Mostrar mensagens com a etiqueta universidade. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta universidade. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18239: Notas de leitura (1034): “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes; Chiado Editora, 2015 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Janeiro de 2018:

Queridos amigos,

Não se põe em causa o entusiasmo e a vontade de investigar deste doutor em Ciência Política. Mas há enviesamentos e erros crassos que bradam aos céus. Como é que é possível um júri de um doutoramento deixar passar em branco Cacheu como capital da Guiné?

Recorde-se que foi a 4 de Agosto de 1914 que se deu às vilas de S. José de Bissau e de Bolama a categoria de cidade, e de vila às povoações de Cacheu, Farim e Bafatá.

Como é que é possível passar em branco a ligeireza de dizer que Amílcar Cabral era mestiço, não se tem em conta a definição de mestiço?

Como é que é possível um júri aceitar num doutoramento afirmações como as de que Amílcar Cabral era um pau-mandado do PCP?

A despeito destes dislates, a despeito de termos que tragar 100 páginas iniciais nada convidativas para a substância em análise, o doutor Livonildo trabalhou, foi pena não ter sabido resistir a especular e a fazer afirmações sem fundamento.

Vamos continuar.

Um abraço do
Mário


Uma proposta para novo modelo de governação na Guiné-Bissau (1)

Beja Santos

A obra intitula-se “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes, Chiado Editora, 2015. O autor concluiu a licenciatura e o mestrado em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e em 2014 terminou o doutoramento em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona do Porto. A dissertação e a tese serviram de base a este livro, que é prefaciado por António José Fernandes, professor catedrático de Ciência Política, foi ele quem acompanhou o programa do curso do doutorando e tece-lhe aqui os maiores elogios:

“A extensa obra do doutor Livonildo engloba, além da descrição e explicação de vários conceitos inerentes ao domínio do objeto de estudo da Ciência Política, uma análise histórico-sociológica do povo (dos povos) da Guiné-Bissau, uma caraterização fundamentada e aprofundada das dimensões política e social deste país, uma crítica ao sistema de governo que tem vigorado na Guiné-Bissau desde a sua independência e a proposta de um novo sistema político de governo para estabelecer e garantir a paz e a concórdia neste país africano de língua oficial portuguesa.

Esta obra, pela natureza e dimensão da sua substância, pela originalidade do seu propósito e pelo rigor concetual da sua terminologia, reveste-se de importância relevante (…) A sua leitura atenta ajudará a desfazer muitos equívocos terminológicos e ajudará também os cientistas políticos a prosseguir com o rigor concetual da Ciência Política".

Antes de mais, é sempre de questionar se se deve publicar na íntegra uma dissertação de doutoramento, que é alvo de formato próprio, com indicações metodológicas e uma carga expositiva que, dada à estampa como livro, pode assumir uma enorme carga dissuasora para a leitura. É este um dos casos, e convém explicar porquê. Quando o leitor está à espera das razões que suscitaram a proposta do investigador, segue-se uma revoada de nomes ligados à epistomologia da ciência, seguindo-se, também despropositado, um apanhado de conceitos básicos de ciência política, nisto já estamos em 100 páginas, o leitor a arder em curiosidade.

Quer-se lembrar ao autor e ao professor catedrático que o orientou que Cacheu nunca foi capital da Guiné, tal designação é pura fantasia, é verdade que foi uma vila com enormíssima importância mas não há um só documento histórico em que o nome de Cacheu apareça conotado com a designação de capital. A Constituição Liberal nem mesmo referia a existência da colónia na Guiné, falava em Cacheu e Bissau, todos sabemos que a presença portuguesa foi durante séculos diminuta, assentava no Litoral e em pontos aprazíveis dos rios, aí se fazia tráfico de escravos e outros negócios; a missionação foi um falhanço rotundo, a obra missionária não recebeu os estímulos necessários nem podia contar com populações amigáveis; recorde-se a questão de Bolama, recorde-se a Convenção Luso-Francesa, a Conferência de Berlim e o imperativo de ocupar o território que nos fora cedido como enclave na África Ocidental francesa.

Estamos agora no enquadramento histórico da Guiné-Bissau, são indicados os povos que compõem o mosaico étnico, o historial imperial que precede a presença portuguesa é relatado à luz dos conhecimentos atuais, e tem cabimento o que o autor refere sobre os podres locais e as suas tradições, que sofreram profundas alterações com a chegada dos Mandingas, Fulas e dos portugueses. O autor fala permanentemente na Guiné-Bissau, o termo não tem nenhum rigor, quanto muito pode falar em Senegâmbia, rios da Guiné de Cabo Verde ou na colónia na Guiné, a Guiné-Bissau é termo a usar para o país independente. Estamos agora noutra vertente do estudo, a guerra colonial, o autor abre polémica desnecessária quando discreteia sobre as causas da guerra de libertação:  

“Os causadores da guerra colonial foram, na sua esmagadora maioria, os opositores portugueses do Estado Novo em conluio com as chefias africanas, em especial as que comungava a ideologia socialista baseada no comunismo do tipo marxista-leninista (…) Uma primeira leitura leva-nos a dizer que o PCP e os países comunistas usaram alguns cabo-verdianos e estes, por sua vez, usaram alguns guineenses, sendo o PCP um intermediário nestas relações.

Uma segunda leitura diz-nos que neste estabelecimento de alianças, alguns guineenses/grupos étnicos esclarecidos viram nesta situação a oportunidade de se sujeitaram a curto e médio prazo para, a longo prazo, quando a vitória estava próxima, começaram a inverter a relação de ordem hierárquica da aliança. Estas duas leituras podem enquadrar-se em algumas teorias clássicas. Só na fase final, para prevenir que a queda do regime fosse associada apenas à guerra colonial, estes agentes intervieram em Portugal com um pequeno gesto, o golpe militar de 25 de Abril”.

Não sabemos onde é que o doutor Livonildo foi buscar argamassa para tanta especulação, não indica a conveniente bibliografia que ponha este fantasma comunista na boca de cena. As especulações agravam-se quando, logo a seguir, encontra fortes analogias entre Amílcar Cabral e Honório Pereira Barreto. Não sabemos como é que o doutor Livonildo descobriu que Amílcar Cabral era mestiço, dava a sua ascendência de dois cabo-verdianos, a não ser que tenha provas de algum bisavô branco, mulato ou guineense, e fica-se perplexo como este despautério passa no júri de doutoramento.

Para quem já segue esta leitura de vias sinuosas reticente, o que se segue é de assombração: a guerra colonial, vista pelo autor, é uma quase repetição das antigas alianças de Portugal (Cabo Verde, Mancanhas, Manjacos, Papéis e individualidades) contra as alianças Mandinga do Império de Gabu (Beafadas, Balantas, Fulas, etc) na antiga Guiné. Leia-se com todo o sangue frio possível:

“A guerra colonial na Guiné-Bissau foi, em grande parte, da autoria do PCP (e também da FPLN) responsável pela esmagadora maioria de instruções que Amílcar Cabral executou. Sozinho, Cabral teria tido dificuldade de reunir as condições necessárias para enfrentar o poderoso colonialismo português”.

