nova duma simpática família afidalgada, ao pé da minha casa. Abri com cuidado, sem rasgar nem amachucar, o envelope. Era o instinto de 
conservação, para mais tarde recordar… que despontava. 


Li a correr a única folha muito bem dobradinha. Escrevia muito bem. Quem a mandara era uma moça que ia a meio do curso de biologia em Lisboa; gostava de ler, escrever, ouvir música e de ir com os pais para a praia, no tempo dela; era a sua única companhia - tinha um só irmão no colégio militar. E passava muito tempo na catequese da sua igreja. 


Fez-se luz na minha cabeça. Tinha esquecido que, em tempos, ainda em Bissau, havia pedido uma madrinha de guerra ao movimento nacionalfeminino…com duas condições:  que fosse culta e com sólida formação moral. Exigência altamente redutora. Vieram alguns aerogramas. Nenhum me seduziu. Por isso, esqueci. Fosse lá porque fosse, ou porque estivéssemos nós na véspera de Natal, ou porque já me estivesse a custar muito manter contacto com a moça do Funchal, devido sobretudo, à extrema pobreza das suas cartas…apeteceu-me responder-lhe. Ficaria para depois. 


 2 – Naqueles primeiros tempos de Cachil, havia muito trabalho para fazer no quartel. As reuniões dos quatro oficiais e sargentos, com o comandante de companhia eram frequentes e demoradas. Na tenda-bivaque em pano, onde ele tinha o gabinete de comando. Havia que delinear a melhor forma de ali passarmos o tempo que nos fosse determinado a partir das altas chefias de Bissau. 


O capitão não se cansava de frisar que a segurança e a boa ordem dentro do quartel eram a base de sucesso. Acima de tudo, era preciso manter a rapaziada sempre activa e bemdisposta. Melhorar os aposentos e os abrigos; sobretudo os do material de guerra, granadas, minas e munições; abrir latrinas que chegassem e postos de balneário, para cada pelotão; a cozinha, um refeitório e um bar seriam objectivos de execução imediata. Depois viria a reconstrução das instalações em cimento, se Bissau nos mandasse os necessários tijolos. 


O breve contacto que tivemos no início, com a soldadesca esgrouviada da 557, muito cansada, tirou ao duro comandante qualquer veleidade de manter a desmesurada militarice que fora seu apanágio, desde Évora. Nada de fardamento a condizer ou a reluzir. Com bivaque ou sem bivaque. De camisa ou peito nu. Sempre em calções. Com barba ou bigode. Nada de cabelos compridos nem brinquinhos na orelha. Tudo estava bem. A G3, de cada um, essa, deveria estar sempre funcional, à mão e segura. Era o pára-raios do quartel. Mas, o respeito pela hierarquia, também deveria ser bem trabalhado e fomentado. Sem imposições fúteis ou desnecessárias. Disciplina, sim. Haveria que fomentá-la e conservá-la. Cada comandante de pelotão deveria puxar pela sua criatividade para executar essas directivas inquestionáveis. Para bem de todos.Quando as coisas estivessem bem arrumadas, então, pensar-se-ia noutros tipos de acção que propiciassem bem-estar à rapaziada. Com torneios de cartas ou dominó, pingue-pongue, aulas de escolaridade etc. 


Não foi preciso muito tempo. Quem, de antes, ao cabo de um mês, revisitasse o Cachil, ficaria de olhos arregalados com o que ali se fez. Com tão poucos recursos. Quando se quer e se está empenhado, as maravilhas não se fazem rogadas. 


3 – Eu herdei e fiz questão de ficar com um quarto, incrustado na paliçada, que o habilidoso corneteiro da companhia anterior erguera para si. Um cubículo com certo conforto. Não fosse ele carpinteiro de profissão. Com as tábuas dos barris de vinho, engendrou uma estante com mesa e tudo. Onde pude pôr os meus fiéis e inseparáveis companheiros. Umas dezenas de livros de estudo, dicionário e até um gravador estereofónico… Sony. Ultramoderno. Sobretudo, estaria sozinho, como gostava. Livre das arruaças e devaneios habituais dos meus jovens camaradas. Era o meu feitio. Excessivamente reservado e limitado. O que já conheciam e, de alguma forma, toleravam. 


É preciso notar que não foram em vão os quase dez longos anos passados no seminário. Numa altura em que a árvore cresce e se ramifica.Tanta poeira e cinza sobre seus ramos se me poisou. E quão difícil para sacudi-las… Ainda hoje, por aqui andam a atrapalhar-me. Também nem tudo foi mau. O gosto pelo estudo e uma vontade irreprimível de crescer e ser alguém ilustrado que me incutiram e, porque escondê-lo, ilustre, se possível, ficou bem gravado, até à obsessão. 


