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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5328: Blogoterapia (131): Sobe a calçada, camarada, sobe (Luís Carvalhido, CCS/BART 3873, Bambadinca, 1972/74)

O Luís Carvalhido, membro e ex-dirigente da Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra (APVG),  com sede em Braga, foi soldado de transmissões da CCS do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74). É natural de (e residente em) Barcelos. Pertence à nossa tertúlia desde Abril de 2005, tendo entrado pela mão do Sousa de Castro, do mesmo batalhão (CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74), e que é o nosso tertuliano nº 2.

1. Mensagem do Luís Carvalhido:


 Ao receber este texto (*), tenho que reflectir, acerca daquilo que em baixo fica escrito. É que às vezes eu também me canso de não entender certas coisas, certas atitudes. E se é certo que começo a perder algumas capacidades do meu modesto intelecto, também é certo que conheci muitos FIGURANTES, nas minhas andanças, alguns dos quais fazem parte desta tua cadeia. E se a memória não perdeu de vez a lucidez, anda por aí gabiru.



Às vezes, e porque penso que começo a não ter interesse, penso abandonar, mas outras vezes lembro-me daqueles que cairam e que lá no alto olham com afecto para nós pelo simples facto de ainda os recordarmos e isso motiva a continuação. Sabes: é um bocado o "sobe a calçada, Luísa, sobe".


Já agora e se possível, diz ao Vasco [da Gama] que há mais olhos abertos, perscrutando as sombras desenhadas pelos abutres que teimam em aparecer sempre que há despojos.


Por isso,  e sabendo que às vezes furo barreiras, não com o intuito de ganhar primazias, mas antes pelo meu espírito de inquietação permanente, naquilo que aos nossos camaradas toca, deixa dizer-te o seguinte:

  • faço sempre as coisas com sentido altruísta;
  • tive desde sempre intuitos firmes e sérios que paguei bem caro;
  • lutei durante muitos anos numa luta desigual, sem nada pedir em troca;
  • gosto de alertar aqueles de nós, (muitos), que apenas dormem;
  • por isso às vezes sou incómodo, sobretudo se sinto ou pressinto alguma coisa que me fira a alma;
  • por isso e se por acaso alguma minha atitude num passado recente te incomodou, não peço desculpa porque nunca faço nada com o intuito de ofender, ultrapassar ou obter qualquer benefício pessoal.


Apenas e simplesmente fiquei chocado com algumas notícias, que aqui chegaram e fiz o que a minha consciência me ditou, ou seja: disse o que penso de uma determinada notícia, dando a perceber ó outro lado da moeda [Vd. mensagem a seguir, ponto 2]

No meu conceito, os participantes do teu blogue, entre os quais me incluo, devem e têm que obedecer a regras, mas - e porque para mim isto é muito mais que um local de encontro -, os responsáveis do mesmo, antes de informarem, devem fazer uma viagem histórica por forma a não ofenderem aqueles que conhecem por dentro outras Histórias.


Estive para não comentar os teus poemas, que para mim merecem todo o respeito, independentemente da abrangência que lhe quiseste dar, mas depois, uma vez mais, este Luís resolveu subir a calçada.


Como nota final, deixa-me dizer-te, com o tal espírito de homem da Guiné, que por vezes é necessário que as águas sejam cristalinas, por forma a que cada um assuma o seu lugar.


Deixo-te um abraço e,  se um dia for possível, acredita que terei contigo uma conversa de Homens, para que percebas melhor e entendes o outro lado da barreira.


Até lá
Luis Carvalhido


2. Mensagem de 13 do corrente, dirigida aos camaradas da Guiné, em geral, e que não chegou a ser publicada, na altura:

Caro Companheiro:

Acabo de receber o teu e-mail, no qual referencias a notícia de que os corpos dos companheiros, ou o que resta deles, acabam de ser transladados de terras da Guiné para solo Português. (**)


Naturalmente que essa notícia me comoveu e me encheu de uma alegria triste. Acompanhas a notícia, com algumas considerações pessoais, entre as quais salientas o dia 14 de Novembro e as comemorações nele contidas.

Vou tentar ser breve, mas antes deixa-me retirar do contexto os restos mortais dos nossos companheiros de armas, a quem deixo um minuto do meu silêncio. Depois passo a perguntar-te o seguinte:

  • Porque estão os corpos, ou aquilo que resta deles em mais um dia dos Generais?
  • Será para darem uma medalha de ferro às famílias e ficarem bem na fotografia?
  • Porque é que tu, companheiro, que presumo seres de boa formação, não incentivas a que a própria Liga [dos Combatentes] pague as despesas dos que já vieram, bem como as do outro corpo que por lá ficou, uma vez que eles também se aproveitam da memória e da presença física dos nossos companheiros mortos?
Deixa-me dizer-te que me sinto incomodado com essa notícia, porque esse dia é um dia morto para nós. Ele não consubstancia qualquer ideia séria, qualquer projecto, qualquer sentimento de solidariedade quer para os vivos, quer para a família dos mortos.

Sinto-me triste por saber que esse dia é uma farsa para povo ver e por isso deixa-me dizer-te que a culpa é dos interesses maiores que movem muita gente que se arvora em defensor dos reais e legítimos valores de todos aqueles que suaram a bandeira.

É culpa das várias pessoas, associadas e dependentes de pequenos tachos e da valorização da imagem que alguns teimam em conseguir.

É culpa daqueles que,  devido a uma antiga ruralidade, ainda se aninham ao poder corporativo, seja ele fardado ou não.

É culpa da presença daqueles que “pseudamente” se dizem muitas coisas e são outros dos tais.

Sabes,  companheiro, a culpa não é das Associações, mas sim culpa das “presidenciações” que apenas vivem para os seus próprios interesses.


Por isso deixa-me dizer-te que pessoalmente o 14 [de Novembro] dos Generais,  nunca. Nem desses nem de outros que se digam defensores dos Veteranos de Guerra e que depois se associam para que a água corra pró seu moínho.


EU, NÃO ESTAREI PRESENTE!

A memória dos restos mortais desses e de tantos outros que tombaram, assim mo exigem.