O doutor Livonildo comprovadamente que não estudou a formação ideológica de Cabral, o seu itinerário político, a organização do PAIGC a partir de 1959 e os apoios que o movimento de libertação recebeu. Tivesse feito essa investigação e não se atreveria a escrever estas barbaridades. Refere que a primeira operação militar contra posições portuguesas foi realizada pela FLING, não é verdade, o ataque a S. Domingos e a vandalização de Varela, em 1961, foi obra do MLG – Movimento de Libertação da Guiné, comandado por François Mendy, um Manjaco que se movimentava bem em Ziguinchor e Koldá, arregimentou um grupo de homens e fez duas incursões a partir do Senegal.

Aceita-se o que o autor refere quanto à escolha, para base das guerrilhas do PAIGC, da República da Guiné Conacri. Mas não se contém e lança tiradas levianas como se a ciência política se permitisse andar a pôr a História em tribunal, e encontrar sem fundamento analogias entre o presente e o passado, como se exemplifica:

“Portugal prejudicou a Guiné Conacri e beneficiou o Senegal ao aceitar a troca de Casamansa por Cacine – este era mais um motivo para os senegaleses se manterem cautelosos face ao PAIGC e aos seus aliados Felupes que desejavam recuperar o Casamansa".

Fiquemos ora por aqui. O que a seguir se vai escrever sobre o assassinato de Amílcar Cabral é uma efabulação sem limites, tudo palpites, temos que questionar a toda a hora se a tese de doutoramento se tornou num romance de espionagem.

(Continua)

________________

Sobre o autor, Livonildo Francisco Mendes:


(i) Livonildo Francisco Mendes (Ildo) nasceu a 28 de Julho de 1974 em Cacheu (Guiné-Bissau), cidade que é considerada o berço da civilização dos guineenses e a primeira capital da Guiné-Bissau;

(ii) conheceu muitas zonas da Guiné-Bissau, graças ao trabalho que o pai, empregado comercial, exerceu desde o período anterior à luta armada até a década de 1990;

(iii) terminado o ensino secundário, foi convidado pelo Ministério da Educação para dar a sua contribuição ao país, tendo trabalhou na Região de Cacheu como Professor de Língua Portuguesa no Liceu Regional Hô-Chi-Minh, em Canchungo e como Professor contratado de Filosofia no Liceu Unidade Escolar 23 de Janeiro, em Bissau;

(iv) frequentou até ao terceiro ano a Licenciatura em Direito na Faculdade de Direito de Bissau;

(v) em 2001 ganhou uma Bolsa de Estudo para Portugal;

(vi) fez o  12º ano na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro (Caldas da Rainha), após o que foi para Coimbra, onde concluiu a Licenciatura e o Mestrado em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra – com uma Dissertação de Mestrado intitulada “Democracia na Guiné-Bissau: por uma mudança de mentalidades”; 

(vii) depois do Mestrado, sentiu necessidade de complementar a sua formação na área da Ciência Política e, por esta área de formação não existir em Coimbra, mudou para a Universidade Lusófona do Porto;

(viii) em 2014, terminou o Doutoramento em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona do Porto, com uma Tese intitulada “Modelo Político Unificador - Novo Paradigma De Governação Na Guiné-Bissau”.;

(ix) A Dissertação e a Tese serviram de base a ao livro “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau” (Lisboa, Chiado Editora, 2015, 594 pp.)

Fonte: Adapt. de Chiado Editora  > Autores > Livonildo Francisco Mendes

____________

Nota do editor

Último poste da série de 19 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18227: Notas de leitura (1033): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (18) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18088: Agenda cultural (621): Joaquim Pais de Brito, na livraria Ferin, ao Chiado, amanhã, 6ª feira, dia 15, pelas 18h30, na apresentação do seu livro "Muitas coisas e um pássaro" (Lisboa, Sextante Editora, 2017, 256 pp.)



Capa  do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 1230,  edição de 22 de novembro a 5 de ezembro de 2017.

Fonte: Sapo Visão > Jornal de Letras (com a devida vénia...)





1. Amanhã, 6ª feira, dia 15 de dezembro,  na Livraria Ferin, Rua Nova do Almada, 72, ao Chiado, Lisboa, pelas 18h30, realiza-se a sessão de lançamento do livro "Muitas Coisas e um Pássaro", de Joaquim Pais de Brito (Lisboa, Sextante Editora, 2017, 256 pp, preço de capa, c. 14 €). A apresentação do livro e do autor está a cargo de Rosa Maria Perez.


O autor é convidado, neste seu livro,  a abordar o seu percurso profissional, a partir de cinco motivos: um desenho, uma imagem, um texto, um objeto, um som.

Fala-se então apaixonadamente de teatro, de literatura, de etnografia, de museus, de exposições, de alunos, do Portugal rural e urbano, do cantar do carro de  bois, de fado... E de motivações, escolhas e, também, acasos que o conduzem a refletir, enquanto antropólogo, sobre questões de museologia, formação e conhecimento.

Apaixonadamente, como ele sempre o fez, e como eu o recordo, em tudo aquilo em que se meteu e em que tocou, da investigação ao ensino e depois à museologia. Mas falemos do presente, que ele continua vivo da costa, felizmente... Ainda há dias bebemos um café juntos.

No caminho desta revisitação surge-nos, entretanto um pequeno pássaro intrometido que o acompanha há muitos anos, e que gosta de participar nessa reflexão. 


2. Joaquim Pais de  Brito, nascido em Nelas, em 1945, é professor emérito de Antropologia do ISCTE-IUL e foi diretor do Museu Nacional de Etnologia entre 1993 e 2015.  É seguramente uma referência maior na área das ciências sociais e humanas em Portugal.

Recebeu, em 1996, o Prémio PEN de Ensaio pelo seu livro "Retrato de Aldeia com Espelho: Ensaio sobre Rio de Onor", que foi o tema do seu doutoramento (Lisboa, Dom Quixote, 1996, 396 pp.). Acompanhou, desde 1975,  e durante década e meia, as transformações que se operaram naquela aldeia comunitária de economia agropastoril de montanha, dividida ao meio por uma linha fronteiriça luso-espanhola. A aldeia é só uma, com dois povos, os de cima e os baixo, que têm um língua comum, o riodonorês), além de um território e uma organização social única.

Joaquim Pais de Brito foi distinguido pelo Presidente da República Jorge Sampaio com a Comenda da Ordem de Mérito Cultural, em 2002.

Foi também o fundador e o diretor da notável coleção "Portugal de Perto: Biblioteca de Etnografia e Antropologia", sob a chancela das Publicações Dom Quixote,  onde se publicaram dezenas de títulos de trabalhos, alguns clássicos, fundamentais para o conhecimento da cultura popular portuguesa e do nosso património cultural, material e imaterial, como o por exemplo o fado. É um coleção incontornável, de referência obrigatória para quem se interessa por este domínio do saber. 

