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segunda-feira, 15 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4528: Um velho filme de 8 mm que agora nos surpreende e delicia (George Freire, ex-cap inf, CCAÇ 153, 3ª CCAÇ e 4ª CCAÇ, Bissau, Gabu e Bedanda, 1961/63; e desde então a viver nos EUA)




Jorge Freire, ex-cap inf, que esteve na Guiné, em 1961/63, e desde então a viver nos EUA (aqui com a sua esposa), e onde é conhecido por George Freire, engenheiro e empresário.

Foto: © George Freire (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. A propósito do seu velho filme de 8 mm que publicámos ontem no nosso blogue, sob a forma de 3 vídeos (*), o George Freire mandou hoje uma mensagem aos seus amigos americanos, com conhecimento aos editores do blogue. 

A mensagem é em inglês e eu pedi ao Miguel Pessoa, o nosso tradutor de serviço, para lhe dar um jeitinho, uma vez que eu, de manhã, não tinha qualquer disponibilidade... Mal sabia eu que o Miguel também não estava em boa forma... Mas, tropa é tropa, e ele lá fez das tripas coração, mandando-me o texto traduzido, na volta do correio, e com isso aumentando ainda mais a consideração que eu tenho por ele... Aqui vai a nossa troca de mimos... 

(i) Miguel: Se tiveres tempo e pachorra, faz aqui uma tradução do texto do nosso camarada Jorge Freire, antigo capitão do QP... Estou sem tempo, hoje. Também podes comentar o filme (a parte respeitante à FAP, Bissalanca...). Abraço. Luís 

 (ii) Luís: Ando um pouco em baixo e tenho uma série de exames e consultas esta semana, mas farei o que puder. Miguel 

(iii)  Luís: Lá consegui arranjar alguma paciência e traduzi o texto. Agora os comentários ao filme, só os poderei fazer depois de ler algo sobre a Força Aérea na Guiné, no início do conflito. Abraço. Miguel 

 2. Mensagem original do George Freire, em inglês (**), com data de ontem: 

  Subject - Portuguese Blog "Camaradas da Guine" 

 Some of you know that before Edith and I came to the States in October 1963, I served in the Portuguese Army in Africa (Portuguese Guine, now called Guine-Bissau), for two years. There is a very interesting Blog (in Portuguese), called "Camaradas da Guine", where thousands of Portuguese soldiers who fought there, write war stories, memories etc. 

Late last year I came across that Blog by accident, and as you can guess, I was very interested in reading all the stuff that was and still is being published in that Blog. So far they have had almost 1,100,000 hits to that Blog. I had a diary that covered the period between October 1962 and May 1963 which I sent them and was published. I also had an old 8mm movie made during the time I was there and decided to make an updated version with sound etc. with Windows Movie Maker. I sent them the DVD and guess what, they have posted it today in the Blog and also on U Tube. 

 The film is quite interesting, (Edith is there in a few passages), and I ask you all, if you have a chance and time, to go to the Blog and watch it. It is broken down in three parts because of the time limit for each section, mandated by U Tube. 

  The link to the Blog is: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/ If you click on the above address you'll go to the Blog. Because they have already posted other stuff today, after they posted my films, you'll have to go down two or three pages to see the films. 


 George and Edith when we were young. Edith was there for three or four months before the fighting started, then she had to return to Portugal in a hurry. I hope you'll enjoy it. Thanks, George Freire 

3. Tradução do inglês para português, pelo nosso camarada Miguel Pessoa: 

 Assunto - Blogue português "Camaradas da Guiné" 

 Alguns de vocês sabem que, antes de a Edith e eu termos vindo para os Estados Unidos em Outubro de 1963, eu servi no Exército Português em África, na Guiné Portuguesa, (agora chamada Guiné-Bissau), por um período de dois anos. 

 Existe um blogue muito interessante, em português, chamado "Luís Graça & Camaradas da Guiné", onde milhares de soldados portugueses que ali combateram, escrevem histórias de guerra, memórias, etc. No final do ano passado deparei casualmente com este blogue e, como podem adivinhar, interessei-me bastante em ler todo o material que foi e ainda continua a ser publicado neste Blogue, onde, até agora, já foram registadas quase 1.100.000 visitas. 

 Na época eu tinha escrito um diário cobrindo o período compreendido entre Outubro de 1962 e Maio de 1963, que entretanto lhes enviei... e que já foi publicado. Tinha também um velho filme de 8 milímetros feito naquele período em que lá estive e decidi fazer uma versão atualizada, com som e legendas, com a ajuda do Windows Movie Maker. Resolvi enviar-lhes o DVD e... adivinhem!, publicaram-no hoje no Blog, e também no You Tube. 

 O filme é bastante interessante (a Edith aparece em várias passagens), e peço-vos a todos, se tiverem uma oportunidade e tempo disponível, que visitem o blogue e vejam o filme. Ele foi subdividido em três partes, devido ao tempo limite para cada secção, de acordo com as normas do You Tube. 

 O link para o blogue é: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/ Se clicarem no endereço acima, entram logo para o Blogue. Porque diariamente são publicados novos Postes (já houve várias entradas depois de o meu filme ter sido publicado), vocês terão que descer duas ou três páginas para ver os filmes. 


George e Edith, quando éramos jovens. A Edith manteve-se por lá por três ou quatro meses, antes de os combates começarem, tendo depois regressado rapidamente a Portugal. Espero que gostem do filme. Obrigado, George Freire 

  4. Comentário do editor L.G.: 

 Para melhor contextualizar o surpreendente filme que o George Freire nos mandou e que o Virgínio Briote pôs no You Tube (*), vamos recuperar alguns dados biográficos (***) do nosso camarada, hoje cidadão americano, se não me engano: 

  (...) "A [CCaç 153] de que originalmente fiz parte quando partimos para a Guiné, no dia 26 de Maio de 1961, foi criada em Vila Real de Trás-os-Montes, onde eu ainda tenente, segundo comandante e o capitão Curto, comandante, (do curso um ano mais velho do que o meu), passámos semanas a organizar a companhia. 

"De Vila Real todo o pessoal viajou para Lisboa de comboio e passados talvez uma ou duas semanas, partimos de avião, (dois aviões de transportes da FA), do aeroporto de Lisboa para Bissau, onde chegámos no mesmo dia ao anoitecer. (...) 

"De Bissau, onde passámos a noite, seguimos logo para Fulacunda, onde permaneci à volta de dois meses, após os quais chegou a minha promoção a capitão. 

"De Fulacunda fui transferido para Bissau para comandar uma companhia de nativos e render o capitão Helder Reis. Passei 4 ou 5 meses em Bissau, daí para o Gabu (outros 6 meses) e daí para Bedanda onde passei o resto da minha comissão" (...). 

  (...) " Durante o Natal de 1961 a minha mulher [, Edite,] veio passar um mês a Bissau onde eu estava na altura a comandar uma companhia de nativos. 

 "Em Julho de 1962 a minha mulher voltou para a Guiné e passou quase 3 meses no Gabu (Nova Lamego), onde eu comandei uma companhia mista. [Vd. vídeo nº 2, ou parte 2/3] 

"Do Gabu fui transferido [, em Novembro de 1962,] para Bedanda [, no sul, Região de Tombali,] onde ela ainda passou quase um mês, mas nos fins de Dezembro tive que a mandar de volta a Portugal pois as coisas começaram a aquecer demais". [Vd. vídeo nº 2, ou parte 2/73] 

Notas do seu diário (***): 

  1/3/63: Hoje pela 09:30 e mais tarde pelas 14:30, pessoal do pelotão do Cabedú sofreu emboscadas respectivamente entre Cafal e Cafine e no cruzamento de Cabante. Na segunda emboscada sofremos [ a 4ª CCAç ] um morto e um ferido. Uma viatura Chaimite  foi destruída na primeira emboscada. Seguiram dois pelotões reforçados para os locais das emboscadas. Em Impungueda uma patrulha da CCaç 859 travou contacto com os terroristas e feriu alguns e os outros conseguiram fugir. 

 2/3/63: Durante parte do dia de ontem e durante todo o dia de hoje as nossas forças percorreram todo o terreno nas zonas das emboscadas. Encontraram vestígios dos atacantes, fizeram um prisioneiro que tinha tomado parte numa das emboscadas, mas nada mais. O soldado ferido seguiu de avião para Bissau e o morto foi enterrado no cemitério de Bedanda.O prisioneiro foi interrogado mas poucas informações conseguimos. Foi enviado para o Batalhão [BCAÇ 356] para ser interrogado. 6/3/63: Fizemos um reconhecimento à zona de Emberem [Iemberém]. O alferes Gonçalves encarregou-se de falar aos chefes Fulas de Emberem [Iemberém] e discutir a possível mudança das suas tabancas para Bedanda. Há toda a vantagem dessas mudanças para incrementar a protecção da população Fula. Poderemos também formar aqui e em Bedanda um pelotão de uns 40 Fulas, o que nos poderá ajudar substancialmente na segurança da área e aliviar as nossas forças. Os chefes Fulas aceitaram a nossa oferta de braços abertos. 