 Com todos os retrocessos provocados pelo jogo da complicada correspondência de estudos entre seminário e o ensino oficial, cozinhada e imposta pela dupla – cardeal Cerejeira e Salazar,- eu ainda não tinha garantido o acesso à universidade. Era oficial miliciano, graças ao grau que retinha do curso de teologia. 


 Se a sorte me brindasse com um feliz regresso, o que eu queria era entrar numa faculdade. Que curso? Uma incógnita. Muito espinhosa. Teria muita facilidade e um notável avanço, se escolhesse as “clássicas” : Linguística, latim e grego. Mas, ser professor de liceu… seria o que me esperava. Não agradava. Teria de andar de malas às costas por esse país fora… e, sobretudo, estava farto de ouvir falar de gregos e romanos. Sentia, porém, uma vontade de sentir outros ventos. Que me arejassem a cabeça. Num curso que me desse sucesso financeiro e social. Psicologia aplicada. Estava a nascer. Gostava. Só em Lovaina, como meus ex-colegas fizeram. Cá não havia tal curso. Direito? Até dava jeito. Só que não percebia nada desse mundo das leis. Nem eram do meu agrado. E, advocacia, nem pensar. Medicina? Sim. Mas, as matemáticas eram como galgar a pé, os Alpes ou os Pirinéus… Bom. Depois, se veria. 


 Foi aqui que a carta de Lisboa apareceu. Muito certeira e oportuna. Duma estudante de Biologia, a meio do curso. Dava certo. Calhava mesmo bem. Além do mais, facilitar-me-ia o ingresso no mundo académico. Vamos a isso. Quando chegou a hora, no silêncio do meu casebre, com electricidade e tudo, pus-me a escrever-lhe o meu primeiro aerograma dos que eram fornecidos grátis, na secretaria do Primeiro-sargento. 


4 – Fim dum Pesadelo


O pior estava para vir. Nos quatro meses que passei no BI 19 do Funchal (*), deu para me amarrar a uma donzela nativa… Sem eu dar conta, mas sempre com meu acordo, me erigiram seu noivo, com festa e apresentação à família e tudo. Antes de regressar ao “continente”. E, uma vez regressado em Évora, deslocou-se ela com a mãe a Lisboa, onde permaneceu umas semanas, para nos vermos aos fins de semana. E, na mesma linha, desloquei-me eu lá no paquete Funchal, nas curtas férias, antes de partir para guerra…Tudo estava muito bem soldadinho e apertado. Um dia que regressasse era só casar…Emprego, reservado na empresa de automóveis do sogro… 


No fundo, não me importei porque sabia que tudo poderia desfazer-se. Como me enganei. Que grande carga de trabalhos me esperava. Aconteceu que cada aerograma que me chegava, depois do primeiro, era um balde de insatisfação intelectual. Este aspecto era-me muito importante. O afastamento físico dava para discernir melhor se aquela seria a tal… companheira para uma vida inteira. Cada vez se me afigurava mais claro que não. Tudo tinha sido um entusiasmo de muito sonho e muita ilusão. Fora o primeiro contacto tête-a-tête com os perfumes de mulher, para quem renunciara, há bem pouco tempo, às sendas eclesiáticas. À medida que choviam regulares os aerogramas da nova desconhecida, de Lisboa desvanecia-se mais e mais a possibilidade de continuar com a do Funchal. 


Que turbilhão de ondas se ergueu no oceano da minha cabeça… me iam naufragando. Choros e ameaças lancinantes, dela, insistentes cartas pungentes suas, da mãe e de familiares, aqueles que apenas me viram no dia de apresentação à família, queriam, a todo o custo, repor as coisas no mesmo ponto. Tão confuso e atormentado me sentia que não havia estrondo ou ameaça de ataque inimigo, por maior que fossem, que se lhe sobrepusesse… Um duelo sangrento de forças antagónicas disputava constantemente todos os recantos e poros da minha cabeça. Noite e dia. Já me sentia um desgraçado. No princípio da vida adulta. Pensava que não seria mais capaz de voltar para trás. De tal forma que a preocupação com o risco de morrer na guerra quase se esvaiu…tanto valia. 


Mergulhado na guerra, eu pedia mais a Deus que me ajudasse a sair daquela encruzilhada do que a sair-me vivo dela. E Ele ouviu-me. Assim pensei. Veio a primeira grande operação. Iria acontecer o nosso baptismo de fogo a sério. A minha companhia fora destacada para montar segurança, algures na estrada de Catió-Cufar, uma função de rectaguarda, enquanto se desencadearia uma grande operação, com tropas veteranas, da força aérea, da marinha e do temível e lendário obus de Bedanda. 