Foi também ele quem terá o sido o primeiro a levar a academia a sair da sua "torre de marfim", despir-se de preconceitos e fazer do fado ("cultura popular urbana lisboeta") um objeto de estudo  multissectorial, na confluência de diversas disciplinas, da etnografia à antropologia, da sociologia à história, da museologia à  etnomusicologia...


3. Mandei-lhe há dias uma mensagem de resposta ao seu pedido de divulgação deste evento. Aqui vai:

Joaquim: antes de mais, parabéns!...Como eu costumo dizer, a gente, da nossa geração, que fez a guerra e a paz, tem de se recusar a ir para a "vala comum do esquecimento"... E tu fostes daqueles profes, no ISCTE, que a maioria de nós não vai esquecer... Acho que este é um dos elogios, dos muitos, a que tens direito... Se eu estiver inspirado ainda te faço uma quadra ou um soneto... onde meto o teu "pássaro"...

Para já prometo fazer-te um "poste", "à maneira", na nossa série "Agenda cultural"...

Bolas, não tens uma "chapa", uma foto do teu tempo de "menino e moço" ?... Vou procurar... E em princípio lá estarei, no dia 15, na Ferin, às 18h30... Vou divulgar pelos meus contactos, facebook, etc. (Infelizmente não fiquei com grandes contactos da malta do meu/nosso tempo do ISCTE...).


Um xicoração fraterno, Luís

Na realidade, quantos professores passaram pelas nossas vidas ? Dezenas e dezenas... E de quantos nos lembramos hoje ? Na melhor das hipótees, uma meia dúzia... O Joaquim Pais de Brito está nessa minha curta lista de "professores para a vida"... Daqueles que nos marcaram verdadeiramente, de cuja voz e brilhozinho  nos olhos nunca esqueceremos... Daqueles relativamente raros professores que sabem falar com paixão e rigor daquilo que sabem... As suas aulas eram uma festa!... Não fui antropólogo, fui para a sociologia do trabalho e, mais tarde, da saúde... Mas sempre dei importância ao lado "socioantropológico" das coisas.... Essa minha sensibilidade cultural deve muito ao Pais de Brito e ao entusiasmo com que ele nos levou a redescobrir e a repensar muitas das nossas formas, humanas e portuguesas, de ser e estar na vida, no território, na comunidade, no mundo...

Foi meu professor de antropologia, no ISCTE, durante a minha licenciatura em sociologia (que terminei no ano letivo de 1979/80). Foi com ele que ganhei o gosto não só por esta área científica como  pelo trabalho da investigação empírica, feita no terreno. 

Durante meses, eu e a minha equipa (que fazia parte de uma equipa mais vasta, um turma inteira que estudou o fado na suas múltiplas dimensões, sob a sua "batuta")...  fizemos durante meses "observação participante" numa taberna do Bairro Alto, a Princesa da Atalaia, na rua da Atalaia, onde em finais da década de 1970 ainda se cantava e tocava o chamado "fado vadio"...A expressão hoje não é consensual, "fado vadio", mas na altura queria significar algo que se opunha à  (ou pelo menos, não encaixava na) "cultura oficial" do fado, a do profissionalismo e da indústria do espectáculo... 

De qualquer modo a "Princesa da Atalaia" não existe mais, que eu saiba, engolida na voragem do tempo e no processo de "gentrificação" e "turistificação" dos bairros populares de Lisboa....Passei, por lá há uns anos, a loja era então de moda ou  de pronto a vestir... Há dias,  ao ir à "Tasca do Chico" (que estava cheia, que nem ovo, de turistame...), voltei a tentar reconhecer a fachada do prédio da antiga tasca da rua da Atalaia... Para surpresa minha, era agora um "kebab"...

Com muita pena minha, não vou poder estar amanhã com o Joaquim, na centenária Livraria Ferin (que mudou recentemente de dono, ao fim de 177 anos de existência...). Amanhã estarei fora de Lisboa, mas prometo ler  (e fazer a recensão de) o  livro...  De qualquer modo, aqui fica o poste prometido e o desejo de continuação de bons voos para o pássaro que o tem acompanhado ao longo da vida e que o inspira, motiva, protege e o mantem vivo, saudável, inquieto, irrequieto, ativo e produtivo... Apaixonado, em suma, pela vida, a cultura e a ciência... (LG)
_______________

Nota do editor:

Último poste da série >  14 de dezembro de  2017 > Guiné 61/74 - P18087: Agenda cultural (620): No passado dia 9 de Dezembro foi inaugurado o Museu do Combatente de Gondomar que fica situado na Quinta dos Choupos - Fânzeres, sede da Tabanca dos Melros

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17057: Manuscrito(s) (Luís Graça) (112): ...Os feitos da arte e da ciência da saúde pública... "eu já não cantarei por toda a parte, / Jubilado, falta-me o engenho e a arte"...


À laia de despedida
da Escola Nacional de Saúde Pública
que servi, 
com amor e humor
(1985-2017)


por 


Luís Graça







1. Os meus colegas do Conselho Científico quiseram-me  fazer um "almoço de despedida",  por ocasião da minha jubilação. É  da praxe, da tradição.... , mas o gesto tem significado para mim...Mostra apreço e carinho.

Fomos ao sítio do costume, em Carnide, onde há bons restaurantes com  grelhados (de peixe e carne)...O dia era de trabalho para todos eles,  No fim, e já cá fora, perto do coreto de Carnide, insisitiram comigo para que. declamasse, m voz alta, em círculo, as estrofes que tinha escrito para a ocasião, uma paródia às  cinco primeiras estrofes do I Canto dos "Lusíadas",  do Luís Vaz  de Camões, o imortal poema da gesta da gente lusa... Aqui fica o registo... Ninguém tirou fotos... e o vídeo que eu me pedi à minha Sílvia falhou. Mas, já antes da reunião do Conselho Científico, eu tinha mandando os versos, por email, com uma singela mensagem...


Caros/as amigos/as da Saúde Pública, 

colegas (os que seguem a mesma lei, escola, doutrina, linha de pensamento),

 e porque não companheiros/as (os que partilham física e simbolicamente, o mesmo pão à mesma mesa), 

e até camaradas (os que partilham, simbolicamente, a mesma "camerata", a mesma cama, caserna, buraco, trincheira, lugar de combate)...

Desejo-vos boa caminhada pela "picada" da vida fora, em termos individuais e coletivos, e sempre com um olho nas "minas e armadilhas" (metaforicamente falando) dos amigos e inimigos, que vos possam surgir...

Vou ter saudades destas manhãs de segunda feira em que, mensalmente, se reunia o conselho científico da nossa Escola... E não posso deixar de ter um pensamento de gratidão para com os/as que estiveram à frente deste órgão e todos/as os/as demais conselheiros/as que, ao longo do tempo, contribuíram para um melhor ensino, investigação e desenvolvimento da arte e da ciência da saúde pública...