Saudações

Luís Carvalhido (***)
Barcelos 2009/09/12

3. Comentário de L.G.:

Há muito que não sabia de ti, camarada de Bambadinca (desencontrámo-nos lá por uma diferença de um ano...).  Também, é verdade, não nos tens escrito, mas seguramente que vais acompanhando o nosso blogue, nem que seja à distância, e nem sempre concordando, necessariamente,  com a nossa linha editorial. Não quero, nem devo, comentar o teu poste, e muito menos responder às tuas críticas. Quero  apenas contextualizar as tuas duas mensagens.

A maior parte dos camaradas do nosso blogue não sabe que já foste dirigente (vice-presidente, em 2003) da APVG, e que deste o melhor do teu esforço à causa da dignificação de todos nós enquanto antigos combatentes. Está escrito, na coluna do lado esquerdo do nosso blogue, que "somos sensíveis aos problemas (de saúde, de reparação legal, de reconhecimento público, de dignidade, etc.) dos nossos camaradas e amigos, incluindo os guineenses que combateram, de um lado e de outro. Mas enquanto comunidade (virtual) não temos nenhum compromisso para com esta ou aquela causa por muita justa ou legítima que ela seja"... Isto não significa que cada um de nós, individualmente,  não possa tomar posição sobre estas e outras questões. Não queremos, no entanto, substituir-nos à Liga dos Combatentes, à APVG e às demais associações.

Quanto ao teu protesto em relação às comemorações do dia 14 do corrente, não o publicámos na altura por manifesta incapacidade material... A efeméride, entretanto,  passou e a própria notícia que originalmente publicámos sobre as trasladações não era verdadeira, era falsa (não há notícias parcialmente falsas ou parcial mente verdadeiras, há apenas notícias falsas e notícias verdadeiras).


Aprecio a tua frontalidade: de  facto, não temos quaisquer ajustes de contas a fazer um ao outro. Nem eu sou pessoa de susceptibilidades, nem tu és menino de desculpas e salamaleques... (Se me devesses alguma coisa, era uma foto e uma história de Bambadimca, que nunca chegaste a mandar, pela tua entrada na nossa tertúlia em Abril de 2005. Como já passaram duas comissões, estás perdoado!).

 Um Alfa Bravo. E não desistas, nunca desistas de continuar a subir a calçada da vida... Oxalá, ao menos, que seja menos íngreme e poeirenta que a rampa do quartel de Bambadinca (foto acima). Luís
____________

Notas de L.G.


(**) Vd. postes de:

12 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5261: Efemérides (29): Às custas dos seus familiares (Magalhães Ribeiro)

17 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5284: Dando a mão à palmatória (24): Os editores do blogue têm que ter rigor e espírito crítico em relação às suas fontes (Luís Graça)




21 de Julho de 2006 >  Guiné 63/74 - P977: Antologia (52): A guerra que Portugal quis esquecer (Luís Carvalhido, ao Jornal de Barcelos)

(...) Entrevista a Luís Carvalhido, por Zita Fonseca e José de Coelho. Jornal de Barcelos. 9 de Julho de 2003 (com a devida autorização)

Alguns excertos:

(...) JB - O país foi ingrato para convosco?


LC - O país foi ingrato! O país não teve a capacidade de reconhecer isso e fez uma coisa ao contrário que foi tentar ocultar. Quando um povo não é capaz de reconhecer o seu próprio mérito, mesmo na adversidade, fraco é este povo ou fraco é quem o lidera. Actualmente, as coisas estão a vir ao de cima, o movimento está a crescer. A prova disso é esta Associação que é a maior com 40 mil membros, mas há outras com alguns milhares. Isso quer dizer que este movimento não vai parar. Isto assumiu proporções de bola de neve.


JB - As consequências mais visíveis da guerra colonial eram, para além dos mortos, os soldados que voltavam estropiados. Nos outros, as consequências não se viam, a não ser às vezes, quando a família de algum comentava que veio de África...

LC - Que veio marado, cacimbado, ninguém o pode aturar.

JB - Isto eram coisas que as famílias viviam dentro das quatro paredes e passavam despercebidas. Agora, a ideia que se começa a implantar é que as consequências psicológicas da guerra têm uma dimensão muito grande.

LC - Enorme. Há dois tipos de feridos e de feridas. Há os chamados deficientes das forças armadas, que estão à vista, e há os deficientes encobertos. E a própria família, sendo vítima do sistema - e o sistema era de encobrimento - tinha de acobertar os seus doentes suportando tudo à luz do modelo duma pretensa família católica. Ou seja, se o marido era um stressado, um indivíduo cacimbado como se diz na gíria, batia na mulher ela, porque era uma boa católica, tinha de aguentar. Se o marido batia nos filhos pedia-lhes que tivessem paciência. Durante muito anos foi assim. Finalmente, há cerca de meia dúzia de anos, fruto das lutas de pessoas mais atentas, está reconhecido o stress pós-traumático de guerra. Isto veio ajudar a quebrar os tabus. Começou a encarar-se com naturalidade a possibilidade de cada um transmitir ao seu psiquiatra ou psicólogo um fenómeno que estava associado a efeitos recorrentes.  (...)

sábado, 14 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5272: Efemérides (37): Regressaram os restos mortais de mais três heróis de Guidaje, Maio de 1973 (José Martins)

Lisboa > Belém > Monumentos aos Mortos do Ultramar > 91.º Aniversário do Armistício, 86.º Aniversário da Liga dos Combatentes e do 35.º Aniversário do fim da Guerra do Ultramar > 14 de Novembro de 2009 > O regresso dos restos mortais de mais três camaradas, mortos na defesa de Guidaje, Região do Cacheu, Guiné, em Maio de 1973.

Foto: © José Martins (2009). Direitos reservados.

1. Mensagem do José Martins, nosso regular colaborador, ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Zona Leste, Região e Gabu, Canjadude, 1968/70:


A propósito das cerimónias de hoje, junto ao Monumento aos Mortos do Ultramar, acabamos de receber, às 18h44, o seguinte mail do nosso camarada José Martins:


Boa tarde,

Estou a chegar a casa depois de ter estado presente nas cerimónias marcadas para hoje!

Primeiros comentários:

Afinal chegaram três urnas! Ainda bem, mas não podemos baixar os braços.

Foi colocada a lápide com os comandos [africanos] mortos após a independência.

Os discursos foram politicamento correctos, mas demasiadamente longos.

Falta passar das palavras aos actos.