 7/3/63: Começámos o transporte da população Fula de Emberem [Iemberém]. Usámos 10 viaturas neste movimento. Calculamos que serão necessárias 3 mais viagens semelhantes. [ Vd. vídeo 2, ou parte 2/3]. Chega por fim o dia do regresso a Lisboa (vd. vídeo nº 3, ou parte 3/3, musicado com um belíssimo fado interpretado pelo Carmos do Carmo (Uma flor do verde pinho, letra de Manuel Alegre, música de José Niza) (****): 

  (...) "No dia 18 de Maio, o capitão Nelson (meu colega de curso) veio render-me. Durante os 4 dias seguintes fiz a entrega da 4ª CCaç ao Nelson e no dia 21 de Maio segui de avião para Bissau. Aí estive à espera de transporte e finalmente no dia 27 de Maio parti de volta a Portugal no navio da CUF Ana Mafalda. (...) 

"Nos fins de Agosto [de 1963] pedi a minha demissão e parti com a minha família - mulher e duas filhas de 3 e 2 anos [ uma delas, a Isabelinha, que aparece no filme, hoje com 49 anos - ] para os EUA onde me encontro faz este ano 45 anos. Desde então tirei um curso de engenharia mecânica, trabalhei para outras duas companhias e, em 1989, formei a minha própria companhia de consultaria de projectos relacionados com energia de gás, co-geração, etc." (...) 

___________ 

 Notas de L.G.: 



 Com 76 anos, está reformado, foi empresário na área da engenharia. Vive em Chapin, South Carolina, Estados Unidos... Vem frequentemente a Portugal. Gosta de conviver e de viajar, do golfe, da pesca e da vela. Tem um blogue relacionado com a informática e aelectrónica: http://whatisyourquestionblog.blogspot.com/ 

 Título do blogue: "COMPUTER AND ELECTRONICS WORLD SHARING AND LOTS OF OTHER GOOD STUFF NOT RELATED TO COMPUTERS"... 

 É um homem do seu tempo que se descreve-se a si próprio como "a retired engineer deeply interested and involved in the solving of problems and frustrations of the computer and electronics world that surround us all"... 

 (***) Vd. postes de: 




 (****) Vd. Uma flor de verde pinho (Música: José Niza) (Letra: Manuel Alegre) 

Eu podia chamar-te pátria minha,
dar-te o mais lindo nome português,
podia dar-te um nome de rainha
que este amor é de Pedro por Inês.

Mas não há forma não há verso não há leito
para este fogo amor para este rio.
Como dizer um coração fora do peito?
Meu amor transbordou. E eu sem navio.

Gostar de ti é um poema que não digo,
que não há taça amor para este vinho,
não há guitarra nem cantar de amigo,
não há flor, não há flor de verde pinho.

Não há barco nem trigo, não há trevo,
não há palavras para dizer esta canção.
Gostar de ti é um poema que não escrevo.
Que há um rio sem leito. E eu sem coração.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2627: Vídeos da Guerra (8): Nha Bolanha (Jorge Félix, ex-Alf Mil Piloto Aviador, 1968/70)



Vídeo: Jorge Félix / You Tube (2008). (com a autorização do autor...). Agradecimento ao Bana, ao Luís Morais e ao extinto grupo musical, fabuloso, mítico, Voz de Cabo Verde... De um lado e doutro da barricada, se calhar ouvíamos a mesma música... Pelo menos, os tugas e os caboverdianos do PAIGC...



1. Mensagem do Jorge Félix (1):



Caro Luís Graça,

Não faltarão novidades para contar da terra das Bolanhas .Entretanto, durante a vossa estadia na Guiné-Bissau, coloquei um video, Nha Bolanha, que gostaria visses e comentasses.

Estou a acabar de ler o Diário da Guiné, do Beja Santos. Muito interessante. Logo no inicio fala do Brandão, aquele de quem eu falei na nossa conversa telefónica. Tenho uma versão um pouco diferente, e gostava de trocar umas palavras com ele. Será que me podes dar o email ou converso com ele na tertúlia ?

Jorge Félix

2. Em resposta a um pedido de esclarecimento meu (vd. ponto 3):

Luís Graça:

As imagens foram captadas de uma emissão da RTP. Ninguém me pediu autorização para lá aparecer .

Recordo-me que foi o Coronel Piloto Aviador Nico, na altura tenente, que filmou em super 8 mm.

A música é do extinto grupo, Voz de Cabo Verde, canta o Bana. Também ainda é vivo o Luís Morais, excelente músico.

Penso que a música, tendo mais de 30 anos, já é de "utilidade pública", não sei se há problemas de direitos de autor. É uma honra o Nha bolanha ir para o nosso blogue, nem que seja por link, vê-se de igual maneira.

Já enviei um e-mail ao Beja Santos sobre o livro Memórias da Guiné 68/69. Vou esperar resposta, pois também gostaria que postassem as minhas críticas que fiz ao livro. Junto um imagem de satélite que enviei ao Beja Santos, mostra o teatro de operações que o livro recorda.

Como aprendi por esta andanças, um abraço do tamanho do Geba.
Jorge Félix

Imagem de satélite da região de Bambadinca, incluindo a bacia hidográfica do Rio Geba e do Rio Corubal. Na imagem, pode reconhecer-se alguns pontos de referência que nos eram familiares, no tempo da guerra colonial, como Ganturé (na margem esquerda do Rio Corubal), Enxalé, Mato Cão, Missirá e Bocol (a norte do Rio Geba), Ponta Varela, Xime e Bambadinca (a sul do Rio Geba). Também é visível, a amarelo, o traçado da estrada (alcatroada) que vem Bissau, passa a norte do Mato Cão, atravessa o Rio Geba (Estreito) perto de Bambadinca, seguindo a esquerda Bafatá e em frente para o sul (Xitole, Saltinho, Quebo...).

Foto: Jorge Félix (2008).

3.Resposta de L.G.:

Jorge: Já vi o teu microfilme, Nha Bolanha, no You Tube. Parabéns pela ideia e sua execução.

Diz-me duas coisas: (i) as imagens são tuas, originais ? (ii) quem é o cantor, o autor da letra e música ?

Posso pôr o teu filme na nosso blogue, desde que não haja problemas de direitos de autor… Em último caso, ponho um link… Mas gostava de fazer referência ao autor da música…

Obrigado pelas imagens da tua caderneta de voo. Vou publicar.


4. Comentário final do editor do blogue:

Tens razão, é uma obrigação partilharmos, uns com os outros, e com os nossos filhos e netos, com os nossos antigos inimigos, os seus filhos e netos, estas imagens e estes sons que ninguém nos pode roubar...

A voz do Bana, o sax de Luís Morais, a silhueta de um heli nos céus da bolanha, o terrível matraquear do helicanhão, tu e os teus camaradas pilotos, as enfermeiras pára-quedistas, as bolanhas, os palmeirais, a serpente do Rio Geba, o pôr do sol na Guiné, a nota de tensão dramática na paisagem, tudo isso faz parte intrínseca da(s) nossa(s) vida(s). Tal como o sangue que corre nas nossas veias. A Guiné e a guerra da Guiné marcou-nos a todos indelevelmente. Ninguém nos condenou ao silêncio...

Meu caro Jorge: O nosso blogue não tem, de resto, quais propósitos comerciais... Fazemos apenas blogoterapia... E tu, que és um homem da imagem (andaste pela televisão, pelo cinema...), faz-nos o favor de mandar mais (2)... Estás autorizado a usar as nossas próprias imagens. Se bem te recordas, passaste a fazer parte da nossa Tabanca Grande...
____________

Notas de L.G.:

(1) 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2592: Voando sob os céus de Bambadinca, na Op Lança Afiada, em Março de 1969 (Jorge Félix, ex-Alf Pil Av Al III)

(2) Vd. postes desta série:

16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)

8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)

11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)

13 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2261: Vídeos da guerra (5): Nos bastidores da Op Paris Match: as (in)confidências de Marcelo Caetano (Manuel Domingues)

15 de Dezembro de 2007> Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amère para a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça)

20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2463: Vídeos da Guerra (7): Madina do Boé - A Retirada (José Martins)

domingo, 20 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2463: Vídeos da Guerra (7): Madina do Boé - A Retirada (José Martins)

José Martins
ex-Fur Mil Trms
CCAÇ 5
Canjadude
1968/70


1. Do nosso camarada José Martins, recebemos em 17 de Janeiro de 2008, a seguinte mensagem

Bom dia
Saudações amigas
Informação geral:

No site ultramar.terraweb.biz, pode ver-se um documentário, já transmitido na TV e publicado em cassete vídeo VHS.

O documentário, com cerca de 50 minutos, versa a retirada das NT do aquartelamento de Madina do Bué.

É oportuna esta inclusão, já que no próximo dia 6 de Fevereiro passam 39 anos sobre o acontecimento.

Aquele abraço
José Martins
________________

Nota dos editores

Vd. postes anteriores sobre a retirada de Madina do Boé:

18 de Novembro de 2006> Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

15 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

21 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)

sábado, 15 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amère para a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça)

A jornalista francesa (hoje, escritora, autora de romances históricos) Geneviève Chauvel terá sido uma das raras mulheres, jornalistas, estrangeiras, a testemunhar uma cena de combate no TO da Guiné, no período da guerra colonial, embebed (como se diz agora, depois da guerra do Iraque) numa unidade das NT...

Na sequência de contactos com o actual Coronel, na reforma, Sentieiro , o nosso co-editor, o ex-comando Virgínio Briote, localizou, na Internet, a bela e misteriosa jornalista francesa e tem-se correspondido com ela...

Hoje damos conta desse aventura... à procura do tempo perdido... Nas fotos, acima, a Madame Geneviève Chauvel (e não Chaubel, como erradamente procurámos na Net...), tal como pode ser vista na sua página pessoal...

