quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2023: A História da CART 3492 / BART 3873 (Xitole, 1972/74) ou mais de 2 anos em meia dúzia de linhas (Álvaro Basto)


Mobilização

a)-Nota Circular

A Nota Circular nº 4496/PM - procº 18/3873 da 1ª Repartição do Estado Maior do Exército, datada de 4 de Novembro de 1971, ordenou que se procedesse à mobilização do Batalhão de Artilharia nº 3873, o qual renderia,na Província da GUINÉ, o BART 2917 a atingir o termo da sua comissão de serviço.

b)-Unidade Mobilizadora

Foi Unidade mobilizadora o Regimento de Artilharia Pesada nº 2 (RAP 2), em V.N.GAIA

c)-Pessoal

O pessoal que compôs o seus quadros - CCS, CART 3492, CART 3493 e CART 3494 - era metropolitano de origem, natural em grande parte do Norte (Minho e Douro) e Centro (Beiras), particularidade conducente à afirmação de que a Áfruca constituía, para a maioria, quase uma incógnita mais ou menos próxima da imaginação de cada um.

d)-Concentração


A concentração dos novos mobilizados começou a 15 de Novembro de 1971 e terminou a 27 do mesmo mês.

e)- Instrução


A instrução geral decorreu a um nível positivo e satisfatório. Apesar do clima frio e do meio ambiente em nada se assemelharem aos do Continente Africano, deficiência parcialmente suplantada, porque a I.A.O. viria a ter lugar já na Ilha de Bolama, de 29 de Dezembro de 1971 a 27 de Janeiro de 1972, os resultados obtidos foram animadores.

O esforço do Comando e Instrutores visou não apenas consciencializar o Soldado do tipo sui generis de luta a enfrentar, como também ministrar-lhe o adequado endurecimento físico e destreza operacional, de maneira a evitar surpresas fatais no teatro da guerra.

Ensinou-se, exemplificou-se e corrigiu-se: são as três palavras sintetizadoras da actividade preparatória. Aliás, a prévia Escola de Quadros obedecera às mesmas directrizes.

f)-Despedida


A cerimónia de despedida constou de Missa celebrada pelo Capelão da Unidade no Mosteiro da Serra do Pilar; alocução de um Oficial Superior, representante do Exmo. Governador da Região Militar do Porto ao que se seguiu desfile das tropas em parada e almoço de confraternização na Messe de Oficiais do RAP2.


g)-Composição Inicial

-Cap. Mil Nº Mecanográfico 11835857 - António Victor R. Mendes Godinho
-Alf. Mil NM 01028270 - Joaquim Manuel M. Mexia Alves
-Alf. Mil NM 08932566 - José Maria Gambôa Gonçalves Dias
-Alf. Mil NM 17889869 - Manuel Laurindo de Oliveira
-Alf. Mil NM 10305670 - António Carvalhão V. B. Barroso
-1.º Sarg NM 52055011 - Abílio Pereira Dias
-1.º Sarg Art NM 52129911 - João de Alegria Dias Ceia
-Fur. Mil NM 00005170 - Artur Manuel Soares
-Fur. Mil NM 01525771 - António Augusto Borges de Pinho
-Fur. Mil NM 01650171 - José Manuel dos Reis Vilela
-Fur. Mil´NM 05657171 - Abílio Pereira de Brito
-Fur. Mil NM 06032471 - Mário Nunes dos Santos
-Fur. Mil NM 06071271 - Acácio Marcelo Alves Duarte
-Fur. Mil NM 07198071 - Daniel dos Anjos Faceira
-Fur. Mil NM 07861171 - Fernando dos Santos Pires
-Fur. Mil NM 09219171 - Carlos Ernesto Corunha Magalhães
-Fur. Mil NM 13217971 - Manuel Joaquim Novais Maçães
-Fur. Mil NM 16101271 - Carlos Alberto Duarte Nunes
-Fur. Mil NM 17398773 - António José da Silva Costa
-Fur. Mil NM 18951070 - Álvaro Manuel Oliveira Basto
-Fur. Mil NM 13335571 - Carlos Alberto Simões Andrade
-1.º Cabo NM 00395271 - Joaquim Santos Silva
-1.º Cabo NM 01106871 - João Manuel Pires de Arruda
-1.º Cabo NM 01376171 - Manuel Martins Lourenço
-1.º Cabo NM 01976571 - Sezinando Pereira Fernandes
-1.º Cabo NM 02445171 - Artur Ascenção Pereira
-1.º Cabo NM 04982571 - José Estêvão Vasques Agostinho
-1.º Cabo NM 06301973 - Agostinho Antunes Correia
-1.º Cabo NM 07147571 - António dos Santos Costa
-1.º Cabo NM 10484471 - José da Encarnação Silva
-1.º Cabo NM 11158371 - Júlio Augusto Rolo Bicho
-1.º Cabo NM 12451871 - Manuel Fernando dos Santos Moreira
-1.º Cabo NM 12748771 - Carlos Alberto Festas Fernandes
-1.º Cabo NM 13263071 - António Simões Ribeiro
-1.º Cabo NM 13266971 - Abílio Vidal dos Santos
-1.º Cabo NM 13290271 - António Pinto Ferreira
-1.º Cabo NM 13292371 - António Alves Leite
-1.º Cabo NM 13300471 - Armindo Carneiro Simões
-1.º Cabo NM 13311871 - Manuel da Costa Nogueira
-1.º Cabo NM 13320171 - Abel Pereira de Matos
-1.º Cabo NM 13320271 - João Nogueira Mesquita Machado
-1.º Cabo NM 13350471 - Mário Manuel Casimiro Barata
-1.º Cabo NM 13378971 - Albano Tavares Quental
-1.º Cabo NM 13379671 - Amândio José Neves dos Santos
-1.º Cabo NM 13391471 - António Manuel Pereira Moreira
-1.º Cabo NM 13422971 - Orlando Luís Almeida de Oliveira
-1.º Cabo NM 13442871 - António Veloso de Sousa
-1.º Cabo NM 13444471 - Justino Monteiro de Araújo Gonçalves
-1.º Cabo NM 13519171 - Fernando Rodrigues Vasques
-1.º Cabo NM 13528771 - Adriano da Silva Marques
-1.º Cabo NM 13549871 - Horácio Nascimento Fresta
-1.º Cabo NM 14947571 - Adérito dos Santos Possacos
-1.º Cabo NM 15157471 - Jorge Manuel Oliveira Barbosa
-1.º Cabo NM 15801671 - António dos Santos Ferreira
-1.º Cabo NM 18874171 - Jaime Leonardo Pereira Soares
-1.º Cabo NM 19596169 - António Carlos Silva
-Soldado NM 01650971 - Joaquim da Fonseca Ferraz
-Soldado NM 04387971 - Armando Gonçalves Freixo
-Soldado NM 07086471 - Manuel da Cunha Pereira
-Soldado NM 07449071 - Belmiro Fernando Pinto Azevedo e Sousa
-Soldado NM 07687671 - António Arantes Carvalho
-Soldado NM 07865171 - Henrique Casimiro Gomes dos Santos
-Soldado NM 08041871 - Licínio José de Oliveira
-Soldado NM 08224271 - Felismino Marques Cortês
-Soldado NM 08275071 - Evangelista da Conceição Martins
-Soldado NM 09054671 - Eduardo Ribeiro de Oliveira (Morto em Dez/1972, em acidente)
-Soldado NM 09736671 - Agostinho da Silva Machado
-Soldado NM 09768871 - Bernardo Fernandes Lopes
-Soldado NM 09831271 - José Gregório Casal Mendonça
-Soldado NM 10203471 - Salvador António Conceição Soares
-Soldado NM 10709671 - Fernando Augusto Lopes
-Soldado NM 11439971 - Acácio Pereira Medeiros
-Soldado NM 13252671 - António Maria de Almeida e Silva
-Soldado NM 13268971 - Álvaro Manuel Rodrigues Pereira
-Soldado NM 13275971 - Jorge Nelson Borges Loureiro
-Soldado NM 13278071 - Manuel Maria Alves de Oliveira
-Soldado NM 13280271 - Benjamim Soares da Silva Morais
-Soldado NM 13280471 - Agostinho da Silva Amador
-Soldado NM 13282271 - Eduardo Pinto
-Soldado NM 13284771 - Alexandrino José Macedo da Fonseca
-Soldado NM 13307171 - Manuel Ilídio de Oliveira Simões
-Soldado NM 13309671 - Luís Ferreira Coelho
-Soldado NM 13311471 - José Gregório de Oliveira Bernardo
-Soldado NM 13313871 - Manuel Marques da Silveira
-Soldado NM 13332371 - Ramiro de Almeida Braga
-Soldado NM 13332571 - Fernando de Oliveira Soares
-Soldado NM 13335871 - Manuel Carlos Magalhães da Silva Neto
-Soldado NM 13340671 - Carlos dos Santos Miguel
-Soldado NM 13347971 - Jorge da Cunha Pinto
-Soldado NM 13349771 - João dos Santos Zeferino
-Soldado NM 13368271 - Joaquim Moreira Soares
-Soldado NM 13374671 - Manuel Fernando de Sousa Pereira
-Soldado NM 13374871 - Adelino Cordeiro Paraíso
-Soldado NM 13385871 - Eduardo Ramos Leite
-Soldado NM 13391071 - António Maria da Costa
-Soldado NM 13392971 - António Lopes dos Santos
-Soldado NM 13394071 - Agostinho do Carmo Lopes
-Soldado NM 13395571 - Manuel da Silva Queirós
-Soldado NM 13398371 - José Alves de Queirós
-Soldado NM 13405671 - Arcanjo Silva de Oliveira
-Soldado NM 13411071 - Mário Rodrigues de Oliveira
-Soldado NM 13411971 - Eduardo Castro Alves de Pinho
-Soldado NM 13423271 - Fernando Nunes Martins
-Soldado NM 13424271 - António Brochado Mendes
-Soldado NM 13426471 - Joaquim Lopes Cardoso
-Soldado NM 13428271 - Alberto Lincho
-Soldado NM 13428871 - Manuel Moreira de Carvalho
-Soldado NM 13436571 - Alfredo Manuel Gonçalves Quelhas
-Soldado NM 13440471 - Carlos Alberto de Sousa Vieira
-Soldado NM 13444171 - Alcides Tavares Simões
-Soldado NM 13445071 - Antero da Silva Caetano
-Soldado NM 13452271 - Júlio Girão dos Santos Rosas
-Soldado NM 13460171 - António de Sá Alves Fardilha
-Soldado NM 13464771 - César Manuel da Graça
-Soldado NM 13468471 - Horácio Fernandes Pais
-Soldado NM 13470071 - Fernando Ferreira Tavares
-Soldado NM 13477871 - Manuel Francisco Lopes Rocha
-Soldado NM 13479571 - Jorge Manuel Correia da Silva
-Soldado NM 13480471 - António Gonçalves Marques
-Soldado NM 13484771 - Manuel Mendonça Correia
-Soldado NM 13494071 - Abílio Moreira Rosas
-Soldado NM 13499671 - Eduardo dos Santos Pereira
-Soldado NM 13500671 - Américo Ramos Fonseca
-Soldado NM 13502271 - Victor Manuel Soares Ferreira
-Soldado NM 13507971 - Carlos Adelino Nunes de Sousa Mendes
-Soldado NM 13511771 - José Caldeira Salvador
-Soldado NM 13516371 - Domingos Pereira Alves
-Soldado NM 13516671 - Luís da Silva Santos
-Soldado NM 13519771 - António Vieira da Rocha
-Soldado NM 13520471 - Albino de Azevedo Oliveira
-Soldado NM 13521271 - Arcindo dos Santos Perpétuo
-Soldado NM 13521671 - António Marto Lopes
-Soldado NM 13522771 - António da Silva Gomes
-Soldado NM 13567671 - Emídio de Carvalho Gonçalves
-Soldado NM 13570271 - António de Jesus Moreira
-Soldado NM 13575271 - António Costa
-Soldado NM 14905971 - António dos Santos Paroleiro
-Soldado NM 14908871 - José Júlio Costa
-Soldado NM 14926571 - José Ribeiro Barbosa Pinto
-Soldado NM 14935871 - João Carlos Dourado dos Santos
-Soldado NM 14949871 - Américo Duarte Pinho
-Soldado NM 14955371 - António Ribeiro dos Santos
-Soldado NM 14961671 - Joaquim José Baião Bravo
-Soldado NM 15143371 - Serafim Nunes de Sousa
-Soldado NM 15153871 - Toni Carvalho dos Santos Barreira
-Soldado NM 15156571 - Casimiro de Almeida Carvalho
-Soldado NM 15158071 - Serafim Taveira Carvalho
-Soldado NM 15195271 - José Araújo da Costa
-Soldado NM 15201971 - Manuel José Soares de Oliveira
-Soldado NM 15224471 - Manuel José de Almeida Rocha
-Soldado NM 15239271 - António Augusto Rego
-Soldado NM 15252671 - Guilherme Guerreiro Lima
-Soldado NM 15260271 - José António de Jesus Loureiro
-Soldado NM 15261771 - Fernando Amílcar das Neves Ferreira
-Soldado NM 15315771 - David Rodrigues de Oliveira Peixoto
-Soldado NM 16571970 - Augusto Fernando Rodrigues Neiva