Agora do outro lado, mas marginal-secante como sempre, continuarei a torcer pela mesma "camisola"... "À laia de despedida" da Escola, que servi com "amor e humor", desde os idos anos 80 do século passado, deixo-vos uma brincadeira poética... Que a Ciência. os seus conselheiros e o (e)terno Camões me perdoem esta(s) irreverência(s)...

Para todos vós, mais novos do que eu em idade, só posso desejar que continuem a lutar pela Escola Nacional de Saúde Pública com "high tech & human touch" com que sempre sonharam os nossos "pais fundadores"... O mesmo é dizer, uma Escola onde todos/as caibam com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar...

Dito isto, sejam felizes!


Boa saúde, bom trabalho, Luís Graça



Os sábios desta Escola assinalados
Que, de uma obscura avenida lusitana (*),
Por terras, céus e mares nunca explorados,
Fizeram da saúde ciência urbana,
Com muito papel e tinta esbanjados,
Além de queimada muita pestana,
E na Universidade se afirmaram,
E até uma NOVA Saúde criaram;


E também as memórias saudosas
Dos mestres e gurus vão celebrando,
Nos books e working papers volumosos,
Na língua de Shakespeare publicando (**),
E aqueles que por obras valorosas
Se vão da lei da Morte libertando,
… Eu já não cantarei por toda a parte:
Jubilado, falta-me o engenho... e a arte!


Cessem dos velhos sábios hipocráticos 
As grandes lições e secas que nos deram,
Calem-se os demais profes catedráticos,

Esqueçam a fama e a glória que tiveram,
Por mais gentis que fossem… e democráticos,
Cesse tudo o que ontem era Ciência,
Que outra, NOVA, se ergue com turbulência.

 
E vós, ó eternas bolseiras minhas,
Que a Saúde Pública tendes servido,
Pequeno reino com os seus reis e rainhas,
Continuai trabalhando alegremente,
Mais do que cigarras, sois formiguinhas,
Com o pão de cada dia bem merecido,
Cuidem de manter sempre limpo o carreiro,
E ponham a Escola sempre... em primeiro!


Senhora de boa reputação,
Ela está bem, para uma cinquentona,
Já deu muitos e bons filhos à Nação,
E até já morreu, quando mocetona (***),
Conheceu a perfídia e a traição,
Como a Fénix renasceu, veio à tona.
… Pois que seu nome se cante no universo,
E, se preciso for, juntem... o meu verso!...


Lisboa, ENSP/NOVA, 13 de fevereiro de 2017

Luís Graça


Notas do autor:

(*) Av Padre Cruz, em Lisboa, onde se situa a Esscola Nacional de Saúde Públcia, da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A funcionar desde 2/1/1967, como Escola Nacional de Saúde Pública e de Medicina Tropical, dois ramos que se vão separar em 1972,   comemora em 2017 as suas bodas de ouro, embora a sua origem a 1899... Originalmente tutelada pelo ministério da saúde (e do ultramar!), será integrada na Universidade NOVA de Lisboa, em 1994.

Para saber mais, clicar aqui, no sítio oficial da Escola: https://www.ensp.unl.pt/

(**) Referência ao veredicto: "Publish or perish" (publicas ou morres!)... Com a globalização (e googlização) da ciência, o veredicto agora é: "Publish in English... or perish" (publicas em inglês, or morres!)...

(***) Referência à ameaça de extinção  da Escola, entre 1991 e 1994, ao  tempo dos XI e XII Governo Constitucional, sob a liderança do prof Cavaco Silva.

_____________

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16921: Agenda cultural (536): dia 6, sexta-feira, às 15h00, no ISCPS, polo universitário da Ajuda, Lisboa: conferência anual da CCIPGB/ISCSP sobre a Guné-Bissau: Guiné-Bissau. Governança e Mercado: Região da CEDEAO





O convite é da organização, uma iniciativa conjunta do:

(i) Centro de Estudos Africanos (CEAF)  do ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa)



No sítio do do CEAF, pode ler-se:

(...) "Fundado em 1906 [, como Escola Colonial] , o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), da Universidade de Lisboa, é uma das mais antigas e prestigiadas instituições académicas do mundo para o estudo de África. 

O Centro de Estudos Africanos (CEAF), recentemente reorganizado, é o polo interdisciplinar que suporta as atividades de investigação sobre África e as suas dinâmicas históricas e contemporâneas. Trabalha em estreita cooperação com várias unidades internas de ensino, incluindo os Estudos Africanos, Ciência Política, Antropologia, Relações Internacionais, Estratégia e Estudos do Desenvolvimento. E cultiva também a cooperação internacional na investigação e na educação, especialmente com as instituições científicas de Países de língua oficial portuguesa." (...) 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16225: Agenda cultural (492): Inauguração da Biblioteca Central da UAC - Universidade Amílcar Cabral, Bissau, 5ª feira, 23 de junho, 10h00... Doação de livros do prof Russel Hamilton, especialista norte-americano em literatura africana de expressão portuguesa, falecido em 27/2/2016


Convite


A Universidade Amílcar Cabral - UAC tem o prazer de o (a) convidar para a cerimónia de inauguração da sua Biblioteca Geral, evento que será marcado pela entrega de livros doados pelo Professor Russel Hamilton e família.

Russel Hamilton, um grande amigo da Guiné-Bissau, falecido a 27 de fevereiro do corrente ano, foi Professor Catedrático da Universidade de Vanderbilt – Nashville, Tennesee, USA, tendo dedicado grande parte da sua vida académica aos estudos sobre a Literatura Africana de Expressão Portuguesa, da qual foi um dos maiores especialistas.

A cerimónia terá lugar na Biblioteca da UAC, junto ao Anfiteatro da Faculdade de Direito de Bissau, no dia 23 de junho, às 10:00 horas


PROGRAMA


10h00 - Palavras de boas-vindas - Doutora Zaida Pereira, Reitora da UAC;

10h15 - “Russel Hamilton: O legado de um crítico pioneiro das literaturas africanas de expressão portuguesa”. Por Fernando Arenas, Professor de Literatura da Universidade de Michigan, USA

10h30 - “O papel do escritor na criação da identidade nacional guineense”. Por Abdulai Silá, 
Engenheiro, Escritor e Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras de França

10h45- Assinatura do Protocolo UAC - INEP

11h00 - Encerramento: Doutor Raúl Mendes Fernandes, Vice-Reitor da UAC

Porto de Honra
______________

Nota do editor:

terça-feira, 12 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15967: A Universidade dos Açores vai homenagear o Prof Dr. Carlos Cordeiro, amanhã, 13 de Abril, pelas 17,00 horas, no Anfiteatro C daquela Universidade (José da Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 5 de Abril de 2016, dando-nos notícia de uma homenagem ao nosso camarada e tertuliano Prof. Doutor Carlos Cordeiro, professor na Universidade dos Açores, a levar a efeito  no próximo dia 13 de Abril, pelas 17,00 horas, no Anfiteatro C daquela Universidade.

Na noite da passada quinta-feira recebi um honroso convite da Universidade dos Açores para participar na homenagem que aquela Instituição de Ensino irá prestar ao Sr. Dr. Carlos Cordeiro.
Infelizmente, não poderei estar lá fisicamente, mas certamente que estarei presente de muitas horas formas.