Como editor do blogue, manifesto aqui publicamente o meu apreço pelas diligências feitas pelo VB, a sua persistência, a sua inteligência emocional, a capacidade de utilização da sua rede de contactos sociais (ou não tivesse sido ele um homem do marketing farmacêutico, a par de um andarilho da Guiné)...

E já agora, uma última curiosidade, talvez um pouco mórbida, ou roçando mesmo o mau gosto: será que em Bula ou em Bissau alguém se lembrou de traduzir, para a nossa amiga Geneviève, o nome da operação em que ela participou ? Ostra amarga, huître amère... com mais o irónico pormenor de, em França, em Paris, as ostras portuguesas, até aos anos sessenta/setenta serem conhecidas simplesmente como les portugaises: eram as melhores do mundo, para o exigente palato do parisiense...

Esta, na Guiné, foi mesmo uma ostra amarga para todos... Coincidência ou não, na mesma altura, ao virar da década de 1960, a portuguesa desaparecia dos viveiros dos ostreicultores de França e da mesa dos consumidores franceses, devido a uma estranha doença: (...) Portugaise ('crassostrea angulata') : Espèce d'huîtres creuses introduite dans le Bassin d'Arcachon au milieu du 19ème siècle. Les huîtres portugaises disparurent du Bassin au début des années 1970 à la suite d'une maladie ...(LG)


Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Dois mortos e um ferido no decurso da Op Ostra Amarga (também ironicamente conhecida como Op Paris Match)... As NT (2 Gr Comb da CCAV 2487, comandadas pelo Capitão Sentieiro, hoje Coronel), caiem num emboscada do PAIGC... O combate é presenciado por jornalistas estrangeiros e registado em filme por uma equipa da televisão francesa... No fotograma, as NT prestam os primeiros socorros a um dos feridos graves. Um dos militares transporta, às costas, uma fiada de granadas de LGFog 3,7...

Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote (1)


1. A Op Ostra Amarga é talvez o único documento filmado do que foi a guerra-tipo da Guiné.

Emboscadas mortíferas, uma dúzia de minutos de disparos de PPSH (costureirinha), de AK 47 ou de RPG, bem dirigidos para quem a sorte escolheu e que o destino traçou para que os restos de uma parte dos seus alvos ficassem, muitos deles até hoje, nas terras onde combateram.

Em Outubro de 1969, o BCAV 2868, comandado pelo Ten Cor Alves Morgado e enquadrado por oficiais experimentados, alguns deles os melhores alunos dos cursos da Academia Militar, estava destinado a outras paragens. Spínola, tendo em consideração o que sabia do comandante do Batalhão, conseguiu encurtar-lhes a viagem, poupando-lhes mais uns dias no mar.

Estava-se em plena era da chamada Por uma Guiné melhor, uma ideia do General António de Spínola, que, mais tarde, se veio a verificar infrutífera, mas que, na altura, foi uma esperança para muitos, até então habituados a serem dirigidos por Governadores-Gerais que a única ideia que tinham era a supressão pura e simples do então chamado IN.

A política de Spínola assentava num Portugal unido por uma confederação de Estados que poderiam evoluir, mais ou menos rapidamente, para uma autonomia progressiva. O general do monóculo (com vários nicknames ou alcunhas: o Caco, o Caco Baldé, o Homem Grande de Bissau...) tinha estado em Angola e a sua acção não tinha passado despercebida. Procurava manter-se a par da evolução dos tempos, a Argélia Francesa já não o era e o Vietname, apesar do poderoso envolvimento bélico dos Estados Unidos, estava a ter os resultados que se viam. Concluíra que, sem as populações do seu lado, qualquer guerra estava destinada ao insucesso.

Numa primeira fase apostou num maior envolvimento das populações na defesa dos seus chãos contra o que chamava o imperialismo comunista. Congressos anuais dos povos da Guiné, reordenamentos, libertação de prisioneiros, pavimentação de estradas e melhoria da prestação de cuidados de saúde às populações, foram algumas das etapas da sua governação.

Todas estas fases, segundo o pensamento do General, deveriam ser bem mostradas não só à população local mas especialmente à comunidade internacional. Estavam a ser tomadas e a ser postas em execução medidas importantes para a Guiné e havia que dar conhecimento delas ao mundo.

Várias diligências foram levadas a cabo na divulgação desta política.

Uma parte importante da população autóctone tinha aderido às ideias do novo governador e a direcção do PAIGC passou a ver o General como um inimigo mais importante que o próprio governo que o mantinha. A imagem do general do monóculo e do seu pingalim correu mundo, através das capas de revistas estrangeiras, então muito lidas.

Neste enquadramento, o governo de Spínola convidou e pagou as despesas de viagens e estadia de cerca de 2 semanas a vários jornalistas da ORTF (a estação pública, de televisão francesa) e da Agência Gamma (2), com o objectivo de mostrarem ao mundo a política que se estava a seguir e que mostrassem também a adesão entusiástica das populações à ideia Por uma Guiné Melhor (3).

É assim que o BCAV 2868 do Ten Cor Morgado entra nesta história e, com ele, o Cap Cav Sentieiro (4).

Em 17 de Outubro de 1969, o comando do Batalhão recebe instruções para desencadear acções na sua zona de quadrícula, acções estas que teriam o acompanhamento de enviados da imprensa estrangeira. A Op Ostra Amarga inseriu-se na série de acções descritas no quadro abaixo e já objecto de posts anteriores (4).
Referência a três Operações: Caça Ratos, Ostra Amarga e Gato Assanhado


2. Estávamos em 1969, em 15 de Novembro. Tal como muitos semanários e revistas o Paris-Match passava em revista os grandes acontecimentos da semana.
Cópia da capa do Paris-Match, nº 1071, de 15 de Novembro de 1969


No sumário do referido nº, o Paris-Match, entre os artigos do estrangeiro, escrevia sobre Nixon e a sua maioria silenciosa, a odisseia da Apolo XII (que se preparava para a 2ª alunissagem, a 19 de Novembro) e inseria um pequeno texto da autoria de Geneviève Chauvel, então uma jovem jornalista da Agência Gamma (2), sobre a guerra da Guiné Portuguesa.





Escrevia Chauvel:

Monóculo no olho, apoiando-se no seu pingalim, este oficial parece surgir de um filme dos anos 30. Não é o Pierre Renoir de 'La Bandera', nem o Von Stroheim de 'La Grande Illusion'. O general português Spínola faz verdadeiramente a guerra. Na Guiné. Imagem soberba e irrisória: um pequeno país que possuía, há quatrocentos anos, um império imenso, sobre o qual o sol nunca se escondia, esgota-se hoje no último combate colonial do século.
Entre a Gâmbia e a Guiné de Sékou Touré, a Guiné Portuguesa conta com um punhado de colonos, face a meio milhão de autóctones, num território do tamanho de um departamento francês. De há oito anos a esta parte está transformado num campo de batalha. A guerrilha dos rebeldes, armados pela China e muito organizados – revistas, instrução política, jornais de propaganda – absorve cada vez mais as tropas portuguesas.
Lançados num país muito quente, com uma vegetação muito densa, vigiados pelo inferno das emboscadas, os camponeses de Beja, os pescadores da Nazaré ou os estudantes de Coimbra cuidam da sua elegância, a exemplo do seu comandante-em-chefe: “Mais vale ir para o céu com um uniforme como deve ser”.
Paris-Match, nº 1071, L’étranger, pp. 30 e 31, texto de Geneviève Chauvel-Gamma. Tradução livre de V. Briote. (Com a devida vénia...).

O General Spínola, ladeado pelo Major A. Bruno (de G3 e luvas), Major João Marcelino (2º Comandante do BCAV 2868, então em Bissau e que apanhou boleia no heli) e o Ten Cor Alves Morgado, Comandante do BCAV 2868 que acompanhou o desenrolar da acção. Foto tirada momentos após a emboscada. Imagem extraída do Paris-Match.


Na mesma imagem, de costas, o Capitão de Cavalaria José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485, que por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregado de dirigir a Op Ostra Amarga. Imagem obtida momentos após a emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487. Cópia da imagem do Paris-Match.


Geneviève Chauvel e o Capitão Sentieiro, momentos após a emboscada. Foto cedida ao VB pelo Coronel Sentieiro.

3. Contactámos Geneviève Chauvel (5), solicitando-lhe que puxasse pela memória e nos dissesse onde poderíamos procurar informação sobre a sua estadia na Guiné em 1969.
Extractos da correspondência trocada:

(...) Madame,

Chamo-me V. Briote e fui militar do Exército Português na Guinée-Bissau. Vi um filme de Outubro de 1969, "Guerre en Guinée", que encontrei no site do I.N.A. (Instituto Nacional do Audiovisual).

Temos um blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné, onde mais de 200 ex-combatentes contam a vida do conflito colonial.

Encontrei-me hoje com o Coronel Sentieiro, que me forneceu pormenores da operação “Ostra Amarga”, em que a Madame Chauvel participou como repórter da Gamma. Trata-se de um documento filmado que retrata a violência do conflito.

A Madame Chauvel ainda se lembra desta história? Pode fazer-me um pequeno texto deste infeliz episódio? Perdoe-me este pedido, Madame. Mas, estou certo que compreende que estamos a falar da nossa juventude e não nos esquecemos do que os poderes de então fizeram de nós.