Foi então, que, nos intervalos da guerra, pude conhecer o famoso e inesquecível capelão militar que sempre acompanhava as suas tropas, no terreno, totalmente desarmado. A sua arma era só uma discreta cruz na lapela. Que exemplo de coragem! Que arrimo para o moral da companhia!... 


Não demorou que lhe estivesse a expor o meu dilema terrível. Ponto por ponto. Eu sabia e acreditava que estas pessoas, quaisquer que sejam as suas imperfeições, têm poderes que os transcendem…são um instrumento nas mãos de quem tudo pode. 
- Olhe, lá!... Você ficou a dever-lhe alguma coisa?
- Não. Tudo intacto como encontrei...- respondi. - Mas…
- Mas, nada!...Não tem a mais pequena obrigação de continuar… Esta é a minha opinião…Você, agora é que sabe… 


Que alívio!... Fez-se luz. E veio-me a força para seguir em frente. Estava traçado o caminho. Iria acabar todos os contactos com ela. Abençoado capelão militar. 


J.L. Mendes Gomes


(Continua)


Fotos (do Cachil): © José Colaço (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
______________


Nota do editor

(*) Vd. último poste da série > 18 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7302: Cartas, aos netos, de um futuro Palmeirim de Catió (J. L. Mendes Gomes) (7): Funchal, 1964: quando o amor não resiste à dura realidade da guerra...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9776: Tabanca Grande (332): Alice Carneiro, a quem o Blogue muito deve, esposa e irmã de ex-combatentes, participante no filme "Quem Vai à Guerra" e mãe de um médico cooperante

1. Como é sabido através até de diversas publicações no nosso Blogue, temos na tertúlia um grupo de pessoas a que chamamos amigos, que,  não sendo ex-combatentes, estão de algum modo ligados à Guiné: como naturais daquele país, cooperantes, etc. Outros(as) amigos(as) estão ligados(as) a militares que fizeram a guerra colonial, principalmente as senhoras, na qualidade de esposas, namoradas, madrinhas de guerra, etc.


Hoje venho pedir um pouco de espaço entre nós para uma mulher que sem dúvida nenhuma merece pertencer à tertúlia e ao grupo dos amigos dos ex-combatentes deste Blogue. Porquê?

i) Viveu desde jovem, na pele assim se pode dizer, a guerra colonial  pois tem dois irmãos que combateram, um em Angola (o José Carneiro, o mais novo de 6 irmãos) e outro em Moçambique, sendo um deles deficiente das Forças Armadas (o António Carneiro, o mais velho).

ii) Esta mulher, nortenha, do Marco de Canaveses,  foi também madrinha de guerra de militares que nem conhecia; escreveu, e leu, cartas por quem não dominava minimamente esta forma de comunicar com os seus filhos algures na guerra de África.

iii) Em Março de 2008 acompanhou o seu marido, também ele ex-combatente da Guiné, ao Simpósio Internacional de Guiledje, revivendo assim o passado dos homens que ama (irmãos e esposo).

iv) Em 2011 participou no filme, feito exclusivamente por mulheres, "Quem Vai à Guerra", que aborda o papel das mulheres que, de uma maneira ou de outra, "foram à guerra", incluindo a problemática do stress pós traumático de guerra e as consequências desta doença no seio familiar dos ex-militares vítimas desta síndrome.

v) Esta mulher é hoje madrinha de uma linda menina que vive e cresce na Guiné-Bissau, a Alicinha, de Farim do Cantanhez, filha da Cadi, uma bela jovem nalu que ela conheceu em 2008.

vi) Esta mulher que em seis edições dos Encontros da Tabanca já realizados, apenas falhou a um por impossibilidade física.

vii) Esta mulher é apenas e só a esposa do fundador deste Blogue, chama-se Maria Alice Ferreira Carneiro, faz anos a 18 de agosto  e apoia o seu marido nesta árdua tarefa que é manter esta página viva, símbolo da união e reunião de um Batalhão de ex-combatentes da Guiné.


Abram alas para deixar entrar esta grande senhora, também mãe de um jovem médico e músico, o João Graça, também ele já com uma experiência como cooperante na Guiné-Bissau, e por direito próprio, tertuliano deste Blogue.


Fotos ilustrativas da apresentação desta nossa nova ("velha") tertuliana. Quem não a conhece? Tem, além, uma muita ativa página no Facebook. Será a nossa tabanqueira nº 551. E estará presente no nosso VII Encontro Nacional, amanhã, em Monte Real, com o seu companheiro de uma vida, Luís Graça, e com a filha  de ambos, Joana Graça.