Deslocamento para o CTIG

a)- Licença de Mobilização

Ainda antes do embarque, entraram os homens do Batalhão e da CART 3492 de Licença de Mobilização, nos termos do Artº 20º das NNCCMU, entre 29 de Novmebro e 8 de Dezembro de 1971, considerando-se em condições de partida depois de 16DEC71, partida verificada a 22 de Dezembro de 1971, após adiamento de 4 dias

b) Vila Nova de Gaia — Lisboa
Com as cerimónias da despedida a 21 de Dezembro , a CART 3492 e o Batalhão de Artilharia 3873 deslocou-se a 22, por caminho de ferro, de V.N.Gaia para Lisboa (Sta Apolónia).
Daqui, viaturas militares transportaram-na para o Cais de Alcântara, onde por volta do meio-dia, a bordo do N/M Niassa, largou rumo à Guiné.


c) Lisboa —Bissau —Bolama
Decorridos 6 dias, atracou-se às vistas de Bissau e logo de seguida tomou-se uma LDG para Bolama.
Desembarcaram no próprio dia as CCS, CART 3492 e CART 3493, enquanto no outro dia coube a vez das CART 3494 e 3521.



d) Recepção


BArt 3483 em Bolama, no CIM

Gen Spínola dá as boas-vindas
Em 02 de Janeiro de 1972, pelas 11hOO, o Governador e Comandante Chefe, General António de Spínola, passou revista às tropas em parada no C.I.M., acompanhado pelo Comandante do BART 3873, pronunciando então uma alocução. Escutaram-se palavras de boas-vindas e exortação perante os obstáculos a vencer. Sucedeu-se uma reunião de trabalhos com Oficiais e Sargentos em conjunto primeiro, separadamente depois.

e) Rumo aos Destinos

Ultimado o período final da Instrução, foi o Contingente conduzido, novamente em L.D.G. até ao Xime, localidade onde aportou a 28 de Janeiro de 1972.


Actividade da CART 3492 no TO


1972

Fevereiro
-Em 13FEV72 grupo IN tentou implantar 1 mina A/C na picada Xitole - Ponte Rio Pulon o que não consumou, graças à aproximação da NT em missão de patrulhamento.
-Em 15FEV72 foi accionada pela 4ª viatura duma coluna de reabastecimentos ao XITOLE urna mina A/P reforçada em (XIME 7B1— 53), danificando aquele veículo militar. A 3 metros do local detectou-se e levantou-se, fora da picada, outra mina A/P sobreposta a uma A/C.
-operação Piriquito Raivoso, de 10 a 11FEV72, com forças das CART 3492 e 2716 que patrulham as áreas de SATECUTA e GALO CORUBAL e forças das CART 3494 e 2715 que patrulham a Ponta do Inglês - Ponta Varela - Poidon.
O 1º agrupamento (E, F) destruiu 16 palhotas e apreendeu 1 granada de RPG; o 2º agrupamento (A, B) sofreu uma flagelação sem consequências e capturou 1 granada de RPG
Nas zonas dos Rios Bissari e Samba Uriel forças da CART 3493 formam o 3º agrupamento (C,D). Em Bambadinca uma DO armada assegurava o apoio aéreo. Não houve contactos IN.
-Operação Trampolim Mágico de 24 a 26FEV72, com 4 Gr Comb da CART 3492 reforçada por 1 Gr Comb da CCAÇ 3489 e outro da CCAÇ 3490, integrando o agrupamento Laranja, 4 Gr Comb da CART 3493 reforçada por 2 Gr Comb da CCAÇ 3491 integrando o agrupamento Castanho, desembarcam conjuntamente na presença do Governador e Comandante Chefe, após batimento de zona pela artilharia da LDG e da FAP. Paralelamente aqueles agrupamentos atravessam as regiões de Ponta Luís Dias e Tabacuta.
Actuaram em apoio, o agrupamento Azul (CART 3494 mais 2 Gr Comb da CCAÇ 12), agrupamento Amarelo (GEMIL’s 309 e 310), agrupamento Preto (CCAÇ 349 (-)), agrupamento Verde (CCP 123), 1 parelha de Fíats de BISSAU, 1 parelha de T-6, 2 helicópteros e 1 heli-canhão (Bambadinca). Foram recolhidos 32 elementos da população, apreendida documentação e material de secundária importância e destruídas várias tabancas. As NT sofreram 11 evacuados por cansaço, insolação e desidratação.



Março
-Em 06 às18H05 um grupo IN não estimado, flagelou durante cerca de 4 minutos o Destacamento da Ponte RPulon, sem consequências.

Abril
-Em 04 às l8H20 um grupo IN, em número não estimado, flagelou durante 5 minutos o Aquartelamento do Xitole, causando 5 feridos ligeiros às NT.
-Em 15 às 19H20 um grupo IN flagelou o Destacamento da Ponte RPulon durante 3 minutos sem consequências.

Maio
-No dia 4 detectou-se e levantou-se 1 mina A/P a 5 metros do pontão do RJagarajá e do lado esquerdo da picada no sentido Xitole/Bambadinca.
-Operação Lanço Nocturno (18/19MAIO72) realizada no corredor do Quirafo / R Pulon / Mina / Galo Corubal por forças da CCAÇ 12 a 2 Gr Comb, da CART 3492 a 4 Gr Comb, da CART 3493 a 3 Gr Comb. e o Pel Caç Nat 52.
Não se viram vestígios nem houve contactos com o inimigo.

Junho
-Em 24, às 21h30, 1 grupo IN não estimado flagelou a A/D de Cambessê por 2 minutos sem consequências.
-Dois dias depois o Xitole e a sua base militar são alvo duma tentativa de golpe de mão, abortada pela descoberta oportuna que a liquidou à nascença.

Julho
- Neste período, o IN não se manifestou na zona.

Agosto
-Em 21, às 08h45, um grupo IN não estimado flagelou durante 8 minutos o Aquartelamento do Xitole com canhão S/R, sem consequências.
-Em 29 das 07H00 às 12H00 executou-se a acção Golias 5 por 2 Gr Comb da CCAÇ 12, 2 da CART 3492, 2 da CART 3493 e 1 Pel Erec da 3431 em segurança à coluna de abastecimento Bambadinca / Mansambo / Xitole / Saltinho / Bambadinca. Não houve contactos, nem se viram vestígios IN.

Setembro
-Em 13 às 06H20 um grupo IN de 75 elementos flagelou durante 6 minutos o Xitole a partir de 3 bases de fogos, sem consequências.
-No dia 27, 1 Gr Comb, quando patrulhava Endorna activou 2 minas A/P, tendo ficado gravemente feridos 2 auxiliares nativos, pouco depois evacuados. Seguidamente detectou-se e destruiu-se outra mina A/P.

Outubro
-A 18 pelas 12h00 o Xitole é de novo flagelado, todavia sem consequências. As manchas de sangue descobertas pelas NT no reconhecimento posterior mostram que os guerrilheiros não ficaram incólumes.
-Acção Golias 8 a 30, das 07h30 às 16h00. Participaram 3 Gr Comb da CCAÇ 12, igual número da CART 3492 e 2 da CART 3493, como segurança à coluna de reabastecimento a Mansambo / Xitole / Saltinho. Decorreu sem incidentes.

Novembro
-Em 12 o Aquartelamento do Xitole foi alvo de uma flagelação durante 20 minutos, não havendo consequência a assinalar.
-Em 22, 1 membro dum grupo IN accionou 01 mina A/P reforçada, implantada pelas NT nas imediações do aquartelamento, sofrendo 2 mortos confirmados.
-Em 30, o Xitole e o seu Destacamento da Ponte RPulon foram simultaneamente flagelados durante 20 minuto, prolongando-se a acção contra o 1º por mais de 25 minutos. Na retirada, 1 atacante accionou 01 mina A/P, colocada pelas NT, falecendo no local. Não houve perdas da nossa parte.

Dezembro
-A 12 às 12h00, o IN activou 1 mina A/P, montada pelas NT, para protecção próxima do aquartelamento, tendo morrido no local 3 elementos e outro ficado gravemente atingido.

1973

Janeiro
-A 6 às 19H05 um grupo IN não estimado flagelou o Xitole, utilizando canhão S/R e armas ligeiras, causando 1 ferido ligeiro à população.
Nota-se a probabilidade de nesta acção terem colaborado com as forças regulares, forças da FAL (Forças Armadas Locais, réplica da nossa Milícia).
-Em 4 das 06H00 s14H30 foi executada a acção Golias 11, por 3 Gr Comb da CCAÇ 12, 3 da CArt 3493 e 3 da CArt 3492 na protecção à coluna de reabastecimento a Mansambo / Xitole / Saltinho. Sem consequências.

Fevereiro
-Apenas o Destacamento da Ponte RPulon foi pressionado 5 minutos no dia 10 às 14h40 por um grupo não estimado que utilizou RPG e metralhadora ligeira. Apesar da hora, sem consequências.Março
-Acção Gadanha 22 por 2 Gr Comb da CART 3492 em 02, das 05h00 às13h00, com patrulhamento e emboscada, percorrendo Xitoel / Pte RPulon / Culobo / Benate / (XIME 7A8-43). Sem consequências.
-No dia 14 a acção “GOLIAS 14” de protecção à coluna de reabastecimento Bambadinca / Saltinho / Bambadinca, por 2 Gr Comb da CCAÇ 12, 2 Gr. Comb da CART 3493, 3 Gr Comb. da CART 3492 e 1 PEL EREC 3431, empenhados das 07h00 às 17h00.
1 Gr Comb da CART 3492 foi atacado à distância. Sem consequências.