As amizades nascem quase sempre sem darmos por isso, mas desenvolvem-se pelo respeito e pela comunhão de princípios cívicos entre as pessoas. De outra maneira não fariam sentido.

O meu primeiro contacto com o Sr. Dr. Carlos Cordeiro aconteceu através de um comentário que ele fez a um artigo que escrevi num Blogue dedicado aos Combatentes da Guiné. Desde então habituei-me a respeitar o homem, o professor, o combatente que ele foi na então Província de Angola e, por que não, o incentivador que tem sido desde que o conheço. Por tudo isso e muito mais sinto ser um privilégio a oportunidade que ele me deu de ser seu amigo.

Ao longo dos anos muitas foram as vidas tocadas pelo ensino do Sr. Dr. Carlos Cordeiro. Os Açores e não só certamente que estão muito mais ricos. E muito menos se pode esquecer o seu contributo para a História Açoriana. É incalculável o valor das suas obras, sendo que já tive a oportunidade de ler algumas. Para nós, Combatentes que fomos nas então Províncias Ultramarinas, certamente que calaram fundo as suas conferências sobre a Guerra do Ultramar.

Sim a homenagem que a Universidade dos Açores irá prestar ao Sr. Dr. Carlos Cordeiro é justíssima. Do fundo do coração associo-me ao evento a ter lugar na Universidade dos Açores, pelas 17,00 horas, do próximo dia 13 de Abril.
A homenagem é pública para quem tiver a oportunidade de participar.

Um abraço para o meu amigo Sr. Dr. Carlos Cordeiro.
José da Câmara


************

2. C.V. do Professor Dr. Carlos Cordeiro:

Professor Auxiliar com Agregação da Universidade dos Açores, onde concluiu o doutoramento e prestou provas de agregação. 

É autor dos livros "Insularidade e Continentalidade: os Açores e as contradições da Regeneração" (1992), "Na Senda da Identidade Açoriana (Antologia de Textos do Correio dos Açores)" (1995), "Nacionalismo, Regionalismo e Autoritarismo nos Açores durante a I República" (1999), (coord.) "Autoritarismos, Totalitarismos e Repostas Democráticas" (2011) e de diversos artigos em revistas nacionais e internacionais. 

Coordenou diversos colóquios e o projeto “História da Imprensa nos Açores (Séculos XIX e XX)”. 

É investigador integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra e diretor do Centro de Estudos de Relações Internacionais e Estratégia da Universidade dos Açores. 

É coordenador do Mestrado em Relações Internacionais da Universidade dos Açores. 

Integrou a Comissão Científica do Dicionário da República e o Comité Organizador do Congresso Histórico Internacional “I República e Republicanismo”. 

(Foto de Carlos Cordeiro: Com a devida vénia a IAC-Azores.org)

************

3. A tertúlia do Blogue não pode deixar de se associar a esta homenagem prestada ao nosso ilustre camarada e amigo tertuliano Carlos Cordeiro, a quem desejamos que continue a sua actividade cultural, partilhando o conhecimento. Sabemos que dedica muito do deu tempo na pesquisa e reunião de dados sobre tudo o que se relaciona com a participação dos açorianos na Guerra do Ultramar, pelo que também assim tenta preservar a memória dos portugueses que deram muito de si em terras de África.

Os nossos parabéns ao Carlos pelo reconhecido do seu trabalho por parte da sua Universidade. Será justa com certeza esta homenagem pública.

O nosso agradecimento ao camarada José da Câmara por ter feito chegar até nós esta notícia, coisa que o Carlos, pela sua modesta forma de estar na vida, não faria.
____________

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14170: Manuscrito(s) (Luís Graça) (43): Um dia hei-de ir a Porto Azzurro

Um dia hei-de ir a Porto Azzurro

por Luís Graça (*)

De Piombino a Porto Azzurro,
no encalce de Napoleão,
o pequeno e genial corso
que ajudou a construir
a Europa das Nações.

Ah!, que ingratos
os tecnocratas de Bruxelas
que alimentam sonhos imperiais,
que nada sabem de história
e que não te puseram na lista dos pais-fundadores,
com direito a pensão vitalícia
e outras mordomias reais!

Que serias tu, bela Itália,
sem o safado parteiro da Europa
e os seus canhões ?
E tu, Garibaldi,
mais os teus descamisados,
e os teus pernetas,
como chegarias a Nápoles e a Palermo,
para conquistar o último Reino das Duas Sicílias ?

Na ilha de Elba, estudo estratégia
que é a arte do general,
do capo,
do condottiere,
do conquistador.
E observo o preclaro voo dos pássaros,
que não têm bússola,
nem GPS,
nem telemóvel,
nem o Google Earth,
e que nunca se perdem
entre o alfa e o ómega,
o norte e o sul,
o leste e o oeste.
Pelo menos não conheço
nenhum brevet de piloto ornitológico.

Nove meses é o tempo suficiente
para se nascer e se morrer,
entre a ilha de Elba e a estação de Waterloo.
É o tempo ontológico,
o do ser e do saber-ser.
E num só dia dei a volta à ilha,
de bicicleta,
um fait-divers que hei-de pôr
no meu currículo hipocrático.

Move, Europe,
mexe-me a merda desse rabo,
levanta o cu do selim,
põe-me essa mama tesa,
pedala, Europa, velha Europa,
anaconda,
eriçada,
anafada,
encastelada,
cercada,
crispada,
na tua feia fortaleza de Schengen.

Em Porto Azzurro
percebi que pode haver dias felizes
na vida dos homens e das mulheres.
Apaixonei-me pela felina Ornella,
a Muti,
a deusa mediterrânica,
que guardava na Ilha de Monte Cristo
os segredos do amor,
o elixir da vida,
que é breve a vida do espadachim
que há em ti
e que há em mim.

Ainda se podia pressentir,
ao pôr do sol na ilha,
na ponta mais além,
a presença encantatória
do Alexandre Dumas,
romântico ma non troppo,
em recorte subtil,
em versão light.
Que a ficção fica sempre aquém
da vida…

Mas do que eu mais gostei
foi de dançar o Dime la verità
com os guardiões da ilha,
os velhos e as velhas de Seccheto,
quiçá os últimos habitantes,
da velha Europa
que eu amo,
ou da bela e pimba,
divina, pérfida, mafiosa Itália
que me repele e me seduz.
Ele há coisas
que os miseráveis tecnoburocratas de Bruxelas
e os seus lacaios
nunca entenderão.

Em Porto Azzurro,
olhando em redor o mare nostrum,
o mar que já foi nosso,
e as ruínas da minha civilização,
ou o esqueleto do vosso projeto europocêntrico,
estudei filosofia,
fui discípulo do Erasmus,
voltei à escola de Salerno,
reli o seu livrinho de cabeceira
sobre a arte de conservar a saúde
e manter o equilíbrio dos quatros humores,
e percebi, mesmo que por breves instantes,
a importância da ontologia,
que é o tratado que trata
mais do ser do que do ter.
Do ser autêntico,
sem jantes
nem implantes.