Guiné-Bissau > Bissau > Aeroporto Osvaldo Vieira >  29 de fevereiro de 2008 > Alice Carneiro, pisando pela primeira vez o solo daquela terra verde e vermelha...
 

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Iemberém > 1 de março de 2008 > A Alice entre as mulheres da população local, em dia festivo...


Lisboa, CulturGest > 13 de Maio de 2011 > Alice Carneiro (à direita) e a nossa querida Enfermeira Paraquedista Giselda Pessoa numa aparição pública a propósito do filme "Quem Vai à Guerra", da jovem realizadora Marta Pessoa.


Esta linda menina guineense é a Alicinha, a afilhada da nossa tertuliana Alice Carneiro. Mora em Farim do Cantanhez. A mãe é a Cadi. O pai, António Baldé, está em Portugal.

Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Quelelé > Setembro de 2010 < Casa do Pepito e da Isabel  (Levy Ribeiro) > A Alicinha do Cantanhez, de oito meses (à direita),  que tem na Alice Carneiro (que vive em Alfragide, Portugal) uma madrinha, quase tão babada e ternurenta como a sua mãe, a Cadi (à esquerda)... O pai, da criança, vive e trabalha na Linha de Cascais como segurança de uma empresa. A Cadi é de Farim do Cantanhez. Na altura ela fala pouco português, mas tem vindo a melhorar... De tempos a tempos, a Alice manda à Cadi as roupinhas e outras coisas que fazem da Alicinha uma pequena princesa do Cantanhez... Pelo meio, vai rezando ao Nhinte Camatchol para que proteja esta menina (e a mãe), bem como todas as meninas e todas as mães da Guiné-Bissau...  

Fotograma do filme 'Quem vai á guerra', da cineasta portuguesa Marta Pessoa, 2010 > Maria Alice Carneiro, irmã de 2 militares em África (Moçambique e Angola - um dos quais gravemente ferido), e correspondente de outros militares nos três teatros de operações. Tem um espólio de cartas e areogramas da ordem das centenas.

Ameira, Montemor-o-Novo, 14 de novembro de 2006 > I Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande (na altura, tertúlia= > Alice Carneiro (camisola listada) ouve atentamente o nosso camarada José Luís Vacas de Carvalho... A Dina Vinhal, outra das nossas tertulianas,  totalista dos nossos últimos seis encontros (e inscrita para o VII), está na ponta direita, vestida de camisola vermelha.

Texto: Carlos Vinhal
Fotos do Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


2. Nota de L.G.:

Obrigado, Carlos, pela agradável surpresa que foi a tua iniciativa. A Alice é uma pessoa modesta que não gosta de aparecer sob as luzes da ribalta, embora seja  muito sociável, solidária, prestável e generosa. Em todo o caso, a tua proposta é mais do que justa e, por minha parte, eu associo-me a ela, congratulando-se com a ideia de ver, formalmente, o nome da Alice Carneiro (ela não usa o meu apelido) na lista dos nossos amigos e camaradas da Guiné. Eu já lhe jurei que a culpa é toda tua... Entende-te amanhã com ela, em Monte Real. Devo acrescentar que só a conheci depois de regressar da Guiné...

Não sei onde foste buscar todos os detalhes da vida da Alice no que diz respeito ao nosso blogue e à Guiné-Bissau. Na realidade, o nosso blogue é um "livro aberto", para o bem e para o mal (por ex., devassa da privacidade das pessoas). Mas já que estás a apadrinhar a entrada da Alice na Tabanca Grande, acrescenta mais esta nota "curricular":

A Alice disponibilizou a sua coleção de cartas e areogramas da guerra colonial (cerca de três centenas e meia) para um projeto de investigação, chamado FLY.  Cito aqui a investigadora e doutoranda Leonor Tavares, da Equipa FLY, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa:

(...) "O projecto FLY - Cartas Esquecidas (1900-1974) é um projecto que procura recolher, digitalizar e editar cartas do século XX dos contextos de prisão, exílio, guerra (colonial e mundial) e emigração. Este projecto continua  o projecto CARDS - Cartas Desconhecidas (1500-1900) que já conta com 2000 cartas transcritas. Os dois projectos estão neste momento parcialmente disponíveis no site http://alfclul.clul.ul.pt/cards-fly/.

"O objectivo do projecto FLY é recolher e editar 2000 cartas dos contextos referidos, sendo que se estipulou um total de 700 cartas para o contexto da guerra colonial. Este arquivo digital (composto pelas 2000 cartas do projecto CARDS e as 2000 do projecto FLY) estará disponível para investigadores de várias áreas (principalmente as áreas da Linguística, da História e da Sociologia), para que os documentos (as cartas) sejam imortalizados como objectos históricos de grande relevância linguística. Os estudos que podem ser feitos a respeito deste tipo de documentos compreendem, entre muitas outras hipóteses, aspectos relacionados com a sintaxe, a fonologia, a pragmática, a história cultural e/ou social e aspectos da sociologia das migrações, das desigualdades e classes sociais.