Abril
-Em 11 às 18H40 o aquartelamento do Xitole foi flagelado com 2 canhões S/R durante 18 minutos, s/ consequências. A última flagelação verificara-se em 06JAN73.
-Acção Golias 15 na protecção à coluna reabastecimento Bambadinca / Mansambo / Xitole / Saltinho / Bambadinca, por 3 Grs. comb. da CART 3492, 2 da CART 3494, 1 cedido pelo BCAÇ 5872 e outro da mesma Unidade em reforço à CCS/BART 3873. Sem contactos.
-Em 10 a acção Gabão 9 por forças da CART 3492 a 3 grs. comb. e CART 3494 a 2. Estas últimas detectaram e levantaram 3 minas A/P e 01 A/C em (XIME 7A1-95).
-No mesmo dia, das 05H00 às 16H00, a acção Guarida 28 executada pela CCAÇ 12 a 3 grs.comb. na região da PTA VARELA escutou pelo nosso rádio ONKYO uma transmissão em Espanhol provando a reorganização do IN naquele Zona por especialistas cubanos.

Maio
-Em 27 às 09H15 a segurança à coluna Bambadinca / Xitole foi flagelada durante 4 minutos, s/ consequências.
-Acção “GAMBIARRA-4” realizada em 09 das 23H00 às 17H00 do dia 10, por 3 grs. Comb./CART 3492 na zona da cambança de SECO BRAIMA. Não teve qualquer contacto.
-Acção “GOLIAS-2l’ em 27 das 09H00 às 18H00 na protecção à coluna de reabastecimentos de BAMBADINCA / MANSAMBO / XITOLE / SALTINHO, por 3 grs. comb. da CART 3492, Pel Milícias 370, 1 Gr. Comb. cedido pelo CAOP-2 e 1 Pel. ERec 3431.
1 Gr. Comb. / CART 3492 empenhado na segurança foi flagelado em (XIME 7C5-28), mas s/ consequências.

Junho
-Acção “GARBO-1” de 13 às 17H00 a 14 às17H00 em MANSAMBO / JOMBOCARI / Região de MINA / MANSAMBO pela CAR.T 3494, CCAÇ 12 e CART 3492 que monta emboscada em XITOLE / GALO CORUBAL. A doença súbita dum Soldado, a carecer de evacuação e a recusa do guia prosseguir, não permitiram o avanço até ao objectivo. Cerca das 04H30 ouviram-se 02 tiros na direcção SE.

Julho
-Em 02 às 18H30, 1 grupo IN não estimado flagelou o Aquartelamento do XITOLE, do ponto (XITOLE 9A3-89) durante 22 minutos. As NT reagiram com fogo de Mort 10,7 e 81, desconhecendo-se se provocaram ou não baixas ao atacante. Sem consequências para as NT.
Agosto
-Acção “GUIADOR 1” da CART 3492 a 02 Gr Comb. em coordenação com a CCAÇ 3490 na. Intercepção dum possível grupo Inimigo infiltrado a partir da REP GUINÉ. Foi percorrido o trajecto XITOLE / CAMBESSÊ / AMEDALAI / SINCHA SAIDO / TENDINTO / TANGALI / GUNTIM/ SINCHA LANJAL /XITOLE. Sem vestígios, nem contacto com o IN .

Setembro
-Acção “Guinar 2” pela CART 3492 a 3 Gr Comb na região de SATECUTA/GALO CORUBAL/SECO BRAIMA; CART 3494 a 3 Gr Comb na protecção à retaguarda; PMIL 370 na picagem do itinerário MANSAMBO/PTE R.TIMINCO. Sem contactos.

Outubro
-A 29, O XITOLE voltou a ser flagelado da margem esquerda do R.CORUBAL. A população teve 1 morto, 1 ferido grave e 2 feridos ligeiros.
-Acção “GUINAR 3” da CART 3492 a SATECUTA e BISSAU NOVO na qual se espalharam panfletos de A. Psicológica

Novembro
- Acção Golias 3 pelas CART 3492, 3494, 1 Gr Comb do BCAÇ 3872, 1 Pel Rec Fox e Pel Mil 370, de interesse logístico, em reabastecimento a Mansambo / Xitole / Saltinho.
- Acção “GUINAR 8” pela CART 3492 na região de SATECUTA./GALO CORUBAL em que foram destruídas 04 palhotas

1974

Janeiro
-Em 31, 17h45, o Xitole foi flagelado durante 25 minutos com 4 Canhões S/R incendiando 8 palhotas. NT sem consequências.
-Acção Lua Nova da CART 3492 a Setecuta. Sem consequências.

Fevereiro
-A 06 às12h30, 1 grupo IN calculado em 20 guerrilheiros flagelou o Destacamento da PE do Rio Pulon com RPG e armas ligeiras aproximadamente durante 10 minutos. A nossa reacção, através dos Mort 81 do destacamento e 10,7 do Xitole foi completada pela saída de 2 Gr Comb deste último aquartelamento que detectando a presença do inimigo se lançou prontamente em sua perseguição, obrigando-o a retirar desordenadamente e a abandonar 14 granadas de RPG e a sofrer várias baixas, como o provam os rastos de sangue deixados. NT sem consequências.
- A 19 às 08H00 a segurança à coluna Bambadinca/Xitole, encontrando-se emboscado 1 Gr Comb da CART 3492, trava contacto com uma força de guerrilheiros que progredia em direcção à picada. Foi comunicado ao Xitole o que se passava, tendo logo saído 2 Gr Comb em reforço. Entretanto o Gr Comb emboscado tentou o envolvimento, dispersando o inimigo em várias direcções o que dificultou a. perseguição. As NT capturaram 2 carregadores de Espingarda ática e 1 granada de RPG, provocando provavelmente baixas, como o atestam as rastos de sangue observados. NT sem consequências.

Março de 1974– o Regresso

Do Xitole para Bissau

Findos os 24 dias da sobreposição com o BCAÇ 4616/73 (iniciados a 13 de Fevereiro e terminados a 8 de Março), partiu a CART 3492 do Xitole via Bambadinca para o Xime em coluna auto e dali até Bissau numa LDG. Ficaram os seus homens alojados no D.A. de Brá.

Em Bissau

Na sua estadia em Bissau, a CART 3492 conjuntamente com a CART 3494 prestou ainda serviços de protecção ao cais de Bulola em 12, 13, 14 e 15, durante a descarga de munições do navio Arraiolos e, de 21 a 25, segurança ao Niassa.

Cerimónia de despedida

Às 09 horas da manhã do dia 21, teve lugar no Quartel do D.A. o cerimonial de despedida das tropas, na presença do Gõvernador e Com-Chefe, do Cmdt Militar e de outras altas patentes do Exército.
O General Bettencourt Rodrigues, acompanhado pelo Cmdt do BART 3873, passou revista às tropas em parada, seguindo-se a leitura dos Factos e Feitos mais importantes, a evocação dos mortos em combate, a leitura do louvor colectivo, conferida pelo Comdt Militar do CTIG, o discurso pronunciado pela autoridade máxima da Província e o desfile.
Nas palavras que então proferiu, o Governador reconheceu, enalteceu e agradeceu, em nome da Nação, todo o esforço e sacrifício dos Militares que compunham o Batalhão, pelo País e pela sua Província da Guiné.

De Bissau para Lisboa
O regresso da CART 3492 à Metrópole, via aérea TAM, efectuou-se no dia 1 de Abril de 1974.

Fixação de texto: Co-editor vb

Guiné 63/74 - P2022: Em busca de... (8) Cadique Nalu... e da malta da CCAÇ 4540 (1972/3) (Vasco Ferreira)

1. Mensagem do Vasco Ferreira, com data de 30 de Julho:

Assunto - Cadique, vestígios de um arquartelamento da CCAÇ 4540 (1972/73)

Camarada Luis Graça:

Fiz parte da CCAÇ 4540 que esteve em Cadique Nalu, de 12 de Dezembro de 1972 a 17 de Agosto de 1973.

Como poderei obter as fotografias originais "Pedras que falam da CCAÇ 4540
Somos um Caso Sério" e "O que resta do pau de bandeira" ?

Com os melhores cumprimentos

Vasco Ferreira
ex alferes miliciano da CCAÇ 4540


2. Comemntário do editor do blogue:

Vasco: Junto de envio, por email, as fotos publicadas no post 1876, de 25 de Junho de 2007 (1).

Gostava que nos falasses mais da tua companhia e da vossa estadia em Cadique. Não queres escrever um pequeno apontamento ? Um abraço, Luís.

_________

Nota de L.G.:

(1) vd. post de 25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1876: Restos de aquartelamentos (1): Cadique, na margem esquerda do Rio Cumbijã (CCAÇ 4540, 1972/73) (Pepito)

Guiné 63/74 - P2021: Cusa di nos terra (3): Poilão ou poilon, árvore sagrada (Paulo Santiago / Carlos Fortunato / Torcato Mendonça)

Guiné-Bissau > Região do Óio > Maqué > 20 de Novembro de 2006 > Mais uma chapa do famoso poilão de Maqué. Tirada pelo nosso camarada Carlos Fortunato, ex-Fur MIl da CCAÇ 13 (Os Leões Negros), na sua última viagem à Guiné e à região do Óio.

Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CART 2339 (Mansambo, 1968/69) > O Torcato Mendonça mais o seu Gr Comb na tabanca em autodefesa de Candamã, tirando partido dos frondososos e grossos poilões.

Fotos: © Torcato Mendonça (2006) . Direitos reservados

1. Mensagem do Paulo Santiago, de há uns dias atrás:

Luís:

Tinha-me esquecido de ir ao Dicionário de Guineense-Português da autoria do padre italiano Luigi Scamtamburlo.

Polon > n., espécie de árvore sempre verde e corpulenta,de aparência majestosa, muito comum na Guiné-Bissau,utilizada para construção de canoas; é também considerada árvore sagrada,enquanto proteje as tabancas, é tradicional morada de espíritos, é local de cerimónias, e à sombra dela fazem-se juízos e consistórios.

Serpenti mora na kumbu di polon (T.M.)- (POILÃO).N.F. Guin.N.S.n.v. Ceiba pentranda ou Eriodendron anfractuosum

Agora vou dormir, tenho de me levantar às 6,00 horas e,ainda bem que não encontrei nada de embondeiro, para não estar a fazer mais uma transcrição.

Abraço e Boa Noite

2. Mensagem de Carlos Fortunato (ex- Fur Mil, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/73):

Luís:

Aqui vai uma foto do poilão do Maqué, sem dúvida um dos mais fotografados.

Numa tentativa de falar sobre o significado destas imponentes árvores, aqui vai o meu contributo, com base no pouco que sei sobre este tema:

O poilão é uma árvore sagrada, pois o irã vive nela, não pode por isso ser cortado, muitas cerimónias ocorrem à sua sombra, cada família (em sentido alargado) procura ter o seu poilão para a proteger.

Um alfa bravo

Carlos Fortunato


3. Mensagem do Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69.:

Luís: Vê as Fotos Falantes I – 8 e 9 (Candamã). O poilão apoiava a cozinha, refeitório, posto de sentinela, abrigo, etc. (2).

Fotos Falantes III – 13, a dos 17 passarinhos em Mansambo e 14, outra já derrubada, e nas F. F. II a i9, ainda de pé.

Ainda há mais. Não me lembro o nome das árvores, embondeiros?... e outras… desde que dessem abrigo.