Luís Graça
v8 21jan2015
_________________

(*) Com o João Graça (**),

Foto de João Graça (2006), em Porto
Azzurro.  Cortesia  do autor
(**) ELBA > A viagem de Piombino, na costa toscana, a Porto Azzurro, em Elba, faz recordar aquilo que terá sido a deportação de Napoleão, em Maio, mas de 1814. Aqui viveu durante 9 meses, onde partiu rumo a Paris para reconquistar o poder. Mas foi derrotado na famosa baltalha de Waterloo em Junho de 1815. Dizia eu que a viagem, aparte o barco hoje movido a motor, faz recuar a esses tempos. Tempos de definição geo-política europeia. Pelas ilhas selvagens, pelos aves que me giravam em torno, pela vegetação verdejante e inóspita.

Em Porto Azzurro passou-nos pela cabeça a ideia mais iluminada destes dias. A de alugar bicicletas para nos deslocarmos ali. Dito e feito. Ao fim da tarde chegamos à outra ponta para um merecido repouso, depois de um longo caminho que terminava com 4 km a subir. Do lado sul da ilha avistava-se a ilha de Monte Cristo, que serviu de inspiração a Alexandre Dumas. Recordo-me de seguir apaixonado a mini-série "O Conde de Monte Cristo",  com Gerard Depardieu e Ornella Muti. E qual o meu espanto, quando a vejo, diante dos meus olhos, ali, vejo a ilha de Monte Cristo.

O dia, no entanto, estava ainda longe de acabar. Apesar do cansaço físico, e mesmo depois de tanta boa disposição, ainda tivemos pedalada para dançar numa festa popular em Secchetto. Nada sabíamos desta festa. Encontrámo-la por mero acaso. Gente dali, daquela terra longe de tudo, mas cheia de hospitalidade. Dançar com os velhotes música pimba é uma experiência que todos nós já passámos, nalgum dia de Agosto da nossa vida quando se volta à terrinha e se encontram os emigrantes (como eu). Mas dançar o "Dime la verità" com os velhotes de Secchetto é único. Juro-vos...

JonnyGrace [João Graça] > arriverdecci portogallo > 1/6/2006 > Elba

__________________

Nota do editor

domingo, 30 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13960: Agenda cultural (367): Apresentação, pela escritora Helena Matos, do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola. 50 anos: história e memórias" (Autores Vários; Lisboa, Colibri, 2104; prefácio de Adriano Moreira)

Título: Estudos Gerais Universitários de Angola. 50 anos: História e Memórias

Autoria: AAVV
Temas: História, Sociologia, Lusofonia, Memórias
Editora: Colibri
Local: Lisboa
Ano: 2014
Capa: mole
Tipo: Livro
N. páginas: 376
Formato: 23x16
ISBN: 978-989-689-441-2
Preço: 30,00 € 

Sinopse:

A criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola e, também, na mesma data, de Moçambique foi antecedida de uma grande batalha e, por isso, acompanhada de um erro e de um compromisso. O erro traduziu-se no título das instituições, chamadas Estudos Gerais com o intuito de ficar afirmado que tinham a mesma intenção, dignidade e responsabilidade das mesmas instituições ocidentais usadas na Europa havia séculos. 

O compromisso teve origem na necessidade de ultrapassar as resistências, desactualizadas nos tempos e nas convicções de muitos, de que era necessário continuar a exigir e manter o ensino superior na metrópole como instrumento para assegurar a unidade prevista na Constituição de 1933. 

Neste caso tratou-se de um conflito de experiência e de concepção. Quanto à concepção, a ideia de unidade de Portugal nasceu da visão, confirmada por factos históricos, como a Restauração de 1640, de que os portugueses, emigrados pelas cinco partidas do mundo, e os descendentes manteriam essa comunidade, em primeiro lugar de afectos e, depois, de solidariedade e interdependência, que se chama Nação. 

Uma concepção que seria alargada, com expressão viva no Comandante João Belo, na esperança da assimilação que viesse a unir europeus e gentes das terras. Uma concepção ideológica contraditória com o próprio ensino universitário da época, provavelmente inspirado nas independências do continente americano, e que usava o exemplo de os filhos se separarem dos pais, o que estava em contradição evidente com a interpretação constitucional. Mas era mais relacionada com a convicção da preservação da unidade imperial o engano de que tal objectivo da unidade era melhor servido pela manutenção na metrópole do exclusivo ensino superior que, apenas, tinha excepção na Escola Médica do Estado da Índia, cujos diplomas não eram reconhecidos suficientes na metrópole. 

[do prefácio de Adriano Moreira] 

Fonte: Edições Colibri


Vídeo (14' 51''). Luís Graça (2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes

A escritora Helena Matos, no lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias"  (Lisboa: Edições Colibri, 2014)

Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 27/11/2014, 18h00 > Ao centro, a engª agrª Marília de Sousa, que coordenou a edição literária, e, à sua direita, o representante da editora. Mão de Ferro.




Vídeo (3' 36''). Vídeo de Luís Graça (2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes

A jornalista Helena Matos, no uso da palavra (continuação) 




Vídeo (10' 26''). Vídeo de Luís Graça (2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes


 Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkina > 27/11/2014, 18h > Sessão de  lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias"  (Lisboa: Edições Colibri, 2014)

Ao centro, a minha amiga e amiga da Maria Alice Carneiro, engª agrª Marília de Sousa, que coordenou a equipa de  edição literária (6 pessoas); à  sua direita, o representante da editora, Mão de Ferro;  à esquerda , a  analista política e escritora Helena Matos, que apresentou a obra.

Helena Matos, nascida em 1961, é autora de, entre outras obras, Salazar em dois volumes (Lisboa, Temas e Debates, 2010), e Os Filhos do Zip Zip (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2013).  Foi professora do ensino secundário. Trabalhou em seguida como jornalista.  Mais recentemente foi consultora histórica das séries Conta-me Como Foi (RTP) e Depois do Adeus (RTP). Faz ou fez comentário no Diário Económico,  na Antena 1, no Público  e no Observador.

________________

domingo, 23 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13934: Agenda cultural (360): lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias", edição Colibri, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 5ª feira, dia 27, às 18h00




1. A minha amiga Marília de Sousa, engenheira agrónoma reformada, natural de Angola, e a viver em Portugal desde 1975,  mandou-me este convite que quero partilhar com mais amigos de Angola. Trata-se do lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias".  A iniciativa é de um conjunto de Antigos Alunos dos Estudos Gerais Universitários de Angola. A Marília de Sousa é coordenadora de uma equipa de seis e autora de alguns textos. A edição é da Colibri. A apresentação, a cargo da jornalista Helena Matos, é na Fundação Calouste Gulbenkian, Sala 1,  no próximo dia 27, 5ª feira. A minha amiga  fez o curso de agronomia no ISA, Lisboa, mas começou o ensino superior em Luanda.