Foram tiradas fotos, alem de mim estavam o Virgínio Briote (*) e o José Colaço, que irão chegar ao blogue.

Um abraço

José Martins


2. Mensagem posterior do Zé Martins, enviada em 19h46:


Afinal regressaram todos!

Já estão a caminho de casa, depois de uma ausência prolongada.


(i) Soldado MANUEL MARIA RODRIGUES GERALDES, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 15, em Tomar, integrando a 2ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 4512/72, solteiro, filho de António Emílio Geraldes e Ascenção dos Santos Rodrigues, natural da freguesia de Vale de Algoso, concelho de Vimioso:

Morreu em Guidage em 10 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate rebentamento de uma mina anti pessoal. Foi sepultado no cemitério de Guidaje.

(ii) 1º Cabo GABRIEL FERREIRA TELO, mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 19, no Funchal, integrando a Companhia de Caçadores nº 3518, solteiro, filho de João de Jesus Telo e Maria Flora Ferreira Telo, natural da freguesia de Paul do Mar, concelho de Calheta - Madeira:

Morreu em Guidage em 25 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate durante um ataque inimigo ao aquartelamento. Foi sepultado no cemitério de Guidaje.

(iii) Furriel miliciano JOSÉ CARLOS MOREIRA MACHADO, mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 19, no Funchal, integrando a Companhia de Caçadores nº 3518, solteiro, filho de Manuel achado e Delta de Jesus Moreira, natural de freguesia de Ervões, concelho de Valpaços:

Morreu em Guidage em 25 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate durante um ataque inimigo ao aquartelamento. Foi sepultado no cemitério de Guidaje.

Agora é necessário alterar o local de repouso “destes guerreiros” no volume 8º da RHMCA

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5271: Efemérides (30): 86º aniversário da Liga dos Combatentes & 91º aniversário da I Grande Guerra (V. Briote)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3706: Recortes de Imprensa (12): Jornal de Notícias: Trasladações de camaradas nossos, mortos em Moçambique (Jorge Picado)

Trasladação de Restos Mortais de Combatentes de Moçambique

1. Mensagem do Jorge Picado:

Caros Camaradas:

Não sei se já tiveram conhecimento da notícia que o JN de hoje relata.

É mais um exemplo de como as Nossas Entidades "nobremente" tratam aqueles que morreram na Guerra Colonial.

O presidente da Junta de Freguesia de S. Miguel do Outeiro teve de pagar 100 € de taxas no Consulado Português de Moçambique pela trasladação das ossadas de dois combatentes que morreram em combate naquela ex-Província Ultramarina, em comparação com a isenção de custos cobrados pelas autoridades de Mueda e Nova Freixo que amavelmente facilitaram a obtenção dos documentos necessários à trasladação e não aplicaram um metical de taxa.

Igualmente se queixa, quem teve de percorrer 2 mil km de picada por aquelas terras, do "alheamento" dos responsáveis consulares ao "significado" da sua presença.

Diz mais o referido autarca: "A trasladação foi contratualizada com uma agência funerária de Maputo e foi com surpresa que, ao chegar lá, me vi obrigado a contratar pessoas e a resolver toda a burocracia sozinho".

Admite que a pior experiência foi vivida no consulado. "Era a última etapa. Tentei uma audiência, para conseguir a isenção das taxas, e foi-me negada. Mandaram-me fazer um requerimento. No dia seguinte, com o tempo contado, e como a aprovação da isenção não chegava, fui obrigado a pagar. Curiosamente, até liquidei o reconhecimento (?) das assinaturas dos falecidos. Seja lá o que isso for" (...).

Jorge Picado


2. Reprodução da notícia, com a devida vénia:

JN, 06 Janeiro 2009

Trasladação pagou taxas no consulado

TERESA CARDOSO

O presidente da Junta de Freguesia de S. Miguel do Outeiro critica o consulado português em Maputo, Moçambique, por taxar a trasladação de dois militares mortos em combate. Vai pedir à tutela os 100 euros que pagou.

Moreira Marques não se conforma com a atitude "lamentável" da representação nacional em solo moçambicano. Não só por ter sido "obrigado" a pagar 50 euros pela trasladação das ossadas de cada um dos ex-combatentes, como pelo alegado "alheamento" dos responsáveis consulares ao "significado" da sua presença.

"Estava ali a fazer o que o Estado não fez em 1966 quando aqueles homens tombaram em combate ao serviço da Pátria. Merecia outra atenção", condena.

A crítica é mais acutilante, quando o presidente da Junta de S. Miguel do Outeiro compara a atitude dos responsáveis do consulado com a das autoridades de Mueda e Nova Freixo, cidades onde os corpos estavam sepultados. "Desfizeram-se em amabilidades, compreenderam o alcance da minha missão, facilitaram a obtenção dos documentos necessários à trasladação e não aplicaram um metical [moeda moçambicana] de taxa", testemunhou.

A missão do autarca de S. Miguel do Outeiro de resgatar, a pedido das famílias, os restos mortais do 1º cabo Aníbal Rodrigues dos Santos e do soldado Ernesto Correia Dias, mortos em combate no norte de Moçambique, em 1966, desenvolveu-se entre 1 e 13 de Dezembro.

Trazer de volta as ossadas dos dois filhos da terra obrigou Moreira Marques a percorrer mais de dois mil quilómetros de picadas e a ultrapassar obstáculos com que não contava.

"A trasladação foi contratualizada com uma agência de funerária de Maputo, antiga cidade de Lourenço Marques, e foi com surpresa que, ao chegar lá, me vi obrigado a contratar pessoas e a resolver toda a burocracia sozinho.

Disposto a partilhar a experiência vivida com associações de ex-combatentes ou famílias interessadas em ter de volta os militares ainda enterrados nas ex-colónias, Moreira Marques admite que a pior experiência foi vivida no consulado.

"Era a última etapa. Tentei uma audiência, para conseguir a isenção das taxas, e foi-me negada. Mandaram-me fazer um requerimento. No dia seguinte, com o tempo contado, e como a aprovação da isenção não chegava, fui obrigado a pagar. Curiosamente, até liquidei o reconhecimento (?) das assinaturas dos falecidos. Seja lá o que isso for", protesta Moreira Marques. O JN não conseguiu falar com a tutela.