"O projecto FLY compromete-se a omitir todos os dados pessoais dos intervenientes nas cartas, nas transcrições e nas imagens disponibilizadas on-line. (...)".
Pormenor curioso, até já o artista plástico  Manuel Botelho utilizou excertos das suas cartas em um ou mais dos seus quadros inspirados na guerra colonial...
____________
 

Nota de CV:
 

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9775: Tabanca Grande (331): António Mateus, de Guifões/Matosinhos, ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), nosso tabanqueiro nº 550 

domingo, 18 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9222: Agenda cultural (180): O filme Quem Vai à Guerra, de Marta Pessoa (Portugal, 2011), à venda, em DVD, neste Natal




Quem vai à guerra, um filme de Marta Pessoa, produzido pela Real Ficção (Portugal, 2011). Edição em DVD. Disponível nas lojas FNAC de todo o país. Preço: c. 15 €

Foto: Facebook > Quem Vai à Guerra (com a devida vénia...)


Sobre este filme (documental) se disse, por exemplo, na revista Visão, de 15 de Junho de 2011, em artigo assinado por Manuel Halpern, o seguinte:

(...) "Marta Pessoa, a autora de 'Lisboa Domiciliária', faz agora um trabalho de fundo sobre o papel das mulheres durante a Guerra Colonial, que ironicamente se chama 'Quem vai à Guerra', como que deixando claro que ao lado da guerra que quem combate no campo, há uma outra tendencialmente silenciosas, mas também sofrida. Marta Pessoa dá voz a estas mulheres, edificando o seu papel sofrido e as mazelas sobretudo psicológicas. E faz isto cercando o tema, metodologicamente, como que dividindo os exemplos por grupos, socorrendo-se sobretudo de depoimentos, fotografias e das raras filmagens da época


"Assim, o primeiro ponto são as mulheres que realmente ficaram na metrópole... As mães e as namoradas que viram os seus homens partir, numa despedida de lenços brancos que se acenava até ao fio do horizonte... a elas restava esperar, nada mais do que esperar, às vezes até nunca. Em paralelo, as mulheres que foram, que ficaram nos postos de retaguarda, nas cidades e vilas de África, para estarem mais próximas dos seus maridos. E que sofreram uma mudança radical de vida. Uma compara a experiência na Guiné com uma prisão, uma pena que se tem de cumprir com sacrifício.

"Depois há as madrinhas de guerra, aquelas que se correspondiam com soldados, para lhes dar ânimo, num esforço diário. E também as enfermeiras paraquedistas que, por si só, mereciam um documentário à parte, que arriscaram a vida em cenário de guerra, entre homens, no tempo de brandos e bons costumes, em que a sua missão nem sempre era moralmente bem vista". (...)


_____________

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8828: As Nossas Madrinhas de Guerra (6): Ainda guardo as fotos que ela e a irmã tiraram em Saint-Tropez e me enviaram para a Guiné (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado*, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 26 de Setembro de 2011:

Caros camaradas
Eu conheci a minha mulher depois do regresso, portanto a minha vivência até a conhecer foi povoada por mulheres com que convivi na adolescência, que ajudaram no período da minha comissão e que não posso de maneira alguma esquecer.
Mostrar-me grato, falar delas é uma prova do respeito e do carinho que ainda hoje guardo por todas.

Um abraço
Juvenal Amado


A GUERRA E AS NOSSAS MADRINHAS

Nas noites deitado com o suor a empapar-me o lençol, o silêncio era só quebrado pelo roncar do gerador. Revejo mentalmente a minha família, os amigos os e lugares.

Acabei de ouvir uma cassete com a sua voz e músicas que me dedicou. Falava lentamente, arredondando e procurando as palavras correctas. Não poucas vezes parava a meio de uma frase, misturava o inglês com português, o que resultava como se de música para os meus ouvidos se tratasse. Black Magic Woman do Santana, uma das músicas que ela tinha para mim gravado, ainda me faz recuar no tempo.
A voz dela que tinha perdido as inflexões próprias da nossa língua.