2. Sobre a evolução do ensino superior universitária em Angola, 
leia-se aqui este excerto do sociólogo angolano Paulo de Carvalho, uma voz crítica mas respeitada no seio da sociedade angolana de 
hoje [ Fez a licenciatura e o mestrado  em sociologia pela Universidade de Varsóvia, Polónia, e o doutoramento em Lisboa, no ISCTE -IUL, em 2004, com uma tese sobre "Exclusão Social em Angola. O caso dos deficientes físicos de Luanda"]




 (...) O ensino superior foi implantado em Angola (então colónia portuguesa) somente no ano de 1962, com a criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola. A Igreja Católica tinha, porém, criado em 1958 o seu Seminário, com estudos superiores em Luanda e no Huambo (...). À criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola seguiu-se a criação de cursos nas cidades de Luanda (medicina, ciências e engenharias), Huambo (agronomia e veterinária) e Lubango (...)  (letras, geografia e pedagogia).

/...) Em 1968, os Estudos Gerais Universitários de Angola foram transformados em Universidade de Luanda, tendo em 1969 sido inaugurado o Hospital Universitário de Luanda. A Igreja Católica havia, entretanto, criado em 1962 o Instituto Pio XII, destinado à formação de assistentes sociais.

 (...) No período colonial, o acesso ao ensino superior destinava-se somente a quem integrava as camadas superiores da hierarquia social, podendo mesmo dizer-se que, nos primeiros anos de implantação em Angola, era difícil que alguém pertencente às camadas médias da hierarquia social tivesse acesso ao ensino superior. O local de nascimento, o local de residência e a posição social determinavam claramente o acesso a este nível de ensino, que reproduzia para as gerações seguintes a estratificação social da Angola colonial. (...)

(...) Com a proclamação da independência política de Angola, em 1975, foi criada a Universidade de Angola (em 1976), mantendo-se uma única instituição de ensino superior de âmbito nacional. No ano de 1985, a Universidade de Angola passou a designar-se Universidade Agostinho Neto, que se manteve até 2009 como única instituição estatal de ensino superior no país. Neste ano, a Universidade Agostinho Neto (UAN) foi “partida” em 7 universidades de âmbito regional, mantendo-se a UAN a funcionar em Luanda e na província do Bengo, enquanto as faculdades, institutos e escolas superiores localizados nas demais províncias passaram a ficar afectos às demais seis novas universidades estatais. (...)

(...) Os Estudos Gerais Universitários de Angola, instalados em 1963 em Luanda e Huambo, possuíam em 1964 um número de 531 estudantes. No final do período colonial, esse número tinha evoluído para 4.176, com um aumento médio de 22,9% ao ano (...). Com o processo de descolonização, o número de estudantes diminuiu para 1.109 no ano de 1977, o que equivale a uma diminuição drástica, em 73,4%. Só por aqui se comprova a tese apresentada acima, segundo a qual o acesso ao ensino superior estava no período colonial vedado aos angolanos, cuja maioria se enquadrava nas camadas sociais mais desfavorecidas. (...)

Fonte: Paulo Carvalho - Evolução e crescimento do ensino superior em Angola. "Revista Angolana de Sociologia (RAS)", 9, 2012, pp,  51-58 [Texto integral disponível aqui[

____________

Nota do editor:

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11960: O nosso blogue como fonte de infiormação e conhecimento (14): Estou interessado em projetos conjuntos na área da arqueologia da guerra colonial (Jaisson Lino, Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, Santa Catarina, Brasil)



Página institucional do arqueólogo Jaisson Lino, Universidade Federal da Fronteira Sul  (UFFS),  Campus de Chapecó, Santa Catarina (SC), Brasil.

1. Mensagem do nosso leitor, brasileiro, Jaisson Teixeira Lino

De: Jaisson Teixeira Lino

Data: 1 de Agosto de 2013 às 01:08

Assunto: arqueologia da guerra


Prezado Luís Graça,

Parabéns pelo excelente blog.

Trabalho com arqueologia das guerras e conflitos, fazendo parte de um grupo de arqueólogos que vem tratando do tema no que se refere à arqueologia do período português nas ex-colônias.

Lhe escrevo solicitando, caso seja possível, informações sobre este tema em Guiné-Bissau. O objetivo é estabelecer diálogos além fronteiras e estabelecer bases para projetos em conjunto no mundo lusófono.

Desde já muito obrigado pela atenção.

Cordialmente,

Prof. Jaisson Teixeira Lino

Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS

Campus de Chapecó-SC-Brasil

http://uffs.academia.edu/JaissonLino

2. Comentário de L.G.:

Meu caro colega (, sou também professor universitário e investigador, embora na área das ciêcnias da saúde): 

Muito agradeço o seu contacto e as palavras de apreço que dirige ao blogue, coletivo, Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Sobre o seu pedido (ao qual respondendo com o atraso desculpável pelas férias escolares), o que posso fazer, desde já, é remetê-lo para um dos nossos parceiros na Guiné-Bissau, a ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento que tem trabalho feito na área da arqueologia militar. Tome boa nota do endereço de email: adbissau.ad@gmail.com. Pode contactar, em meu nome pessoal, o seu diretor executivo, eng agr Carlos Schwarz Silva (Pepito).

Esta ONGD, guineense, tem experiência concreta na pesquisa arqueológica do antigo quartel de Guileje, região de Tombali, sul da Guiné-Bissau. Na sequência desse trabalho, foi criado o Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Caro Jaisson, disponha sempre. E vá-nos pondo ao corrente dos seus projetos para a Guiné-Bissau ou outros territórios lusófonos (como é o caso de Angola, aonde temos contactos). Saudações académicas e bloguísticas. Luís Graça.

________________

Nota do editor:

Último poste da série > 30 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11888: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (13): Fotojornalista famoso, Daniel Rodrigues, prémio 'World Press Photo 2013', quer fotografar alguns de nós, antigos combatentes, nos sítios originais onde tirámos as nossas melhores fotos no tempo da guerra

terça-feira, 26 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10077: Agenda Cultural (206): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - História e Memória(s) - 1961-1974 (Carlos Cordeiro) (12): Açorianos na Guerra do Ultramar: memórias no feminino

1. Mensagem com data de 26 de Junho de 2012 do nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), Professor na Universidade dos Açores e coordenador do ciclo de conferências-debate "Os Açores e a Guerra do Ultramar História e Memória(s) - 1961 - 1974*:

Caríssimo Carlos,
É para fazeres o favor de, se possível, divulgares esta conferência da Prof.ª Doutora Susana Serpa Silva, da Universidade dos Açores, que falará sobre "Açorianos na Guerra do Ultramar: memórias no feminino", satisfazendo um apelo já por várias vezes suscitado por camaradas em sessões anteriores.

Um grande abraço amigo do
Carlos




“Açorianos na Guerra do Ultramar: memórias no feminino”

Pela Prof.ª Doutora Susana Serpa Silva

No âmbito do ciclo de conferências-debate “Os Açores e a Guerra do Ultramar: história e memória(s) – 1961-1974”, a Prof.ª Doutora Susana Serpa Silva, da Universidade dos Açores, apresentará, no próximo dia 29 do corrente (sexta-feira) a conferência “Açorianos na Guerra do Ultramar: memórias no feminino”.