Os corpos dos militares trasladados dos cemitérios de Mueda e Nova Freixo foram enterrados a http://www.vidaslusofonas.ptde Dezembro na sua aldeia: S. Miguel do Outeiro.

__________

Notas de vb:

Artigo relacionado em

29 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3679: Trasladações dos nossos Camaradas. (Carlos Silva)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3679: Trasladações dos nossos Camaradas. (Carlos Silva).

Trasladações dos nossos Camaradas – Direito à indignação





Tal como o nosso camarada José Martins refere no Post 3677, também vi, como milhões de Portugueses, a reportagem que foi transmitida no Jornal da TVI e que teve como pano de fundo a transladação dos nossos Camaradas, 2º Sargento Justino Teixeira da Mota e Soldado José Maria de Carvalho, tendo regressado de Angola o primeiro e o segundo da Guiné, para o cemitério de Travanca.


Voltamos ao problema do apoio aos cidadãos portugueses espalhados por esse Mundo fora seja em que situação for, por parte das nossas Embaixadas e em particular da nossa representação em Bissau na Guiné, pois parece ser timbre de funcionários daqueles Serviços dificultarem a vida aos portugueses e não só, aliás, como tem sido propalado pelos meios de comunicação daquele País e de casos conhecidos que foram divulgados através do Blogue.
Não quero linchar publicamente, quem quer que seja, tal como foi mencionado por um ou outro camarada relativamente a um dos casos referidos no Blogue, mas aceito como de boa fé o que foi assumido e dito publicamente pela irmã do nosso camarada José Maria de Carvalho, por isso, naquele momento senti-me indignado, chocado e revoltado com aquilo que vi e ouvi.

Desde já, aqui fica a minha solidariedade às famílias dos nossos camaradas que agora repousam em paz na Terra que os viu nascer, bem como, à coragem de denunciar publicamente a desfaçatez de uma pessoa que não nos merece o mínimo de respeito.

E é caso para dizer:

Essa pessoa que proferiu tais palavras, para além de não respeitar os sentimentos dos seus compatriotas, com certeza, não sabe o que é a guerra, o que foi a guerra colonial, não teve familiares na guerra (...).

Que essa pessoa desconhece que nos termos do Dec. Lei nº 204/2006 de 27/10, são atribuições do MNE:

- Assegurar a protecção dos cidadãos portugueses no estrangeiro, bem como, apoiar e valorizar as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.

- Garantir a prestação de apoio consular aos cidadãos portugueses no estrangeiro.

Mais, essa pessoa desconhece que a Guiné-Bissau é um estado soberano e que o seu Povo respeita os seus mortos incluindo os portugueses que tombaram naquele território, tanto que, ao longo destes anos por onde tenho passado naquele pequeno País, tenho testemunhado que assim é.
Como tal, poderá essa pessoa ter vontade que uma “máquina arraste tudo lá para o fundo” mas essa vontade não lhe será feita pelo Povo da Guiné.

Acresce dizer ainda, que estas situações lamentáveis, levantam uma série de questões que lhe estão subjacentes, como de cidadania, educação, alteração de mentalidades, amor e respeito pelo próximo, etc, que me dispenso de desenvolver.

Contudo, a denúncia pública feita pela irmã do nosso Camarada é mais do que suficiente para tirar as ilações necessárias.

Há assim que denunciar todo este tipo de aberrações.

TODOS UNIDOS PELOS NOSSOS CAMARADAS QUE TOMBARAM

NÃO CONSENTIREMOS QUE SEJAM ENXOVALHADOS


Massamá, 29-12-2008

Carlos Silva

Ex- Fur Mil CCaç 2548/Bat Caç 2879

_________


Nota de vb:

Artigo relacionado em

domingo, 28 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3677: Trasladações dos nossos Camaradas, uns ossitos para as Famílias se entreterem...(José Martins)


Uns ossitos para as Famílias...



Mensagem do José Martins


Caros Camaradas

Acabo de ver, como milhões de Portugueses, a reportagem que foi transmitida no Jornal da TVI e que teve como pano de fundo a transladação dos nossos Camaradas, 2º Sargento Justino Teixeira da Mota e Soldado José Maria de Carvalho, tendo regressado de Angola o primeiro e o segunda da Guiné, para o cemitério de Travanca.

Até aqui tudo bem! Já foi objecto de tema nas páginas de Luis Graça & Camaradas da Guiné e Ultramar.

Que a Liga dá apoio, tambem já sabíamos! Que o Ministério da Defesa não dá apoio, tambem já calculávamos, para não dizer que é normal.

Agora, que funcionários da embaixada de Portugal digam que os familiares apenas trarão "uns ossitos" é de bradar aos Céus!

Será que ouvi bem? Que quereriam dizer que uma máquina arrastará tudo lá para o fundo?

A minha resposta neste momento, é transcrever os versos dum Camarada nosso que esteve na Guiné, ANTÓNIO NORONHA BRETÃO *, num livrinho intitulado "Três Tristes Tempos e o Regresso do Melro Preto":

Esperávamos em silêncio
mastigando a memória das coisas
e a Morte claramente apercebida
aguardava o seu quinhão

Pensávamos:

Cada coice de Mauser no ombro
é uma carícia da Pátria agradecida
Puta de Pátria que agradece aos coices.

Um abraço e que o próximo ano não seja tão funesto quanto este foi

José Martins

ex-Fur.Mil.Trams.Inf.
CCaç 5 / CTI Guiné
Junho/68 a Junho/70
__________

Nota de vb:

* António José Orlando Bretão
que, segundo a História do BCav 490, se apresentou em 19 de Dezembro de 1963 e foi destinado à CCav 488 (Jumbembem, 1964/65)/BCav 490, em substituição do alf mil António N. Coelho Brasil (ferido em combate em 08Out63).

Artigos relacionados em

domingo, 16 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3461: In Memoriam (14): Finalmente em Portugal o corpo do camarada José Maria Fernandes Carvalho (Albano Costa)

José Maria Fernandes Carvalho, Soldado da CCAÇ 1566, que morreu por motivo de doença, na Guiné, em Agosto de 1966. Esteve sepultado até agora na campa n.º 25 do Cemitério de Bolama. Chegou a Portugal com destino à derradeira morada, hoje dia 16 de Novembro de 2008




Três instantâneos captados pela câmara fotográfica do nosso camarada Albano Costa, hoje mesmo no Aeroporto Sá Carneiro aquando da chegada a Portugal, vindos da Guiné-Bissau, dos restos mortais do nosso camarada José Maria.