Quando saiu de Portugal, rapidamente se afastou dos locais onde os imigrantes se concentravam e mantinham embora num pais distante, os costumes da sua terra de origem. Ao contrário dela, muitos dos que foram em busca de melhor vida, nunca se integraram, não aprenderam a falar a língua, nem saíram dos bairros onde se sentiam protegidos de perigos imaginários. Assim muitos voltaram mais tarde às suas terras, como se de cá nunca tivessem saído, a não ser economicamente mais fortes, roupas mais ao menos espampanantes, com reformas mais robustas e duas ou três palavras, que repetiam por tudo e por nada, num francês ou inglês de qualidade duvidosa.

Dentro do abrigo > Da esquerda para a direita: Aljustrel, Ermesinde, eu e o Caramba

Há dias encontrei no FaceBook uma amiga e ex-vizinha que imigrou e não vejo nem falo há 43 ou 44 anos. Pedi-lhe amizade ao reconhecê-la numa foto e foi com notória alegria que ela me respondeu poucas horas depois. Tem hoje um nome estranho devido ao casamento, efeito da plena integração na vida e cultura do país que a acolheu desde os 15 anos. Os filhos não sabem falar a língua de Camões, nunca cá vieram e possivelmente nunca virão conhecer a terra do seus avós, uma vez que toda a cadeia familiar se quebrou há muitos anos. Não sabem que ao não conhecerem a nossa língua, dificilmente conhecerão o nosso sentir, os nossos sonhos, o nosso passado e dificilmente farão parte do nosso futuro como nação.

Ainda guardo as fotos que ela e a irmã tiraram em Saint-Tropez e me enviaram para a Guiné.

Ali estou de olhos pregados no tecto do abrigo, com o calor que as grossas paredes absorveram durante o dia, agora expandem para o interior, e com a saudade a tomar de assalto os meus sentidos, vou ouvindo a música.

Naquela atmosfera parada o suor escorre das axilas e das têmporas por trás da orelhas e não há nada que possa fazer para o evitar. Opto por nem mexer um músculo.

Ouvi a cassete tanta vez, que já havia quem com humor à mistura, dissesse sonoramente para todos ouvirem, «outra vez??????» A «privacidade» da caserna tem destas coisas.

Era quase dolorosa a memória dos bailes a gira-discos ou do Ginásio, nos contactos saborosos dos nossos corpos, a cumplicidade do nosso par, o roçar de uma perna, de um dos seios ou rosto, bem como a sua suave respiração junto ao nosso pescoço. As promessas que ficavam no ar, praticamente difíceis de concretizar nas normas da época, eram mesma assim de sabor intenso.

Eram momentos mágicos.

Hoje esses momentos ocupam um lugar na memória. Com algumas escrevi-me durante a minha comissão, outras nunca mais as vi, seguiram o seu caminho, com mais ou menos sobressaltos, outras nunca as conheci fisicamente. Quando nos encontramos, não passamos do cumprimento mais ao menos de circunstância.

O tempo se encarregou de limar e pôr no lugar, a nossa juventude que tão depressa passou.

Juvenal em Galomaro

Guardo a memória daqueles dias como se tratassem de jóias muito raras, consciente de que a vida é um rio que corre sem parar, que se divide ou não, mas vai sempre desaguar no Mar. Vive-se como se não houvesse um fim, mas pouco a pouco a memória torna-se como uma vidraça de janela, que fica no Inverno embaciada pela condensação. Por vezes com a mão fazemos desenhos no embaciado, como quando éramos crianças. Logramos assim ver mais claro para o exterior de nós mesmos.

O passado é única certeza, o futuro será sempre uma incógnita, e à medida que vamos esquecendo, só fica o que deixamos escrito como testemunho das pequenas coisas da nossa vida.

A importância disto só ficará provada quando alguém se rever nos nossos anseios, desejos e vivências.

Há dias sentado numa mesa, tomei café com ela. Voltei a ouvir a voz da gravação que em Galomaro me suavizou aqueles dias duros.
Falou pausadamente, procurou palavras que não usa normalmente, navegou titubeante dentro da nossa gramática, pediu-me ajuda quando não se conseguia expressar, mas era a mesma voz doce que me enviou a cassete.
Bebi cada palavra como fosse água da fonte da juventude.

Não a via há 26 anos, possivelmente voltarei a estar com ela no próximo o ano, ou talvez não. Quem sabe? Por agora vou limitar-me a ouvir Santana no seu Black Magic Woman.