E obrigado pelo magnífico trabalho que fez.
V. Briote


A resposta de Geneviève Chauvel não tardou:

Monsieur,

Votre mail réveille de vieux souvenirs parmi les plus forts de ma carrière de journaliste. À l'époque j'ai raconté cette opération en Guinée qui fut violente et a coûté la vie à un portugais qui fut déchiqueté par un mortier. Je vais rechercher dans mes archives afin de retrouver le ou les articles écrits à l'époque et je vous l'enverrai sur cette adresse mail.
A très bientôt.

Geneviève Chauvel


Tradução livre de V.B.:

A sua mensagem recorda-me antigas lembranças entre as mais fortes da minha carreira de jornalista. Na época relatei esta operação na Guiné que foi violenta e que custou a vida a um português que foi atingido por um morteiro (*). Vou procurar nos meus arquivos o ou os artigos escritos na altura e enviá-los-ei para o seu endereço.
Até breve,

Geneviève Chauvel


(*) Obs.: Na verdade, foi uma roquetada e as NT sofreram dois mortos. A jornalista não teve conhecimento da 2ª morte, porque o ferido tinha sido entretanto evacuado.

Na volta enviei-lhe nova mensagem:

Madame Geneviève Chauvel,

Veuillez excuser mon Français. Il est le Français que j'ai étudié il y a plus de quarante ans, pendant mes études sécondaires au Portugal.

Aprés mon commission militaire obligatoire à la Guinée-Bissau, j'ai travaillé à Ciba-Geigy (Pharmaceutique), où j'ai fait ma carrière dans le département de Marketing. Et le Français était seulement parlé comme langue non officielle. Mais les paroles me manquent, non seulement en Français, aussi en Portugais. Vous comprenez bien ce que je veux dire, il n' y est pas seulement une question de vocabulaire.

Ils ont été des temps trés difficiles pour des garçons de 20 ans, comme moi. Et si tout s'est passé il y a presque quarante ans, nous n'avons pas oublié cette guerre, injuste pour tous.

Flora Gomes (directeur-cine, de la Guinée-Bissau) et Diana Andringa (journaliste portugaise) ont produit un documentaire de presque 100 minutes, nommé 'Les deux faces de la Guerre'(en Portrugais, 'As duas faces da Guerra'), où nous pouvons entendre les voix des élements de la guerilla et ex-militaires de l' Armée Portugaise. Les images que vous avez filmé, près de Bula, au Nord de Guinée, font partie du documentaire. Le commandant de l' opération du coté portugais c'ést l'actuel Colonel Sentieiro, capitaine à ce temps-lá. Je l'ai rencontré la semaine dernière et nous avons parlé de cette mission, comme je vous ai déjà dit. Et aprés ça je vous ai cherché et trouvé dans Google.

Nous attendons donc l'envoi du texte que vous avez écrit à 1969 et vous remercions en avance par la permission de sa publication dans notre blog. Vous avez été trés gentille et nous vous en remercions beaucoup.

Merci, Madame.

V.Briote


Tradução livre desta mensagem:

Senhora Geneviève Chauvel,

Desculpe o meu francês. Foi o que estudei há mais de quarenta anos, durante o ensino secundário em Portugal.

Depois da minha comissão militar obrigatória na Guiné-Bissau trabalhei na Ciba-Geigy Farmacêutica, onde fiz a minha carreira no departamento de Marketing. E o francês era então falado como língua não-oficial. Mas as palavras faltam-me, não só em Francês, também em Português. Compreende bem o que quero dizer, não se trata só de uma questão de vocabulário.

Foram tempos muito difíceis para jovens na casa dos 20 anos. E se tudo se passou há quase quarenta anos, não esquecemos esta guerra, injusta para todos.

Flora Gomes (realizador de cinema da Guiné-Bissau) e Diana Andringa (jornalista portuguesa) produziram um documenhtário de cerca de 100 minutos, chamado “As duas faces da Guerra”, onde podemos ouvir as vozes do conflito, de um lado e do outro. As imagens que a vossa equipa obteve, perto de Bula, no Norte da Guiné, constam do documentário. O comandante da operação, do lado português, é o actual Coronel Sentieiro, Capitão nessa altura. Encontrei-me com ele a semana passada e falámos dessa missão, como já lhe contei na mensagem anterior. Depois procurei o seu nome no Google e encontrei-a.

Esperamos então que nos envie o texto que escreveu em 69 e agradecemos desde já que permita a sua publicação no nosso blogue.
A Senhora foi muito gentil (….)

vb


__________

Notas de vb:

(1) Vd . post de
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

(2) Agência de fotografia, fundada em 1966 por alguns fotógrafos, como Raymond Depardon. No final dos anos 90, a Gamma foi adquirida pelo grupo Hachette Filipacci Médias.

(3) Vd. post de 13 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2261: Vídeos da guerra (5): Nos bastidores da Op Paris Match: as (in)confidências de Marcelo Caetano (Manuel Domingues)

(4) Vd. posts de:

8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)

11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)

(5) Geneviève Chauvel, jornalista e escritora, francesa : vd. a respectiva página pessoal (em francês)

Resumo biobliográfico:

(i) Infância passada na Síria e depois na Argélia;

(ii) Estudos de Direito e Ciências Económicas em Argel e em Paris;
(ii) Casou, em 1961, com Jean-François CHAUVEL (filho do embaixador Jean CHAUVEL), jornalista, escritor, produtor televisivo;

(iv) Como jornalista, trabalhou, de 1967 a 1982 , para as agências GAMMA e depois SYGMA, tendo estado em diversos palcos de guerra (Vietname, Angola, Moçambique, Guiné Portuguesa, Biafra; guerra dos Seis Dias na Síria e na Jordânia, Setembro Negro em Amã, Israel...);
(v) Tem fotos publicadas em grandes revistas internacionais (Time Magazine, Newsweek, Paris-Match, Le Point, L'Express, Stern, Manchete, Actualidad, Europeo);

(v)De 1973 a 1981, trabalhou como jornalista e realizadora de televisão, tendo feito diversas reportagens (Egipto, Koweit, Guerre du Kippour, Montes Golã, Sinai, Suez, Guerre civil em Angola);

(vi) Fez o "retrato" de diversos chefes de Estado ou de importantes personalidades como Yasser Arafat, o Rei Hussein da Jordania, o presidente vietnamita Nguyen Van Thieu, o imperador da Etiópia Haïlé Sélassié, o General Spínola, o coronel Kadhafi, o presidente Sadate, o general Dayan, o rei Constantino da Grécia, o Xá do Irão, Chapour Bakhtiar, os emires do Golfo...

(...) É autora de numerosos romances históricos, sobre grandes mulheres, mas também sobre um grande herói muçulmano, Saladino, Saladin (1999), traduzido em alemão, espanhol e árabe.

Contacto por e-mail: chauvel.genevieve@orange.fr

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2261: Vídeos da guerra (5): Nos bastidores da Op Paris Match: as (in)confidências de Marcelo Caetano (Manuel Domingues)

1. Mensagem de Manuel Domingues, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Rec Info, CCS/BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67) (1)

Caros tertulianos:

Relativamente ao filme da ORTF e à reportagem do Paris Match (2), posso adiantar o seguinte: Partipei em Setembro e Outubro de 1969 no apoio à equipa da ORTF que realizou o filme e que incluiu Portugal e o Ultramar, com deslocações do Minho a Timor, captando imagens em todas as possessões ultramarinas. Esta equipa englobava cerca de uma dúzia de pessoas, entre as quais uma jornalista do Paris Match e um do Figaro.

O objectivo inicial era recolher material para incluir no programa Point-Contrepoint (tipo Prós e Contras) em que de um lado se afirmava que Portugal era uma potência colonialista, que explorava os povos coloniais que lutavam pela sua libertação. Esta ideia era suportada em reportagens e depoimentos fornecidos pelos movimentos de libertação a que se juntavam alguns opositores do regime, no exílio, entre os quais Manuel Alegre (3).

Do outro pretendia-se refutar esta ideia, afirmando a ideia de que o Ultramar fazia parte integrante de Portugal e mostrando o grau e ritmo de desenvolvimento que se estava a processar, sobretudo em Angola e Moçambique.

A equipa responsável pelo programa, durante as negociações, pôs como condição poder verificar com total liberdade a realidade em todos os territórios, sobretudo na Guiné, Angola e Moçambique, onde se desenvolviam as lutas de libertação.

O Governo Português aceitou, apenas impondo como condição que o elemento que tinha apoiado a equipa nas suas deslocações em Portugal e no Ultramar estivesse presente nos estúdios da ORTF para assistir à montagem do filme, evitando surpresas que já tinham acontecido em programas idênticos nos Estados Unidos onde a ideia de confronto acabou por ser subvertida e resultou num manifesto antiportuguês. Portanto, e em resumo, tive a oportunidade de acompanhar todo o processo.

Assim, no dia da assinatura do Armistício, 11 de Novembro de 1969 [, feriado nacional em França, comemorativo do fim da I Grande Guerra Mundial, 1914-1918], o programa foi para o ar. O grau de imparcialidade, relativo, conferiu-lhe um sucesso na crítica francesa da especialidade e alguma satisfação ao Governo Português de então que pela primeira vez não deu por mal empegue o montante gasto no apoio ao Programa, suportando o custo das viagens e estadia de todos os elementos, durante cerca de um mês.

O próprio Marcello Caetano quis ver a cópia que eu tinha trazido e foi durante a sessão, quando viu a cena da emboscada na Guiné que pulverizou dois dos elementos das NT, pronunciou para mim a esperançosa frase:
- Temos que acabar com esta guerra (*).