Caros Tertulianos

Chegaram finalmente a Portugal, depois de dois adiamentos por motivos puramente burocráticos, os restos mortais do nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho.

O funeral do nosso malogrado camarada será na próxima terça-feira, dia 18 de Novembro, na Capela de S. Sebastião, Travanca - Amarante, pelas 15 horas.

Albano Costa
__________

Nota de CV

Vd. postes de:

31 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3387: In Memoriam (8): Trasladação de José Maria Fernandes Carvalho, Soldado da CCAÇ 1566 (Guiné 1966/68) (Albano Costa)

1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3389: In Memoriam (9): Trasladação de José M. Fernandes Carvalho: as diligências de José Martins

7 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3421: In Memoriam (12): Cerimónias fúnebres do nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho

8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3423: Notícias da trasladação de José Maria Fernandes Carvalho

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3387: In Memoriam (8): Trasladação de José Maria Fernandes Carvalho, Soldado da CCAÇ 1566 (Guiné 1966/68) (Albano Costa)


1. Mensagem do nosso camarada Albano Costa, com data de 30 de Outubro de 2008:

No próximo dia 8 de Novembro, vai chegar por volta das 9 horas, ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, vindo da Guiné-Bissau, para ser sepultado no mesmo dia no cemitério de Travanca - Amarante, José Maria Fernandes Carvalho, mais um ex-militar que perdeu a sua vida em plena guerra.

José Maria Fernandes Carvalho era Soldado Atirador, pertenceu à CCaç 1566 e morreu no dia 25 de Agosto de 1966. Na altura da sua morte estava em S. João (Bolama), sendo então sepultado na campa n.º 25 do cemitério de Bolama (*).

Passados que foram 42 anos, a família vai poder finalmente fazer o seu luto.

A todos os ex-combatentes e principalmente aos seus colegas que com ele fizeram parte da mesma guerra e queiram estar presentes nas cerimónias fúnebres, informa-se que muito em breve serão dados mais pormenores.

Um abraço de amizade,
Albano Costa


Guiné-Bissau > Porta de entrada do Cemitério de Bolama

Guiné-Bissau > Campa n.º 25 do cemitério de Bolama, onde mais de 40 anos repousou o nosso camarada José Maria Fernandes Carvalho da CCAÇ 1566

Fotos: © Manuel Rebocho (2008). Direitos reservados. Com a devida vénia ao nosso camarada.

______________

Nota de CV

Vd. último poste da série de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3323: In Memoriam (7): Fernando Teixeira Soeima (1941-1965), campa n.º 1410, Cemitério Militar de Bissau (NUno Rubim)

(*) Vd. poste de 5 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2811: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (3): De 1966 a 1967 (A. Marques Lopes)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3029: O regresso, finalmente! (Maria da Conceição Vitoriano Maia)

1. No dia 6 de Julho de 2008, recebemos uma mensagem da nossa amiga Maria da Conceição Vitoriano Maia, irmã de António Vitoriano, um dos malogrados Pára-quedistas da CCP 121 que faleceram em combate, em Guidage, no mês de Maio de 1973 (1).



O regresso, finalmente!

Está prestes a chegar ao fim uma angústia que dura há 35 anos.
Ontem dia 4 de Julho aterrou na AT1 o corpo do Lourenço, do Peixoto e do meu irmão António Vitoriano, Soldados Pára-quedistas da CCP121, 35 anos após a sua morte.

Foi com grande honra que participei na missão de resgate em Março deste ano, e foi também com grande orgulho que participei nessa missão com Homens como o Coronel Calheiros, o Major General Borges e o Major General Bernades e mesmo não estando no mato mas sempre presente o General Avelar de Sousa que noutra frente actuava, assim como o Coronel Danif, e todos os membros da CTM de Bissau o meu agradecimento.

Foi com muita dor e pena que não tenham chegado também ontem os corpos dos soldados do Exército que resgatámos em Guidaje, mas a sua identificação está ainda atrasada e teve de se optar por virem alguns à frente, estando ainda em curso o processos de exames laboratoriais do ADN, com vista à sua identificação definitiva.

As urnas com os restos mortais dos três pára-quedistas ficarão depositadas na capela da igreja da Força Aérea até às cerimónias fúnebres aprazadas para o próximo dia 26 deste mês.

Depois da missa, que será celebrada pelo capelão-chefe da Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, no Mosteiro dos Jerónimos, os três soldados serão transportados num avião militar para o quartel das tropas Pára-quedistas em Tancos onde serão então alvo de uma derradeira homenagem militar sendo depois entregues às famílias para serem finalmente e definitivamente sepultados nos cemitérios das localidades onde residiam, respectivamente em Castro Verde, Caxinas (Vila do Conde) e Cantanhede.

Desde Março deste ano que esperei o momento de ontem, e mesmo quando velhos do restelo surgiram, mantive-me confiante e esperançada que tudo se resolveria.

Não pretendo ter qualquer protagonismo, mas sim quero ajudar familias que como a minha tiveram de esperar 35 anos pelo momento que vivi ontem... compreendo agora melhor as vossas memórias....

Ao vosso blogue tenho de vos agradecer por através dele ter percebido aquilo porque que passaram e sofreram e mais fácilmente ter podido preparar-me para a missão de que me orgulho ter participado, a vocês o meu muito obrigado e sim a blogoterapia funciona.