Sendo certo que eram do sexo masculino os militares que intervieram na Guerra do Ultramar, o facto é que, na retaguarda – ou mesmo, em não raros casos, acompanhando os maridos nos mais recônditos aquartelamentos no meio do nada – as mulheres – mães, esposas, filhas, irmãs, noivas – resistiram, em mistos de coragem e ansiedade, medo e esperança, desânimo e fé, à incerteza do regresso, sãos e salvos, dos seus entes queridos.

Tendo em consideração esta realidade, a historiadora Susana Serpa Silva lançou o desafio a um grupo de mulheres açorianas que tiveram familiares na Guerra do Ultramar no sentido de “revisitarem” as suas memórias daquele período tão marcante das suas vidas, demasiadas vezes transportando consequências dramáticas que o próprio tempo não apagou.

É o resultado dessa investigação, pioneira nos Açores, que a Prof.ª Susana Serpa Silva irá partilhar com o público interessado, em especial com os antigos combatentes e seus familiares.

A sessão, aberta, como habitualmente, a todas as pessoas interessadas, terá lugar no Anfiteatro “C” do pólo de Ponta Delgada, com início pelas 17H30 do dia 29 do corrente.




Susana Serpa Silva é professora da Universidade dos Açores, onde se doutorou em História

Contemporânea. Integra, como investigadora, o Centro de História de Além-Mar, da Universidade Nova e Universidade dos Açores – onde coordena a Linha de Investigação Dinâmicas e Contextos do Colonialismo Português na Época Contemporânea – o Centro de Estudos Gaspar Frutuoso, da Universidade dos Açores, e o Laboratório de Estudos de Emigração, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

É autora ou coautora de diversos livros e de artigos publicados em revistas científicas nacionais e internacionais.

Tem integrado equipas de diversos projetos de investigação científica nas áreas da sua especialidade.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9682: Agenda Cultural (191): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - História e Memória(s) - 1961-1974 (Carlos Cordeiro) (11): Que promessa?, pela Prof.ª Doutora Gabriela Castro, dia 30 de Março de 2012 no Anfiteatro B da Universidade dos Açores

Vd. último poste da série de 31 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9971: Agenda cultural (205): Convite para o lançamento do livro "A Viagem do Tangomau", de Mário Beja Santos, dia 19 de Junho de 2012 no Auditório da Associação Nacional das Farmácias em Lisboa

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10069: Cartas do meu avô (10): Oitava carta: finalmente, jurista da CGD (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

[Imagem  à esquerda: cartaz  comemorativos dos 40 anos do MRPP -  Movimento Reorganizativo do Proletariado Portugues, cortesia do blogue Restos de Colecção, de José leite



Segundo  este blogue, o MRRP  [que em 26 de dezembro de 1976 deu origem ao PCTP / MRPP]  "publica 'Bandeira Vermelha' em 1970, como órgão teórico,  e 'Luta Popular' em 1971, como órgão de massas e órgão central ". 


(...) "O MRPP foi um partido muito activo antes do 25 de Abril de 1974, especialmente entre estudantes e jovens operários de Lisboa e sofreu a repressão das forças policiais, reivindicando como mártir Ribeiro Santos, um estudante assassinado pela polícia política durante uma manifestação ilegal em 12 de Outubro de 1972. Arnaldo Matos era o seu Secretário Geral" (...).


O MRPP, influente nessa época na academia portuguesa, e em particular na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (segundo o testemunho do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, trabalhador-estudante até 1974/75), terá sido também a primeira das organizações políticas a liderar, a seguir ao 25 de abril de 1974, uma primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para o Ultramar, mais exatamente em 4 de Maio de 1974: 


 "O MRPP organiza a primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para as colónias. A Junta de Salvação Nacional previra a necessidade de envio de alguns batalhões de militares para substituirem a tropa portuguesa ainda em território africano e cujo período de mobilização já terminara. Pensava-se também que seria importante manter as Forças Armadas Portuguesas em África até final das negociações com os Movimentos de Libertação Africanos, com vista à independência dos territórios". [ Centro de Docu,entação 25 de Abril da Universidade de Coimbra]



A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigo Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66. [, Foto à direita, com os netos]. 


As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, onde vivem os netos, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)

B. Oitava quadra > O Quadro Técnico


Finalmente, a feroz irreveverência e espírito de luta maquiavélica e arrasadora dos MRPP conseguiu apoderar-se da universidade. 



Arquitectaram um curso impregnado das doutrinas de Mao e abriram de novo as portas, com professores oriundos dos mais variados sítios. Bastava-lhes jurar fidelidade aos ideais que reinavam e eram aceites como professores.

A competência não contava. O que importava era que tinham conseguido a aprovação do poder político reinante. Os cursos eram válidos. E as licenciaturas também.

Era preciso acabar o curso, de qualquer maneira. O resto da preparação que faltava, ficaria para depois. Com a experiência prática.


Naquele ano e meio de convulsão escolar, houve alunos que fizeram dezenas de cadeiras em catadupa. Com passagens administrativas à farta. Na faculdade de direito, nas clássicas e, pasme-se, em medicina.


Esse tsunami de licenciados à pressão entrou portas dentro das empresas e serviços públicos. 


Em 1974, na CGD [, Caixa Geral de Depósitos ] , havia meia dúzia de trabalhadores a frequentar cursos superiores e, alguns, o de direito.

Em 1976, irrompeu, nos quadros da Caixa, um movimento interno de trabalhadores recém-licenciados, chefiados pelos MRPP. Reivindicaram ao seu modo, junto da administração, o seu imediato ingresso no quadro técnico.



A pusilanimidade da administração, por receio do saneamento imediato, abriu - lhes as portas. De repente, a lista dos licenciados atingiu os trinta e tal.

O administrador encarregou-os de elaborarem o seu próprio escrutínio, para preenchimento da dúzia e meia de vagas abertas de propósito. Por causa da decidida descentralização de crédito à habitação, agricultura e pescas. Por todo o país.

A administração queria colocar um núcleo jurídico em cada filial de distrito. 



De novo, se desencadeou uma luta selvagem entre os candidatos. Havia-os com dois ou três anos de Caixa, acabadinhos de concluir o curso. Eu era o mais antigo, em todos os sentidos: Tinha já uns onze anos de serviço na Caixa. Tinha mais cadeiras obtidas dentro da normalidade escolar, antes das convulsões.


Apareceram e defenderam-se as mais desavergonhadas e aberrantes propostas oportunistas. Desde a abolição do critério de antiguidade na obtenção do curso, à da classificação final.

No final, felizmente, consegui ingressar no quadro técnico. Este feito representava uma melhoria enorme na minha condição. Só por isso, estava reparado e bem, todo o sofrimento e esforço para obter a licenciatura.



_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 e junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10052: Cartas do meu avô (9): Sétima carta: A universidade, o 25 de abril... (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)