O impacto na opinião francesa e o elevado volume de material recolhido nos próprios locais levou os produtores da ORTF a fazerem vários documentários.


Já não disponho do exemplar do Paris Match nem da cópia do filme, mas ainda disponho da reportagem do Fígaro da mesma altura, onde o autor define Spínola como um misto de Goering e de Marquês de Cuevas, reportagem essa que vou tentar digitalizar e que enviarei depois para os nossos tertulianos.

Um abraço cordial do
Manuel Domingues



(*) Vd: Novo Contacto com a Guiné: a esperança marcelista em Uma Campanha na Guiné, do Autor.

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

4 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXVI: A vingança da PIDE (Manuel Domingues)

(...) Não bastava ser bom militar. Era também necessário estar nas boas graças da PIDE. A maior parte dos oficiais milicianos, que não aspirava a ser funcionário público, podia encontrar refúgio na sua condição temporária de militar, mas à saída, a PIDE esperava por ele para acertar contas!" (...).


18 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXI: Bibliografia de uma guerra (5)


(..) Manuel Domingues, nascido em Castro Laboreiro, em 1941, frequentou o Curso de Rangers e fez parte do BCAÇ 1856 (1965/67). Como Alferes Miliciano, foi Comandante do Pelotão de Reconhecimento e Informação, tendo desempenhado as funções de oficial de Informações e, durante alguns meses, a de Oficial de Operações.

O BCAÇ 1856 esteve no Leste, Sector L3, com o Comando e CCS sediados em Nova Lamegoe as companhias operacionais em Madina do Boé (CCAÇ 1416, com um destacamento em Béli; em Bajocunda (CCAÇ 1417, com um destacamento em Copá); e em Buruntuma (CCAÇ 1418, com um destacamento em Ponte Caiúm).

É Autor do livro Uma Campanha na Guiné (com estórias e testemunhos de vários camaradas do batalhão) bem como de O Pegureiro e o Lobo – Estórias de Castro Laboreiro (2005).

(2) Vd. posts anteriores:


8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)

11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)


(3) Nota autobiográfica de Manuel Alegre:

(i) Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda;

(ii) Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil;

(iii) Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado [em 1958];

(iv) A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma ocupação da ilha, com Melo Antunes;

(v) Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar;

(vi) É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses;

(vii) Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso;

(viii) Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964;

(ix) Passa dez anos exilado em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN); aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade;

(x) Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967) são apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou dactilografadas;

(xi) Poemas seus, cantados por Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade;

(xii) Regressa finalmente a Portugal em 2 de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril. (...)

domingo, 11 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)

Guiné > PAIGC > Novembro de 1970 > Um guerrilheiro empunhando uma PPSH (a irritante costureirinha).

Fonte: Nordic Africa Institute (NAI) / Foto: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a autorização do NAI)


1. A propósito da tristemente famosa Operação Paris Match (1), o Torcato Mendonça mandou-nos a seguinte mensagem, com data de 8 de Novembro:

Meus Caros: talvez pouca importância tenha, até devido à data – Outubro de 1969 – e este facto parece ter-se ter passado antes: Jornalistas do Paris Match, incluindo uma mulher, estiveram em reportagem na Guiné e acompanharam as NT. Caíram numa emboscada e disseram que o potencial de fogo de ambas as partes era enorme, comparando até com o Vietname... E o armamento empregue, principalmente por nós, era contra determinada Convenção...

Saiu no Paris Match, circulou, mas foi logo apreendido em Bissau. Trazia a reportagem e entrevista, com foto de meia página, do Com-Chefe e o seu monóculo. Na reportagem, por ele dada, o/a Jornalista tecia-lhe comentários nada lisonjeiros. Monóculo, pingalim e a II Guerra ainda tão perto!...

Quem, nessa altura estava em Bissau deve lembrar-se do assunto. Há certamente Paris Match guardados. Se isto se confirmasse, com as devidas autorizações, podia postar-se no Blogue, cada vez a dar mais luta...

E, já agora, circulava perdido ou com o IN, no Leste, um jornalista italiano… Talvez as Info saibam… Enviaram mensagens… Falha-me a memória. Guardei, por demasiada tempo bem lá no fundo, aqueles tempos e hoje tão presentes aos cliques de certas noticias.

Um abraço, Torcato Mendonça
Fundão

2. Em resposta, o editor do blogue, L.G., escreveu-lhe:

Torcato:

Obrigado, sempre oportuno e com uma memória de elefante.

Já agora aproveito para perguntar se alguém terá este número da revista Paris Match, nº 1071, de 15 de Novembro de 1969... Ou se consegue obter uma cópia da reportagem onde se fala da Operação Ostra Amarga (Bula, 18 de Outubro de 1969). Seria ouro sobre azul, depois das coisas que já conseguimos saber a partir de dois filmes: As Duas Faces da Guerra (Diana Andringa/Flora Gomes, 2007) e Guerre en Guiné (ORTF, 1969).

O artigo ou reportagem tem por título, em francês: "Guiné: a estranha guerra dos portugueses"... Pode ser que alguém descubra este número numa biblioteca ou arquivo... Será este número que o Torcato viu em Bissau, já no final da comissão da sua CART 2339 ?

Torcato, ficas mandatado para arranjar uma fotocópia da reportagem dos franceses... Quanto à jornalista francesa, já há dias vi a página dela... Se é a mesma (Geneviève Chaubel ?), continua a ser "une belle femme"...

Deliciosa a estória que o Coronel Sentieiro contou, passada no jantar, à noite, em Bula, com os jornalistas franceses, algumas horas depois da tragédia em que morreram os nossos camaradas, o Capela e o Costa, e que foi o baptismo de fogo dos jornalistas (...).

Um Alfa Bravo a todos. Luís


PS - Referências: Guinée: l'étrange guerre des Portugais. Paris Match, nº 1071, 15.11.69

3. Esclarecimento adicional da Diana Andringa:

Julgo que o Torcato Mendonça se refere à mesma operação.

As pessoas que eu contactei não tinham a revista e, na altura, não consegui contactar a fotógrafa. Depois acabámos por desistir da busca, porque preferimos tratar a Operação Ostra Amarga só com as imagens vídeo e as entrevistas com os participantes militares.

Quanto ao que caíu no colo da senhora, foram croquetes... É extraordinário como, de um dia tão terrível, o cor Sentieiro se recorda da história dos croquetes. Penso que deve ter funcionado como um escape, um momento de descompressão.

Quanto ao lado do "IN", há boas reportagens - francesas, inglesas, italianas, suecas, cubanas. Foi daí que retirámos algumas das imagens.

Um documentário sobre a guerra na Guiné, Labanta Negro, de Piero Nelli, ganhou mesmo um prémio no Festival de Veneza, em 1966.

Abraço,

Diana
________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)







Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Imagens brutais da reportagem Guerre en Guinée, que passaram na televisão francesa em 11 de Novembro de 1969, no programa Point Contrepoint e que os portugueses, devido à censura, nunca puderam ver antes do 25 de Abril de 1974 (1)...

Fotos: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote (2)


1. Mensagem do Virgínio Briote:

Luís: Acabo de ter uma conversa telefónica com o Cor Cav, na reforma, Sentieiro, por intermédio de um conhecido comum.

A história que me conta, em resumo é a que segue (1):

(i) Era o comandante da CCAV 2485;

(ii) Tinha acabado de regressar de uma operação com 2 Gr Comb da sua Companhia;

(iii) Por impossibilidade do Cap J. Quintela, o comandante do batalhão (Ten Cor Morgado, que é o que aparece no fim do filme com Spínola e Almeida Bruno, e ainda hoje vivo) encarregou-o de comandar 2 Gr Comb da CCAV 2487.

(iv) Esta CCAV estava algo deprimida, por várias razões que não explicitou. Limitou-se a falar de 2 alferes que não tinham regressado das férias em Lisboa. Um deles apareceu em Paris, do outro não me soube dizer nada.

(v) O Ten Cor Morgado informou-o de que ia acompanhado por uma equipa da ORTF e de um ou dois jornalistas do Paris-Match.

(vi) Questionados pelo então Cap Sentieiro sobre a experiência que tinham de cenas de guerra, os jornalistas disseram que já tinham estado no Vietname (não presenciaram qualquer cena bélica), em Angola (idem) e em Moçambique (onde conseguiram filmar umas cenas do final de um rebentamento de uma mina);

(vii) E que pretendiam filmar o que viesse a acontecer, [no TO da Guiné, ] estando desejosos que viesse a haver contacto com o IN.

(viii) A cena filmada é a NE (?) de Bula (para os lados da base de Cobiana).

(ix) O tiroteio foi intenso, de um lado e do outro. As cenas, diz o Cor Sentieiro, não são nem mais nem menos do que as que ocorreram muitas vezes na Guiné.

(x) Que os jornalistas tiveram um comportamento muito profissional. Acabada a emboscada, quiseram ir atrás dele e não no final da coluna como aconteceu quando os GrCmb foram emboscados. Que ele, cap. Sentieiro, não lhes permitiu. Que atrás dele ia um tipo da absoluta confiança, normalmente portador de uma caçadeira ou de um LGFog.

(xi) Que a jornalista era a Chaubel (não tenho a certeza se se escreve assim; que há ainda em Paris uma casa de fotografia, que é da família dela).

(xii) Que ela ficou profundamente arrasada. Nem os acompanhou mais, apanhou o heli e regressou com o Almeida Bruno a Bula, onde desceu.