A todos o meu muito obrigado
Maria da Conceição Vitoriano Maia


A Antropóloga Forense, Eugénia Cunha, Professora da Universidade de Coimbra, que chefiou o grupo que exumou os restos mortais dos militares

No dia 26 de Março de 2008 podia ler-se no Jornal Campeão das Províncias Online o seguinte artigo, assinado por CP:

Figura da Semana: Eugénia Cunha

A antropóloga forense Eugénia Cunha, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, liderou com êxito a missão técnica que no passado dia 18 exumou os restos mortais de dez militares portugueses enterrados há 35 anos em Guidaje, Guiné-Bissau. Financiada pela Liga dos Combatentes de Portugal no âmbito do programa “Conservação de Memórias”, a operação de duas semanas de trabalho culminou com a exumação dos restos dos combatentes tombados na sequência de violentos confrontos.
Segundo dados oficiais, estão sepultados mais de 700 militares portugueses na Guiné-Bissau, sendo que a operação de Guidaje é a primeira de uma série de acções de recolha e identificação de restos mortais de antigos combatentes. O objectivo da operação, que conta com o apoio do Ministério da Defesa, da UC e do Instituto Nacional de Medicina Legal, é sepultar com dignidade os soldados falecidos durante a Guerra Colonial.
Dentro de um mês deverão ser conhecidos os primeiros resultados laboratoriais, referentes à análise antropológica. Já a identificação das ossadas, que obriga a análises genéticas, é um procedimento mais demorado. Os cadáveres exumados deverão, depois, ser sepultados no cemitério de Bissau.

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Notas de CV:

(1) Vd. alguns dos postes relacionados com este apaixonante tema de:

30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)

1 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2600: Os Mortos de Guidaje nas Notícias Lusófonas. Rui Fernandes.

21 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2670: Fez-se História em Guileje (Nelson Herbert)

22 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2672: De Guidaje para Bissau, trinta e cinco anos depois (Diário de Coimbra / Carlos Marques dos Santos)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)

20 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2781: Televisão: Hoje, na SIC, às 21h: Grande Reportagem: Ninguém Fica para Trás: O regresso a Guidaje, Maio de 1973

domingo, 27 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2796: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (6): Controvérsia (Virgínio Briote)

Ontem na SIC Notícias, a questão das trasladações das ossadas dos militares portugueses sepultados em Guidage

Presentes, o Presidente de uma Associação de Combatentes com sede em Braga (não fixei o nome), a antropóloga forense Eugénia Cunha e o Coronel Matos Gomes.

Depois do filme produzido pela SIC, aquando da deslocação à Guiné-Bissau dos especialistas em antropologia forense e geofísica, teve lugar a discussão sobre o controverso tema das trasladações dos restos mortais dos Camaradas pára-quedistas mortos naquele interminável mês de Maio de 1973.

Em 8 de Maio, Guidage (Bigene e Binta) foi atacada pelo PAIGC. Todos os acessos a essa povoação na fronteira Norte com o Senegal, foram sujeitos a uma das mais violentas acções de toda a Guerra da Guiné. Minas, emboscadas, abates de Fiats G-91, Dorniers, helis, houve de tudo naquele interminável mês (a acção prolongou-se até 8 de Junho).

As forças do PAIGC empenhadas nesta acção foram comandadas por Francisco Mendes (Chico Té) e pelo Comissário Político Manuel dos Santos (Manecas).

Na zona de Guidage estiveram envolvidos cerca de mil homens das Forças Armadas Portuguesas, segundo os Cors. Matos Gomes e Aniceto Afonso.

Em 20 dias de cerco, Guidage sofreu 43 ataques com foguetões de 122 mm, artilharia e morteiros.
39 mortos, 122 feridos, 3 desaparecidos, seis viaturas destruídas, três aviões abatidos (um T6 e dois DO 27) foi o saldo negativo para as forças portuguesas.
No decorrer do assalto do PAIGC a Guidage, a base do PAIGC estacionada em Kumbamory, Senegal, foi assaltada e destruída pelo BCmds do Exército Português em 17 de Maio. Nesta acção, segundo Almeida Bruno, o Cmdt da op Ametista Real, as tropas portuguesas reclamaram a destruição de mais de quatro centenas de armas automáticas, de mais de 100 morteiros, 14 canhões s/r e quase centena e meia de lança-granadas, para além de milhares de munições, minas anti-carro e anti-pessoal, granadas de mão, granadas de morteiro e de RPG, rampas de foguetes, etc.
No decorrer da operação o BCmds sofreu treze mortos e vinte e três feridos graves.
Notas retiradas do livro Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes e inserto em Guiné, Ir e Voltar (A Guerra da Guiné em datas). Editorial Notícias. Com a devida vénia.


A antropóloga forense Eugénia Cunha falou das questões técnicas relacionadas com a identificação das ossadas. Que foi essa a tarefa de que se incumbiram. O Presidente da referida Associação de Combatentes defendeu que a transladação dos restos mortais dos nossos Camaradas era um desígnio nacional e que o Governo Português deveria assumir as suas responsabilidades.

A surpresa surgiu quando foi dada a palavra a Matos Gomes, Coronel dos Cmds. Matos Gomes que combateu nos três palcos da Guerra Colonial, Angola, Moçambique e Guiné, apesar do notável documentário a que tinha assistido, manifestou as maiores reservas em relação ao empreendimento. Que era um assunto privado e que, como tal, se devia manter ao nível das famílias dos Camaradas mortos. Que estávamos a assistir à profanação pública, transmitida por órgãos de comunicação, de uma questão que devia ser da exclusiva responsabilidade das famílias. E que não nos podíamos esquecer que Portugal tem corpos de combatentes espalhados por tudo quanto é mundo, desde o Paraguai à China.

Cachil, Ilha do Como. A Cruz assinala as mortes dos Furriéis Mils. Condeça e Boneca.

Foto: © Hugo Moura Ferreira (2008). Direitos reservados.

Que só na Guiné, ossadas de militares portugueses estão dispersas por mais de cem locais. E que não podemos estar a cavar em todo o lado, onde haja restos de portugueses. Para além de questões de natureza diplomática, perguntou-se se não estaríamos a abrir um questão de consequências imprevisíveis. Lembrou que em Moçambique, um Unimog tinha rebentado uma mina e que dos militares e da viatura, o que se conseguiu identificar, sem margem para dúvidas, tinha sido a caixa de velocidades da viatura. E que no entanto, pelo que depreendi, as famílias receberam em Portugal os restos mortais...

O talhão militar do cemitério de Bissau, em 1966.

Foto: © Virgínio Briote (2008). Direitos reservados.

O Cor Matos Gomes concorda que as ossadas devem ficar reunidas em locais onde seja possível manter a mínima dignidade para quem deu à Pátria o melhor que tinha. Que, insistiu Matos Gomes, estava contra o espectáculo público da devassa do que restava dos que galhardamente se bateram até ao limite no campo da batalha e que este era um local digno, como digno tinha sido o enterro possível que, na altura os Camaradas lhes fizeram.