Juvenal Amado
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8727: Blogpoesia (159): O Mar que nos levou (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8310: As Nossas Madrinhas de Guerra (5): Avé-Maria do Soldado (Manuel Sousa)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8494: As mulheres que, afinal, foram à guerra (18): As madrinhas de guerra e a Cecília Supico Pinto, precursora do Facebook (António Matos)

1. Comentário do António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790 (Bula, 1970/72), a um poste do meu blogue pessoal, Luís Graça > Blogpoesia (*):

[O António, ex-IMB, grande amante do karting, camarada que eu muito estimo,  é membro da nossa Tabanca Grande, e além disso amigo inscrito na nossa página no Facebook; o seu pai ainda foi meu colega de trabalho, na Direcção Geral dos Impostos; e ele, António Matos, tal como o meu velho, em Cabo Verde, 1941/43, também foi confidente e escriturário de camaradas analfabetos, neste  no TO da Guiné, 1970/72]:


Caramba, Luís, tocaste num ponto que me foi sempre enigmaticamente madastro,  sabendo-se da sua relação umbilical com o Movimento Nacional Feminino e que, numa linguagem moderna e com todos os perigos inerentes a tal extrapolação, me soava a acompanhantes (não necessariamente de luxo), ainda que desses relacionamentos tivessem surgido, inclusivamente, muitos, felizes e duradouros casamentos !


Acho que as ilusões que eram criadas na generalidade dos nossos soldados funcionavam muito mais como a namorada ausente que muitas vezes também,  elas próprias,  se envolviam num relacionamento nem sempre ingénuo.

Tal como muitos de nós, também eu acompanhei "aquele" soldado analfabeto que me elegeu como confidente das suas frustrações, dos seus anseios, das suas necessidades morais e fisiológicas,  lendo e escrevendo os seus desabafos para mães, pais, namoradas, madrinhas de guerra e sei lá para quem mais ....


Sei do que falo, portanto !

Aqui entra o elemento que consubstanciava estes diálogos com compasso de espera entre pergunta e resposta - o aerograma - que teve em Cecília Supico Pinto uma das precursoras do actual Facebook ...


As analogias funcionais serão imperceptíveis mas uma coisa era evidente:  a possibilidade de se dizer tudo aquilo que o pudor não permitia dizer cara-a-cara !!!

O tema que levantas é aliciante e concordo com quem diz que maravilhosa estória seria descoberta se se dessem a conhecer esses 300 milhões de aerogramas escritos naqueles anos ....

Obrigado,  Luís !


Beijos às madrinhas que ainda hoje existam !!

Abraços a todos e hoje em especial aos afilhados de guerra !!! (**)


António

30 Junho, 2011
___________________


Notas do editor:

(*) Setembro 10, 2008 > Blogantologia(s) II - (71): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra


Criada uma ligação ao mural da nossa página do Facebook, e que mereceu, além do comentário do António Matos,  mais dois (com data de ontem), quer em relação ao meu poema quer em relação ao meu próprio comentário: Ter-se-ão escrito mais de 300 milhões de aerogramas durante a guerra colonial...



João Pereira da Costa

Luis Graça,  é diabólico esse número. Que livro ou livros dariam as passagens dos seus conteúdos. Sei lá. Todos os tipos de sentimentos e segredos. Fiquemos por aqui.


Por casualidade entabulei amizade com um oficial do exército brasileiro q...ue dá aulas numa unidade, em que fez um trabalho (estudo) para saber as razões porque raparigas brasileiras se correspondiam como madrinhas de guerra com militares portugueses na guerra colonial.


Estou à espera que me envie um livro sobre a unidade, contudo não sei se falará sobre o assunto que coloquei.


Só de pensar o que acontecera a alguns deles quando recebidos atendendo ao seu conteúdo... Que temática maravilhosa. Seria um desafio. Haverá voluntários? (...)

José Manuel Corceiro > Parabéns e obrigado Luís Graça, pelo lindo poema que escreveste… É um hino de louvor e agradecimento às nossas queridas Mães, pelos dias de dor vividos sem dormir, em sofrimento angustiante, causado pela ansiedade e a incerteza que dominava impiedosamente o seu pensamento amargurado. Continuamente a mesma dúvida, se voltariam um dia a ter a oportunidade de ver e abraçar os seus meninos? (...)

 
(**) Último poste da série > 22 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8460: As mulheres que, afinal, foram à guerra (17): Público, Cinecartaz: Críticas dos leitores

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8366: As mulheres que, afinal, foram à guerra (15): Aerogramas precisam-se, para reportagem sobre madrinhas de guerra e ex-combatentes (Sara Oliveira, mestrado de comunicação e jornalismo, Universidade de Coimbra)

1. Mensagem que nos chega de um nossa leitora, Sara Oliveira, aluna de um curso de Mestrado em Comunicação e Jornalismo da Universidade de Coimbra [, vd. foto à esquerda: Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Universidade de Coimbra > A famosa torre sineira e a cabra... Foto de L.G.]