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

18 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1965: Cusa di nos terra (1): Emdondeiro (cabaceira) e poilão (Paulo Santigo / Leopoldo Amado)

18 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1968: Cusa di nos terra (2): O Embondeiro, aliás, Poilão, de Mansoa (Germano Santos)


(2) Vd. post de 11 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1167: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (4): Candamã, uma tabanca em autodefesa

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2020: Blogoterapia e Memórias dos Lugares: Reencontros com o Passado (João Parreira, CART 730, 1964/66)

Metrópole–Biambe

2ª Parte

Biambe (I)

Entretanto o tempo foi-se passando em Bissorã até que por ter perdido a coluna militar para Bissau conforme relatei anteriormente no blogue e por conseguinte ainda ali me encontrar o meu Comandante aproveitou a minha estadia para me dizer que eu também ia participar na operação à base de Biambe e que o Gomes, meu substituto, não ia, pelo que não tive outro remédio que não fosse, como me foi ordenado, pedir-lhe que me devolvesse a G-3 e os carregadores.

Era costume estarmos presentes nos ”briefing" que antecediam às operações em que nos era permitido expor as nossas opiniões sobre os pormenores das mesmas, pelo que por norma era o único que alvitrava sempre outra alternativa à que era exposta, por me parecer que seria mais viável e menos perigosa, tanto mais que por hábito ia sempre no quarto ou quinto lugar da frente, dependia se levámos prisioneiro ou não, o que dava para perceber que era sempre do desagrado do comandante de Companhia que era Capitão de Artilharia, que não duvido seria óptimo naquela arma, mas não tanto a comandar pela primeira vez no terreno uma companhia de infantaria.

Neste curto “briefing” relativo ao golpe de mão àquela base, o Comandante indicou-nos que iam 4 africanos mas cujas funções não foram claramente mencionadas pelo que segui para a operação com a impressão de que eram 3 guias e 1 guia prisioneiro, por ser o único que se encontrava amarrado. Só depois de ler o relatório é que fiquei a saber que afinal eram 2 guias e 2 guias prisioneiros.

Embora a minha secção, a 1ª do 1º Pelotão, por norma seguisse sempre à testa da Companhia (da 2ª era o Cruz e da 3ª o Bragança), naquele dia, devido à ausência do meu comandante de Pelotão, o Alferes Ferreira que tinha sido ferido, tal como eu na operação em Cancongo mas com mais gravidade e encontrava-se hospitalizado, parti do princípio que no final da reunião o Comandante da Companhia ia dar ordem para um oficial seguir à frente com o respectivo pelotão.

Estava enganado pois deu-me instruções para seguir igualmente à frente da coluna levar um dos guia e o prisioneiro que estava amarrado acrescentando que quando chegasse a altura devia tomar as decisões que fossem necessárias.

Assim partimos para a operação às 23.15h.


Furriéis da CART 730 – Da esq. para a dir. Venda, Vira, Alcides, Cruz (minas e armadilhas -à frente), Almeida, Passos (transmissões) Parreira (operações especiais), Reis (manutenção auto) e Ribeiro (sapador).

Esta operação, embora o resultado esteja correcto, não foi exactamente, nem podia ser, como consta no relatório abaixo.

Na realidade apenas 5 homens incorporados na Companhia estiveram nas 12 casas de mato que faziam parte da referida base, conforme passo a descrever.

Seguíamos há várias horas pelo trilho em direcção ao que pensávamos ser o objectivo quando num certo ponto o guia que ia à frente da coluna, precedido pelo prisioneiro que ia amarrado com uma corda pela cintura e estava ao cuidado do Leitão, colocou-se ao lado do prisioneiro, trocou umas breves palavras e depois disse-me que nos estávamos a aproximar de uma Tabanca.

Dei ordem para prosseguir e quando a mesma estivesse visível que me avisasse.
Passado algum tempo apontou-me na direcção de uma enorme tabanca que se podia avistar não muito ao longe e disse-me que devia estar abandonada. Nesse momento parei e por conseguinte a coluna também, pelo que não querendo assumir a responsabilidade que me tinha sido dada por não se tratar da Base de Biambe disse ao soldado que seguia atrás de mim para ir rapidamente informar o Capitão que se estava a avistar uma Tabanca que pelo silêncio devia estar deserta pois não houve reacção nem fuga apressada à aproximação da Companhia e assim ficava a aguardar instruções, no pressuposto que o Comandante me ia chamar para trocar impressões ou então mandar dizer para evitar a Tabanca e seguir por outro trilho na direcção do objectivo.

Fiquei algum tempo à espera das instruções quando para minha surpresa sou ultrapassado por soldados que se encontravam atràs, pensando possívelmente que aquele era o objectivo e por ordem não sei de quem avançaram na direcção da Tabanca. Por outro lado, não compreendi a razão pela qual o Cruz e o Bragança também avançaram com as suas secções.

Continuei no mesmo sítio com os homens da secção até que, juntamente com os camaradas que passavam por mim dirigindo-se à Tabanca, apareceram os outros 2 guias que vinham algures na coluna (e que afinal um era guia prisioneiro, muito embora se encontrasse com liberdade de movimentos) que não avançaram e ficaram também ali parados a meu lado.

Tendo pela primeira vez no mato os 4 africanos na minha presença disse aos guias que perguntassem aos prisioneiros onde ficava a base. Falaram brevemente entre eles no dialecto local e de seguida disseram-me que um dos prisioneiros lhe garantira que a base de Biambe ficava a pouca distância dali, mas numa direcção diferente.

Na posse desta informação, e inconformado com a atitude do pessoal e perante a pacifidade dos restantes graduados perante a distorção da missão, disse à minha secção que aguardasse pois ia atrás falar com o Capitão Garcia.

Naquela altura já ele tinha começado a avançar e acompanhando-o disse-lhe que ali à frente não devia haver nada, conforme o tinha mandado informar, e que o objectivo inimigo que era a razão da missão que ele nos tinha indicado no quartel eram as casas de mato, na base de Biambe que ficavam noutra direcção segundo tinha acabado de dizer o prisioneiro e não aquelas palhotas, e que por conseguinte poderia ser mais conveniente e proveitoso esquecer a Tabanca e seguir.

No entanto não ligou às minhas palavras, que lhe foram dirigidas com boas intenções e disse-me irritado que ele é que era o Comandante da Companhia e que quem ordenava o que se devia fazer era ele. E de facto não estava errado, mas então não me desse instruções específicas antes de sairmos do aquartelamento e iniciarmos a progressão. Simplesmente a sua resposta seca, dura e autoritária na presença dos camaradas que estavam a seu lado tirando-me assim autoridade, suou-me como se tivesse sido atingido por uma chicotada pelo que como uma reacção silenciosa e com o espírito ainda desconhecido de quero, sei, posso, imediatamente me passou pela cabeça, que ia mesmo aventurar-me à procura do acampamento inimigo, apoiado por quem me quizesse acompanhar. Animado com a ideia que me tinha acabado de ocorrer acompanhei-o até ele ter chegado ao lugar onde eu tinha deixado os africanos e a secção.

O Capitão e os militares que com ele seguiam continuaram em frente eu fiquei ali e disse aos africanos para me levarem à Base e eles concordaram. Falei brevemente com os meus soldados que ainda ali continuavam no sentido de tentar persuadi-os para avançarmos para a base inimiga mas não se mostraram entusiasmados, dizendo-me que preferiam seguir também para a Tabanca o que me causou imensa frustração, contudo reconheci que estavam no seu direito de recusarem. Nestas condições e para não perder mais tempo pois deviam ser já perto das 4 horas da manhã disse ao João Maria Leitão a quem tinha sido entregue o prisioneiro amarrado, se se sentia com coragem para aquela digressão e ele disse-me que sim.

Foto com dois camaradas que sairam da minha secção na CART 730 e depois do 2º Curso ficaram na 1ª Equipa do Grupo Cmds Vampiros: António Paixão Ramalho 'Monte Trigo' e o João Maria Leitão ao lado do Alf Mil António Joaquim Pereira Vilaça (OE da CCAÇ 726), o Djamanca e o Justo. O João Leitão nos Comandos foi agraciado com a Medalha de Mérito Militar – 4ª Classe.(Da minha secção também saiu o Cândido Perna Tavares, o 'República' que ficou no mesmo Grupo mas noutra equipa).

Da Companhia sairam ainda o Furriel Joaquim Prates (que acabou por não frequentar o Curso e foi transferido para a CCAÇ 763 em Cufar, onde foi substituir outro Furriel que, por se encontrar doente, foi transferido para o QG em Bissau); o 1 Cabo Faustino dos Santos Viegas, dos 'Centuriões, que foi ferido em Jolmete em 3Ago65 e evacuado para o HMP e os soldados Jacinto da Conceição Venâncio e José de Oliveira Gonçalves, dos 'Apaches').

Desconheço os motivos pelos quais quizeram sair da CART 730 para frequentarem o 2 º. Curso de Comandos uma vez que todos nós os que o fizemos não tinhamos qualquer problema disciplinar, antes pelo contrário, o Comandante da Companhia exerceu alguma pressão para nos desencorajar, pelo que não sendo para seguirem as minhas pisadas deduzo que deva ter sido, como todos os que foram para os Comandos, pelo espírito mais acentuado de aventuras.

No meu caso não só foi pelo facto de ter sido ferido numa operação anterior - juntamente com outros camaradas e o Alf Ferreira, meu Cmdt Pelotão, ex-seminarista, que depois de ter sido também instruendo no CIOE onde era um dos melhores, uma vez chegado à Guiné desinteressou-se totalmente do exército, de tomar qualquer decisão ou dar qualquer opinião sobre as operações - mas também por ter sido abordado alguns dias antes pelo Capitão de Artilharia Aníbal Celestino Rocha, Oficial de Operações do Batalhão que eu não conhecia e que se tinha deslocado a Bissorã por razões que desconheço, que me veio falar dos Comandos, dizendo-me também que um dos Grupos em Brá precisava de pessoal.

Falso comando

É curioso mencionar que no almoço-convívio da Companhia realizado o ano passado encontrei um soldado que tinha no braço uma tatuagem a dizer Comandos-Guiné.
Como nunca o tinha visto em Brá perguntei-lhe a que Grupo pertencia, disse-me que tinha mandado fazer a tatuagem convicto que ia fazer provas para os Comandos e que iria ser aceite mas que o Capitão Garcia não o tinha deixado ir, dizendo-lhe que se deixasse ir todos os que queriam ficava com a Companhia desfalcada.

3º Curso Grupos - 3ª CCmds

Houve ainda um 3º Curso formado na Guiné que terminou em 28 de Abril de 1966. Em 30 Junho de 1966, ou seja menos de 2 meses depois de terminarem, chegou a Brá vindo da Metrópole a 3ª Companhia de Comandos.

Biambe (II)

Embrenhados num dos trilhos do mato a caminho do acampamento inimigo no último dia do mês de Fevereiro de 1965 fiquei convencido que os africanos não me estavam a enganar e que o guia prisioneiro que melhor sabia a localização não ia fugir, e que por isso iamos encontrar a Base que segundo a minha perspectiva o inimigo devia ter abandonado ao tomar conhecimento que a tropa andava por ali perto, e não teria tempo de se organizar para nos montar uma emboscada.