Uma controvérsia que vai certamente continuar.
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Nota de vb: artigo relacionado em

22 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2785: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (3): Sabemos ao menos quem foram e onde estão ? (Luís Graça)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2784: Ninguém Fica para Trás (2): Mortos e abandonados como se fossem lixo militar (Henrique Cerqueira)

1. Mensagem do Henrique Cerqueira (1), enviada hoje às 15h:


Caro Luís:

Serve este e-mail apenas para dar os meus parabéns ao camarada Bonifácio (2) que está em Toronto. Fico ainda aliviado porque o meu pensamento final do e-mail anterior [, transcrito a seguir,] está certo, ou seja, Já Temos Idade Mas Não Conformados Com a Vontade dos Senhores.

Só consultei o nosso blogue depois de ter enviado o meu e-mail sobre o assunto em titulo. Fiquei de imediato muito feliz por ver que de muito longe e em cima da hora pensou mais ao menos como eu e, segundo parece, há muita mais gente que não dorme nem deixam que lhe "comam as papas na cabeça".

Em frente, Camaradas, não deixemos que o assunto morra nos meandros do mediatismo.

Henrique Cerqueira
Ex-Fur Mil
BCAÇ 4610/72/
3.ª Companhia
Biambe

4.º Gr Comb, CCAÇ 13
Bissorã
1972/74

2. Texto do Henrique Cerqueira, enviado às 12h30h:

Bom dia Luís e restantes camaradas da tertúlia.

Hoje resolvi escrever um pouco para o nosso blogue, para poder fazer algumas considerações sobre o programa transmitido pela SIC sobre os nossos camaradas que ficaram abandonados na Guiné (assim como nas outras províncias).

Foi com grande um grande aperto no peito que assisti ao referido programa. No entanto e quando o programa terminou fiquei estarrecido com a sensação de VAZIO que me acometeu. É que fiquei por saber se este tipo de operação é ou não para ter continuidade com os restantes camaradas MORTOS ao serviço de PORTUGAL, ou se na realidade este programa será mais um dos famigerados, à procura de audiências.

Espero que não,espero ainda que as consciências sejam mobilizadas para que uma vez por todas que o nosso PAÍS resolva assumir todas as atrocidades que cometeu com os filhos de PORTUGAL, que se viram privados da sua juventude e que em milhares dos casos MORRERAM e, como se não fosse suficiente, FICARAM ABANDONADOS como se de simples LIXO MILITAR se tratasse.

Lamento sinceramente que durante o programa nada fosse dito sobre o futuro dos restantes camaradas ABANDONADOS.

Caros Tertulianos e ex-Camaradas da Guerra,temos a responsabilidade de quanto mais não seja utilizar o Blogue para que se pressione todos os Senhores do Poder e até os meios de comunicação, para que não caia em saco roto a OBRIGAÇÃO A TODOS OS NÍVEIS DO ESTADO PORTUGUÊS ASSUMIR O REPATRIAMENTO DOS SEUS FILHOS MORTOS EM COMBATE E VERGONHOSAMENTE ABANDONADOS NAS TERRAS A QUE FORAM OBRIGADOS IR COMBATER.

Não discuto aqui se o que está a ser feito neste momento é ou não a forma mais justa,mas para que não haja maus juízos é URGENTE que o ESTADO divulgue o que pensa fazer e que não se espere que sejam CAROLAS, com mais ou menos PODER, a resolver alguns casos mais ou menos mediáticos.

A razão deste meu e-mail é pura e simplesmente impulsionado pela tal SENSAÇÃO de VAZIO que senti no final do programa.

Uma pequena nota antes de terminar: Às vezes no nosso Blogue, e com demasiada frequência no meu entender,vejo que há em vários temas um excessivo sentimento de derrota e até culpabilização. No meu entender, nós não temos nada que nos sentirmos derrotados. Tivemos vitórias militares e derrotas, mas o que tínhamos, isso sim, eram Vinte e tal anos. Se alguém tem que assumir derrotas, serão as cabeças pensantes que eram muito bem pagas para isso e até nem eram obrigados a ir para a guerra,o que aliás eu nem recrimino,só que eu fui obrigado daí ter autoridade para falar assim.

Bom termino, que isto já vai longo e se calhar vai trazer alguma discussão, o que de certo modo será o pretendido. É que a malta já está avançada na idade,mas não está acomodada a tudo que os poderosos querem, isso foi tempo.

Um abração para todos e seja o que Deus quiser.

Henrique Cerqueira
Ex-Fur Mil 72/74
Biambe/Bissorã

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Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2549: Blogoterapia (42): 34 anos depois (Henrique Cerqueira)

(2) Vd. poste de 21 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2783: Ninguém Fica para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (1): A revolta de um veterano, emigrante no Canadá (João Bonifácio)

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)



Guiné > O sargento paraquedista Manuel Rebocho (Maio de 1972/Julho de 1974), hoje Sargento-Mor Paraquedista, na Reserva, e doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos (tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975").

Fotos: © Manuel Rebocho (2006)


Texto do Manuel Rebocho, Sargento-Mor Pára-Quedista, na Reserva, que foi operacional na Guiné (Maio de 1972/Julho de 1974, hoje doutor por extenso, pela Universidade de Évora, e um dos mais recentes membros da nossa tertúlia. O apelo do Manuel Rebocho merece, desde já, o meu apoio, extensivo - julgo eu - ao resto dos camaradas e amigos da Guiné. Eu ignorava completamente esta situação de abandono, puro e simples, de camaradas mortos em combate!... Só o desnorte do regime político de então e dos responsáveis das suas Forças Armadas é que pode explicar esta situação infamante... Mas para já temos de saber quantos são, quem eram, a que unidade pertenciam, donde eram naturais... É uma boa ocasião para sensibilizar a opinião pública portuguesa para o drama de toda uma geração que fez a guerra colonial e que recusa ser uma geração envergonhada, culpabilizada, esquecida, e menos ainda uma geração de coitadinhos... Reivindicamos o direito à memória e à dignidade (LG)


Meu caro Luís Graça

Embora um pouco demorado e contra o meu habitual, junto te envio as duas fotografias que me solicitaste.