(xiii) Que era jovem e linda e que, à noite ao jantar, depois dos banhos, apareceu na messe com um vestido de pele, do tipo que as índias usavam nos filmes, sem nada por baixo.

(xiv) Que o militar que estava a servir (ele disse-me o que foi que estava na travessa, mas não fixei) se entusiasmou tanto com o que viu que se distraiu e entornou a travessa na mesa...

(xv) Que alguém em Bula (um dos jornalistas) o provocou, perguntando-lhe se ele, Cap Sentieiro, não terá previamente dado algum sinal ao IN...

(xvi) Que ele, Sentieiro, nunca viu o filme (1), que sabe que ele existe e que as únicas imagens que viu são as que às vezes aparecem na TV. Ele chama a essas imagens fruta fresca, isto é, quando a TV quer mostrar cenas violentas da guerra da Guiné, aí vão elas.

(xvii) Fiquei de lhe enviar o filme. Tenho algumas dúvidas sobre a oportunidade de o fazer, estar a mostrar-lhe cenas que ele pessoalmente viveu há quase quarenta anos. Mas foi tanta a insistência, que acabei por lhe prometer. Temos vários conhecidos comuns e estou convidado para almoçar com ele quando passar por Torres Novas.
E pronto, Luís.

Um abraço, vb

Nota de L.G. - A revista Paris Match publicou, na edição nº 1071, de 15 de Novembro de 1969, uma reportagem efectuada pelo(s) seu(s) jornalista(a)s que vieram (ou veio) à Guiné... Título da peça: Guinée: l'étrange guerre des Portugais [Guiné: a estranha guerra dos Portugueses]...

2. Operação Ostra Amarga

Extractos do PERINTREP Nº 42/69, Página 13 de 23

CAOP/BCAV 2868 (Intervenção-Sector 01)

Op Ostra Amarga
Patrulhamento
Pta Matar-Pta Ponate-Pta Fortuna-Pta Penhasse-Bissauzinho-Bofe
12 Out [de 1969]
7 dias
2 Gr Comb/ CCAV 2485; 2 Gr Comb / CCAV 2486; 2 Gr Comb / CCAV 2487

(i) 1º dia : 500 m a N Ponta Fortuna foi destruído um acampamento IN abandonado há 3 dias, com 14 casas de mato;

(ii) IN, avistado de longe, furtou-se ao contacto;

(iii) 7º dia, accionada uma mina A/P na região de Badapal, com 2 feridos NT; na região de Pecure, IN não estimado emboscou NT, retirando com 4 mortos e 2 feridos; as NT sofreram 2 mortos e 1 ferido; na região a L de Biura, IN não estimado emboscou NT, retirando pela reacção fogo manobra.

(iv) Restantes dias sem contacto.



Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV Outubro de 1969 > Resumo informativo sobre as Op Caça Ratos, Op Ostra Amarga e Op Gato Assanhado


Ainda no mesmo PERINTREP:

Em 17 de Out[ubro de 1969], durante a Op Ostra Amarga, forças do BCAV 2868 accionaram uma mina A/P na região a sul de Capafa em 1545 1205 D3-86, causando 2 feridos graves às NT (Pelotão Cav BCAV 2868).

Segundo informações de elementos IN que estiveram na tabanca de Nhemgue na noite de 18 para 19 de Outubro, o IN sofreu 4 mortos e 2 feridos.





Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Monumento aos Mortos do Ultramar > > 28 de Outubro de 2007 > Passei por lá e fotografei o muro onde constam os nomes dos infortunados camaradas António Capela, natural de Cabaços, Ponte Lima, e Henrique Costa, natural de Ferrel, Atouguia da Baleia, Peniche, mortos na Op Ostra Amarga / Op Paris Match... Para que sejam lembrados por todos nós e pelos vindouros... (LG)

Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

3. Os mortos na Op Ostra Amarga (filme):

(i) António da Silva Capela

Soldado atirador, nº 07241868 / CCAV 2487 / BCAV 2868
Ferimentos em combate, em 18 de Out. de 1969

Solteiro

Pai: Gabriel dos Santos Capela / Mãe: Rosa Araújo da Silva

Freguesia de Cabaços / Concelho de Ponte do Lima

Local da operação: Bula

Local da sepultura: Cemitério de Lousa – Loures


(ii) Henrique Ferreira da Anunciação Costa

Soldado atirador, nº 03434368 / CCAV 2487 / BCAV 2868

Ferimentos em combate, em 18 de Outubro de 1969

Casado (com Noémia M. M. Oliveira)

Pai: Francisco Ferreira da Costa / Mãe: Maria da Anunciação Lourenço

Freguesia de Atouguia da Baleia / Concelho de Peniche

Local da operação: Bula

Local da sepultura: Cemitério de Ferrel – Atouguia da Baleia


4. Informações adicinais sobre o Batalhão de Cavalaria nº 2868 (Bula, 1969/70)
Unid. Mobilizadora: RCav 7

Comandante: Ten Cor Carlos Alves Morgado

2º Comandante: Maj Cav João Marcelino; Maj Cav Luís Casquilho

Of Inf Op Adj.: Major Cav Ruy Pereira Coutinho

Comandantes de Companhia

CCS: Cap SGE António Vagos

CCAV 2485: Cap Cav José Sentieiro

CCAV 2486: Cap Cav João Almeida; Alf mil José Fernandes

CCAV 2487: Cap Cav João Quintela; Cap QEO Caimoto Duarte

Divisa: Não Temo

Partida: 23 de Fevereiro de 1969 / Desembarque: 1 de Março de 1969 / Regresso: 30 de Dezembro de 1970

Actividade Operacional: Síntese


(i) Com a sede em Bissau, foi-lhe atribuída a função de intervenção como reserva do Com-Chefe.

(ii) Em princípios de Abril 1969, estabeleceu um posto de comando avançado em Cacheu, com a missão de actuar nas regiões de Churo e Pecau, a fim de deter o alastramento da luta armada à região do “Chão Manjaco”, em área temporariamente retirada ao BCAÇ 2845.

(iii) Após um curto período de IAO, até 19 de Abril de 1969, comandou e coordenou a actividade de duas das suas unidades e outra ali instalada do antecedente, desenvolvendo actividade operacional de patrulhamento, batidas e emboscadas nas regiões de Churo-Pecau-Quesse e do Cacheu.

(iv) Em 30de Agosto de 169, após substituição pelo Comando Militar do Cacheu, transferiu o Pel Cav para Bula, onde assumiu em 5 de Setembro de 1969 a responsabilidade do sector 01-A, então criado nesta zona por subdivisão da área do BCAÇ 2861, com a sede em Bula e incluindo as suas subunidades também ali estacionadas, e depois outras que lhe foram atribuídas em reforço.

(v) Em 8 de Janeiro de 1970, duas das subunidades passaram a ter a sua sede em Ponta Augusto Barros e Pete, com vários destacamentos disseminados nas respectivas áreas de acção. (…)

(vi) A partir do início de 1970, a sua actividade foi especialmente orientada para o desenvolvimento e promoção sócio-cultural do “Chão Manjaco”, com abertura de itinerários e asfaltamento da estrada Bula- S.Vicente e orientação e construção de aldeamentos da população.

(vii) Pela acção desenvolvida, destacam-se as operações “Freio Reluzente” e “Pequeno Baio”, entre outras.

(viii) Dentre o material capturado ao IN, salientam-se 8 espingardas, 4 lanças granadas-foguete e levantamento de 28 minas.

(ix) Em 1 de Dezembro de 1970, o BCAV 2868 foi rendido no sector 01-A pelo BCAÇ 2928, recolhendo a Bissau, a fim de aguardar embarque.

Nota de vb - Seguem-se as Companhias, com a descrição dos percursos da comissão, sem notas relevantes. O BCAV 2868 tem História da Unidade (Caixa nº 117- 2ª Div/4ª Sec do AHM).

5. Bula > Comando de Agrupamento Operacional


COMANDO de AGRUPAMENTO OPERACIONAL

COMANDO de AGRUPAMENTO OPERACIONAL OESTE

COMANDO de AGRUPAMENTO OPERACIONAL nº 1

Início em 8 de Janeiro de 1968 / Extinção em 1 Julho de 1974

Cmandantes: Cor Pára Alcínio Ribeiro / Cor Art Gaspar Freitas do Amaral

Cor Pára Rafael Durão / Tem Cor Inf Pedro Henriques

Cor Pára João Curado Leitão

CEM: Maj CEM Passos Ramos / Maj CEM Santiago Inocentes

Maj Art Pimentel da Fonseca / Maj Inf Bacelar Pires

Maj Art Fernandes Bastos
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Notas de V.B./L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

(2) Vd. post de 16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)

 
Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Dois mortos e um ferido no decurso da Op Ostra Amarga (também ironicamente conhecida como Op Paris Match)...

As NT (2 Gr Comb da CCAV 2487, comandadas pelo Capitão Sentieiro, hoje Cor Cav  Ref (, a viver em Torres Novas,) caiem num emboscada do PAIGC... O combate é registado por uma equipa da televisão francesa... No fotograma, um crucifixo no chão, junto ao cadáver do soldado Henrique Costa (natural de Ferrel, freguesia de Atouguia da Baleia, concelho de Peniche), uma imagem carregada de trágico simbolismo, captada pelo operador francês da ORTF...


Fotos: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote (vd. nota 2)


1. O filme-documentário da portuguesa Diana Andringa e do guineense Flora Gomes, As Duas Faces da Guerra, recentemente estreado entre nós (1), utilizou cenas de uma reportagem feita em 18 de Outubro de 1969 por uma equipa da televisão francesa, a ORTF, acompanhada de um ou dois repórteres do então muito em voga semanário Paris-Macth.