Naquele momento a adrenalina estava ao rubro, e pelo sim pelo não, dei instruções rigorosas aos guias para que a principal preocupação fosse a de avançarmos com todos os sentidos alerta e concentrados em pequenos pormenores que nos dessem a conhecer com a devida antecedência se o inimigo se encontrava mais à frente à nossa espera, e assim com os outros participantes iniciámos uma lenta e cuidadosa progressão.
Segundo me tinham dito a Base situava-se perto o que me fez pensar que me dava
tempo para ir e regressar à Companhia antes de terminarem de vasculhar e eventual-mente incendiarem a tabanca o que obviamente ia demorar algum tempo, ou que pelo menos não os faria esperar muito.

Estava redondamente enganado, pois por experiência própria fiquei a saber, durante os cerca de 20 anos que andei por países africanos, que para eles africanos era tudo perto, independentemente das distâncias.

Todavia há sempre um senão, e a operação não correu exactamento como tinha previsto, já que perto da madrugada mas ainda escuro vi repentinamente um vulto que em frente do único soldado que ia à minha frente saiu do trilho e correu para o mato. Apercebi-me de imediato que era o guia prisioneiro que tinha conseguido libertar-se da corda que tinha atada à cintura pelo que estando totalmente fora de questão tentar abatê-lo a tiro, como levava no bolso uma navalha espanhola instintivamente puxei por ela, abria-a o mais depressa que pude e atirei-a com toda a força na direcção onde ele tinha entrado no mato, mas claro que não lhe acertei.

Felizmente passado pouco tempo chegámos à base turra de Biambe que segundo contámos era composta por 12 casas de mato que de facto tinham sido abandonadas, possÍvelmente quando o inimigo tomou conhecimento onde a tropa se encontrava devido às labaredas das 26 palhotas que compunham a Tabanca que começavam a subir para o céu e se avistavam jà àquela distância.

Perante este panorama mandava a prudência que saissemos dali o mais rapidamente possível tanto mais que um prisioneiro que conhecia aquela zona tão bem como as palmas da mão tinha fugido e caso entrasse em contacto com os seus camaradas, que devia ser a sua intenção, iria pela certa denunciar a nossa presença com o intuito de nos capturarem ou abaterem e assim revistámos sumàriamente apenas algumas delas e encontrámos:

1 GMO-RG34;
4 carregadores de PM;
munições de 9mm (que depois de contadas mais tarde se veio a verificar que eram 134);
1 bolsa de pano;
1 sabre;
1 cinto de cabedal;
1 grade para GMO e vários documentos.

Para não alertar a nossa presença ao inimigo que andaria na zona e que sabia onde a tropa se encontrava mas não o nosso pequeno grupo pelo que o perigo poderia vir de um possível contacto do ex-prisioneiro dei instruções aos africanos para regressarmos com as mesmas precauções mas por um trilho diferente. Se tivessemos mais tempo e mais homens, sobretudo homens pois eramos apenas 2 militares, já que era de prever que os africanos mesmo que encontrassem não nos deviam dizer nada, teria sido possível efectuar uma busca meticulosa a todas elas e provàvelmente teriamos encontrado mais material.

Tendo a Companhia acabado de revistar e incendiar a Tabanca e querendo assim regressar, conforme vim a saber mais tarde, o Capitão mandou procurar os guias e os prisioneiros e então deu também pela minha falta, altura em que lhe disseram que
tinha seguido com eles para a base inimiga.

Dada a demora em regressarmos começaram a fazer conjecturas sobre o que nos teria acontecido, tendo então decidido dar ordem para 4 Secções irem à nossa procura. Sem nos terem encontrado pelo facto de terem seguido por uma direcção diferente, as Secções regressaram ao seio da Companhia primeiro do que nós, e òbviamente foram comunicar ao Capitão.

Quando passadas várias horas chegámos à zona da Tabanca já queimada onde a Companhia estava estacionada a aguardar o nosso eventual regresso, soldados da minha secção foram ao meu encontro, pelo que lhes perguntei onde se encontrava o Capitão para assim ir falar com ele e entregar-lhe o material capturado, e apontaram uma árvore que se situava do lado oposto onde tinhamos entrado. Quando me dirigia para a referida árvore vi de relance dois ou três soldados junto a outra árvore a apalparem uma bajuda já um pouco crescidita que talvez tivesse sido capturada na Tabanca, mas naquela altura era o que menos me interessava saber.
Postal com bajuda balanta - Mansoa

Durante o curto trajecto alguns soldados da minha secção acompanharam-me e aproveitaram para me informar que um dos assunto badalados durante a longa espera que tiveram que fazer era que o Furr. Parreira tinha saído com os guias e ninguém sabia em que direcção.

Um deles que estava bastante agitado referiu que esteve perto do Capitão que estava furioso e ouviu-o dizer aos outros oficiais que me ia levantar um processo discipinar.

Perante este facto, e devido ao perigo em que estávamos envolvidos, nem sequer me tinha passado pela cabeça essa possibilidade pelo que me deu então para perguntar se na Tabanca tinham apanhado algum material de guerra ou documentos e foi-me dito que não.

Almoço convívio em 5Mai07 em que o Cmdt. CArt 730 nos honrou com a sua presença, JP, Alf Orlando Valdez (Cmdt 2º Pelotão) Capitão Garcia e outros camaradas.

Biambe (III)

Quando, acompanhado pelo Leitão pelos três africanos e também por soldados da secção que por curiosidade deveriam querer saber em primeira mão qual o vaticínio final, me abeirei do Capitão que juntamente com os outros oficiais ainda se encontrava encostado à àrvore que me tinham referenciado pude constatar como é natural, que a sua expressão não era nada agradável. Sem o deixar falar perguntei-lhe de chofre se tinham apanhado algum material nas palhotas da tabanca e ele que não devia estar à espera que lhe perguntasse fosse o que fosse, muito pelo contrário, respondeu-me laconicamente que não.

Não lhe dando igualmente oportunidade para falar pois não estava para ouvir da sua boca qualquer reprimenda, sem lhe dar pormenores do que tinha acabado de fazer, disse-lhe calma e respeitosamente: “meu Capitão afinal esta operação não foi de todo infrutifera, pois trouxemos-lhe este material de guerra”.

Foi com tristeza que de seguida lhe tive que comunicar que o prisioneiro tinha fugido, porém ignorou tal facto e por conseguinte não fez qualquer comentário.
O material foi o mencionado no relatório, mas foi a Tabanca que foi incendiada pela Companhia e não as casas de mato, que eram 12 e não 8 conforme mencionou quem não esteve presente.

Foi reconfortante verificar que sendo um oficial amável no trato era todavia um militar exigente, mas também compreensivo pelo menos a meu ver,já que não me criticou e foi bastante benevolente pois a sua atitude mudou radicalmente, apesar de não me dirigir a palavra, limitando-se a dar de imediato ordem para a Companhia se pôr em movimento.

Seguidamente a este episódio fizemos uma batida à área de Chumbume onde localizámos um grupo com cerca de 25 elementos inimigos fardados de caqui amarelo novo, cambando a bolanha e armados de ESP Aut, PM e 1 LGF. etc.

Ataque IN a Bissorã

No dia seguinte das 00h05 as 03h00 o nosso aquartelamento e a vila de Bissorã sofreram fortes ataques IN. O IN atacou de todas as direcções excepto do lado de Binar (tabanca “da outra banda”). O IN fez uso de quase todos os tipos de armamento: P, PM, GM, Esp.aut. e repet,, ML, LGF, Mort 60 e 82. Caíram na área do aquartelamento várias granadas de morteiro e de LGF felizmente sem consequências. A forte reacção e posterior perseguição levaram o combate para longe das posições,
principalmente do lado da granja e bolanha entre as estradas de Bissorã-Mansoa e Bissorã-Binar. De madrugada consegui, a muito custo, convencer alguns soldados do pelotão para irem comigo fazer uma busca ao exterior do arame farpado, e apanhámos uma granada e um frasco de tintura. De manhã saíu um pelotão que apanhou mais material. Devido ao ataque recebemos nos nossos quartos uma bazooka e um telefone, e na parte da tarde fomos nas Mercedes buscar palmeiras para os abrigos.

Dois dias depois deslocou-se a Bissorã, o Tenente-Coronel Braancamp Sobral (conhecido como o 'Cavalo Branco') que Comandava o Quartel de Mansoa, e dava ordem de Operações. Contava depois de Biambe que mais dia menos dia houvesse coluna militar para Bissau e assim não ia fazer mais operações com a Companhia todavia assim não aconteceu.

Deste modo por ordem do meu Capitão que mais uma vez não me livrou de ir para o mato, apesar de ter um substituto, pelo que levei com mais duas operações, uma em Passe e outra em Binar.

Biambe – IV

Camaradas da m/secção da CART 730, no 4º Almoço-convívio realizado a 5Mai07, no Portal do Infante, na Marina de Lagos (de boné o 'República', GR Comds Vampiros)

No HMP e Anexo

Falando agora um pouco da secção que era composta pelos seguintes militares:

Nos 273/64 - 1º Cabo Francisco Dias
Sold 274 José Maria de Oliveira
292 António Paixão Ramalho
293 João Maria Leitão
294 Francisco José Pires
295 Armindo Jerónimo Barrelas
296 Cândido Perna Tavares
298 Jacinto Manuel Guerreiro
317 Custódio António Dias

Durante o período que dei instrução passou-se um episódio que nunca poderei esquecer.
A alegria dos soldados!!
Aquele dia estava destinado a um dos treinos de rastejar e decidi que o mesmo fosse efectuado em cima de vários objectos nada aconselháveis quando o mesmo teve que ser Interrompido devido a uma dôr súbita e muito aguda que senti na virilha direita e em que foi necessário chamarem um jipe para me levar de urgência para o Hospital Militar.

Perante o inesperado, estava eu a torcer-me com dores, mas mesmo assim não pude deixar de reparar no grande júbilo dos instruendos que se levantaram imediatamente e começaram a bater palmas de contentamento por a instrução ter terminado e, penso eu, não terem por uns tempos instrução tão árdua. A operação cirúrgica a que fui submetido decorreu bem pelo que fui transferido para o Anexo.

Estava quase a ter alta quando fui abusivamente provocado por outro dos internados pelo que, como reacção, saltei da cama e entrei numa vigorosa “guerra” de almofadas o que provocou que os pontos tivessem rebentado e como tal voltei à estaca zero. Foi durante o tempo que estive internado que se apresentaram do RAL 1 (Unidade Mobilizadora) em primeiro lugar o Alferes Ferreira e que iria ser o meu comandante de pelotão e mais tarde o Capitão Garcia Comandante da Companhia.

Guiné 63/74 - P2019: Memória dos Lugares (1): de Elvas a Bissorã e de Lamego a Biambe, com a CART 730 (Parte I) (João Parreira)

co-editor vb:

Mensagem endereçada ao Luís Graça, do João Parreira, que a propósito do Encontro da CART 730, efectuado este ano no Algarve, aproveita para recordar o percurso nas casernas militares, em Elvas e Mafra, com passagem por Lamego até dar com os costados em Bissorã.



Missão da CART 730, ou o programa das festas

Antes de começar a minha prosa de hoje aproveito para dizer, embora o devesse ter já feito, de que desde que entrei para o teu excelente blogue, que em boa hora decidiste criar e editar em prol de todos nós que andámos pela Guiné naqueles anos difíceis, que a blogoterapia, como por vezes lhe chamamos, tem ajudado imenso já que, relatando através da escrita algumas das situações vividas aos vinte e poucos anos e nas quais nunca mais pensei, me sinta como que liberto dum certo peso, muito embora, e contra a minha vontade, não possa evitar alguma excitação ao procurar recordar em pormenor muitos daqueles momentos.