Quanto à tua pergunta, se sou doutorado ou doutorando, digo-te que sou doutorado em Sociologia da Paz e dos Conflitos. A tese que defendi subordinei-a ao tema “A FORMAÇÃO DAS ELITES MILITARES PORTUGUESAS ENTRE 1900 E 1975”.

Aproveito para te agradecer, bem como ao Humberto Reis, a vossa disponibilidade para colocarem, no blogue, a carta militar de Guidage (2). Iguais agradecimentos dirijo ao Albano Costa por me ter enviado a fotografia de Guidage, tirada de satélite.

O meu interesse por Guidage tem fundamentos científicos, na medida em que concluí que as consequências negativas para as nossas tropas, durante os combates que tiveram lugar naquela zona, durante o mês de Maio de 1973, se ficaram a dever a erros grosseiros de planeamento e execução das operações militares.

Objectivamente, a morte dos quatro Soldados Paraquedistas, no dia 23 de Maio, durante a execução da Operação Mamute Doido, junto à tabanca de Cufeu, deveram-se, segundo a minha investigação, a erros que eu não admitia a qualquer dos três cabos da minha Secção. E o pior, e de todo injustificável, é que três destes Soldados forem enterrados, tal como um elevado número de Soldados do Exército, junto ao arame farpado, do lado de fora, do Destacamento de Guidage.

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Novembro de 2000 > A bolanha de Cufeu.
Foto e legenda: © Albano M. Costa (2005)
Tenho procurado apoios para a transladação dos restos mortais destes camaradas (Páras e do Exército), para os cemitérios das suas terras Natal, por considerar inconcebível este abandono, dos corpos de jovens que morreram no cumprimento de obrigações que a Pátria lhe impôs. Apoios que ainda não consegui. Mas também te digo, que não conheço a palavra desistência.

É que, para além de tudo o que se tem dito, sobre as motivações que conduziram ao Golpe Militar de 25 de Abril de 1974, uma coisa ninguém refere, mas eu sei: enquanto decorriam os combates em Guileje/Gadamael e Guidage, (lembro que o abandono de Guileje se verificou no dia 22 de Maio e estes combates em torno de Guidage, de que te estou a falar, decorreram no dia seguinte), Spínola dirigiu uma carta ao Ministro do Ultramar dizendo-lhe que não tinha meios para continuar a Guerra.

Ressalta daqui, e o Investigador não o pode ignorar ou esconder, que os combates de Guileje/Gadamael e Guidage constituíram formas de pressão de Spínola sobre o poder central para negociar a Guerra.

Então, os homens que morreram nestes combates e, sobretudo, os que ali foram enterrados, constituem-se, quanto a mim, como os grandes mártires “por Abril”. Os outros, bem os outros... Esses trataram da vidinha.

Neste sentido, continuarei a trabalhar para que os nossos camaradas tenham uma sepultura condigna. É o mínimo que eu me sinto na obrigação de fazer.

Já agora, se encontrares o Albano Costa, não te esqueças de lhe dizer que no blogue nos tratamos todos por tu.

Um grande abraço do
Manuel Rebocho
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)
Meus caros tertulianos

(2) Em 22 de Junho últim, o Manuel Rebocho escreveu a seguinte mensagem para o Humberto Reis:

Meu caro amigo Humberto Reis:

Cumpri uma comissão de serviço como pára-quedista, na Guiné, entre 1972 e 1974. Venho investigando aquela guerra que, se por uma lado foi igual a muitas outras, também é certo que apresenta algumas espeficidades muito particulares e até atípicas.


Venho agora investigando os combates em torno de Guidage, no mês de Maio de 1973. Para este estudo estou a servir-me das cartas militares que estão no nosso blogue, porém, falta uma que é muito importante: a carta que contém a povoação de Guidage,que fica por cima da carta de Binta.

Como me parece que é o meu amigo quem coloca as cartas no blogue, venho pedir-lhe que faça mais um esforço e cologue lá também a já referida carta de Guidage.

Com o abraço bloguistaManuel Rebocho


O Humberto respondeu no dia seguinte (e deu-me conhecimento do teor da resposta):

Amigo Manuel Rebocho:

Aqui no blogue funciona apenas o tu, sem postos nem títulos. Sobre o teu pedido informo-te que não sou eu que insiro o material no blogue, mas sim o Luís Graça, pois eu em termos informáticos sou um aprendiz de principiante. Julgo que num CD que já dei ao Luís, lá está a carta de Guidaje para inserir no blogue, logo que ele tenha disponibilidade para tal. Portanto, em breve o teu pedido vai ser satisfeito. Faz-me lembrar os programas da rádio dos discos pedidos. Qualquer coisa que precises é só pedir, depois logo se vê se pode ser satisfeito, ou não.
Um abraço,

Humberto Reis

Eu, por meu turno prontifiquei-me a arranjar-lhe o mapa de Guidage, com a seguinte nota (27 de Junho de 2006):

(i) Gostava de ter duas fotos tuas: uma dos bons velhos tempos e outra mais recente, para pôr na nossa fotogaleria…

(ii) Depois arranjo-te o mapa de Guidage… O Humberto Reis é que é o patrão… Entrego-mos digitalizados, eu reduzo-lhes a dimensão e ponho-os em linha (‘on line’) nas nossas páginas na Net… É uma tarefa que requer tempo e paciência…

(iii) Há dias escrevi-te o seguinte (no nosso blogue), espero que tenhas lido, já que não me respondeste: “Meu caro Manuel Rebocho: O José Casimiro Carvalho já me tinha falado em ti. Ex-combatente da Guiné e doutorado (ou ainda doutorando ?) em sociologia, estás duplamente em casa, que é como quem diz: deves sentir-te confortável na nossa tertúlia virtual. Como já cá estás dentro, faz o favor de cumprir a praxe: 2 fotos, uma estória... ou as estórias que quiseres, porque o nosso hobby era a blogoterapia... Escrevemos, contamos estórias, mostramos as nossas fotografias, investigamos, apontamos o dedo à muralha de silêncio que se faz à nossa volta, a geração que fez a guerra colonial e que a perdeu (ou talvez não, por que como diz o Leopoldo Amado, a guerra colonial é apenas uma das faces da moeda; poderemos ter perdido a guerra, mas ganhámos a paz, ou pelo menos estamos a tentar conquistá-la)...

Boa saúde, bom trabalho!
Luís Graça