Segundo a investigação posterior feita pelo nosso co-editor Virgínio Briote, junto de Diana Andringa e de outras fontes (antigos camaradas, Coronel Sentieiro, Arquivo Histórico Militar, etc.) estas cenas referem-se à Op Ostra Amarga, na região de Bula, em que as NT caíram debaixo de uma emboscada do PAIGC, sofrendo dois mortos e um ferido…

Estas cenas de combate são mostradas no vídeo, que está disponível no sítio do INA – Institut National de l’Audiovisuel [Instituto Nacional Francês do Audiovisual] e que a Diana Andringa e o Flora Gomes retomaram. No filme-documentário, As Duas Faces da Guerra, que se estreou, entre nós, no dia 19 de Outubro último, no decurso do 5º Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa, dois antigos combatentes portugueses que participaram nessa operação (um deles o que fora ferido), comentam emocionados esse episódio de guerra, que ficou também conhecido, ironicamente, por Operação Paris Match, já que nela iam integrados vários jornalistas franceses, incluindo uma mulher, com o beneplácito e a cumplicidade do Com-Chefe.

É de referir que o General Spínola aparece, em carne e osso, no local, às 15 horas da tarde, acompanhado do então Cap. (ou major?) Almeida Bruno a trocar impressões com o TenCor Alves Morgado (comandante do BatCav envolvido na op.).
Será depois entrevistado no final da reportagem, no palácio do Governador (ao que supomos), fazendo-se perante os jornalistas estrangeiros o arauto da política do Governo Português, no que diz respeito à defesa das “províncias ultramarinas”. Fala em francês, mas com erros e pouca desenvoltura. Uma parte das suas declarações são lidas.

Em suma, tudo indica que os jornalistas estrangeiros, oriundos de um país amigo, da NATO, a França, iriam fazer um mero passeio pelo mato e testemunhar, com os seus próprios olhos, que a situação militar, no interior da Guiné, estava sob o nosso inteiro controlo, contrariamente à propaganda externa do PAIGC (que também irá usar, sobretudo nos anos 70, a arma da sedução e da propaganda, convidando jornalistas estrangeiros e diplomatas, de países amigos, a visitar as regiões libertadas).

No que respeita à Op Ostra Amarga (que raio de nome, que premonição!), as coisas, de facto, não correram, como se previa, e os próprios jornalistas caíram debaixo de fogo, juntamente com os Grupos de Combate onde iam integrados… O pior é que tivemos dois mortos e um ferido, sendo a agonia de um dos nossos camaradas registada em filme…

2. Eu já conhecia o vídeo… De resto, algumas cenas já terão passado na nossa RTP… Voltei a revê-lo, agora com outros olhos… Lembrei-que o Virgínio Briote tinha comprado, ao INA, os direitos de “téléchargement” (download) -  para uso estritamente pessoal - de nove vídeos sobre a Guiné, embora não tendo conseguido autorização para os passar directamente no nosso blogue, como era nossa intenção (2, 3)…

Em 26 de Outubro último fiz-lhe o seguinte desafio:

Virgínio: Vou aproveitar as imagens que em tempos me mandaste, e vou (vamos os dois) apresentar o vídeo que revimos há dias, as cenas da emboscada, na Culturgest... Estive a fazer um resumo alargado do filme (que é falado em francês), de modo a possibilitar o seu visionamento e a sua melhor compreensão pelos nossos camaradas (muitos dos quais não dominam a língua gaulesa)… Não o podemos inserir directamente no blogue (por causa do copyright) , mas podemos fazer uma ligação (ou link) para o sítio do INA (3)…

Diz-me, entretanto, o que sabes mais sobre este episódio:

(1) É um Gr Comb ou mais de Comandos ? Parece que sim... Pelo crachá de um dos tipos que sai do heli, pelo LGFog 3.7, pela farda, pela disciplina de fogo...

(2) Isto passou-se em 18/10/1969. As NT saíram à 1.30h e foram emboscadas às 7.30...

(3) Na região de Có/Pelundo (?)... Foi o que apanhei do filme da Diana/Flora, mas tenho dúvidas.

(4) Os mortos são o Henrique Costa (natural de Peniche) e o António Capela (este de Ponte de Lima)... Já confirmei os nomes e a data...

Um abraço.

Boa saúde, bom trabalho!
Luís Graça

3. O Virgínio pôs-se a caminho e descobriu mais coisas. Resposta nesse mesmo dia, 27 de Outubro:

Luís, envio-te, em anexo, as fotos que extraí do filme.

Em relação à operação tenho um almoço na 3ª próxima, em que vou mostrar o filme a alguns camaradas que prestam serviço numa das secções do Arquivo Histórico Militar e que me ajudarão a descobrir os pormenores. É possível, identificado o filme e a data em que foi realizado, obter uma cópia do relatório da operação.

Um abraço,

Nota de L.G. - O Virgínio já me tinha enviado, em tempos, essas imagens, ou algumas delas.


4. Nova mensagem do VB:

Luís: Podemos fazer um bom poste ou mais que um, com documentação oficial. Se eu conseguir saber a data, o canal de TV (ORTF?), o pessoal envolvido (tenho algumas dúvidas sobre a unidade). Depois não será difícil, segundo me dizem, sacar o relatório oficial da história. Já troquei algumas impressões sobre o filme com dois camaradas do Arquivo Histórico Militar.

O pessoal do Arquivo Histórico Militar, quero aproveitar para sublinhar, é inexcedível, sempre disponível, com um verdadeiro sentido do serviço público. Foi um deles que há anos me recordou que eu também tinha estado na Guiné...

Outra questão. O coronel [Carlos] Matos Gomes, na apresentação do Documentário da Diana/Flora (1), abeirou-se de mim, que me conhecia muito bem, que tinha sido meu camarada,  mais novo,  na Academia Militar, falou-me de instrutores que tivemos, afinal descobrimos conhecimentos comuns. E do blogue, não se cansou de dizer o excelente trabalho que tens feito. Pena foi eu não lhe ter pedido o contacto, porque pode ser muito útil para o blogue.

O processo do Baptista, o morto-vivo, está nas mãos do Paulo Santiago. Uma maravilha de gajo, este Paulo. Telefonou-me há dois dias, aflito, não conseguia descobrir para onde enviar o pedido da rectificação da caderneta do nosso homem. Lá consegui desenrascar a situação. Agora vamos aguardar.

Era uma boa ideia convidar o Baptista para a nossa próxima reunião.

Um abraço, Luís.

5. Entretanto, o nosso VB contacta a jornalista e cineasta Diana Andringa (27 de Outubro de 2007)

Assunto - As duas faces da Guerra

Cara Diana,

Espero que me perdoe este pedido de informação. No seu filme As duas faces da Guerra estão inseridas algumas imagens de um filme de uma operação militar, ao que penso de uma unidade de comandos do Exército Português, realizadas pela ORTF. Trata-se de uma emboscada feita pelo PAIGC de que resultaram duas mortes de militares portugueses, um deles de nome Capela, natural de Ponte de Lima.

O nosso blogue, depois de uma conversa com o Luís Graça, tem interesse em saber mais detalhes, nomeadamente logísticos, relacionados com essa operação militar. No seu filme é entrevistado o comandante da operação do lado português. Pode informar-me de quem se trata, do nome do militar, penso que capitão na altura, hoje tenente coronel ou coronel?

Grato pela ajuda que, eventualmente nos possa dar.

Cumprimentos,

V.Briote

6. Eis a solícita, pronta, amável e solidária resposta da Diana, no dia seguinte, 28 de Outubro de 2007:

vb: Tenho todo o gosto em lhe dar as informações de que disponho:

(i) Operação Ostra Amarga (dita operação Paris-Match) – 12 a 18 de Outubro de 1969.

(ii) Companhia Cavalaria 2487 [, pertencente ao BCAV 2862, Bula, 1969/70].

(iii) Por a companhia se encontrar sem capitão, foi comandada pelo então capitão e hoje coronel José Maria Campos Mendes Sentieiro, que acabara de chegar de outra missão quando foi mandado comandar essa operação, com uma companhia que não conhecia (era o comandante da CCAV 2485).

(iv) Os mortos foram António da Silva Capela, de Ponte de Lima, e Henrique Ferreira da Costa, da zona de Peniche.

(v) No nosso documentário falam, além do então capitão Sentieiro, um auxiliar de enfermeiro que assistiu aos feridos e foi louvado, Pedro Gomes, de Peniche (que, infelizmente, morreu alguns meses depois da filmagem), e um dos feridos, Leonel Martins, também de Peniche. Ambos eram, além de conterrâneos, amigos do Henrique Ferreira da Costa (que morreu).

Saudações,

Diana

7. Com base nestas pistas, foi possível ao VB chegar ao hoje coronel, na reforma, Sentieiro, que mora em Torres Novas, e obter informação adicional sobre a Op Ostra Amarga e as unidades que nela estiveram envolvidas, bem como sobre os bastidores da dita Op Paris Match… Essa informação detalhada constará de um próximo post.

Agora vamos rever o vídeo da ORTF. Publica-se a sinopse do filme, em francês, seguida de um resumo mais alargado feito por nós. Para aceder ao filme (em formato reduzido, e com uma duração de 13 minutos e 57 segundos), basta carregar no link. As imagens que aqui reproduzimos são fotogramas do filme, retiradas pelo VB da sua cópia pessoal.