Bissorã

Tendo a CART 730 chegado a Bissorã há relativamente pouco tempo, aproveitei um dos dias de repouso e mais uma vez afastei-me do aquartelamento com um camarada, numa espécie de passeio e deparou-se-nos este macabro achado.

João Parreira, de pistola em punho para um esqueleto, algures na zona de Bissorã

Metrópole–Bissorã-(Biambe)
Iª Parte

Ao mesmo tempo que analisava o esqueleto puxei da pistola, e descontraído, pedi para ser fotografado. Depois pensei em dar uns tiros até cortar a corda, mas achei que não seria prudente pois iria alertar o IN ou alarmar as NT.
Parti do princípio que poderia ser de um africano que ajudava as NT e que, como exemplo, foi enforcado, razão pela qual ainda não o tinham tirado dali.

Antes de narrar os pormenores da operação a Biambe e uma vez que dentro de pouco tempo ia sair da Companhia e, como tal acabava-se todo um capítulo recheado de peripécias, gostaria de recuar uns meses.

No CIOE

Bem conhecido de alguns Camaradas tertulianos, já que alguns o frequentaram. Tomei a decisão a seguir descrita na operação, porque naquela altura ainda me sentia muito auto-confiante, talvez devido à aprendizagem de várias semanas que tinha recebido meses antes em Portugal nas duas fases do Curso, Mafra e Penude, que decidi frequentar, pois sabia de antemão que mais cedo ou mais tarde iria parar ao Ultramar.

Encontrava-me em Caçadores 8, em Elvas, donde seria enviado para uma Unidade Mobilizadora, pelo que antes que tal acontecesse ofereci-me para o Curso pensando que assim poderia ir melhor preparado para a guerra de guerrilha e, deste modo, salvar a pele.

Elvas, cidade militar, traz-me boas e más recordações, estando entre as primeiras as valentes farras que durante as folgas, na companhia do nosso novo tertuliano, Mário Fitas, fazíamos nas povoações vizinhas.

E entre as más, já agora porque não uma de caixão à cova? Bom. Estava de sargento de ronda, e como tal o condutor ia-me deixando à porta de cafés, bares, tascas, etc.,onde não deixava de beber aqui e ali um tinto ou uma cerveja até que a última que me lembro foi quando de regresso me encontrava a escassos metros do Quartel.

Na manhã seguinte quando acordei completamente nú no quarto que tinha alugado
num primeiro andar não me lembrava absolutamente de nada a não ser que tinha uma forte dor de cabeça devido à ressaca tendo pouco depois ficado apavorado ao reparar que não tinha a pistola, as botas, o bivaque e a farda. Enfim...

Nunca tendo tido a oportunidade de me encontrar com pessoal que frequentou o CIOE nos anos seguintes, e com o propósito de trocar recordações, aproveitei a presença no encontro do passado dia 28 de Abril em Pombal de um dos nossos camaradas da tertúlia, o Fernando Chapouto, que, para surpresa minha, me deu conhecimento que no final do ano de 1964, ou seja passados poucos meses, o curso foi alterado para uma só fase - e a razão da qual gostaria de saber- que foi ministrada em Lamego, ficando os instruendos instalados no Quartel daquela cidade.

O General Ranger Rodolfo Bacelar Begonha foi o 1º. Oficial português a frequentar o Curso de Ranger nos EUA em 1962.

Em Abril de 1960, com a extinção do Regimento de Infantaria 9, foi criado o Centro de Instrução de Operações Especiais, conhecido como Rangers e cujos cursos se iniciaram em 1963.

Como curiosidade, faço uma descrição muito sumária dum Curso iniciado em 4 de Maio 1964. Já se passaram mais que quatro décadas e nunca vi nada escrito sobre o assunto.

Naquele tempo, como se sabe, ainda não existiam Comandos formados em Portugal.
Depois de exames médicos efectuados no Hospital da Marinha e da respectiva selecção em Mafra, ficaram aprovados 41 instruendos para frequentar um dos primeiros cursos de Rangers, regressando os outros às suas Unidades.

No C.M.E.F.E.D. (Centro Militar de Educação Física e Desportos) em Mafra, onde decorreu uma das duas fases, foi-nos logo dito que ali era tudo em passo de corrida.
Aplicaram-nos uma disciplina férrea e uma mentalização constante reservando-nos para as manhãs um crosse diário e progressivo, vários exercícios físicos, que sem nos darem descanso, levavam uns ao desespero e outros até aos limites das suas forças.
Ficámos alojados em pequenos quartos no último andar do Convento de Mafra.

Quando era necessário ir mudar de roupa para novos exercícios davam-nos 5 minutos, caso demorássemos mais eramos obrigados a fazer o que nos mandavam e que geralmente eram flexões, cangurus, etc.

O cenário dos exercícios era a Tapada, a piscina, o tanque, o campo de tiro, as estradas, as praias e as escarpas.

Sobre o olhar atento de um instrutor os cabos milicianos aguardavam a sua vez para individualmente receberem instrução.

Da parte da tarde eram ministradas aulas teóricas sobre organização militar, táctica geral, organização do terreno, itinerários, patrulhas, coordenadas topográficas e militares, orientação da carta, sobrevivência, combate na selva, etc..
´
De vez em quando ao fim da tarde tínhamos prática de tiro, lançamento de granadas e exercícios de rastejar com a arma nos braços sobre a lama e por baixo de arame farpado, sobre o qual um sargento com uma metralhadora montada num tripé fazia fogo a rasar.

CIOE-Penude

Os 41 instruendos, sob a direcção do Cmdt. Ten-Cor. Flamínio Machado da Silveira, eram orientados por 5 instrutores e 7 monitores.
Ficámos isolados num monte e instalaram-nos em 2 tendas enormes, uma para os 2 Alfs.(Inf. e Cav.) e 19 Asps.of.mil. e a outra para os 20 1ºs. Cabos mil..
Um deste Alf., o de Inf. José Alberto Cardeira Rino, alcançou em 1999 o posto de Ten.General, Ranger, que em 2002 assumiu as funções de Comandante da Inspecção-Geral do Exército.

Em Penude e nas serras limítrofes éramos diariamente postos à prova e fizeram-nos aplicar os ensinamentos obtidos.

Uma patrulha de 4 parelhas, duas de aspirantes a oficial e duas de 1ºs. Cabos mil. devidamente armada!

O João Coroa Coelho (parelha) em cima do L da placa foi parar a Angola.
Para não perdermos o hábito, os castigos continuavam, mas para pior, pois como estávamos organizados por parelhas, quando durante a noite ou madrugada tocavam uma ou mais vezes para alinharmos na parada correctamente fardados e equipados, se um se demorava um pouco mais a chegar ou não se apresentava em condições na revista o outro era igualmente penalizado.

Por azar saiu-me na rifa o Coelho que era um sorna dos diabos.

Treino num acampamento que foi montado para 3 dias

Nos Domingos à tarde davam-nos um bónus, deixavam-nos vestir à civil, enfiavam-nos dentro de uma camioneta com destino a Lamego e no centro da cidade faziam-nos saltar em cambalhota com a viatura em movimento, o que nos enchia de prazer e de orgulho pois as miúdas da terra paravam e ficavam a ver e, como tal, podíamos ter a sorte de começar um namorico.

Em Lamego juntinho a uma garota da terra (à noite houve baile).

No final das cerca de 10 semanas e depois de tanto penarmos só foi concedido aproveitamento aos 2 Alf, 10 Asp Mil e 12 Cabos Mil.



Como recompensa, ofereceram-nos uma visita às Caves da Raposeira e um distintivo para o braço, que cada um passou a usar.
Passados poucos meses todos os que frequentaram o Curso foram mobilizados para Angola, Moçambique e Guiné.

Na Guiné faleceram em combate o Fur Mil Domingos Moreira Leite em 30Jan65 e o Alf Mil Mário Henrique Santos Sasso, em 5 de Dezembro de 1965.

(Continua).

Guiné 63/74 - P2018: Álbum das Glórias (23): O mestre-escola do Saltinho (Joaquim Guimarães, CCAÇ 3490, 1972/74)

Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > "Eu, mais o Augusto [,o burro, ] e o Mamadu Djaló, em 1972, em Galomaro, sede do batalhão"

Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > " A força do rio"

Guiné-Bissau > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > "O abrigo das transmissões"

Guiné-Bissau > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > "O abrigo da estiva"

Guiné-Bissau > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > Os professores dos Posto Escolares do Saltinho. [O Joaquim Guimarães é o tereceiro a contrar da esquerda]


Fotos (e legendas): © Joaquim Guimarães (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do com data de 21 de Fevereiro de 2007. Pendente do envio de fotos, que entretanto chegaram. Dos Sates, onde o Joaquim vive. Mais um camarada nosso da diáspora, que faz parte da nossa Tabanca Grande, desde Agosto de 2005 (1).

Caro Luís Graça:

Depois de uma pequena ausência, aqui estou. Não quer dizer que não veja o blogue diariamente, pois tornou-se numa necessidade imprescíndivel estas viagens a um passado muito presente.

Aqui te envio essas fotos [do Saltinho] já um pouco deslavadas mas sempre admiradas e guardadas no meu peito. Com tempo mandarei mais.

O meu nome completo é Joaquim Fernando da Silva Guimarães. Ex-soldado nº 108261-71, pertenci ao BCAÇ 3872, com sede em Galomaro(2). A minha companhia era a CCAÇ 3490 (Saltinho, 1971/74). Fui professor escolar do Saltinho (pele e osso).

Um grande abraço a todos

Guimarães

2. Comentário de L.G.: As fotos enviadas pelo Joaquim Guimarães estavam muito azuladas. Optou-se, na sua edição, pelo preto e branco. Embora lacónico, o Joaquim tem mantido contactos connosco. Ele é o nosso orgulhoso representante nos Estados Unidos da América. Depois desta primeira selecção de fotos do seu álbum (de que temos a senha de acesso, dada por ele), esperamos pelas estórias do mestre-escola do Saltinho. Good luck, my friend and comrade!

__________

Notas dos editores:

(1) O Joaquim Guimarães, minhoto, natural de Viana do Castelo, q vive actualmente nos EUA. Vd. post de 15 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXI: Saltinho, 1971/74... United States of America, 2005



(...) "Quando recebi o correio do Luis [Carvalhido] há uns tempos atrás fiquei vazio , não sabendo bem como reagir ao aceder à página da Tertúlia de ex-combatentes da Guiné (1963/74).
"O meu primeiro impulso foi enviar a notícia para os meus primos na França e Alemanha para saber como é que eles reagiriam a este extraordinário agrupamento de memórias. Até me recordei de coisas que estavam esquecidas há mais de trinta anos!

"Um muito obrigado e parabéns pela maneira como tudo isto está organizado. Desde já pedia-lhe o favor de acrescentar mais um nome à sua lista e de me manter actualizado. As fotos tiradas recentemente no Saltinho são as mesmas imagens tiradas em 71.Tenho fotos e histórias que quero contar. Até lá os meus maiores desejos de saúde e felicidades" (...).