De: Sara Oliveira [sara.i.s.oliveira@gmail.com]


Data: 1 de Junho de 2011 16:45


Assunto: Reportagem sobre madrinhas de guerra e ex-combatentes


Caro Luís Graça, 

Sou estudante de mestrado em Comunicação na Universidade de Coimbra e estou, neste momento, a fazer uma grande reportagem sobre madrinhas da guerra colonial e ex-combatentes que se corresponderam com elas. 


Estive a falar com a [jornalista e cineasta] Diana Andringa e ela sugeriu-me o seu nome como alguém que talvez me pudesse ajudar. 


Correspondeu-se com madrinhas de guerra? Ainda tem cartas/aerogramas dessa altura? 

Aguardo uma resposta sua, com a esperança de que me possa ajudar... 

Os meus melhores cumprimentos,  


Sara Oliveira




Uma aerograma enviado de Guileje, com data de 17/4/72, pelo nosso camarada J. Casimiro Carvalho aos seus pais (na Maia)... 




Foto: © José Casimiro Carvalho  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados




2. Comentário de L G.:


Cara Sara: Você foi bater à porta errada e à janela certa. Sou ex-combatente mas não tive madrinha de guerra, nem nunca escrevi nenhum aerograma... Em contrapartida, há aqui, neste blogue, muitos camaradas meus que, no teatro de operações da Guiné, tinham madrinhas de guerra, escreviam regularmente e provavelmente conservam alguns, poucos, aerogramas... 


Poucos ? Com tantas centenas de milhares de homens em armas durante a chamada guerra do ultramar, com tantos milhões de aerogramas distribuídos, gratuitamente, pelo Movimento Nacional Feminino (mais de 30 milhões por ano, nos últimos anos da guerra), é difícil encontrar alguém que tenha uma boa colecção desses documentos, e sobretudo que esteja disposto a pô-la à consulta dos outros (investigadores, escritores, editores de blogues, etc.). Já fiz esse apelo aqui, e os resultados ainda são magros, ao fim de sete anos... Veja os descritores:


madrinhas de guerra
aerogramas
as nossas mulheres


Em muitos casos, os correspondentes perderam o rasto uns dos outros. As madrinhas de guerra devem ter deitado ao lixo ou à fogueira as cartas e aerogramas de homens, estranhos, que nunca chegaram a conhecer pessoalmente.  Essas operações de limpeza costumavam fazer-se na véspera dos casórios... E depois a guerra acabou, war is over, baby, como diz um poema que eu escrevi... Alguém mais quis saber do que um afilhado de guerra dizia a uma madrinha de guerra, na tal guerra de que já ninguém se lembra nem quer lembrar ?...  


A ideia é linda, Sara, mas vem com um atraso de décadas... Parabéns às mulheres, às nossas mulheres, que estão a pôr a mão na velha massa das ressequidas e dolorosas recordações daquele tempo... Procure também no Arquivo Histórico Militar...


Em todo o caso pode ser que alguém, de bom coração, nos leia e queira fazer uma boa acção (de que todos, afinal,  beneficiaremos, espero)... Para isso, seria bom que a Sara dissesse mais alguma coisa sobre si e sobre o seu projecto de trabalho: Qual o seu "curriculum vitae"  resumido ? Qual o seu interesse especial por este tema ? Podemos usar o seu e-mail ? Não nos quer mandar uma fotografia ? (Aqui estamos habituados a dar a cara...)...


Enfim, não leve a mal que a gente faça estas perguntas... É também jornalista ? A "grande reportagem" (sic) destina-se a que fim  ? É mais um trabalho académico, uma tese de dissertação de mestrado ? É um trabalho de investigação jornalística ? É para publicar em livro ? Quem paga as fotocópias dos aerogramas e o seu envio para si ?, etc ... 


Desculpe estas perguntas todas... Temos todo o gosto em colaborar consigo (temos ajudado estrangeiros, por que é que não deveríamos ajudar  uma jovem, presumo, investigadora portuguesa ?) e, naturalmente, temos a obrigação cívica e moral de colaborar com a Academia, mas gostamos também de saber com quem, e em que termos,  apesar de você trazer a recomendação da nossa amiga Diana Andringa, uma das cerca de 40 mulheres que integram este blogue. 


Aqui fica o seu pedido (parti do princípio que era para divulgar através do blogue), e aqui tem a expressão (pública) do meu apoio à sua louvável iniciativa. Esperemos que alguém nos leia, de entre as ex-madrinhas e os ex-afilhados de guerra... Saudações bloguísticas. Luis Graça

__________________


Nota do editor:


Último poste da série > 28 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8340: As mulheres que, afinal, foram à guerra (14): Mais de um terço de uma amostra (de conveniência) dos nossos leitores tenciona ver o filme de Marta Pessoa, em breve no circuito comercia