Guerre en Guinée 
(Carregar aqui para ver o filme; ler primeiro o ponto 8, a sinopse  e descrição das cenas em português)

Point contrepoint
ORTF - 11/11/1969
Vídeo: 13' 57''

Guinée Portugaise / VA de la région / VA d'un bateau à quai / VA de la berge / grues / transportement des caisses / marin armé / deux noirs sur une petite embarcation / la rue / travelling latéral le long d'un grand immeuble à loggias / zoom arrière sur un bac / soldats armés / camions militaires / hélicoptère survolant une région à la frontière du Sénégal / soldats armés qui en descendent / ils partent dans un canot pneumatique et s'éloignent /

VA à bord de l'hélicoptère sur les berges de la rivière / BA de la forêt / soldats patrouillant dans la forêt / PA de soldats blancs et noirs qui patrouillent / colonne dans forêt lors de l'embuscade / soldats pris sous le feu / tir au lance grenades / images très assemblées / soldat touché / blessé à terre / cadavre sur le sol / GP sur le soldat blessé / GP de cadavres sur le sol / GP de soldats l'air écoeuré / après l'attaque / soldat aux visages tuméfiés / blessé allongé à qui on fait une transfusion / on essaie de la transporter / il a une jambe coupée / départ du blessé / râle du blessé / GP mort.

Quelques soldats autour du blessé / un soldat assis / GP d'un jeune soldat / un autre fume / GP d'un soldat qui traspire / soldat qui est mort / soldat autour d'un mort / hélicoptère dans le ciel / 2 soldats soutiennent un blessé / hélicoptère qui atterit en contre plongée / attérissage / on retire la civière / une infirmière descend / un monte un blessé sur une civière à l'intérieur de l'hélicoptère / un homme blessé à bras d'homme est hissé à bord / départ de l'hélicoptère / deux têtes de palmiers se détachent dans le ciel / soldat qui boit à la gourde / mise au point de l'officier, de ses hommes /.

Général A. Spinola commandant en chef de l'armée (portant monocle) / "défendre les institutions contre l'avenir du Sénégal et en Guinée" (retire ses monocles) / préoccupation constante des forces militaires / de ménager les populations... le pays profite surtout de l'appui des pays du Pacte de Varsovie.

8. Resumo de L.G. /V.B. > Tradução e adaptação

Guerra na Guiné

(Carregar aqui para ver o filme) (3)


Programa: Ponto Contraponto
Estação de TV: Organismo da Radiotelevisão Francesa
Data: 11 de Novembro de 1969
Duração do filme: 13m 57s

Sinopse:

Guiné Portuguesa [apresentação: geografia, história, demografia… Território do tamanho da Bélgica… Meio milhão de habitantes, apenas 3 mil de origem portuguesa…].
Vista aérea da região /
Vista aérea dum barco no cais de Bissa /
Vista aérea da margem /
Gruas /
Estivadores [ Referência à greve dos marinheiros e estivadores do cais do Pindjiguiti em 1959, cuja repressão vai desencadear o início da luta contra o domínio português, segundo os testemunhos posteriores dos fundadores e dirigentes do PAIGC… Referência ao papel histórico de Amílcar Cabral, um homem de origem mestiça (sic), fundador do PAIGC, um partido marxista (sic)] /
Marinheiro armado /
Dois negros numa piroga /
A rua /
Travelling lateral ao longo de zona comercial de Bissau, de casas de arquitectura colonial
[Vinte cinco mil soldados portugueses controlam um terço do território e dois terços da população; o PAIGC controla outro terço do território; o resto está sob duplo controlo]

Zoom de uma barcaça [Bissau é um ilha… A 30 km, é o preciso tomar uma barcaça para penetrar no interior… Referência à travessia do Rio Mansoa, em João Landim, segundo se depreende] /
Soldados armados /
Camiões da tropa da caminho da barcaça.









Helicóptero que sobrevoa uma região de fronteira com o Senegal
[ Fuzileiros vão uma base do PAIGC onde não encontram ninguém… Referência ao constante patrulhamento de rios e braços de mar… Um zebra dos fuzileiros… Uma Lancha de fiscalização da Marinha de Guerra…].
Uma equipa de fuzileiros parte num barco pneumático e afasta-se /
Vista aérea do helicóptero sobre as margens do rio /
Vista aérea da floresta.










Soldados armados que descem do hel...
(Aqui começa a Op Ostra Amarga, envolvendo soldados de uma companhia de cavalaria, - e não de comandos, como nos pareceu inicialmente… A força é comandada pelo então Capitão de Cavalaria Sentieiro… A operação decorre na regia de Bula, segundo apurámos posteriormente).

Soldados deslocam-se na floresta /
Soldados, brancos e alguns negros /
(Ouvem-se os ruídos típicos da floresta… Já de dia, à 7 horas e um quarto, a testa da coluna na mata sofre um emboscada. É atingida por rockets…) /
Soldados debaixo de fogo.










Contra-resposta /
Tiro de lança-granadas das tropas portugueses [ que estão equipadas com LGFog 3.7, que eram originalmente só usadas pelas tropas especiais, pára-quedistas, comandos e fuzileiros...] /
Tiro de morteiro 60 /
Correria até à frente da coluna.











Soldado atingido /
Ferido no chão /
Corpos no chão /
(Há um morto imediato, o Henrique Costa, retalhado pela roquetada, enquanto o António Capela, de Ponta de Lima, sobreviverá apenas 45 m, morrendo na altura em que chega o heli) /
Grande Plano do soldado ferido /
Grande plano de cadáver no solo /
Grande plano de um soldado com ar abatido.










Depois do ataque… Soldados de rosto entumecido /
Ferido estendido no chão recebendo soro do maqueiro, de pé (segundo a Diana Andringa, deve ser o Pedro Gomes, soldado maqueiro ou 1º cabo auxiliar de enfermagem, natural de Peniche, e recentemente falecido) /
Tentam transportá-lo /
Tem uma perna partida /
Partida do ferido /
Estertor do ferido /
Grande plano do morto.

Alguns soldados à volta do ferido /
Um soldado sentado /
Grande plano de um jovem soldado /
Um outro que fuma /
Grande plano de um soldado que transpira /
Soldado que morreu /
Soldado à volta do morto /
Um crucifixo caído no capim, perto do morto (Costa?)
Helicóptero que surge no céu /
Dois soldados apoiam um ferido a caminho do helicóptero /
Helicóptero que aterra, em contre plongée /
Aterragem /
Retiram a maca /
Uma enfermeira-pára-quedista, de blusa branca e calças de camuflado, que sai.


Transporte dum ferido em maca para o interior do helicóptero /
Um homem ferido é levado para bordo, em braços/
Partida do helicóptero /
As copas de duas palmeiras destacam-se no céu /
Soldado que bebe água do cantil /
Enfoque da câmara no oficial (capitão Sentieiro ?), rodeado dos seus homens (os 2 Gr Comb da CCAV 2487).


Chega Spínola, (com o seu ajudante de campo, o então capitão Almeida Bruno, hoje general, que empunha a G-3, com luvas brancas…Está também acompanhado de um oficial superior, tenente coronel Morgado, comandante do Batalhão de Cavalaria 2868, com sede em Bula)…


Por fim, o General Spínola (comandante-chefe das forças portugesas, usa monóculo, diz o guião) dá uma entrevista à equipa da ORTF e possivelmente aos restantes jornalistas (que nunca aparecem no filme), defendendo a política ultramarina do Governo Português... e a sua actuação na Guiné)...

No essencial, diz o Com-Chefe português: A preocupação constante das forças militares é de proteger e apoiar as populações, contrariamente ao que diz a propaganda do PAIGC, o qual beneficia sobretudo do apoio dos países do Pacto de Varsóvia e da China… (Discurso de circunstância ou de contrapropaganda…).
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Notas de L.G./V.B.:

(1) Vd. post de 20 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2197: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (4): Encontro tertuliano no hall da Culturgest na estreia do filme (Luís Graça)

(2) Vd. post de 16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)

(...) "A respota do INA veio-nos no dia 14 de Dezembro, autorizando-nos a inserir um link para o sítio francês, mas não a disponiblizar qualquer vídeo do INA no nosso blogue...

Cher monsieur Briote,

Nous vous remercions de l'intérêt que vous portez à nos archives, nous nous réjouissons que vous ayiez pu retrouver des documents qui vous tenaient à coeur.Vous pouvez bien entendu faire un lien (link) vers les documents qui vous intéressent depuis votre blog. En revanche, pour l'instant, vous ne pouvez pas proposer la vidéo directement sur votre blog.Pourriez-vous nous envoyer l'adresse de votre blog ? Merci encore pour vos encouragements.Cordialement,Nadine LaubacherIna.fr - responsable marketing et commercial (...)


(3) O visionamento do vídeo, em formato reduzido, no sítio do INA (que tem como subtítulo Archives pour tous, Arquivos para todos...) é gratuito mas é antecedido de um irritante anúncio publicitário... Se alguém quiser, pode comprar os vídeos sobre a Guiné: este por exemplo custa 3 euros...

É preciso ter paciência, amigos e camaradas da Guiné... Não há almoços grátis, estão-nos sempre a dizer os economistas da praça, que é para ver se a gente deixa de comer à borla... ou mesmo até se perde o apetite e deixa definitivamente de comer!... Mas é assim, são as leis do mercado... Humor à parte, o nosso blogue procura respeitar e fazer respeitar os direitos da propriedade intelectual...