(2) O Batalhão de Caçadores 3872, Galomaro – SPM 2188, editava em 1973 o jornal O Jantum. Director: o Cmdt,Ten Cor Castro e Lemos, natural do Porto. Vd. post de 31 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDIV: Batalhão de Caçadores 3872 (Galomaro, 1971/74) (Carlos Filipe Coelho)

(...) "Chamo-me Carlos Filipe, fui radiomontador, formei Batalhão em 20 de Novembro de 1971 em Abrantes. O Batalhão de Caçadores 3872 desembarcou em Bissau no dia 24 Dezembro de 1971. A minha CCS ficou sediada em Galomaro, mas antes estive aproximadamente um mês no QG em Bissau.

"Depois fiz o velho percurso do rio Geba, e depois estrada, do Xime … até Galomaro. Claro que ainda tenho recordações de Dulombi, Camcolim, Bafatá, Bambadinca, Saltinho, Sete Fontes (fonte de água para abastecimento), Bolama (aonde passei as minhas férias)" (...).

Guiné 63/74 - P2017: Bibliografia (10): Beja Santos: una manera entre barroca y desencantada de evocar esos pasajes de guerra (Jorge, Chile)

1. O Beja Santos fez-nos chegar uma crítica chilena à sua escrita, assinada por um amigo de sua filha Joana. Acho que podemos e devemos dar seguimento esta pequena ternura de uma filha, publicitando o escrito de su amigo Jorge (a quem temos de ressalvar a falta de acentos):

Chère Joana:
Cautivante los textos de tu papa. Me llamo la atencion esa manera entre barroca y desencantada de evocar esos pasajes de guerra (Angola?, Guinea?), y ese lindo agradecimiento a Mamadu Camara. Y también me ha parecido percebir que es una prosa ligeramente ironica (por ejemplo, lo de la lectura de un libro sobre la Edad Media). No sé es algo propio a la lengua portuguesa, pero el texto de tu papa tiene ese dejo moroso que en otro idioma habria sido un defecto; la lectura me atrapo desde el comienzo, y la segui con un diccionario. Sé poco de la historia militar portuguesa Africa, salvo una que otra cosa sobre Angola, debido a la presencia cubana.
Es curioso como las Memorias son practicamente literatura: la evocacion de los hechos esta realzada por el lengua, el tono, la perspectiva, por casi todos los elementos de la escrictura de ficcion;
Gracias por el envio.
Jorge
ps: sigo con el problema de acentos.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P2016: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (6): O grande ataque a Có, em 12 de Outubro de 1968

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) >A tabanca de Có, incendiada, na sequência do segundo ataque ao aquartelamento, em 12 de Outubro de 1968.


Espólio do ataque do dia 12 de Outubro de 1968.


Spínola observando os destroços nas zonas atingidas.

Visita de Spínola à Missão e Escola locais.

Spínola falando à população, ladeado do Cap Vargas e do Cabo de Cipaios Dayan.

Da esquerda para a direita: Cap Vargas Cardoso, comandante da Companhia, Gen Spínola, Alf Mil Raul Albino e Alf Mil Caseiro.

A árvore onde embateu o projéctil, sendo visível o seu local de impacto, antes da cauda se dirigir ao refeitório.

Outra das instalações atingidas, o refeitório. Aqui encontrou a morte o soldado básico Oliveiros.

Caixão do soldado Oliveiros, com honras militares, junto à árvore fatídica.

A casa de banho dos oficais ficou neste lindo estado

Um abrigo atingido pelo violento fogo do IN.



Nem a prisão escapou...

O Sereti que estava a cumprir uma pena, conseguiu fugir e salvar-se de uma morta certa.


Fotos e legendas: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.


Mensagem do Raul Albino,enviado em 20 de Julho corrente:


Caro Luís, conforme prometi aqui vai o texto nº 6 da [história da] CCAÇ 2402. Descobri porque estou agora a levar mais tempo para adaptar os textos. O culpado é o blogue, porque não pára de nos oferecer textos interessantes que não são possíveis de ignorar e nos levam cada vez mais tempo a digeri-los, ou seja, a continuar assim, teremos de optar entre ler e escrever. É que o tempo que eu tinha reservado para escrever situações da guerra, estou a consumi-lo em leitura. Tempo, precisa-se !... Dá-se alvisseras a quem o encontrar.

Um grande abraço aos editores,
Raul Albino


Sexta parte das memórias de campanha de Raul Albino, ex-alf mil da CCAÇ 2402, pertencente ao BCAÇ 2851 (, Mansabá, Olossato, 1968/70), batalhão esse que embarcou no Uíge, em finais de Julho, juntamente com o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)(1) (Subtítulos da redsponsabilidade dos editores)


Segundo Ataque a Có
por Raul Albino


Coincidências a mais ou a minha teoria sobre o modus operandi do inimigo

Este ataque teve lugar no dia 12 de Outubro de 1968 e foi um dos mais violentos que a CCAÇ 2402 sofreu em toda a sua comissão. O ataque foi desencadeado pelas 19.45 horas. Excepção feita ao primeiro ataque, que foi desencadeado ao nascer do sol, este segundo ataque e todos os outros que se seguiram foram lançados antes do anoitecer.

Já nesta altura se começou a fortalecer uma convicção na minha mente que se veio a confirmar até ao fim da comissão, ou seja, o inimigo, preferencialmente, deslocava-se de dia para atingir o objectivo ao fim da tarde, enquanto as nossas tropas deslocavam-se de noite para atingir o objectivo ao amanhecer. O inimigo, perfeitamente conhecedor do terreno, sentia-se seguro a viajar de dia, enquanto nós sentíamo-nos mais seguros a viajar de noite para não sermos um alvo visível e podermos usufruir do factor surpresa.

Outra coincidência extraordinária, foi o facto de o comandante do quartel não se encontrar em Có neste dia. O futuro viria a confirmar que, também aqui, isto não acontecia por acaso. Eles tinham conhecimento prévio das ausências do comandante e escolhiam esses períodos para efectuarem os seus ataques, esperando que isso constituísse uma fraqueza na guarnição, o que, de certo modo, era verdade, porque o comandante é uma peça fundamental na defesa dum aquartelamento. Em grande parte dos ataques ao quartel, nomeadamente no Olossato, a ausência do comandante foi uma constante, grande demais para ser uma coincidência.


O nosso armamento: pouco e mau


Neste período da nossa comissão, o armamento que possuíamos era pouco e mau, perfeitamente insuficiente para as missões que nos atribuíam. Não existia, por exemplo, um morteiro 60 e uma bazuca por grupo de combate, para já não falar de metralhadoras de fita. Quando havia operações no exterior a dois grupos de combate, os morteiros e bazucas operacionais seguiam com esses grupos, deixando o quartel à sua sorte com o pouco material restante, onde realçava o morteiro 81, excessivamente pesado para ser transportado para o mato.´

Como um dos quatro grupos estava na Ilha de Jete, esse grupo teve de levar consigo as armas necessárias à sua protecção, porque estava isolado e não era fácil qualquer acção de socorro, salvo por via aérea, provocando assim o primeiro rombo no nosso precário arsenal. Parecendo desconhecer completamente esta realidade da nossa companhia, o Comando em Bula atribuía-nos missões de dois dias a dois grupos de combate, com uma regularidade impressionante, perfeitamente previsível mesmo sem informadores, chegando a atingir uma distância entre operações de 2/3 dias de intervalo.


Cheguei a rogar pragas ao Comando Operacional de Bula


Foi assim que, neste dia, dois grupos de combate (3º e 4º), saíram para a Operação Adregar com a duração de dois dias, ficando de serviço na defesa do quartel um único grupo (2º) com um armamento precário, pelas razões que acima se indicaram. O 1º grupo estava na Ilha de Jete.

A força em operação no exterior era comandada por mim. Durante todo o dia detectámos vestígios de pegadas do inimigo, fosse para que lado fossemos. Com tais sinais de movimentação, esperámos ao longo do dia que se nos deparasse uma emboscada do inimigo. Mas como tal não acontecia, eu comecei e desconfiar que alguma coisa não batia certo e passei a ficar preocupado.

O inimigo de facto não queria contacto com as nossas tropas no exterior, eles estavam lá sim, com o objectivo de atacar e ocupar o quartel e andaram-nos a enrolar até atingirem a hora planeada para o ataque, sabendo que os nossos dois grupos permaneceriam no exterior pelos habituais dois dias de operação, que o nosso inteligentíssimo comando caprichava em nos presentear. Devo confessar que durante algum tempo roguei pragas ao Comando Operacional sediado em Bula, pela sua pouca ou nenhuma clarividência em operações militares, próprias de autênticos maçaricos, como nós éramos quando cá chegámos.

Ao fim da tarde, em face da minha leitura da situação, tomei uma decisão. Esta operação não ia durar dois dias, iria durar um mais um dias, porque a noite iria ser passada no quartel. Cerca das 19,00 horas acercámo-nos do quartel e , a determinado ponto, foi combinado que eu e o 3º grupo seguiríamos já para o quartel e o 4º grupo seguiria a seguir, após ordem rádio, que seria dada logo que o 3º grupo estivesse instalado.

Entrámos no quartel pela porta da pista, junto à bolanha, porque me pareceu a mais discreta por estar situada numa zona que eu não escolheria para atacar o quartel. O inimigo também não escolheu essa frente, mas apercebeu-se da nossa manobra e precipitou o seu ataque de imediato. O 3º grupo de combate já estava lá dentro e com ele o armamento mínimo indispensável à defesa do aquartelamento. Pena que o 4º grupo ainda estivesse no exterior, mas isso não era forçosamente negativo, porque eles estavam em condições para envolver o inimigo e cortar-lhes a retirada, se tivessem permanecido no ponto de separação dos grupos conforme ficou combinado.

A minha consternação foi grande, quando me apercebi, via rádio, que o outro grupo, não obedecendo ou não entendendo as minhas directivas, enquanto o meu grupo se encaminhava para o quartel, eles seguiram as nossas pisadas a alguma distância e aguardaram no fim da pista, à beira da porta de entrada, a recepção do rádio com a ordem para o seu regresso. Em suma, o ataque deu-se de forma bastante violenta, e o quarto grupo não pode dar o seu contributo na reacção ao inimigo, porque a posição em que se encontrava não era consentânea com qualquer manobra e pouco mais puderam fazer além de aguardar o fim do tiroteio.

Em termos de reacção das nossas tropas ao ataque, devo sentir orgulho nestes militares pela sua bravura em combate. Em Có, o elemento que eu utilizava para fazer uso da bazuca era o soldado milícia Jaló, um excelente combatente, utilizador exímio desta arma, disciplinado e de uma bravura inexcedível. Foi ele que, junto à porta de armas, entrada principal do quartel, com os seus disparos certeiros, repeliu o inimigo que tentava forçar essa entrada, protegendo-se entre as tabancas limítrofes onde tinham escavado abrigos individuais. Acabou sendo ferido num dedo durante o confronto.

Os bravos defensores de Có


Além do Jaló que tinha acabado de entrar no quartel junto ao 3º grupo, outros elementos, também acabados de entrar foram o soldado Paulo, acompanhado do Cabo Rocha que, com o seu morteiro 60, fez tudo o que pode para repelir o inimigo.

A nossa principal arma de retaliação ao fogo do inimigo era o morteiro 81. Enquanto ele não começava a cantar, não se podia dizer que estávamos a responder ao fogo do inimigo. É que eles possuíam armas pesadas superiores às nossas, o que lhes permitia fazer fogo a uma distância considerável, protegidos que ficavam das nossas armas ligeiras. O nosso fogo, intenso e certeiro, foi bravamente coordenado pelo Sargento Ferreira que, logo aos primeiros tiros, se encaminhou rapidamente para o abrigo do morteiro 81, acompanhado de alguns militares que o ajudaram.

Todos estes actos de bravura que eu identifiquei, foram só alguns de entre tantos outros dos quais não tive conhecimento pessoal, mas que não deixaram de ser tão heróicos como aqueles que vos descrevi. Por isso, teriam sido altamente enriquecedores os relatos de outros intervenientes situados em posições diferentes durante o desencadear do ataque. A sua não participação com textos, originou que esta fosse a descrição possível e não a descrição completa.

A morte do soldado básico Oliveiros, escondido no refeitório


Sofremos um morto e cinco feridos, além de três feridos na população, tendo o quartel sido violentamente atingido com danos materiais nas instalações do Comando, Depósito de Géneros, Prisão, Cantina e Sala de Oficiais e Sargentos. O inimigo sofreu dois mortos e vários feridos confirmados, tendo sido capturado diverso material de guerra.

A nossa maior perda foi o soldado Oliveiros, auxiliar de cozinha, que se abrigou no interior do refeitório a um canto e aí foi atingido pela cauda de um projéctil que, ao rebentar numa árvore, projectou a sua cauda metálica na direcção do refeitório, atravessou os pés de bancos e mesas, indo atingir na barriga o infortunado Oliveiros, causando-lhe morte instantâne.

Analisando no local a trajectória do projéctil que sinistrou o nosso camarada Oliveiros, concluímos que tal tragédia tinha condições ínfimas de acontecer daquela maneira, mas aconteceu, como se aquele projéctil tivesse o seu nome marcado e nada fosse possível para o evitar. Todos lamentaram pesarosamente a morte do Oliveiros e o Capitão Vargas Cardoso tem feito questão em o relembrar em todos os almoços-convívio da companhia, que se têm realizado ao longo dos anos.

No dia seguinte, a visita do Comandante-Chefe, Gen Spínola


No dia seguinte ao ataque, recebemos a visita do General António de Spínola. Deslocou-se de helicóptero, trazendo consigo o nosso Capitão Vargas Cardoso que se encontrava em Bissau na altura do ataque.

Como era seu costume, procurou inteirar-se dos pormenores do ataque, missão essa que me coube a mim, como é patente na fotografia em cima. Pediu ainda para falar à população onde proferiu um discurso de incentivo ao povo local.

Estas deslocações do General aos locais atacados, tinham um efeito psicológico muito significativo, levantando o moral das tropas que viam assim o seu chefe máximo preocupar-se e interessar-se com a luta que todos travavam pela Pátria.

Era também uma oportunidade de lhe comunicar as nossas carências em armamento e condições de sobrevivência. Posso-lhes garantir que, na altura em que este ataque se deu, o armamento que possuíamos era caricato e inadequado, tínhamos mais homens que armas pesadas. Na segunda metade da comissão passou a dar-se o contrário, tínhamos falta de homens - devido a baixas em combate e por doença - e possuíamos armas pesadas de boa qualidade sem ninguém para as empunhar. Entenda-se aqui por armas pesadas, as armas semi-pesadas como o morteiro 60, metralhadoras de fita e lança granadas foguete, também conhecidas por bazucas.


Depoimentos

(i) António Coutinho da Silva (1º Gr Comb)

O dia que mais me marcou no cumprimento do meu serviço militar, foi quando saí em Có com o pelotão, para uma operação de patrulhamento em volta do quartel e passámos por detrás do inimigo que já estava emboscado para fazer um ataque ao quartel e quando estávamos a parar junto à bolanha para comunicar com o quartel que íamos entrar pelo posto de sentinela da bolanha, o inimigo começou a atacar o quartel e ao mesmo tempo ao nosso pelotão. Começámos a procurar abrigos para nos protegermos, mas os nossos companheiros do quartel, não sabendo da nossa posição, vendo os nossos movimentos julgaram que era o inimigo e começaram a fazer fogo sobre nós, ficando debaixo de dois fogos enquanto durou o ataque, felizmente sem termos ninguém ferido.

No final do ataque começámos a ver grande parte das tabancas a arder e começámos a pensar que o inimigo estava dentro do quartel. Falei nisso ao comandante do meu pelotão. Assim que ele entrou em contacto com o quartel e tivemos autorização para entrar, foi-me dada a ordem de ir à frente do pelotão, por ter dito que o inimigo estava dentro do quartel. Enfim lá fomos e felizmente só foi em pensamento.

Quando já estávamos dentro do quartel, foi-nos pedido para ajudarmos a população que tinha muitos feridos. Lá fomos com o Sargento Ferreira e ao passarmos junto da cantina, alguém tropeçou em algo. Ele apontou com a lanterna para o chão e junto do muro da cantina estava o nosso companheiro Oliveiros caído no chão, porque uma canhoada o tinha cortado ao meio - um homem que nem a roupa vinha trazer à porta de armas com medo do inimigo. Quando o ataque começou, ficou junto ao murro da cantina, talvez pensando que estava seguro, ficou ali à espera da morte, que infelizmente chegou, sem ter saído do quartel, enquanto o nosso pelotão, debaixo de dois fogos, não tivemos ninguém ferido. É o destino de cada um … PAZ À SUA ALMA!

A. Coutinho da Silva


(ii) Maurício Esparteiro (1º Gr Comb)

No ataque ao quartel de Có em 12 de Outubro de 1968, onde o nosso camarada Oliveiros morreu, encontrava-se nessa altura na prisão o nosso camarada Sereto a cumprir pena. Foi ele próprio que com pontapés conseguiu sair da prisão e escapar a uma morte certa.

O fogo do inimigo incidia especialmente sobre o abrigo do morteiro 81, a Enfermaria e o Bar do Soldado. Eu, Esparteiro, estava na Enfermaria a fazer fotografias quando se deu o ataque, não podendo correr para lado nenhum. Quando apareceu o Sargento Ferreira corremos para o abrigo do morteiro e começámos a meter granadas no morteiro 81, sobre a orientação do sargento. Só a partir desse momento o fogo do inimigo começou a fraquejar.

Mais tarde quando o Capitão Vargas Cardoso perguntou pelo Sereto, o Sargento Ferreira disse-lhe que ele estava na Enfermaria, não por ter sido ferido, mas porque lhe doía os pés e os braços. Vendo o estado em que ficou a prisão, muita sorte teve ele nesse dia.

Maurício Esparteiro


(iii) José A. P. Rocha (3º Gr Comb)


No dia 12 de Outubro de 1968, tinha acabado de entrar no quartel e estava ao lado do soldado Paulo, que tinha à sua guarda um morteiro 60.

Quando o ataque começou, eu, 1º Cabo Rocha do 3º pelotão, devido ao pequeno número de granadas que possuíamos por termos acabado de chegar de uma operação no exterior, mandei o Paulo procurar o guarda do paiol para trazer material. Não o tendo encontrado, eu disse-lhe para arrombar a porta e foi o que ele fez. Só que, por capricho do destino, ele em vez de trazer granadas explosivas, trouxe granadas incendiárias. O resultado foi que as tabancas começaram a arder, iluminando a área onde o inimigo estava escondido.

Vendo-se assim a descoberto e sob o fogo de resposta das nossas tropas, eles começaram a retirar, para nossa sorte. Na prática, estas granadas trazidas por engano produziram melhor resultado que as explosivas. Como as coisas são …

José A. P. Rocha


(iv) José Manuel Oliveira (Cozinheiro das Messes)

No dia 12/10/68, durante o ataque a Có, como era cozinheiro não tinha arma distribuída. Impossibilitado de fazer frente ao inimigo, refugiei-me no abrigo junto à porta de armas, deitado entre as camas, em tronco nu.

Enquanto os meus camaradas faziam fogo de metralhadora, os invólucros das balas iam caindo em cima de mim. Tal foi o medo que naquele momento não senti nada. Algumas horas depois verifiquei que tinha o corpo com algumas queimaduras. Ferido em combate, o Cabo Cozinheiro Fucinhaças , era assim que os meus camaradas me chamavam.

Nunca esqueci esse dia em que morreu o meu amigo Oliveiros.

José Manuel Oliveira


(v) António Joaquim Rodrigues (4º Gr Comb)

Quem poderá esquecer o ataque que tivemos ao quartel de Có?

Depois de um longo dia de operação no exterior, em que participaram dois pelotões, o meu regressou à noite ao quartel e ainda bem. É que nessa época, um pelotão estava destacado na Ilha de Jete e no quartel havia poucos camaradas, estando muitos deles doentes com paludismo.

Após alguns momentos fomos atacados e eu e o Veríssimo pegámos no morteiro 60 e num cunhete de granadas, e, debaixo de fogo, atravessámos o quartel porque o fogo era mais do lado da população.

Apesar do nosso Capitão não estar presente, defendemos o quartel com heroicidade. Foi nesse dia que tivemos a primeira baixa mortal e sofremos pesados danos materiais. O meu Alferes chegou a dizer que eu e o Veríssimo merecíamos ser condecorados, assim como foi o nosso Sargento Ferreira que foi para o morteiro pesado 81.

António Joaquim Rodrigues
____________

Nota dos editores:

(1) Vd. post anteriores:

15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira

6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga

13 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1658: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (4): Uma emboscada em Catora e um Lobo Mau pouco predador

28 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1790: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (5): Protecção a uma coluna logística Bula/Có

Guiné 63/74 - P2015: Pereira da Silva, Passos Ramos e Magalhães Osório, a fina flor dos militares de Spínola (Afonso M. F. Sousa)


Guiné > Bissau > c. 1969 > O Afonso Sousa, Fur Mil Trms, CART 2412 (1968/70), junto à estátua do Capitão Teixeira Pinto, o "pacificador da Guiné (1912-1915)".

Foto: © Afonso M.F. Sousa (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem do Afonso M.F. Sousa:

Caríssimo Virgínio:

No texto do teu mail (1) perpassa a tua frescura de memória e grande clareza da expressão escrita. Todos os testemunhos têm um valor relevante, porque é pela conjugação e cruzamento de todos que se atinge um certo grau de exactidão e de confiança dos testemunhos e a objectividade nos factos narrados.

Quanto ao Pereira da Silva, tive oportunidade de falar com 3 elementos da família o ano passado e constatei tratar-se de uma família de preceitos, onde a educação e a beleza do trato imperavam.

Aliás, Spínola, para o grande empreendimento da mudança da estratégia da guerra, a começar no Chão Manjaco, redeou-se da fina flor dos militares do CTIG. Todos são unânimes em afirmar que estes 3 oficiais superiores eram, praticamente, insuperáveis sobre todos os pontos de vista.

Este teu testemunho é importante, porque mesmo falando de um, no fundo reconfirmas as qualidades dos três. E um com quem tiveste o privilégio de conviver em Bissau, mesmo que de forma fortuita e algo fugaz. É este tipo de depoimentos que por vezes faltam e que encaixam e ilustram tão bem estas estórias.

Quanto ao Fonseca - Solar dos 10, sim, penso que terei lá comido, em mesa na esplanada...e o costumado grande bife com batatas fritas ! E por curiosidade, um dia vi lá (a fazer o mesmo) o 1º Cabo Marco Paulo (o cançonetista) !...

Aqui vai um abraço

Afonso

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 30 de Julho de 2007 > 30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2010: O Major Pereira da Silva que eu conheci, em 1966, no QG de Santa Luzia (Virgínio Briote)